EIXO TEMÁTICO: Ciências Ambientais e da Terra
Balanço nutricional e hídrico em Lafoensia pacari A.St.-Hill
mediante interações de diferentes substratos e lâminas de
água.
Lucas de Oliveira Santana 1 Bruna Tavares Morgado 2 Francineide Morais de Araújo 3 Mateus de Souza Rollon4 Thomaz Figueiredo Lobo 5
Marcos Vinicius Bohrer Monteiro Siqueira6
RESUMO:A Lafoensia pacari é uma espécie arbórea da família Lythraceae, conhecida como dedaleiro ou mangueira-brava. É nativa de florestas de altitude e do Cerrado. Tem sido usada para fins medicinais, construção civil, produtos madeireiros, arborização urbana e reflorestamento de áreas degradadas, o que deu a espécie grande valor ambiental e comercial e, com isso, a demanda por essas mudas vem crescendo nos viveiros. Para a produção de boas mudas, é necessária a utilização de um substrato de boa qualidade para o desenvolvimento da parte aérea e radicular da planta. No intuito de buscar alternativas mais sustentáveis, foi utilizado o lodo de esgoto compostado, resíduo normalmente descartado em aterros e lixões, como alternativa para substrato. Assim o objetivo deste trabalho foi determinar o melhor tratamento para produção de mudas de dedaleiro. A partir da combinação do substrato comercial e do lodo compostado combinados em 5 tratamentos e submetidos a 3 diferentes lâminas de irrigação com 40L, 80L e 150L de água diariamente, em um total de 15 tratamentos, produzindo 480 mudas, das quais foram analisados os parâmetros biométricos a partir de 15 dias após a repicagem e assim quinzenalmente até 150 dias. O tratamento com composto de lodo puro sob a lâmina de irrigação de 40L diários apresentou resultados superiores aos demais tratamentos, sendo o suficiente para o desenvolvimento das mudas de qualidade. Este tratamento foi superior ao substrato comercial normalmente utilizado pelo viveiro, tornando o composto de lodo uma alternativa melhor para produção de mudas de dedaleiro.
Palavras-chaves: Dedaleiro. Lodo de esgoto. Nutrição.
1 Graduando em Eng. Agronômica, Universidade do Sagrado Coração. E-mail: Santana.finiarel@hotmai.com 2 Graduando em Ciências Biológicas, Universidade do Sagrado Coração. E-mail: bruna-tm@live.com
3 Graduando em Eng. Agronômica, Universidade do Sagrado Coração. E-mail: francineidearaujo849@yahoo.com 4 Graduando em Arquitetura e Urbanismo, Universidade do Sagrado Coração. E-mail: mateusrollonarq@gmail.com 5 Docente, Universidade do Sagrado Coração. E-mail: thomaz.lobo@superig.com.br
1. INTRODUÇÃO
Lafoensia pacari A.St.-Hill, conhecida vulgarmente como dedaleiro, é uma espécie arbórea de pequeno porte, da família Lythaceae, nativa do Cerrado e de algumas florestas de altitude (Lorenzi, 2002). O dedaleiro tem um desenvolvimento lento a moderado (Carvalho, 2003) chegando a atingir 2,5m aos 2 anos (Lorenzi, 2002) e seu período de floração vai de fevereiro a dezembro. A espécie conta com diversas aplicações, sendo as principais: o reflorestamento e restauração de áreas degradadas do Cerrado e florestas de altitude, o uso da madeira para construção civil e indústria madeireira, a casca e folhas para fins medicinais e para arborização urbana, proporcionando grande importância comercial a espécie.
Na produção de mudas em viveiro, é importante a utilização de irrigação adequada e de substrato de alta qualidade (Cunha, 2006). Este substrato servirá de base para o desenvolvimento aéreo e radicular da muda e também como fonte dos nutrientes necessários para seu crescimento até a sua expedição. A irrigação é um fator essencial no desenvolvimento da muda, porém pode ter efeitos negativos como favorecer o aparecimento de patógenos e a perda de nutrientes por lixiviação.
Como substrato, normalmente são utilizados compostos com alto teor de matéria orgânica (Castro et al., 2014) o que ajuda na agregação de partículas de solo e indiretamente favorece melhorias na porosidade, aeração e infiltração e armazenamento de água no solo.
O processo de compostagem é uma das alternativas mais sustentáveis e seguras para o descarte deste lodo devido à grande quantidade gerada e o alto custo para o tratamento adequado (Maas, 2010; Schimer, 2010). Este lodo tem em sua composição, além de grande quantidade de matéria orgânica, alta concentração de metais pesados e patógenos, porém estes fatores são reduzidos durante o processo de compostagem a níveis suficientes para que o substrato se enquadre dentro dos limites exigidos pela legislação vigente (Do Nascimento et al., 2005).
Assim, objetivou-se determinar o melhor tratamento para o desenvolvimento de mudas de dedaleiro de forma mais sustentável, mediante interações de diferentes lâminas de irrigação e formulações de substratos com lodo compostado e comercial.
2. MATERIAIS E MÉTODOS
O experimento foi conduzido no Viveiro Muda Brasil, localizado em Bauru, SP, no período de julho a agosto, com sementes coletadas de diferentes matrizes. As sementes foram distribuídas em 4 badejas de 200 células contendo substrato, cobertas com vermiculita e guardadas em casa de vegetação por 15 dias. Após esse período foi feita a repicagem das mudas
e transferidas para tubetes de 120cm³, utilizando um total de 480 mudas, disposta em bancadas com espaçamento de 50% e separadas de acordo com a lâmina de irrigação e substrato, coberta com tela de sombreamento de 50%.
Foi utilizado como substrato o superfosfato simples com Carolina Soil Florestal®, fabricado pela empresa Carolina Soil do Brasil Ltda, aqui identificado como substrato comercial, e o composto orgânico Terafertil, identificado aqui como substrato de lodo, proveniente do lodo compostado fornecida pela empresa Tera Ambiental do município de Jundiaí. A partir dos dois substratos foram formulados cinco tratamentos - T1: 100% substrato comercial, T2: 100% substrato de lodo, T3: 75% substrato comercial + 25% substrato de lodo, T4: 75% substrato de lodo + 25% substrato comercial e T5: 50% substrato de lodo + 50% substrato comercial. Foi usado 4 repetições com os 5 tratamentos, cada tratamento com 8 mudas, nas 3 lâminas de irrigação.
A irrigação foi feito por micro aspersores tipo fog, com bicos do modelo mist, com vazão de 120L/h e separados em 3 diferentes lâminas: L1 – 5 minutos de irrigação (10L de água), L2 –10 minutos de irrigação (20L de água), L3 – 15 minutos de irrigação (30L de água), sendo cada lâmina submetida a quatro irrigações ao dia. A análise foi feita a partir de parâmetros biométricos (altura, número de folhas e diâmetro de colo), com medições quinzenais iniciando-se 15 dias após a repicagem e se findando após 150 dias, porém após 245 dias foi feita uma medição final antes da expedição das mudas, e os dados foram submetidos à análise de variância, onde as médias foram comparadas pelo teste de Tukey (p < 0,05). Todas as análises estatísticas foram realizadas utilizando-se o software ASSISTAT 7.7.
3. RESULTADOS E DISCUSSÃO
Os dados das análises de variância obtida a partir dos dados biométricos após os 150 dias da repicagem são mostrados nas Tabelas 1, 2 e 3.
Altura L1 L2 L3 T1 28.6000 abA 11.2150 bB 13.9725 bB T2 31.3325 aA 26.4900 aA 25.5325 aA T3 29.2250 abA 27.3875 aA 21.1400 abA T4 27.9275 abA 29.5650 aA 27.4275 aA T5 18.9575 bB 29.8075 aA 28.9550 aA
Tabela 1: Altura das mudas de dedaleiro 150 dias após a repicagem. L1(10L e água para irrigação), L2(20L de água para irrigação), L3(30L de água para irrigação); T1 (100% substrato comercial), T2(100% substrato de lodo), T3(75% substrato comercial e 25% substrato de lodo), T4(75% substrato de lodo e 25% substrato comercial) e T5(50% substrato
de lodo e 50% substrato comercial).
Diâmetro de Colo
L1 L2 L3
T1 0.5000 bcA 0.3000 bB 0.5500 aA T2 0.6250 aA 0.4500 aB 0.5000 abB
T3 0.5375 abA 0.5250 aA 0.5000 abA T4 0.4250 cA 0.4875 aA 0.5000 abA T5 0.3125 dB 0.5000 aA 0.4000 bB
Tabela 2: Diâmetro de colo das mudas de dedaleiro 150 dias após a repicagem
Número de Folhas L1 L2 L3 T1 26.2500 abA 22.2500 cB 23.7500 aAB T2 27.5000 aA 23.5000 bcB 24.2500 aAB T3 24.7500 abA 27.7500 aA 26.0000 aA T4 24.5000 abA 27.0000 abA 27.2500 aA T5 23.2500 bB 27.5000 aA 26.5000 aAB
Tabela 3: Número de folhas das mudas de dedaleiro 150 dias após a repicagem
A interação entre o tratamento T2 na lâmina de irrigação L1 apresentou o melhor resultado na análise dos parâmetros biométricos proporcionando condições superiores aos demais em relação aos três parâmetros avaliados. Em T3 e T4 não houve diferença estatística quanto à altura, porém T3 obteve melhores resultados de diâmetro de colo, porém em T3 seu crescimento foi reduzido conforme aumentou o tempo de irrigação. Já T4 obteve melhor resultado em L2, e não houve diferença significativa entre L1 e L3. O T1 teve seu desenvolvimento prejudicado com o aumento da irrigação quanto a altura de plantas e número de folhas, com melhores resultados em L1, porém quanto a diâmetro de colo houve maior desenvolvimento em L3. Já o T5, em relação ao número de folhas e altura, obteve melhores resultados na L2 e L3, sem diferença estatística, e menor crescimento em L1, porém referente ao diâmetro de colo obteve melhor resultado em L2.
Nos valores obtidos a partir da interação de médias entre irrigação e substrato, inicialmente, 15 dias após a repicagem, o melhor resultado foi obtido no T5 em L1 e sem diferença significativa entre número de folhas (6 folhas) e diâmetro de colo (1cm).
Altura L1 L2 L3 T1 1.8925 abA 1.9325 aA 1.9100 aA T2 1.8350 abA 1.5300 aA 1.4375 bA T3 1.9875 aA 1.8225 aA 1.8750 abA T4 1.4550 bB 1.9475 aA 1.9575 aA T5 2.2675 aA 1.8850 aA 1.9450 aA
Tabela 4: Altura das mudas após 15 dias da repicagem
Em 45 dias o melhor resultado referente a altura é percebido no T3 em L3, porém houve resultados similares em L1 no T2 e T3, quanto as lâminas de água, em L3 e L1 houve melhores resultados, enquanto em L2 é observado menor desenvolvimento. Quanto ao diâmetro de colo
não houve variância significativa para análise do teste de Tukey. Quanto ao número de folhas foi obtido melhor resultado no T3 e T4 com 12 folhas e na L3 com uma média de 12 folhas.
Altura
L1 L2 L3 T1 4.7600 abA 3.9850 abA 4.8275 abA
T2 5.1075 abA 2.7325 bB 3.4825 bB T3 5.4925 aAB 4.6975 aB 6.2275 aA T4 3.5475 bA 4.6000 aA 4.8725 abA T5 4.7525 abA 3.8050 abA 4.8175 abA
Tabela 5: Altura das mudas de dedaleiro após 45 dias da repicagem
A partir de 75 dias, os melhores resultados foram obtidos da interação do T2 na L1, com 15,20cm de altura e seguido por T3 em L1 com 14,82cm. Referente ao número de folhas e diâmetro de colo nãos há variação significativa.
Após os 250 dias, T5 em L3 e L2 e T4 em L1 ultrapassou T2 em altura, porém o diâmetro de colo permaneceu menor, apesar de não haver variância estatística significativa entre eles. O tratamento com lodo compostado associado a lâmina de irrigação de 10L de água quatro vezes ao dia apresentou estrutura melhor para desenvolvimento da planta, suprindo suas necessidades de forma eficiente. Os dados da analise final estão disponíveis na Tabela 6.
Altura L1 L2 L3 T1 34.6350 aA 15.8550 bB 12.7625 bB T2 35.4875 aA 34.9750 aA 34.4900 aA T3 35.2025 aA 35.4625 aA 32.1000 aA T4 36.5475 aA 34.3475 aA 33.5650 aA T5 15.1800 bB 36.1275 aA 37.4100 aA Diâmetro de Colo L1 L2 L3 T1 0.6250 abcA 0.4500 aAB 0.3250 bB T2 0.7750 aA 0.5625 aB 0.4750 abB T3 0.6750 abA 0.6125 aA 0.5750 aA T4 0.5500 bcA 0.5500 aA 0.6000 aA T5 0.4250 cB 0.6625 aA 0.6500 aA Número de Folhas L1 L2 L3 T1 24.0000 abA 11.7500 bB 8.7500 cB T2 24.0000 abA 25.5000 aA 17.5000 bcA T3 22.2500 abA 25.7500 aA 22.0000 abA T4 26.7500 aA 23.2500 abA 29.7500 aA T5 15.0000 bB 22.0000 abAB 29.7500 aA
Tabela 6: Análise de dados biométricos de Lafoensia pacari sob diferentes tratamentos e lâminas de água 245 dias após a repicagem.
Scheer et al. (2012) utilizando um substrato comercial e duas formulações de lodo compostado, obtiveram um desenvolvimento superior com o lodo sobre o comercial, porém sugere complementação com substrato comercial, porém os resultados apresentados nas interações entre substrato de lodo e o comercial apresentaram valores menores em relação ao lodo compostado puro, assim a melhor forma é a utilização do composto de lodo puro. Com este
composto, além de a planta apresentar altura superior aos demais tratamentos, elas apresentam também maior diâmetro de colo, e segundo Reis et al. (2008) mudas com baixo diâmetro são mais suscetíveis a tombamento após o plantio, problema que pode levar a morte da muda.
4. CONCLUSÃO
Nas mudas de dedaleiro, houve melhor desenvolvimento na interação do substrato com 100% de lodo compostado (T2) com a lâmina de irrigação de 10L de água quatro vezes ao dia (L1). O composto de lodo atende as exigências para o desenvolvimento de mudas de dedaleiro de forma superior ao substrato comercial utilizado, desde que, se enquadre nas normas exigidas pela legislação, evitando assim contaminações de patógenos e metais pesados.
REFERÊNCIAS
CARVALHO, P. E. R. Espécies arbóreas brasileiras. Brasília, DF: Embrapa Informação Tecnológica; Colombo: Embrapa Florestas, 2003. v. 1 1039 p. il. (Coleção Espécies Arbóreas Brasileiras).
CASTRO, L. H. S. FREITAS, C. H. SANTOS, D. R. SILVA, J. F. Composição do substrato e
parâmetros fisiológicos de crescimento de mudas de Guapuruvú (Schizolobium parahyba vell. Blake). Revista Brasileira de Agropecuária Sustentável, v.4, n.1, p.70-75, 2014.
CUNHA, A.M; CUNHA, G,M; SARMENTO, R.A; CUNHA, G.M; AMARAL, J.F.T. Efeito de
diferentes substratos sobre o desenvolvimento de mudas de acácia sp. Revista Árvore: SIF,
p. 207-214, 2006.
DO NASCIMENTO, Adelina M; SILVEIRA, A.P.C.; COSTA, K.; RIEHL, L.A.S.R.; SANTOS, Z.A.M.;
Química e Meio Ambiente: Reciclagem de lixo e química verde: papel, vidro, pet, metal, orgânico. Secretaria de Educação: Curso Formação Continuada Ciências Da Natureza, Matemática E Suas Tecnologias, 2005.
LORENZI, H. Árvores brasileiras: manual de identificação e cultivo de plantas arbóreas do
Brasil. 4 ed. Nova Odessa: Instituto Plantarum, 2002. v.1, 368 p.
MAAS, K.D.B. Biossólido como substrato na produção de mudas de timburi [dissertação]. Cuiabá: Universidade Federal de Mato Grosso; 2010.
SCHEER, M. B.; CARNEIRO, C.; BRESSAN, O. A.; SANTOS, K. G. Crescimento e nutrição de
SCHIRMER G.K. Utilização do lodo de esgoto na vermicompostagem e como substrato para
a produção de mudas de Pinus elliottii Engelm [dissertação]. Santa Maria: Universidade