o
método de unidades
AMAURY PEREIRA MUNIZ1 - NECESSIDADE DOS MÉTODOS DIDÁTICOS GERAIS
Desde há muito perceberam os pedagogos o inconveniente de ensinar-se aos alunos fatos isolados.
Na Didática Magna, Comênio já nos aconselha a "ensinar em conjunto e não fragmentàriamente" e nos fala de um método único para realizar a tarefa.
Essas idéias apareceram mais tarde em Herbart que, na sua teoria dos passos formais, estabeleceu as fases do método: preparação, apresentação, recapitulação e aplicação (após as modificações introduzidas pelos discípulos Ziller e Rein) . Os estudos posteriores de Psicologia mostraram que era falso o fundamento científico da concepção herbatiana, o que não nos impede de reconhecer, como é de justiça, a grande conquista que representou para a Didática a sua concepção de método geral.
Os didatas que se seguem imediatamente a Herbart esti-veram durante algum tempo filiados ao seu pensamento, conservando as bases psicológicas e modificando as bases pedagógicas. Apareceram assim as fórmulas de Sallwürk Seyfert, Martig e outros que, como diz Aguayo, "têm to-dos os inconvenientes e não oferecem as vantagens do es-quema herbatiano."
Mais tarde aparecem novas concepções, como os planos Dalton e Winnetka, o Método de Projetos, o Método de Problemas etc., já agora bem diversos do método de Her-bart, até porque assentaram as suas normas em novos co-nhecimentos da Psicologia.
8 CURRICULVM IIIj63 É importante, porém, acentuar que em todos êles ressal-tam as seguintes idéias comuns:
l.a) os assuntos a lecionar não podem constar de tópicos isolados, pois que o ensino não pode ser reduzido a uma sucessão de aulas independentes;
2.a ) há necessidade de métodos didáticos gerais, isto é,
que possam ser aplicados com vantagem em várias
situa-ções didáticas.
2 - AS UNIDADES DIDÁTICAS
Em 1926, Renri C. Morrison, professor de educação da Universidade de Chicago, de cuja Escola de Aplicação era
o superintenciente, publicou o livro "The Practice of the Teaching in Secondary School", em que apresentou um método didático baseado no ensino por unidades.
Nesse trabalho observa Morrison que o produto da
apren-dizagem é eminentemente subjetivo, mas reconhece estar
intimamente ligado com o meio exterior, podendo referir-se,
por exemplo, a um aspecto do ambiente de uma ciência
organizada, ou da conduta. O importante, porém, é que
a aprendizag~m deve traduzir-se em última análise num ajustamento ao meio.
Isso importa dizer que o material a ensinar deve ter orga-nização intrínseca, constituindo afinal de contas o que Mor-rison chama de unidade. Para o didata americano, unida-de é um aspecto completo e significativo ou do meio, ou de uma ciência organizada, ou de uma arte, ou da condu-ta, que - uma vez aprendido - resulta em um ajusta-mento da personalidade.
É interessante observar que a unidade deve ser suficiente-mente vasta para abranger as experiências dos educandos e, simultâneamente, deve conter material homogêneo e sig-nificativo, o que lhe garantirá a coerência e a adequação ao fim último visado, que é, como sabemos, a formação da personalidade do educando.
O êxito da aplicação do plano de unidades de Morrison é-nos atestado não só pelo testemunho de educadores, como
MÉTODO DE UNIDADES 9
Bossing, A. C. e D. H. Binning, Umstattd etc., mas prin-cipalmente pelos seus resultados nas centenas de escolas ~ecundárias americanas que o adotaram.
3 - o PLANO MORRISON
Escolhidas as unidades, deve o professor passar à seleção
dos assuntos.
Ne~sa tarefa, sem dúvida muito difícil, o professor terá que separar o material assimilável daquilo que constitui mera informação.
O segundo tem que ser rejeitado imediatamente, pois que
pode gerar apenas erudição; o primeiro vai constituir o ob-jeto de estudo dos alunos.
A vantagem imediata de cuidar-se apenas do material
assi-milável, é que o aluno pode chegar ao domínio do assun-to - única forma de aprendizagem que Morrison consi-dera ("meia aprendizagem não é aprendizagem") - o que importa na permanência do aprendido e na capacidade de aplicá-lo a situações reais.
Para alcançar êsse intento, imaginou Morrison a sua fórmu-la de domínio, que consta de:
I) Pré-teste lI) Ensino
III) Verificação da aprendizagem
IV) Crítica e readaptação dos meios utilizados no enSIno
V) Nôvo teste, e assim por diante.
Observe-se logo que essa fórmula pode ser aplicada em várias situações didáticas e envolve todo o ciclo docente, motivo por que podemos assegurar que consubstancia um verdadeiro método didático geral.
No entanto é bom salientar-se que, em geral, chama-se de Plano Morrison a um aspecto particular do método. Para
10 CCRRICCLCM 1lI/63 compreender melhor o assunto, ressaltemos que Morrison estabeleceu cinco tipos de ensino, distintos entre si pela natureza dos objetivos, pelos processos específicos e pelo produto da aprendizagem:
I) Tipo científico (com predomínio do pensamen-to reflexivo. Ex.: Matemática) .
11) Tipo de apreciação (com predomínio de julga-mentos de valor. Ex.: História).
IH) Tipo de artes de linguagem (com desenvolvi-mento das habilidades de ler, escrever e falar.
É o caso das línguas) .
IV) De artes práticas (ajustamento aos aspectos ma-teriais do meio ambiente. Ex.: Desenho e Artes Ind ustriais) .
V) De pura prática (envolve o aspecto automati· zável das diversas disciplinas) .
Pois bem, chama-se geralmente de plano Morrison o es-quema particular organizado para as disciplinas do tipo científico, o que se justifica pela riqueza de sua contri bui-ção nesse setor.
São as seguintes as fases do plano Morrison (para o tipo científico) : I) Exploração 11) Apresentação 111) Assimilação IV) Organização V) Recitação
Na fase de exploração visamos a economizar tempo e, si-multâneamente, a correlacionar o assunto com outros an-teriores. Para efetivá-la lançamos mão de testes ou inter-rogatório.
MtTODO DE uNIDADES 11 Na fase de apresentação damos aos alunos uma visão de conjunto sôbre o assunto a estudar - tão importante face aos ensinamentos da teoria gestaltista - e procuramos motivá-los. A técnica de execução consiste em realizar ex-posição bem sintética, acompanhada de um grande núme-ro de ilustrações. É o momento em que se deve explorar todo o material didático disponível para despertar o inte-rêsse dos alunos.
A terceira fase, a assimilação, é por assim dizer a mais im-portante do plano, e por isso mesmo, deve consumir, pelo menos, 70% do tempo reservado à unidade. Agora é que se vai realmente dirigir a aprendizagem do aluno, fazendo com que êle aprenda a ler, a resumir, a esquematizar, a ela-borar fichas e classificá-las, a resolver problemas e exercí-cios, a calcular, etc. Enfim, na fase de assimilação a sala de aula se transforma em um a~biente de trabalho, onde. o aluno recebe questões a estudar, a resolver ou a pesquisar e também, uma fôlha em que são registradas as instruções gerais a seguir.
Além disso, o professor acompanha o trabalho dos seus alu-nos, estimulando-os, tirando as suas dúvidas, evitando que
perturbem o trabalho dos colegas, que percam tempo etc. Resumindo: o aluno realiza o que se chama estudo
dirigi-do, oportunidade em que deve adquirir as atitudes favorá-veis para com o trabalho intelectual e transformar-se em estudante, o que representa uma das grandes conquistas a ser feita pela escola secundária.
No final dessa fase recomenda Morrison que se apliquem instrumentos de verificação da aprendizagem.
A quarta fase é a organização, em que os alunos devem sintetizar os conhecimentos adquiridos no estudo da uni-dade. O fundamento psicológico é que só permanecerá como produto da aprendizagem o material que foi rela-cionado com os conhecimentos anteriores, constituindo com êles um todo orgânico.
Finalmente a recitação ou expressão, consta de exposi-ções orais ou escritas dos alunos sôbre um tema relativo
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à unidade estudada. Exemplo: tôda a classe pode prepa-rar um trabalho escrito sôbre o tema proposto e alguns dos alunos serem incumbidos de fazer exposições orais aos seus colegas sôbre partes diferentes dêle.
4 - APLICAÇÃO NO COLÉGIO NOVA FRIBURGO
Desde 1950, quando iniciou as suas atividades, vem o Co-légio Nova Friburgo aplicando com êxito o método de uni-dades didáticas, fazendo observações e modificando o
pla-no original de modo a:
a. adaptá-lo ao meio brásileiro;
b. levar em conta os resultados das pesquisas psico--pedagógicas mais recentes.
Assim sendo é-lhe possível falar hoje da excelência do método não a penas como um reflexo da opinião de certo número de pedagogos ou mesmo dos resultados obtidos em escolas estrangeiras, mas em função da sua própria ex-periência realizada nesse período de treze anos, no meio brasileiro, com professôres e alunos brasileiros.