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Pº C. N. 74/2011 SJC-CT. Consulente: Helpdesk do Balcão das Heranças e Divórcios com Partilha(BHDP). Relatório

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Pº C. N. 74/2011 SJC-CT

Consulente: Helpdesk do Balcão das Heranças e Divórcios com Partilha(BHDP).

Relatório

1. Uma Conservatória do Registo Civil solicitou informação ao Helpdesk do BHDP

nos seguintes termos:

“Encontrando-se pendente nesta Conservatória pedido de formulação de

procedimento de habilitação de herdeiros em que o cabeça de casal tem averbamento de

insolvência ao seu assento de nascimento, solicitamos informação no sentido de saber se

é possível aceitar um cabeça de casal nestas circunstâncias, uma vez que se encontra

limitado quanto aos poderes de administração, e caso o seja, se está sujeito o

procedimento a alguma menção especial?”

2. O consulente manifestou opinião no sentido de que:

a) De acordo com o art.3º/1 do CIRE, com a declaração de insolvência, o

insolvente fica privado da administração e disposição dos bens integrantes da massa

insolvente;

b) A massa insolvente pode integrar um quinhão hereditário – artigos do CIRE:

149º/1 (apreensão imediata de todos os bens integrantes da massa insolvente); 151º

(auto de arrolamento de todos os bens apreendidos); 153º/1 (inventário dos bens e

direitos integrados na massa insolvente); 159º (liquidação do direito); 141º(separação

de bens);

c) Tendo em conta as indicadas disposições, deve ser obtida certidão judicial de

onde conste um inventário dos bens e direitos integrados na massa insolvente, de forma

a averiguar se da mesma consta o quinhão hereditário do insolvente;

d) Não constando o quinhão da massa insolvente, o insolvente pode

desempenhar funções de cabeça de casal em relação à herança a que se refere o quinhão

hereditário mas, após a realização do “Título de Habilitação de Herdeiros”, deve dar-se

conhecimento desse facto ao administrador da insolvência;

e) Em alternativa e para evitar incidentes processuais poderá atribuir-se o cargo

de cabeça de casal a outro herdeiro (art. 2084º/CC);

f) No Pº C.P.90/2009 SJC-CT ficou entendido que da habilitação de herdeiros não

resulta a aceitação por parte dos habilitados da herança aberta.

(2)

3. Depois de sobre a matéria se ter pronunciado o Setor Jurídico e Contencioso

(SJC), foi superiormente determinado que sobre a mesma este Conselho se pronuncie.

Pronúncia

A posição deste Conselho vai expressa na seguinte

Deliberação

1. Ao tratar da incapacidade das pessoas singulares, o Código Civil, na sua

Parte Geral (Cfr. art.s 122º a 156º), não atribui qualquer relevância à declaração de

insolvência, o mesmo acontecendo com o Código do Notariado, quando trata

especificamente das testemunhas instrumentárias (art. 68º) e dos declarantes da

habilitação de herdeiros (art.s 83º e 84º)

1

, e com o Código do Registo Civil, quando

estabelece a legitimidade para promover os procedimentos simplificados de sucessão

hereditária (art. 210º-B) e, dentro destes, quando fixa o regime da habilitação de

herdeiros( art. 210º-O)

2

.

1

Até à entrada em vigor do atual Código do Notariado, aprovado pelo D.L. nº 207/95, de 14 de agosto, a declaração que visasse consubstanciar uma habilitação notarial de herdeiros - de que os

habilitandos são herdeiros do falecido e não há quem lhes prefira na sucessão ou quem com eles concorra - ,

só podia ser feita por três pessoas que o notário considerasse dignas de crédito (art. 92º do Código de Notariado anterior).

“Como medida de simplificação digna de registo, e por forma a evitar a presença obrigatória de três declarantes” (cfr. preâmbulo do indicado D.L. nº 207/95), a declaração passou a poder ser feita também, em alternativa, pelo cabeça de casal - art. 83º do Código do Notariado atualmente em vigor (C.N.).

2

O D.L. nº 324/2007, de 28 de setembro - inserido “ no ciclo de medidas de simplificação e desformalização relacionadas com a vida dos cidadãos(…) assim contribuindo para que sejam reduzidos obstáculos burocráticos e formalidades dispensáveis nas áreas do registo civil e dos atos notariais conexos” permitindo “que os atos e formalidades relacionados com a sucessão hereditária se possam efetuar num único balcão de atendimento, nas conservatórias do registo civil” as quais “passam a poder realizar todas as operações e atos relacionados com a sucessão hereditária, tais como a habilitação de herdeiros”(cfr. preâmbulo) - instituiu os procedimentos simplificados de sucessão hereditária, entre os quais estavam o

procedimento de habilitação de herdeiros, partilha e registos e o procedimento de habilitação de herdeiros e registos( cfr. artigo 210º-A do Código do Registo Civil, aditado pelo referido diploma).

Embora a designação daquele segundo procedimento não incluísse o procedimento de habilitação de

herdeiros sem registos, resultava do disposto no art. 210º-G do Código do Registo Civil que o cabeça de casal

podia optar por não pedir os registos.

O D.L. nº 247-B/2008, de 30 de setembro, alterou a redação da alínea b) do nº 2 do referido artigo 210º-A no sentido de, desde logo na tipificação dos procedimentos, ser feita referência expressa à modalidade

(3)

2. A indicada irrelevância da declaração de insolvência também se verifica na

parte do mesmo Código Civil em que, já no âmbito do direito da sucessões, se define o

regime da administração da herança e concretamente se determina a quem cabe exercer

as funções de cabeça de casal (art.s 2079 a 2096º)

3

.

de habilitação de herdeiros sem registos, incluída na designação Procedimentos de habilitação de herdeiros com

ou sem registos.

Também no âmbito destes procedimentos - da mesma forma que vimos acontecer no âmbito da habilitação notarial -, a declaração objeto da habilitação de herdeiros é prestada, em alternativa, pelo cabeça de casal ou por três declarantes, considerados, no caso, dignos de crédito pelo conservador ou pelo oficial de registos, e não podendo igualmente ser admitidas pessoas que não possam ser testemunhas instrumentarias, nem os parentes sucessíveis dos habilitandos, nem o cônjuge de qualquer deles ( cfr. artigo 210º-O/1 e 2 do C.R.C.).

Foi superiormente homologado parecer deste Conselho emitido no Pº C.P.91/2010 SJC-CT.,. disponível em www.irn.mj.pt(doutrina/pareceres,, no qual se deixou entendido que só o cabeça de casal (pessoalmente ou através do seu representante legal ou voluntário) tem legitimidade para promover o procedimento simplificado de sucessão hereditária, mas que isso não significa que a declaração de habilitação de herdeiros não possa ser prestada por três declarantes, no caso de o cabeça de casal não querer ou não poder prestá-la.

O indicado entendimento foi manifestado no âmbito de consulta sobre questão que tinha a ver com a legitimidade para manifestar a vontade de registar, concretamente despoletada por situação em que se verificou uma incapacidade de facto da cabeça de casal (única herdeira do autor de sucessão) depois de a mesma ter promovido o procedimento de habilitação de herdeiros com registos, e em que, a pedido de uma filha da cabeça de casal, a habilitação de herdeiros acabou por ser feita por três declarantes.

Ou seja, é possível que a declaração de ciência objeto da habilitação de herdeiros não seja prestada por quem manifestou a (declaração de) vontade de promover o procedimento, situação em que a questão submetida a consulta só se poderá colocar quanto a saber dos efeitos da declaração de insolvência quanto à dita declaração de vontade de promoção.

Como se chamou a atenção no indicado parecer, a representação voluntária do cabeça de casal para promover o procedimento (art.210º-B do C.R.C.) não serve para a declaração de habilitação de herdeiros (art. 210º-O do C.R.C.).

3

“Cabeça de casal” é a designação que a lei dá ao “órgão da herança” a que compete a função de administração, até à liquidação e partilha (art. 2079º do CC).

Ressalvando a situação em que, por acordo de todos os interessados e do Ministério Público, nos casos em que tenha intervenção principal, a administração da herança e o exercício das demais funções do cabeça de casal sejam entregues a outra pessoa (cfr. art. 2084º do C.C.) , a designação cabe à pessoa que tiver preferência, de acordo com a ordem prevista nos art.s 2080º e 2081º do CC, a não ser que seja incapaz, situação em que o exercício de funções cabe ao representante legal (art. 2082º do CC).

Em anotação à disposição legal acabada de indicar, afirmam Pires de Lima e Antunes Varela, in Código Civil Anotado, Vol. VI, pág. 140:

“ Se estivesse em causa um puro dever de administrar o património hereditário, talvez que, não possuindo o preferente a capacidade necessária para o cumprir, a lei devesse passar adiante e chamar a a exercer o cargo a pessoa que se lhe seguisse, de acordo com a escala legal.

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3. Temos, por último, o diploma que regula o próprio processo de insolvência - o

Código de Insolvência e da Recuperação de Empresas ( CIRE ) - 0 qual, além de não

fazer decorrer da declaração de insolvência qualquer incapacidade para o insolvente,

não atribui ao juiz, mesmo no caso de falência fraudulenta e a partir da entrada em

vigor da alteração que lhe introduzida pela Lei nº 16/2012, de 20 de abril, o dever de

decretar a inabilitação

4

.

Mas como a lei presume que a pessoa melhor colocada na escala de preferências legais é, em princípio, a que melhores garantias oferece de criteriosa e esforçada gestão do património hereditário, ela não hesita em chamar deliberadamente a exercer o cabeçalato, o representante legal do incapaz, sabendo embora que, como cabeça de casal, o representante do incapaz está agindo muito mais como administrador da herança

no interesse de todos os herdeiros e legatários do que como simples representante legal do menor, interdito ou

ausente”.

Por princípio, o exercício do “cabeçalato” é obrigatório, só podendo ser afastado por escusa ou remoção, de acordo com algum do fundamento legalmente previstos (arts. 2085º e 2086º do CC).

A designação pode caber ao tribunal no caso previsto no art. 2083º do C.C..

4

De acordo com o disposto no art. 1º do Código de Insolvência e de Recuperação de Empresas (CIRE) a finalidade do processo de insolvência é a satisfação dos credores, pela forma prevista num plano de insolvência.

A declaração de insolvência comunga do caráter patrimonial do processo de execução universal em que se integra e daí que a mesma tenha como efeito a privação dos poderes de administração e de disposição dos bens integrantes da massa insolvente, sancionando a lei a contravenção dessa privação com a ineficácia em relação à massa insolvente (cfr. art. 81º do CIRE).

Segundo Luís Manuel Teles Menezes Leitão - Direito da Insolvência, pág. 163 - aquele estatuto assume contornos de ilegitimidade, pois que “o insolvente conserva o exercício de todos os direitos pessoais

estranhos à insolvência e pode manter a administração dos bens estranhos à massa insolvente dos bens(…)” e “ a pretensa incapacidade do insolvente limita-se a impedir a prática de atos de onde possa resultar diminuição do seu património, o que se desvia do regime comum das incapacidades, que se destinam à proteção dos próprio incapazes, enquanto que a retirada dos poderes de administração e disposição de bens do insolvente visa antes a proteção do interesse dos seus credores”.

É certo que da declaração de insolvência decorrem efeitos de natureza não patrimonial, a propósito dos quais Jorge Duarte Pinheiro- Efeitos Pessoais da Declaração de Insolvência, in Estudos em Memória do Professor Doutor José Dias Marques, pág. 208 - considera que “ (…) se é certo que os reflexos não

patrimoniais da declaração de insolvência são, por vezes, tidos como acessórios ou instrumentais de um processo que visa a satisfação dos direitos dos credores , a verdade é que, noutra perspetiva, a da esfera jurídica do devedor, tais reflexos atingem proporções que, afinal de contas não são insignificantes”.

O mesmo autor trata desses efeitos agrupando-os em função do seu âmbito, consoante se refiram à

condição civil da pessoa, aos direitos de personalidade e às relações familiares e parafamiliares.

No primeiro grupo se inclui a determinação do CIRE relativa a promoção oficiosa dos atos de registo civil por parte da secretaria, entre os quais estão: a) a declaração de insolvência e da nomeação de um administrador de insolvência (art. 38º/2/a)); b) a atribuição da administração da massa insolvente ao devedor, a proibição de prática de certos atos sem consentimento do administrador de insolvência e a decisão que ponha

(5)

4. Respondendo diretamente à questão submetida a consulta: o registo da

declaração de insolvência de quem exerça as funções de cabeça de casal, efetuado por

averbamento ao assento de nascimento, não constitui motivo de indeferimento da

promoção dos procedimentos de habilitação de herdeiros, partilha e registos e de

habilitação de herdeiros com ou sem registos, nem impedimento à prestação da

declaração de habilitação de herdeiros, quer seja no âmbito desses procedimentos quer

no da habilitação notarial, independentemente da circunstância de haver ou não quinhão

dessa herança integrado na massa insolvente

5

.

termo a essa administração (art. 229º); c) a inibição para o exercício do comércio e de certos cargos e da inabilitação, no caso de insolvência culposa (art. 189º/3); e d) da decisão de encerramento do processo (art.230º/2).

Em conformidade com aquela determinação de promoção oficiosa do registo, o diploma que aprovou o CIRE (D.L. nº 53/2004, de 18 de março) procedeu à alteração do art. 6º do Código do Registo Civil, sujeitando aqueles factos a registo obrigatório, a efetuar por meio de averbamento ao assento de nascimento.

Relativamente aos efeitos do registo civil da declaração de insolvência e à sua conjugação com os efeitos do registo dessa declaração sobre os bens que integram a massa insolvente, cfr. o Pº C.Co.82/2009 SJC-CT, disponível em www.irn.mj.pt(doutrina/pareceres.

A indicada Lei nº 16/2012 alterou, inter allia, a redação do artigo 189º do C.I.R.E. , cuja alínea b) do nº 2 deixou de impor ao juiz que decrete a inabilitação do insolvente, no caso de insolvência fraudulenta.

Na vigência da anterior redação, a mencionada alínea b) foi declarada inconstitucional com força obrigatória geral pelo Acórdão do Tribunal Constitucional nº 171/2009, in D.R. 1ª série, de 4 de maio de 2009., embora a inconstitucionalidade tenha ficado circunscrita à inabilitação do administrador da sociedade comercial declarada insolvente.

Mostrando-se registada a inabilitação do cabeça de casal insolvente, decretada ao abrigo da anterior redação da indicada alínea b), há que levar em linha de conta o disposto no art. 2082º/2 do C.C.l: exercício das funções (de cabeça de casal) pelo representante legal ( cfr. nota 3, supra).

5

Como vimos, não existe disposição legal que permita qualificar o insolvente como incapaz, tanto no Código Civil - quer em geral, quer especificamente quanto ao exercício das funções de cabeça de casal - como, atualmente, no CIRE.

Vimos igualmente que nem o Código do Notariado nem o Código do Registo Civil retiram qualquer efeito (do registo) da declaração de insolvência, no âmbito dos ditos procedimento/habilitação de herdeiros.

Por outro lado, pode considerar-se incontroversa a afirmação de que o pedido de promoção do procedimento de habilitação de herdeiros e/ou a habilitação de herdeiros por parte do cabeça de casal insolvente não configura ato de administração ou disposição do quinhão hereditário que integre a massa insolvente ( art. 81º/1 do CIRE).

Além de que, a própria natureza “de ciência” retiraria sempre à declaração de habilitação de herdeiros – e à promoção do procedimento já que, podendo ser com ou sem registos, visa sempre, entre outras coisas, habilitar os herdeiros – qualquer alcance no plano da administração do quinhão hereditário.

O mesmo não se diga relativamente à partilha de herança em que o insolvente cabeça de casal seja também herdeiro, nomeadamente no caso em que a mesma tenha lugar no procedimento de

(6)

Deliberação aprovada em sessão do Conselho Técnico de 25 de maio de 2012.

Luís Manuel Nunes Martins, relator.

Esta deliberação foi homologada pelo Exmo. Senhor Presidente em 11.06.2012

habilitação de herdeiros, partilha e registos, já que em tal caso falta legitimidade ao cabeça de casal (cfr.

art. 81º do C.I.R.E.).

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