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Classes Sociais em O Capital de Marx - Gustavo Machado

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Classe sociais em

Classe sociais em

O Capital 

O Capital 

 de Marx: a centralidade do

 de Marx: a centralidade do

proletariado industrial

proletariado industrial

Gustavo Henrique Lopes Machado Gustavo Henrique Lopes Machado  A

 A tarefa tarefa da da ciência ciência consiste consiste precisamente precisamente em em explicar explicar como como opera opera a a lei lei do do valor.valor. Consequentemente, se pretendemos explicar de uma só vez todos os fenômenos Consequentemente, se pretendemos explicar de uma só vez todos os fenômenos que parecem contradizer esta lei, seria necessário fazer ciência antes da

que parecem contradizer esta lei, seria necessário fazer ciência antes da ciência.ciência. Karl Marx 

Karl Marx  No

No prespresente ente artiartigo, go, pretpretendeendemos mos desedesenvolnvolver ver a a concconcepçãepção o de de clasclasses ses socisociaisais pre

presensente nas te nas obobras deras de crítica da economia políticacrítica da economia política de Marxde Marx, ou , ou sesejaja,,  Capital  Capital   e seus  e seus man

manuscuscritritos os preprepaparatratóróriosios  ! ! temtema a " " dedemasmasiadiado o ampamplo lo parpara a ser ser tratratadtado o de de mamaneineirara consistente e rigorosa em apenas um artigo Motivo pelo qual iremos nos centrar em consistente e rigorosa em apenas um artigo Motivo pelo qual iremos nos centrar em apenas dois aspectos# $% o papel central desempenhado pelo proletariado industrial na apenas dois aspectos# $% o papel central desempenhado pelo proletariado industrial na sociedade capitalista& '% a dimensão improdutiva do trabalho assalariado não produtor de sociedade capitalista& '% a dimensão improdutiva do trabalho assalariado não produtor de mercadorias

mercadorias, , comumente designado de serviçoscomumente designado de serviços (ss

(sse e temtema a " " papartirticulcularmarmenente te impimportortantante e nonos s didias as de de hojhoje e )o)omo mo se se sabsabe, e, oo marxismo surge no s"culo *+* procurando vincular a luta pelo socialismo ao proletariado e, marxismo surge no s"culo *+* procurando vincular a luta pelo socialismo ao proletariado e, par

particticulaularmermentente, , ao ao proproletletariariadado o indindustustriarial, l, o o prprododuto uto maimais s gengenu-nu-no. o. da da socsociediedadadee capitalista No entanto, a partir da segunda metade do s"culo **, quando se veri/icou uma capitalista No entanto, a partir da segunda metade do s"culo **, quando se veri/icou uma redução num"rica do proletariado industrial nos pa-ses centrais ao mesmo tempo que um redução num"rica do proletariado industrial nos pa-ses centrais ao mesmo tempo que um sig

signini/ic/icatiativo vo crecresciscimenmento to dos dos diditos tos serserviçviços, os, bem bem comcomo o uma uma didivisvisão ão intinternernaciaciononal al dodo trabalho cada ve0 mais complexa e desigualmente distribu-da entre o conjunto dos pa-ses trabalho cada ve0 mais complexa e desigualmente distribu-da entre o conjunto dos pa-ses do globo& não /oram poucos os que procuraram dissolver a especi/icidade do proletariado do globo& não /oram poucos os que procuraram dissolver a especi/icidade do proletariado industrial no conjunto dos assalariados 1ara tal, toda a complexa teia de relaç2es entre os industrial no conjunto dos assalariados 1ara tal, toda a complexa teia de relaç2es entre os diversos tipos particulares de capital /oram dissolvidas na abstrata noção de trabalho diversos tipos particulares de capital /oram dissolvidas na abstrata noção de trabalho produtor de mais3valia Nessa acepção, basta ser um trabalhador assalariado empregado produtor de mais3valia Nessa acepção, basta ser um trabalhador assalariado empregado por um capitalista que di/erença alguma existiria entre os diversos setores do proletariado e, por um capitalista que di/erença alguma existiria entre os diversos setores do proletariado e, consequentemente, nenhum papel maior estaria reservado ao proletariado industrial na consequentemente, nenhum papel maior estaria reservado ao proletariado industrial na estrat"gia da revolução

estrat"gia da revolução socialistasocialista

Nesse sentido, não se trata de uma mera questão teórica, mas de uma questão Nesse sentido, não se trata de uma mera questão teórica, mas de uma questão teórica com um signi/icativo impacto program4tico )aso não se

teórica com um signi/icativo impacto program4tico )aso não se tenha clare0a sobre o tenha clare0a sobre o tematema aqui em debate, uma organi0ação marxista corre o risco de substituir a import5ncia do aqui em debate, uma organi0ação marxista corre o risco de substituir a import5ncia do trabalho estrutural de base a partir do local de trabalho 6 portanto, lento e di/-cil 6 pela trabalho estrutural de base a partir do local de trabalho 6 portanto, lento e di/-cil 6 pela abstração do povo nas ruas.& a conquista da maior parte das massas pela classe oper4ria abstração do povo nas ruas.& a conquista da maior parte das massas pela classe oper4ria co

com m um um prprogograrama ma rerevovolulucicionon4r4rioio, , pepela la ababststraraçãção o de de um um pparartitido do de de mamassssasas. . sesemm delimitação de classe (m suma, corre3se o risco de desvincular o programa de sua delimitação de classe (m suma, corre3se o risco de desvincular o programa de sua res

respepectictiva va babase se socsocialial, , v-nv-nculculo o essesse e quque e vem vem a a ser ser exaexatamtamenente te a a espespecieci/ic/icididade ade dodo marxismo /rente as todas demais correntes utópicas

marxismo /rente as todas demais correntes utópicas  7pesar

 7pesar disso, disso, devemos devemos di0er di0er que que tal tal postura postura não não surpreendesurpreende  8 8 muito muito comum,comum, diante das di/iculdades de todos os tipos colocadas em cada per-odo histórico, que ativistas diante das di/iculdades de todos os tipos colocadas em cada per-odo histórico, que ativistas marxistas honestos, todavia, impacientes e apressados, procurem criar ou aderir 9 teorias marxistas honestos, todavia, impacientes e apressados, procurem criar ou aderir 9 teorias recon/ortantes tendo em vista seus objetivos e os meios para alcanç43lo (laboraç2es que, recon/ortantes tendo em vista seus objetivos e os meios para alcanç43lo (laboraç2es que, por meio da extração de importantes dom-nios da realidade, con/erem a ilusão de que seus por meio da extração de importantes dom-nios da realidade, con/erem a ilusão de que seus /ins possam ser atingidos de modo mais r4pido e /4cil :eria poss-vel mencionar de0enas de /ins possam ser atingidos de modo mais r4pido e /4cil :eria poss-vel mencionar de0enas de exemplos nesse sentido 1or isso mesmo, t

exemplos nesse sentido 1or isso mesmo, tais elaboraç2es e seus respectivos /ormuladoresais elaboraç2es e seus respectivos /ormuladores /a0em muito sucesso, pois correspondem ao que muitos anseiam escutar Nasce, desse /a0em muito sucesso, pois correspondem ao que muitos anseiam escutar Nasce, desse modo, um marxismo envergonhado de si mesmo, t-mido e de/ensivo ;ue tem sempre modo, um marxismo envergonhado de si mesmo, t-mido e de/ensivo ;ue tem sempre muito a di0er, mas quase nada a propor, exceto a insist<ncia na necessidade do novo =m muito a di0er, mas quase nada a propor, exceto a insist<ncia na necessidade do novo =m nov

novo o quque e eleeles s nãnão o sabsabem em expexplilicar car exaexatamtamentente e o o quque e " " :u:urgergem, m, assassimim, , segseguinuindo do aa met4/ora que >rots?@ aplicara 9 Aauts?@, verdadeiros le2es sem juba.

met4/ora que >rots?@ aplicara 9 Aauts?@, verdadeiros le2es sem juba.

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)ontra toda esta verborragia que insiste em buscar atalhos miraculosos, para nós, )ontra toda esta verborragia que insiste em buscar atalhos miraculosos, para nós, cabe examinar a realidade tal como ela " (, principalmente, ter clara consci<ncia das cabe examinar a realidade tal como ela " (, principalmente, ter clara consci<ncia das di/iculdades que esta imp2e, bem como das possibilidades reais que ela o/erece 7ntes, di/iculdades que esta imp2e, bem como das possibilidades reais que ela o/erece 7ntes, contudo, de adentrarmos no cerne de nosso tema, cabe alguns coment4rios preliminares contudo, de adentrarmos no cerne de nosso tema, cabe alguns coment4rios preliminares sobre

sobre  Capital  Capital  de Marx Livro que servir4 de base para o argumento desenvolvido ao longo de Marx Livro que servir4 de base para o argumento desenvolvido ao longo de todo artigo

de todo artigo

A importância de retomarmos

A importância de retomarmos

O CapitalO Capital

de Marx

de Marx

8 inBtil procurarmos qualquer /undamentação consistente sobre as classes sociais 8 inBtil procurarmos qualquer /undamentação consistente sobre as classes sociais na socieda

na sociedade capitalde capitalista noista no Manifesto ComunistaManifesto Comunista  !! ManifestoManifesto ", sem dBvida, um texto ", sem dBvida, um texto /undamental e imprescind-vel No entanto, a /undamentação teórica das teses l4 expostas /undamental e imprescind-vel No entanto, a /undamentação teórica das teses l4 expostas se encontra, sempre, em outro lugar 1articularmente na obra principal de Marx#

se encontra, sempre, em outro lugar 1articularmente na obra principal de Marx#  Capital  Capital  +n/el

+n/eli0mei0mente, nte, nas Bltimas d"cadasnas Bltimas d"cadas,,  Capital  Capital  /oi esquecido no interior das organi0aç2es /oi esquecido no interior das organi0aç2es marxistas, substitu-do por manuais recheados de problemas e relegado para os guetos marxistas, substitu-do por manuais recheados de problemas e relegado para os guetos aca

acad<md<micoicos s que que nenele le proprocurcuramam, , comcomumeumentente, , ququestest2e2es s absabstratratas tas e e comcomplepletamtamententee descoladas da luta de classes e da trans/ormação revolucion4ria da sociedade 7pesar de descoladas da luta de classes e da trans/ormação revolucion4ria da sociedade 7pesar de não ser um programa,

não ser um programa,  Capital  Capital  " a pedra basilar a partir da  " a pedra basilar a partir da qual /loresceu toda elaboraçqual /loresceu toda elaboraçãoão marxista que se seguiu >rata3se do maior patrimCnio teórico do movimento oper4rio 8 marxista que se seguiu >rata3se do maior patrimCnio teórico do movimento oper4rio 8 urgente resgat43lo

urgente resgat43lo

)ontudo, qual a import5ncia de se reexaminar o papel do proletariado industrial na )ontudo, qual a import5ncia de se reexaminar o papel do proletariado industrial na sociedade capitalista com base em uma obra escrita $DE anos atr4sF :eriam meros sociedade capitalista com base em uma obra escrita $DE anos atr4sF :eriam meros ap

aponontatamementntos os teteóróricicos os sesem m ququalalququer er imimplplicicaçação ão mamaioior r nonos s emembabatetes s rereaiais s quque e sese desenrolam diariamenteF )onceitos abstratos a/astados das tare/as pol-ticas concretas.F desenrolam diariamenteF )onceitos abstratos a/astados das tare/as pol-ticas concretas.F !ra, " evidente que na luta cotidiana entre as classes sociais inter/erem inumer4veis !ra, " evidente que na luta cotidiana entre as classes sociais inter/erem inumer4veis aspectos de ordens diversas# pol-ticos, ideológicos, históricos, conjunturais e assim por  aspectos de ordens diversas# pol-ticos, ideológicos, históricos, conjunturais e assim por  diante 7 an4lise empreendida por Marx em

diante 7 an4lise empreendida por Marx em  Capital  Capital  não pretende, sob nenhum aspecto, não pretende, sob nenhum aspecto, eliminar esse conjunto sempre vari4vel e presente de in/lu<ncias Não se trata

eliminar esse conjunto sempre vari4vel e presente de in/lu<ncias Não se trata dissodisso

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)omo se sabe, Marx repetiu e repetiu at" a exaustão a necessidade de se compreender primeiro as determinaç2es contidas naquele dom-nio que a tradição consagrou sob o nome de in/raestrutura., isto ", aquelas determinaç2es relacionadas 9 /orma de relacionamento entre os homens tendo em vista se apropriar da nature0a 7 vulgata stalinista, " sabido, colocou esta pedra basilar do pensamento marxista em termos de causalidade ou determinismo 7ssim concebido, todos demais aspectos da sociedade seriam dedu0idos ou causados pelo /ator econCmico !ra, para negar essa acepção stalinista 6 mec5nica, etapista e /atalista 6 a maior parte dos teóricos marxistas cometeram o erro oposto# trataram outros dom-nios da realidade como a pol-tica, a cultura ou a consci<ncia de /orma completamente autonomi0ada e separada de sua base econCmico3 social 1or isso, " necess4rio, aqui, alguns esclarecimentos no intuito de restituir a  Capital de Marx o seu devido lugar

(m verdade, o termo economia não era tomado por Marx no sentido autonomi0ado e restrito atualmente em voga (conomia signi/ica, para ele, a /orma social atrav"s da qual se e/etiva as relaç2es entre as pessoas no processo de produção Não se trata, portanto, de redu0ir as relaç2es sociais 9 categorias econCmicas, pelo contr4rio, trata3se de mostrar que as categorias econCmicas são relaç2es sociais Mas se paramos por aqui não explicamos absolutamente nada 7s relaç2es econCmico3sociais ou as relaç2es de produção expressam um tipo especi/ico e /undamental de relaç2es sociais 7s especi/icidades destas determinaç2es ditas econCmicas ou in/raestruturais " que tradu0em nexos, determinaç2es ou caracter-sticas necessárias em uma dada /orma de organi0ação social iversamente da pol-tica, do (stado, da cultura que, em uma mesma /orma de sociedade, podem se exprimir em /ormas diversas& as relaç2es de produção expressam aqueles nexos /undamentais que /a0em de uma dada /orma de sociedade aquilo que ", aquilo que ela tem necessariamente que reprodu0ir para continuar a existir 1or isso, elas não determinam unilateralmente as demais es/eras da vida social, mas constituem o ponto de partida para sua adequada compreensão

:ejamos mais precisos 7s categorias expostas em  Capital , se se quiser, estruturais, como mercadoria, valor, trabalho abstrato, dinheiro, mais3valia absoluta e relativa, cooperação industrial, classe trabalhadora e capitalista e assim por diante, expressam relaç2es necess4rias nesse modo de produção :ão elas que devem ser  destru-das pela revolução socialista e " a partir delas que as /ormas superestruturais ganham sua e/etividade, quer atuem no sentido da manutenção dessa /orma social, quer  atuem para sua dissolução 8 essa base /undamental que Marx analisa em  Capital.

(xplicar, portanto, a nature0a das classes sociais, um per-odo ou etapa histórica a partir de elementos puramente subjetivos, pol-ticos ou ideológicos constitui, e sempre constituiu, na matri0 das concepç2es burguesas e marxistas vulgares )omo na citação de Marx que usamos como ep-gra/e, os que assim procedem, procuram /a0er ci<ncia antes da ci<ncia. :eguimos, nesse caso, as lBcidas palavras do economista russo (ugen@ 1reobrajens?@#

1rocurando justi/icar suas objeç2es, meus oponentes apoiam3se sobre uma /rase que L<nin gostava de repetir, segundo a qual a pol-tica " a economia concentrada (ntretanto eles não mostram como, para compreender esta concentração, " poss-vel evitar a an4lise pr"via do que se concentra na pol-tica e resto, se lhes agradam começar a an4lise onde

habitualmente os marxistas a terminam, que tentem Nós escutamos e minha parte, permaneço no campo do marxismo e considero que " necess4rio começar a an4lise a partir  da in/ra3estrutura, a partir das regulaç2es da vida econCmica e explicar, em seguida, a necessidade de determinada pol-tica  isto ",I para somenteI em seguida, tentar  compreender por que a resultante da vida real segue precisamente tal linha e não outra J1K(!K7(N:A, $OPO, pPE%

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)ompreender, desse modo, o papel social dos distintos setores do proletariado na produção da rique0a capitalista, não assegura de antemão como tais setores irão se comportar nesse ou naquele cen4rio No entanto, indica seu papel social, isto ", como necessariamente se articulam no interior do modo de produção capitalista e, consequentemente, sua maior ou menor import5ncia estrat"gica para um partido revolucion4rio que tem em mira exatamente revolucionar esse modo de produção Motivo pelo qual pretendemos continuar com o m"todo de Marx e, antes de procurar explicar todos os /enCmenos que se passam diante de nossos olhos justapondo arti/icialmente elementos superestruturais, " necess4rio capturar o papel social de cada um dos estratos que comp2em o proletariado no interior do processo global de produção de capital

1or /im, cabe, ainda, alguns coment4rios pr"vios sobre a noção de trabalho produtivo e improdutivo em Marx )omo se sabe, " um dos temas mais pol<micos de sua obra ( isto tem sua ra0ão de ser Não existe um tratamento sistem4tico. dessa questão em lugar algum no conjunto de seus escritos (la aparece de maneira mais desenvolvida e ocupando um espaço signi/icativo no primeiro volume das !eorias de Mais"valia e no chamado )ap-tulo  #n$dito de  Capital  (m ambos os casos, a questão do trabalho produtivo e improdutivo aparece sempre a partir do di4logo com outros economistas e, como não poderia deixar de ser, a argumentação se baseia na contraposição de Marx /rente as posiç2es destes Nos %rundrisse, o tema " tratado aqui e ali de maneira esparsa e sempre remetendo a algum aspecto muito particular do problema :empre " bom lembrar  que todos estes textos são anotaç2es pessoais não destinadas 9 publicação (sse quadro  justi/ica, em grande medida, a aus<ncia de clare0a em alguns aspectos no tratamento desta

questão por Marx

4 nos tr<s livros de  Capital , em que o centro não " a pol<mica com outros autores, mas a exposição cr-tica da sociedade burguesa, não existe um só cap-tulo ou mesmo um item separado destinado a esse tema, que aparece apenas no que podemos chamar de breves digress2es de Marx re/erentes ao trabalho produtivo e improdutivo

(ssa aus<ncia de clare0a. tem sua ra0ão de ser Não existia, nos tempos de Marx, organi0aç2es socialistas que negavam a centralidade do proletariado industrial em relação ao proletariado no geral Mesmo a social3democracia dos tempos de Lenin e >rots?@ não colocavam em cheque essa questão 1or isso, at" a :egunda Guerra, escrever artigos sustentando a centralidade do proletariado industrial era, por assim di0er, chover no molhado.

Marx, por outro lado, polemi0ava com concepç2es como as de Reitiling, a?unin e lanqui que, regra geral, negavam qualquer papel /undamental ao proletariado na destruição da sociedade capitalista, seja ele industrial ou não (sses autores possu-am elaboraç2es de /undamentação moral ou "tica, sem levar em conta sua base econCmico3 social, pondo qualquer setor oprimido da sociedade como sujeitos de um processo revolucion4rio, sejam trabalhadores, camponeses, presidi4rios etc (sse " o motivo de Marx se dedicar mais a expor as di/erenças do trabalho assalariado em relação as demais classes da sociedade do que ao papel /undamental do proletariado industrial em relação ao restante do proletariado 1or outro lado, Marx polemi0ava tamb"m com autores como 7dam :mith que em sua teoria do trabalho produtivo e improdutivo levava em conta unicamente a produção de mercadorias, despre0ando se essa era produ0ida por um trabalhador direto ou sob a /orma capitalista (sse " o motivo, portanto, de Marx destacar tantas e tantas ve0es que para ser produtivo para o capital, não basta produ0ir algo material ou mesmo mercadoria, como veremos mais adiante

(5)

 1ensamos que o modo ideal de esclarecer tais quest2es " percorrermos os tr<s volumes de  Capital  explicitando o papel dos distintos estratos dos trabalhadores assalariados concomitantemente ao desdobramento das próprias categorias do modo de produção capitalista (videntemente, neste artigo, longe estamos de querer percorrer esse caminho Nos propomos, então, a examinar algumas noç2es e categorias que, pensamos, estão no cerne de toda con/usão em torno desse tema 7 começar pela categoria mercadoria

Existem mercadorias “imateriais”?

:ejamos diretos Nos dias de hoje e nas elaboraç2es mais recentes, em particular  aquelas da academia, esqueceu3se at" mesmo o que " uma mercadoria Muito se /ala das mercadorias imateriais 7ssim, por exemplo, um pro/essor seria produtor de uma mercadoria imaterial chamada aula., um m"dico produtor de uma mercadoria imaterial chamada consulta., o cantor da mercadoria shoT. e assim sucessivamente 8 muito importante esclarecer essa questão, sem isso " imposs-vel avançar um cent-metro no problema

(m verdade, tais /ormulaç2es j4 eram conhecidas por Marx e a elas reserva pro/unda ironia e, para di0er a verdade, sequer as considera dignas de serem tomadas seriamente em consideração Uejamos uma das passagens em que Marx comenta sobre os produtores das supostas mercadorias imateriais.#

:egundo :torch, o m"dico produ0 saBde Jmas tamb"m doença%& pro/essores e escritores, as lu0es Jmas tamb"m o obscurantismo%& poetas, pintores etc, bom gosto Jmas tamb"m mau gosto%& os moralistas etc, os costumes& os padres, o culto& o trabalho dos soberanos, a segurança etc Jpp QSP a QDE% 1or igual poder3se3ia di0er que a doença produ0 os m"dicos& a ignor5ncia, pro/essores e escritores& o mau gosto, poetas e pintores& a devassidão, moralistas& a superstição, padres& e a insegurança geral, soberanos JM7K*,$OVE, p 'WO%

Nos cadernos preparatórios para  Capital  de $VW$3$VWQ vemos uma passagem an4loga#

=m /ilóso/o produ0 ideias, um poeta, poemas, um pastor, serm2es, um pro/essor, comp<ndios etc =m criminoso produ0 crimes )onsiderando3se mais de perto a ligação deste Bltimo ramo de produção com os limites da sociedade, então se abandonam muitos preconceitos ! criminoso não produ0 apenas crimes, mas tamb"m direito criminal e, com isso, tamb"m o pro/essor que pro/ere cursos sobre direito criminal e, al"m disso, o inevit4vel comp<ndio com o qual esse mesmo pro/essor lança suas con/er<ncias como mercadoria. no mercado geral )om isso, ocorre aumento da rique0a nacional, prescindindo todo pra0er  privado que o manuscrito do comp<ndio proporcionou ao seu próprio autor I JM7K*, 'E$E, p QDD%

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( Marx prossegue com sua ironia por duas p4ginas mais, colocando o criminoso como um dos trabalhadores mais produtivos da sociedade (sta " a maneira como o autor  de  Capital  trata os adeptos do trabalho imaterial. !bservem que, apesar do tom jocoso, todo conjunto de consequ<ncias produ0idas. pela ação do criminoso, apenas a produção do comp<ndio de direito criminal ser4 tratado como aumentando a rique0a nacional !bserve ainda que o termo mercadoria, aplicado 9s aulas que o pro/essor de direito criminal o/erece, aparece, ironicamente, entre aspas 7/inal, a /orça de trabalho de um pro/essor de qualquer mat"ria, engenharia ou teologia, " uma mercadoria, mas sua atividade não produ0 mercadoria alguma, não importa a utilidade que possa ter para a sociedade Uejamos a questão em seus pormenores

Marx inicia  Capital  a/irmando que a rique0a das sociedades em que domina o modo de produção capitalista aparece como uma imensa coleção de mercadorias. !ra, sendo a mercadoria a /orma elementar da rique0a, a exposição principia por ela, em uma /amosa passagem que di0#

 7 mercadoria ", antes de tudo, um objeto externo, uma coisa, a qual pelas suas propriedades satis/a0 necessidades humanas de qualquer esp"cie 7 nature0a dessas necessidades, se elas se originam do estômago ou da fantasia, não altera nada na coisa  7qui tamb"m não se trata de como a coisa satis/a0 a necessidade humana, se imediatamente, como meio de subsist<ncia, isto ", objeto de consumo, ou se indiretamente, como meio de produçãoJM7K*, $OOW, p $DS%

8 um grande enigma que muitos autores tenham visto nesse par4gra/o inicial de  Capital  a justi/icativa de que as mercadorias possam ser materiais e tamb"m imateriais., dado que as necessidades que ela satis/a0 podem se originar do estCmago ou da /antasia. ou, segundo outras traduç2es, da imaginação. ou do esp-rito. Não " tanto uma questão de interpretação, mas de gram4tica Não " as mercadorias que podem ser /antasia., imaginação. ou esp-rito., mas as necessidades que elas satis/a0em 7ssim, uma televisão, um livro, um U, um videogame etc, satis/a0em o esp-rito e não o estCmago 7 passagem a/irma o contr4rio, que a mercadoria, /orma elementar da rique0a, " uma coisa, um objeto externo (nquanto objeto externo ela não pode ser um conjunto de valores e conhecimentos internos aos indiv-duos, mas se encontra /ora deles, como algo que transcende os indiv-duos e suas respectivas capacidades, apenas se ligando a eles exteriormente

No entanto, de /ato, esse " apenas o modo como as mercadorias aparecem Xossem elas determinadas unicamente pela sua materialidade e pela satis/ação das necessidades humanas seriam mercadorias, inclusive, aqueles objetos de algum modo Bteis que encontramos prontos para o consumo na nature0a !u aqueles que um campon<s produ0 para o próprio consumo ou de sua /am-lia 1ara ser mercadoria não " su/iciente, tamb"m, o /ato de ser um produto do trabalho humano Xosse esse o caso, ela não seria a /orma elementar da rique0a capitalista, mas de toda e qualquer /orma de sociedade 7ntes disso, para tornar3se mercadoria, " preciso que o produto seja trans/erido a quem vai servir  como valor de uso por meio da troca. JM7K*, $OOW, p $DS%

(ste " o conceito mais preciso e determinado de mercadoria presente em um adendo de (ngels ao primeiro livro de  Capital  Não basta ser uma coisa material, antes disso, a mercadoria " unidade de valor de uso e valor e, enquanto tal, um valor de uso social, ou seja, por meio da troca no mercado, ela " um valor de uso para outro que aquele que a produ0iu 7 mercadoria ", assim, especi/icada /rente aos produtos do trabalho no geral como uma /orma social particular destes (m suma, Marx supera a /orma unilateral e abstrata em que a mercadoria /oi inicialmente considerada Não porque seu aspecto de objeto externo /oi suprimido, mas porque, al"m de um produto do trabalho e, enquanto tal, valor de uso, ela " tamb"m valor, isto ", uma relação social, não uma simples coisa, mas uma relação social que se e/etiva em e atra!s de coisas

(7)

1or isso Marx di0 ser a mercadoria uma coisa sens-vel3suprasens-vel., ou como pre/ere a tradução da 7bril )ultural, uma coisa /-sica meta/-sica. 7/inal, como valor de uso, não h4 nada misterioso nelaa mercadoriaI, quer eu a observe sob o ponto de vista de que satis/a0 necessidades humanas pelas suas propriedades, ou que ela somente recebe essas propriedades como produto do trabalho humano. JM7K*, $OOW, p $OP% 4 quanto ao seu valor, uma mercadoria " expressão de uma relação social que lhe atribui um valor a partir da equiparação do conjunto das mercadorias no mercado

=ma mercadoria mesa, por exemplo, não se constitui unicamente por suas propriedades materiais e Bteis, ela se trans/orma numa coisa /isicamente meta/-sica. JM7K*, $OOW, p $OP% +sto " assim porque sua determinação de valor não " palp4vel nem acess-vel aos sentidos, não por ser algo imaterial, mas por conter uma propriedade social, posta por uma dada /orma de relação entre as pessoas, que parece ser algo que a mercadoria tem por nature0a 1odemos virar e revirar a mercadoria3mesa como quiser e não encontraremos seu valor 1ara tal, a an4lise deve se dirigir ao car4ter social peculiar  do trabalho que produ0 mercadorias. JM7K*, $OOW, p $OP% a- seu aspecto enigm4tico, obscuro, nas palavras de Marx, quase teológico e meta/-sico :ejamos mais diretos Marx di0 que uma mercadoria " algo sens-vel3suprassens-vel não " pelo /ato de poderem ser  imateriais., mas por possu-rem uma propriedade que não " percept-vel pelos sentidos, a propriedade social de ser valor

Numerosas passagens poderiam ser mencionadas nesse sentido, isto ", apesar de não se de/inir pelo mero atributo de ser material, a mercadoria pressup2e estas coisas materiais e sens-veis como suporte de suas propriedades sociais 1or exemplo, no Livro 1rimeiro de  Capital , Marx /a0 a seguinte citação de ean3atiste :a@# Não " o material que constitui o capital, mas o valor desses materiais. JM7K*, $OOW, p 'PQ% !utra citação, particularmente interessante, tendo em vista nossos propósitos, se encontra nas !eorias de Mais"valia, onde se di0# Mercadoria & no que a distingue da própria /orça de trabalho 6 " coisa que se contrap"e materialmente ao ser #umano, de certa utilidade, e onde se /ixa, se materiali0a quantidade determinada de trabalho.JM7K*, $OPS, p $SQ% )omo se v<, mercadoria " uma coisa que se contrap2e materialmente ao ser humano. (xceto a /orça de trabalho 7s mercadorias são, portanto, de dois tipos#

$ $bjetias# )oisas, objetos externos sens-veis que servem de valor de uso para outros por meio da troca +sto ", unidade de valor de uso e valor =ma coisa social ou uma relação social que possui estas coisas materiais, os produtos do trabalho, como suporte

' %ubjetias# 7 /orça de trabalho

)om isso, nossa exposição marcha rumo a outro tipo espec-/ico de mercadoria presente na sociedade capitalista# a /orça de trabalho

)omo se sabe, o modo capitalista de produção pressup2e o desenvolvimento e a generali0ação de uma mercadoria em particular# a /orça de trabalho +sto signi/ica que o individuo que trabalha não est4 mais ligado diretamente a uma comunidade, como nas sociedades primitivas, nem ligado diretamente a um senhor e a terra, como " o caso da servidão, nem " ele próprio mercadoria, como na escravidão& mas vende no mercado sua capacidade para um dado tipo de atividade ou trabalho 7 /orça de trabalho " uma mercadoria porque satis/a0 as duas determinaç2es que constituem a sua nature0a social# possu- um valor de uso, o trabalho, e, enquanto algo existente para a troca, possui, tamb"m, um valor, medido pelo tempo socialmente necess4rio para reprodu0ir a /orça de trabalho enquanto tal (m resumo, a mercadoria se patenteia trabalho pret"rito, objetivado e que, por isso, se n&o aparece na forma de uma coisa, só pode aparecer na /orma da própria /orça de trabalho. JM7K*, $OPS, p $D$%

(8)

(mbora a /orça de trabalho tenha como suportes materiais os indiv-duos dela portadores, ela mesma " uma mera pot<ncia para reali0ação de algo, mera capacidade para e/etivar um tipo determinado de trabalho :endo assim, porque naquela de/inição inicial Marx caracteri0ara a mercadoria como um objeto externo., uma coisa exterior aos indiv-duos, se a /orça de trabalho " exatamente aquilo que os indiv-duos possuem em si mesmos, algo subjetivo, e, enquanto tal, não materiali0ada em algo externoF

 7contece que, apesar de ser mercadoria, a /orça de trabalho não " uma /orma elementar da rique0a e não constitui a imensa coleção de mercadorias que con/igura a rique0a do modo de produção capitalista (mbora seja valor e, enquanto tal, corresponda a soma global de valores da sociedade, ela não valori0a imediatamente o capital, nem corresponde a rique0a que este tem como base (m primeiro lugar porque a /orça de trabalho jamais " propriedade do capital, mas do trabalhador que a vende ! capitalista paga o valor da /orça de trabalho para receber, como em toda troca de mercadorias, apenas seu valor de uso 8 o valor de uso da /orça de trabalho, isto ", o trabalho, que produ0 rique0a e valor, inclusive o mais3valor que o capitalista se apropria de modo a acumular  capital 8 o consumo da /orça de trabalho que produ0 rique0a, tanto para o capitalista, quanto a parte que a/lui ao trabalhador na /orma de sal4rio a- o car4ter absolutamente especi/ico da mercadoria /orça de trabalho, que pode at" ser uma rique0a para o indiv-duo dela possuidor, mas não para capital

(sclarecido, então, o signi/icado social preciso das mercadorias, resta3nos examinar, mais de perto, aquelas atividades não produtora de mercadorias, atividades que se vendem diretamente como serviços ao consumidor /inal

$s ditos %eri'os

1ra inicio de conversa, em Marx, o termo serviço não " usado em sua acepção comum 1ara ele, um serviço " nada mais que o e/eito Btil de um valor de uso, seja da mercadoria, seja do trabalho. JM7K*, $OOW, p Q$E% 7ssim considerado, o e/eito Btil da /orça de trabalho de um oper4rio, isto ", o seu trabalho, " um serviço ! termo serviço, portanto, não tradu0 nenhum aspecto espec-/ico da sociedade capitalista ! serviço est4 para o trabalho assalariado como o produto para a mercadoria, sua determinação abstrata e a3histórica 1or isso, Marx pode di0er que o YserviçoZ " o trabalho sob o aspecto exclusivo de valor de uso I, do mesmo modo que na palavra YprodutoZ se suprime a nature0a da mercadoria e a contradição nela contida. JM7K*, $OVE, p OQP%

Mas isto não signi/ica que a categoria de serviços est4 de todo ausente na critica da economia política de Marx (la serve, em alguns escritos, justamente para designar a troca de mercadorias em que se vende diretamente a própria atividade e não o produto da atividade Nas palavras do próprio Marx# ;uando o dinheiro se troca diretamente por  trabalho, sem produ(ir capital e sem ser) portanto) produtio, compra3se o trabalho como serviço, o que de modo geral não passa de uma expressão para o valor de uso especial que o trabalho proporciona como qualquer outra mercadoria. JM7K*, $OVE, p QOV%

ito isso, abordaremos, a partir de agora, os serviços entendidos como atividades não produtoras de mercadoria !u seja, quando o que " vendido " a própria atividade humana 6 como no caso do pro/essor, do artista 6 e não o produto dessa atividade materiali0ado em algo 1or ra02es metodológicas, todavia, examinaremos, primeiramente, a troca direta de dinheiro por um serviço, sem que seu executor seja empregado por um capitalista :omente /eito esse percurso, poderemos, em seguida, esclarecer o papel dos serviços produtores de mais3valia e explicitar em que sentido são produtivos e em que sentido não No entanto, para chegarmos l4, necess4rio se /a0 esclarecer toda uma s"rie de aspectos espec-/icos dos serviços considerados em sua /orma mais geral, desenvolvidos por Marx de maneira pormenori0ada em interessantes digress2es sobre o tema nos %rundrisse e retomado em obras posteriores

(9)

! primeiro traço distintivo dos serviços, assim compreendido, ", evidentemente, o /ato de pertencer 9 es/era da troca simples de mercadorias ou da circulação simples de mercadorias JM33M%, dado que " trocado diretamente por dinheiro, sem mediação do capitalista e, consequentemente, sem produção de mais3valia e capital J3M3Z% 1or  exemplo, o lenhador lhe d4 seu serviço, um valor de uso que não aumenta o capital, mas no qual ele se consome, e o capitalista lhe d4 em troca uma outra mercadoria sob a /orma de dinheiro. JM7K*, 'E$$, p '$'% (m suma, a troca de dinheiro por trabalho vivo não constitui nem o capital, por um lado, nem o trabalho assalariado, por outro >oda a classe dos assim chamados serviços, do engraxate at" o rei, pertence a essa categoria. JM7K*, 'E$$, p QV'%

;ual " então, o traço espec-/ico da equação da troca simples de mercadoria# M33 M, quando um dos polos não " um produto do trabalho, mas o trabalho mesmo ou uma mera prestação de serviçoF !ra, segundo Marx, na mera prestação de serviços temos apenas consumo de renda  e não produção de capital. JM7K*, 'E$$, p '$'% )omo estamos a considerar, provisoriamente, os serviços unicamente no caso em que são trocados diretamente por dinheiro com o consumidor /inal, como o cabeleireiro ou advogado que vende diretamente seu serviço a um cliente, sem a exist<ncia de um capitalista, não h4 nada de surpreendente no /ato dessa relação não produ0ir capital a mesma /orma, um campon<s que vende diretamente seu produto no mercado não produ0 capital

1or"m, nesse trecho, j4 se insinua uma di/erença radical dos serviços em relação a um campon<s que vende seu produto 7pesar de ambos não produ0irem capital, Marx di0 que, no caso do serviço, existe consumo de renda., enquanto no caso do campon<s sabemos que existe produção de valor cujo suporte " sua mercadoria (m outro trecho dos %rundrisse, Marx " ainda mais expl-cito# no caso dos serviços a troca não " um ato de enriquecimento, não " ato de criação de valor, mas de desvalori0ação dos valores existentes em sua posse. JM7K*, 'E$$, p QVS% ( complementa de maneira taxativa# Não " necess4ria uma discussão pormenori0ada para demonstrar que consumir dinheiro não " produ0ir dinheiro. JM7K*, 'E$$, p QVS% +sso signi/ica que a  classe de seri'o n&o ie de capital) mas de renda i/erença /undamental entre essa classe de serviço e a classe trabalhadora. JM7K*, 'E$$, p Q'S%

)omo se v<, mesmo neste n-vel abstrato de an4lise, existe uma di/erença abismal entre o trabalhador que vende o produto por ele mesmo produ0ido e a atividade vendida diretamente no mercado enquanto serviço ! primeiro produ0 rique0a, enquanto o segundo a consome, o primeiro produ0 mercadoria e a troca por outra sem valori0ar o capital, enquanto o segundo nada produ0, apenas se apossando de parte do valor produ0ido por  outros mediante o serviço reali0ado ! artesão, por exemplo, não produ0 rique0a como capital, mas produ0 rique0a em sua acepção geral, como valor de uso, suporte do valor que " trocado 4 o serviçal não produ0 valor algum, consumindo3o pura e simplesmente, não importa quão Btil para a sociedade seja ou não o serviço que reali0a

8 importante notar que o tema em questão não " a utilidade do que se produ0 ou do serviço reali0ado Não est4 em questão o /ato óbvio de que diversos serviços são imprescind-veis para a sociedade e seus respectivos indiv-duos ! que estamos discutindo " o papel dessas atividades na ampliação ou não da rique0a do modo de produção capitalista, não de sua utilidade 1ara o capital importa unicamente a sua autovalori0ação, não importa se o que produ0 são livros, armas ou salsichas )omo di0 Marx, esse trabalhador YprodutivoZ est4 tão interessado na merda que tem de /a0er quanto o próprio capitalista que o emprega e que não d4 a m-nima para a porcaria. JM7K*, 'E$$, p '$Q%

(m resumo, o setor de serviço, tal como consideramos at" agora, al"m de não produ0ir capital em sua /orma histórica especi/ica, sequer produ0 rique0a em sua acepção gen"rica, presente em todas as /ormas de produção, enquanto mera produção de valores de uso Não poderia ser de outro modo, a/inal, " natural que não produ0am mercadoriasos serviçosI, pois a mercadoria como tal não " objeto imediato de consumo e sim portadora do valor de troca. JM7K*, $OPS, p $QV%

(10)

+sto " assim porque nas prestaç2es de serviços pessoais, [I o valor de uso " consumido enquanto tal sem passar da /orma de movimento para a /orma de coisa. JM7K*, 'E$$, p QVQ% (is uma a/irmação /undamental 7o não passar da /orma de movimento para a /orma de coisa., a atividade dos serviçais não resultam em um valor de uso que sirva de suporte material para o valor# /orma social da rique0a capitalista 1or essa ra0ão, t al ato os serviçosI tamb"m  n&o ! um ato produtor de ri*ue(a) mas consumidor de ri*ue(a. JM7K*, 'E$$, p QVQ% 1arece inacredit4vel que boa parte dos estudiosos de Marx na atualidade não tenham se atentado para a di/erença nada sutil entre produ0ir e consumir (ntre produ0ir rique0a e consumi3la na /orma de renda

)abe, então, responder a uma pergunta /undamental# se todo serviço " mero consumo de rique0a, renda, como explicar a acumulação de capital daquele capitalista que emprega trabalhadores não produtores de mercadoriasF :e as atividades não produtoras de mercadorias não produ0em sequer valor, ao contr4rio, os consome, como " poss-vel acumular capital empregando meros serviçaisF Ueremos essa questão no próximo item, que trata exatamente da noção do trabalho produtivo e improdutivo

%eri'os: produtios ou improdutios?

1enetremos agora no cerne de toda con/usão o que expomos acima, " correto di0er que apenas o proletariado industrial, produtor de mercadorias, " produtivoF (, consequentemente, todos os serviços são indistintamente improdutivosF epende uas são as abordagens absolutamente equivocadas que procuram sustentar essa posição#

$ Na primeira delas, argumenta3se que somente o trabalho produtor de mercadorias " produtivo porque, em Marx, trabalho envolveria metabolismo entre homem e nature0a, apropriação dos recursos naturais e trans/ormação em algo material (ssa abordagem, comum entre certos lu?acsianos, não propriamente em Lu?4cs, " um disparate ! trabalho entendido enquanto metabolismo entre homem e nature0a não " /undamento das sociedades humanas no geral, mas o trabalho tomado em sua /orma mais abstrata, comum a todas /ormas sociais )om essa acepção de trabalho não conseguimos sequer di/erenciar o trabalho assalariado daquele dos servos, dos escravos ou do trabalho coletivo primitivo ! que /undamenta uma /orma de sociedade, para Marx, são seus traços espec-/icos em relação a outras /ormas de sociedade e não os gen"ricos 7 con/usão repousa no /ato de Marx sempre partir  das determinaç2es comuns a todas /ormas sociais 6 como produto, valor de uso, trabalho concreto, cooperação simples, apropriação do trabalho excedente 6 e, somente depois, partir para aquelas mais espec-/icas, históricas e /undamentais 6 como mercadoria, valor, trabalho abstrato, cooperação industrial, mais3valia :egundo Marx, j4 no Livro 1rimeiro de  Capital , esta determinação de trabalho produtivo, tal como resulta do ponto de vista do processo simples de trabalho, não basta, de modo algum, para o processo de produção capitalista. JM7K*, $OOW, pQ$E% Não /osse esse o caso, seria produtivo, para o capital, o trabalho de um campon<s que produ0 para seu consumo próprio e de sua /am-lia :abemos que não " o caso

' !utra abordagem di0 que para ser trabalho produtivo basta produ0ir mercadorias, sendo improdutivo aqueles que não produ0em mercadorias !ra, essa perspectiva, semelhante 9 de 7dam :mith, tamb"m " inadequada 1ara que a produção seja capitalista, não basta a produção de mercadorias, o que existe h4 mil<nios, " necess4rio a produção de mercadorias sob o comando de um capitalista, o que inclui a /orma trabalho assalariado Xosse produtivo unicamente o trabalho produtor  de mercadorias, o trabalho de um campon<s ou artesão, que vende seu produto no mercado, seria produtivo para o capital, o que " /also

ito isso, vejamos, então, como a questão " analisada por Marx

(11)

(m primeiro lugar, no modo de produção capitalista, a noção de trabalho produtivo pode ser vista sob uma dupla perspectiva# de sua ampliação e, ao mesmo tempo, de sua restrição e in-cio, o capitalismo alarga a noção de trabalho produtivo em relação aos modos de produção anteriores 7/inal, nesse modo de produção, o car4ter cooperativo do próprio processo de trabalho ampliaI necessariamente o conceito de trabalho produtivo e de seu portador, do trabalhador produtivo. JM7K*, $OOWb, p$QW% 7gora, para trabalhar  produtivamente, j4 não " necess4rioI pCr pessoalmente a mão na obra& basta ser órgão do trabalhador coletivo, executando qualquer uma de suas sub/unç2es. JM7K*, $OOWb, p$QW% )omo se nota, no capitalismo, na categoria de trabalhadores produtivos /iguram naturalmente os que, seja como /or, contribuem para produ0ir a mercadoria, desde o verdadeiro trabalhador manual at" o gerente, o engenheiro Jdistintos do capitalista%. JM7K*, $OPS, p $QW% 7qui temos claramente um alargamento da noção de trabalho produtivo o ponto de vista histórico, essa ampliação " da mais alta relev5ncia, a/inal, em sociedades como a da Gr"cia antiga, o pensamento e a ci<ncia permaneciam, regra geral, a margem do processo de trabalho, sendo, portanto, improdutivos 7gora, um trabalhador intelectual, desde que imerso no trabalho coletivo de uma empresa capitalista produtora de mercadorias, " um trabalhador produtivo

Na sequ<ncia, Marx explica que, por outro lado,I o conceito de trabalho produtivo se estreita 7 produção capitalista não " apenas produção de mercadoria, " essencialmente produção de mais3valia. JM7K*, $OOWb, p$QW% !ra, o que garante a acumulação de capital por parte de um capitalista não " o tipo especi/ico de valor de uso que este o/erece aos consumidores no mercado, tampouco a nature0a espec-/ica do trabalho que comanda, mas a extração de mais3valia daquele que vende sua /orça de trabalho como mercadoria isso se segue que apenas " produtivo o trabalhador que produ0 mais3valia para o capitalista ou serve 9 autovalori0ação do capital. JM7K*, $OOW, p$QW% >emos claramente um estreitamento da noção de trabalho produtivo, j4 que, agora, não basta existir metabolismo entre homem e nature0a, não basta tampouco produ0ir mercadorias, mas " necess4rio produ0ir mercadorias sob a /orma capitalista No entanto, o que di0er daquelas atividades exploradas sob a /orma capitalista, mas que, todavia, não produ0em mercadoriasF

Nas !eorias de Mais 'alia esta questão " desenvolvida de /orma precisa :egundo Marx, só o trabalho que produ0 capital " trabalho produtivo. JM7K*, $OPS, p $QW% 7ssim, tamb"m /ica absolutamente estabelecido o que " trabalho improdutivo 8 trabalho que não se troca por capital, mas diretamente por renda, ou seja, por sal4rio ou lucro. JM7K*, $OPS, p $QW% (m outras palavras, as de/iniç2es de trabalho improdutivo e produtivo não decorrem da quali/icação material do trabalho Jnem da nature0a do produto nem da destinação do trabalho como trabalho concreto%, mas da /orma social determinada, das relaç2es sociais de produção em que ele se reali0a. JM7K*, $OPS, p $QW% 7/inal, " uma de/inição do trabalho, a qual não deriva de seu conteBdo ou resultado, mas de sua /orma social espec-/ica. JM7K*, $OPS, p $QV% 7ssim considerado, um ator por exemplo, mesmo um palhaço, " um trabalhador produtivo se trabalha a serviço de um capitalista Jo empres4rio%, a quem restitui mais trabalho do que dele recebe na /orma de sal4rio. 1or  outro lado, um al/aiate que vai 9 casa do capitalista e lhe remenda as calças, /ornecendo3 lhe valor de uso apenas, " trabalhador improdutivo. JM7K*, $OPS, p$QP%

Neste ponto, a maior parte dos comentadores encerram a questão >rabalho produtivo " aquele produtor de mais3valia para um capitalista, de onde se segue que não existe di/erença social alguma entre o trabalho produtor de mercadorias e o trabalho não produtor de mercadorias, contando que produ0am, ambos, mais3valia Não percebem, por  exemplo, que ao considerar que apenas o trabalho produtor de mais3valia " produtivo, Marx di0, no Livro 1rimeiro de  Capital , que a acepção de trabalho produtivo se estreita., antes de se ampliar !u seja, para ser produtivo, al"m de produ0ir mercadoria, tem, tamb"m, de produ0i3la sob o comando de um capitalista !ra, como explicar então, as a/irmaç2es taxativas de Marx de que um pro/essor, cantor ou palhaço, desde que produtores de mais3 valia, são trabalhadores produtivosF )omo sair desse desconcertante impasseF

(12)

 7contece que a maior parte dos autores que trataram da presente questão se esqueceram de uma pergunta /undamental# produtio em rela'&o a *ue? :omente uma ra0ão meta/-sica pode /alar em algo produtivo em si mesmo, produtivo no geral, assim como absoluti0ar qualquer outra noção ou categoria 7ntes de responder a questão de se tal ou qual trabalho " produtivo, " necess4rio esclarecer a que se re/ere tal produtividade Uejamos um exemplo Nas !eorias de Mais 'alia, Marx observa que todo serviço " produtivo para quem o vende urar /also " produtivo para quem o /a0 por dinheiro vivo Xalsi/icar documentos " produtivo para quem " pago por isso 7ssassinar " produtivo para quem " pago pelo homic-dio ! negócio de sico/anta, delator, malandro, parasita, bajulador  " produtivo, desde que tais YserviçosZ sejam remunerados. JM7K*, $OPS, p 'PD% !ra, na exata medida que tais atividades rendem dinheiro para aquele que a vende, elas são produtivas em relação ao vendedor, muito embora, não produ0am absolutamente nada para a sociedade e, nesse sentido, sejam, em relação a sociedade, improdutivas !ra, para um campon<s que produ0 para o seu consumo próprio, seu trabalho " certamente produtivo em relação a ele, mas não " para a sociedade que nada recebe, menos ainda para o capital, pois não h4 acumulação do trabalho não pago na /orma da mais3valia

Nesse sentido, a questão " a seguinte# nos trechos em que trata das atividades não produtoras de mercadorias como produtivas, Marx se re/ere a produtividade do trabalho em relação ao capitalista individual que o emprega, não em relação 9 sociedade em seu conjunto, ao capital total por ela produ0ido Uejamos a questão detalhadamente

Logo após precisar a noção de trabalho produtivo e improdutivo nas !eorias de Mais 'alia di0 Marx# >rabalho produtivo e improdutivo são sempre olhados a- do 5ngulo do dono do dinheiro, do capitalista. JM7K*, $OPS, p$QP% ( realmente o ponto de vista de um capitalista individual, pouca di/erença /a0 se seu capital " empregado na indBstria automobil-stica, em uma universidade privada ou em um circo ! que interessa " a mais3 valia e o lucro que este consegue obter por meio da exploração do trabalho assalariado No entanto, a rique0a adentra na es/era do serviço na medida em que " redistribu-da por meio da circulação de mercadorias, ou seja, na medida em que tais serviços são consumidos por  capitalistas e trabalhadores

Nesse sentido, ser produtivo em relação ao capitalista individual não coincide necessariamente com ser produtivo em relação 9 sociedade No com"rcio, por exemplo, apesar do comerciante3capitalista acumular capital com a exploração dos trabalhadores que emprega, ele não produ0 um só 4tomo de valor e capital, apenas se apropriando de parte da mais3valia produ0ida na es/era da produção Não sem ra0ão, ao tratar do capital comercial como improdutivo, Marx por diversas ve0es explicita que est4 se re/erindo a produtividade em relação 9 sociedade 1or exemplo, no Livro :egundo, após ilustrar com o caso de um agente comercial que trabalha V horas para pagar seu sal4rio, cedendo ' horas excedentes ao seu empregador, di0 que a sociedade não paga essas duas horas de mais3 trabalho, embora elas sejam gastas pelo indiv-duo que o executa 7 sociedade  não se apropria, por meio desse trabalho, de nenhum produto ou valor adicional. Jgri/os nossos% JM7K*, 'E$S, p'$'% )laro est4, portanto, que Marx se re/ere, aqui, a produtividade do trabalho em relação 9 sociedade e não ao capitalista individual

(13)

! mesmo ocorre em relação aos trabalhadores não produtores de mercadoria, ainda que essa redistribuição se opere por meio do consumo dos serviços por trabalhadores e capitalistas e não na transação entre dois ramos distintos do capital, como " o caso do capital comercial +sto /ica claro no )ap-tulo  #n$dito d(Capital , quando Marx di0 que# um mestre3escola que " contratado com outros para valori0ar, mediante seu trabalho, o dinheiro do empres4rio da instituição que tra/ica com o conhecimento " um trabalhador produtivo. No entanto, complementa logo em seguida# mesmo assim, a maior parte desses trabalhadores, do ponto de vista da /orma, apenas se submetem formalmente ao capital# pertencem 9s /ormas de transição. JM7K*, $OPD, pOO% !u seja, do ponto de vista da sociedade, do ponto de vista da relação entre universidade privada e os demais capitais individuais, temos apenas troca simples de mercadoria Motivo pelo qual a /4brica de ensino. não produ0 valor, mas recebe valor da sociedade pelo serviço que ela o/erece (m seguida, Marx di0 de maneira ainda mais clara#

(m suma, os trabalhos que só se des/rutam como serviços n&o se transformam em produtos separáeis dos trabal#adores + e, portanto, existentes independentemente deles como mercadorias autCnomas 6 e, embora possam ser explorados de /orma diretamente capitalista, constituem grande(as insignificantes  se os compararmos com a massa da produção capitalista 1or isso, dee,se pôr de lado esses trabalhos e trat43los somente a propósito do trabalho assalariado que não " simultaneamente trabalho produtivo Jgri/os nossos% JM7K*, $OPD, pOO%

Nesta passagem elucidativa, Marx não considera insigni/icante as grande0as advindas dos trabalhos que só se des/rutam como serviços. em /unção do seu redu0ido nBmero na sociedade, como comumente se interpreta :ua grande0a " insigni/icante, con/orme a argumentação da passagem, pelo /ato desses trabalhos não se trans/ormarem em produtos separ4veis dos trabalhadores.

+sto " assim, " importante /risar, não tanto pela materialidade da mercadoria em si mesma, mas pelo /ato desta materialidade constituir o suporte que permite a mercadoria expressar sua propriedade social de ser valor 4 no caso dos serviços, produ'&o e consumo coincidem, de maneiras que a /orma do valor " posta como /orma simplesmente evanescente. JM7K*, 'E$$, pQVQ% (nquanto na produção de mercadorias, produção e consumo aparecem como atos separados no tempo e no espaço& nos ditos serviços, o valor produ0ido, se assim o quisermos considerar, desaparece tão logo o serviço tenha sido reali0ado >anto " assim que em outra passagem tamb"m do )ap-tulo  #n$dito lemos#

! produto não " separ4vel do ato da produção >amb"m aqui o modo capitalista de produção só tem lugar de maneira limitada, e só pode t<3lo, devido 9 nature0a da coisa, em algumas es/eras JNecessito do m"dico e não do seu garoto de recados% Nas instituiç2es de ensino, por exemplo, para o empres4rio da /4brica de conhecimentos os docentes podem ser  meros assalariadosCasos similares n&o deem ser tidos em conta *uando se analisa o conjunto da produ'&o capitalista JM7K*, $OPD, p$EQ%

 7 passagem " clara )asos como a /4brica de conhecimentos. e todos demais ramos em que o produto não " separ4vel do ato da produção. não devem ser tidos em conta quando se analisa o conjunto da produção capitalista.

(14)

(m suma, as atividades não produtoras de mercadorias, os ditos serviços, apesar  de produtivas para o capitalista individual, apenas consome na forma de renda o capital produ(ido pela sociedade 1or esse motivo estão /ora daquilo que Marx denomina capital industrial Jo Bnico produtivo% :ua /orma evanescente, em que o valor. produ0ido " imediatamente consumido, em que se vende o trabalho na qualidade de valor de uso e não seu produto, impede que os serviços expressem sua propriedade social de ser valor, consistindo, do ponto de vista da sociedade, tão somente no consumo de renda ou, ainda, no consumo dos valores existentes em troca do serviço o/erecido +sto " assim mesmo que esta renda seja apropriada de maneira desigual no interior de um dado ramo, /ornecendo mais3valia para um capitalista individual

)omo " poss-vel um ramo do capital produ0ir e, ao mesmo tempo, apenas consumir  o capital existenteF (sse aparente absurdo desaparece quando deixamos de considerar a questão a partir uma perspectiva unilateral e abstrata 7inda que tratando de especi/icidades do capital /ixo, uma importante citação no /im do Livro >erceiro explicita tudo que desenvolvemos no curso de toda nossa argumentação a respeito dos serviços que se vendem como capital#

as de/iniç2es /ixas de renda e capital permutam3se e trocam de lugar entre si, parecendo ser, do ponto de vista do capitalista isolado, de/iniç2es relativas que se desvanecem quando consideramos o processo global de produção I 8 poss-vel assim contornar a di/iculdade se imaginamos que o que " renda para uns " capital para outros, e que essas de/iniç2es nada tem por isso que ver com a particulari0ação e/etiva dos componentes do valor da mercadoria. JM7K*, $OV$b, pOWO%

ito isso, esboçamos, no quadro abaixo, sumariamente e esquematicamente, as conclus2es at" então alcançadas#

-$.MA %$C/A0 1$

2.A3A04$ EM .E0A56$ A$CA7/2A0 EM .E0A56$ 8./9E;A 1A %$C/E1A1E

EM .E0A56$ A$ <A0$.

%eri'o endido diretamente ao consumidor 

Não produ0 capital )onsome a

rique0a )onsume os valoresexistentes

7rodutor *ue ende diretamente sua mercadoria

Não produ0 capital 1rodu0 rique0a 1rodu0 valor, sem produ0ir capital# troca de equivalentes

%eri'o sob a forma

capitalista 1rodu0 capital para ocapitalista individual )onsome arique0a 1rodu0 valor para o respectivocapitalista, consome os valores da sociedade como um todo

2rabal#o industrial sob

a forma capitalista 1rodu0 capital 1rodu0 rique0a 1rodu0 valor  

(15)

2end=ncia ao aumento crescente dos seri'os

 7pesar de tudo, não estaria essas re/lex2es de Marx envelhecidas em /unção do enorme espaço quantitativo que os serviços ocupam na sociedade capitalista atualF !ra, diversamente do que comumente se di0, Marx j4 assinala nos %rundrisse a tend<ncia da sociedade capitalista em /a0er crescer, cada ve0 mais, o nBmero de trabalhadores alocados em atividades não produtoras de mercadoria +sto " assim, em primeiro lugar, em /unção da produtividade crescente do trabalho 7/inal, na medida que uma classe de indiv-duos " /orçada a trabalhar mais do que o necess4rio para a satis/ação da sua necessidade 6 " porque h4I trabalho excedente, de um lado, do outro, " posto não trabalho e rique0a excedente. JM7K*, 'E$$, p Q'D% (m !eorias de Mais 'alia, Marx " ainda mais expl-cito a esse respeito# a outra causa de ser grande o nBmero dos sustentados por renda " a circunst5ncia de ser grande a produtividade dos trabalhadores produtivos, isto ", seu produto excedente que os serviços consomem Neste caso, em ve0 de o trabalho dos trabalhadores produtivos não ser produtivo por haver tantos serviçais, h4 tantos serviçais, por ser ele tão produtivo. JM7K*, $OPS, p 'P'%

! que tende a decrescer, ou ocupar um espaço cada ve0 mais insigni/icante na sociedade capitalista, segundo Marx, são os serviços vendidos diretamente pelo seu executor para o consumidor /inal, isto ", os serviços enquanto troca simples de mercadoria em sua /orma tipicamente pequeno3burguesa 4 sob emprego de um capitalista, como vimos, a tend<ncia " oposta

1or isso, no que di0 respeito 9 sociedade como um todo, a criação do tempo dispon-vel, consequentemente, "I tamb"m criação do tempo para a produção de ci<ncia, arte etc. JM7K*, 'E$$, p Q'S% 1or /im, menciona Marx todo um conjunto de setores da sociedade que vivem de renda e não da produção#

Na própria sociedade burguesa, /a0 parte dessa rubrica ou categoria toda troca de prestação de serviço pessoal por renda 6 do trabalho para o consumo pessoal, co0inha, costura etc, jardinagem etc, at" as classes improdutivas, /uncion4rios pBblicos, m"dicos, advogados, intelectuais etc >odos os criados dom"sticos etc 1or meio de suas prestaç2es de serviços I todos estes trabalhadores, do mais humilde ao mais elevado, conseguem para si uma parte do produto excedente, da renda do capitalista JM7K*, 'E$$, p QVD%

)omo se v<, o aumento do setor de serviços apenas eleva o peso social do setor  que produ0 a rique0a por eles consumida )ontraditoriamente, o crescimento num"rico do setor de serviços, apenas eleva sua depend<ncia /rente aos setores produtores de mercadorias Longe de negar os prognósticos de Marx, o crescimento do setor de serviços apenas os re/orça e con/irma

$ Capital 7rodutio como momento do Capital /ndustrial

1or /im, trataremos nesse Bltimo item, do capital produtivo, tema desenvolvido por  Marx nos livro :egundo e >erceiro de  Capital  8 somente nesses livros que os distintos estratos da classe capitalista e da classe trabalhadora serão analisados, bem como a conexão entre eles ! tema do capital produtivo não " sequer mencionado no Livro 1rimeiro !ra, por que isto " assimF 1ara responder a presente pergunta, se /a0 necess4rio algumas consideraç2es sobre o m"todo empregado por Marx em sua obra principal >ais consideraç2es são imprescind-veis para compreendermos o tema aqui em debate

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  0iro 7rimeiro# Nesse livro Marx estuda o processo de produção de mais3valia ou ainda, do ponto de vista do capital, o capital em geral +sto signi/ica que est4 abstra-do a concorr<ncia e os diversos tipos particulares de capital Mesmo a circulação " estudada apenas enquanto suporte necess4rio para compreendermos o processo de produção de mais3valia e a acumulação de capital Nesse livro, o objetivo " entender o capital enquanto uma /orma histórica particular em relação a todas aquelas que o precederam, sem se preocupar, ainda, em estudar as di/erenças internas entre os mBltiplos tipos particulares de capital 7qui, em /unção da abstração empregada por Marx, existe apenas o capital industrial e, por isso, capitalistas industriais e oper4rios industriais

  0iro %egundo# (studa a reali0ação da mais3valia ou o processo de circulação do capital No 1rimeiro Livro se pressupCs que toda mais3valia produ0ida seria reali0ada por meio da venda da totalidade das mercadorias no mercado 7gora, esse processo de reali0ação da mais3valia ser4 analisado em seus pormenores, /a0endo emergir os primeiros estratos particulares do capital, como o capital comercial, al"m da divisão do capital constante Jmeios de produção% em capital /ixo e circulante Nesse livro, pela primeira ve0 " tratado o tema do capital produtivo no intuito de estabelecer a di/erença entre o capital industrial Jprodutivo% com o capital comercial Jimprodutivo%

  0iro 2erceiro# (studa a distribuição da mais3valia entre os distintos capitais individuais, somente agora se estuda o processo global de produção capitalista (ntra em cena, pela primeira ve0 de /orma mais determinada e concreta a concorr<ncia e a disputa entre os diversos tipos particulares de capital em torno da mais3valia produ0ida No 1rimeiro Livro tratou3se de mostrar o segredo da produção de mais3valia, que ocorre no interior da /4brica, agora, trata3se de desvendar os segredos de sua distribuição (merge, assim, uma s"rie de novos estratos do proletariado, correspondentes aos tipos particulares de capital, como analisaremos em seguida

! que queremos acentuar no presente contexto " que esse m"todo de abstraç2es utili0ado por Marx não " casual ! Livro 1rimeiro tem em mira atingir as determinaç2es mais /undamentais do modo de produção capitalista, para al"m das mBltiplas oscilaç2es particulares que nos /ariam mergulhar em um oceano indom4vel de conting<ncias, decis2es individuais e arbitrariedades 1or esse motivo, o Livro 1rimeiro trata apenas do capital industrial, com os respectivos oper4rios industriais, por serem esses Bltimos os respons4veis pela produção de toda mais3valia da sociedade Marx assinala, assim, o setor3 chave da economia capitalista# o capital industrial

No entanto, mesmo no interior do Livro 1rimeiro, Marx est4 distante de suprimir  todas as di/erenças entre os trabalhadores empregados pelo capital industrial :egundo Marx, a distinção essencial " entre trabalhadores que e/etivamente estão ocupados com as m4quinas3/erramentas. JM7K*, $OOWb, DQ% e, ao lado dessas classes principais, surge um pessoal numericamente insigni/icante que se ocupa com o controle do conjunto da maquinaria e com sua constante reparação, como engenheiros, mec5nicos. ( acrescenta# " uma classe mais elevada de trabalhadores, em parte com /ormação cient-/ica, em parte artesanal, externa ao c-rculo de oper4rios de /4brica e só agregada a eles. JM7K*, $OOWb, pDS% (nquanto uma camada do proletariado mais quali/icada, de trabalho individuali0ado, numericamente pouco signi/icativa no interior de cada unidade produtiva e, sobretudo, externa ao c-rculo de oper4rios, este setor do proletariado não expressa a mesma /orça social que os primeiros :ua consci<ncia est4 propensa a oscilar entre os interesses do capitalista e da massa do proletariado !ra, os oper4rios são, assim, justamente aquela /ração majorit4ria do proletariado industrial que opera diretamente os meios de produção

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4 no livros restantes, ao analisar como a mais3valia se reali0a e redistribui, o capital produtivo aparece contraposto ao capital improdutivo Mais particularmente, uma das quest2es centrais " justamente como a mais3valia produ0ida pelo primeiro " apropriada pelo segundo 7nalisemos em primeiro lugar, então, o capital produtivo

Capital 7rodutio: :egundo Marx, as duas /ormas que o valor de capital assume no interior de seus est4gios de circulação são a de capital monetário e capital"mercadoria& sua /orma própria ao est4gio da produção " a do capital produtivo ! capital, que no percurso de seu ciclo total assume e abandona de novo essas /ormas, cumprindo em cada uma delas sua /unção correspondente, " o capital industrial . JM7K*, 'E$S, p$Q$% Nesse sentido, não " o /ato de participar da es/era da circulação que /a0 improdutivo um dado ramo do capital, mas o /ato de estar exclu-do da es/era da produção ! capital3industrial, por sua ve0, " o Bnico que participa de todos os momentos do processo de reprodução de capital, se apresentando ora na /orma capital3mercadoria, ora na /orma de capital3dinheiro, e ora como capital de produção

No entanto, em seguida, Marx /a0 a seguinte ressalva# industrial, aqui, no sentido de que ele abrange todo ramo de produção explorado de modo capitalista. (staria Marx, com esta ressalva, incluindo o setor dos assim chamados serviços, setores não produtores de mercadoria, no interior do capital industrialF !ra, " justamente esse breve trecho, do primeiro cap-tulo do Livro ++ de  Capital, que " usado pela quase totalidade dos comentadores para re/erendar a tese de que comp2em o capital industrial todos os ramos explorados de /orma capitalista, seja produtor de mercadorias ou não )omo veremos adiante, na sequ<ncia do próprio texto, essa interpretação se mostrar4 insustent4vel

 7l"m disso, essa m4 interpretação se assenta, em parte, na edição de (ngels no par4gra/o seguinte da obra, cujo texto original de Marx esclarece, sem deixar margem para dBvidas, o que ele quis di0er ao a/irmar que por industrial se entenda todo ramo de produção explorado de modo capitalista. !ra, o que se di0 " unicamente que por capital3 industrial não se considera unicamente o momento isolado da produção, enquanto um tipo autCnomo de capital. ! capital industrial abrange os momentos do capital monet4rio empregado pelo capitalista na compra de meios e produção e /orça de trabalho, bem como o capital3mercadoria como /ormas /uncionais particulares do capital industrial. Nesse mesmo sentido, o momento da produção " apenas a /orma /uncional particular que o capital industrial assume em seu est4gio de produção. JM7K*, 'E$S, p$Q$% 1ara por /im a essa querela, basta atentar ao /ato de que se, de /ato, /osse capital industrial qualquer setor  explorado de modo capitalista, o capital industrial se con/undiria com o próprio capital no geral, não /a0endo qualquer sentido o estudo espec-/ico do capital industrial contraposto aos demais tipos particulares de capital (m resumo, o capital industrial abrange todo ramo de produção explorado de modo capitalista. por englobar todos os est4gios de seu processo c-clico# capital3dinheiro, capital3mercadoria e capital de produção#

1ara ser capital industrial " necess4rio, portanto, passar pelos seguintes momentos# $ )apital investido na compra das mercadorias /orça de trabalho JX>% e meios de

produçãoJM>%

' 1rodução de uma nova mercadoriaJMZ% a ser levada ao mercado e trocada por  dinheiroJZ%

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