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Lombalgia em trabalhadores da indústria de calçados

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Academic year: 2021

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UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA FACULDADE DE MEDICINA DA BAHIA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM SAÚDE,

AMBIENTE E TRABALHO

RIVES ROCHA BORGES

LOMBALGIA EM TRABALHADORES DA INDÚSTRIA DE CALÇADOS

Salvador 2013

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UFBA/SIBI/Bibliotheca Gonçalo Moniz : Memória da Saúde Brasileira

Borges, Rives Rocha

B732 Lombalgia em trabalhadores da indústria de calçados / Rives Rocha Borges. Salvador: 2013.

x, 61 f.

Apêndices.

Orientadora: Profª. Drª. Verônica Maria Cadena Lima.

Dissertação (Mestrado) - Universidade Federal da Bahia, Faculdade de Medicina da Bahia, Salvador, 2013.

1. Lombalgia. 2. Indústria de Calçados – Trabalhadores. 3. Epidemiologia. 4. Prevalência. I. Lima, Verônica Maria Cadena. II. Universidade Federal da Bahia. Faculdade de Medicina. III. Título.

CDU – 616.748-056.32

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RIVES ROCHA BORGES

LOMBALGIA EM TRABALHADORES DA INDÚSTRIA DE CALÇADOS

Dissertação apresentada ao Colegiado do Curso de Pós-graduação em Saúde, Ambiente e Trabalho do Departamento de Medicina Preventiva da Faculdade de Medicina da Universidade Federal da Bahia como requisito obrigatório para obtenção do grau de Mestre em Saúde, Ambiente e Trabalho. Orientadora: Profa. Dra. Verônica Maria Cadena Lima

Salvador 2013

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COMISSAO EXAMINADORA

Membros Titulares:

Norma Suely Souto Souza, professora da Fundação Bahiana para o Desenvolvimento das Ciências e professora colaboradora da Universidade Federal da Bahia, doutora em Saúde Pública – Instituto de Saúde Coletiva da Universidade Federal da Bahia (2010).

Rita de Cássia Pereira Fernandes, professora adjunta do Departamento de Medicina Preventiva e Social da Faculdade de Medicina da Universidade Federal da Bahia, doutora em Saúde Pública – Instituto de Saúde Coletiva da Universidade Federal da Bahia (2004).

Verônica Maria Cadena Lima (professora-orientadora), professora do Departamento de Estatística do Instituto de Matemática da Universidade Federal da Bahia, membro permanente do Programa de Pós-Graduação em Saúde Ambiente e Trabalho, doutora em Estatística pela University of Leeds, Inglaterra.

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Agradecimentos

À Vida.

À minha querida mãe Angelita, pela humildade, perseverança, amor, paciência e apoio incondicional em todas as etapas de minha vida.

Aos amigos Alana, Kleber e, em especial, José Hamilton que me oportunizaram um novo olhar sobre a vida.

À minha orientadora, Profa. Verônica, pelo incentivo e otimismo frente aos desafios na elaboração e análise desta pesquisa.

À Profa. Rita Fernandes, pela confiança expressada através do convite para participar deste projeto.

À colega e amiga, Rita de Cácia Lopes de Brito, pelo acolhimento, carinho e amizade dedicada desde minha assunção no Serviço Medico Universitário Rubens Brasil da UFBA.

À colega de trabalho e de mestrado, a médica do trabalho Adriana Gregorcic, que me propiciou os primeiros contatos com a Segurança do Trabalho e Higiene Ocupacional.

Aos colegas do mestrado, em especial Roberta, Cleber e Lívia, pelo apoio mútuo e oportunidade de convívio na coleta de dados para este estudo.

Ao Prof. Fernando Carvalho, pela colaboração na construção do projeto e palavras de incentivo em momentos difíceis.

Aos professores do Programa de Pós-graduação em Saúde, Ambiente e Trabalho – PPGSAT, pelos conhecimentos mediados e discussões enriquecedoras.

A Solange Xavier pela presteza, dedicação e firmeza de opiniões durante a jornada no PPGSAT.

A Marivalda “Inha”, como a chamamos carinhosamente, pela sua cooperação, carinho e sorriso acolhedor.

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Voo

Por tempo longo Portei em mim Uma criança comportada Que encontrando a porta aberta, Por um segundo, não pensa Parte, Ganha o mundo, E decide, à própria sorte, Liberta, Fazer artes!

Ania Reis de Aragão

(extraído da obra ― Universi... D’Artes, Coletânea de Prosa e Verso de Servidores da Universidade Federal da Bahia)

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v SUMÁRIO ÍNDICE DE TABELAS ... vi RESUMO... vii ABSTRACT ... viii APRESENTAÇÃO DA DISSERTAÇÃO ... ix 1. Introdução ... 11 2. Objetivos ... 14 3. Revisão da Literatura ... 15 3.1. Lombalgia ... 15

3.2. Fatores de riscos relacionados ... 16

4. A Produção do Calçado ... 19

4.1. Etapas da Fabricação de Calçados ... 19

4.2. Formas de Organização do Trabalho ... 20

5. Materiais e Métodos ... 21 5.1. Coleta de Dados ... 23 5.2. Análise de Dados ... 24 6. Resultados ... 27 7. Discussão ... 36 8. Conclusões ... 42 Referências ... 43 Apêndice A – Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE)

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vi

ÍNDICE DE TABELAS

Tabela 1 – Características sociodemográficas, de hábitos de vida, por indústria e sexo, em Trabalhadores da Indústria de Calçados, Bahia, 2012. ... 31 Tabela 2 - Características ocupacionais e extraocupacionais, por indústria e sexo, em Trabalhadores da Indústria de Calçados, Bahia, 2012. ... 32 Tabela 3 – Prevalência de dor e desordem musculoesqueléticas, em alguma região do corpo e na região lombar, em Trabalhadores da Indústria de Calçados, Bahia, 2012. (N=446) ... 32 Tabela 4 – Demandas físicas no trabalho, por indústria, em Trabalhadores da Indústria de Calçados, Bahia, 2012. ... 33 Tabela 5 – Distribuição de escores por indústria, para demanda psicológica, controle e suporte social no trabalho em Trabalhadores da Indústria de Calçados, Bahia, 2012. ... 33 Tabela 6 – Demandas físicas no trabalho, por ocupação, em Trabalhadores da Indústria de Calçados, Bahia, 2012. ... 34 Tabela 7 – Distribuição de escores por ocupação, para demanda psicológica, controle e suporte social no trabalho em Trabalhadores da Indústria de Calçados, Bahia, 2012. ... 34 Tabela 8 – Resultado da análise fatorial para as variáveis relacionadas à postura, força muscular, manuseio de carga e pressão física. ... 35 Tabela 9 – Análise Univariada – razão de prevalência entre lombalgia e variáveis sociodemográficas, de hábitos de vida, ocupacionais, de demanda física e de demanda psicossocial em Trabalhadores da Indústria de Calçados, Bahia, 2012.... 35 Tabela 10 – Análise Multivariada – Razão de prevalência ajustada para lombalgia e variáveis do modelo final em Trabalhadores da Indústria de Calçados, Bahia, 2012. ... 36

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vii RESUMO

Esta pesquisa consistiu em um estudo epidemiológico de corte transversal tendo como população alvo trabalhadores de duas fábricas de calçados no Estado da Bahia. O estudo foi realizado em uma amostra de 476 trabalhadores, escolhidos aleatoriamente em ambas as empresas. Os questionários foram aplicados pelos próprios pesquisadores previamente treinados para a aplicação dos mesmos. Nestes questionários foram investigadas características sociodemográficas e atividades extraocupacionais dos trabalhadores. Por meio do autoregistro do trabalhador foram avaliadas as demandas físicas, em uma escala numérica de seis pontos, com âncoras nas extremidades. Demandas psicossociais foram avaliadas através de questões relacionadas à demanda, controle e suporte social. Definiu-se lombalgia, como sendo referido a dor lombar nos últimos doze meses de trabalho com duração superior a uma semana ou frequência mínima mensal, que não tenha sua origem em lesão aguda, associada a grau de severidade maior ou igual a 3, em uma escala de 0 a 5, com âncoras nas extremidades (nenhum desconforto a desconforto insuportável); busca de atenção médica pelo problema; ausência ao trabalho, comprovada ou não pela empresa; mudança de trabalho por restrição de saúde, individualmente ou em conjunto. Neste estudo verificou-se uma prevalência de lombalgia de 31,6%. Foi constatada pela análise multivariada associação entre lombalgia e medida da circunferência abdominal, pressão do tempo e trabalho sentado com repetitividade. Verificada a alta prevalência de lombalgia e identificada relação com estas variáveis, orienta-se a procura de orientação nutricional, prática de atividade física e implementação de medidas que provenham o ambiente laboral de equipamentos e recursos adequados ao desempenho das atividades dos trabalhadores.

Palavras-chave: Lombalgia; indústria de calçados – trabalhadores; epidemiologia; prevalência.

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viii ABSTRACT

This research consisted of a cross-sectional epidemiological study the target population workers in two shoe factories in the State of Bahia. The study was conducted on a sample of 476 workers randomly selected from both companies. The questionnaires were administered by trained researchers. These questionnaires investigated sociodemographic characteristics and activities outside of the workplace. Through the worker self-report physical demands were assessed on a six-point numerical scale, with anchors at each end. Psychosocial demands were assessed through questions related to demand, control and social support. We defined low back pain as back pain mentioned in the last twelve months of work, longer than a week or monthly minimum frequency, which does not have its origin in acute, associated with severity greater than or equal to 3, a scale of 0 to 5, with anchors at each end (no discomfort to unbearable discomfort); seeking medical attention for the problem; absence from work, or not proven by the company, job change by restriction health, individually or in combination. This study showed that the prevalence of low back pain among workers were of 31.6%. By multivariate analysis, low back pain were associated with abdominal circumference measurement, time pressure and seated work with repetitive movements.

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ix

APRESENTAÇÃO DA DISSERTAÇÃO

Em novembro de 2004, recém convocado para assumir a função de Engenheiro Civil na Universidade Federal da Bahia (UFBA) recebi da então Diretora do Serviço Médico Universitário Rubens Brasil (SMURB), Profa. Joselita Nunes Macedo, o convite para assumir a Engenharia de Segurança do Trabalho desta Universidade. O primeiro desafio constituiu-se em cursar a especialização na área enquanto desenvolvia atividades paralelas, nem sempre voltadas para engenharia. Entre elas estava atualizar o site do serviço, onde pude tomar conhecimento de algumas produções técnicas dos colegas do SMURB e, a mais gratificante, ser apresentado à Higiene Ocupacional, através do convívio com a médica do trabalho e higienista ocupacional Adriana Gregorcic. Nesta época conversas com a colega de trabalho e hoje Rita de Cácia Lopes Brito mostraram como o servidor técnico-administrativo da universidade, principalmente os de nível médio, percebiam as condições ambientais dos locais em que executavam suas tarefas.

O desafio cumprido com a elaboração de duas monografias de especialização voltadas para a contribuição da melhoria das condições de trabalho na Maternidade Climério de Oliveira (TCC da Especialização em Engenharia de Segurança do Trabalho) e Ergonomia do Posto de Trabalho da Operadora da Máquina Seladora do SMURB (TCC da Especialização em Higiene Ocupacional) suscitou novos anseios e novas buscas por uma melhor qualidade de vida no trabalho para os servidores da UFBA. Mas, onde buscar novos conhecimentos sobre a temática? Eis que conheci o Dr. Eduardo Reis, médico do trabalho e coordenador do Serviço de Saúde Ocupacional (SESAO) do Complexo Hospitalar Professor Edgard Santos que falou-me sobre a pós-gradução em Saúde, Ambiente e Trabalho da Faculdade de Medicina da Bahia.

Primeiro como aluno especial em 2008 e depois, como aluno regular em 2011 do Programa de Pós-graduação em Saúde, Ambiente e Trabalho – PPGSAT apresentei como proposta inicial o projeto que teve como objeto de estudo os profissionais de enfermagem da Maternidade Climério de Oliveira. Contudo, com a greve instaurada nos primeiros meses de 2011 e consequente redução de pessoal em função do apoio ao movimento, o acesso foi dificultado. Prestes a submeter o

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x

projeto à Banca de Qualificação, sem conseguir manter um diálogo com vistas a conseguir autorização para execução do mesmo na maternidade, fomos convidados, eu e minha orientadora, Profa. Verônica Cadena, pela Profa. Rita Fernandes a participar do Projeto Prevalência de Distúrbio Musculoesquelético e seus Fatores Associados entre Trabalhadores da Indústria de Calçados. Este convite foi aceito com entusiasmo por nós, devido a relevância da proposta para os trabalhadores das indústrias. Com isso, mudou-se o objeto de pesquisa.

Paralelamente à contribuição com o grupo de pesquisa da Profa. Rita buscou-se reconstruir o projeto de pesquisa para submissão à Banca de Qualificação composta pelas professoras Marlene Silva, Rita Fernandes e Verônica Cadena, que por ocasião da qualificação apresentaram contribuições valiosas para a concepção e execução do Projeto Lombalgia em Trabalhadores da Indústria de Calçados.

No período compreendido entre fevereiro e junho do ano de 2012 deu-se a coleta de dados com os trabalhadores das indústrias participantes da pesquisa. As maiores dificuldades com que o grupo de pesquisadores se deparou foi a restrição de tempo para aplicação dos questionários. A busca de metas a serem batidas na produção, muitas vezes fez com que trabalhadores se recusassem a responder aos questionários. Entretanto esta dificuldade não comprometeu o tamanho da amostrada calculada e consequentemente os resultados obtidos em campo. Estes resultados, em conjunto com o aprendizado no PPGSAT, resultaram nesta dissertação.

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1. Introdução

Conforme Godinho Filho, Fernandes e Lima (2009) a indústria de calçado no Brasil tem contribuído com uma parcela significativa das atividades manufatureiras do País, sobressaindo-se por sua importância nas exportações do Brasil, pelo seu volume de produção, por sua organização em polos produtores integrados, e também pela alta capacidade de geração de empregos. Estudos vêm sendo realizados desde meados dos anos 90 com trabalhadores da indústria de calçados de Franca, em São Paulo, com intuito de melhor compreender como se dá a exploração da força de trabalho no país, no contexto da reestruturação produtiva, e quais as repercussões sobre a saúde dos trabalhadores, particularmente dos empregados na produção calçadista (NAVARRO, 2003).

Segundo Fernandes, Assunção e Carvalho (2010a), formas de adoecimento de trabalhadores da indústria guardam relação com as diferentes modalidades de gestão do trabalho e da produção. As exigências sobre o corpo e sobre as capacidades cognitivas e psíquicas no ambiente de trabalho podem se expressar como doenças relacionadas ao trabalho, entre elas, os distúrbios musculoesqueléticos (DME) e o sofrimento psíquico, identificado como estresse ocupacional.

Este estudo é direcionado aos Distúrbios Musculoesqueléticos (DME), doenças que não respeitam fronteiras, atingindo diversas categorias profissionais. Obviamente que estes distúrbios correspondem às demandas específicas de cada categoria – exposição, intensidade da atividade, membros corporais mais solicitados. De acordo com Cavenaghi et al. (2006), as queixas musculoesqueléticas que mais se destacam são as artralgias, que acometem, principalmente, membros superiores e pequenas articulações das mãos, e a lombalgia, sendo esta uma das principais causas de afastamento do trabalho, além de ser a segunda causa de procura por serviços médicos. Os distúrbios musculoesqueléticos, que podem gerar incapacidades funcionais graves, têm evolução lenta e progressiva, podendo muitas vezes levar anos para se manifestar (GONÇALVES et al., 2006).

Inúmeros fatores de risco são citados como possíveis desencadeadores das dores lombares, tais como: fatores genéticos, psicossociais, excesso de peso, fumo, atividades profissionais, sedentarismo, posições incômodas, síndromes depressivas,

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trauma, gravidez, repetitividade de movimentos, manuseio inadequado de cargas, dentre outras (HELFENSTEIN JUNIOR, GOLDENFUM, SIENA, 2010). Palmer et al. (2003) definem lombalgia como uma condição dolorosa, na região inferior do dorso, entre o último arco costal e a prega glútea, podendo ser acompanhada, ou não, de dor ciática, sendo esta última definida como dor lombar irradiada da perna até abaixo do joelho.

Estudo realizado por Almeida et al. (2008), junto a indivíduos maiores de 20 anos residentes no município de Salvador, Bahia, com o objetivo de estimar a prevalência de dor lombar crônica nessa população e identificar fatores associados mostra que a prevalência de dor lombar crônica foi de 14,7%, com maior frequência entre indivíduos que deixaram de fumar (19,7%), pessoas com sobrepeso (16,8%) e com baixa escolaridade (17,4%) em relação as outras categorias. Atividade física, classe social, consumo excessivo de álcool, raça, sexo e ocupação na época do estudo não foram associados à dor lombar.

Ferreira et al. (2011), em estudo realizado com adultos na faixa etária entre 20 e 69 anos, de ambos os sexos, moradores da zona urbana do município de Pelotas, RS, Brasil, observaram uma prevalência para lombalgia de 40%, com associação positiva para os indivíduos do sexo feminino de 1,24 vezes maior que para os do sexo masculino. A quantidade de tempo e recursos despendidos com pacientes portadores de dores lombares é grande e, a procura por tratamento aumenta a cada dia, o que acarreta aumento de despesas com cuidados com a saúde. O custo por esta demanda gera um ônus a mais tanto para os cofres públicos quanto para os privados (FERREIRA et al., 2011).

Estudos mostram que o custo indireto, anual, que inclui perdas na produtividade do trabalho formal devido aos afastamentos temporários ou definitivos por dor lombar crônica na Holanda, no ano de 1991 foi de US$4.6 bilhões, aproximadamente R$4.916 bilhões. Na Suécia, em 2002, este custo por indivíduo, foi de €17.600, o equivalente a R$45.760,00, já o custo direto (internações hospitalares, atendimento ambulatorial, exames complementares, fármacos, reabilitação e programas comunitários) foi de €3.100, aproximadamente R$8.060,00 (MEZIAT FILHO, 2010). Ainda conforme Meziat Filho e Silva (2011), não foram realizados estudos estimando a incidência da invalidez por dor lombar nas regiões e

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estados brasileiros, nem análises econômicas onde fossem incluídos custos diretos e indiretos gerados. Já Gadelha (2006) em seu estudo sobre o impacto previdenciário e ocupacional da incapacidade para o trabalho por doenças osteomusculares e do tecido conjuntivo, no Brasil em 2002, observa que o custo total dos benefícios previdenciários para estas doenças em sete ramos de atividade (fabricação de produtos químicos, metalurgia básica, fabricação de produtos de metal, intermediação financeira, educação, transportes aéreo e terrestre) foi de R$190.671.075,00, sendo que os maiores custos demandados deste total, 24,2% (R$42.162.40,00) foram por dor na coluna.

Ao longo dos anos, a indústria brasileira de calçados tem apresentado um alto volume de exportações, quando comparado com a média de exportação de outros produtos industrializados, que está em torno de 25 % do que é fabricado. No ano de 2005, as exportações de calçados brasileiros foram da ordem de 3% (GODINHO FILHO, FERNANDES e LIMA, 2009). De acordo com ABICALÇADOS (2011), no ano de 2010 estas exportações atingiram a marca de 12,9%. Deste percentual, mais de 29% tiveram como destino o mercado estadunidense. Em seguida, aparecem o Reino Unido com 14,3% e a Argentina com 14,1%. Os demais países que aparecem na pauta de exportações apresentam percentuais inferiores a 10%. Estes dados mostram a importância da inserção das empresas de calçados no mercado internacional.

Organizada em polos, a indústria calçadista brasileira, produziu no ano de 2008 um total de 816 milhões de pares de calçados, saltando no ano de 2010 para 893,9 milhões. O Pólo Nordeste contribuiu, neste ano, com a produção de 399,2 milhões e exportou 102,1 milhões (ABICALÇADOS, 2011).

O processo de produção de um calçado envolve inúmeras operações que estão organizadas em torno de cinco etapas: modelagem, corte, costura – manual ou à máquina (pesponto) –, montagem e acabamento. O modelo de sapato a ser produzido, o tipo de organização de trabalho adotada, bem como a tecnologia empregada na fabricação e o porte da empresa são os fatores que definem o número de operações realizadas em cada uma dessas etapas (NAVARRO, 2003).

Os trabalhadores, de maneira geral, podem estar expostos, em seus respectivos locais de trabalho, a fatores que apresentam determinado potencial de

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risco à saúde. Na indústria de calçados, os riscos mais comuns são: físicos – ruído e vibração, provenientes de máquina e equipamentos; químicos – oriundos de colas, adesivos e solventes orgânicos (aromáticos e alifáticos); biológicos – possível contato com material biológico na higienização de sanitários; ergonômicos – manuseio e transporte de cargas, postura e ritmo de trabalho e de acidentes – arranjos físicos inadequados, pisos pouco resistentes ou irregulares, instalações elétricas impróprias ou com defeito; iluminação inadequada, sinalizações inadequadas ou inexistentes, dentre outros (SESI, 2002).

Em função dessas assertivas buscou-se estudar a lombalgia em trabalhadores da indústria calçadista por assim entender que, além desta classe de trabalhadores estar muitas vezes exposta a condições desfavoráveis de trabalho, o seu adoecimento configura não apenas a perda de capital laboral, mas também pode acarretar a incapacitação para o trabalho bem como para outras atividades produtivas, o que por consequência pode afetar a subsistência do núcleo familiar no qual está inserido e suas reações afetivas familiares ou não.

Como através da epidemiologia pode-se demonstrar que doenças são eventos que não ocorrem por acaso, mas que tem associação com outros eventos que podem ser identificados e estudados (MEDRONHO et al., 2009), pretendeu-se a partir de um estudo epidemiológico de corte transversal estimar a prevalência de lombalgia em trabalhadores de indústrias calçadistas e identificar os fatores associados.

2. Objetivos

• Estimar a prevalência de lombalgia em trabalhadores de indústrias calçadistas.

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3. Revisão da Literatura

3.1. Lombalgia

Freburger et al. (2009) e Waal et al. (2003) definem dor lombar como uma dor ou desconforto localizado abaixo da margem da 12ª costela e acima da prega glútea inferior, com ou sem irradiação para a perna. Na maioria das vezes, segundo Diamond e Borenstein (2006), trata-se de uma queixa extremamente comum e com rápida resolução.

Wand e O’Connell (2008) perceberam que em 85% dos indivíduos acometidos por dor lombar, a etiologia é inespecífica, ou seja, a dor localiza-se nas costas ou nas nádegas e é devida a um possível processo músculo-ligamentar. Atlas e Nardin (2003) concluíram que quando os sintomas radiculares são apresentados nas pernas, a etiologia precisa da dor é mais facilmente identificada.

Diversos indivíduos com dor lombar têm melhora no espaço de uma semana, e uma grande maioria livra-se da dor em até oito semanas, apesar de que alguns estudos mostram que a melhora ocorre em até 12 semanas de 80% a 90% dos casos (ANDERSSON, 1999). Kuorinka e Forcier (1995); Fernandes, Carvalho e Assunção (2011) e Pataro (2011) estabelecem como dor lombar a dor ou desconforto na região lombar, nos últimos doze meses de trabalho e lombalgia, como sendo referido a dor lombar nos últimos doze meses de trabalho com duração superior a uma semana ou frequência mínima mensal, que não tenha sua origem em lesão aguda, associada a busca de atenção médica pelo problema; ausência ao trabalho, comprovada ou não pela empresa; mudança de trabalho por restrição de saúde, individualmente ou em conjunto. Alguns autores se referem à lombalgia crônica considerando esta como sendo a dor lombar persistente e incapacitante por período igual ou superior a três meses (BRASIL, 2001; ATLAS E NARDIN, 2003; DIAMOND e BORENSTEIN, 2006; COSTA et al., 2007; DAVIES, MAHER e HANCOCK, 2008; NEVILLE et al., 2008; WAND e O'CONNELL, 2008; FREBURGER

et al., 2009) ou dor lombar persistente por período igual ou maior que sete semanas

nos últimos três meses (VAN DEN HOOGEN et al., 1998; ANDERSSON, 1999; SILVA, FASSA e VALLE, 2004).

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Estudos apontam que 3% a 20% dos indivíduos adultos desenvolvem a lombalgia (ANDERSSON, 1999; BRASIL, 2001; ATLAS e NARDIN, 2003; SILVA, FASSA, e VALLE, 2004; ALMEIDA et al., 2008; FREBURGER et al., 2009). São raros estudos transversais de base populacional sobre a prevalência de lombalgia.

Em se tratando de lombalgia crônica, dois estudos transversais de base populacional, no Brasil, encontraram prevalências da ordem de 4,2% e 14,7% em Pelotas e Salvador, respectivamente (SILVA, FASSA E VALLE, 2004; ALMEIDA et

al., 2008). Esta diferença pode se dar, entre outros fatores, devido aos diferentes

períodos de tempo dispendidos na investigação, ou seja, sete semanas ou mais de dor contínua nos últimos três meses no primeiro caso e seis meses ou mais de dor contínua no último ano no segundo caso. Além disso, diferenças como características socioeconômicas e demográficas, entre as cidades, podem ter influenciado os resultados.

Estudo realizado na França mostra que a prevalência de dor crônica nas costas é de 8% (LECLERC et al., 2006). Neville et al. (2008) afirmam que em Israel a prevalência encontrada para dor crônica nas costas é de 32%. Entretanto, estes estudos não caracterizam a região anatômica de forma precisa.

Na Austrália, a prevalência de lombalgia crônica detectada foi de 13,4 %, com região anatômica e tempo definidos (WALKER, MULLER e GRANT, 2004). Nos Estados Unidos, Freburger et al. (2009) em estudo de tendência, com definições precisas de tempo e região anatômica, verificou aumento na prevalência de lombalgia de 3,9% para 10,2% no período compreendido entre 1992 e 2006.

3.2. Fatores de riscos relacionados

Estudos têm mostrado associação entre lombalgia e idade (ANDERSSON,

1999; SILVA, FASSA e VALLE, 2004; DIAMOND e BORENSTEIN, 2006); sexo feminino (SILVA, FASSA e VALLE, 2004) e estado civil casado (SILVA, FASSA e VALLE, 2004; ALMEIDA et al., 2008). A associação direta entre idade e lombalgia pode estar relacionada aos desgastes degenerativos das estruturas musculoesqueléticas, somados à continuidade do desempenho das atividades no trabalho (SILVA, FASSA e VALLE, 2004). Quanto ao sexo feminino, características anatomofuncionais associadas à jornada de trabalho, podem levar à maior

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prevalência de lombalgia neste grupo (SILVA, FASSA e VALLE, 2004). A lombalgia associada ao estado civil casado pode se dar em função de maiores exposições a posturas incômodas como durante o período de gestação, em afazeres domésticos – carregar filhos pequenos, faxina, configurando-se então em fator de risco (SILVA, FASSA e VALLE, 2004; ALMEIDA et al., 2008). Pensamento corroborado por Garcia e Torres Neto (2011) que acreditam que esta associação impõe obrigações e encargos decorrentes da vida conjugal.

Segundo Silva, Fassa e Valle (2004) a escolaridade de até 8 anos configura-se como característica socioeconômica associada à lombalgia. A baixa escolaridade e o baixo nível socioeconômico podem estar relacionados à maior exposição às cargas de trabalho decorrentes da ocupação e também ao tabagismo (SILVA, FASSA e VALLE, 2004), pois trabalhadores com menor escolaridade, em sua maioria, ocupam posições no mercado de trabalho desenvolvendo atividades com maior exigência de esforço físico, seja no carregamento de cargos, seja com posturas incômodas, além de uma autopercepção negativa do estado de saúde (VOLKERS, WESTERT e SCHELLEVIS, 2007). Uma maior prevalência de condições crônicas e incapacidade entre trabalhadores manuais qualificados e não qualificados pode ser verificada quando comparados a outras categorias, como trabalhadores não manuais e administrativos (CAVELAARS et al., 1998).

O tabagismo, como característica comportamental, é associado à lombalgia, tanto entre fumantes quanto entre aqueles que deixaram de fumar (SILVA, FASSA e VALLE, 2004; ALMEIDA et al., 2008; ANDERSSON, 1998). Pressupõe-se que a tosse crônica, proveniente do tabagismo, aumenta a pressão nos discos intervertebrais, e a ação da nicotina, por efeitos circulatórios, proporciona a redução da nutrição destas estruturas. De maneira análoga, ocorre uma diminuição da densidade mineral óssea predispondo a microfraturas (ANDERSSON, 1998; ERIKSEN, NATVIG e BRUUSGAARD, 1999; SILVA, FASSA e VALLE, 2004; ALMEIDA et al., 2008; FASSA et al., 2005).

Silva, Fassa e Valle (2004) e Freburger et al. (2009) observam que o índice de massa corpórea – IMC maior ou igual 30 está associado à dor lombar crônica devido a uma sobrecarga das estruturas anatômicas da coluna. A associação do sedentarismo pode ocorrer pelo mau condicionamento dos músculos que estabilizam

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a coluna, principalmente quando a ocupação desenvolvida requer esforço físico, como por exemplo, carregamento/levantamento de peso.

A literatura aponta as cargas fisiológicas e psicológicas, dentre as diversas cargas de trabalho existentes, entre os importantes fatores determinantes da lombalgia. As fisiológicas, derivadas das diferentes maneiras de realizar o trabalho, incluem o esforço físico, os deslocamentos, os movimentos, as posições incômodas assumidas para execução de tarefas, intensificação do trabalho e jornada prolongada. As cargas fisiológicas associadas à dor lombar crônica são levantamento/carregamento de peso, movimentos repetitivos e posições forçadas e estáticas (ERIKSEN, NATVIG e BRUUSGAARD, 1999, BRASIL, 2001; SILVA, FASSA e VALLE, 2004; NORIEGA-ELÍO et al., 2005). Ocupações que exigem um maior esforço físico como operários da construção civil e profissionais de enfermagem apresentam maior prevalência de dor lombar crônica em relação a outras ocupações com exigência menor. Santos Filho (2011), em estudo sobre lombalgia em pedreiros na grande Vitória encontrou uma prevalência de 24%. O valor encontrado por Fonseca (2009), para a categoria de trabalhadoras de enfermagem foi de 53,9%. Isto pode se dar em função da maior exposição ao levantamento/carregamento de peso, posições incômodas e repetitividade de movimentos.

Freburger et al. (2009) acreditam que a reestruturação produtiva com base na intensa utilização da tecnologia digital impondo a perda do controle sobre o trabalho e submissão do trabalhador pode ter relação com o aumento da prevalência de dor lombar crônica nos Estados Unidos. O autor relaciona as mudanças nas demandas físicas e psicossociais do trabalho à redução de trabalhos em manufaturas e aumento nos percentuais de empregos na construção e indústria de serviços. O mesmo percebido por Salim (2003) que afirma que houve uma ampliação do setor de serviços, além de um amplo processo de terceirização no Brasil e no mundo, o que resultou na precarização das condições de trabalho.

Pataro (2011) ressalta em seu estudo sobre lombalgia em trabalhadores de limpeza urbana, onde a prevalência encontrada foi de 37,0%, que atividades físicas sem relação com o trabalho, incluindo prática de esportes, levantamento e flexões de tronco na realização de tarefas domésticas ou outras atividades diárias, podem

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desenvolver estresse ou trauma físico da mesma ordem dos provocados por atividades laborais e, por isto devem ser levados em conta, como confundidores, na associação entre demandas físicas no trabalho e lombalgia.

De acordo com Ijzelenberg e Burdorf (2005), idade, tabagismo, situação conjugal e nível de educação relacionados com afastamento por doença e procura por serviços de saúde tem mostrado associação estatística, significante, à ocorrência de lombalgia e, portanto devem ser considerados como possíveis confundidores.

4. A Produção do Calçado

A contribuição significativa da indústria calçadista nas atividades manufatureiras e sua consequente capacidade de geração de empregos (GODINHO FILHO, FERNANDES e LIMA, 2009), aliados ao interesse em compreender como se dá a exploração da força de trabalho no país, no contexto da reestruturação produtiva, e quais as repercussões sobre a saúde dos trabalhadores, particularmente dos empregados na produção calçadista (NAVARRO, 2003), fazem da indústria de calçados objeto de estudo desta pesquisa. Nas seções abaixo serão descritas as principais etapas na fabricação de calçados e a forma como este trabalho é organizado.

4.1. Etapas da Fabricação de Calçados

A produção de calçados é realizada de forma segmentada, seguindo uma disposição similar nas indústrias de calçados em geral. Esta disposição pode ser verificada nas empresas participantes deste estudo.

• modelagem – fase em que o calçado é definido. Inicialmente, determina-se o design do calçado, em seguida são especificados as dimensões do calçado, o material a ser empregado. Também nesta fase são determinadas as ferramentas necessárias e feita a preparação das máquinas;

• corte de material – pode ser feito com lâminas ou facas, através de operação manual com o auxílio dos moldes, ou por balancins de corte

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que pressionam moldes metálicos (especialmente fabricados para cada modelo) na superfície do material;

• costura – inicialmente são executados os detalhes (chanfros, picotes, enfeites, dobramentos). Em seguida, costura-se as partes que compõem o cabedal (parte superior calçado);

• montagem – quando se une a parte superior (cabedal) à sola. Pode ser feita através da utilização de cola ou através da costura das partes; • acabamento – operações finais ligadas à apresentação do calçado

(frisagem, lixamento, pintura e secagem). Em seguida, faz-se a inspeção final e o calçado é embalado.

De acordo com Ruas (1984), o principal objetivo de segmentar o trabalho consiste em reduzir a tarefa de grande parte dos trabalhadores a apenas uma operação e assim, dar autonomia aos diversos setores da produção de calçados. 4.2. Formas de Organização do Trabalho

Piccinini (1995), explica que a forma como o trabalho é organizado depende do tamanho e da gestão da empresa. Pequenas empresas exigem que seus trabalhadores sejam polivalentes, ou seja, que saibam como executar a maioria das operações.

O trabalho, tradicionalmente, é organizado da seguinte maneira:

• linha de montagem – postos de trabalho instalados ao longo de um eixo, onde cada operário acrescenta uma operação ao produto em fabricação, que circula ao longo do eixo até o final da linha. Neste modelo, o processo de trabalho é iniciado com a colação das partes que compõem o cabedal na bandeja. Em seguida, as peças são costuradas e, depois da costura, seguem na esteira até o estoque de peças, quando são colocadas na bandeja para ser montado o calçado (união do cabedal com a sola). Nesta forma de organização do trabalho, os trabalhadores ficam submetidos ao ritmo automático, à cadência da esteira, à rotina, executando, muitas vezes, um mesmo movimento durante a sua jornada de trabalho, além de, através da

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concentração, isolar o trabalhador dos demais colegas por dificultar a comunicação, até mesmo a visual.

• células – são uma modalidade de trabalho em grupo, em que cada grupo de trabalhadores fica encarregado de um conjunto de processos, onde as tarefas são partilhadas e distribuídas. Este modelo, por aproximar os trabalhadores, acaba por tornar obrigatório o relacionamento com o outro, ou seja, com o companheiro de célula. Mesmo aproximando os trabalhadores, neste modelo o companheiro pode aparecer antes como um fardo, ou seja, o contato verbal ou visual imposto pode representar para o interlocutor uma relação de observação, vigilância ou controle das atividades desenvolvidas por este.

5. Materiais e Métodos

Esta pesquisa consistiu em um estudo epidemiológico de corte transversal tendo como população alvo trabalhadores de duas fábricas de calçados no Estado da Bahia.

As indústrias envolvidas neste estudo disponibilizaram a relação de seus trabalhadores, tendo a indústria 1, 855 (inclusos os afastados por doenças ou licença maternidade) e a 2, 724 trabalhadores.

Para o cálculo do tamanho de amostra necessário para estimar a prevalência de lombalgias foi considerado um erro de, no máximo, 4% e um intervalo de confiança de 95%, sendo a amostra de 436 trabalhadores. A este valor foi acrescido 10% para cobrir possíveis perdas e recusas. No final foram selecionados 260 trabalhadores da indústria 1 e 220 da indústria 2, proporcionalmente ao número de homens e mulheres em cada indústria. Os indivíduos selecionados aleatoriamente foram convidados a participar da pesquisa. Quando o trabalhador selecionado encontrava-se afastado para tratamento de saúde, foi solicitado à empresa telefone e/ou endereço residencial para que fosse contatado e convidado a participar da pesquisa. Não conseguindo contato com os afastados ou na possibilidade de recusa foi convidado o trabalhador imediatamente seguinte na relação disponibilizada pela empresa. Em função do lento desenvolvimento dos DME, foram considerados

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fatores de exclusão de indivíduos na amostra, trabalhadores com menos de um ano de empresa.

Foi estabelecido como dor lombar, a referência, por parte do entrevistado, de dor ou desconforto na região lombar, nos últimos doze meses de trabalho e lombalgia, como sendo referido a dor lombar nos últimos doze meses de trabalho com duração superior a uma semana ou frequência mínima mensal, que não tenha sua origem em lesão aguda, associada a grau de severidade maior ou igual a 3, em uma escala de 0 a 5, com âncoras nas extremidades (nenhum desconforto a desconforto insuportável); busca de atenção médica pelo problema; ausência ao trabalho, comprovada ou não pela empresa; mudança de trabalho por restrição de saúde, individualmente ou em conjunto (KUORINKA e FORCIER, 1995; FERNANDES, CARVALHO e ASSUNÇÃO, 2011, PATARO, 2011).

Foram feitas duas análises, uma por indústria e outra por ocupação. Em função da diversidade de ocupações existentes nas indústrias surgiu a necessidade de categorizar estas ocupações em função das atividades desenvolvidas pelos trabalhadores. Assim, foram adotadas as seguintes categorizações: trabalhadores que desenvolvem atividades com maior flexibilidade de postura física, com menor esforço físico e com alguma autonomia na gestão das indústrias – administrativo; trabalhadores que desenvolvem atividades fim na confecção de calçados no entorno ou na própria esteira – confecção; e, trabalhadores que desenvolvem atividades de manutenção de máquinas ou instalações prediais, no reparo produtos fabricados e em apoio às demais atividades – manutenção.

Por se tratar de uma pesquisa envolvendo seres humanos, este projeto que integra o projeto maior “Prevalência de Distúrbio Musculoesquelético e seus Fatores Associados entre Trabalhadores da Indústria de Calçados.” foi posto em prática após ser aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa – CEP da Escola de Enfermagem da Universidade Federal da Bahia (UFBA), conforme Protocolo CEP: n.° 48/2011, Folha de Rosto n.° 485004. Os trabalhadores convidados a participar desta pesquisa, o fizeram de forma voluntária após assinatura de um Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (Apêndice A), no qual foram explicados de forma detalhada a natureza, os objetivos, os métodos, os riscos e os benefícios da pesquisa.

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5.1. Coleta de Dados

Na coleta de dados foi utilizado um instrumento do tipo questionário (Apêndice B), adaptado do questionário elaborado e utilizado por Fernandes (2004) para o estudo de distúrbios musculoesqueléticos em trabalhadores da indústria de plástico. Este questionário baseia-se no auto-registro do trabalhador sobre suas condições de trabalho e foi aplicado por entrevistador, devidamente treinado. Esta etapa da pesquisa foi realizada durante o expediente de trabalho, no início ou antes, do final do turno, em local reservado, definido pela empresa.

O questionário utilizado na pesquisa contempla os seguintes itens: • informações gerais – aspectos sociodemográficos;

• informações sobre o trabalho – situação laboral atual e pregressa, incluindo demandas físicas como postura e força (manuseio de cargas); questões estas que foram respondidas pelo trabalhador, obedecendo a uma escala de 0 a 5, com âncora nas extremidades; além de questões relacionadas ao ambiente físico do trabalho, equipamentos de proteção individual (EPI) e mobiliário;

• questionário sobre conteúdo do trabalho – as demandas psicossociais do trabalho, abordadas neste item, foram verificadas através do Job

Content Questionnaire (JCQ) (ARAÚJO, 2008; KARASEK et al., 1998). No

processo de análise foram obtidos escores para demanda psicológica controle e suporte social. Este instrumento considera alta exposição à demanda psicossocial o preenchimento de pelo menos dois dos seguintes critérios: alta demanda, baixo controle e baixo suporte. Este item também contempla questões do JCQ sobre satisfação no trabalho;

• atividades domésticas – questão destinada a registro do número de horas semanais dedicadas ao trabalho doméstico;

• atividades físicas – questões relacionadas à prática e frequência de atividade física, bem como à percepção do trabalhador sobre seu condicionamento físico;

• condutas de compensação – esta etapa abordou questões a respeito do uso de medicamentos, fumo e uso abusivo de bebidas alcoólicas;

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• questionário sobre sintomas – nesta etapa do questionário foram coletadas informações sobre sintomas musculoesqueléticos por meio da versão ampliada do Nordic Musculoskeletal Questionnaire (NMQ), instrumento largamente utilizado no mundo em investigações sobre distúrbios musculoesqueléticos e que avalia a presença de dor ou desconforto nos últimos 12 meses em regiões anatômicas do sistema musculoesquelético e a severidade, duração e frequência destes sintomas (KUORINKA & FORCIER, 1995);

• outras informações de saúde – este item contempla questões relacionadas à saúde pregressa do entrevistado, como presença e localização de lesões anteriores, história de diabetes, artrite reumatóide e hipotireoidismo, que já foram relacionados a queixa musculoesquelética. Os escores obtidos para demanda psicológica, controle e suporte social no trabalho foram medidos por meio das informações sobre demandas psicossociais coletadas através do Job Content Questionnaire – JCQ (KARASEK, 1985; ARAÚJO & KARASEK, 2008). Conforme Karasek (1998), a demanda psicológica refere-se às exigências da tarefa com relação ao ritmo, concentração e pressão de tempo; habilidade e criatividade na execução de tarefas, autonomia e nas decisões de como executar o próprio trabalho são reflexo do controle; e, suporte social leva em consideração apoio no trabalho, seja por parte da chefia, seja por parte de colegas.

Foram coletadas as medidas diretas de circunferência abdominal, peso e altura. Estas últimas com o intuito de calcular o índice de massa corporal (IMC), índice este já descrito na literatura como fator relacionado à sobrecarga biomecânica na região lombar. Nesta coleta foi utilizada balança portátil e estadiômetro.

A coleta dos dados ficou sob a responsabilidade de três alunos do Mestrado em Saúde, Ambiente e Trabalho. Os três passaram por treinamento prévio tanto em relação à aplicação do questionário quanto ao uso dos instrumentos de medição – balança portátil e estadiômetro.

5.2. Análise de Dados

De posse dos dados coletados através do questionário, foi realizado tratamento estatístico dos mesmos utilizando os Programas SPSS (Statistical

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Package for the Social Sciences), versão 13.0 para Windows; Epi-Info 7, versão

3.5.2; e o programa estatístico R, versão 2.15.2.

Foi considerada como variável dependente a lombalgia, definida como sendo referido a dor lombar nos últimos doze meses de trabalho com duração superior a uma semana ou frequência mínima mensal, que não tenha sua origem em lesão aguda, associada a grau de severidade maior ou igual a 3, em uma escala de 0 a 5, com âncoras nas extremidades (nenhum desconforto a desconforto insuportável); busca de atenção médica pelo problema; ausência ao trabalho, comprovada ou não pela empresa; mudança de trabalho por restrição de saúde, individualmente ou em conjunto (KUORINKA & FORCIER, 1995; FERNANDES, CARVALHO e ASSUNÇÃO, 2011), e como variáveis independentes: medida da circunferência abdominal, idade, sexo, escolaridade, situação conjugal, filhos menores de 2 anos de idade, tabagismo, consumo de bebida alcoólica, IMC, demanda biomecânica, demanda psicossocial, tempo de trabalho, condicionamento físico e atividade doméstica.

Os dados foram analisados inicialmente por uma abordagem descritiva, em que algumas variáveis foram dicotomizadas. Para a variável escolaridade foi feita a estratificação em nível de escolaridade menor que segundo grau completo e maior ou igual ao segundo grau completo; a situação conjugal em casado ou vive junto e solteiro, separado, divorciado, desquitado ou viúvo, ou seja, o indivíduo que vive só; existência de filhos menores de dois anos e filhos maiores de dois anos ou sem filhos; variáveis contínuas, como medida da circunferência abdominal e IMC, este obtido através da relação entre o peso e quadrado da altura, foram categorizadas em função de um dos quartis 25, 50 e 75.

O consumo de bebida alcoólica foi dicotomizado em expostos – consumo de álcool mais de uma vez por semana e não expostos – consumo de álcool menor que uma vez por semana. Em relação à atividade física foram considerados expostos os indivíduos que relataram atividades como conversar com parentes ou amigos, lê jornal ou revistas, assistir televisão, frequentar culto ou missa ou estudar e não expostos os que relataram treinar para competição esportiva, correr, fazer ginástica, nadar, jogar bola, andar de bicicleta, caminhar, pescar, cuidar da horta ou do quintal.

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Inicialmente, foi realizada uma análise fatorial das variáveis relacionadas à postura (sentado, em pé, andando, agachado, com o tronco inclinado para frente, com o tronco rodado, com os braços acima da altura dos ombros, fazendo movimento repetitivo com as mãos, fazendo movimentos precisos e muito finos), força muscular (força muscular nos braços ou mãos), manuseio de carga (levantar, puxar e empurrar) e pressão física (pressão física que você exerce com as mãos

sobre o equipamento ou objeto de trabalho). Esta análise foi realizada buscando-se

identificar um conjunto de fatores que sumarizassem este conjunto de 14 variáveis. Como resultado da análise fatorial foram identificados três fatores, que juntos

explicam aproximadamente 54% da variabilidade dos dados. Posteriormente, para o

cálculo das razões de prevalência e intervalos de confiança, estes fatores foram categorizados em função de um dos quartis 25, 50 e 75, objetivando se identificar que quartil melhor se relacionava com a variável resposta.

As demandas psicossociais foram dicotomizadas em alta exposição (demanda maior que 37, controle igual ou menor que 60 e suporte social igual ou menor que 23) e baixa exposição (demanda igual ou menor que 37, controle maior que 60 e suporte social maior que 23). De acordo com Devereux, Vlachonikolis e Buckle (2002), a alta exposição à demanda psicossocial no trabalho é caracterizada pelo registro ao menos de dois dos critérios: alta demanda psicológica, baixo controle e baixo suporte social; para baixa exposição à demanda psicossocial, o enquadramento em pelo menos dois dos critérios: baixa demanda psicológica, alto controle e alto suporte social.

Foram calculadas médias e desvios-padrão para as variáveis contínuas e frequências para as variáveis categóricas. Concluída a etapa descritiva, deu-se a análise tabular, com o cálculo das razões de prevalência e intervalos de 95% de confiança.

Posteriormente, para identificar quais variáveis estão associadas à lombalgia foi construído um modelo de regressão logística relacionando a variável dependente com as principais variáveis independentes. O modelo de regressão logística múltiplo inicial continha as variáveis que na regressão logística univariada apresentaram um p-valor inferior a 0,25 no teste de Wald para a significância do coeficiente. O modelo final foi obtido pelo método de seleção backward, com base no teste da razão de

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verossimilhanças e no teste da estatística Wald, considerando um nível de significância de 5%.

De posse do modelo final foi utilizado o método delta para o cálculo das razões de prevalência ajustadas e seus respectivos intervalos 95% de confiança. Este método proporciona para uma ou mais variáveis boa aproximação para médias, variâncias e covariâncias de funções não lineares. Assim, para estudos transversais, pode ser feita comparação de resultados oriundos de regressão logística e análise tabular sem utilização da odds ratio, pois estas superestimam as estimativas pontuais, bem como amplificam a imprecisão dos intervalos de confiança (OLIVEIRA, SANTANA E LOPES 1997).

6. Resultados

Dos 480 indivíduos inicialmente selecionados para a pesquisa, foram entrevistados 446 (92,9%). Valor este superior ao tamanho mínimo da amostra calculada. Destes 218 (48,9%) são do sexo masculino e 228 (51,1%) do sexo feminino.

Na Tabela 1, pode-se observar que a idade média geral dos trabalhadores pesquisados é de 28,0 anos com desvio padrão (dp) de 6,4 anos. Para a indústria 1, observa-se que a idade média para as mulheres é superior a idade média geral, sendo de 31,5 anos (dp=6,7anos).

A maior parte dos trabalhadores entrevistados é nascida no estado da Bahia (96,4%), não havendo muita diferença entre as indústrias. Entre os trabalhadores entrevistados, 374 (83,9%) deles se autoreferiram como tendo a cor da pele preta ou parda, enquanto que 71 (15,9%) se autoreferiram como da cor branca, amarela, indígena.

Quanto à escolaridade, 348 (78,0%) trabalhadores pesquisados possuem pelo menos o ensino médio. Destaca-se que o número de mulheres com esta escolaridade é superior ao dos homens.

Duzentos e sessenta e seis (59,6%) trabalhadores afirmam serem casados ou vivem juntos, enquanto que 180 (40,4%) são solteiros, separados, divorciados ou desquitados. Na indústria 1, se autoreferiram como casadas 72 (62,1%) mulheres e

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65 (52,8%) homens; enquanto que na indústria 2, verifica-se 67 (59,8%) mulheres e 62 (65,3%) homens.

No quesito filhos, 194 (43,5%) trabalhadores afirmam ter filhos com idade igual ou superior a dois anos. Por indústria estes valores são: indústria 1, 43 (35,0%) para homens e 61 (52,5%) para mulheres; indústria 2, 32 (33,7%) para homens e 58 (51,8%) para mulheres.

O hábito de fumar nestas indústrias é baixo, 435 (97,5%) trabalhadores não fumam. Em relação ao consumo de bebida alcoólica 82 (18,4%) fazem uso mais de uma vez por semana. Trinta e nove (31,7%) homens e 17 (14,7%) mulheres na indústria 1 e, 21 (22,1%) homens e 5 (4,5%) mulheres na indústria 2.

A medida da circunferência abdominal dos trabalhadores, em média, é igual a 83,1 cm com desvio padrão de 9,8 cm. Quando da avaliação do índice de massa corpórea – IMC, 39 (8,8%) entrevistados apresentaram obesidade, 149 (33,5%) sobrepeso, 220 (49,4%) peso normal e 37 (8,3%) baixo peso. Observa-se também que 50 (52,6%) indivíduos dos trabalhadores do sexo masculino, na indústria 2, apresentam excesso de peso. O estudo mostra, também, que apenas 165 (37%) dos trabalhadores tem por hábito a prática de atividade física.

Na Tabela 2 pode-se observar as características ocupacionais e extraocupacionais dos trabalhadores. O regime de trabalho de 376 (84,4%) trabalhadores é administrativo, enquanto que 68 (15,2%) trabalham em horário de turno e para 2 (0,4%) não se tem informação.

O tempo total de trabalho formal mais informal, destes trabalhadores é, em média, 12,6 anos (dp=7,1 anos). O tempo de trabalho médio na empresa foi de 63,3 meses (dp=48,6 meses), sendo que a maior média 80,5 meses (dp=53,9 meses) é registrada para as mulheres da indústria 1.

Em média, as horas trabalhadas na empresa, na última semana anterior à aplicação do questionário foi de 44,1 horas (dp=6,2 horas). Quatrocentos e vinte e um trabalhadores (94,4%) fazem horas extras, sendo que os homens, 117 (95,1%), da empresa 1 são os que mais realizam estas. Em relação às horas de trabalho doméstico, também na última semana anterior a aplicação do questionário a média foi 12,1 horas (dp= 10,6 horas). As mulheres registraram os maiores valores, tanto

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na indústria 1, 17,0 horas (dp= 10,1 horas), quanto na indústria 2, 18,8 horas (dp= 10,0 horas).

A Tabela 3 apresenta a prevalência de dor ou desconforto nos últimos doze meses e de distúrbios musculoesqueléticos – DME, em alguma região do corpo (membros, superiores, membros inferiores ou coluna) e na região lombar. Os valores encontrados foram, respectivamente, de 86,5% e 80,6% para casos gerais de dor ou desconforto nos últimos 12 meses em alguma região do corpo e para casos específicos de DME. A prevalência de lombalgia observada para os trabalhadores de indústrias calçadistas foi elevada tanto para casos gerais de dor na região lombar (40,8%) como para casos específicos de DME na região lombar (31,6%), considerando os critérios de gravidade.

Pela Tabela 4, observa-se que a indústria 1 apresenta maiores demandas para as seguintes variáveis relacionadas à postura: executando movimentos repetitivos com as mãos 4,3 (dp=1,4), em pé 3,3 (dp=2,2), com o tronco rodado 3,3 (dp=1,9) e, para ritmo de trabalho 3,7 (dp=1,0). Já a indústria 2 registra as maiores demandas para as variáveis executando movimentos repetitivos com as mãos 3,8 (dp=1,8), em pé 3,5 (dp=2,0), e, ritmo de trabalho 3,4 (dp=1,1).

Na Tabela 5 estão apresentados os escores de demanda psicológica, controle e suporte social no trabalho. Observou-se um escore mais elevado para demanda psicossocial entre os trabalhadores da indústria 1 33,6 (dp=6,0). Os trabalhadores da indústria 2 registram maior controle sobre o trabalho 60,2 (dp=10,5). Estes últimos registram, também, o maior escore médio para suporte social 22,9 (dp=3,3).

Quando a análise é feita por ocupação (Tabela 6), observa-se que os trabalhadores do administrativo apresentam maiores demandas para posturas em pé 4,3 (dp=1,1), e andando 3,7 (dp=1,5). Os trabalhadores da manutenção apresentam maiores demandas para as posturas em pé 4,1 (dp=1,3), andando 3,5 (dp=1,5) e, para ritmo de trabalho 3,5 (dp=1,0). Já os trabalhadores da confecção registram maiores demandas para movimentos repetitivos com as mãos 4,6 (dp=1,2), com o tronco rodado 3,2 (dp=2,0) e, para o ritmo de trabalho 3,6 (dp=1,1).

Na Tabela 7 estão apresentados os escores de demanda psicológica, controle e suporte social no trabalho, por ocupação. Observou-se um escore médio mais elevado para demanda psicossocial entre os trabalhadores da confecção 33,7

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(dp=6,0). Os trabalhadores do administrativo registram maior controle sobre o trabalho 67,6 (dp=8,5). Já o maior escore para suporte social é registrado para a categoria de trabalhadores da manutenção 24,2 (dp=3,7).

Na Tabela 8 encontram-se os resultados da análise fatorial para as variáveis relacionadas à postura, força muscular, manuseio de carga e pressão física. Estes três fatores explicam 54% da variabilidade total dos dados. Pelo resultado das cargas fatoriais apresentadas nesta tabela, é possível identificar o Fator 1 como “manuseio de carga”; Fator 2 como “trabalho sentado com repetitividade”; e Fator 3 como “trabalho em pé, com tronco rodado”.

Os valores das razões de prevalência estão apresentados na Tabela 9, juntamente com os intervalos de 95% de confiança. Por estes resultados pode-se observar a forte associação da lombalgia à pressão do tempo, demanda psicossocial e trabalho sentado com repetitividade. Associação positiva, também, é percebida para as variáveis medida da circunferência abdominal, ritmo de trabalho, IMC e tempo de trabalho doméstico na ultima semana.

Na Tabela 10 são apresentadas as razões de prevalência ajustadas para lombalgia e variáveis do modelo final. A partir destes resultados pode-se observar que a lombalgia foi 1,52 vezes mais frequente entre os indivíduos com maior medida de circunferência abdominal do que os não expostos, controlada pela variáveis demanda psicossocial e trabalho sentado com repetitividade. Observa-se também que os expostos à maior demanda psicossocial possuem uma prevalência de lombalgia de 1,43 vezes maior que os não expostos, controlada pelas outras variáveis. Finalmente, os trabalhadores que executam suas atividades na posição sentada, com repetitividade, têm uma frequência para a lombalgia de 1,36 vezes maior que aqueles que em oposição têm um trabalho mais dinâmico, ou seja, variando as posições entre andando, agachado, em pé, controlada pelas outras variáveis.

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Tabela 1 – Características sociodemográficas, de hábitos de vida, por indústria e sexo, em Trabalhadores da Indústria de Calçados, Bahia, 2012.

Variáveis n = 446 (%) Total Masc Indústria 1 Fem Masc Indústria 2 Fem

Sociodemográficas e de hábitos de vida

Idade, em anos (média;dp) 28,0; 6,4 28,4;6,7 31,5; 6,7 28,7; 6,4 28,8; 5,3 Natural de (Estado) Bahia 430 (96,4) 120 (97,6) 113 (97,4) 90 (94,7) 107 (95,5) Paraná 1 (0,2) 1 (0,9) R. G. do Norte 1 (0,2) 1 (1,1) R. G. do Sul 7 (1,6) 1 (0,9) 3 (3,2) 3 (2,7) São Paulo 6 (1,4) 3 (2,4) 1 (0,9) 1 (1,1) 1 (0,7) Em branco 1 (0,2) 1 (0,9) Cor da pele Branca 56 (12,6) 8 (6,5) 7 (6,0) 22 (23,2) 19 (17,0) Preta 145 (32,6) 55 (44,7) 43 (37,1) 21 (22,1) 26 (23,2) Amarela 5 (1,1) 2 (1,6) 3 (2,7) Parda 229 (51,3) 57 (46,3) 65 (56,0) 47 (49,5) 60 (53,6) Indígena 10 (2,2) 1(0,9) 5 (5,3) 4 (3,6) Em branco 1 (0,2) 1 (0,8) Escolaridade < Ensino Médio 97 (21,8) 21 (17,1) 14 (12,1) 39 (41,1) 24 (21,4) ≥ Ensino Médio 348 (78,0) 101 (82,1) 102 (87,9) 57 (58,9) 88 (78,6) Em branco 1 (0,2) 1 (0,8) Situação Conjugal Casado/Vive junto 266 (59,6) 65 (52,8) 72 (62,1) 62 (65,3) 67 (59,8) Solteiro 166 (37,3) 55 (44,8) 39 (33,6) 33 (34,7) 39 (34,8) Separado/divorciado/desquitado 14 (3,1) 3 (2,4) 5 (4,3) 6 (5,4) Filho(s) Não 206 (46,2) 65 (52.8) 46 (39.7) 51 (53,7) 44 (39,3) < 2 anos 43 (9,6) 14 (11,4) 8 (6,9) 12 (12,6) 9 (8,0) ≥ 2 anos 194 (43,5) 43 (35,0) 61 (52,5) 32 (33,7) 58 (51,8) Em branco 3 (0,7) 1 (0,8) 1 (0,9) 1 (0,9) Hábito de fumar Sim 11 (2,5) 5 (4,1) 0 (0,0) 5 (5,3) 1 (0,9) Não 435 (97,5) 118 (95,9) 116 (100,0) 90 (94,7) 111 (99,1) Consumo de bebida alcoólica

< 1 vez/semana 364 (81,6%) 84 (68,3) 99 (85,3) 74 (77,9) 107 (95,5) ≥ 1 vez/semana 82 (18,4) 39 (31,7) 17 (14,7) 21 (22,1) 5 (4,5) Medida da circunferência abdominal, em centímetros (média;dp) 83,1;9,8 81,6;11,8 84,8;8,1 83,9;8,5 82,4;10,0 IMC Baixo Peso 37 (8,3) 16 (13,0) 6 (5,2) 4 (4,2) 11 (9,8) Normal 220 (49,4) 62 (50,4) 58 (50,0) 41 (43,2) 59 (52,7) Sobrepeso 149 (33,5) 34 (27,6) 45 (38,7) 41 (43,2) 29 (25,9) Obesidade 39 (8,8) 11 (9,0) 6 (5,2) 9 (9,4) 13 (11,6) Em branco 1 (0,9)

Prática de atividade física

Sim 165 (37,0) 72 (58,5) 17 (14,7) 59 (62,1) 17 (15,2) Não 281 (63,0) 51 (41,5) 99 (85,3) 36 (37,9) 95 (84,8)

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Tabela 2 - Características ocupacionais e extraocupacionais, por indústria e sexo, em Trabalhadores da Indústria de Calçados, Bahia, 2012.

Tabela 3 – Prevalência de dor e desordem musculoesqueléticas, em alguma região do corpo e na região lombar, em Trabalhadores da Indústria de Calçados, Bahia, 2012. (N=446)

Segmento do corpo Dor nos últimos doze meses DME*

n % n %

Em alguma região do corpo (membros, superiores,

membros inferiores ou coluna) 386 86,5 249 80,6

Região lombar 182 40,8 141 31,6

*DME nos últimos doze meses com duração de pelo menos uma semana ou com frequência mínima mensal que motivou procurar o médico ou afastar-se do trabalho ou mudar de trabalho, com severidade grau 3 ou mais em escala de 0 a 5.

Variáveis n = 446 (%) Total Masc Indústria 1 Fem Masc Indústria 2 Fem

Ocupacionais e extraocupacionais Regime de Trabalho Turno fixo 68 (15,2) 34 (27,6) 12 (10,3) 9 (9,5) 13 (11,6) Horário administrativo 376 (84,4) 89 (72,4) 103 (88,8) 85 (89,4) 99 (88,4) Em branco 2 (0,4) 1 (09) 1 (1,1) Hora Extra Sim 421 (94,4) 117 (95,1) 105 (90,5) 91 (95,7) 108 (96.4) Não 22 (4,9) 5 (4,1) 10 (8,6) 3 (3,2) 4 (3,6) Em branco 3 (0,7) 1 (0,8) 1 (0,9) 1 (1,1)

Tempo total de trabalho formal +

informal em anos (média;dp) 12,6;7,1 12,9;6,9 12.5;6,6 15,2;7,8 10,2;6,2 Tempo de trabalho na empresa em

meses (média;dp) 63,3;48,6 59,2;40,7 80,5;53,9 63,5;54.4 49,6;40,4 Horas de trabalho na empresa na

última semana (média;dp) 44,1;6,2 44,8;6,1 44,4;4,2 44,8;5,0 42,2;8,5 Horas de trabalho doméstico na

(35)

Tabela 4 – Demandas físicas no trabalho, por indústria, em Trabalhadores da Indústria de Calçados, Bahia, 2012.

Variáveis de demanda física Indústria 1 (n=238) (média;dp) Indústria 2 (n=207) (média;dp)

Posturas

Sentada 1,8;2,2 2,1;1,8

Em pé 3,3;2,2 3,5;2,0

Andando 1,7;1,9 2,1;1,8

Agachada 1,3;1,6 0,9;1,3

Com o tronco inclinado para frente 1,9;1,9 2,0;1,8

Com o tronco rodado 3,3;1,9 2,4;1,9

Braços acima dos ombros 0,4;1,1 0,4;0,9

Movimentos repetitivos com as mãos 4,3;1,4 3,8;1,8 Movimentos precisos e muito finos 2,7;2,2 2,4;2,0 Ritmo de trabalho

Pressão do tempo 2,8;1,5 2,2;1,5

Ritmo 3,7;1,0 3,4;1,1

Pausa para descanso 2,2;2,0 2,1;2,0

Força muscular

Força muscular nos braços ou mãos 2,9;1,5 1,9;1,6 Manuseio de carga

Levantar 2,1;2,0 1,2;1,6

Puxar 1,8;2,0 0,8;1,4

Empurrar 1,9;2,0 0,7;1,4

Tabela 5 – Distribuição de escores por indústria, para demanda psicológica, controle e suporte social no trabalho em Trabalhadores da Indústria de Calçados, Bahia, 2012.

Variáveis de demanda psicossocial Indústria 1 (n=238) (média;dp) Indústria 2 (n=207) (média;dp)

Demanda Psicológica 33,6;6,0 31,9;5,7

Controle 59,0;8,7 60,2;10,5

(36)

Tabela 6 – Demandas físicas no trabalho, por ocupação, em Trabalhadores da Indústria de Calçados, Bahia, 2012.

Variáveis de demanda física Administrativo (n=84)

(média;dp) Manutenção (n=30) (média;dp) Confecção (n=332) (média;dp) Posturas Sentada 0,8;1,2 1,0;1,3 2,1;2,3 Em pé 4,3;1,1 4,1;1,3 3,1;2,3 Andando 3,7;1,5 3,5;1,5 1,3;1,6 Agachada 1,6;1,4 2,2;1,4 0,9;1,5

Com o tronco inclinado para frente 1,6;1,6 2,1;1,5 2,1;1,9

Com o tronco rodado 1,8;1,7 2,7;1,6 3,2;2,0

Braços acima dos ombros 0,5;1,0 1,1;1,6 0,3;0,9 Movimentos repetitivos com as mãos 2,6;1,9 3,1;1,9 4,6;1,2 Movimentos precisos e muito finos 1,4;1,5 2,1;2,0 2,9;2,1 Ritmo de trabalho

Pressão do tempo 2,2;1,5 2,5;1,5 2,6;1,5

Ritmo 3,4;0,9 3,5;1,0 3,6;1,1

Pausa para descanso 2,5;2,1 2,7;2,1 2,0;2,0

Força muscular

Força muscular nos braços ou mãos 1,9;1,4 3,0;1,0 2,6;1,7 Manuseio de carga

Levantar 1,9;1,6 2,8;1,2 1,5;1,9

Puxar 1,4;1,5 2,0;1,5 1,5;1,9

Empurrar 1,3;1,4 2,6;1,7 1,3;1,9

Tabela 7 – Distribuição de escores por ocupação, para demanda psicológica, controle e suporte social no trabalho em Trabalhadores da Indústria de Calçados, Bahia, 2012.

Variáveis de demanda psicossocial

Administrativo (n=84) (média;dp) Manutenção (n=30) (média;dp) Confecção (n=332) (média;dp) Demanda Psicológica 29,9;5,0 30,9;5,7 33,7;6,0 Controle 67,6;8,5 63,2;8,6 57,2;8,8 Suporte Social 23,6;2,5 24,2;3,7 22,1;3,3

(37)

Tabela 8 – Resultado da análise fatorial para as variáveis relacionadas à postura, força muscular, manuseio de carga e pressão física.

Variáveis 1 Componentes 2 3

Sentado -0,306 0,697 -0,584

Em pé 0,330 -0,666 0,603

Andando 0,330 -0,615 -0,289

Agachado 0,578 -0,355 0,065

Com o tronco inclinado para a frente 0,264 0,290 -0,034

Com o tronco rodado 0,268 0,411 0,480

Com os braços acima da altura dos ombros 0,307 -0,179 -0,141 Fazendo movimentos repetitivos com as mãos 0,023 0,619 0,441 Fazendo movimentos precisos e muito finos 0,152 0,481 0,327 Força muscular nos braços ou mãos 0,620 0,301 -0,004

Levantar 0,747 0,160 -0,239

Puxar 0,806 0,099 -0,194

Empurrar 0,801 0,120 -0,215

Pressão física exercida com as mãos 0.357 0.495 0.193

Tabela 9 – Análise Univariada – razão de prevalência entre lombalgia e variáveis

sociodemográficas, de hábitos de vida, ocupacionais, de demanda física e de demanda psicossocial em Trabalhadores da Indústria de Calçados, Bahia, 2012.

Variável RP IC 95%

Medida da circunferência abdominal 1,93 (1,14;3,26)

Idade 1,32 (0,86;2,04)

Escolaridade 1,10 (0,65;1,84)

Situação conjugal 1,14 (0,73;1,77)

Filhos menores de 2 anos de idade 1,04 (0,50;2,13)

Tabagismo 0,21 (0,01;1,61)

Bebida alcoólica 0,69 (0,44;1,08)

Horas trabalhadas na última semana 1,10 (0,69;1,74)

Horas extras 0,84 (0,32;2,22)

Tempo de trabalho na empresa 1,24 (0,77;2,00)

Tempo total de trabalho 1,07 (0,65;1,76)

Pressão do tempo 2,56 (1,59;4,14)

Ritmo de trabalho 1,83 (1,17;2,85)

Índice de massa corpórea – IMC 1,62 (1,05;2,51)

Tempo de trabalho doméstico na última semana 1,59 (1,02;2,46)

Atividade física 1,01 (0,64;1,62)

Demanda Psicossocial 2,02 (1,29;3,15)

Fator 1 – Manuseio de carga 1,35 (0,88;2,09)

Fator 2 – Trabalho sentado com repetitividade 2,19 (1,41;3,42) Fator 3 – Trabalho em pé, com tronco rodado 1,22 (0,73;2,83)

Referências

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