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ATERRO SANITÁRIO DA EXTREMA - PORTO ALEGRE: CONCEPÇÃO DE PROJETO

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Academic year: 2021

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ATERRO SANITÁRIO DA EXTREMA - PORTO ALEGRE:

CONCEPÇÃO DE PROJETO

Geraldo Antônio Reichert(1)

Engenheiro Civil pela UFRGS; Especialista em Recursos Hídricos e Saneamento Ambiental e Mestrando do Programa de Pós-Graduação em Recursos Hídricos e Saneamento Ambiental, IPH/UFRGS; Engenheiro do Departamento Municipal de Limpeza Urbana (DMLU), exercendo a Chefia da Equipe de Aterros.

Ivan dos Anjos

Engenheiro Agrônomo pela UFRGS; Consultor em Meio Ambiente e Resíduos Sólidos; Diretor da PROJESUL - Consultoria em Agropecuária e Meio Ambiente Ltda.

Endereço(1): Av. da Azenha, 631 - Porto Alegre - RS - CEP: 90160-001 - Brasil - Tel: (051)

217-9111 - Fax: (051) 217-9111 - e-mail: reichert@if.ufrgs.br.

RESUMO

Neste trabalho são apresentadas as alternativas e a concepção técnica adotadas na definição do projeto executivo do Aterro Sanitário da Extrema, localizado na zona sul do município de Porto Alegre.

O local de implantação do projeto é uma antiga cava de saibreira. Assim, além da adequada destinação dos resíduos sólidos, este projeto visa também a recomposição topográfica do local. Para conformar a cava possibilitando implantar o aterro, faz-se necessário a movimentação de 228.000 m3 de material (saibro). A principal preocupação do projeto foi garantir a proteção dos recursos hídricos da região, principalmente as águas freáticas. Para que em qualquer situação se tenha uma distância mínima de 1,5 m entre o nível do lençol freático e os resíduos, sob todo o corpo do aterro foi projetado o rebaixamento do lençol freático. Um duplo sistema de impermeabilização será utilizado, composto por uma camada de argila compactada mais a colocação de uma geomembrana de PEAD (Polietileno de Alta Densidade) de 2 mm de espessura.

O líquido percolado será pré-tratado em filtro anaeróbio construído sob o próprio aterro, sendo após transportado para tratamento final em uma ETE (Estação de Tratamento de Esgotos), a uma distância de 3,5 km.

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INTRODUÇÃO

Os resíduos sólidos gerados diariamente nos centros urbanos devem ser apropriadamente dispostos enquanto que ações que visem a redução, a reutilização e a reciclagem sejam promovidas concomitantemente. O Sistema de Gerenciamento Integrado de Resíduos Sólid os adotado pelo Departamento Municipal de Limpeza Urbana de Porto Alegre, DMLU, descrito por Reichert et al. (1993) e Dutra e Ballestrin (1997), baseia-se nestes princípios de redução da quantidade de resíduos sólidos a serem enviados aos aterros sanitários. O aterro sanitário, pelo menos enquanto que novas tecnologias de destino final não surgirem como alternativa viável, é um constituinte essencial de qualquer sistema de manejo de resíduos sólidos.

Em Porto Alegre a disponibilidade de áreas para implantação de novos aterros sanitários está cada vez menor. Primeiro pela grande rigidez na avaliação das áreas potenciais visando a proteção ambiental e sanitária; segundo devido a expansão urbana, que diminui a existência de áreas de uso rural ou extensiva nas regiões metropolitanas, propícias a tais investimentos, em muitos casos eliminando-as.

A área de implantação do novo aterro, localizada no Morro da Extrema, zona sul do município, foi escolhida após um estudo de localização de áreas que envolveu um total de 11 áreas, inclusive algumas delas fora das divisas do município. Este processo teve início ainda no ano de 1992. O Aterro da Extrema é o primeiro aterro sanitário de Porto Alegre em que foi feito Estudo de Impacto Ambiental e seu respectivo Relatório, EIA/RIMA. O tempo demandado entre o início dos estudos locacionais até o efetivo início da disposição dos resíduos no aterro foi de 5 anos.

O aterro dista 35 km do centro gerador (“centro de massa” de produção de resíduos). Em função desta distância, o município será obrigado a implantar uma estação de transferência de resíduos.

Neste trabalho apresentamos a concepção e os parâmetros de projeto, bem como as medidas mitigadoras propostas, de modo a realmente confinar de maneira segura os resíduos sólidos no solo.

DESCRIÇÃO DAS CONDIÇÕES AMBIENTAIS DA ÁREA DO ATERRO

Para a descrição das condições ambientais da área do futuro aterro foram sistematizadas e interpretadas tanto as informações oriundas de referências bibliográficas, as levantadas a campo e entrevistas realizadas junto às comunidades próximas à área, quanto os dados obtidos de ensaios em laboratório. A figura 1 mostra uma vista aérea do local do empreendimento.

Analisando a direção predominante dos ventos, que interferem na dispersão de poeiras e gases gerados no aterro, temos serem leste e sudeste as direções mais freqüentes. Nestas direções não há habitações que pudessem ser afetadas pelo deslocamento de emanações do aterro.

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A precipitação média anual é de 1.347 mm/ano; e a evapotranspiração potencial é de 1.057 mm/ano. O balanço hídrico para região mostra a ocorrência de deficiência hídrica no mês de março, num total de 14,5 mm. No período de abril e maio a precipitação é maior que a evapotranspiração, ocorrendo reposição das reservas de água no solo. De julho a outubro estas reservas atingem a sua capacidade máxima, ocorrendo excedente hídrico de 304,9 mm, proporcionado por escorrimento superficial e percolação profunda. Já nos meses de novembro a fevereiro a precipitação é menor que a evapotranspiração, ocorrendo consumo das reservas de água no solo.

Figura 1: Vista aérea da área de implantação do aterro.

A geologia local é constituída basicamente pelo granito Canta Galo, com a presença de quartzo, feldspato e micas. Nas sondagens e trincheiras realizadas no interior da cava, constatou-se que o lençol freático varia de 1,0 a 2,0 m na parte com cotas mais baixas. Este elevado nível do lençol freático é devido a grande retirada de material mineral (argila e saibro) do local, resultando em verdadeiro buraco com taludes de até 40 m de altura.

Na determinação das características físicas e propriedades geotécnicas dos solos foram realizados os seguintes ensaios: granulometria com sedimentação; limites de consistência; índices físicos; compactação cisalhamento direto; permeabilidade natural “in situ”; e permeabilidade com amostra compactada. A permeabilidade natural, a uma profundidade de 2,0 m, foi de 6,3 x 10 –3 cm/s para o horizonte B, e de 5,6 x 10 –5 cm/s para o horizonte C.

Relativo à vegetação, o município de Porto Alegre encontra-se em uma condição fitofisiográfico de ecótono, materializada devido a convergência de formações florísticas de influência de outras regiões. Por tal razão, ocorre uma grande diversidade de ambientes e formações vegetais, com estrutura e composição florísticas diferenciadas, inclusive na área em questão.

Num raio de cerca de cinco quilômetros a partir da saibreira encontram-se os seguintes tipos de vegetação: mata higrófila (mata alta); mata psamófila (mata de restinga); banhados e juncais; vegetação campestre; formações secundárias (capoeiras); e mata mesohigrófila (vegetação

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intermediária). No entanto, devido ao fato de a área já ter sofrido a ação do homem, através da retirada do saibro, a vegetação original foi toda removida da cava, restando apenas um cinturão nas cercanias das bordas. Esta vegetação remanescente, juntamente com o plantio de espécies nativas em alguns pequenos clarões existentes, formará a cortina vegetal no entorno do aterro.

CONCEPÇÃO DE PROJETO

O projeto executivo , concluído em junho de 1995, regeu-se pelas normas e legislação ambiental e sanitária em vigor, lastrado pelos levantamentos feitos a campo, e em acordo com as recomendações e medidas mitigadoras propostas pelo EIA / RIMA.

Para a atender o acima exposto, o projeto definiu todos elementos comuns a qualquer outro aterro sanitário. Foi previsto o cercamento de toda área do aterro com uma cerca de tela com 2 m de altura, além da implantação de uma cortina vegetal com espécies nativas. Na realidade, esta cortina vegetal trata-se apenas de um reforço na plantio em algumas áreas nas cercanias do aterro, visto que o local já apresenta uma densa vegetação natural em seu entorno. Um portão de entrada para inspeção e controle dos resíduos, bem como uma balança eletrônica interligada a um microcomputador para a pesagem e identificação de todos os resíduos a serem dispostos, também foram previstos. As instalações de apoio como escritório, guarita, vestiários, refeitório e almoxarifado têm uma área total de 140 m2.

A impermeabilização da base do aterro, o sistema de drenagem e tratamento dos líquidos percolados e as soluções adotadas para a proteção das águas subterrâneas serão discutidas com maior ênfase no item especificações dos principais elementos de projeto.

O sistema de drenagem superficial tem por objetivo impedir que a água proveniente de escorrimento superficial e das precipitações pluviométricas atinjam a área do depósito de resíduos, infiltrando na massa de lixo, e por conseqüência, gerando grandes volumes de líquidos percolados. A localização do Aterro da Extrema, em cava de extração de saibro, associado à forma final que apresentará, é privilegiada quanto à drenagem superficial. A topografia do terreno que circunda a cava existente é muito favorável quanto à área de contribuição de água de escorrimento. Assim, apenas uma pequena fração, localizada a nordeste, contribui para que a água da chuva escorra para dentro do aterro. Neste local foi previsto um dreno, com declividade de 0,003 m/m, desaguando na mata existente ao sul. Em toda confrontação sul da área, o sentido de escoamento é do aterro para fora, e nas confrontações ao norte e a oeste, correspondente à Estrada do Espigão, a água da chuva é conduzida pela vala de drenagem da própria estrada.

O sistema de drenagem de gás é o sistema convencional de tubos de concreto de 60 cm de diâmetro, perfurados, colocados verticalmente desde a base do aterro até imediatamente abaixo da camada de cobertura final, distantes uns dos outros de 50 m. Após a colocação dos tubos, em seu centro será colocado um tubo de polietileno perfurado de 100 mm de diâmetro, sendo o espaço restante preenchido com brita no 4. No final da tubulação de polietileno, já sobre a camada de cobertura final, será instalado um “flare” para promover a queima dos gases gerados.

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Os resíduos serão dispostos e compactados utilizando a compactação em rampa, com declividade de 3(H):1(V), utilizando-se trator de esteiras de 16 a 18 toneladas. A compactação será feita com quatro passadas sucessivas do trator. A altura da rampa varia de 3 a 5 m, dependendo da altura de cada patamar. Após o encerramento da disposição de resíduos, diariamente será colocada uma cobertura de 20 cm de saibro, proveniente do próprio local. Este mesmo material também é utilizado para a manutenção dos acessos internos, pois trata-se de excelente material para este fim.

Para um aporte diário previsto de 400 t/dia de resíduos sólidos, a vida útil do aterro calculada é de aproximadamente 6 anos. Para permitir a instalação das obras de infra-estrutura básica, como impermeabilização de base, primeiro é necessário fazer a regularização do piso, ou fundo, da saibreira. Para fazer esta regularização do fundo, e da recomposição dos taludes, será necessária uma movimentação de 228 mil metros cúbicos de terra. De modo a maximizar o volume útil, e consequentemente a vida útil, cerca de 70 mil metros cúbicos de saibro podem ser retirados, e utilizados na manutenção das estradas vicinais, sem pavimentação, da região. O restante do material escavado, terá sua utilização na regularização do fundo, na recomposição dos taludes e, principalmente, na cobertura diária dos resíduos.

Como a cava resultante da extração de saibro encontra-se em uma meia encosta de morro, apresentando variação irregular na configuração das cotas de fundo, a fim obter o maior volume útil possível e proporcionar condições de operação adequadas, primeiramente o fundo deve ser escavado em forma de patamares, com diferença de cotas de 3 a 5 m, dependendo do patamar. A conformação do fundo na forma de patamares é mostrada na figura 2. A diferença de cotas do patamar de cota mais baixa ao de maior cota é de 37 m. Cada patamar tem declividade de 0,005 m/m no sentido do patamar de jusante. A cota final máxima, após a colocação dos resíduos será de 145 m, sendo de 45 m a maior altura de resíduos dispostos. Após o encerramento, uma cobertura final de 70 cm de argila será colocada sobre o aterro. A declividade final do talude de cada patamar é de 2(H):1(V), sendo o recuo entre patamares de 5 m. Sobre esta cobertura final, uma camada de 30 cm de solo orgânico com o plantio de gramíneas será feito, que juntamente com a construção dos drenos de água pluvial, terá como função o controle da erosão superficial.

Figura 2: Corte longitudinal mostrando a conformação da base após a regularização (patamares), e topografia após o encerramento do aterro.

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Desta forma, se fará a recomposição topográfica e paisagística do local onde antes havia uma grande buraco resultante da extração de saibro, com taludes verticais de até 40 m de altura, sofrendo forte ação da erosão hídrica, o que ocasionava desmoronamentos perigosos, sendo que alguns taludes se encontram a apenas alguns metros da Estrada do Espigão, que faz divisa ao norte com a área do aterro. Esta recomposição paisagística, devolverá ao morro uma configuração topográfica próxima a original. Esta prática, de instalar aterros sanitários em locais já degradados por extração de materiais minerais como argila ou saibro, já foi adotada pelo DMLU anteriormente no Aterro Sanitário Três Meninas, e por mostrar-se eficiente na recuperação de tais locais, desde que tomadas todas as medidas de proteção ambiental, foi também adotada no Aterro da Extrema.

ESPECIFICAÇÃO DOS PRINCIPAIS ELEMENTOS DE PROJETO

Cada projeto de aterro sanitário tem suas próprias especificidades, dependendo do local de sua implantação. No caso do Aterro da Extrema, a principal preocupação do DMLU e dos projetistas foi a preocupação com a proteção dos recursos hídricos da região. Para tanto um especial cuidado foi tomado quanto aos sistemas de impermeabilização da base e de drenagem e tratamento de líquidos percolados. Estes elementos passarão a ser descritos a seguir. Uma representação do perfil transversal do aterro pode ser visualizado na figura 3.

a) Rebaixamento do lençol freático:

Para garantir o afastamento mínimo de 1,50 m do lençol freático até a massa dos resíduos foi projetado um sistema de rebaixamento do lençol freático em toda a base do aterro. A metodologia utilizada para o cálculo desta rede de drenagem foi a das relações adimensionais de MecClelland, que relaciona as características físicas do fluxo do lençol com as características físicas do solo. Partindo do valor de k (coeficiente de permeabilidade), definido pelos ensaios geotécnicos como 5,6 x 10 –5 cm/s, conclui-se que com um espaçamento de 45 m entre drenos de 1,50 m profundidade, o menor rebaixamento verificado entre os drenos é de 0,55m, após um período de 30 dias. Cabe salientar que o rebaixame nto mínimo de 0,55 mais a espessura da camada de impermeabilização deverá somar, no mínimo, 1,50 m, o que já define a espessura desta última em 0,95 m, no mínimo. A figura 4 mostra a disposição dos drenos sob a camada impermeabilizante, e a forma final do nível do lençol freático.

Com estes dados, projetou-se a rede de drenagem subterrânea para o rebaixamento do lençol freático, lançando-se, primeiramente, uma linha de drenagem contornando as laterais de cada patamar, visando a captação da água freática que verte de fora para dentro da cava. Nos patamares de maior área, onde a distância entre cada dreno de contorno lançado excedia a 45 m, foram projetados segmentos internos, visando a manutenção do espaçamento máximo admissível.

Pela mesma metodologia anterior, a vazão encontrada é de 0,0341 m3/m/dia (metros cúbicos por metro linear de dreno por dia). Os 2.130 m de drenos são constituídos de tubo de concreto perfurado de 0,10 m de diâmetro, com declividade de fundo de 0,0001 m/m, sendo a vazão na saída do sistema de 0,84 l/s. Sobre os drenos foi dimensionada uma altura de brita no 01 de

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0,30 m, e sobre esta o revestimento com geotextil (filtro) para diminuir a possibilidade de colmatação dos tubos perfurados.

Todo sistema de rebaixamento do lençol freático converge para saída em um único ponto, sendo que este escoamento é natural, isto é, por gravidade, sem a utilização moto-bombas, uma vez que a topografia do local o permite.

Figura 3: Corte transversal típico do Aterro da Extrema.

b) Sistema de impermeabilização da base do aterro:

O sistema de impermeabilização em aterros sanitários objetiva impedir a infiltração no solo do chorume produzido pela decomposição da massa de resíduos e dos líquidos percolados provenientes da infiltração de água da chuva no corpo do aterro.

Para a impermeabilização da base do aterro duas alternativas tecnicamente viáveis foram cotejadas: a impermeabilização com 1,0 m de argila compactada com coeficiente de permeabilidade igual ou menor a 10 –6 cm/s e a colocação de geomembrana sintética. A área de fundo do aterro a ser impermeabilizada é de 37.140 m2, sendo o volume requerido para transporte igual a 55.430 m3, considerando o empolamento na escavação da jazida e a redução de volume na compactação.

Figura 4: Sistema de rebaixamento do nível do lençol freático sob o aterro.

No caso de uso da argila compactada, se este material for extraído das proximidades do local, como o horizonte B da própria saibreira, o custo de impermeabilização da base será de R$ 131.000,00. Se a argila tiver que ser adquirida de distâncias maiores, este custo atingirá R$ 310.000,00.

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Para efetuar a mesma impermeabilização com geomembrana de PEAD (Polietileno de Alta Densidade) de 2 mm de espessura, o custo seria de R$ 480.000,00, incluindo-se aí os custos da geomembrana, sua colocação, e a disposição de uma camada de proteção de saibro sobre a geomembrana.

Na impermeabilização dos taludes optou-se pela geomembrana de PEAD de 2 mm de espessura devido às características da área do aterro. A impermeabilização com o emprego de camada de argila com espessura adequada, e devidamente compactada, é inviável tecnicamente, dada a elevada inclinação dos taludes. A área total de taludes a serem revestidos, taludes entre patamares e taludes laterais, será de 20.500 m2, o que implicará em um custo de revestimento de R$ 300.000,00. O ancoramento da geomembrana na parte superior dos taludes será feito em trincheiras de seção quadrada de 30 cm de lado, afastadas cerca de 60 cm da crista do talude. O reaterro destas trincheiras será realizado com o próprio material retirado quando da escavação da trincheira, devidamente compactado.

Assim, em termos de segurança ambiental, apesar da geomembrana ser a melhor alternativa técnica para impermeabilização de aterros, sua utilização, no aterro em questão, implicaria em um acréscimo significativo no custo de implantação, se comparado com a utilização de argila existente nas proximidades. Por esta razão, na versão original do projeto, optou-se pela utilização de um sistema de impermeabilização constituído por camada de argila compactada de 1,0 m de espessura com coeficiente de permeabilidade k = 10 –6 cm/s no fundo de cada patamar do aterro. Para os taludes, pelas razões expostas acima, adotou-se a geomembrana. No entanto, a FEPAM – Fundação Estadual de Proteção Ambiental do Rio Grande do Sul, condicionou a emissão da Licença de Instalação (LI) à adoção de um sistema duplo de impermeabilização, exigindo além da camada de argila de 1,0 m de espessura, a colocação da geomembrana de 2 mm no fundo do aterro, o que efetivamente foi feito pelo DMLU na fase de implantação do aterro. A figura 5 mostra em detalhe a impermeabilização do aterro.

Sobre a geomembrana de PEAD disposta na base do aterro foi dimensionada uma camada de saibro de 15 cm, retirado da própria cava, protegendo-a contra materiais pontiagudos presentes nos resíduos ou dos equipamentos utilizados na operação diária do aterro. Nos taludes, como a fixação de material granular é impossível devido à falta de aderência com a manta de PEAD, um geotextil de 4 mm de espessura será utilizado.

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Figura 5: Detalhe da colocação de geomembrana de PEAD no Patamar 93 e compactação da argila no patamar de montante.

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c) Sistemas de drenagem e de tratamento dos líquidos percolados:

O sistema de drenagem dos líquidos percolados objetivará retirar do corpo do aterro o chorume e os líquidos provenientes da infiltração da água de chuva, que estarão confinados pela impermeabilização do sistema, encaminhando-os ao sistema de tratamento, que visará a redução da carga orgânica do percolado, tornando possível a emissão para os mananciais hídricos naturais, dentro dos padrões estabelecidos pela legislação.

Para o Aterro da Extrema, a geração de percolados ocorrerá em duas situações distintas: a primeira durante a operação do aterro e a segunda, após seu encerramento. No primeiro caso o fenômeno estará condicionado pela forma de disposição dos resíduos, durante a operação, em patamares. A cobertura diária das células, com camada de saibro de pequena espessura, sem função de impermeabilização, permitirá a infiltração da água da chuva na massa de resíduos. A segunda situação dependerá da eficiência da camada de cobertura final de resíduos. Quanto maior for o grau de impermeabilização que esta propiciar, menor será o volume de água que infiltrará nos resíduos.

A vazão calculada para a primeira situação, ou seja, a quantidade de água a infiltrar-se na massa de resíduos durante a operação do aterro, foi obtida pela seguinte metodologia: como, durante a operação do ate rro, a maior infiltração de água ocorrerá no patamar de disposição de maior área, que englobará 2,77 ha, os cálculos foram efetuados para o patamar de cota 115 (cota referente a camada impermeabilizante de argila).

Considerando a pior situação, que é a ocorrência de uma chuva crítica sobre o maior patamar sem a cobertura final de argila (isto é, durante a fase de operação) haverá uma vazão máxima de percolado de 80 l/s. Esta vazão foi tomada para o dimensionamento do sistema de drenagem de percolados, adotando-se ainda uma margem de segurança para compensar a possível perda da altura da brita que poderá penetrar na camada de saibro, e a perda devido à colmatação física e biológica da seção útil do dreno. Nestas condições, a espessura calculada para o colchão drenante de brita no 4 foi de 20 cm.

A vazão de percolado após a cobertura final foi obtida pelo método do balanço hídrico aplicado à região, obtendo-se uma vazão de 0,89 l/s. Os líquidos percolados a serem gerados nos nove patamares do aterro serão conduzidos por gravidade até o patamar 93 (patamar mais baixo, na cota 93). Este patamar, com aproximadamente 1 (um) ha, foi dimensionado para operar também como filtro anaeróbio, a ser construído sob a massa de resíduos, com o objetivo de garantir a redução da carga orgânica do percolado a níveis dos padrões de emissão.

O patamar de cota 93, por estar confinado, transformar-se-á em um reservatório para acúmulo do excesso de percolados a serem eventualmente gerados no aterro, permitindo assim, que através de registros a serem instalados na estação de bombeamento, seja controlada a vazão do eventual excesso. O confinamento deste patamar ocorrerá, em parte pelo talude natural e pelo dique de argila a ser construído na parte mais a jusante, a oeste do aterro. A cota superior mínima deste sistema a jusante será 97.

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A altura do leito de brita do patamar 93, filtro anaeróbio, será de 40 cm. Para a vazão de projeto de 0,89 l/s, o tempo de detenção hidráulica será de 33 dias. O rendimento na eficiência da redução da carga orgânica de percolado dependerá de inúmeros fatores de difícil controle em aterros sanitários. A carga orgânica afluente, a vazão, a temperatura, o pH, entre outros, poderão apresentar grande variação ao longo do tempo, tendo influência direta na eficiência do filtro. Devido ao elevado tempo de detenção, espera-se um rendimento na faixa de 80 % de redução.

Além do filtro anaeróbio, o sistema de tratamento incluirá também uma estação de bombeamento e um tanque de estabilização (ou pulmão). A estação de bombeamento, com capacidade de armazenamento de três metros cúbicos, receberá percolado por duas linhas paralelas de PVC hidráulico com diâmetro de 100 mm (uma linha seria, do ponto de vista hidráulico, o suficiente, no entanto por motivo de segurança, o DMLU optou por colocar uma segunda linha paralela) que virão da caixa de passagem a ser localizada no fundo do filtro anaeróbio. Uma terceira linha procederá do fundo do tanque de estabilização. Todo o percolado a ser produzido no aterro passará pelo filtro anaeróbio e chegará a estação de bombeamento. Desta estação, haverá três caminhos possíveis para o percolado: o bombeamento para o tanque de estabilização; a recirculação para o interior do aterro e o descarte.

O tanque de estabilização projetado terá por objetivo armazenar o líquido percolado proveniente do filtro anaeróbio, equalizando suas características físico-químicas, pois uma excessiva variação destas características é indesejável quando se procede a recirculação do líquido.

Com 3 m de profundidade, este tanque terá o funcionamento semelhante ao de uma lagoa anaeróbia, contribuindo para a remoção da carga orgânica. Com volume máximo de 1.300 m3, terá capacidade para armazenamento de percolado a ser gerado durante um período de 16 dias. A eficiência estimada de redução da carga no tanque será de 50 %. O revestimento interno deste tanque também deverá ser realizado com manta PEAD 2 mm.

Duas moto-bombas serão instaladas na estação de bombeamento, devendo ser o destino do recalque definido através de um dos três registros. A decisão para o bombeamento do percolado deverá ser tomada em função de sua DQO (Demando Química do Oxigênio). Como dificilmente obter-se-á condições de emissão do efluente somente com o tratamento anaeróbio, seu tratamento final será feito em conjunto com o esgoto doméstico na Estação de Tratamento de Esgotos do Lami, que dista 3,5 km do local do aterro, e consiste de um sistema convencional de lagoas de oxidação (uma anaeróbia, uma aeróbia, e três de maturação em série), operado pelo Departamento Municipal de Águas e Esgotos.

O plano de monitoramento estabelece rotinas de amostragem de sólidos, líquidos e gases para determinação e análise dos parâmetros indicadores de processos bio-físico-químicos. O monitoramento dos sólidos e dos gases permitirá avaliar a eficiência dos processos de decomposição dos resíduos sólidos dispostos. O monitoramento de líquidos percolados será realizado através de coletas de percolado bruto, junto ao fundo do aterro, no início do patamar

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93, através de tubulação própria. O pré-tratado deverá ser coletado após a passagem pelo filtro anaeróbio, na estação de bombeamento.

O monitoramento das águas superficiais e freáticas será feito através de seis piezômetros convenientemente instalados. Além destes pontos, um outro com importância estratégica superior, será o monitoramento as saída da rede de drenagem do rebaixamento do lençol freático, onde qualquer alteração da qualidade das águas, decorrente de eventual falha no sistema de segurança, será imediatamente detectada.

CONCLUSÕES

O Aterro da Extrema será o primeiro aterro sanitário do município de Porto Alegre inteiramente planejado, seguindo todas as prerrogativas legais e técnicas, incluindo estudos locacionais, EIA/RIMA e projeto executivo, com as respectivas licenças ambientais.

A concepção do Aterro Sanitário da Extrema contempla um aspecto fundamental quando buscamos minimizar os impactos negativos que um aterro necessariamente produz. Por que degradar uma nova área, se podemos localizar futuros aterros em áreas já impactadas, como pedreiras, saibreiras ou argileiras? Neste sentido, o projeto do Aterro da Extrema buscará minimizar os impactos negativos, através da série de medidas descritas, aliado a recuperação ambiental de uma área previamente degradada pela extração desordenada de saibro.

Por último, mas não menos importante, é notório que na maioria das vezes não existem sítios que atendam integralmente os critérios estabelecidos para a localização de áreas para aterros. Portanto, as limitações naturais destas áreas deverão ser identificadas e medidas mitigadoras dos impactos deverão ser propostas (pelo EIA/RIMA). Tais medidas deverão então ser estudadas e detalhadas pelo projeto executivo para posterior integral implantação pelo empreendedor. Se assim não ocorrer, estaremos sendo irresponsáveis para com as futuras gerações, que não terão nenhuma razão para perdoar-nos pelas montanhas de resíduos resultantes desta civilização calcada no consumismo.

O projeto descrito é portador de um compromisso ético com nossos descendentes.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

1. DUTRA, A.L., BALLESTRIN, R.A.C. Gerenciamento integrado de resíduos sólidos: modelo Porto Alegre. In 26a Assembléia Nacional da ASSEMAE. Brasília, jun., 1997. 2. Fundação Estadual de Proteção Ambiental do Rio Grande do Sul – FEPAM. Licença

de Instalação de Aterro Sanitário localizado na Estrada do Espigão, Porto Alegre. dez., 1995.

3. PROJESUL – Consultoria em Agropecuária e Meio Ambiente Ltda.. (1994). Projeto Executivo do Aterro Sanitário do Lami, Saibreira da Extrema - Bairro Lami. Vol. II-A. DMLU, Prefeitura Municipal de Porto Alegre, RS. 181 p.

4. REICHERT, G.A., et al. Gerenciamento integrado de resíduos sólidos em Porto Alegre. In I Simpósio Latino-Americano de Resíduos Sólidos. São Paulo, ago., 1993. p. 324-340.

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