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O PROCESSO DE CONSOLIDAÇÃO DO MUNICÍPIO DE
SANTIAGO/RS COMO CIDADE EDUCADORA
Mara Elizete Rebelo Lourenço 1
Maria Eloá Chaves Rebelo 2
Ricardo Rodrigues 3
Resumo: O presente artigo busca apresentar o conceito de cidade educadora, seus
objetivos, princípios, histórico e suas atuais condições. Com base nestes conhecimentos, procura também relatar a experiência de consolidar o Município de Santiago/RS como uma cidade educadora, demonstrando a necessidade de se investir no desenvolvimento do cidadão, de prepará-lo pra conviver em sociedade, de torná-lo capaz de cobrar seus direitos e cumprir com seus deveres para com a sociedade.
Palavras-chave: Cidadania; Educação; Qualidade de Vida. Introdução
Muito se fala sobre a importância da educação no desenvolvimento de uma cidade. Transformar a sociedade através de uma educação voltada para a sustentabilidade e inovação. Não se trata apenas de educação teórica e sim da prática, esta que nos leva a mudar a realidade da sociedade, através de ações conjuntas entre governo e comunidade local.
Eis que surge a necessidade de projetos como o das “Cidades Educadoras”,
que visa não apenas trazer para os representantes eleitos à ciência e a cobrança de suas obrigações, mas busca, especialmente, desenvolver no cidadão a consciência da sua grandeza e do seu dever para com sua comunidade e com o desenvolvimento de sua cidade.
A cidade educadora deve exercer e desenvolver esta função paralelamente às tradicionais (econômica, social, política e de prestação de serviços), tendo em vista a formação, promoção e o desenvolvimento de todos os seus habitantes. Deve
1
Especialista em Gestão e Planejamento da Educação. Graduanda em Licenciatura em Educação do Campo. IFF - Instituto Federal Farroupilha – Câmpus de Jaguari/RS.
2
Especialista em Leitura, Produção, Análise e Reescritura Textual.
3
Professor Orientador. Coordenador do Curso de Licenciatura em Educação do Campo - Ciências da
Natureza. IFF - Instituto Federal Farroupilha – Câmpus de Jaguari/RS. e-mail:
2 ocupar-se prioritariamente com as crianças e jovens, mas com a vontade decidida de incorporar pessoas de todas as idades, numa formação ao longo da vida.
Neste contexto, é necessário entender como se deu a consolidação do município de Santiago/RS como Educadora, através da análise dos conceitos e objetivos que permeiam a obtenção da titulação de cidade educadora, realizando através de uma pesquisa bibliográfica e documental o histórico deste processo no município em estudo.
Desenvolvimento
O conceito de Cidades Educadoras (POZO, 2008) começou como um movimento, em 1990, com base no I Congresso Internacional de Cidades Educadoras, realizado em Barcelona, quando um grupo de cidadesrepresentadas por seus governos locais, pactuou o objetivo comum de trabalhar juntas em projetos e atividades para melhorar a qualidade de vida dos habitantes, a partir da sua participação ativa na utilização e evolução da própria cidade e de acordo com a carta aprovada das Cidades Educadoras.
De acordo com Villar (2001), cidade educadora é aquela que visa a integração da oferta de atividades sociais e culturais para potencializar sua capacidade educativa formal e informalmente. Uma cidade educadora quer buscar e oferecer a todos os seus habitantes uma formação sobre os valores e as práticas da cidadania democrática: o respeito, a tolerância, a participação, a responsabilidade e o interesse pela coisa pública, seus programas, seus bens e serviços.
Segundo a AICE – ASSOCIAÇÃO INTERNACIONAL DAS CIDADES
EDUCADORAS (2004), três princípios básicos que numa intervenção das cidades educadoras deve haver:
1. Informação - é necessário haver comunicação para que haja uma igualdade de oportunidades no acesso aos projetos e programas elaborados na cidade;
2. Participação - é importante que os cidadãos tenham corresponsabilidade nas escolhas que lhes atribuíram;
3. Avaliação - constata-se e apreciam-se os resultados ou o efeito das medidas realizadas.
3 Ser cidade educadora é um compromisso de todos (municípios e sociedade civil pública e privada), na construção de uma cidade mais educadora, cidadã, democrática e solidária, que entende o seu empenhamento e intervenção na educação de todos ao longo da vida, afirmando o local num mundo global, aberta a outras cidades e outros projetos, numa construção e valorização de um trabalho em rede (nacional e internacional) (CML – CAMARA MUNICIPAL DE LISBOA, 2009).
Quando uma cidade educa é, sobretudo, através das suas organizações, das estratégias ambientais, do que ela própria produz, do seu desenvolvimento local, entre outras. É imprescindível que esta trabalhe no sentido de desenvolver a qualidade de vida dos seus indivíduos, formando-se assim numa sugestão integradora da vida comunitária. Mostra-se adequado pensar no valor educativo das cidades, avançando com a interação entre os sujeitos, valorizando assim os lugares comunitários e as instituições.
A cidade educadora é então conceitualizada como um “quadro teórico onde
confluem o sistema formativo integrado, o associativismo, as políticas socioculturais, a sociedade civil, a organização e intervenção comunitária, ou o trabalho em rede, entre outros” (VILLAR, 2001). Sendo assim, dá-se destaque aos contextos e às circunstâncias que participam na elaboração de conhecimentos coletivos na área da educação não-formal.
Com isto, as cidades que partilham esta “filosofia de intervenção”, entendem
pela experiência vivida, que a educação não é mais uma exclusividade da família e das instituições formais de ensino, mas, também da, na e pela cidade, pelas suas diferentes gentes, nos seus espaços e tempos, onde se produzem vários cenários formais e informais, conscientes e inconscientes de comunicação e partilha de aprendizagens é um processo que se realiza ao longo da vida (CML 2009).
O objetivo de consolidar Santiago como uma Cidade Educadora nasceu da necessidade constante de melhorar a qualidade de vida de seus habitantes e está presente em nosso município desde o início do ano de 2009, quando o atual Prefeito
Júlio César Viero Ruivo instituiu como Visão de Futuro para Santiago: “Ser
Referência em Qualidade de Vida, como Cidade Educadora”.
O Programa Cidade Educadora é uma alternativa inovadora, transformadora e consistente em educação, pois nasceu da união do conhecimento e da experiência
4 de um grupo de profissionais competentes e comprometidos com as necessidades de professores e alunos.
Uma Cidade Educadora é um lugar onde todas as ações públicas orientam as pessoas a "aprender a aprender" e onde a escola assume seu papel de promotora das transformações em toda a sociedade.
Com base na experiência acumulada ao longo de anos trabalhando em grandes projetos educacionais (em entidades públicas e privadas), esse grupo de
profissionais, ciente dasdiferentes realidades dos municípios brasileiros,
desenvolveu um material que articula, de maneira singular, conhecimento e formação de valores, seguindo princípios e metas de acordo com o que determina a AICE para as cidades educadoras.
A transformação nos municípios e nas escolas que se envolvem com o Programa Cidade Educadora será percebida em muitos aspectos: alguns mais mensuráveis (como a redução do analfabetismo, por exemplo) e outros menos, mas também fundamentais, como o desenvolvimento da cidadania e da noção de pertencimento ao lugar onde se vive.
Encaradas como projetos mais amplos, as ações do programa buscam a transformação do município e da escola em exemplos de investimento em educação. Os impactos dessa postura vão se refletir em muitos sentidos, como, por exemplo, na redução da violência e da exclusão social, porque sempre serão valorizados o diálogo e a discussão de temas que incentivam atitudes de solidariedade e cooperação.
Considerações finais
O estudo do conceito de cidade educadora mostra de uma maneira clara como pequenas medidas podem melhorar, em muito, a qualidade de vida da população de qualquer cidade. É a valorização, por parte dos administradores, de todos os seus habitantes e a demonstração de que existe a preocupação em desenvolver a cidadania, qualificando a população, de tal maneira, que esta se mostre apta a participar ativamente da vida política e cultural da cidade. Demonstra que é necessário valorizar a população adulta e idosa, mas que precisa, principalmente, atentar para as novas gerações, pois assim será possível formar
5 cidadãoseducados e que valorizem essa educação e, que irão incentivar as gerações que os sucederem. E não se tratam de investimentos estratosféricos ou surreais; e sim investir corretamente odinheiro disponibilizado para a educação, cultura e esportes.
Quando os administradores tiverem consciência e, acima de tudo, interesse em ter uma população cidadã, verão no modelo de cidades educadoras um exemplo a ser seguido. Mas para que isso ocorra, é necessário que esta população se conscientize da necessidade de cobrar os investimentos necessários na educação, pois, juntamente com a saúde, são as bases para uma cidade que apresenta condições dignas para viver.
Diante das transformações recentes da sociedade, do contexto da globalização e da chamada era da informação, Gadotti (2000) afirma que um novo sentido deve ser dado à educação e à escola, que acompanhem a produção e ampliação do conhecimento, o desenvolvimento das novas tecnologias e a intensificação da diversidade social e cultural.
Assim sendo, o município de Santiago vem consolidando sua identidade de cidade educadora, tendo na escola um complemento para a formação que possibilita a busca pela cidadania, ações estas que levaram o município de Santiago/RS a ser reconhecido pelo Sebrae/RS (Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas), por dois anos consecutivos, como um dos trinta municípios mais empreendedores do Rio Grande do Sul.
Referências
AICE – Associação Internacional das Cidades Educadoras. Carta das Cidades
Educadoras. 2004.
CML – Câmara Municipal de Lisboa. Cidades Educadoras. Lisboa/Portugal: 2009. GADOTTI, Moacir. Perspectivas atuais da educação. São Paulo em Perspectiva, v.14, n.2, p. 3-11, 2000.
POZO, Juan Manuel del. El concepto de Ciudad Educadora, hoy. Edição da Asociación Internacional de Ciudades Educadoras. Barcelona/Espanha: Santillana, 2008.
6 VILLAR, Maria Belén Caballo. Nova Perspectiva de Organização e Intervenção