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Feminismo, gênero e serviço social: avanços, contradições e rebatimentos na formação profissional

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Academic year: 2021

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(1)UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CENTRO DE CIÊNCIAS SOCIAIS APLICADAS DEPARTAMENTO DE SERVIÇO SOCIAL PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM SERVIÇO SOCIAL. MICAELA ALVES ROCHA DA COSTA. FEMINISMO, GÊNERO E SERVIÇO SOCIAL: avanços, contradições e rebatimentos na formação profissional.. NATAL/RN 2017.

(2) MICAELA ALVES ROCHA DA COSTA. FEMINISMO, GÊNERO E SERVIÇO SOCIAL: avanços, contradições e rebatimentos na formação profissional.. Dissertação apresentada ao Programa de PósGraduação em Serviço Social da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, como requisito parcial obtenção do grau de mestre em Serviço Social, sob orientação da Profa. Dra. Andréa Lima da Silva. Linha de pesquisa: Ética, Gênero, Cultura e Diversidade.. NATAL/RN 2017.

(3)

(4) Micaela Alves Rocha da Costa. FEMINISMO, GÊNERO E SERVIÇO SOCIAL: avanços, contradições e rebatimentos na formação profissional.. Dissertação apresentada à Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), como parte das exigências do Programa de Pós-Graduação em Serviço Social (PPGSS), como requisito parcial obtenção do grau de mestre em Serviço Social..

(5) Para Haydée, por ser fortaleza em todos os momentos difíceis que passamos. Por abrir os meus caminhos até que eu mesma aprendesse a trilhá-los nas veredas da vida. Por ter um sorriso que me lembra muito a existência de Deus. Para todas as mulheres que minam a máquina do patriarcado e do capitalismo, incansavelmente. Todo dia..

(6) AGRADECIMENTOS Mas sinto o que escrevo. Cumpro a sina. Inauguro linhagens, fundo reinos — dor não é amargura. Minha tristeza não tem pedigree, já a minha vontade de alegria, sua raiz vai ao meu mil avô. Vai ser coxo na vida é maldição pra homem. Mulher é desdobrável. Eu sou. Adélia Prado. Escrever estas palavras despertam muitas emoções e lembranças ao longo da minha trajetória profissional e pessoal. Há dez anos iniciava a graduação em Serviço Social. Fui a primeira mulher da minha família a conseguir chegar ao ensino superior. Há seis anos acontecia a minha colação de grau. Hoje, ao concluir mais esta etapa, com o coração transbordando alegria, me vejo com a mesma paixão de antigamente pela profissão que escolhi e sinto uma profunda gratidão por várias pessoas que me fortaleceram durante essa caminhada no mestrado. Agradeço à minha mãe, Haydée, pelo amparo, pelas doses de amor e paciência diárias. Por entender as ausências na vida familiar oriundas dos estudos e da militância e por proporcionar as condições materiais e afetivas para que eu pudesse me dedicar a esta pesquisa. Esta construção também é oriunda da sua luta, minha mãe. À minha família que sempre me incentivou aos estudos e acreditou no meu potencial. Minha profunda gratidão ao Eider, meu melhor amigo que também é irmão, por todas as vezes que me fez sorrir quando a vida parecia pesada e por renovar, cotidianamente, a alegria no meu coração. Ao Alves, meu padrasto, pelo carinho, cuidado e pelas reflexões políticas. Ao primo Phelipe, pela leveza e tranquilidade. As minhas tias, Bá, Tetê e Dalva por serem acolhida e fortaleza em todos os momentos que precisei. À um certo moço bonito, paciente companheiro, que desde a seleção do mestrado, motivou e incentivou meus estudos. Por perceber o feminismo também importante para a nossa vida e nossa história. Gratidão por todo o incentivo, pelos olhares de cumplicidade e amor, Raynan. Às amizades que o movimento estudantil em Serviço Social me presenteou e que permanecem comigo até hoje, meu sorriso e meu agradecimento por tudo. Samya, Cristina, Floriza e Analice, vocês são luzes no meu caminho, me guiam pela.

(7) escuridão. Com vocês não temo! Essa caminhada não teria o mesmo sentido e jamais teria sido tão terna se não tivesse a presença marcante de cada uma. Agradeço às amizades que fiz durante o mestrado, em especial a Lizete, amiga querida, sábia ouvinte e conselheira, frente às dificuldades da vida. Que me estendeu as mãos e os ouvidos, sempre disposta a me ajudar. Agradeço a Maiara, pela doçura e firmeza que me ensinaram tanto. Espero que nossas parcerias e amizades, tão importantes para mim, permaneçam com o tempo. As demais colegas, meu sincero agradecimento pela partilha de vida e trajetória profissional que tanto me ensinaram. Ao querido amigo Tibério pela ajuda em todos os momentos de sufoco, pelo carinho, pelas discussões sobre gênero e diversidade sexual e pela amizade que eu levo no coração. À amigas-irmãs-camaradas, colegas de profissão e fontes inesgotáveis de abraços, discussões políticas e amor: Carol Costa, Carla e Bárbara. Às amigas queridas, Elizângela, Leidiane e Águida pelo apoio, pelo incentivo e pela alegria em todos os nossos reencontros e partilhas intelectuais. À Caroline Santos e Carol Pinero, pelo incentivo à arte e a literatura que tanto me inspiraram neste processo. À Luciene Silva pela força e simplicidade que me ajudou tanto nesse processo de escrita. À pequena Ritinha que sempre me recebeu com um sorriso e com os braços abertos. À todas as pessoas que compõem o GEPTED e QTEMOSS e que contribuíram com importantes debates no Serviço Social. Agradeço por todo o enriquecimento intelectual partilhado. À Prof.ª Dr. ª Antoinette por pelo carinho, pelo incentivo e pela atenção no estágio docência na disciplina Seminário Temático sobre gênero. À Prof.ª Dr. ª Regina Ávila pela valiosa contribuição ao meu projeto e na minha formação profissional. À Profª Rita de Lourdes pelo incentivo aos estudos e por se dispor a participar como suplente na banca de defesa de dissertação. À todas as professoras, bolsistas de apoio técnico e funcionárias/os que compõem o Programa de Pós-Graduação em Serviço Social. À todas entrevistadas e entrevistados, que disponibilizaram um tempo precioso para a minha pesquisa. A CAPES pela bolsa que possibilitou minha dedicação integral a esta pesquisa..

(8) E por fim, gratidão à Prof.ª Dr. ª Andréa Lima, minha querida orientadora, pelo incentivo, pela firmeza e pela preciosa contribuição. Pela partilha de emoções ao longo dessa caminhada tão especial para mim. À Prof.ª Dr.ª Silvana Mara e Prof.ª Dr. ª Mirla Cisne que desde a qualificação me acompanharam e aceitaram participar da banca de defesa. É uma alegria e honra contar com a contribuição de vocês neste processo.. Muito obrigada, axé!.

(9) “Nenhum momento é sem perigo. Na sua própria casa, falar, desafiar é cortejar a dor. Na rua, andar à noite é convidar a agressão. Na minha sociedade, protestar contra a opressão é se expor a uma violência ainda maior. Por muito tempo tenho estudado a profundidade e extensão da guerra. No final, compreendi que ser uma mulher é uma luta sem fim para viver e ser livre.” Joi Bairros..

(10) RESUMO A efetivação das políticas neoliberais pelo Estado brasileiro, desde a década de 1990, imprimiu uma agenda de destruição dos direitos da classe trabalhadora com alógica do "estado mínimo" e corte no financiamento das políticas públicas. A educação superior, em especial, foi duramente impactada por uma lógica mercantil, de viés empresarial, que provocou o aligeiramento dos cursos, o sucateamento da universidade pública e a intensa privatização do ensino, através das recomendações de organismos internacionais como o Banco Mundial e o Fundo Monetário Internacional. O pensamento conservador, fortalecido pela ideologia neoliberal adentrou em todas as esferas da vida social e fortalece nas relações sociais, o individualismo, a fragmentação, a intolerância, o machismo, o racismo, a homofobia e o ódio entre as classes sociais. Estas mudanças impactaram, também, e, diretamente a formação profissional em Serviço Social, exigindo da profissão, um rigoroso trato teórico-metodológico, ético-político e técnico-operativo diante da ofensiva conservadora em curso, do desmonte do ensino superior e uma maior ação das entidades profissionais na defesa da educação pública e de qualidade. A partir do entendimento do feminismo como um elemento estratégico para o fortalecimento da formação e do exercício profissional, de uma categoria composta majoritariamente por mulheres e que tem como demanda expressiva, as mulheres da classe trabalhadora, este trabalho objetivou analisar os avanços, contradições e rebatimentos da discussão de gênero e feminismo na formação profissional em Serviço Social. O lócus da pesquisa foram quatro instituições de ensino superior do estado do Rio Grande do Norte, a saber: Universidade Federal Rio Grande do Norte (UFRN), Universidade do Estado do Rio Grande do Norte (UERN), Universidade Potiguar (UNP) e Centro Universitário do Rio Grande do Norte (UNI-RN). Realizamos entrevistas semiestruturadas com oito discentes e oito docentes das instituições de ensino superior, totalizando dezesseis pessoas entrevistadas. A investigação é embasada pelo método materialista histórico dialético a partir da técnica de abordagem quanti-qualitativa e pesquisa bibliográfica. Além disso, utilizamos análise documental com base nos projetos pedagógicos e nas grades curriculares dos cursos. Como resultado da pesquisa, consideramos que a discussão de gênero e feminismo é imprescindível para o Serviço Social e contribui de forma significativa para a qualidade da formação profissional. A articulação política com o movimento feminista e com os movimentos sociais, favorecem e qualificam esta discussão. Contudo, o aligeiramento e o desmantelamento do ensino superior podem interferir de forma direta no processo formativo, principalmente nas instituições privadas, prejudicando a contribuição do gênero e do feminismo no processo formativo. Por fim, considera-se que a luta por uma educação de qualidade, laica, socialmente referenciada, e feminista é um desafio para o Serviço Social em tempos de avanço do pensamento conservador. Palavras-chave: Feminismo, Gênero, Serviço Social, Formação profissional..

(11) ABSTRACT. The implementation of neoliberal policies by the Brazilian State since the 1990s has established an agenda for the destruction of working class rights with the "minimal state" logic and a cut in the financing of public policies. Conservative thought, strengthened by neoliberal ideology, has penetrated into all spheres of social life and strengthens social relations, individualism, fragmentation, intolerance, chauvinism, racism, homophobia and hatred among social classes. These changes also impacted, and directly, the professional formation in Social Work, demanding from the profession, a rigorous treatment theoretical-methodological, ethical-political and technical-operative in the face of the ongoing conservative offensive, dismantling of higher education and greater action of professional entities in the defense of public education and quality. Based on the understanding of feminism as a strategic element for the strengthening of training and professional practice, of a category composed mainly of women and that has as expressive demand, working women, this work aimed to analyze the advances, contradictions and rebuttals the discussion of gender and feminism in vocational training in Social Work. The locus of the research were four institutions of higher education of the state of Rio Grande do Norte, namely: Universidade Federal Rio Grande do Norte (UFRN), Universidade do Estado do Rio Grande do Norte (UERN), Universidade Potiguar (UNP) e Centro Universitário do Rio Grande do Norte (UNI-RN). We conducted semi-structured interviews with eight students and eight teachers from higher education institutions, totaling sixteen people interviewed. The research is based on the dialectical historical materialist method based on quantitative-qualitative approach and bibliographic research. In addition, we use documentary analysis based on the pedagogical projects and the curricular grades of the courses As a result of the research, we consider that the discussion of gender and feminism is essential for Social Work and contributes significantly to the quality of professional training. The political articulation with the feminist movement and with the social movements, favor and qualify this discussion. However, the lightening and dismantling of higher education can directly interfere in the formative process, especially in private institutions, impairing the contribution of gender and feminism in the formation process. Finally, it is considered that the struggle for quality education, secular, socially referenced, and feminist is a challenge for Social Work in times of conservative thinking. Keywords: Feminism, Gender, Social Work, Professional qualification..

(12) LISTA DE ILUSTRAÇÕES. Figura 1: Síntese das primeiras edições feministas do CFESS Manifesta......... 94. Figura 2: Síntese das edições mais atualizadas do CFESS Manifesta com a temática feminista, de diversidade sexual e questão étnica/racial ..................... 94. Figura 3: Capas das revistas Temporalis 27 e 28 ............................................... 104. Figura 4: Cartilha ENESSO feminista .................................................................. 108.

(13) LISTA DE QUADROS. Quadro 1: Resoluções voltadas para atemática feminista ou de diversdade sexual ....................................................................................................................... 95. Quadro 2: publicações com a temática feminista ou de diversdade sexual ...... 97. Quadro 3: Disciplinas obrigatórias que discutem gênero e feminismo - UFRN ................................................................................................................................ 122. Quadro 4: Disciplinas optativas que discutem gênero e feminismo - UFRN ... 122. Quadro 5: Disciplinas obrigatórias que discutem gênero e feminismo - UERN ................................................................................................................................ 126. Quadro 6: Disciplinas optativas que discutem gênero e feminismo - UERN ... 126. Quadro 7: Ano de entrada das discentes nos cursos de Serviço Social ......... 147.

(14) LISTA DE GRÁFICOS. GRÁFICO 1: Edições do CFESS Manifesta (2004-2017) ....................................... 92. GRÁFICO 2: Artigos recebidos para a publicação na revista Temporalis ....... 104. GRÁFICO 3: Formação profissional das/os docentes ...................................... 138.

(15) LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS. ABAS. Associação Brasileira de Assistentes Sociais. ABESS. Associação Brasileira de Ensino em Serviço Social. ABEPSS. Associação Brasileira de Ensino e Pesquisa em Serviço Social. ANDES. Sindicato Nacional Dos Docentes Das Instituições De Ensino Superior. ANEL. Assembleia Nacional dos Estudantes – Livre. ANPUH. Associação Nacional de História. BM. Banco Mundial. BNCC. Base Nacional Comum Curricular. CASS. Centro Acadêmico em Serviço Social. CBAS. Congresso Brasileiro de Assistentes Sociais. CEAS. Centro de Estudo e Ação Social. CEP. Código de Ética Profissional. CFAS. Conselho Federal de Assistentes Sociais. CFESS. Conselho Federal de Serviço Social. CNPQ. Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico. CRAS. Conselho Regional de Assistentes Sociais. CRESS. Conselho Regional de Serviço Social. DEAM. Delegacia Especializada de Atendimento à Mulher. DEM. Democratas. EAD. Ensino à Distância. ENESSO. Executiva Nacional dos Estudantes de Serviço Social. ENPESS. Encontro Nacional de Pesquisadoras/es em Serviço Social. ESSN. Escola de Serviço Social de Natal. FASSO. Faculdade de Serviço Social.

(16) FIES. Fundo de Financiamento Estudantil. FMI. Fundo Monetário Internacional. IES. Instituições de Ensino Superior. INEP. Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira. IPEA. Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada. LDB. Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional. LGBT. Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis, Transexuais e Transgêneros.. MEC. Ministério da Educação e Cultura. PADES. Programa de Apoio às Instituições de Ensino Superior. PEC. Projeto de Emenda à Constituição. PEP. Projeto Ético-político. PMDB. Partido do Movimento Democrático Brasileiro. PNE. Plano Nacional de Educação. PROUNI. Programa Universidade para Todos. PSDB. Partido da Social Democracia Brasileira. PT. Partido dos Trabalhadores. REUNI. Reestruturação e Expansão das Universidades Federais. SESU. Secretaria de Ensino Superior. SESSUNE Subsecretaria de Serviço Social na União Nacional dos Estudantes SINAES. Sistema Nacional de Avaliação da Educação Superior. SIPS. Sistema de Indicadores de Percepção Social. TCLE. Termo de Consentimento Livre e Esclarecido. UDESC. Universidade do Estado de Santa Catarina. UFRN. Universidade Federal do Rio Grande do Norte. UERN. Universidade do Estado do Rio Grande do Norte. UNI-RN. Centro Universitário do Rio Grande do Norte.

(17) UNP. Universidade Potiguar.

(18) SUMÁRIO. 1 INTRODUÇÃO................................................................................................... 2 A OFENSIVA CONSERVADORA E O DESMONTE DA EDUCAÇÃO: UMA ANÁLISE DO SERVIÇO SOCIAL BRASILEIRO ................................................. 2.1 A ATUALIZAÇÃO DO PENSAMENTO CONSERVADOR NA VIDA SOCIAL: ELEMENTOS PARA O DEBATE CONTEMPORÂNEO......................................... 2.2 O PROCESSO DE CONTRARREFORMA NA EDUCAÇÃO BRASILEIRA: DO GOVERNO FHC AOS GOVERNOS PETISTAS.............................................. 2.3 O GOVERNO GOLPISTA DO TEMER: MAIS RETROCESSOS, DESMONTE TOTAL DOS DIREITOS E O DEBATE DO FEMINISMO EM XEQUE................................................................................................................... 3 GÊNERO, FEMINISMO E SERVIÇO SOCIAL: ALGUMAS CONSIDERAÇÕES PARA O DEBATE................................................................. 3.1 A CRÍTICA AO CONCEITO DE GÊNERO: algumas CONSIDERAÇÕES NO ÂMBITO DA TEORIA CRÍTICA E DO SERVIÇO SOCIAL..................................... 3.2 RELAÇÕES PATRIARCAIS DE GÊNERO E RELAÇÕES SOCIAIS DE SEXO: APONTAMENTOS PARA O DEBATE ENTRE AS CATEGORIAS ANALÍTICAS........................................................................................................... 3.3 FEMINISMO E SERVIÇO SOCIAL: UMA ANÁLISE DESTA RELAÇÃO HISTÓRICA E COMPLEXA.................................................................................... 3.3.1 Breve histórico das entidades da categoria: por onde a luta começa...................................................................................................... 3.3.2 Agenda feminista em construção: as lutas travadas pelas entidades profissionais............................................................................................. 3.3.2.1 O conjunto CFESS/CRESS: a pauta do feminismo, da diversidade sexual e questão étnico-racial..................................................................... 3.3.2.2 O debate do feminismo na ABEPSS................................................ 3.3.2.3 A ENESSO feminista............................................................................. 4 OS AVANÇOS, AS CONTRADIÇÕES E OS REBATIMENTOS DA DISCUSSÃO DE GÊNERO E FEMINSMO NO SERVIÇO SOCIAL...................... 4.1 FEMINISMO UMA NECESSIDADE?: UMA ANÁLISE DA FORMAÇÃO PROFISSIONAL..................................................................................................... 4.1.1 O Projeto pedagógico e a grade curricular do curso de Serviço Social da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN)...................................................................................................... 4.1.2 O Projeto pedagógico e a grade curricular do curso de Serviço Social da Universidade do Estado do Rio Grande do Norte (UERN)....................................................................................................... 4.1.3 O debate do feminismo no curso de Serviço Social da Universidade potiguar (UNP)........................................................................................... 4.1.4 Considerações sobre o curso de Serviço Social do Centro. 20 32 33 39. 49 60 62. 69 73 86 90 91 101 107 111 114. 120. 125 128.

(19) Universitário do Rio Grande do Norte (UNI-RN)........................................... 4.2 A CONSTRUÇÃO DE UMA CULTURA FEMINISTA NA FORMAÇÃO PROFISSIONAL: MEXEU COM UMA, MEXEU COM TODAS!............................. 4.3 "A NOSSA LUTA É TODO DIA, CONTRA O MACHISMO, RACISMO, LGBTFOBIA": A URGÊNCIA DO FEMINISMO PARA ALÉM DA SALA DE AULA 5 CONSIDERAÇÕES FINAIS............................................................................... REFERÊNCIAS...................................................................................................... ANEXOS................................................................................................................. APÊNDICES............................................................................................................ 133 137 146 156 161 169 174.

(20) 20. 1 INTRODUÇÃO. A relação entre gênero, feminismo e Serviço Social tem se destacado nos últimos tempos, em inúmeros estudos aprofundados e de relevância significativa para o fortalecimento da profissão, no âmbito da formação e do exercício profissional. O aumento de trabalhos relacionados a estas temáticas nos principais eventos da categoria, como Congresso Brasileiro de Assistentes Sociais (CBAS) e Encontro Nacional de Pesquisadores/as em Serviço Social (ENPESS), evidencia esse crescimento. O interesse por esta temática, que envolve três questões importantes para o Serviço Social (gênero, feminismo e a formação profissional), é reflexo da aproximação com a problemática da violência contra as mulheres que se desenvolveu a partir do estágio curricular obrigatório na Delegacia Especializada de Atendimento à Mulher (DEAM) da Zona Sul na cidade do Natal/RN; nos espaços militantes e feministas de formação política, tais como o Centro Acadêmico de Serviço Social (CASS) da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN) e a Assembleia Nacional dos Estudantes Livre (ANEL) que foram fundamentais para este processo de envolvimento pessoal, político e profissional. Dessa experiência, foi possível a realização da monografia intitulada “Gênero e Serviço Social: estratégia política para a formação profissional das/os estudantes da UFRN”1. Neste trabalho monográfico, a discussão de gênero 2 na formação profissional foi compreendida como um elemento importante para o preparo técnico e teórico, bem como para a prática da/o3 assistente social. A partir deste trabalho, outras reflexões e questões foram amadurecendo no que tange a formação profissional e a pertinência do feminismo neste processo.. 1. Monografia defendida em 2011 e orientada pela Professora Doutora Andréa Lima da Silva. Entende-se que gênero é um conceito amplo, utilizado por diversas correntes e organizações feministas que tem por objetivo compreender as desigualdades sociais entre homens e mulheres. Por ser um conceito a-histórico, neutro e apolítico, concebemos a importância de historicizar e desinvibilizar a dominação e a exploração das mulheres e optamos por utilizar, para fins de análise, a categoria ordem patriarcal de gênero, entendendo que “trata-se, pois, da falocracia, do androcentrismo, da primazia masculina. É, por conseguinte, um conceito de ordem política” (SAFFIOTI, 2004, p.139). 3 Considerando a resolução Nº 594, de 21 de janeiro de 2011 do Conselho Federal de Serviço Social (CFESS), esta dissertação garante a linguagem de gênero. Para tanto, utilizaremos as formas “as/os” ao nos referirmos as mulheres e homens. Consideramos que o uso de “@ ou X” prejudica a compreensão deste trabalho para as pessoas que necessitem de leitores de tela. 2.

(21) 21. Como se sabe, a crise do capital tem atingido de sobremaneira a classe trabalhadora, mas vem impactando de forma intensa a vida das as mulheres, através da intensificação da violência, expressa no machismo, no racismo e no patriarcado. Esse contexto tem reivindicado do Serviço Social, um maior entendimento sobre as expressões da questão social que impactam a vida das mulheres exigindo um posicionamento crítico e combativo, frente à barbarização do tempo presente e ao tensionamento da luta de classes. O feminismo4, aqui compreendido como feminismo materialista, tem se destacado como uma importante questão de análise e direcionamento político para o Serviço Social, na medida em que permite a compreensão crítica da totalidade, desvelando o sistema de exploração e dominação a qual estão sujeitas as mulheres na. sociabilidade. capitalista.. Desse. modo,. pensar. o. feminismo. na. contemporaneidade é reconhecer a existência e o avanço de um espaço político para discussão, efetivação e também de recuos dos direitos das mulheres e suas consequências na vida cotidiana. Segundo dados do Observatório da Violência contra a mulher5, em 2017, a taxa de homicídios de mulheres cresceu principalmente entre as mulheres negras. Esses dados indicam a reprodução acentuada do machismo e do racismo, que impõe cotidianamente um papel de subalternidade da mulher em relação ao homem; um padrão de beleza eurocêntrico que não valoriza a diversidade dos corpos e mentes das mulheres e ainda um regime que ainda nos encarrega com responsabilidades exclusivas na esfera privada. Para além do machismo, o patriarcado, também, é incorporado e retroalimentado no tempo presente, se espraiando por todos os âmbitos da vida social e intensificando a escala de violência contra a vida das mulheres. Estes aspectos da realidade não se desenvolveram fragmentados, pelo contrário, fazem parte da mesma lógica de opressão e exploração da sociedade de 4. Feminismo é ao mesmo tempo uma teoria que analisa criticamente o mundo e a situação das mulheres, um movimento social que luta por transformação e uma atitude pessoal diante da vida. (SILVA E CAMURÇA, 2010, p. 9). Cabe ressaltar que o feminismo possui em sua essência uma unidade de diversidades e diferenças, dispondo de diversas teorias e características, que incidem diretamente na forma de organização política, agregando diversas mulheres em torno de pautas que podem ser similares, ou não, a outros coletivos feministas. Conforme aponta Cisne (2012b, p.148), o movimento feminista, entretanto, possuí em seu seio uma diversidade de perspectivas, tanto no que diz respeito à dimensão teórica, como política. 5 SENADO. Observatório da Violência contra a Mulher aponta aumento no número de assassinatos. Disponível em: <http://www12.senado.leg.br/noticias/videos/2017/02/observatorio-da-violencia-contraa-mulher-aponta-aumento-no-numero-de-assassinatos>. Acesso em: 11 ago. 2017..

(22) 22. classes. A divisão sexual do trabalho6 legitimada antes do surgimento do capitalismo, já segregava os papéis sociais desempenhados por homens e por mulheres. Conforme aponta Engels (2009, p. 75), Hoje posso acrescentar que a primeira oposição de classes que apareceu na história coincide com o desenvolvimento do antagonismo entre o homem e a mulher, na monogamia e que a primeira opressão de classe coincide com a opressão do sexo feminino pelo masculino.. Com o surgimento do capitalismo e a divisão da sociedade em duas classes antagônicas, as mulheres passaram a ser mais inferiorizadas, tanto na esfera produtiva, como na esfera reprodutiva. Não obstante, essa cisão também serviu para que as mulheres de uma classe (proletariado) fossem mais exploradas e oprimidas por mulheres e homens de outra classe (burguesia), devido ao maior poder econômico e político que estas/es detêm na sociedade de classes. Aos homens trabalhadores lhes foi reservado a mesma condição de exploração, todavia, a exploração e a opressão se intensificam de forma mais acentuada para as mulheres. É aqui, que majoritariamente se insere o trabalho do Serviço Social. As mulheres trabalhadoras compõem em sua grande parte, uma demanda expressiva para o trabalho das/os assistentes sociais em decorrência desta situação de exploração. No âmbito do Serviço Social, as mulheres ainda são maioria e neste sentido as assistentes sociais também são atingidas pelo pensamento conservador na ofensiva neoliberal. Conforme aponta Iamamoto (2011, p.34), O projeto neoliberal surge como uma reação ao Estado de Bem-Estar Social, contra a democracia. Com a crise dos anos 1970, as ideias neoliberais são assumidas como ‘a grande saída’, preconizando a desarticulação do poder dos sindicatos, como condição de possibilitar, o rebaixamento salarial, aumentar a competitividade dos trabalhadores e impor a política de ajuste monetário.. É a partir deste período em que valores conservadores se fortalecem e se espraiam, no campo subjetivo e objetivo, a fim de conduzir todas as esferas da vida e das relações humanas por outro viés ideológico, mais fragmentado, instável, individualizado, competitivo. Em que o trabalho é cada vez mais precarizado, em que a violência é naturalizada, em que os direitos sociais são mercantilizados, pois. 6. A divisão sexual do trabalho “[...] tem por características a destinação prioritária dos homens à esfera produtiva e das mulheres à esfera reprodutiva e, simultaneamente, a apreensão pelos homens das funções de forte valor social agregado”. (KERGOAT, p. 67, 2009).

(23) 23. “[...] o modo capitalista de reproduzir e o de pensar são inseparáveis e ambos se expressam no cotidiano da luta social” (DURIGUETTO, MONTANO, 2011, p. 106). A direção social dada por este projeto, claramente conservador, também provoca o apagamento das diferenças entre as classes sociais, com o objetivo de refrear a mobilização da classe trabalhadora. O conservadorismo, que atinge a sociedade de forma direta, também alcança as mulheres, principalmente as mulheres da classe trabalhadora. O modo de vida é transformado e as relações sociais têm seus valores modificados. Embora as mulheres tenham alcançado conquistas significativas, através das lutas e pautas feministas, o capital possui suas estratégias para mantê-las, em maior ou menor grau, submissas e subjugadas aos seus ditames através de uma cultura patriarcal e machista, já que, “[...] a cultura de subordinação da mulher encontra-se diretamente relacionada com a manutenção e reprodução do capital” (CISNE, 2012, p.115). Deste modo, basta uma breve análise da realidade para compreender que muitos direitos não se concretizam na vida das mulheres. Estas, que são demanda expressiva do Serviço Social, ficam mais expostas às necessidades sociais com o agravamento das expressões da questão social. Enquanto uma categoria profissional. organizada,. nós,. assistentes. sociais,. somos. desafiadas/os. cotidianamente para responder criticamente e criativamente às demandas da classe trabalhadora à crise do capital. Esta realidade fragmentada, imediatista, efêmera, utiliza suas estratégias para que nossas ações sejam pautadas na mesma lógica de urgência. Porém, na contramão desta sociabilidade, encontramos espaços de resistência que são fundamentais para estarmos sintonizadas/os com os valores sociais historicamente construídos. Para tanto, [...] Esta parece ser uma das condições para que o assistente social possa romper com a relação tutelar e de estranhamento com os sujeitos junto aos quais se trabalha e um caminho fértil para a formulação de propostas novas de trabalho. (IAMAMOTO, 2011, p. 76). Por isso, destaca-se a necessidade de uma prática profissional condizente com os valores feministas e emancipatórios para responder as demandas ou através da própria inserção na luta de classes. Isto se justifica na medida em que encontramos uma realidade que desafia cada vez mais o Serviço Social a manter seus princípios e fundamentos firmes e bem direcionados. Isto que a sociabilidade do capital flexibiliza o processo de ensino e aprendizagem na formação profissional,.

(24) 24. reatualizando as bases do pensamento conservador. De acordo com Barroco (2011, p.213), “[...] nesse sentido, a conjuntura pode favorecer a sua reatualização sob novas roupagens e demandas”. Neste cenário de desmantelamento do ensino superior, é fundamental nos voltarmos aos documentos construídos coletivamente pela categoria, tal como as Diretrizes Curriculares da ABEPSS (1996), o Código de Ética Profissional (1993), Lei de Regulamentação profissional (1993), entre outros, e enfatizar a sua atualidade, na defesa de um ensino de qualidade, gratuito, laico e socialmente referenciado, articulando as competências teórico-metodológicas, técnico-operativas e éticopolíticas, para descortinar as possibilidades de atuação. Para tanto, a formação profissional deve “[...] viabilizar uma capacitação teórico-metodológica, técnicooperativa e ético-política com vistas à apreensão crítica dos processos sociais numa perspectiva de totalidade” (ABEPSS, 1999, p.01). O profundo embasamento teórico, oriundo das competências profissionais, se torna demasiadamente importante pois implica na materialização do nosso projeto ético-político construído historicamente e é essencial para defesa intransigente dos direitos humanos e particularmente em relação aos direitos das mulheres. Todavia essa articulação, entre teoria e prática, exige algumas questões pontuais no que se refere à formação da/o assistente social neste contexto de crise do capital e nos faz repensar a relevância do gênero e do feminismo7 para o processo formativo em Serviço Social. Assim, algumas reflexões nortearam nossos estudos: como está pautado o debate sobre a questão de gênero no Serviço Social? Há no processo de formação profissional a construção de uma cultura feminista? A formação profissional permite a compreensão e o enfrentamento dos valores conservadores que avançam na sociedade brasileira? Deste modo, esta pesquisa tem por objetivo geral analisar os avanços, contradições e rebatimentos da discussão de gênero e feminismo na formação profissional em Serviço Social. Na construção deste objetivo de estudo, definimos como objetivos específicos: investigar, a partir da reformulação do currículo de Serviço Social, a 7. Entendemos que a discussão do gênero e do feminismo apresentam conteúdos que dialogam entre si tal como o patriarcado, o machismo, o racismo e a diversidade sexual na análise das relações sociais. Trabalhamos com estes dois conteúdos considerando sua pertinência para a formação profissional..

(25) 25. efetivação da discussão de gênero e do feminismo no processo de formação profissional no estado do Rio Grande do Norte; analisar o avanço do conservadorismo no Brasil e seus rebatimentos na formação profissional no que se refere à questão de gênero e feminismo e por fim, pesquisar a agenda feminista do conjunto CFESS-CRESS (de 2004 a 2017), ABEPSS (2015-2017) e ENESSO (2013-2017) e sua contribuição para a formação profissional nos últimos anos. Com o propósito de compreender as contradições inerentes à ordem do capital, utilizamos nesta pesquisa a perspectiva crítica existente no método em Marx. Considera-se que o método permite apreender o real, considerando a análise dos contextos históricos, as determinações socioeconômicas dos fenômenos, as relações de produção e de reprodução, permitindo o conhecimento teórico que parte da aparência de modo a alcançar a essência do objeto (NETTO, 2011), confrontando, portanto, o saber pragmático, descritivo, desconectado da realidade e que tende à culpabilização do indivíduo sobre as problemáticas produzidas pelo modo de produção capitalista. Para tanto, Nessa perspectiva, que é crítica, histórica e ontológica, o sujeito que quer conhecer não apenas descreve, mapeia ou retrata. Esse é um trabalho préteórico importante. Mas o central nessa linha de análise é que o sujeito procura reproduzir idealmente o movimento do objeto, extrai do objeto as suas características e determinações, reconstruindo-o no nível do pensamento como um conjunto rico de determinações que vão além das suas sugestões imediatas (BEHRING; BOSCHETTI, 2010, p. 38).. Também destacamos que o método em Marx também contribui para o entendimento crítico da condição da mulher na sociedade, de tal modo que “[...] se faz indispensável para a luta das mulheres, uma vez que tem por objetivo a sociedade burguesa e sua superação” (CISNE, 2012, p.96). A sistematização dos dados coletados na pesquisa de campo ocorreu através de. análise. quanti-qualitativa,. considerando. que. os. pressupostos. teórico-. metodológicos utilizados não permitem a separação entre as pesquisas quantitativas e qualitativas. Para Setúbal (1999, p.69), “[...] tais procedimentos [...] se interelacionam de forma complementar, fazendo incursões entre si”. Ademais, de modo a permitir a aproximação sucessiva do objeto de estudo também participamos do XV Congresso Brasileiro de Assistentes Sociais (CBAS)8 e o do XV Encontro 8. O XV CBAS ocorreu nos dias 05 a 09 de setembro em Olinda (PE)..

(26) 26. Nacional de Pesquisadoras/es em Serviço Social (ENPESS)9, onde pudemos acompanhar os espaços de socialização e discussão da produção científica no que tange ao gênero e ao feminismo no Serviço Social. Desse modo, escolhemos para a parte empírica da pesquisa quatro instituições de ensino superior que ofertam o curso de Serviço Social na modalidade presencial, no estado do Rio Grande do Norte: a Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN)10, a Universidade do Estado do Rio Grande do Norte (UERN)11, a Universidade Potiguar (UNP)12 e o Centro Universitário do Rio Grande do Norte (UNI-RN)13. Além disso, buscou-se realizar análise documental da estrutura curricular dos cursos, a fim de conhecer quais as disciplinas obrigatórias ou complementares que abordam a temática de gênero e feminismo no curso de Serviço Social e análise e do projeto pedagógico dos cursos, considerando estes documentos como fundamentais para a efetivação das Diretrizes Curriculares. Partimos do entendimento que as universidades públicas são pioneiras no ensino em Serviço Social no estado, se configurando como referências para este estudo e para o ensino superior. No que concerne às universidades privadas, destacamos a relevância de compreender a realidade destas, pois tendo em vista o processo de mercantilização do ensino e o aligeiramento da formação profissional, é importante conhecer como se desenvolve a realidade da formação profissional também nestes dois espaços. Assim, logo após o recebimento da carta de anuência das instituições e aprovação da pesquisa no Comitê de Ética em Pesquisa do Hospital Universitário Onofre Lopes (CEP HUOL), realizamos o contato prévio com o departamento responsável pelo curso e com as/os entrevistadas/os, de modo a agendar as entrevistas. O contato nas universidades públicas foi efetuado com facilidade e o a solicitação dos documentos foi rapidamente atendida. Já nas instituições privadas, a comunicação foi extremamente dificultada. Desde o contato telefônico com as instituições, até a demora em responder as solicitações dos documentos.. 9. O XV ENPESS ocorreu nos dias 04 a 09 de dezembro de 2016 em Ribeirão Preto (SP). O curso de Serviço Social da UFRN é ofertado apenas no campus central, localizado na capital do estado, Natal (RN). 11 O Curso de Serviço Social da UERN é ofertado apenas no campus central, localizado no oeste potiguar, em Mossoró (RN). 12 O curso de Serviço Social da UNP é ofertado em Natal e em Mossoró (RN). 13 O Curso de Serviço Social do UNI-RN é ofertado apenas em Natal (RN). 10.

(27) 27. Na UNP nos foi negado o projeto pedagógico do curso de Serviço Social e a grade curricular, sendo justificado pelas responsáveis dos cursos se tratar de documentos internos. Contudo, em pesquisa bibliográfica realizada na internet, consta o projeto pedagógico do referido curso acessível na integra. Dessa forma, nos questionamos: por que a instituição nega o acesso aos documentos solicitados, argumentando se tratar de documentos internos, se um destes se encontra disponível na internet? Qual o interesse da instituição em não permitir a consulta a este material na pesquisa? No UNI-RN, apenas o projeto pedagógico nos foi negado, sendo utilizada a mesma justificativa. A grade curricular do curso foi entregue e se encontra disponível no site da instituição. A partir dessa experiência, permanece o questionamento: por que as instituições privadas cerceiam o acesso a estes documentos que são de interesse público de estudantes e profissionais na área? No que se refere ao contato com as professoras e estudantes, este foi realizado de forma rápida, todavia o agendamento das entrevistas dependeu da dinâmica de trabalho das docentes. A pesquisa de campo foi realizada através de entrevista semiestruturada com duas discentes da graduação e duas/dois docentes de cada instituição, a fim de compreender a dinâmica dos processos de ensino e os limites e possibilidades da formação, no tocante as temáticas de gênero e feminismo no Serviço Social. Ao todo foram oito discentes e oito docentes entrevistadas/os, totalizando dezesseis pessoas. De modo a garantir a manutenção da integridade e sigilo sobre a identidade das pessoas entrevistadas, utilizamos nomes fictícios de modo a homenagear importantes autoras e militantes que contribuíram com a discussão de gênero e feminismo, além de poetisas da literatura local, nacional e mundial14. Dessa forma, as/os docentes são: Gayle Rubin e Joan Scott (UERN), Emma Goldman e Patrícia Galvão (UFRN); Alexandra Kollontai e Judith Butler (UNP) e Daniele Kergoat e Helena Hirata (UNI-RN). As discentes são: Angela Davis e Conceição Evaristo (UERN); Zila Mamede e Carolina de Jesus (UFRN); Elizandra Souza e Paulina Chiziane (UNP) e Nísia Floresta e Clara Camarão (UNI-RN). O critério para a seleção das discentes considerou a facilidade de acesso as mesmas. Já a seleção das/os docentes considerou preferencialmente aquelas/es 14. Ver mais em anexo..

(28) 28. que tivessem algum envolvimento com a temática, destacando a importância de compreender as principais dificuldades no processo de ensino e aprendizagem concernentes ao gênero e ao feminismo, bem como as possibilidades oriundas deste processo. Todavia, duas docentes selecionadas não puderam responder as entrevistas a tempo, o que nos motivou a flexibilizar esse critério para outras professoras que não tinham envolvimento com a temática, devido a limitação do tempo de execução da pesquisa. A flexibilidade deste critério considerou que a formação generalista da profissão e a transversalidade da discussão de gênero no cotidiano de trabalho não impactaria no resultado dos dados. As entrevistas semiestruturadas permitiram que as estudantes e as/os docentes entrevistadas/os pudessem ter uma direção sobre os questionamentos levantados, possibilitando uma investigação mais precisa. Desta forma, dividimos as entrevistas em três eixos: 1. Trajetória profissional, 2. Formação profissional e 3. Campanhas feministas do conjunto CFESS-CRESS, ABEPSS e ENESSO. As perguntas contidas nestes eixos pretenderam investigar sobre a pertinência da discussão de gênero e feminismo na formação profissional, sobre a possibilidade de construção de uma cultura feminista na profissão e sobre a visibilidade das campanhas feministas das entidades profissionais para a categoria. As entrevistas foram gravadas mediante autorização das/os entrevistadas/os e foram certificadas/os através do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE), conforme a resolução 510/2016 do Conselho Nacional de Saúde (CNS)15. Com a finalidade de promover a organização e documentação do estudo no processo investigativo, trabalhamos com registro do cotidiano da pesquisa em diário de campo. No tratamento dos dados colhidos na pesquisa empírica, trabalhamos com a análise de conteúdo por meio da análise categorial que “[...] funciona por operações de desmembramento do texto em unidades, em categorias segundo reagrupamentos analógicos” (BARDIN, 2011, p. 201). Para tanto, pudemos verificar na análise do objeto de estudo que o conteúdo sobre gênero e feminismo tem sido pautado na formação profissional através de disciplinas orientadas pelas diretrizes curriculares, através da Associação Brasileira 15. Esta resolução trata dos aspectos éticos da pesquisa envolvendo seres humanos. Ver mais em: CONSELHO NACIONAL DE SAÚDE. http://conselho.saude.gov.br/resolucoes/2016/Reso510.pdf Acesso em: 11 ago. 2017..

(29) 29. de Ensino e Pesquisa em Serviço Social (ABEPSS). Nas universidades públicas, este conteúdo tem sido referendado através de disciplinas obrigatórias, enquanto nas instituições privadas o mesmo é oferecido enquanto disciplinas optativas. Embora saibamos que o gênero e o feminismo podem ser trabalhados de forma transversal em algumas disciplinas16, estes conteúdos não são aprofundados devido a carga horária e os outros conteúdos que precisam ser discutidos. O aligeiramento da formação profissional, a precarização do trabalho docente e tantos outros impasses, obstaculizam uma formação profissional que contemple estes aspectos transversais. Por isso, consideramos que a oferta de uma disciplina voltada para o gênero e feminismo de caráter obrigatório é de fundamental importância para a formação profissional e desmistifica no plano ideológico uma série de mecanismos próprios do capital, que servem para sua reprodução, como o machismo e o patriarcado. Aliás, Afirma-se a necessidade em se trabalhar a relação entre Serviço Social e gênero porque apesar dos avanços teóricos e políticos alcançados pela profissão, ainda persistem elementos conservadores em torno das relações de gênero no exercício da profissão [...]. Ademais não se desenvolveu, de forma generalizada, a percepção crítica das implicações da ‘marca de gênero’ no Serviço Social, o que dificulta o processo de luta pela renovação e valorização da profissão. (CISNE, 2012, p. 135). Ainda que as contradições próprias da organicidade da ordem do capital, indiquem que a oferta destes conteúdos não permita apreensão política necessária para a prática profissional coerente, alicerçada pelo projeto ético-político e Código de ética profissional, para todas/os as/os discentes, não se deve desconsiderar sua importância para a formação profissional. Para além do ensino, a pesquisa e extensão podem se constituir em um campo fértil para a formação, contudo não são asseguradas em todas as instituições e tampouco contemplam toda a quantidade de estudantes de Serviço Social. Mediante esta análise, a construção de uma cultura feminista na formação profissional fica comprometida nesta estrutura de ensino precarizada, tanto no âmbito público, quanto no privado. Conforme Iamamoto (2007, p.441) “[...] esse panorama do ensino superior universitário compromete a direção social do projeto 16. Disciplinas tais como: Formação Social, Econômica e Política do Brasil e do Nordeste, Ética Profissional e Serviço Social, Relações Sociais e Sociabilidade, Classes e Movimentos Sociais, Questão Urbana e Agrária, Fundamentos Histórico Teórico e Metodológico do Serviço Social, entre outras..

(30) 30. profissional que se propõe hegemônica, estimulando a reação conservadora e regressiva no universo acadêmico e profissional”. Embora o Serviço Social sinta os impactos da ofensiva neoliberal nas instituições, é preciso criar estratégias para na defesa de uma educação de qualidade e resistir bravamente contra o avanço do pensamento conservador. Como estratégia política, ressaltamos a possibilidade de reforçar este conteúdo, através da articulação com os movimentos sociais e feministas, através da formação política, de modo a resistir ao avanço do conservadorismo e a ideologia neoliberal. Com base nesta breve introdução, a dissertação aqui apresentada é estruturada em três capítulos. O capítulo 01, intitulado “A ofensiva conservadora e o desmonte da educação: uma análise do Serviço Social brasileiro”, trouxe um estudo sobre as origens do pensamento conservador, suas características históricas e sua incidência na atual conjuntura. Também contribuiu com uma análise do processo de contrarreforma na educação brasileira do governo do presidente Fernando Henrique Cardoso (FHC) até os governos petistas, além de destacar os retrocessos e o desmonte total dos direitos no atual governo Temer. A construção deste último item exigiu uma contínua atualização dos dados, pois desde o processo de impeachment, o presidente Temer tem deferido uma série de ataques aos direitos historicamente conquistados pela classe trabalhadora. Estas reflexões foram embasadas em: Anderson (1995), Barroco (2009), Boschetti (2015), Harvey (2012), Lima (2007), Marx (2009), Netto (2011), Sakurada (2017), Silva (2010), entre outras/os. O capítulo 02 “Gênero, Feminismo e Serviço Social: algumas considerações para o debate” teceu algumas críticas no que tange ao uso exclusivo da categoria gênero no âmbito da teoria social crítica e do Serviço Social, além de contribuir com o debate acerca das categorias “relações patriarcais de gênero” e “relações sociais de sexo”. Além disso, trouxe apontamentos sobre a relação histórica e complexa entre feminismo e Serviço Social, desde sua gênese até dos dias atuais. Por fim, destacamos a contribuição das entidades da categoria na construção de uma agenda feminista na profissão, socializando alguns dados das entrevistas. Contribuem com esta análise: Cisne (2012, 2014), Engels (2009), Iamamoto (2007, 2011), Oliveira (2016), Piscitelli (2002), Saffioti (1987, 2004), Scott (1989), Toledo (2008), Veloso (2001), entre outas/os..

(31) 31. O capítulo 03 “Os avanços, as contradições e os rebatimentos da discussão de gênero e feminismo no Serviço Social”, discutiu-se acerca da das particularidades da formação profissional no que tange a discussão de gênero e feminismo em quatro instituições de ensino superior, públicas e privadas, do estado do Rio Grande do Norte. A partir das diretrizes curriculares da ABEPSS, analisou-se os conteúdos trabalhados na grade curricular dos referidos cursos, pontuando as possibilidades de discussão feminista através do ensino. Por fim, destacou-se a investigação da pertinência da discussão de gênero e feminismo na formação profissional com as/os entrevistadas/os, assinalando os desafios impostos para a profissão. Neste capítulo, utilizamos como referencial teórico, as obras e documentos de: ABEPSS (1996), Carvalho e Iamamoto (2006), CFESS (2005), DESSO UFRN (2001), INEP (2010, 2016), FASSO UERN (2013), Lima (2014), Lima e Pereira (2009), Pontes (2011), Ramos e Santos (2016), UNP (2016), entre outros..

(32) 32. 2 A OFENSIVA CONSERVADORA E O DESMONTE DA EDUCAÇÃO: UMA ANÁLISE DO SERVIÇO SOCIAL BRASILEIRO. No tempo presente, entre avanços e retrocessos sociais, econômicos e políticos, a crise do capital mostra sua intensidade das mais variadas formas que se espraia pela vida cotidiana. A agenda neoliberal se efetiva sobre toda a estrutura pública, fomentando a crise do estado, através da profunda precarização dos serviços e políticas sociais ou extinguindo-os, através da privatização. O ajuste fiscal tem se abatido sobre os mais pobres, aumentando a pauperização, miséria e o endividamento da classe trabalhadora com as medidas de austeridade. No âmbito das relações sociais, assistimos e vivenciamos cada vez mais retrocessos que obedecem a uma lógica individualista, egocêntrica, competitiva, mercantil e desumanizada. Esta lógica, própria da sociabilidade, tem atingido de modo direto a educação e tem sido utilizada para reproduzir os valores e interesses da classe dominante através da profunda mercantilização do ensino e criminalização do pensamento crítico nas escolas. Conforme aponta Meszáros (2008, p.16), “[...] para que se aceite que “todos são iguais perante a lei”, se faz necessário um sistema ideológico que proclame e inculque cotidianamente esses valores na mente das pessoas”. Esse mesmo sistema ideológico potencializa o pensamento conservador e tem fortalecido a dominação e a exploração das trabalhadoras e trabalhadores. Neste cenário, pode-se constatar que o machismo17, o patriarcado18, a intolerância e o fundamentalismo religioso se acentuam, atingindo mais diretamente mulheres, negras/os e a população LGBT, através do aumento exacerbado da violência em todos os âmbitos da vida social. Esta conjuntura, permeada pela ofensiva conservadora, de cotidianos ataques brutais aos direitos historicamente conquistados e mercantilização da vida e das relações sociais, desafia o Serviço Social a pensar e agir, além de evidenciar a 17. Machismo é uma ideologia que legitima a dominação da mulher pelo homem (SAFFIOTI, 1987). Patriarcado são as relações sociais de opressão, exploração e dominação masculina sob as mulheres que perpassam todas as esferas da vida. Conforme aponta Saffioti (2004, p. 105) neste regime, as mulheres são objetos da satisfação sexual dos homens, reprodutoras de herdeiros, de força de trabalho e de novas reprodutoras. Cabe ressaltar ainda que a engrenagem do patriarcado pode ser acionada também pelas mulheres, visto que “o controle está sempre em mãos masculinas, embora elementos femininos possam intermediar e mesmo implementar estes projetos” (Idem, p. 106). 18.

(33) 33. necessidade de uma formação profissional de qualidade, preparada para lidar com a atual conjuntura. A profissão tem sido chamada para responder as novas expressões da questão social19, que se intensificam com o movimento da realidade antagônica, desigual e dinâmica. Entre as demandas profissionais impostas o feminismo20 se configura como um elemento necessário para a atuação do Serviço Social e sua necessidade se justifica na medida em que vivenciamos, cada vez mais, retrocessos que atingem diretamente as mulheres. De acordo com Iamamoto (2011, p. 28), [...] Aprender a questão social é também captar as múltiplas formas de pressão social, de invenção e reinvenção da vida, construídas no cotidiano, pois é no presente que estão sendo recriadas formas novas de viver, que apontam para um futuro que está sendo germinado.. Frente a este contexto regressivo, é fundamental apreender esta dinâmica histórica, a fim de compreender em toda sua complexidade e processualidade, com a finalidade de “[...] identificar os traços atuais do conservadorismo como uma condição para seguir lutando contra seu espraiamento e em defesa das históricas conquistas do nosso Projeto Ético-Político” (BOSCHETTI, 2015, p. 646). Por isso, nos deteremos sobre uma análise acerca do pensamento conservador, sua incidência na educação em tempos de desmonte do ensino, bem como, o feminismo enquanto estratégia política para o fortalecimento do Serviço Social. 2.1 A ATUALIZAÇÃO DO PENSAMENTO CONSERVADOR NA VIDA SOCIAL: ELEMENTOS PARA O DEBATE CONTEMPORÂNEO A ofensiva conservadora em curso no país tem atingindo de sobremaneira todas as dimensões objetivas e subjetivas da vida social. Em todas as esferas, é 19. Conforme aponta Iamamoto, (2011, p.27) “A Questão Social é apreendida como um conjunto das expressões das desigualdades da sociedade capitalista madura, que tem uma raiz comum: a produção social é cada vez mais coletiva, o trabalho torna-se mais amplamente social, enquanto a apropriação dos seus frutos mantém-se privada, monopolizada por uma parte da sociedade”. Para a autora, além das desigualdades citadas, a questão social também é “mediatizada por disparidades das relações de gênero, características étnico-raciais e formações regionais” (Idem, 2008, p.160). 20 Feminismo é ao mesmo tempo uma teoria que analisa criticamente o mundo e a situação das mulheres, um movimento social que luta por transformação e uma atitude pessoal diante da vida. (SILVA E CAMURÇA, 2010, p. 9). Cabe ressaltar que o feminismo possui em sua essência uma unidade de diversidades e diferenças, dispondo de diversas teorias e características, que incidem diretamente na forma de organização política, agregando diversas mulheres em torno de pautas que podem ser similares, ou não, a outros coletivos feministas. Conforme aponta Cisne (2012b, p.148), o movimento feminista, entretanto, possuí em seu seio uma diversidade de perspectivas, tanto no que diz respeito à dimensão teórica, como política..

(34) 34. possível refletir e sentir os rebatimentos desta ofensiva, que se materializa das mais diversas formas no cotidiano, ceifando direitos e conquistas históricas da população. O Serviço Social, também é atingido por essa ofensiva, que resgata valores e ideais de um determinado projeto político em detrimento de outro. Conforme aponta Barroco (2011, p. 209) “[...] no interior de uma dinâmica histórica complexa e contraditória, da luta de classes e da oposição entre projetos sociais, entre ideias e valores, se processa um modo de ser dominante, fortalecido pela base material de suas ideias”. A origem do conservadorismo data da configuração da sociedade burguesa, com o marco da Revolução Francesa derrubando as bases do sistema feudal, vigente na época. Com o desenvolvimento e consolidação da sociabilidade capitalista, “[...] o protagonismo revolucionário da burguesia cede lugar a um desempenho defensivo, voltado para a manutenção das instituições sociais que criou” (Netto L., 2011, p.46). Assim, todo o potencial revolucionário presente na burguesia é direcionado para defesa exclusiva de seus interesses enquanto classe dominante. Para tanto, A atenção dos conservadores se voltará para a construção de um corpo de conhecimentos que, favorecendo a gestão da ordem burguesa (mesmo que, para esta funcionar, haja que promover reformas dentro da ordem), permita controlar e regular suas crises e, assim, superar a ameaça revolucionária. (Ibidem, p. 52). Em 1848 irrompe-se uma série de revoluções de cunho populares na Europa, fazendo com que o conservadorismo clássico se legitimasse ao desenvolvimento da ordem capitalista, assumindo uma direção contrarrevolucionária, antirracionalista e antidemocrática. A classe dominante passa a difundir, então, valores conservadores a fim de afastar os ideais libertários da época e evitar maiores conflitos. Consoante com Iasi (2011, p. 21), Quando, numa sociedade de classes, uma delas detém os meios de produção, tende a deter também os meios para universalizar sua visão de mundo e suas justificativas ideológicas a respeito das relações sociais de produção que garantem sua dominação econômica.. Destarte, o conservadorismo vai se instaurando como direção política da burguesia que expressa tais ideias: a importância da tradição a fim de manter a.

(35) 35. autoridade e a liberdade de determinados sujeitos políticos; o controle da liberdade da sociedade, visto que os homens precisam ter suas paixões dominadas para evitar maiores enfrentamentos entre si; a democracia é concebida como um elemento perigoso, considerando que todos os homens querem o poder; a laicização é idealizada como algo nocivo ao Estado e à própria religião, e por fim, a naturalização da desigualdade entre as classes sociais. (NETTO, L., 2011) Estes subsídios, próprios do conservadorismo clássico vão se adaptando ao desenvolvimento das contradições da sociabilidade capitalista ao longo do tempo histórico. Assim, reincorporados na contemporaneidade, estes elementos se retroalimentaram até a crise do padrão de acumulação fordista-taylorista e da estagnação da economia na década de 1970, que comprometeu a organicidade do modo de produção capitalista e exigiu da classe dominante um projeto de expansão do capital que pudesse conter a intensificação das lutas sociais e a “ameaça” do comunismo no Leste Europeu. Para Mészáros (2010, p. 78-79), “[...] o capital não pode ter outro objetivo que não sua própria autorreprodução, à qual tudo, da natureza a todas as necessidades e aspirações humanas, deve se subordinar de modo absoluto”. Com isso, as mudanças no novo padrão de produção capitalista, com o objetivo de restaurar o poder da classe dominante, são difundidas através do processo de implementação do neoliberalismo21 que passa a vigorar em âmbito mundial. Assim, Esse processo marcou profundas alterações em todas as dimensões da vida social, combinando políticas que tenderam à estabilidade de preços, consolidação orçamental, desregulamentação de todos os mercados e comércio livre, com a construção de uma nova sociabilidade. (NEVES et al., 2010, p.65). Desta forma, embebido de uma roupagem que ora oculta e ora mostra sua intencionalidade, o conservadorismo se manifesta e se multiplica em todas as esferas da vida social, difundindo seu propósito: perpetuar a hegemonia da classe dominante através de todos os meios possíveis. Essa difusão trouxe transformações. 21. Conforme Harvey (2012, p.12) “O neoliberalismo é em primeiro lugar uma teoria das práticas político-econômicas que propõe que o bem-estar humano pode ser mais bem promovido liberando-se as liberdades e capacidades empreendedoras individuais no âmbito de uma estrutura institucional caracterizada por sólidos direitos a propriedade privada, livres mercados e livre concorrência. O papel do estado é criar e preservar uma estrutura institucional apropriada a essas práticas; o Estado tem de garantir, por exemplo, a qualidade e integridade do dinheiro”..

(36) 36. de grande impacto para a sociedade, que se manifestaram objetiva e subjetivamente. Com efeito, Tais processos atingem não só a economia e a política, mas afetam as formas de sociabilidade. Esse cenário, de nítido teor conservador, atinge as formas culturais, a subjetividade, as identidades coletivas, erodindo projetos e utopias. Estimula um clima de incertezas e desesperanças. A debilidade das redes de sociabilidade em sua subordinação às leis mercantis estimula atitudes e condutas centradas no indivíduo isolado, em que cada um “é livre” para assumir riscos, opções e responsabilidades por seus atos em uma sociedade de desiguais. (IAMAMOTO, 2008, p.144). Com a reorganização econômica, política e ideológica, orquestrada pelos governos conservadores e agências internacionais, a privatização foi ganhando preferência sob o público, a desregulamentação dos direitos se intensificando, os interesses coletivos sendo negociados pela conciliação de classes e a teoria neoliberal se espraiando cada vez mais, afetando profundamente a vida cotidiana. A exploração e as desigualdades sociais acentuaram-se, todavia, a naturalização e a desistoricização destas (um dos mecanismos próprios do conservadorismo clássico, mas presente na contemporaneidade) passaram a reverberar a fim de manter o consenso da população. Deste modo, A reificação que invade todas as esferas da vida social (Netto, 1981) favorece essa apreensão, pois contribui para ocultar a essência desses processos que aparecem, em sua aparência reificada, como se fossem fenômenos naturais e absolutos. Além do mais, a ideologia dominante sedimenta essa naturalização, em sua justificação da dinâmica capitalista. (BARROCO, 2011, p.206). Esta ofensiva que desmonta direitos, precariza e desregulamenta o trabalho, desmobiliza a organização dos trabalhadores, bloqueia a diversidade humana, paralisa a agenda política e intensifica os valores conservadores e a violência, tem como público alvo, um setor expressivo: O alvo principal são aqueles que dispõem apenas de sua força de trabalho para sobreviver; além do segmento masculino adulto de trabalhadores urbanos e rurais, penalizam-se os velhos trabalhadores, as mulheres e as novas gerações de filhos da classe trabalhadora, jovens e crianças, em especial negros e mestiços. (IAMAMOTO, 2008, p.145). Assim, em um cenário permeado por retrocessos e ataques aos direitos, o conservadorismo se legitima enquanto direção política da burguesia, desmobilizando.

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