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Vozes da maré: extensão popular e a população marisqueira de Cabedelo-PB

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PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO

Bruna Alice Taveira de Lima

Vozes da maré:

Extensão popular e a população marisqueira de Cabedelo-PB

Natal-RN Junho, 2019

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PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO

Bruna Alice Taveira de Lima

Vozes da maré:

Extensão popular e a população marisqueira de Cabedelo-PB

Tese apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Educação da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, na linha de pesquisa Educação, Estudos Sociohistóricos e Filosóficos, como requisito para obtenção do título de Doutora em Educação.

Orientador: Prof. Dr. Antonio Basílio Novaes Thomaz de Menezes

Natal-RN Junho, 2019

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Dedico este trabalho:

Às marisqueiras e marisqueiros de Cabedelo-PB; À minha pequena gigante filha, Alice, com todo o amor, respeito e admiração da mamãe.

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GRADECIMENTOS

A lista de agradecimentos é longa, então, por favor, paciência. Como não poderia deixar de ser, é emocionada que escrevo esta parte do documento entre um momento e outro de procrastinação. Não em ordem de importância e sabendo que não resumem sequer pequena parte do quanto precisaria escrever para agradecer suficientemente o quão me sinto abençoada, seguem palavras de gratidão:

A Deus, por ser inacreditavelmente generoso e amável comigo;

Aos meus pais maravilhosos e parceiros, Tadeu e Sonia, pelo ensinamento de uma vida até quando não sabiam que estavam ensinando, apoio, torcida, cuidado, confiança e por me mostrarem que o real significado de AMOR é ACREDITAR;

À minha irmã, Aline, por estar SEMPRE ao meu lado, pelo apoio em cuidar da minha filha nas minhas ausências e demais oscilações, pela parceria e companheirismo que nem nós sabíamos que existia;

Aos meus “bebês” amados, Alice, Lis, Murilo e João, por trazerem alegria de vida aos dias mais nebulosos;

A CADA UM dos demais componentes da minha GRANDE família, que é gigante em amor e união, mas também em quantidade, por isso essa tese não comportaria citar um a um. Adultos, crianças e amigas que, de tão amigas, se tornaram família também, obrigada por acreditarem em mim desde que o samba é samba, por me acolherem na alegria e me incentivarem no desânimo – “Você não tem o direito de desistir! Se não concluir esse doutorado, vou te bater!”. Não desejaria ter nascido em outro berço;

À Francineide, pela amizade curta, mas intensa, por ver potencial onde eu não conseguia enxergar e pelo aprendizado. Escrever in memorian depois do teu nome soa estranho demais porque você é tão presente hoje quanto quando te conheci. Queria que estivesse aqui, presenciando essa vitória que também é tua, que só está tendo um fim porque você ajudou a construir o comecinho. Esse trabalho não existiria sem você! Gratidão até o fim dessa vida e de outras vidas;

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A Alberto, por sua inspiradora, singular e admirável perspicácia e inteligência, fosse estimulando ou se contrapondo, em pouco tempo enriqueceu este trabalho e minha existência;

À Ariana, minha amiga/irmã/amora de alma, porque torcedora melhor, “maior” em linha reta, mais sagaz e divertida não poderia existir, pela paciência com minhas oscilações cognitivas e psicológicas (1) e pelo estímulo – “Senta na cadeira e termina logo esse negócio para voltar a trabalhar porque não posso viver sem você aqui!”;

A Vagner, pelos ouvidos, ideias mirabolantes, gargalhadas, acalantos, motivação, paciência com minhas oscilações cognitivas e psicológicas (2), “três tapas na cara” sempre que necessários, aventuras, desbravamentos, “do you speak english?”, “te controla e concentra porque tua cara não tá escondendo tua fúria”, ... Enfim, pelo companheirismo e parceria que só uma boa amizade pode ter;

Aos demais colegas de instituição e profissão (educadores e educadoras), que estiveram comigo durante o processo de seleção e percurso de doutoramento, especialmente Verinha, companheira de tribulações;

Aos pescadores e pescadoras artesanais, na figura das pessoas entrevistadas, gestores, participantes do curso e lideranças sociais, pela disponibilidade de partilha e ensinamentos;

Ao meu querido e indestrutível orientador, professor Antonio Basílio Novaes Thomaz de Menezes, sagitariano carioca arretado, para quem cheguei confusa e assustada com o “universo das humanas”, pelas proveitosíssimas orientações e objetividade que lhe são peculiares, mas, mais que isso, pela paciência e compreensão com minha “mente inquieta e perfeccionista” e meu jeito “super sincera”; À professora Olívia, pelas instruções enriquecedoras e revisão dedicada deste trabalho;

Ao professor José Francisco de Melo Neto, da UFPB, pela presteza na disponibilização de materiais importantes para este estudo;

A Guilherme Marconi Gomes de Brito, servidor do IFPB e gestor do curso objeto da pesquisa, por disponibilizar seu tempo, relatórios e registros fotográficos indispensáveis à feitura deste trabalho;

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Ao PPGEd/UFRN, professores, servidores dos setores ligados à sua coordenação e colegas de programa, por multiplicarem seus conhecimentos, interessarem-se no trabalho que escolhi desenvolver e colaborarem na construção do que venho me tornando enquanto estudante, pesquisadora, extensionista e profissional;

Ao IFPB, pelo convênio estabelecido com a UFRN e estrutura para o andamento deste trabalho de pesquisa;

Ao PRPIPG/IFPB e ao CACC/IFPB, respectivamente nas figuras de Francilda Araújo Inácio e Keitiana de Souza Silva, pelo incentivo, apoio, esclarecimentos e puxões de orelha durante esse processo;

À PROEXC, pela pronta cessão de documentos imprescindíveis para esta análise;

Ao colega de trabalho e de pesquisa Fernando Luiz Amorim Albuquerque de Oliveira, parceiro de aventura rio a fora em busca de registros fotográficos representativos para um estudo sobre uma cultura dura, porém rica e plural;

À Associação de Pescadores e Marisqueiras do Renascer III e Colônia de Pescadores Z2, pela disponibilidade de fichas e demais informações, cuja análise foi fundamental para o desenvolvimento desta pesquisa;

À yoga, séries e demais distrações, que trataram de me manter em equilíbrio e sã – somos seres complexos, não é mesmo? – em tempos tensos de caos político e redes sociais, que mais perturbam do que entretêm;

A todos e todas que, mesmo não citados aqui, deixaram sua sementinha de contribuição para o fechamento desse ciclo.

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Vive dentro de mim uma cabocla velha de mau-olhado, acocorada ao pé do borralho, olhando pra o fogo. Benze quebranto. Bota feitiço… Ogum. Orixá. Macumba, terreiro. Ogã, pai-de-santo… Vive dentro de mim a lavadeira do Rio Vermelho, Seu cheiro gostoso d’água e sabão. Rodilha de pano. Trouxa de roupa, pedra de anil. Sua coroa verde de São Caetano.

Vive dentro de mim a mulher cozinheira. Pimenta e cebola. Quitute bem feito. Panela de barro. Taipa de lenha. Cozinha antiga toda pretinha. Bem cacheada de picumã. Pedra pontuda. Cumbuco de coco. Pisando alho-sal.

Vive dentro de mim a mulher do povo. Bem proletária. Bem linguaruda, desabusada, sem preconceitos, de casca-grossa, de chinelinha, e filharada. Vive dentro de mim a mulher roceira. – Enxerto da terra, meio casmurra. Trabalhadeira. Madrugadeira. Analfabeta. De pé no chão. Bem parideira. Bem criadeira. Seus doze filhos. Seus vinte netos. Vive dentro de mim a mulher da vida. Minha irmãzinha… tão desprezada, tão murmurada… Fingindo alegre seu triste fado. Todas as vidas dentro de mim: Na minha vida – a vida mera das obscuras.

Todas as vidas (Cora Coralina)

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ESUMO

A extensão configura-se como educação não formal e está contida em ações para além dos muros da instituição e do ensino regular. Entretanto a definição gnosiológica do termo a identifica como uma maneira autoritária quando se limita a ser apenas transmissor de conhecimento. A mesma extensão, quando adota as prerrogativas da educação popular, converte-se numa perspectiva ampliada: assume-se como metodologia que considera os saberes e conhecimentos técnicos populares, adquiridos geralmente pela educação informal, através da tradição oral de culturas familiares ou comunitárias e passadas de geração para geração. A pesca artesanal é ofício, mas também é cultura popular e tradicionalmente apreendida pelas gerações mais novas. Tendo em vista a ideia central de que a extensão é ressignificada quando tangencia o conceito de popular, esta pesquisa almeja responder em que medida um curso de extensão pode ser entendido como extensão popular e quais os resultantes objetivos e subjetivos disso. Neste intuito, o Curso pioneiro de Capacitação para Marisqueiras de Cabedelo em 2007 foi analisado. Em se tratando de uma pesquisa com abordagem qualitativa, foram aplicadas entrevistas aos sujeitos participantes, aos gestores, atores sociais e lideranças que participaram de uma forma ou de outra de seu desenvolvimento. Ainda, no âmbito qualitativo, apropriou-se dos pressupostos teóricos da história oral, no intuito de contar as trajetórias de vida da instituição ofertante e dos indivíduos atendidos pelo curso evidenciado. Durante o percurso deste estudo, identificaram-se aspectos da ação que confirmam que ela pode ser entendida como extensão popular e detectou-se que a comunidade participante passou por transformações positivas após a experiência pioneira daquele projeto.

Palavras-chave: extensão, educação popular, extensão popular, marisqueira, história oral.

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A

BSTRACT

The extension appears as non-formal education that goes beyond the walls of the institution and regular education. However, a gnosiological definition of the term identifies it as an authoritarian way when limited to a mere generator of knowledge. The same extension, when it adopts the prerogatives of popular education, converts itself in a wider perspective: it is assumed as a methodology that considers popular technical knowledge and backgroun, usually acquired through informal education, through the oral tradition of Family or Community cultures passed on over generations. Artisanal fishing is a profession, but it is also a popular culture and it is traditionally learnet by the new generations. Considering the core idea that the extension is redesigned when the idea concept of popular, this research aims to answer to what extent an extension course can be understood as popular extension and what are the resulting objective and subjective. To this end, the pioneer Course on Qualification for shellfish collectors from Cabedelo in 2007 was analyzed. In order to achieve this, interviews were applied with the participants of that action, managers, social actors and leaders who participated the development of the course. Still, as a qualitative scope, it has considered the theoretical assumptions of oral history, with the objective of telling the life trajectories of the instution offering and also the individuals attended by the given course. Throughout this study, it has been identified aspects aspects of the action that confirms that it can be understood as popular extension and that the participating community suffered positive changes after the pioneer experience of that project.

Key words: extension, popular education, popular extension, shellfish collector, oral history.

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ESUMEN

La extensión se configura como una educación no formal en acciones más allá de los muros de la institución y de la enseñanza regular. Sin embargo, una definición gnosiológica del término de identificación como una manera autoritaria cuando se limita a ser sólo transmisor de conocimiento. La misma extensión, cuando adopta las prerrogativas de la educación popular, se convierte en una perspectiva ampliada: se asume como la metodología que considera los saberes y la técnica. Los derechos populares, adquiridos por la educación informal, a través de la historia oral de culturas y comunidades y pasadas de generación a generación. La pesca artesanal es oficio, pero también es una cultura popular y tradicionalmente creada por las nuevas y más jóvenes. Dada la idea central de que la extensión se vuelve a significar cuando es tangente al concepto de popular, esta investigación apunta a responder en qué medida un curso de extensión se puede entender como extensión popular y cuáles son el objetivo y el subjetivo resultantes. Con este fin, se analizó el Curso de Capacitación pionero para Mariscos Mariscos Cabedelo en 2007. Como una investigación con enfoque cualitativo, las entrevistas se aplicaron a los sujetos participantes, gerentes, actores sociales y líderes que participaron de una u otra forma en su desarrollo. Aún así, en el ámbito cualitativo, se apropió de las presuposiciones teóricas de la historia oral, para contar las trayectorias de vida de la institución que ofrece y de los individuos asistidos por el curso evidenciado. Durante el curso de este estudio, se identificaron aspectos de la acción que confirman que se puede entender como una extensión popular y se encontró que la comunidad participante experimentó cambios positivos después de la experiencia pionera de ese proyecto.

Palabras clave: extensión, educación popular, extensión popular, marisqueira, historia oral.

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ISTA DE

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OTOGRAFIAS

FOTOGRAFIA 1 – PRÉDIO CEDIDO PELA PREFEITURA DE CABEDELO, ONDE FUNCIONOU O CFPNM E,

ATUALMENTE, O CACC. ... 102

FOTOGRAFIA 2 –TURMA A DO CURSO DE CAPACITAÇÃO PARA MARISQUEIRAS DE 2007 ... 106

FOTOGRAFIA 3 – TURMA D, MÓDULO EDUCAÇÃO AMBIENTAL ... 112

FOTOGRAFIA 4 – MÓDULO CULINÁRIA ... 113

FOTOGRAFIA 5 - TURMA B, APRESENTAÇÃO DE TRABALHOS ... 114

FOTOGRAFIA 6 – APRESENTAÇÃO DE TRABALHO CONSTRUÍDO COLETIVAMENTE PELOS ESTUDANTES ... 115

FOTOGRAFIA 7 - MOMENTO DE TRABALHO COLETIVO PARA CONSTRUÇÃO DO CONHECIMENTO ... 116

FOTOGRAFIA 8 - TURMA B, A DE MAIOR PARTICIPAÇÃO MASCULINA ... 118

FOTOGRAFIA 9 – MARISQUEIRA RECEBENDO A CERTIFICAÇÃO DE PARTICIPAÇÃO E CONCLUSÃO DO CURSO EM ATO SOLENE, COM PRESENÇA DE AUTORIDADES ... 126

FOTOGRAFIA 10 – VISITA DE REPRESENTANTES DA SEAP/PR, MEC E AGÊNCIA ESPANHOLA ... 127

FOTOGRAFIA 11 – MOMENTO DE FALA DAS DISCENTES AOS REPRESENTANTES DA SEAP/PR, MEC E AGÊNCIA ESPANHOLA SOBRE A RELEVÂNCIA DO CURSO ... 128

FOTOGRAFIA 12 – MOMENTO DE FALA DAS DISCENTES AOS REPRESENTANTES DA SEAP/PR, MEC E AGÊNCIA ESPANHOLA SOBRE A RELEVÂNCIA DO CURSO ... 129

FOTOGRAFIA 13 – MOMENTOS DE INTEGRAÇÃO EM CONFRATERNIZAÇÕES E FESTAS DE ANIVERSÁRIO ORGANIZADOS PELOS PRÓPRIOS PARTICIPANTES ... 130

FOTOGRAFIA 14 - MOMENTOS DE INTEGRAÇÃO EM CONFRATERNIZAÇÕES E FESTAS DE ANIVERSÁRIO ORGANIZADOS PELOS PRÓPRIOS PARTICIPANTES ... 131

FOTOGRAFIA 15 – AULA EM PARCERIA COM A INCUBES/UFPB ... 134

FOTOGRAFIA 16 – SIMULAÇÃO DE ASSEMBLEIA NA AULA EM PARCERIA COM A INCUBES/UFPB... 135

FOTOGRAFIA 17 - AULA EM PARCERIA COM A INCUBES/UFPB DE GESTÃO DE ASSOCIATIVISMO E COOPERATIVISMO... 136

FOTOGRAFIA 18 – PRIMEIRA SEDE DA ASSOCIAÇÃO ... 137

FOTOGRAFIA 19 – RIO, MANGUE E TRANSPORTE PARA PESCA DO MARISCO ... 144

FOTOGRAFIA 20 – AMBIENTE DA ATIVIDADE MARISQUEIRA EM CABEDELO ... 145

FOTOGRAFIA 21 – ASSOREAMENTO DOS ESPAÇOS PARA ATIVIDADES COM MARISCO EM CABEDELO . 146 FOTOGRAFIA 22 – RESÍDUOS DO MARISCO QUE ATERRAM A ENCOSTA DOS RIOS EM CABEDELO. ... 147

FOTOGRAFIA 23 – SITUAÇÃO AMBIENTAL DO RIO ... 148

FOTOGRAFIA 24 – SITUAÇÃO AMBIENTAL DO RIO ... 149

FOTOGRAFIA 25 – VISTA DO MONTE DE CASCALHO ... 166

FOTOGRAFIA 26 – MARISQUEIRO E A FORÇA PARA RETIRAR AREIA AO MÁXIMO E DIMINUIR O PESO 167 FOTOGRAFIA 27 – A FORÇA PARA MANEJAR O JERERÊ ... 168

FOTOGRAFIA 28 – PAUSA NA CATAÇÃO COM GANDÃE E UMA DEMONSTRAÇÃO DE ALEGRIA ... 169

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FOTOGRAFIA 30 – IMPROVISO PARA PROTEÇÃO CONTRA O SOL ... 171

FOTOGRAFIA 31 – CATAÇÃO DO MARISCO DENTRO D’ÁGUA ... 172

FOTOGRAFIA 32 – FORÇA MASCULINA DA MARISCAGEM ... 173

FOTOGRAFIA 33 – HOMENS MARISQUEIROS ... 174

FOTOGRAFIA 34 – O HOMEM E A DESCONTRAÇÃO LEVANDO O JERERÊ PARA PASSEAR ... 175

FOTOGRAFIA 35 – FORÇA DE TRABALHO FEMININA NA MARISCAGEM ... 176

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ISTA DE

G

RÁFICOS

GRÁFICO 1 – PROPORÇÃO DA COMPOSIÇÃO DAS TURMAS E NO CONJUNTO DAS QUATRO TURMAS POR

SEXO ... 118

GRÁFICO 2 – COMPOSIÇÃO DAS TURMAS POR FAIXA ETÁRIA ... 120

GRÁFICO 3 – COMPOSIÇÃO DAS TURMAS POR TRABALHADORAS(ES) DA MARISCAGEM ... 121

GRÁFICO 4 – DISTRIBUIÇÃO DE ESCOLARIDADE NAS TURMAS E NO CONJUNTO DELAS ... 124

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ISTA DE

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ABELAS

TABELA 1 – COMPOSIÇÃO DAS TURMAS E NO CONJUNTO DAS QUATRO TURMAS POR SEXO ... 117 TABELA 2 – DISTRIBUIÇÃO DAS(OS) ALUNAS(OS) POR FAIXA ETÁRIA POR TURMA E NO CONJUNTO DAS

QUATRO TURMAS ... 119 TABELA 3 – COMPOSIÇÃO DAS TURMAS POR TRABALHADORAS(ES) DA MARISCAGEM ... 120 TABELA 4 – COMPOSIÇÃO DAS TURMAS POR ESCOLARIDADE ... 123

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ISTA DE

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UADROS

QUADRO 1 - RECORTE DOS COMPONENTES DA AVALIAÇÃO DA EXTENSÃO UNIVERSITÁRIA ... 53

QUADRO 2 – CONCEPÇÕES SOBRE POPULAR ... 81

QUADRO 3 – EQUIPE GESTORA, DE PROFESSORES MINISTRANTES E ESTAGIÁRIOS ... 108

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ISTA DE

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IGLAS E

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CRÔNIMOS

ANEPOP – Articulação Nacional de Extensão Popular CAAq – Curso de Adaptação para Aquaviários

CACC – Campus Avançado Cabedelo Centro

CEFETPB – Centro Federal de Educação Tecnológica da Paraíba CFAq – Curso de Formação de Aquaviários

CFPNM – Centro de Formação em Pesca e Navegação Marítima CODAE – Coordenação de Atividades de Extensão

CONIF – Conselho Nacional dos Institutos Federais CPC – Centro popular de Cultura

CRPNM - Centro de Referência em Pesca e Navegação Marítima

CRUTAC – Centros Rurais Universitários de Treinamento e Ação Comunitária DAU – Departamento de Assuntos Universitários

DEAC – Diretoria de Extensão e Assuntos Comunitários DPC – Diretoria de Portos e Costas

EPM – Ensino Profissional Marítimo

ETFPB – Escola Técnica Federal da Paraíba FIC – Formação Inicial e Continuada

FIC – Formação Inicial e Continuada

FORPROEX – Fórum de Pró-Reitores de Extensão das Universidades Públicas Brasileiras

IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística IES – Instituição de Ensino Superior

IFPB – Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia da Paraíba IFs – Institutos Federais

INCUBES – Incubadora de Empreendimentos Solidários Popular LDB – Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional

LER - Lesão por Esforço Repetitivo MAC – Marinheiro Auxiliar de Convés MAM – Marinheiro Auxiliar de Máquinas MCP – Movimento de Cultura Popular MEB – Movimento de Educação de Base MEC – Ministério da Educação e Cultura

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MPA – Ministério da Pesca e Aquicultura MST – Movimento dos Sem Terra

NUPA - Núcleos de Pesquisa Aplicada à Pesca e à Aquicultura PDI – Plano de Desenvolvimento Institucional

PEP – Pescador Especializado em Pesca PIB – Produto Interno Bruto

PNE – Plano Nacional de Extensão POP – Pescador Profissional

PRAC – Pró-Reitoria de Extensão e Assuntos Comunitários PROEXT – Programa de Fomento à Extensão Universitária RFEPCT - Rede Federal de Educação, Ciência e Tecnologia SEAP – Secretaria Especial da Aquicultura e da Pesca SEAP/PB - Secretaria de Administração Pública da Paraíba

SETEC/MEC - Secretaria de Educação Profissional e Tecnológica do MEC SUAP – Sistema Unificado de Administração Pública

UFRN – Universidade Federal do Rio Grande do Norte UFRPE – Universidade Federal Rural de Pernambuco UNE – União Nacional dos Estudantes

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UMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ______________________________________________________________________________________ 18 2 TRAJETÓRIA METODOLÓGICA DO ESTUDO __________________________________________________ 25 2.1 ESTADO DA ARTE __________________________________________________________________________________ 25 2.2 DESENHO EMPÍRICO-METODOLÓGICO ______________________________________________________________ 28 3 CONCEPÇÕES, PERSPECTIVA HISTÓRICA E PANORAMA INSTITUCIONAL SOBRE A

EXTENSÃO _____________________________________________________________________________________________ 36 3.1 ELEMENTOS HISTÓRICOS DA EXTENSÃO UNIVERSITÁRIA ___________________________________________ 37 3.2 ELEMENTOS NORMATIVOS DO EXTENSIONISMO ____________________________________________________ 50 3.3 O IFPB E A EXTENSÃO _____________________________________________________________________________ 55 4 EXTENSÃO POPULAR: A EDUCAÇÃO POPULAR COMO FATOR DE RESSIGNIFICAÇÃO DA EXTENSÃO _____________________________________________________________________________________________ 64 4.1 DO “ESTENDER À” AO “ESTENDER COM”: PROBLEMATIZANDO E REDESENHANDO A EXTENSÃO ____ 65 4.1.1 PRIMEIROS PASSOS DA EDUCAÇÃO POPULAR ____________________________________________________ 65 4.1.2 O PENSAMENTO FREIREANO E A PROBLEMATIZAÇÃO DA EXTENSÃO _____________________________ 70 4.1.3 A EXTENSÃO POPULAR __________________________________________________________________________ 79 4.2 REFLEXÕES SOBRE EMPODERAMENTO, LIBERTAÇÃO E EMANCIPAÇÃO ______________________________ 82 5 EXTRAMUROS: O CACC COMO AGENTE (TRANS)FORMADOR DA POPULAÇÃO

MARISQUEIRA DE CABEDELO _______________________________________________________________________ 97 5.1 CACC: UMA HISTÓRIA DE SUPERAÇÃO NAVEGADA DO MAR AO MANGUE ____________________________ 99 5.2 A PROPOSTA DE FORMAÇÃO PARA A POPULAÇÃO MARISQUEIRA EM CABEDELO ___________________ 106 5.3 ASSOCIATIVISMO E COOPERATIVISMO: PARCERIA COM A INCUBES/UFPB ______________________ 133 6 (DES)NORTES: UMA REFLEXÃO SOBRE OS POVOS DAS ÁGUAS E A EXTENSÃO

RESSIGNIFICADA RUMO À LIBERTAÇÃO DOS SUJEITOS _______________________________________ 141 6.1 ARTE E OFÍCIO DOS SABERES TRADICIONAIS FORJADOS NO MAR E NA MARÉ _______________________ 142 6.2 HISTÓRIAS DO MANGUEZAL _______________________________________________________________________ 150 6.2.1 NA FORÇA DO MARISCO: DOAÇÃO, REPRESENTATIVIDADE E LIDERANÇA ________________________ 156 6.2.2 ANCESTRALIDADE: O SABER PARTILHADO PELA TRADIÇÃO ORAL_______________________________ 161 6.2.3 NÃO SE CAPTA O IMPONDERÁVEL: VISITA ÀS CROAS DO RIO PARAÍBA __________________________ 164 6.3 A EXPERIÊNCIA DO CURSO E SEUS DESDOBRAMENTOS _____________________________________________ 179 CONSIDERAÇÕES FINAIS ____________________________________________________________________________ 187 REFERÊNCIAS ________________________________________________________________________________________ 193 ANEXO I – PARECER DO CEP ________________________________________________________________________ 203 APÊNDICE I – TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO – TCLE ________________ 205 APÊNDICE II – ROTEIRO DAS ENTREVISTAS _____________________________________________________ 209

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1 I

NTRODUÇÃO

Abraçada por mar e mangues, Cabedelo abriga uma biodiversidade animal que, através da pesca artesanal, se tornou fonte de subsistência para parte de sua população. Condições precárias, muitas vezes percebidas no desempenho de suas atividades, decorrem usualmente da falta de interesse público e político, bem como de projetos de capacitação aos trabalhadores do mar. Historicamente, não houve uma educação dedicada aos pescadores, o que existiu foram iniciativas que não se efetivaram a médio e longo prazo. O ensino escolarizado, ou educação formal, pode atender às novas gerações de pescadores e pescadoras, mas torna-se pouco eficiente àqueles que já laboram nesta atividade, com mais idade e pouca formação. Esses só conseguem ser alcançados efetivamente por políticas educativas que extrapolem os muros da escola: a educação não-formal.

Em entrevista1 à Fernanda Torres para o programa “Minha Estupidez”, gravado

em 2008, o escritor João Ubaldo Júnior discorre sobre o sentido real da ignorância ao descorrelacioná-la daquele indivíduo que não detém o conhecimento formal das coisas. No seu entendimento, pessoas que não sabem ler, por exemplo, muitas vezes manipulam uma série de conhecimentos que a outros não é possível por falta do saber acumulado. Quando o saber popular não é considerado, a educação é meramente instrutiva e convencional.

O conceito de popular não está limitado à origem de algo ou ao quantitativo de indivíduos atendidos. Apesar de variados entendimentos sobre o termo, será admitida a perspectiva de popular quando sua ação acontece na dimensão das bases populares, pautada em princípios éticos, de respeito à individualidade do outro, de trabalho e democratização social e de combate à manutenção e ao fortalecimento de mecanismos de exclusão. A extensão popular, essencialmente, é a extensão feita com e para a comunidade, com um viés transformador, atendendo às suas demandas e aproximando os sujeitos do que é alçado pela educação popular (MELO NETO, 2006).

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As ações de extensão podem desempenhar esse papel: elas comunicam escola e comunidade a partir das demandas e subjetividades de cada lugar. Há muito, elas se distanciam do paternalismo, assistencialismo ou clientelismo, ou de mero transmissor de conhecimento às comunidades. Outrossim, tangenciam o popular e se desenham mais próximas da comunicação e da dialogicidade, conceitos apresentados por Paulo Freire.

Pensando nesses e noutros conceitos, vale definir alguns termos estruturantes encontrados na literatura investigada, no intuito de evitar ambiguidades quanto às citações e significados apreendidos por este trabalho. Uma espécie de glossário acerca de palavras ou expressões, que podem ser ou parecer sinônimas ou semelhantes, mas que possuem especificidades que não devem ser confundidas, é apresentado abaixo:

 Autonomia2: soberania; ato ou direito de tomar decisões livremente dentro de

uma estrutura social com um poder central; seu sentido pleno é alcançado quando esta advém de um movimento coletivo (BARRETO, 2014).

 Libertação: libertar-se de situação de opressão, de miséria, ignorância, abandono, egoísmo, ou qualquer outra situação limitante, aprisionadora (FREIRE, 1979); apenas alcançável através da práxis cotidiana em sua busca.  Emancipação3: movimento concreto de libertação, de alforria; abandono de

tutela; construção concreta, a efetivação da libertação, efeito da libertação da população (ADAMS, 2014).

 Educação libertadora: educação fundamentada no conceito de libertação, com vista à conscientização crítica a serviço da transformação social.

 Empoderamento4: tomada de consciência de direitos individuais para que haja

a consciência coletiva objetivando a emancipação e libertação, superação de dependência e dominação social e política; atribuir poder para promover a

2 Fonte: http://michaelis.uol.com.br/busca?id=EMnj. Acesso em: 26 nov. 2018. 3 Fonte: http://michaelis.uol.com.br/busca?id=daYw. Acesso em: 26 no. 2018 4 Fontes: https://www.significados.com.br/empoderamento/ e

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equidade; poder de transformação da realidade para a libertação e emancipação humana (BARRETO, 2014).

Diante desses entendimentos, o caminho trilhado pela extensão a torna ferramenta potencialmente empoderadora, libertadora e emancipadora. Barreto (2014) entende que o empoderamento, quando tem seu sentido ampliado, torna-se equivalente ao conceito de libertação – termo extenuantemente discutido por Paulo Freire –, interconectando os conceitos supramencionados.

Partindo desse panorama, as subjetividades e relevâncias que podem estar contidas na educação não formal surpreenderam a atuação laboral da autora. Foram cerca de vinte anos vivendo a dinâmica do ensino formal enquanto estudante: quinze anos no ensino básico, entre escolas particulares e públicas, três anos na graduação em Tecnologia em Sistemas de Telecomunicações no Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia da Paraíba (IFPB) e dois anos no mestrado em Engenharia Elétrica na Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN).

Ao sair do espaço acadêmico, da posição de “aprendente”, e passando a atuar como docente de disciplinas de informática na mesma instituição que lhe abriu as portas do profissionalismo na vida adulta – o IFPB –,deparou-se com uma estrutura plural. Seu campus de lotação, o Campus Avançado Cabedelo Centro (CACC), por exemplo, cumpre um papel social ímpar em Cabedelo e cidades do litoral norte da Paraíba, construindo pontes para educar pessoas de comunidades tradicionais em áreas remotas; idosos, adolescentes, homens e mulheres em situação de exclusão social; e qualquer outro ator social que se interesse pelos cursos propostos.

Os resultados obtidos a partir da execução dessas atividades são variados: de pessoas para quem não houve impacto algum até indivíduos para quem os cursos desencadearam a busca e absorção de mais conhecimento ou serviram à qualificação efetiva e eficaz para o trabalho. Os dois últimos casos tendem a ser mais expressivos e, com isso, foi impactante perceber, em situações reais, o poder transformador multidimensional que o processo educativo é capaz de impulsionar na vida das pessoas.

Doravante, as motivações para o desenvolvimento desse trabalho emergem também das potencialidades do campus e da experiência e atuação da autora como extensionista em ações como Mulheres Mil; cursos de Formação Inicial e Continuada

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(FIC) de Informática para a comunidade (jovens, homens, mulheres, idosos, pescadores e pescadoras artesanais); projeto de extensão Resilidade, voltado à promoção de inclusão social para idosos. Trabalhando com extensão, vivendo a educação no dia a dia profissional, estudando e pesquisando no intuito de apropriar-se da temática e almejando o ingresso num doutorado nessa área, houve o encontro com o livro Extensão Popular, de autoria do José Francisco de Melo Neto (2006). Essa grata surpresa gerou interesse sobre os pilares e práticas dessa modalidade.

Visto que as características institucionais do CACC criam um ambiente provocador de simbiose entre extensão e educação popular que merece ser investigada. É necessário entender como se dá, na prática, a correlação entre elas neste locus de pesquisa, se é que de fato existe.

A fim de fazer essas reflexões, um percurso teórico conceitual foi traçado para, na sequência, buscar evidências empíricas desta proposição ao investigar o universo da pesquisa – o Curso de Capacitação para Marisqueiras de Cabedelo, ofertado em 2007, para 160 (cento e sessenta) pescadores e pescadoras artesanais daquela cidade, pelo CACC/IFPB, à época Centro de Formação em Pesca e Navegação Marítima (CFPNM) e Centro Federal de Educação Tecnológica da Paraíba (CEFETPB), respectivamente.

Desse modo, a questão norteadora, o problema deste estudo, sob a qual esta pesquisa toma orientação é: em que medida a extensão pode ser entendido como extensão popular e quais os resultantes objetivos e subjetivos disso?

Diante desse questionamento, este trabalho busca subsídios dentro do contexto da educação não formal para analisar se e em que medida a extensão universitária que vem sendo desenvolvida no meio acadêmico tem se aproximado da extensão popular e se isso tem ocorrido de modo favorável aos elementos envolvidos na ação. Os subsídios encontrados nas gênesis da pesquisa e nos conceitos que estruturam extensão, educação popular e extensão popular, permitem que ascenda a hipótese de que a ação explorada no estudo de caso escolhido pode ser entendida como extensão popular.

Partindo desta explanação, o presente trabalho visa estudar o Curso de Capacitação para Marisqueiras de Cabedelo, promovido em 2007 pelo CACC, buscando relatar sua construção e os procedimentos metodológicos que

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interconectam extensão universitária e extensão popular, e de que forma isso contribuiu na formação profissional e social dos indivíduos analisados.

Destarte, o objetivo principal desmembra-se nos seguintes objetivos específicos: (1) contextualizar a extensão universitária, percebendo suas bases históricas e marcos legais, para balizar o entendimento sobre como essa modalidade de ensino foi e é constituída; (2) discutir a simbiose entre extensão e educação popular, apresentando a extensão popular como alternativa viável de otimização e ressignificação da extensão universitária; (3) investigar a atuação do CACC como extensionista e dessa atuação no grupo que compõe o universo da pesquisa; (4) identificar, a partir da experiência no curso evidenciado, se e em que medida a ação tangenciou a extensão popular e quais os resultantes dessa prática educativa aos atores envolvidos.

A pesquisa em tela justifica-se pela demanda potencial das comunidades pesqueiras por maiores e mais adequadas formas de acesso à qualificação de sua mão de obra, de maneira que isso valorize ainda mais o produto de seu trabalho. Quem sobrevive da pesca, geralmente, enfrentaria barreiras ainda mais impeditivas se buscasse o ensino formal, que, por sua vez, teria dificuldade para alcançar o conhecimento cotidiano, a necessidade de uma educação mais objetivamente voltada às lacunas laborais daquela população e a superação da carência pré-existente de uma educação básica mais sólida.

Deseja-se que esse processo investigativo culmine numa real contribuição à extensão ao mostrar o que pode promover quando ressignificada e feita para além dos muros e vínculos institucionais regulares, atingindo da concepção à execução de suas ações. Para tal, propõe-se uma análise diferenciada sobre extensão popular e suas égides, bem como um olhar valorativo e explorador sobre as pessoas que sobrevivem da pesca artesana, em especial da mariscagem. Por conseguinte, pretende-se contribuir para o aprimoramento e fortalecimento da extensão, tornando-a ctornando-adtornando-a vez mtornando-ais popultornando-ar – no sentido tornando-adottornando-ado por esse trtornando-abtornando-alho – no CACC, quiçá no IFPB como um todo, e fortalecendo-a enquanto ferramenta meio para o processo de emancipação social. Outrossim, é relevante ressaltar o papel da educação não-formal – educação promovida fora do espaço formal/escolar de ensino – e trazer à discussão

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o associativismo e cooperativismo5 como referências de empreendimentos legítimos

na organização coletiva e na prospecção de melhores aspirações laborais e sociais. Absolutamente não há pretensão de esgotar discussões e possibilidades de arranjos positivos para a mobilidade social e transformação da realidade desses indivíduos. Espera-se, contudo, contribuir com essa densa tessitura social, descortinando como e em que medida os preceitos que emergem da extensão popular, quando aplicados, podem potencializar sua autonomia e promover seu empoderamento rumo à libertação/emancipação enquanto seres coletivos. Expectativas mais íntimas corroboram o almejado por Freire (2005, p. 213):

[...] nos daremos por satisfeitos se, dos possíveis leitores deste ensaio, surgirem críticas capazes de retificar erros e equívocos, de aprofundar afirmações e de apontar o que não vimos.

Se nada ficar destas páginas, algo, pelo menos, esperamos que permaneça: nossa confiança no povo. Nossa fé nos homens e na criação de um mundo em que seja menos difícil amar.

Esta análise apropriar-se-á principalmente dos constructos filosóficos de Paulo Freire, que concede ao estudo entendimentos específicos sobre teoria e prática do fazer extensionista e da educação popular; e de Melo Neto, que oferece estudo minucioso sobre a extensão quando efetivamente popular.

Portanto, este trabalho está estruturado em seis capítulos, incluindo esta Introdução, cuja função é apresentar os principais aspectos da pesquisa, fazendo um entrelace panorâmico entre os vários tópicos que serão levados em consideração durante o percurso investigativo.

Na Trajetória metodológica do estudo, faz-se a apresentação do estado da arte daqueles estudos que se assemelham ao desenvolvido neste; do referencial metodológico escolhido, onde o tema é delimitado e situado e as contribuições protagonistas de Minayo (2013), Delgado (2006) e Bosi (1994) emergem; e, por fim, do desenho empírico-metodológico adotado – pesquisa qualitativa com entrevistas temáticas, com base na história oral sobre trajetórias de vida.

5 Fonte:

http://www.sebrae.com.br/sites/PortalSebrae/artigos/entenda-as-diferencas-entre-associacao-e-cooperativa,5973438af1c92410VgnVCM100000b272010aRCRD. Acesso em: 26 nov. 2018.

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Em Concepções, perspectiva histórica e panorama institucional sobre o extensionismo, é discutida a extensão, seus marcos legais – documentos do FORPROEX, como o Plano Nacional de Extensão Universitária, a Avaliação Nacional da Extensão Universitária e a Política Nacional de Extensão Universitária, e documentos do Governo Federal, como a Lei de Diretrizes e Bases e outras leis e decretos –, como ela se situa dentro da rede federal de ensino e, por consequência, dentro do campus locus da pesquisa.

Em Extensão Popular: A Educação Popular como fator de ressiginificação da Extensão Universitária, o problema da concepção e execução da Extensão Universitária é apresentado. Dos pressupostos essenciais da Educação Popular, nasce a proposta de uma Extensão ressignificada e essa possibilidade é delineada e discutida também nesta seção.

Em Extramuros: O CACC como agente de (trans)formação da população marisqueira de Cabedelo traz a realidade de quem vive da cata do marisco e o conjunto de elementos que compõem a natureza do curso sobre o qual a pesquisa se concentrou, caracterizando seu programa, sujeitos, processo formativo e reflexo na questão do associativismo local. Ademais, apresenta o associativismo como objeto de interesse de parcela dos participantes, tendo em vista que representa uma ferramenta meio para um crescimento coletivo autônomo.

Em (Des)Nortes: Uma reflexão sobre os povos das águas e a extensão ressignificada rumo à libertação dos sujeitos, há a vinculação das narrativas dos entrevistados sobre suas experiências de com o conhecimento tecido ao longo dos capítulos anteriores, discutindo como e em que medida houve, se houve, impacto do curso nos seus participantes, gestores, instituição e organização social envolvida.

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2 T

RAJETÓRIA METODOLÓGICA DO ESTUDO

Olhar para trás não deve ser uma forma nostálgica de querer voltar, mas um modo de melhor conhecer o que está sendo, para melhor construir o futuro. Paulo Freire

O desenho metodológico não esteve estático e foi se construindo ao longo da pesquisa, ao verificar as demandas para responder à questão norteadora e alcançar os objetivos assumidos por este estudo. Neste capítulo, serão apresentados o estado da arte sobre o tema e a base metodológica cujas ideias esse estudo se apropria para realizar a análise a que se propõe. A próxima seção explana a pesquisa documental sobre estudos com temática correlata àquela desenvolvida neste trabalho.

2.1 Estado da arte

No intuito de conhecer qual o estado atual do conhecimento sobre a investigação desenvolvida ao longo deste estudo e o que e como está sendo tratado dentro desse universo, esta seção pretende mapear sistematicamente a produção acadêmica que vem sendo desenvolvida em área igual ou parecida a deste trabalho. Para isso, apoiou-se nos termos “extensão popular” e marisqueira.

Em 21 de setembro de 2018, ao pesquisar especificamente pelo termo “extensão popular” no banco de teses e dissertações da Biblioteca Digital Brasileira6

e do portal da Capes7, foram catalogados 14 (catorze) registros de 2014 a 2015, sendo

2 (duas) teses e 12 (doze) dissertações. Destas, 4 (quatro) estão relacionados às

6 Fonte: http://bdtd.ibict.br/. Acesso em: 21 set. 2018.

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ciências jurídicas, 3 (três) relativas à saúde coletiva, 6 (seis) centralizadas na educação e 1(um) em administração.

Sobre mariscagem, no mesmo dia da pesquisa anterior e nas mesmas plataformas, foram apresentados 24 (vinte e quatro) resultados. Deles, nenhum correlacionava este universo à extensão, tampouco à popular. Dentro do escopo da educação, não se verificou nenhum estudo relacionado à mariscagem. Os trabalhos encontrados na literatura sobre extensão popular estavam voltados, geralmente, à saúde coletiva, economia solidária, direitos humanos, educação ambiental ou assessoria jurídica. Essas ações adotaram-na como metodologia para alcançar grupos sociais por ações extensionistas, muitas destas ainda em funcionamento.

Outra pesquisa foi realizada na mesma data, mas no Google Acadêmico, que indexa parte da produção científica registrada noutras plataformas. Dos 132 (cento e trinta e dois) resultados apresentados para a busca, nenhum deles desenvolveu pesquisa similar a deste estudo. Muitos dos resultados, assim como as teses e dissertações mencionadas nas buscas anteriores, estão ligados a ações relativas às questões de gênero, ao meio ambiente, promoção de saúde coletiva, assessoria jurídica e economia solidária. Alguns se destacaram por analisar aspectos interessantes para esta investigação, seja acerca do seu tema, grupo de sujeitos objeto do estudo ou pelo locus da pesquisa compor o espaço de atuação do CACC.

Em sua dissertação de mestrado, Falcão (2014) desenvolveu uma investigação sobre o caráter emancipatório de determinada atividade de extensão popular, o Programa Interdisciplinar de Ação Comunitária. Para tal, adotou a participação, organização e autonomia dos grupos atendidos como categorias de análise. Fez uso do materialismo histórico-dialético como método, entrevistas para colher os dados e a análise de discurso como ferramenta para análise dos dados obtidos. A partir da pesquisa, percebeu a intensa degradação do tecido social e fragilidade das organizações sociais. Após o desenrolar do projeto, verificou resultados que permitiram inferir que a extensão popular aplicada se prestou a construir caminhos emancipatórios, tendo como destaques o aumento no número de organizações sociais rurais e urbanas de trabalhadores autônomos, servidores públicos e cooperativas; criação e reestruturação de entidades representativas de pescadores; conscientização sobre o papel cidadão e ampliação de renda com a valorização do trabalho dos atores sociais.

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Veloso (2011) apresenta artigo acadêmico desenvolvido em Psicologia Social Comunitária através de oficinas pedagógicas balizadas nos preceitos da educação popular com crianças e marisqueiras da Barra de Mamanguape, no litoral norte da Paraíba. Como artefatos metodológicos, lançou mão da observação participante, história oral, pesquisa-ação e Teatro do Oprimido. Seu objetivo foi intervir psicossocialmente na comunidade para estimular a leitura e interpretação de textos, problematizar questões do cotidiano feminino e do coletivo, conscientizar e contribuir para a transformação da realidade social.

Dantas (2010), por sua vez, buscou conhecer e relatar as histórias de vida de mulheres ribeirinhas, as marisqueiras, através do método etnográfico, no intuito de possibilitar a compreensão e valorização da diversidade e saberes tradicionais.

Matos (2013) publicou artigo no qual descreve a condução de uma unidade curricular, compreendida como pesquisa-ação. Seu objetivo foi colaborar com a formação multidisciplinar de estudantes de programas e áreas diferentes, vinculando-os com o mundo real através da vivência e articulação de processvinculando-os socioeducativvinculando-os para produção de conhecimento e reflexão sobre o significado de práticas e saberes culturais. Para analisar os relatos, fez uso da Análise de discurso. A ação priorizou a perspectiva de gênero de trabalhadoras da pesca artesanal. Dentre as abordagens, foram realizadas oficinas para ensinar as mulheres a falar em público, escrever o próprio nome e realizar orçamento familiar.

Este estudo desenvolveu uma investigação histórica, através de pesquisa documental e trajetória de vida sobre uma ação extensionista passada, no intuito de verificar se e em quais aspectos ela pode ser considerada como extensão popular e quais os resultantes disso para os sujeitos envolvidos: a população marisqueira. Após análise das buscas realizadas na temática deste estudo, afirma-se que não foi verificado trabalho equivalente a esta investigação, o que confere grau de ineditismo necessário para a pesquisa. Além disso, destaca-se como elemento original sua metodologia, construída ao longo do estudo de forma autônoma, não somente absorvida integralmente de outro trabalho.

A próxima seção apresenta o detalhamento acerca dos procedimentos metodológicos adotados para desenvolver a pesquisa em tela e de como e o porquê dessas escolhas.

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2.2 Desenho empírico-metodológico

Para alcançar os objetivos específicos elencados no capítulo anterior, a trajetória metodológica adotada baliza-se no que disse Silva (2006, p. 15): “o importante é desenvolver com rigor um método em harmonia com os princípios considerados como os mais adequados”. Dessa forma, para evitar se tornar uma colcha de retalhos, sem conexão entre elas, foram escolhidas técnicas que, juntas, formam uma metodologia personalizada e autônoma, porém com coesão e coerência preservadas.

Numa investigação social, o objeto de estudo é histórico e possui consciência histórica, visto que cada sociedade que convive e se organiza dentro de um determinado espaço constrói e dá significado à sua formação social e cultural, a partir do qual projetam seu futuro. Minayo (2013) explicita como prerrogativas desse tipo de pesquisa a imbricação entre investigador e sujeito da pesquisa e a relação ideológica do investigador com a ciência.

A pesquisa qualitativa representa as relações humanas, suas representações e intencionalidades. Minayo (2013, p. 21) a define como sendo aquela que “trabalha com o universo dos significados, dos motivos, das aspirações, das crenças, dos valores e das atitudes”. Ratificando, Richardson et al (2008) diz que ela “pode ser caracterizada como a tentativa de uma compreensão detalhada dos significados e características situacionais” (p. 90). Diz, ainda, que ela difere da pesquisa quantitativa “à medida que não [necessariamente] emprega um instrumental estatístico” e não “pretende numerar ou medir unidades” (p. 79).

Apesar de realizar uma quantificação para caracterizar o público atendido pelo curso, é necessário entender que essa pesquisa não deve ser rotulada como uma pesquisa qualitativa-quantitativa ou apenas quantitativa, pois usa os dados numéricos apenas como artifício complementar na busca por compreender a realidade, a ideia por trás desse grupo de dados numéricos e dados não numéricos. Costa (2014, p. 18 apud Costa, 2014, p. 38) corrobora esse entendimento ao dizer que:

a abordagem quantitativa possui vários requisitos (amostra representativa, hipótese a ser testada, um controle rigoroso de variáveis, entre outros). A abordagem qualitativa busca significados, não exige representatividade amostral, trabalha com pressupostos.

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O objeto ao qual se pretende analisar e buscar significação tem sua construção nascida da característica do CACC/IFPB em atuar junto a comunidades tradicionais de Cabedelo e do contato da autora com esse público através de atividades de extensão. Reconhece-se, portanto, que o objeto e a execução da pesquisa privilegiam uma abordagem qualitativa, explicada por Richardson et al (2008, p. 79) como “uma forma adequada para entender a natureza de um fenômeno social”, e que, segundo Minayo (2013, p. 21), possui “um nível de realidade que não pode ou não deveria ser quantificado”.

O CACC surge como uma ferramenta meio para oferta de uma educação de qualidade a comunidades tradicionais do litoral norte da Paraíba. Não limitada a essa vertente, possui também ações em parceria com a Capitania dos Portos da Paraíba e Colônias e Associações de pescadores e marisqueiras em todo o estado.

Construir laços com comunidades tradicionais chega a ser involuntário, já que o contato é perene. Nesse contexto, debruçar-se sobre uma pesquisa na qual os sujeitos fizessem parte de uma das comunidades tradicionais da região atendida pelo campus surgiu como uma opção potencialmente contributiva à instituição. Assim sendo, uma dúvida era “sobre quem voltar os olhos”, tendo em vista que são diversas essas comunidades atendidas pelo locus da pesquisa, que formam um universo amplo e de incomensuráveis possibilidades.

Como foi dito, o campus é pioneiro no trabalho com comunidades tradicionais do litoral norte da Paraíba. Dentre os vários cursos ofertados em parceria entre o CACC, Associações e Colônias de pescadores e marisqueiras, parte está vinculada ao Ensino Profissional Marítimo (EPM). Na construção do objeto de estudo, a partir da avaliação e reavaliação do problema, e sem fugir do município onde o campus está localizado e das comunidades com as quais trabalha, o recorte epistemológico foi delimitado na extensão para a população marisqueira de Cabedelo.

Mas por que marisqueiras e não pescadores se esses são também atendidos e têm quantitativamente mais pessoas e atividades voltadas a eles? A resposta está no fato de que os cursos para pescadores são ofertados, em sua maioria, pelo EPM, num contexto de certificação e regularização de suas atividades junto à Marinha do Brasil. Nesse contexto, não são percebidos liames com a educação e/ou extensão popular. Além disso, desenvolver uma pesquisa com pescadores geraria alguns imbróglios inversos à facilidade em fazer o mesmo com as marisqueiras: a

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acessibilidade. Eles passam períodos oscilatórios no mar, são mais fluidos, sendo o acesso a eles mais restrito.

Diferente da proposta de ensino do campus em relação a outras atividades extensionistas, há um distanciamento do interesse meramente profissionalizante para o grupo escolhido. Entende-se que a proposição dos cursos para as marisqueiras levou em consideração peculiaridades laborais (calendário da maré, por exemplo) daquela comunidade e suas demandas, além de ter contado com a participação dos indivíduos não apenas como recebedores de conteúdo, mas como demandantes e propositores, e os saberes e experiências que já possuíam foram considerados.

Preliminarmente, pensou-se num universo da pesquisa amplo, tentando alcançar a totalidade de marisqueiros e marisqueiras do município de Cabedelo. Devido à dimensão, esse grande grupo seria impraticável: inviabilizaria a aplicação dos instrumentos de apuração dos dados e seria ineficaz para responder ao problema da pesquisa. Após redefinição, o universo foi estratificado para somente participantes de cursos de extensão no CACC. Contudo, na busca por conhecer a essência das ações extensionistas no locus da pesquisa, essa investigação foi redefinida. Deparou-se, então, com o curso pioneiro, ofertado em 2007, cujo intuito era de capacitar a população marisqueira de Cabedelo.

Doravante, esse estudo possui como universo os sujeitos que participaram das quatro turmas do Curso de Capacitação de Marisqueiras oferecido pelo CACC, àquela época CFPNM, cuja história será contada no decorrer deste trabalho. Fizeram parte do corpo de entrevistados gestores, educadores, educandos, lideranças da Associação de Pescadores e Marisqueiras do Renascer III, entre outros atores sociais. O percurso da pesquisa demandou um ajuste de metodologia neste momento. Percebeu-se que uma de suas contribuições seria a representação da história do campus e da sua atuação junto à população marisqueira de Cabedelo. Portanto, através da reconstrução oral e a partir do relato dos indivíduos, para além de respostas pontuais mediante questões objetivas, essa história também foi capturada.

Para entender os aspectos necessários na busca por responder à questão norteadora desta pesquisa, foi imprescindível dar voz e visibilidade à população marisqueira. Isso só seria possível reativando suas lembranças e, por conseguinte, sua memória, e ouvindo seus testemunhos. Só a partir daí foi possível construir a história baseada na própria narrativa dos sujeitos, não apenas sobre o contexto

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educativo e correlacionado à instituição, mas também sobre adversidades e conquistas que circundam o desempenho de seu trabalho, realidades fora do espaço laboral e anseios e vislumbres para tempos vindouros.

Apesar de tantos outros autores terem pesquisado e apresentado estudos relevantes sobre o mesmo assunto (HALBWACHS, 1990; LE GOFF, 1990; NORA, 1993) e sem outra razão específica, apenas usando da prerrogativa da autonomia metodológica, este estudo focará nas contribuições de Bosi (1994) e Delgado (2006) sobre memória e História.

Bosi (1994) baseia em Halbwachs seu entendimento de que a conservação e a reconstrução do passado têm a memória como seu princípio central, o qual “sobrevive, quer chamado pelo presente sob as formas de lembrança, quer em si mesmo, em estado inconsciente” (p. 53). De Bergson, destaca especialmente a busca por “entender as relações entre a conservação do passado e a sua articulação com o presente, a confluência de memória e percepção” (p. 49).

A memória é uma atualização ou renovação no presente do que foi interpretado a partir de processos ocorridos no passado. É nela que as identidades individuais e coletivas se baseiam. Apesar dos acontecimentos serem imutáveis, as análises sobre um mesmo fato variam entre sujeitos e testemunhas, pois a cognição de cada um sofre influências imponderáveis e distintas entre si (DELGADO, 2006).

Além disso, a memória (percepção e lembrança) é decisiva no processo que permite a relação do presente com o passado, contribuindo nas representações atuais pelos indivíduos. “Pela memória, o passado não só vem à tona das águas presentes, misturando-se com as percepções imediatas, como também empurra, “desloca” estas últimas, ocupando o espaço todo da consciência” (BOSI, 1994, p. 47).

A captação de testemunhos orais, que emergem a partir da memória, é um dos caminhos para a produção de conhecimento histórico e está dentre um dos possíveis procedimentos do método qualitativo. A reconstrução do passado depende de múltiplas variáveis e traduz visões particulares, individuais e singulares de cada depoente acerca de processos coletivos. O diálogo entre entrevistador e entrevistado é dinâmico e a vinculação do presente com o passado pode ser estimulada (DELGADO, 2006).

É comum, por exemplo, que, durante as entrevistas, os depoentes lembrem de artefatos (documentos, recortes de jornal, fotos etc.) que remetem ao fato que está sendo verbalizado (DELGADO, 2006). Exemplo disso está no acesso a certificado,

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bijouterias, matérias de jornais, DVD, apostila trazidos pelos entrevistados e entrevistadas durante os diálogos.

A metodologia que envolve o registro dos testemunhos é extremamente rica. É possível, entre outras potencialidades, encontrar novas hipóteses sobre o assunto pesquisado, “recuperar memórias locais, comunitárias, regionais, [...], entre outras, sob diferentes óticas e versões” (DELGADO, 2006, p. 19) e apreciar visões de anônimos, depoentes não considerados pela história oficial.

A memória, produto das narrativas – ato de contar, seja por registro oral ou escrito –, se tornou elemento fundamental para reconstituir a época e os eventos do Curso de Capacitação e da origem do que hoje é o CACC. Apesar dos documentos acessados (portarias, registros do curso, relatórios de gestão), sua história não conseguiria ser melhor contada se não pela narrativa detalhada dos sujeitos que participaram daquele processo. Noutro momento, quando a história dos participantes do curso é contada pelos próprios atores, os relatos servem como testemunho e elemento primordial de suas trajetórias de vida (DELGADO, 2006).

A história oral monta uma colcha de retalhos a partir de fragmentos do passado, nos quais pedaços diferentes se complementam para formar um todo. Seu grande desafio, segundo Delgado (2006, p. 31), é:

contribuir para que as lembranças continuem vivas e atualizadas, não se transformando em exaltação ou crítica pura e simples do que passou, mas sim, [...] em procura permanente de escombros, que possam contribuir para estimular e reativar o diálogo do presente com o passado.

Essas falas são “as vozes da memória que adquirem pela costura dos fragmentos das lembranças dimensão do tecido social e de identidades coletivas” (DELGADO, 2006, p. 46). A representação da memória pode se manifestar de maneira voluntária ou involuntária, induzida ou espontânea. Independente de que forma desponte, é responsável por evitar esquecimento e registrar visões plurais sobre o passado, até mesmo por balizar a construção de identidades individuais e coletivas.

Verifica-se a relação fértil entre memória e História como mantenedora da história social. A primeira existe sem a segunda, porém corre o grande risco de cair no esquecimento que o tempo inexoravelmente impõe. A segunda, por sua vez, só

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existe doravante o reordenar do passado a partir das memórias dos sujeitos. Para Delgado (2006, p. 49), a História é:

uma produção intelectual e científica do saber, que disciplina a memória, tira-lhe a espontaneidade, mas simultaneamente enriquece as representações possíveis da própria memória coletiva. Na verdade, a História não só disciplina e enquadra a memória, como supõe análise, interpretação e suporte teórico.

Os sujeitos se autorreconhecem a partir da história que emerge deles. “São as recordações – em suas dimensões mais profundas – que conformam as heranças e acumulam tradições, experiências e detritos” (DELGADO, 2006, p. 39). O pertencimento ou não pertencimento dos sujeitos se dá a partir de sua identificação ou não com grupos, países, instituições mediante semelhanças ou diferenças. Isso só é possível a partir da rememoração ou do acesso à memória de outrem.

Podem ser identificadas entrevistas de história de vida – mais longas, contam a trajetória de vida do indivíduo –; de trajetórias de vida – mais curtas, contam a história de vida de forma mais sucinta quando não há disponibilidade de muito tempo do entrevistado –; e temáticas – refere-se a temas específicos, experienciados ou apenas testemunhados pelos sujeitos. Elas não são excludentes: a última pode ser um desdobramento da primeira ou da segunda, por exemplo (DELGADO, 2006).

Durante essa investigação, será analisado como as ações de extensão do CACC/IFPB refletiram na realidade de um grupo específico, articulando aspectos encontrados numa investigação bibliográfica, documental e estudo de caso. Portanto, optou-se por uma investigação qualitativa, com abordagem metodológica norteada pela história oral como técnica para registro e análise das informações obtidas nas entrevistas, individuais e em grupos. Isso permitiu uma aproximação do que surge das vozes da memória daqueles indivíduos.

O acesso aos registros documentais foi articulado com a Pró-Reitoria de Extensão e Cultura (PROEXC) e a Coordenação de Extensão do campus. O levantamento bibliográfico se deu ao longo do processo investigativo através de livros, artigos científicos, teses, monografias e demais elementos que se apresentaram como relevantes à construção argumentativa. O levantamento de dados de campo ocorreu pelas entrevistas aplicadas no ambiente das marisqueiras, na Associação e no CACC. Fora preparados roteiros temáticos e semiestruturados para as entrevistas, combinando questões abertas e fechadas, que permitam que os sujeitos discorram

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sobre o que pensam acerca dos temas ou questões apresentadas. As respostas às perguntas abertas tendem a ser mais subjetivas e, apesar de possuírem roteiro e tópicos selecionados, sua formulação é flexível e os detalhes ficam contidos no discurso do entrevistado (ROSA, 2008; MINAYO, 2013).

No intuito de humanizar as entrevistas, procurou-se fugir de um escopo formalista de perguntas e respostas, tecendo uma espécie de artesanato intelectual por parte do pesquisador, o que é apropriado para o objeto escolhido para essa investigação (SILVA, 2006). Essa preocupação veio desde a preparação dos roteiros das entrevistas. Atentou-se, especialmente, à flexibilidade e adequação ao vocabulário dos entrevistados para que não limitasse sua narrativa, funcionando apenas como mapa para norteá-las. Os diálogos tiveram áudios e imagens registrados, conforme autorização por escrito dos participantes. As entrevistas com os gestores e lideranças da Associação foram repetidas, pelo menos, mais uma vez. A transcrição das partes mais relevantes das narrativas foi feita pela autora após escuta e “reescuta” atenta das gravações (DELGADO, 2006).

Para garantir a viabilidade do levantamento dos dados frente à diversidade apresentada pelo universo escolhido para a pesquisa, a aplicação dos instrumentos dos quais essa investigação se apropriou foi não probabilística e por acessibilidade e tipicidade. No tocante à quantidade de indivíduos entrevistados, segundo Minayo (2013, p. 48), não deve ser aplicado o conceito de amostragem em algumas pesquisas sociais visto que essa amostra “não são os sujeitos em si, mas as suas representações, conhecimentos, práticas, comportamentos e atitudes”. Sobre a quantidade de pessoas a serem entrevistadas, entende-se que:

o que importa nesse tipo de pesquisa não é o número de entrevistas realizadas, mas a seleção de pessoas-chave, as quais, pela riqueza de seus depoimentos e informações acerca do fenômeno estudado, permitem ao pesquisador uma compreensão mais ampla do mesmo (BARRETO, 2014, p. 119).

Dentre os gestores, a escolha dos sujeitos a serem entrevistados foi definida pelo critério de tipicidade e acessibilidade: sujeitos que tiveram um papel imprescindível para o desenvolvimento do projeto, com conhecimento profundo sobre sua dinâmica e história; aqueles, dentre os mais relevantes, que estivessem

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disponíveis – tendo em vista que as atividades aconteceram a mais de uma década e alguns encontram-se aposentados ou mudaram de instituição ou de cidade. O pretendido foi, especialmente, apreender como o curso foi estruturado, qual a metodologia aplicada, a percepção acerca daquela ação, entre outros tópicos pertinentes à análise em pauta.

Para entrevistar os estudantes que participaram do curso e promover a exposição e confronto salutar de percepções, traçou-se a estratégia de, por acessibilidade, aplicar entrevistas em grupo. Ao fazer uso dessa técnica, os participantes têm a possibilidade de discorrer livremente, numa construção de troca colaborativa, não de mera apropriação de informação a partir do outro. A discussão coletiva facilita a interação dos indivíduos mais tímidos, visto que estes podem ser estimulados pelo entrevistador ou pelos outros colegas entrevistados.

A partir daí, foi possível visualizar com maior aproximação os elementos mais representativos de todo o grupo (critério de tipicidade) ou até indicados informalmente por seus pares como sendo lideranças sociais ou especialmente relevantes, aqueles personagens que trariam maior contribuição às entrevistas individuais. O interim dessa etapa possibilitou intuir, por exemplo, como as atividades de extensão os atendeu; localizar ou não, naquelas atividades, indícios de extensão popular; suas impressões acerca dessas ações; e o histórico de vivência desses sujeitos com essa ferramenta de formação.

Por fim, um dos principais artefatos para balizar e testemunhar o discurso estabelecido neste trabalho é a narrativa dos próprios participantes do curso: gestores, atores sociais e estudantes. Dar voz e visibilidade à população marisqueira de Cabedelo a partir de sua própria fala acerca do contexto educativo, adversidades e conquistas no desempenho de seu trabalho, das realidades fora do espaço laboral e dos vislumbres para tempos vindouros, por si só, justifica o uso de estudos da memória e de ferramentas para registros de história oral como arcabouço metodológico desta pesquisa, bem como o tempo dedicado a essa captura.

No próximo capítulo, as ideias norteadoras do núcleo teórico sobre a extensão e a educação popular serão discutidas, no intuito de trazer a teoria sobre ambas e balizar posterior análise acerca de suas aproximações teórico-empíricas que convergem na extensão popular.

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3 C

ONCEPÇÕES

,

PERSPECTIVA HISTÓRICA E PANORAMA INSTITUCIONAL SOBRE A

E

XTENSÃO

A grande generosidade está em lutar para que, cada vez mais, estas mãos, sejam de homens ou de povos, se estendam menos, em gestos de súplica. [...] E se vão fazendo, cada vez mais, mão humanas, que trabalhem e transformem o mundo. Paulo Freire

O cenário atual da extensão no Brasil foi desenhado no seio de lutas e ações voluntárias que emergiram de dentro do espaço universitário. Por isso, para entender o papel fundamental que a extensão tem dentro das instituições de ensino hoje em dia, faz-se necessário olhar para trás – que “não deve ser uma forma nostálgica de querer voltar, mas um modo de melhor conhecer o que está sendo, para melhor construir o futuro” (FREIRE, 2005a, p. 84) –, conhecer o processo histórico pelo qual a Extensão Universitária passou e os pilares que a sustentam.

Durante muito tempo, havia, por parte da classe dominante, o entendimento da educação como arriscada – talvez isso tenha mudado menos do que o que deveria ao longo dos tempos –, pois, se os lavradores e seus filhos soubessem ler e escrever, abandonariam seu trabalho em busca de atividades laborais para além das estritamente manuais. Afinal, para manter sob seu domínio uma sociedade, cultivá-la ignorante e miserável é um caminho auspicioso (SAVIANI, 2008).

Antes mesmo de seu conceito ser estabelecido, as ações extensionistas já existiam. Nas décadas de 1950 e 1960, movimentos culturais e políticos formavam líderes intelectuais e contava com a participação e empenho de estudantes universitários brasileiros da União Nacional dos Estudantes (UNE). Antes vista como assistencialista, a extensão adquiriu uma nova concepção com o passar dos anos. A modernidade trouxe ares de prestação de serviços, passando a ser uma importante ferramenta institucional de articulação com ensino e pesquisa e de assessoria aos movimentos sociais. Portanto, é fundamental estudá-la dentro das instituições e verificar seu caráter emancipatório conforme foi amadurecendo.

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Segundo o Fórum de Pró-Reitores de Extensão das Universidades Públicas Brasileiras (FORPROEX), a extensão é:

o processo educativo, cultural e científico que articula o Ensino e a Pesquisa de forma indissociável e viabiliza a relação transformadora entre Universidade e Sociedade. A Extensão é uma via de mão-dupla, com trânsito assegurado à comunidade acadêmica, que encontrará, na sociedade, a oportunidade de elaboração da práxis de um conhecimento acadêmico. No retorno à Universidade, docentes e discentes trarão um aprendizado que, submetido à reflexão teórica, será acrescido àquele conhecimento. (FORPROEX, 1987 apud FORPROEX, 2012, p.9)

Em diversas áreas de atuação, a extensão tem sido primordial, crescente e o espaço e relevância que essa modalidade tem alcançado são destaques institucionais. Cada vez mais popular – no sentido adotado por este estudo –, suas características e densidade lhe dão selo de modalidade que alcança os entornos da instituição e que reduz estratificações quanto ao público atendido. A próxima seção apresenta o desenvolvimento histórico da extensão no Brasil.

3.1 Elementos históricos da extensão universitária

As Universidades têm papel fundamental na preservação do conhecimento já existente e na construção do novo. Assim como quase tudo o que é arquitetado por múltiplas mãos, a Universidade não nasceu pronta, tampouco sua história é linear e homogênea, e sua apropriação como ferramenta de conhecimento ao longo da história tem especificidades que variam regionalmente.

Lutas e movimentos em prol da educação foram desencadeados por diversos atores, entre eles, sujeitos da sociedade civil, através de movimentos sociais, e estudantes universitários e secundaristas, na figura dos movimentos estudantis. Os movimentos pela educação, assim sendo, “têm caráter histórico, são processuais e ocorrem, portanto, dentro e fora de escolas e em outros espaços institucionais” (GOHN, 2006, p. 35).

Referências

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