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Avaliação da eficácia de tratamentos, em fases mais precoces, na luta contra o oídio da videira e a dinâmica da libertação dos ascósporos na Região Demarcada do Douro

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AVALIAÇÃO DA EFICÁCIA DE TRATAMENTOS, EM FASES MAIS PRECOCES, NA LUTA CONTRA O OÍDIO DA VIDEIRA E A DINÂMICA DA LIBERTAÇÃO DOS ASCÓSPOROS NA REGIÃO DEMARCADA DO DOURO

Dissertação de Mestrado em Engenharia Agronómica

MARIA DO CARMO RODRIGUES MOREIRA DO VAL

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Dissertação de Mestrado em Engenharia Agronómica

AVALIAÇÃO DA EFICÁCIA DE TRATAMENTOS, EM FASES MAIS PRECOCES, NA LUTA CONTRA O OÍDIO DA VIDEIRA E A DINÂMICA DA LIBERTAÇÃO DOS ASCÓSPOROS NA REGIÃO DEMARCADA DO DOURO

MARIA DO CARMO RODRIGUES MOREIRA DO VAL

Orientadores: Professora Isabel Cortez Engº Fernando José Martins Alves

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Ao meu filho Afonso

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do Engº Fernando Alves, pela aceitação e disponibilidade para a concretização deste trabalho.

À professora Isabel Cortez, minha orientadora científica, pelos conhecimentos e ensinamentos preciosos que me transmitiu ao longo da realização deste trabalho e pela ajuda amiga e sempre pronta que me dispensou.

A Engº José Manso (Sogevinus), por ter disponibilizado a vinha e meios onde se realizou o ensaio e pela ajuda preciosa com todos os seus contributos ao longo de todo o trabalho.

Ao Engº José Freitas por me ter facultado o laboratório da Estação de Avisos e pela ajuda prestada.

Aos estagiários profissionais, que nestes dois anos passaram pela ADVID, pela sua ajuda nas observações de campo, que foram fundamentais.

Às colegas Cristina Carlos, Fátima Gonçalves e Susana Sousa pelo espirito e camaradagem de entreajuda nas observações de campo.

Ao meu filho Afonso, pelo tempo que não estive presente nas suas brincadeiras e ao meu marido, Carlos Val, por caminhar sempre a meu lado, nos bons e maus momentos.

Agradeço, finalmente a colaboração de todos aqueles que directa ou indirectamente contribuiu para a realização deste trabalho, julgamos ser a mais pequena prova da nossa amizade.

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Demarcada do Douro (RDD), provocando uma diminuição no rendimento, bem como na qualidade do vinho.

Este trabalho foi realizado na quinta de S. Luiz, localizada na sub-região do Cima Corgo, numa parcela cuja casta é a Tinta Roriz (uma das principais castas do encepamento da região e por sua vez muito sensível à doença), instalada segundo as curvas de nível em patamares de dois bardos, com o objectivo de analisar o posicionamento das primeiras pulverizações assim como a eficácia das substâncias activas utilizadas té à floração.

Na parcela, ainda numa fase de repouso vegetativo, no primeiro ano do ensaio (2011), colocaram-se as lâminas para captura de ascósporos, estas foram trocadas sempre após a ocorrência de precipitação. Registaram-se ainda os valores de temperatura (˚C), humidade relativa (%) e precipitação (mm) nestes períodos com o objectivo de verificar o período de maior libertação de ascósporos para melhor posicionar o primeiro tratamento.

Foram definidas quatro modalidades em blocos casualizados, cada uma com quatro repetições, sendo cada constituída por 14 videiras. Na primeira modalidade, T 1, não foi efectuada qualquer pulverização (testemunha); na T2, a primeira pulverização teve início nas 2-3 folhas separadas, a segunda nos cachos visíveis e a terceira na pré-floração; na terceira modalidade, na T3, foi efectuada uma pulverização nas 2-3 folhas livres e outra à pré-floração; e na T4), as pulverizações iniciaram-se apenas à pré-floração com um IBE. Após a floração, todas as modalidades, à excepção da testemunha, foram tratadas ao mesmo tempo com o mesmo produto.

Em cada modalidade foram efectuadas duas avaliações, a primeira na pré-floração e a segunda no bago de chumbo/bago de ervilha, para avaliar a incidência e severidade da doença com base na escala OEPP (1981). À vindima foi feita uma avaliação da percentagem (%) de oídio nos cachos, o peso médio dos cachos (PM), o número de cachos por videira (NC) e o peso da produção por videira (Kg/videira) e na altura da poda foram contados os gomos de cada cepa e pesada a lenha de poda.

Na poda a lenha de cada videira foi avaliada, para comparar o vigor de acordo com a produção e ataque da doença.

Os resultados obtidos revelam diferenças significativas, apenas em relação à testemunha. Para as modalidades T2, T3 e T4 não se verificaram diferenças entre as diversas estratégias de pulverização. Isso mostra que mesmo que a liberação de ascósporos comece cedo, o início do desenvolvimento da doença só surge perto de floração. É necessário desenvolver mais estudos sobre as estratégias seguidas para controlar o oídio, e confirmar os resultados aqui obtidos em anos com condições climáticas diferentes.

A redução do número de tratamentos (mesmo que seja só um), pode contribuir significativamente para a melhoria do ambiente, em particular, através da redução de resíduos nas uvas, com benefícios efectivos para a saúde pública, a redução da compactação do solo e poluição da atmosfera e ainda a economia de custos do próprio tratamento (produto, trabalho, aplicação com a máquina e combustível).

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region, inducing a decrease in yield as well as on the quality of the wine.

An experiment was conducted in the Douro Wine Region, in a field plot located at Cima Corgo, with the cv Tinta Roriz (Tempranillo), the second variety most used in Douro, and very sensitive to powdery mildew. The vines of the study grow in a two rows terrace. During the phenological stage dormant bud, on beginning of March, the ascospores release started to be monitored using glass microscope slides placed in three vines, one per plant. The slides were replaced always after the occurrence of some rain. The temperature data (˚ C), relative humidity (%) and rainfall (mm) during these periods were also recorded in order to verify the period of greatest ascospores release to do a better position of the first spraying.

The experimental design consisted in four treatments arranged in a randomized block design with four replicates; each plot had 14 vines (10 evaluated). The treatments consist in T1 - (control) with any spray applied; T2 - three fungicide sprays applied before blooming: the first spray was at two to three leaves unfolded, the second at inflorescence clearly visible and the third at inflorescence fully developed; T3 - the fungicide spray started at inflorescence fully developed, which is the common practice in Douro, and the second spray was at pre-blooming and T 4 - the spraying started only at pre-pre-blooming with a DMI. After pre-blooming all the treatments (T1, T2, T3 and T4), with exception of the control, were sprayed at the same time with the same product.

The severity of powdery mildew was assessed in grapes and leaves, based on the scale of OEPP (1981), in all plots in three different periods. The average weight of the bunches (PM ), the number of bunches per vine (NC) and the weight per vine production (kg / vine) and height were counted pruning the buds of each strain heavy wood of each strain evaluated The pruning wood of each vine was evaluated to compare the effect of the different levels of powdery mildew.

The preliminary results reveal significant differences to the control, but no difference was observed between the treatments T2, T3 and T4. This shows that nevertheless the event of ascospores release initiate early; the beginning of development of disease only starts close to blooming. It is necessary to develop further studies on the powdery mildew control strategies, and confirm the results here obtained in years with different climate conditions.

We can then say that the disease might be controlled as effectively with a smaller number of treatments, positioning the first time only in pre-flowering. The reduction on the number of treatments (even if only one) can contribute significantly to improving the environment, in particular, through the reduction of residues on grapes, with effective benefits to public-health, the reduction of soil compaction, and pollution of atmosphere, saving costs of the treatment itself (product, labor, machine application and fuel).

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Agradecimentos……….……….……ii Resumo……….……….……..………..…iii Abstract……….……….iv Índice Geral……….v Índice de figuras………vii Índice de quadros………x Abreviaturas………..….xi I. INTRODUÇÃO.………….……….……….………..1

II. IMPORTÂNCIA DA VINHA NA RDD……….……..…….2

2.1 - Estrutura fundiária……….4

2.2 - Clima……….……….…...….5

2.3 - Solo……….………...……5

2.4 - Importância do oídio da videira na Região do Douro……….……..….….6

2.5 - Importância do oídio da videira nas regiões do mundo…...…….…….….7

III. O OÍDIO DA VIDEIRA ………..…10

3.1 - Sistemática e Descrição………...………….…....10

3.1.1 – Nome e Classificação….………...……….……….10

3.1.2 – Descrição……….………...…………...…...11

3.2 - Biologia e Epidemiologia……….….………...………...12

3.3 - Sintomatologia……….………...16

IV. MATERIAL E MÉTODOS……….18

4.1 - Localização e caracterização da parcela….……….……….…18

4.2 - Condições e dados climáticos………….………..19

4.3 - Captura e observação de ascósporos……….………20

4.4 - Delineamento experimental da parcela……….…20

4.5 - Tratamentos fitossanitários, critérios de escolha e respectivo posicionamento……..21

4.6 - Amostragem da incidência e severidade nos cachos (% de ataque).22 4.7 - Amostragens à vindima………....…24

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V. RESULTADOS E DISCUSSÃO.……….………26

5.1 - Condições climáticas observadas ………26

5.2 - Relação entre os factores climáticos e a libertação de ascósporos.……….….28

5.3 - Oportunidade dos tratamentos fitossanitários………..30

5.4 - Incidência e severidade (% de ataque) ………...……….30

5.5 - Parâmetros analisados à vindima……….……32

5.6 - Análise de rotina………..33

5.7 - Análises fenólicas………...……….35

5.8 - Registo da lenha de poda, nº de olhos deixados e olhos evoluídos……….36

5.9 - Índice de Ravaz………38

5.10 - Avaliação dos gastos com fungicida anti-oídio………..………....…39

VI. CONCLUSÕES……….………..……….43

VII. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS………..………45 ANEXOS

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(Baixo corgo, Cima Corgo e Douro Superior) ………3

Figura 2 – Cleistotecas de oídio (vários estados de maturação), cleistotecas providas de fulcros e respectivos ascósporos (obj.25x; oc 10x)………...……….11

Figura 3 – Ciclo biológico do oídio (Erysiphe necator) ………...….……….14

Figura 4 - Conidióforos e conídios de oídio e respectivo pormenor …………...………15

Figura 5 - Lançamento atacado por oídio (bandeira) ……..………...……….16

Figura 6 - Manchas de oídio na página superior da folha de videira...…..………..16

Figura 7 - Manchas difusas de oídio no sarmento………..……….16

Figura 8 - Inflorescências com oídio (micélio) ……...…...……….17

Figura 9 - Pedicelo e bagos com oídio………...………..17

Figura 10 - Cacho com oídio...………..……….……….17

Figura 11 - Rachamento do bago originado pelo oídio………17

Figura 12 - Delimitação da parcela do ensaio e marcação das diferentes modalidades / repetições……….18

Figura 13 a) - Suporte com lâmina vaselinada para captura de ascósporos e b) lamina corada com azul algodão……….20

Figura 14 - Identificação das diferentes modalidades no campo, por numero de fitas (T1, T2, T3 e T4)………..23

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Figura 16 - Realização da vindima, avaliação da intensidade do oídio nos cachos e peso da produção por videira………..………..……..24

Figura 17 - Contagem do nº de lançamentos, a poda das videiras e pesagem da respectiva lenha de poda………..……….25

Figura 18 - Evolução dos dados climáticos (precipitação, temperatura máxima, mínima e média) de Novembro de 2010 até Julho de 2011………...………..27

Figura 19 - Evolução dos dados climáticos (precipitação, temperatura máxima, mínima e média) de Novembro de 2011 a Julho de 2012………..……...…………..28

Figura 20 - Precipitação, ascósporos capturados, humidade relativa máxima, estados fenológicos (C – ponta verde, F – cachos visíveis e G – cachos separados) e registo da 1ª mancha de oídio observada……….29 Figura 21 - Valores médios de incidência obtidos da amostragem de cachos / modalidade e / data de amostragem (D1: alimpa/vingamento: D2: fecho do cacho: D3:vindima) em 2011 e 2012………..………..30

Figura 22 - Evolução do aumento da incidência e severidade de oídio na modalidade não tratada (T1) ………...…..31

Figura 23 – Resultados estatísticos da intensidade de ataque (%) registados à vindima nas diferentes modalidades e respectivas repetições em 2011 e 2012…………..….32

Figura 24 - Resultado estatístico do PMC em 2011 e 2012……….33

Figura 25 – Resultado das análises de rotina efectuadas à vindima nas quatro diferentes modalidades do trabalho. A: peso dos bagos (gr); B: Volume (mL); C: álcool provável (%vol./vol.); D: acidez total (gL Ác. Tart.); E: pH...………34

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modalidades do trabalho. A:ApH1 (mg/L); B: Ap H 3,2 (mg/L); C:EA % (extractibilidade das antocianas); D: MP% (maturação dos taninos) ………….36

Figura 27 – Peso da lenha de poda em 2011 e 2012………37

Figura 28 – Esquema sistema de condução VSP ……….….………..39

Figura 29 – Evolução dos volumes de área foliar, a) cachos visíveis, b) pré-floração e c) cacho fechado (L – largura; D – distância da entre linha; A – altura da sebe). SFT (superfície foliar a tratar) ………...….40

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do Douro, em 2010………3

Quadro 2 – Número de proprietários e de prédios, média da área de vinha e do número de prédios por proprietário para cada sub-região da Região Demarcada do Douro, em 2010 ……….………..……..4

Quadro 3 – Distribuição das parcelas por classes de área nas três sub-regiões da Região Demarcada do Douro, em 2010 ………..………..4

Quadro 4 - Distribuição de Erysiphe necator no mundo …….……….8

Quadro 5 - Classificação do oídio da vinha (Erysiphe necator) ………...….……….10

Quadro 6 – Características da parcela onde se realizou o ensaio ………...………18

Quadro 7 – Pulverizações efetuadas em 2011 (modalidade, substância ativa, estados fenológicos e dose/ha)……….21

Quadro 8 – Pulverizações efetuadas em 2012 (modalidade, substância ativa, estados fenológicos e dose/ha)……….21

Quadro 9 – Parâmetros analisados em laboratório…….……….………24

Quadro 10 – Resultados estatísticos dos gomos deixados à poda e evoluídos em 2011 e 2012……….…………..37

Quadro 11 – Caracterização do vigor determinado à poda através da avaliação estatística dos parâmetros, nas quatro modalidades……….………38

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ApH 1,0 – Antocianas Totais

ApH 3,2 - Antocianas Extraíveis

DO – Denominação de Origem

DOC – Denominação de Origem Controlada

EA (%) – Extractibilidade de Antocianas

EP – Expressão Vegetativa

IBE – Inibidor da Síntese do Ergosterol

IG – Indicação Geográfica

IPT – Índice polifenólico Total

Mp (%) – Maturação dos Taninos

NC – Numero de Cachos

PC – Peso dos Cachos

PMC – Peso médio dos Cachos

RDD – Região Demarcada do Douro

SFT - Superfície foliar a tratar

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I - INTRODUÇÃO

O fungo causal do oídio da videira é um ectoparasita obrigatório, representado na sua forma perfeita por Erysiphe necator Schwein (syn. Uncinula necator) e na sua forma imperfeita por Oidium tuckery (Berk) (Pearson e Goheen, 2001). Teve origem na costa Este dos EUA (1834) e em 1845 chegou a Inglaterra, invadindo o resto da Europa entre 1847 e 1851. Rapidamente se tornou a doença mais importante em todo o mundo. Em 1852, fortes ataques causaram uma perda de 50 a 70% da produção em França (Galet, 1977), ano em que se detectou também pela primeira vez em Portugal (Boubals, 1987).

Na Região Demarcada do Douro (RDD) é a doença que se manifesta com maior agressividade, tornando-se exigente em termos de protecção e contribuindo de forma significativa para o consumo de fungicidas efectuados na vinha (Calonnec et al., 2006). O facto de não existirem ainda variedades resistentes a esta doença, um controlo adequado pode obrigar à aplicação de sete ou mais tratamentos (Kast et al,. 2011). Esta aplicação intensiva de fungicidas é considerada indesejável, tanto por razões toxicológicas, como ecotoxicológicas e pelo risco de desenvolvimento de resistências do fungo aos produtos aplicados (Legler et al., 2011).

Até à década de 50 do séc. XX, o enxofre era o único meio de luta. O aparecimento das primeiras moléculas de síntese, a partir de meados dos anos 80, permitiu a introdução de novas estratégias no combate a esta doença (Alves et al. 2003).

Os seus prejuízos são importantes tanto ao nível da quantidade como da qualidade, uma vez que a sua presença interfere nas características organoléticas dos vinhos resultantes de uvas com ataques de oídio.

Não existe, ainda, nenhum método de previsão capaz de prever o momento e a severidade das infecções primárias, sendo por isso o oídio da videira de difícil controlo (Calonnec et al., 2008).

Deste modo, é objectivo deste trabalho analisar de que forma o posicionamento do primeiro tratamento anti-oídio e a utilização de diferentes substâncias activas até à fase de floração condicionam o desenvolvimento da doença.

É feita também a avaliação da precocidade e intensidade da libertação de ascósporos com o início do desenvolvimento dos sintomas da doença.

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II – IMPORTÂNCIA DA VINHA NA REGIÃO DEMARCADA DO DOURO

A cultura da vinha reveste-se de uma grande importância em Portugal, sendo considerada uma das actividades com maior relevância na economia nacional e sobretudo na Região Demarcada do Douro (RDD) (Morgadinho, 2010).

A RDD, a primeira região demarcada vitivinícola a ser criada em todo o mundo e cujo principal produto, o vinho do Porto, pela sua única qualidade, atingiu o renome mundial, tem uma importância histórica, cultural e social muito particular, o que paralelamente com a enorme predominância da vitivinicultura na economia da região, sempre determinou uma disciplina muito própria da respectiva produção, com o envolvimento do Estado na regulação do mercado do vinho do Porto (Anónimo, s/d, a).

A produção de vinhos na RDD é elevada, sendo cerca de 50% destinada à produção de Vinho do Porto. A restante é utilizada para a produção de vinhos de grande qualidade que utilizam a denominação de origem controlada "Douro" ou "Vinho do Douro".

Sob esta denominação produzem-se vinhos brancos, tintos e rosados, vinhos espumantes e vinhos licorosos e, ainda, aguardentes de vinho. Os vinhos licorosos DOC Douro, produzidos a partir da casta Moscatel galego branco, utilizam a denominação "Moscatel do Douro".

A RDD situa-se no nordeste de Portugal, estendendo-se pelo vale do rio Douro e seus afluentes e abrange os distritos de Vila Real, Bragança, Viseu e Guarda.

Está rodeada de montanhas que lhe dão características ao nível dos solos (mesológicas) e do clima únicas e que lhe conferem condições particulares.

Estas características são condicionadoras e contribuem para o aproveitamento económico dos recursos naturais e das actividades aí desenvolvidas.

Esta região, rica em microclimas como consequência da sua acidentada orografia, divide-se em três sub-regiões - Baixo Corgo, Cima Corgo e Douro Superior (figura1), produzindo cada uma delas vinhos com especificidades próprias (Anónimo, s/d, b).

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Figura 1 – Representação da Região Demarcada do Douro, dividida pelas três sub-regiões (Baixo corgo, Cima Corgo e Douro Superior)

A região é composta por uma área total de cerca de 250000 ha, que se estendem pelas três sub-regiões (quadro 1) em que está dividida.

Nalguns locais, particularmente nas sub-regiões do Baixo e Cima-Corgo, chega a ser a principal fonte de rendimento. Em contraste, no Douro Superior, a vinha ocupa apenas 9,3% da área geográfica (contra 32,2% no Baixo Corgo e 22% no Cima Corgo) mas tende a expandir-se devido à melhoria recente das acessibilidades, aos baixos custos de instalação e granjeio e, sobretudo, à elevada qualidade dos vinhos fabricados (Brito, 1997).

Quadro 1 – Distribuição e importância da área de vinha por sub-região da Região Demarcada do Douro, em 2010 (Fonte: IVDP).

Sub-região Área total (ha) % Área com vinha (ha) % da área total

Baixo Corgo 45.000 18 14.501 32,2

Cima Corgo 95.000 38 20.915 22,0

Douro Superior 110.000 44 10.197 9,3

Total 250.000 100 45.613 18,3

Antigamente, era apenas no Alto Douro que a cultura da vinha tinha grande expansão, sendo nessa altura a designação de Alto Douro Vinhateiro adoptada pelos autores para se referirem à zona vinhateira que hoje é Baixo e Cima Corgo.

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2.1 - Estrutura fundiária

A vinha é a cultura predominante da RDD, ocupa cerca de 18,3% da área total da região e constitui o alicerce fundamental da economia duriense. Esta área é trabalhada por aproximadamente 33000 viticultores, contendo cada um, 1 ha em média de vinha (quadro 2). Dentro destes, são os pequenos produtores que possuem um grande peso na produção de Vinho do Porto, tendo ainda em conta que estas parcelas estão espalhadas por toda a região (quadro 3), localizando-se as de maiores dimensões, no Douro Superior, principalmente.

Quadro 2 – Número de proprietários e de prédios, média da área de vinha e do número de prédios por proprietário para cada sub-região da Região Demarcada do Douro, em 2010 (Fonte: IVDP).

Sub-região Prop. Área de Vinha/prop. (ha) Nº médio de prédios/prop. Nº prédios

Baixo Corgo 15.490 0,94 3,3 50.910

Cima Corgo 16.205 1,29 3,9 62.444

Douro Superior 7.285 1,40 2,9 21.318

Total 38.980 1,17 3,5 134.672

Quadro 3 – Distribuição das parcelas por classes de área nas três sub-regiões da Região Demarcada do Douro, em 2010 (Fonte: IVDP)

Distribuição em % das parcelas por classes de área (ha)

<0,5 0,5-1 1-3 3-5 5-10 10-20 20-30 >30

Baixo Corgo 44.777 3.303 2.234 353 202 37 3 1

Cima Corgo 53.511 5.075 2.957 502 297 79 15 8

Douro Superior 16.433 2.766 1.640 272 163 40 2 2

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2.2 - Clima

A particularidade e individualidade da região do Douro deve-se à sua localização, exercida pela influência das serras do Marão (1415m) e Montemuro (1380 m), estas servem como barreira à influência dos ventos húmidos de oeste. Está situada em vales profundos, abrigados por montanhas e por isso se caracteriza por ter uns invernos extremamente frios e os verões muito quentes e secos.

A variação da precipitação varia de acordo com a regularidade do ano, apresentando maiores valores em Dezembro e Janeiro, sendo que em alguns lugares também se verifica em Março, e com valores mais reduzidos nos meses de verão (Julho e Agosto).

A precipitação apresenta, nos meses com ocorrência de maior precipitação, valores de 50,6 mm (Barca d`Alva – Douro Superior) e 204,3 mm (Fontes – Baixo Corgo); nos meses de menor precipitação, os valores variam entre 6,9 mm (Murça – Cima Corgo) e 16,2 mm (Mesão Frio – Baixo Corgo). Os valores anuais variam entre os 1200 mm (Fontes – Baixo – Corgo) e os 380 mm (Barca d`Alva – Douro Superior). Assim, o clima da região é caracterizado pela mediterraneidade com influência mais continental (meseta ibérica), quando se avança para montante (IVDP, consultado em 07-12-2012 e Moutinho Pereira, 2000). A temperatura média anual vai aumentando, registando-se 18ºC na Régua, 19ºC no Pinhão e 21ºC em Barca d`Alva.

2.3 - Solo

No que respeita aos solos, a RDD pertence na sua maioria, em particular ao longo do vale do Douro e seus afluentes, à formação geológica do complexo xisto-grauváquico ante-ordovício, apresentando algumas inclusões rochosas de natureza granítica e, mais raramente manchas calcárias e filões de quartzo (Abade e Cardoso, 1999; IVDP, 2010).

Os solos, na RDD, podem considerar-se na sua maioria derivados de xistos de distribuindo-se por dois grupos fundamentais:

I. – Solos muito marcados pela influência do Homem, recorrendo à alteração morfológica original, com técnicas de arroteamento e armação do terreno em terraços, ou socalcos, socorrendo-se de técnicas de fertilização.

II. – Nestes solos a acção do homem não foi marcada conservando por isso o seu perfil original, sofrendo modificações apenas na camada superficial (IVDP, 2008). Quando estamos

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perante solos pobres e pouco profundos, resultantes da meteorização dos metassedimentos ou da acção humana estes são, normalmente, propícios à cultura da vinha (Silvestre, 2003).

No que diz respeito às exportações, têm vindo a aumentar, segundo os dados do Instituto Nacional de Estatística (INE). Em 2011 o valor de exportação foi de mais de 652 milhões de euros, valores nunca registados na última década. Até meados de 2012 o valor tinha já atingido os 367 milhões de euros, mais 30 milhões em relação ao mesmo período do ano de 2011, sendo a variação no período de Janeiro a Julho de 2011 a 2012 positiva, com mais 9%.

Na RDD, mesmo sem o vinho do Porto, a região continua a ser uma grande exportadora. A DO representou no ano de 2011 um pouco mais de 23% das suas exportações, já nos vinhos certificados (DO + IG) andou pelos 12,4%.

As alterações climáticas são contudo um factor de crescente preocupação, não a curto mas sim a longo prazo. Estas preocupações são consideráveis o que levou já entidades a realizar estudos sobre os impactes que o aumento das temperaturas podem ter na cultura vinha. A RDD será certamente uma das mais sensíveis a essas alterações. (Diário Económico, acedido em setembro de 2012)

Trata-se de um território único, com grandes qualidades paisagísticas, culturais, sociais e económicas. A RDD é a maior produtora de vinho do país, contribuindo com aproximadamente 25% da produção nacional (IVV, 2009).

2.4 - Importância do Oídio da Videira na Região do Douro

O oídio da videira é frequentemente referido como a doença mais importante na Região Demarcada do Douro (RDD) e aquela que se manifesta com maior agressividade, todos os anos. Os seus prejuízos são importantes tanto ao nível da quantidade como da qualidade uma vez que a sua presença interfere com o produto final, o vinho.

Na RDD a vinha é classificada de monocultura. Em muitos vinhedos existem plantas com a mesma idade e tipo de folhagem, assim como copas densas que reduzem a entrada de ar e aumentam a humidade relativa do ar criando condições favoráveis para o desenvolvimento/proliferação do fungo.

Na primeira metade do século XIX, o vinho do Porto ocupava um lugar cimeiro na tabela de exportação portuguesa. No entanto, essa situação foi alterada após cerca de 1867, devido a dois factores muito importantes: o oídio e a filoxera.

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Oídio (“Oidium tuckeri”) foi a designação dada à epidemia que, após 1852, se espalhou por toda a região vinícola do Alto Douro, contribuindo para perdas elevadas nas vinhas e consequentemente a uma crise de subprodução.

A partir dessa altura e descoberta a eficácia do enxofre no controle da doença, os produtores recorreram a esta solução. Não tiveram contudo os devidos cuidados aquando da sua aplicação, lançando nas vinhas substâncias para evitar o mau cheiro provocado pelo fungicida e que tornavam o vinho impróprio para consumo (Anónimo, c).

2.5 - Importância do oídio da Videira nas regiões do mundo

O oídio da videira, Erysiphe necator, é originário da América do Norte, desenvolveu-se em Vitis labrusca, V. codofolia e V. rupestris no sudoeste do Missouri. A doença alcançou rapidamente os estados do norte e da Califórnia. V. labrusca é, provavelmente, a variedade que deu origem à importação da doença pela Europa através dos jardins botânicos e coleccionadores. Foi em 1845, que a doença parece ter sido importada para um jardim botânico da Inglaterra.

Desde 1847, as parcelas de vinha vigorosas assim como as que estavam conduzidas em latada ou ramada eram atacadas.

Em 1848, a doença afecta as regiões de Paris e Bélgica. Ao longo de dois anos, a doença invade todo o conjunto dos vinhedos de França com consequências desastrosas, contribuindo para uma drástica diminuição da produção de vinho no ano de 1850.

Desde 1849, verificou-se uma rápida progressão da doença atingindo todos os vinhedos europeus: a Itália em 1849, a Alemanha, a Hungria, a Espanha, Portugal, a Grécia, a Asia menor, a Síria, a Algéria e a Tunísia em 1851. Após esta evolução, verificou-se, no ano seguinte, um ano negro para os viticultores. (Corio-Costet, 2007).

A incidência do oídio aumentou nos últimos anos na Europa. As condições climáticas e a redução da eficácia de fungicidas têm sido apontadas como possíveis razões para este facto, aumentando assim o número de tratamentos a efectuar bem como os custos podendo afectar negativamente o meio ambiente (Gaforio, 2011). Ao longo de sete anos, terá invadido a maior parte das vinhas a nível europeu, tendo percorrido mais de 4300km.

Com o aparecimento do enxofre a partir de 1853, a doença começou a ser mais facilmente controlada. No final dos anos 60 (1866-1867), a doença instalou-se na África do Sul. No final do séc. XIX, o Japão e o Brasil foram também atacados. No início do séc. XX, o

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sul da India (1900), a Sérvia (1903) e a Suécia (1905) foram também invadidos (Corio-Costet, 2007).

No Chile é a doença mais importante na cultura da vinha. Ao longo do ano são, necessariamente, efectuados mais de 10 tratamentos posicionados até ao pintor para haver um bom controlo da doença. São usados os enxofres e os compostos orgânicos, principalmente, os triazóis e estrobilurinas. No entanto existe a necessidade de adoptar novas estratégias devido ao desenvolvimento de resistências que se tem verificado (Erickson e Wilcox 1997).

Actualmente, o oídio está presente num conjunto de vinhedos a nível mundial (quadro 4).

Quadro 4 - Distribuição de Erysiphe necator no mundo (Corio-Costet, 2007).

Continente Pais

Europa

Alemanha, Áustria, Bulgária, Croácia, Chipre, Dinamarca, Espanha, França, Grécia, Hungria, Itália, Luxemburgo, Malta, Moldávia, Países Baixos, Polónia,

Portugal, Roménia, Reino Unido, Rússia, Sérvia, Montenegro, Eslováquia, Eslovénia, Suíça e Ucrânia.

Ásia

Afeganistão, Arménia, Azerbaijão, China, Coreia, Geórgia, India, Irão, Iraque, Israel, Japão, Jordânia, Cazaquistão, Quirguistão, Paquistão, Síria, Taurânia,

Turquia, Turquemenistão, Uzbequistão e Iémen.

África

África do Sul, Algéria, Egipto, Etiópia, Quénia, Líbia, Malawi, Marrocos, Moçambique, Uganda, Serra Leon, República democrática do Congo, Tanzânia,

Tunísia e Zimbabwe.

América do Norte Canada, México e Estados Unidos.

América Central e

Caraíbas Bermudas, Costa Rica, República Dominicana e Jamaica.

América do Sul Argentina, Brasil, Chile, Perú e Venezuela.

Oceânia Austrália, Nova Caledónia, Nova Zelândia, Papua e Nova Guiné.

Sob as condições Húngaras, o oídio produz uma grande quantidade de cleistotecas nas videiras a partir de Agosto. Apesar de nesta fase, após o desenvolvimento do cacho, em que

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os bagos já não são susceptíveis à doença, o oídio é capaz de colonizar até à queda das folhas. Em folhas muito infectadas, milhões de cleistotecas são produzidas e após a queda da chuva de Outono, estas são lavadas e arrastadas. Ficam nas folhas caídas no solo, enquanto apenas um número muito reduzido é depositado nas fissuras da casca dos troncos do ritidoma das cepas, principalmente quando as vinhas estão conduzidas em cordão horizontal e na metade superior dos troncos (Cortesi et al,. 1995).

No sul de Itália, o oídio provoca grandes perdas de rendimento, principalmente os ataques tardios em uva de mesa, devido aos ataques fortes no ráquis (Hajjeh et al. 2008). Também, o tempo quente e seco proveniente da bacia do Mediterrâneo, que permite ao fungo desenvolver-se e permanecer nas vinhas, obriga ao uso intensivo de fungicidas preventivos para o seu controle desde as folhas livres até à fase de pintor.

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III – O OÍDIO DA VIDEIRA

3.1 - Sistemática e Descrição

3.1.1 - Nome e Classificação

O fungo causal do oídio da videira é um ectoparasita obrigatório, representado na sua forma perfeita (sexuada) por Erysiphe necator Schwein (syn. Uncinula necator) e na sua forma imperfeita (assexuada) por Oidium tuckery (Berk) (Pearson e Goheen, 2001). Identificado em 1834 por Schweinitz na América do Norte, o patogénio foi classificado de Oídium tukeri em 1947.

É um fungo cujo micélio se desenvolve sobre todos os órgãos verdes da planta (folhas, pecíolos, gavinhas, pâmpanos, inflorescências e cachos) e penetra nas células epidérmicas através de haustórios que absorvem os seus nutrientes.A suaforma sexuada foi novamente classificada como Erysiphe necator (Schw.).

Com base nas características morfológicas, citológicas, genéticas e pelo seu modo de reprodução, o agente causal do oídio pertence ao reino dos fungos, divisão Ascomycota, classe Ascomycota, ordem Erysiphaceae e género Erysiphe (Corio-Costet, 2007) (quadro 5).

Quadro 5 - Classificação do oídio da videira, (Erysiphe necator) (Fonte: Corio-Costet, 2007)

Reino Fungi Divisão Ascomycota Subdivisão Pezizomycotina Classe Leotiomycetes Subclasse Leotiomycetidae Ordem Erysiphales Família Erysiphaceae Género Erysiphe

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3.1.2 – Descrição

A forma perfeita do oídio (Erysiphe necator) é caracterizada por produzir frutificações sexuadas designadas por cleistotecas, órgãos de corpo esférico (desprovidos de ostíolo), de cor escura à maturação (figura 2), que se encontram à superfície dos órgãos infectados. As cleistotecas, são providas de fulcros (figura 2), cilíndricas, hialinas quando recém- formadas, contendo 4 a 6 ascos (50-60µm x 25-40µm) dispostos em “bouquet”. Cada asco possui 4 a 8 ascósporos unicelulares (figura 2), hialinos e de forma ovóide (10-14µm x 15-25µm) (Gadoury et al., 2011).

Figura 2 - Cleistotecas de oídio (vários estados de maturação), cleistotecas providas de fulcros e respectivos ascósporos (observadas ao microscópio com uma ampliação de 25x10) (Fotos: autor)

As cleistotecas apresentam, inicialmente, uma cor amarelada incolor (10 a 20 µm de diâmetro), que com o crescimento do diâmetro dos ascósporos se intensifica, passando de amarelo a laranja e castanho-escuro na fase final de maturação.

Estes órgãos são encontrados desde Julho a Agosto, em climas temperados, nas folhas, nas varas e nos bagos ou na casca da madeira velha, onde permanecem presos pelos fulcros (ramificações) (Galet, 1995). Hoffmann et al,. 2012, referem que o papel das cleistotecas, e posteriormente dos ascósporos, que ficam nas folhas caídas no solo é controverso. De acordo com alguns cientistas, é muito pouco provável que estas cleistotecas sobrevivam durante o inverno, sendo por isso incapazes de libertar ascósporos viáveis na primavera. Em contrapartida, outros autores dizem existir estudos que falam sobre estas serem perenes nas folhas da videira, sendo que alguns ascósporos mais isolados se mantêm sempre viáveis.

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No entanto, a sua localização sobre a superfície do solo pode influenciar negativamente a sua importância epidemiológica. Mesmo que sejam viáveis, a dispersão dos ascósporos será menos significativa em relação às que hibernam no tronco, sendo a última mais próxima das folhas da base, e como resultados os ascósporos libertados são capazes de infectar as folhas de forma mais eficaz (Füzi, 2003).

A forma imperfeita, Oïdium tuckeri Berk., desenvolve um micélio hialino, septado, com 4-5 µm de diâmetro, e algumas ramificações, na superfície dos órgãos a contaminar desenvolvendo apressório, nos quais se formam estiletes de penetração, sob a forma de haustórios para o interior das células epidérmicas (Galet, 1995). Estes apressórios asseguram a fixação sobre o suporte e a sua nutrição a partir do substrato do hospedeiro (Dubos, 1999)

A partir dos conidióforos dá-se a reprodução assexuada (10-400µm de comprimento), estes apresentam-se formados perpendicularmente e em cadeia sobre as hifas já formadas. A hifas possuem cadeias de 3 a 5 conídios hialinos e cilíndrico-ovóides (27-47 x 14-21 µm) (Dubos, 1999).

3.2 - Biologia e Epidemiologia

O oídio pode provocar dois tipos de sintomas nas folhas, manchas isoladas ou “drapeaux (bandeiras) ”, no momento das contaminações primárias (Corio –Costet et al., 2000).

A sua hibernação ocorre sob a forma de micélio dormente nos gomos (forma assexuada) e de cleistotecas (forma sexuada) que, quando arrastadas pelo vento e pela chuva, permanecem alojadas no ritidoma das cepas, em folhas caídas no solo e até no próprio solo (figura 3).

As cleistotecas, que ficam no solo, parecem ter pouca importância no que se refere aos ataques de oídio na primavera, admitindo-se que estas são destruídas por hiperparasitismo (Galet, 1995).

Na primavera, quando as condições climáticas são favoráveis (temperatura superior a 15ºC e humidade relativa a 25%), inicia-se o desenvolvimento do fungo que pode ter origem tanto na germinação do micélio hibernante nos gomos, que esporula e produz conídios que dão origem ao aparecimento dos “drapeaux (bandeiras)”, quer na germinação de ascósporos provenientes das cleistotecas (Clerjeau, 1999), considerada a principal fonte de inóculo para as infecções primárias na Região do Douro (Freitas e Val, 2005).

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Após a sua germinação dão origem à formação de conidióforos e conídios (figura 4), dando assim início às infecções primárias e posteriormente às infecções secundárias (aspecto pulverulento).

Também a ocorrência de dias com elevadas humidades relativas (40-100%), contribuem para a formação de haustório (Pearson et Gohen, 1988, Willocquet et al., 1998), assim como a presença de luz forte e directa inibe a germinação dos conídios, sendo estes favorecidos pela ocorrência de dias com luz difusa (com nevoeiro) (Willocquet et al., 1998).

O vento (a partir de 2-3m.s-1 até 10m.s-1) também contribui para a libertação e disseminação dos conídios, assim como as pulverizações, pelo efeito mecânico das gotas e do ar projectado. Outros factores também contribuem para este facto, a própria chuva ou mesmo as operações culturais, que dão origem a pequenas vibrações favorecem a libertação dos conídios (Willocquet et al.,1998) e posterior dispersão da doença. A fase de incubação da doença pode variar entre 7 dias, com temperaturas de 19ºC e 5 dias na presença de temperaturas entre os 22-27ºC. Quando em condições normais, de campo, é normal serem observados períodos de incubação de 14 dias ou mais, numa fase de ciclos que decorrem entre a alimpa e o fecho do cacho devido às diferenças de temperatura (Galet, 1997).

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F ig ur a 3 - C ic lo b io ló gi co d o oí di o da v id ei ra ( E ry si p h e n ec a to r )

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O crescimento do fungo pode desenvolver-se desde os 6ºC até aos 32ºC. Temperaturas acima dos 35ºC inibem a germinação dos conídios, provocando a sua morte acima dos 40ºC. Na presença de temperaturas de 25ºC, os conídios germinam em 5 horas aproximadamente. Há quem diga que as colónias de oídio morrem após uma exposição de 10horas com 36ºC e em seis horas com temperaturas de 39ºC, no entanto as exigências de temperatura e humidade dos ascósporos são desconhecidas (Pearson et Gohen 2001).

Ao longo do ciclo vegetativo, a doença reproduz-se e faz a sua disseminação através dos conídios (Clerjeau et al., 1998), conservando-se de várias formas, dependendo das regiões e das diferentes castas (Dubos, 1999).

Conidióforos Conídios

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3.3 - Sintomatologia

O oídio é capaz de infectar todos os órgãos verdes da videira (folhas, pecíolos, ramos, gavinhas, inflorescências, bagos verdes). A partir da fase activa os sintomas revelam-se pelo aparecimento de um pó branco ou acinzentado (Pearson et Gohen, 1988), espesso e pulverulento, resultante de múltiplas cadeias, dando um aspecto crispado às folhas (Dubos, 1999), que quando os ataques são muito fortes e precoces tomam a forma de “bandeiras” (figura 5).

Ainda nas folhas, o pó branco acinzentado aparece em manchas isoladas (figura 6) que posteriormente dá origem a manchas acastanhadas na página inferior. Estas podem ocorrer isoladamente ou em grupos que se unem, acabando por cobrir a maior parte da folha (Gadoury et al., 2012). Nos sarmentos, os sintomas manifestam-se através de manchas difusas de cor verde-escuro (figura 7) que mais tarde passam a um tom acastanhado e permanecem ao longo de todo o inverno. Quando os ataques são muito fortes, estes podem evoluir para uma cor negra, comprometendo o seu normal atempamento.

As inflorescências e os bagos apresentam-se cobertos com uma poeira branca acinzentada (figura 8), verificando-se o posterior dessecamento dos botões florais. Numa fase inicial do desenvolvimento do cacho é notório e característico o início do ataque proveniente do pedicelo, que se estende posteriormente ao bago, observando-se também o desenvolvimento do fungo só nos pedicelos ou no ráquis (figura 9).

Figura 5 – lançamento ata- -cado por oídio (bandeira)

Figura 6 – manchas de oídio na página

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Se os ataques forem intensos, os bagos podem não se desenvolver, acabando por secar. Quando os cachos se encontram já mais desenvolvidos e os bagos apresentam maiores dimensões, o micélio do fungo pode colonizar parte ou a totalidade do cacho cobrindo-o de uma camada pulverulenta abundante (figura 10) que provoca paragem no crescimento da epiderme da zona atacada podendo originar o rachamento do bago (figura 11) e potencia a infecção para a Botrytis cinérea (podridão cinzenta) (Galet, 1995).

Figura 8 – inflorescências com oídio (micélio) (Foto:

autor). Figura 9 – pedicelo e bagos com oídio (Foto: autor)

Figura 10 – cacho com oídio (Foto: autor). Figura 11 – rachamento do bago originado pelo oídio

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IV - MATERIAL E MÉTODOS

O presente estudo decorreu ao longo de dois anos consecutivos, acompanhando o ciclo vegetativo da vinha nos anos de 2011 e 2012. Seguidamente descrevem-se as características do ensaio, assim como os vários registos efectuados.

4.1 - Localização e caracterização da parcela

O ensaio de campo foi realizado na Quinta de S. Luiz (latitude 41º 09ˈ10.55̎ N, longitude 7º 36ˈ58.24̎ O, altitude 235m), apresentada na figura 12, situada no concelho de Tabuaço, na sub-região do Cima-Corgo da Região Demarcada do Douro.

Figura 12 – Delimitação da parcela do ensaio e marcação das diferentes modalidades/repetições (verde T1, castanho T2, azul T3 e vermelho T4), na Quinta de S. Luiz

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A parcela escolhida, com cerca de 1ha, com a casta Tinta Roriz, está localizada numa encosta. Os bardos estão conduzidos segundo as linhas de maior declive, cujas características se encontram descritas no quadro 6.

Quadro 6 – Características da parcela – Quinta de S. Luiz Características

Local S. Luiz

Casta Tinta Roriz

Porta Enxerto R110

Sistematização Patamares de 2 bardos

Exposição Noroeste

Compasso 2,20m*1,10m

Sistema de poda Cordão unilateral

Idade 22 anos (1990)

Delineamento Blocos casualizados

4.2 - Condições e dados climáticos

Sendo a chuva a principal responsável pela abertura das cleistotecas e posterior libertação dos ascósporos, que são o inóculo primário mais importante das infecções de oídio na RDD (Freitas e Val 2005), foram registados, ao longo da parte prática, e analisados os dados de precipitação, temperatura, e humidade relativa (%), principais factores de desenvolvimento da doença.

4.3 - Captura e observação de ascósporos

A monitorização para a captura de ascósporos de oídio foi efectuada apenas no ano de 2011.

Na parcela experimental, ainda em fase de repouso vegetativo, foram colocados aleatoriamente, no dia 11 de março, três suportes metálicos em forma de U (figura 13a) com lâminas que continham uma fina camada de lanolina na face interior voltada para a cepa, para captura e fixação dos ascósporos projectados. Estas perfaziam uma área exposta de 72cm2 no seu conjunto e foram trocadas sempre após a ocorrência de precipitação. Posteriormente foram transportadas para laboratório, onde foram previamente coradas com azul de algodão,

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cobertas com lamelas (24x55mm) (figura 13b) e observadas ao microscópio (ampliação de 125x) para visualização, contagem e registo do número de ascósporos capturados.

Figura 13 a) - Suporte com lâmina coberta de lanolina para captura de ascósporos, b) lâmina corada com azul algodão

4.4 - Delineamento experimental da parcela

O delineamento experimental foi efectuado em quatro modalidades dispostas em blocos casualizados com quatro repetições cada, estas eram compostas por cerca de 14 videiras das quais 10 foram avaliadas, sendo cinco do bardo de dentro e as outras cinco do bardo de fora.

Os tratamentos consistiram em:

 T1 - (testemunha), sem qualquer pulverização aplicado;

 T2 - três pulverizações com enxofre molhável aplicadas antes da floração: a primeira pulverização efectuada às 2-3 folhas livres, a segunda em cachos visíveis e a terceira na pré-floração;

 T3 – a primeira pulverização foi efectuada no início do estado folhas livres, que é a prática comum no Douro, e a segunda na pré-floração;

 T4 – pulverização foi efectuada pré-floração com IBE.

Após a floração todas as pulverizações, designadas por tratamentos, com excepção da testemunha, foram efectuadas ao mesmo tempo e com o mesmo produto. Na modalidade T4 em ambos os anos, as pulverizações terminaram no Bago de ervilha/Início de cacho fechado

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Em cada modalidade e em cada repetição (figura 14) as observações foram feitas igualmente tanto no bardo de fora como no bardo de dentro.

4.5 - Tratamentos fitossanitários, critérios de escolha e respectivo posicionamento

As pulverizações químicas efetuadas na parcela para as diferentes modalidades estão referidas no quadro 7, bem como as respetivas datas, substâncias activas aplicadas, dose e os estados fenológicos (nos anexo I e anexo II, estão descritas as caracteristicas de cada substância ativa e ilustrados os estados fenológicos).

Quadro 7 – Pulverizações efetuadas em 2011 (modalidade, substância activa, estados fenológicos e dose/ha) Data/

Modalid.

2011

14-Abr 28-Abr 12-Mai 24-Mai 06-Jun 17-Jun

T1 * * * * * * T2 enxofre molhável enxofre molhável enxofre molhável boscalide+cresox-metilo boscalide+cresox-metilo boscalide+cresox-metilo T3 enxofre molhável * penconazol boscalide+cresox-metilo boscalide+cresox-metilo boscalide+cresox-metilo T4 * * penconazol boscalide+cresox-metilo boscalide+cresox-metilo * fenologia F G H+ J+ K L

dose/ha 4kg/ha 4kg/ha 4kg/ha; 35ml 35ml 35ml 30-40ml

*Não foi aplicado qualquer tipo de pulverização.

Em 2012, devido ao atraso e paragem do crescimento vegetativo, os tratamentos efetuados antes da floração (I) tiveram de ser alterados. O último tratamento, efetuado com IBE, teve de ser posicionado uma semana mais tarde em relação ao enxofre molhável já que o objetivo era posicioná-lo na pré-floração (H) (Quadro8).

Quadro 8 – Pulverizações efetuadas em 2012 (modalidade, substância ativa, estados fenológicos e dose/ha) Data/

Modalid.

2012

12-abr 27-abr 11-mai 18-mai 01-jun 15-jun 29-jun

T1 * * * * * * * T2 enxofre molhável enxofre molhável enxofre molhável * boscalide+cresox -metilo boscalide+cresox -metilo boscalide+cresox -metilo T3 enxofre molhável * * penconazol boscalide+cresox -metilo boscalide+cresox -metilo boscalide+cresox -metilo T4 * * * penconazol boscalide+cresox -metilo boscalide+cresox -metilo * Fenologia F F G H+ J+ L

Dose/ha 4kg/ha 4kg/ha 4kg/ha 35ml 30-40ml 30-40ml 30-40ml

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Em 2012 as pulverizações iniciaram-se a 12 de abril, em que o estado fenológico predominante era cachos visíveis, a segunda pulverização, respeitando o mesmo critério de 2011, foi efetuado no dia 27 de Abril, apenas na modalidade 2, com enxofre molhável. O estado fenológico predominante era cachos visíveis (F).

A terceira tpulverização foi efetuada no dia 12 de maio, apenas na modalidade 2, tendo em conta que a vegetação estava atrasada, não se encontrando na fase pretendida, pré floração (H). Na modalidade 3 e 4 a pulverização foi posicionada uma semana mais tarde, no dia 18 de maio.

Após o vingamento (J+), as pulverizações efectuadas foram iguais nos dois anos. Em 2012, os tratamentos da modalidade T4 terminaram mais cedo, a 29 de junho, para analisar o comportamento da doença apenas com três pulverizações posicionadas nas fases mais críticas.

4.6 - Amostragem da incidência e severidade nos cachos

A incidência e severidade do oídio foram avaliadas em cachos e folhas, com base na escala de OEPP (1981) (anexo III e anexo VI respectivamente), em três períodos distintos, à alimpa/vingamento (D1), ao fecho do cacho (D2) e à vindima (D3) nos dois anos consecutivos (2011 e 2012). Nas diferentes modalidades (figura 14) e em cada repetição observaram-se 10 videiras, cinco no bardo de dentro e cinco no bardo de fora (um total de 160 videiras), tendo sempre o cuidado de não se observar nem a primeira nem a última de cada linha, devido à probabilidade de ter apanhado calda das pulverizações das outras repetições. Em cada cepa, foram considerados dois cachos ao acaso, posicionados mais no interior da vegetação, para as folhas foi seguido o mesmo critério. Por cada modalidade procedeu-se ao cálculo, apenas para os cachos, da incidência (número de cachos atacados) e da severidade (soma da percentagem de área destruída ou soma da porção de cacho destruído) para calcular a intensidade de ataque da doença ao longo do ciclo.

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Figura 14 - Identificação das diferentes modalidades no campo, por numero de fitas (T1, T2, T3 e T4)

Em ambos os anos a última avaliação, efectuada à vindima, foi efectuada mais uma vez apenas nos cachos, nesta altura as folhas continham já muitas manchas de outros problemas e que se confundiam, nomeadamente carências e outras desclorações presentes nas folhas e ainda doenças do lenho.

A amostragem de cachos (figura 15) foi feita em três épocas distintas em ambos os anos.

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4.7 – Amostragens à vindima

À vindima foi realizada uma avaliação final onde se registou a percentagem de oídio apenas nos cachos (figura 16), em 10 videiras de cada repetição (5 no bardo de dentro e 5 no bardo de fora) pois nesta fase as folhas já possuem muitos tipos de manchas dificultando a visualização do oídio.

Foi também registado o peso médio dos cachos (PMC), o número de cachos por videira (NC) e o peso da produção por videira (kg).

Os registos da produção/videira, foram feitos no local da vindima das videiras seleccionadas para o ensaio com o auxílio de uma balança do tipo dinamómetro (figura 16), efectuando-se ao mesmo tempo ao registo do número de cachos correspondente a cada videira.

Figura 16 – Realização da vindima, avaliação da intensidade do oídio nos cachos e peso da produção por videira.

À vindima foram, ainda, colhidos 200 bagos em cada repetição num total de 16 amostras, para se proceder à análise laboratorial de rotina e as análises fenólicas. As amostras de 200 bagos foram colocadas em sacos plásticos devidamente identificados e transportadas para o laboratório em mala térmica.

Os parâmetros avaliados em laboratório são referidos no quadro 9.

Quadro 9 – Parâmetros analisados em laboratório (Fonte: ADVID).

Análises rotina Análise fenólicas

Peso (g)

Volume líquido (ml) Álcool provável (% vol./vol.) Acidez total (g/L ácido tartárico) pH

IPT (polifenóis totais) ApH1 (mg/L) ApH3,2 (mg/L)

EA – extractibilidade de antocianas (%) Mp - maturação dos taninos (%)

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4.8 - Registo da lenha de poda e do número de lançamentos

No inverno, após a queda total de folhas, procedeu-se à contagem do número de lançamentos deixados à poda, contagem dos lançamentos evoluídos, pesagem da lenha de poda de cada videira (figura 17) e calculou-se o peso médio por lançamento. Estes parâmetros forneceram dados que servem de indicador da respectiva expressão vegetativa. Através destes parâmetros quantificou-se o equilíbrio da videira, ou seja, calculou-se o índice de Ravaz = rendimento (kg/cepa)/peso da lenha de poda (kg/cepa) como indicador do equilíbrio entre a parte vegetativa e a parte produtiva, cujos valores ideais devem situar-se entre 5 a 10 segundo Smart e Robinson (1991).

Figura 17 – Contagem do nº de lançamentos, poda das videiras e pesagem da respectiva lenha de poda.

4.9 - Análise estatística

A análise estatística dos dados foi efectuada através do programa BONFERRONI Statistic 7. Efectuaram-se análises de variância para cada uma das variáveis estudadas, tendo como origem de variação as diferentes estratégias de tratamento químico (T1, T2, T3 e T 4) por data, repetição e por modalidade.

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V - RESULTADOS E DISCUSSÃO

5.1 – Condições climáticas

No decorrer deste trabalho, ao longo de dois anos consecutivos, as condições climáticas registadas foram completamente distintas. No ano de 2011 a precipitação que ocorreu durante o Inverno situou-se ligeiramente acima do normal, destacando-se o mês de Dezembro com 129 mm.

No período que decorreu desde o final da Primavera até ao início de Outono, o clima apresentou-se seco. Registou-se apenas precipitação em duas datas, junto já às vindimas, os dias 21 de agosto e 1 de setembro, que totalizou entre 35 a 40 mm, ocorrendo em toda a região.

A temperatura do ar apresentou valores acima do normal, tendo-se registado 3 ondas de calor, uma em Abril e duas em maio (figura 18), de acordo com os valores registados na estação automática meteorológica situada em Adorigo. O mês de Junho teve valores de temperatura a aproximarem-se da média, tendo-se registado, entre os dias 25 e 27, uma anomalia nos valores da temperatura máxima do ar, tendo-se atingindo 42ºC. O mês de Julho caracterizou-se pela ocorrência de vento moderado a forte durante grande parte do mês com elevado número de dias com vento médio superior ao normal e temperatura com valores inferiores à média. O mês de agosto apresentou grandes variações na temperatura do ar e na precipitação, com dias que se aproximaram de vaga de calor a alternar com anomalias nas baixas temperaturas. Em setembro, que se iniciou com temperatura amena, registou valores da temperatura máxima do ar acima do valor da média, sobretudo na segunda e terceira década do mês. Importa assinalar que em setembro ocorreram vários dias com temperatura máxima igual ou superior a 25ºC (dias de verão) e a 30ºC (dias quentes), verificando-se que o número de dias com estes valores foi superior à média. Neste ano, o oídio encontrou condições para a ocorrência de uma forte pressão de desenvolvimento da doença, com importante contributo do excesso de vigor, mantendo-se para além do fecho do cacho nas castas mais sensíveis.

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-10 0 10 20 30 40 50 0 10 20 30 40 50 1-no v 15 -n ov 29 -n ov 13 -d ez 27 -d ez 10 -j an 24 -j an 7-fe v 21 -f ev 7-m ar 21 -m ar 4-ab r 18 -a br 2-m ai 16 -m ai 30 -m ai 13 -j un 27 -j un 11 -j ul 25 -j ul T . ( ºC ) R . ( m m )

R (mm) TMed Tmax ºC Tmin ºC

Cima Corgo - Adorigo (2011)

Figura 18 – Evolução dos dados climáticos (precipitação, temperatura máxima, mínima e média) de Novembro de 2010 até Julho de 2011 (Fonte: Estação Meteorológica Automática ADVID).

O ano de 2012 caracterizou-se pela ausência de precipitação nos meses de inverno. O início do ano vitícola classificou-se entre os seis mais secos desde há 40 anos. A evolução da seca foi ligeiramente atenuada em Abril e sobretudo em maio. Neste ano, previa-se uma forte ocorrência da doença, devido à precocidade dos primeiros focos encontrados, tendo o mês de Junho tido condições muito boas para o seu desenvolvimento, devido à alta humidade relativa que se registou ao longo do mês. Após o mês de Julho, a reduzida expansão vegetativa associada às elevadas temperaturas e à reduzida precipitação ocorrida (figura 19), proporcionaram um bom controlo da doença. Também a atempada aplicação das medidas de luta cultural (correta orientação da vegetação), contribuíram para uma boa eficácia dos tratamentos efectuados.

O inverno caracterizou-se por uma baixa temperatura mínima do ar. Em março, verificou-se uma anomalia relativamente aos valores normais. Registou-se a ocorrência de três ondas de calor, duas no mês de março e uma em maio, assim como um forte desvio relativamente à média em Abril, tendo sido muito fresco. Em Junho, com excepção para o período entre 25 e 27 (com temperatura superior a 40ºC.) a evolução dos valores ficou quase sempre aquém da média. Até ao final de Junho, os valores médios da temperatura do ano vitícola, situaram-se abaixo da média. As chuvas que ocorreram no final de Setembro, não alteraram a classificação do ano como muito seco e ao mesmo tempo fresco.

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-10 0 10 20 30 40 50 0 10 20 30 40 50 1-no v 15 -n ov 29 -n ov 13 -d ez 27 -d ez 10 -j an 24 -j an 7-fe v 21 -f ev 6-m ar 20 -m ar 3-ab r 17 -a br 1-m ai 15 -m ai 29 -m ai 12 -j un 26 -j un 10 -j ul 24 -j ul T . ( ºC ) R . ( m m )

R (mm) TMed Tmax ºC Tmin ºC

Cima Corgo - Adorigo ( (2012)

Figura 19 – Evolução dos dados climáticos (precipitação, temperatura máxima, mínima e média) de Novembro de 2011 até Julho de 2012 (Fonte: Estação Meteorológica Automática ADVID).

5.2 - Relação entre os factores climáticos e a libertação de ascósporos

O início da captura de ascósporos registou-se antes do abrolhamento da vinha e terminou ao vingamento. Segundo Jailoux et al., 1999,a libertação dos ascósporos acontece quando o somatório de temperaturas (base 0) com início a partir de 1 de Novembro, atinge os 1100ºC o que não se verificou em 2011, tendo estes sido registados em 18 de março com 1203.4ºC. As lâminas foram colocadas na semana anterior e a captura verificada pode ter ocorrido nessa altura, podendo o somatório de temperaturas ser mais próximo de 1100ºC.

O maior número de ascósporos registou-se em 28 de Abril e 23 de maio com quatro capturas em ambas as datas (figura 20), no período que decorreu entre a pré-floração e o vingamento. O número de ascósporos capturados ao longo da campanha de 2011 foi de 13 no total. Verificou-se que a captura de ascósporos esteve sempre associada à ocorrência de precipitação, à excepção da semana que decorreu entre os dias 5 e 12 de maio, em que se registou um ascósporo sem contudo ter ocorrido precipitação. Isto pode dever-se ao facto de na semana anterior ter havido 22,6 mm de precipitação e posteriormente a humidade relativa máxima ser próximo dos 90%. Na semana entre 23 de maio e 2 de Junho, registou-se precipitação e não houve captura de ascósporos. Neste período, talvez por termos já muita vegetação, a área foliar nesta altura é já importante, podendo assim limitar a quantidade de precipitação que atinge o ritidoma (chuva directa) e constituir uma barreira para a libertação e captura de ascósporos.

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Estes resultados vêm reforçar os dados já publicados por Freitas e Val (2005), onde se verificou também que o início da captura de ascósporos foi sempre antes do abrolhamento da vinha e terminou sempre antes do vingamento, à excepção do ano de 2002, tendo a maioria dos ascósporos sido capturados antes da floração.

Os dados obtidos ao longo da execução deste trabalho, relativamente à captura de ascósporos, fenologia da vinha, datas de observação das manchas primárias e dos primeiros sintomas de infecção secundária da doença e dados climáticos (precipitação e humidade relativa), encontram-se representados na figura20:

Figura 20 – Precipitação, ascósporos capturados, humidade relativa máxima, estados fenológicos (C – ponta verde, F – cachos visíveis e G – cachos separados) e registo da 1ª mancha de oídio observada.

Segundo Dubos, (1999), a pressão que o líquido da calda do tratamento e as vibrações mecânicas da pulverização também podem contribuir para a abertura das cleistotecas e libertação de ascósporos, podendo explicar em parte algumas situações em que não há precipitação mas em que ocorre libertação de ascósporos.

40 50 60 70 80 90 100 110 120 0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 0 1 -M a r-1 1 0 8 -M a r-1 1 1 5 -M a r-1 1 2 2 -M a r-1 1 2 9 -M a r-1 1 0 5 -A p r-1 1 1 2 -A p r-1 1 1 9 -A p r-1 1 2 6 -A p r-1 1 0 3 -M a y -1 1 1 0 -M a y -1 1 1 7 -M a y -1 1 2 4 -M a y -1 1 3 1 -M a y -1 1 0 7 -J u n -1 1 1 4 -J u n -1 1 H R ( % ) P re c. ( m m ) e n º d e a sc ó sp o ro s ca p tu ra d o s R (mm) Ascósporos Max. HR (%) C F G Mancha de oídio

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0 0,1 0,2 0,3 0,4 0,5 D1 D2 D3 In c.

Intensidade de ataque / Data (%) 2011 2012 0 0,1 0,2 0,3 0,4 0,5 T 1 T 2 T 3 T 4 In c.

Intensidade de ataque / Modalidade (%) 2011 2012

5.3 – Oportunidade dos tratamentos fitossanitários

No ensaio de 2011 e 2012, os tratamentos foram efetuados sempre de modo preventivo e respeitando a persistência de ação dos produtos. Durante o tempo decorrido foi efetuada uma análise, a cada ano, sobre o potencial de agressividade, para permitir ajustar a aplicação de medidas a adotar, de acordo com as estratégias a seguir. A escolha dos meios de proteção foi sempre feita, tendo em conta os principios de proteção integrada. Sendo a luta química indispensável no controle do oídio, deve ser dada muita importância (preferência) à luta cultural para melhorar a eficácia dos tratamentos (despampa,desfolha).

5.4 - Incidência e Severidade

Relativamente à intensidade de ataque da doença, calculada através dos registos da incidência e severidade (% de cachos atacados), verificamos através da figura 21 que existiram diferenças significativas entre modalidades (F=52.74; p=0,0043), entre repetições (F=6,73; p=0,005) e entre datas de avaliação (F=52,04; p <0,0001). Em relação aos bardos (bardo de dentro e bardo de fora), não se verificaram diferenças significativas p> 0.05. A modalidade T1 (sem qualquer tipo de tratamentos) foi aquela que manifestou maior incidência da doença, relativamente às outras modalidades (T2, T3 e T4). Também no que se refere às diferentes datas de avaliação, verificou-se que ao longo do ciclo houve sempre uma evolução significativa da doença, quando olhamos paras as datas de D1 a D3, isto é, desde o vingamento (D1) até ao fecho do cacho,à vindima (D3) (figura 21). Entre as modalidades T3 e T4 as diferenças não são significativas (p> 0,05), como podemos observar na figura 21. Entre as modalidades T2, T3 e T4 as diferenças não se revelaram significativas, uma vez que em todas elas se obtiveram valores muito semelhantes.

Figura 21 – Valores médios de incidência obtidos da amostragem de cachos / modalidade e / data de amostragem. (D1: alimpa/vingamento: D2: fecho do cacho: D3:vindima) em 2011 e 2012

a a b a a b b b b b b b a a

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Segundo Calonnec et al. (2001), o desenvolvimento da doença ao longo do tempo segue uma lei exponencial. Numa primeira fase este desenvolvimento é mais longo, com aproximadamente 40 dias, sendo a manifestação da doença relativamente baixa, com menos de 10% das folhas infectadas, estando os sintomas muito localizados na página inferior. Posteriormente, segue-se uma progressão epidémica, que pode perfeitamente evoluir dos 10 a 70% em apenas 13 dias, atingindo a quase totalidade das plantas em 80 a 90 dias. Nesta altura os cachos são todos atingidos pela doença, sendo os estragos mais severos nos que se encontram na proximidade dos focos primários.

Ao longo deste trabalho, o que verificamos na RDD, em 2011, foi que desde o abrolhamento ao aparecimento das primeiras manchas de oídio, que corresponde à fase mais longa, e em que a manifestação da doença é relativamente reduzida, decorreram cerca de 45 dias (figura 22). A sua maior progressão, epidémica, normalmente ocorre entre meados de Junho até final do mesmo mês, podendo a doença nesta fase passar de 10% para 70-80% em duas semanas. Atinge o seu máximo em cerca de 100 dias, uma vez que até ao início do pintor o fungo possui capacidade de desenvolvimento (figura 22).

Figura 22 – Evolução do aumento da incidência e severidade de oídio na modalidade não tratada (T1). A incidência da doença aumenta significativamente por volta dos 45 dias a partir do abrolhamento (2011/2012).

0 10 20 30 40 50 60 70 80 90

Março Abril Maio Junho Julho Agosto

% a ta qu e Incidência e Severidade (2011 e 2012) Inc. Sev. Fase longa mancha oídio Fas e rápi da +/- 15d +/- 45d

Imagem

Figura 1 – Representação da Região Demarcada do Douro, dividida pelas três sub-regiões (Baixo corgo, Cima  Corgo e Douro Superior)
Figura  2  - Cleistotecas  de  oídio  (vários  estados  de  maturação),  cleistotecas  providas  de  fulcros  e  respectivos  ascósporos (observadas ao microscópio com uma ampliação de 25x10) (Fotos: autor)
Figura 3 - Ciclo biológico do oídio da videira (Erysiphe necator)
Figura 4 – Conidióforos e conídios de oídio (Foto: autor) e respectivo pormenor w.apsnet.org//PowderyMildew/Top.html)
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Referências

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