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MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL 2ª Câmara de Coordenação e Revisão

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Academic year: 2021

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ORIGEM: 1ª VARA FEDERAL DE DIVINÓPOLIS / MG

PROCURADOR OFICIANTE: THIAGO MENICUCCI FRANKLIN DE MIRANDA

RELATOR: DOUGLAS FISCHER

INQUÉRITO POLICIAL. FALSA DECLARAÇÃO DO IRPF COM A FINALIDADE DE OBTER RESTITUIÇÃO DE IMPOSTO DE RENDA. QUITAÇÃO INTEGRAL DO CRÉDITO TRIBUTÁRIO CONSTITUÍDO. PROMOÇÃO DE ARQUIVAMENTO COM NO ESTEIO NO ART. 9º, § 2º, DA LEI 10684/03 E NO ART. 69 DA LEI 11.941/2009. DISCORDÂNCIA DO MAGISTRADO. CONFIGURADO CRIME DE ESTELIONATO. PROSSEGUIMENTO DA PERSECUÇÃO PENAL. 1. O tipo penal do artigo 1º da Lei nº 8.137/90 pressupõe que o

agente, mediante as condutas-meio elencadas nos seus incisos, incorra na “supressão” ou “redução” de tributos.

2. O inquérito policial em questão deixa claro que a conduta criminosa

se amolda ao tipo do artigo 171 do Código Penal, na medida em que o agente obteve restituição indevida do imposto de renda em prejuízo da União Federal por apresentar declaração de “ajuste” ideologicamente falsa.

3. Não houve supressão ou redução de tributos, mas redução da base-de-cálculo dos tributos, que gerou, na “declaração de ajuste”,

a obtenção, pela agente, de vantagem indevida em detrimento da União Federal.

4. Designação de outro membro do MPF para dar prosseguimento à persecução penal.

Trata-se de inquérito policial instaurado a partir de Representação Fiscal para Fins Penais para apurar suposto crime contra a ordem tributária previsto no art. 1º da Lei nº 8.137/90, perpetrado em tese por JOSÉ EUSTÁQUIO MENDONÇA.

Consta dos autos que o investigado utilizou recibos de prestação de serviços odontológicos ideologicamente falsos, perante a Receita Federal, com a intenção de reduzir a base de cálculo do imposto de renda devido, relativamente aos exercícios de 2002 e 2003.

2ª Câmara de Coordenação e Revisão do Ministério Público Federal

Procuradoria-Geral da República - SAF Sul, Quadra 4, Conjunto C, Bloco B, Sala 308, CEP 70050-900, Brasília (DF) www.pgr.mpf.gov.br/pgr/2camara - 2accr@pgr.mpf.gov.br - Telefones (61) 3105-6036, 3105-6040 e 3105-6114 (fax)

(2)

Foi constituído crédito tributário contra o investigado, no valor de R$ 9.053,88 (fl. 07).

A Delegacia da Receita Federal do Brasil em Divinópolis/MG informou que o crédito tributário em questão foi totalmente extinto por quitação de parcelamento (fl. 56).

O colega Procurador da República oficiante promoveu o arquivamento do feito por entender que “face ao princípio da especialidade, a

conduta apurada se adequa ao delito descrito no art. 1º, IV, da Lei nº 8.137/90, a ensejar a declaração de extinção da punibilidade, em razão do pagamento, nos termos do art. 9º da Lei 10.684/2003 e do art. 69 da Lei 11.941/2009.” (fls.

65/68).

O MM. Juiz Federal Valmir Nunes Conrado, nas fls. 70/71, rejeitou o pedido de arquivamento argumentando que “(...) da análise dos autos os

recibos médicos falsos só foram apresentados à Receita Federal em data posterior à consumação da sonegação fiscal, com o propósito, inclusive, de se eximir da responsabilidade penal. É sabido que para consumação do crime contra a ordem tributária, é despicienda a apresentação de qualquer documento, bastando apenas a mera prestação de informações falsas à Secretaria da Receita Federal do Brasil quando da remessa da Declaração de Ajuste Anual. Nesse sentido, verifica-se que o crime de falso ocorreu, em tese, em momento posterior à consumação do delito tributário, do que se verifica que o falso não é meio necessário ao exaurimento do tipo sonegação fiscal.”

Vieram os autos a esta 2ª Câmara de Coordenação e Revisão do Ministério Público Federal para o exercício de sua função revisional, nos termos do art. 28 do Código de Processo Penal.

É o relatório.

(3)

Observe-se que, conforme subsume-se da Representação Fiscal para Fins Penais (fls. 06/30), a ação delituosa (declaração inverídica

referente a despesas odontológicas (fl. 07)) foi praticada com a finalidade de reduzir as bases de cálculo de imposto de Renda Pessoa Física, e não o tributo a pagar.

Cuida-se de situação em que o titular de direito à restituição de IRPF não se limita a utilizar a faculdade legal de ressarcir-se de despesas que teriam reduzido sua renda, mas, indo além, emprega ardil para induzir a erro o Fisco e obter restituição a que não faria jus. Não se trata de crime de sonegação fiscal previsto no art. 1º, inc. I, da Lei nº 8.137/90. O delito em comento é de estelionato (art. 171 do CP) !

Com todas as vênias, tem-se que a conduta do investigado não se amolda ao tipo do artigo 1º, da Lei n. 8.137/90, pois não houve “supressão ou redução de tributo” (elementares essenciais), mas conduta fraudulenta

(declaração falsa) com a finalidade de obter vantagem indevida (restituição do imposto de renda nos anos-base 2002 e 2003).

Na verdade, o agente praticou os falsos com a finalidade de,

alterando as despesas, reduzir a base de cálculo e, assim, ao final, alcançar a restituição do imposto de renda nos anos-base referidos.

Fundamental se fazer diferenciação clara dos tipos penais previstos no artigo 171 do Código Penal e do artigo 1º da Lei n. 8.137/90.

Dizem, respectivamente:

“Art. 171. Obter, para si ou para outrem, vantagem ilícita, em prejuízo alheio, induzindo ou mantendo alguém em erro, mediante artifício, ardil, ou qualquer outro meio fraudulento:”

“Art. 1º. Constitui crime contra a ordem tributária suprimir ou reduzir tributo, ou contribuição social e qualquer acessório, mediante as seguintes condutas”.

(4)

Repita-se para se compreender que o investigado obteve a redução da base de cálculo do Imposto de Renda Pessoa Física a partir da

declaração de despesas odontológicas que não foram prestadas, obtendo vantagem indevida (restituição), mas não realizou uma “supressão ou redução” tributárias. Destaque-se que, na chamada “declaração de ajuste”,

se o agente tivesse que pagar tributo e, pela ação, atingisse este fim, recebendo ainda, ao final, restituição, poderia se cogitar eventualmente até de concurso formal entre duas regras: na medida em que deveria pagar e não pagou nada houve de supressão ou redução (artigo 1º da Lei n. 8.137/90); e

dos valores que recebeu indevidamente, no ajuste, perfectibilizou-se a vantagem indevida em detrimento da União Federal (artigo 171, § 3º, CP).

Em suma, não houve “supressão” nem “redução” de tributo (art. 1º da Lei n. 8.137/90), mas sim, por sua conduta, o investigado obteve,

para si, vantagem ilícita (restituição a maior), em prejuízo da União Federal, induzindo-a em erro, mediante procedimento fraudulento

(declaração ideologicamente falsa das “deduções” - Declaração de Ajuste Anual – período de apuração dos exercícios 2002 e 2003), hipótese de

incidência da regra do artigo 171, § 3º, do Código Penal (estelionato) c/c

artigo 71, CP.

Portanto, não sendo situação de se invocar o Princípio da Especialidade (pois as condutas narradas efetivamente não se amoldam ao tipo do artigo 1º da Lei n. 8.137/90), e se é de estelionato que se cuida,

inviável se acorrer seja da incidência da regra do disposto no artigo 9º, §2º, da Lei n. 10.684/2003, seja da interpretação que se tem dado ao artigo 34 da Lei n. 9.249/95.

O Colendo Superior Tribunal de Justiça, no RECURSO EM HABEAS CORPUS Nº 18.178 (Relator Ministro Gilson Dipp, 5ª Turma,

unânime, julgado em 14/03/2006), partindo-se do teor da ementa, nas partes que interessam e se amoldam ao caso em comento, decidiu:

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“CRIMINAL. RHC. CRIME CONTRA ORDEM TRIBUTÁRIA. INCLUSÃO NO REGIME DE PARCELAMENTO. LEI 10.684/03. SUSPENSÃO DA PUNIBILIDADE. REQUISITOS COMPROVADOS. ESTELIONATO. TRANCAMENTO DE INQUÉRITO POLICIAL. AUSÊNCIA DE JUSTA CAUSA NÃO-EVIDENCIADA. CONDUTA QUE NÃO SE ENCONTRA LIVRE DE CONTROVÉRSIAS. NECESSIDADE DO PROCEDIMENTO INQUISITORIAL PARA A APURAÇÃO DOS FATOS. MERO INDICIAMENTO. CONSTRANGIMENTO ILEGAL NÃO CONFIGURADO. RECURSO PARCIALMENTE PROVIDO.

I . Hipótese em que o recorrente foi indiciado pela suposta

prática dos crimes do art. 2º, inciso I, da Lei 8.137/90 e do art. 171, § 3º, do Código Penal, pois teria omitido informações e efetuado declarações falsas visando a aumentar o valor da sua restituição do Imposto de Renda de Pessoa Física.

IV .Comprovado, a partir de prova inequívoca, a inserção do débito tributário no programa de parcelamento, torna-se possível a suspensão da pretensão punitiva estatal, no tocante ao delito do art. 2º, inciso I, da Lei 8.137/90, e, em conseqüência, o trancamento do inquérito policial quanto a esta suposta prática criminosa.

[...]

VI.O mencionado art. 9º da Lei 10.684/2003 não trata do

crime de estelionato, no que se refere à suspensão ou extinção da punibilidade do agente, não podendo ser obstado o curso das investigações pela mesma motivação aplicada ao delito tributário.

VII.Afastada a incidência do art. 9º em questão para o crime

de estelionato, os elementos constantes dos autos autorizam o

prosseguimento do inquérito policial, não havendo razões para o seu integral trancamento. [...]”

Para a compreensão dos fatos – demonstrando-se que se identificam em parte (quanto ao estelionato) com o que apurado aqui -, extrai-se do voto-condutor (ainda no RHC 18.178, do STJ):

“Trata-se de recurso ordinário em habeas corpus contra acórdão do Tribunal Regional Federal da 1ª Região, que denegou a ordem anteriormente impetrada em favor de VALDEMIR MARTINS BARBOSA, visando à decretação da extinção da punibilidade e ao trancamento de inquérito policial.

O paciente foi indiciado pela suposta prática dos crimes previstos nos artigos 171, § 3º, do Código Penal e 2º, inciso I, da

Lei 8.137/90, pois teria omitido informações e efetuado declarações

falsas visando a aumentar o valor da sua restituição do Imposto de Renda de Pessoa Física.

Tanto no precedente paradigma acima como no caso em comento, verifica-se que as situações são idênticas: para o aresto

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retromencionado, declaração falsa no ajuste do IRPF com obtenção de vantagem indevida caracteriza estelionato.

Prossegue-se na fundamentação do julgado desse Superior Tribunal de Justiça:

Eis o teor do r. dispositivo:

“Art. 9º - É suspensa a pretensão punitiva do Estado,

referente aos crimes previstos nos arts. 1º e 2º da Lei no 8.137, de 27 de dezembro de 1990, e nos arts. 168A e 337A do Decreto-Lei no 2.848, de 7 de dezembro de 1940 – Código

Penal, durante o período em que a pessoa jurídica relacionada com o agente dos aludidos crimes estiver incluída no regime de parcelamento.

§ 1º A prescrição criminal não corre durante o período de suspensão da pretensão punitiva.

§ 2º Extingue-se a punibilidade dos crimes referidos neste artigo quando a pessoa jurídica relacionada com o agente efetuar o pagamento integral dos débitos oriundos de tributos e contribuições sociais, inclusive acessórios.”

[...] [...]

A extinção da punibilidade, com base na Lei 10.684/2003, depende da demonstração de pagamento integral da dívida fiscal, que não é a hipótese dos autos.

Por outro lado, quanto ao delito do art. 171, § 3º, do Código

Penal, melhor sorte não assiste ao recorrente.

O mencionado art. 9º da Lei 10.684/2003 não trata do crime de estelionato, no que se refere à suspensão ou extinção da punibilidade do agente, limitando-se às condutas típicas dos artigos

1º e 2º da Lei 8.137/90 (ao regime de parcelamento de contribuições previdenciárias não é cabível a suspensão da punibilidade prevista no dispositivo legal em exame, tendo em vista as razões do veto do art. 5º, § 2º, e do art. 7º da Lei 10.666/2003, conforme já decidido por esta Corte: HC 36.357/RS, de minha Relatoria, DJ de 07/03/2005).

Dessa forma, não pode ser obstado o curso das

investigações no que se refere ao crime de estelionato pela mesma motivação aplicado ao delito tributário.

Ao contrário, afastada a incidência do art. 9º em questão, os elementos constantes dos autos autorizam o prosseguimento do inquérito policial, não havendo razões para o seu integral trancamento.” (grifos e destaques nossos)

De modo expresso, embora hialino o que se conclua a partir dos fundamentos mencionados: para o Superior Tribunal de Justiça, a declaração

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(artigo 171, § 3º, CP), e não sonegação fiscal (artigo 1º da Lei nº 8.137/90), restando inviabilizada a aplicação da regra do artigo 9º, §2º, da Lei nº

10.684/2003 para declarar extinta a punibilidade do investigado.

Foi neste rumo que o TRF da 4ª Região já decidiu e vem

decidindo reiteradamente, verbis:

PENAL. ESTELIONATO CONTRA A FAZENDA PÚBLICA. ARTIGO

171, § 3º, DO CP. RESTITUIÇÃO DE IMPOSTO DE RENDA OBTIDA MEDIANTE DIRPF FALSA. CONDENAÇÃO MANTIDA.

Pratica crime de estelionato, na forma agravada do § 3º do art. 171 do CP, o agente que apresenta à Receita Federal declaração de imposto de renda falsa, visando obter vantagem indevida, consistente em indébita restituição de imposto de renda.

(ACR n. 2006.71.08.016724-5/RS, Relator Desembargador Federal Paulo Afonso Brum Vaz, 8ª Turma, unânime, julgado em 08.07.2009, publicado no D.E. Em 22.07.2009)

PENAL. ESTELIONATO CONTRA A RECEITA FEDERAL. ART. 171,

§ 3º, DO CP. AUTORIA E MATERIALIDADE COMPROVADAS. DOLO.

PROVA PLENA.

1. Comprovado nos autos que as acusadas, mediante meio fraudulento, induziram em erro a Receita Federal, e obtiveram

vantagem ilícita em prejuízo alheio, resta caracterizado o delito

tipificado no art. 171, § 3º, do CP.

2. A conduta consistia na apresentação de Declaração de Imposto de Renda Pessoa Física ideologicamente falso, fato que gerava o direito à obtenção de imposto a restituir indevido. (Apelação Criminal Nº 0012052-22.2005.404.7108/RS, 7ª Turma, Desembargador Federal Tadaaqui Hirose, julgado em 24.08.2010, publicado no DJ em

09.09.2010).

PENAL. ESTELIONATO. ART. 171, § 3º DO CP.

Comete estelionato contra a Receita Federal, prevista no art. 171, § 3º do CP, quem faz declaração falsa perante o Fisco e, com base nesta, logra a obtenção de restituição de imposto de renda

indevidamente. (Apelação Criminal n. 2007.71.08.012690-9/RS, Relator Desembargador Federal Luiz Fernando Wowk Penteado, 8ª Turma, unânime, julgado em 17/03/2010, publicado no D.E. Em 08/04/2010)

Diante do exposto, voto pela designação de outro membro do Ministério Público Federal para dar prosseguimento à persecução criminal.

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Encaminhem-se os autos ao Procurador-chefe da Procuradoria da República no Estado de Minas Gerais, com as nossas homenagens, cientificando-se o Procurador da República oficiante e o Juiz Federal da 1ª VF de Divinópolis/MG.

Brasília-DF, 17 de maio de 2011.

Douglas Fischer Procurador Regional da República

Suplente – 2ª CCR/MPF

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