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PERIÓDICOS CIENTÍFICOS EM TURISMO Panorama Evolutivo e Caracterização da Revista Turismo em Análise 1

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PERIÓDICOS CIENTÍFICOS EM TURISMO – Panorama Evolutivo e Caracterização da Revista Turismo em Análise1

Carla Carderelli Minozzo2 Mirian Rejowski3

Resumo: O presente estudo enfoca a importância de pesquisas a cerca dos periódicos

científicos na área de Turismo, mais especificamente em nível nacional, analisando a função desse instrumento no processo de comunicação científica. Apresenta um panorama geral desse tipo de publicação, enfatizando seu histórico no Brasil. Ressalta alguns aspectos da produção nacional através da caracterização dos artigos da Turismo em Análise nos primeiros 13 anos de sua edição, e finaliza algumas considerações a respeito.

Palavras Chave: comunicação científica em Turismo; periódico científico; revistas

especializadas; Turismo em Análise.

Introdução

A eficiência da comunicação científica é fundamental para a continua atualização das informações sobre a produção científica, condição essencial para o pesquisador e a própria pesquisa terem mais espaço no processo de desenvolvimento do Turismo. Em outras palavras, melhorar a comunicação entre os pesquisadores significa possibilitar o desenvolvimento consciente, planejado e sustentável do turismo.

Sem dúvida, os livros, as teses e dissertações, as palestras e “papers” de congressos, os artigos científicos, entre outros, são ferramentas básicas e essenciais para o fluxo da comunicação científica. Cabe destacar que, dentre esses canais de comunicação, o periódico científico é considerado aquele com a função de acelerar a disseminação dos resultados das

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No título, como primeira nota de pé de página, deverá ser indicado o evento ao qual o trabalho está sendo submetido.

2 Bacharel em Turismo pela Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo (ECA-USP). E-mail: ccminozzo@uol.com.br

3 Bacharel em Turismo, Mestre e Doutora em Ciências da Comunicação e Livre Docente em Teoria do Turismo e do Lazer pela ECA-USP. Docente Titular do Mestrado em Turismo da Universidade de Caxias do Sul. E-mail: mrejowsk@ucs.br

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pesquisas científicas entre os estudiosos (MIRANDA, 1996). Os estudos sobre periódicos científicos e seus artigos permitem avaliar a verdadeira motivação de seus autores e, principalmente, a partir de estatísticas e análises, compreender o processo de disseminação do conhecimento e verificar o impacto gerado na comunidade científica.

No Brasil, a publicação de periódicos de Turismo começou na década de 1970 e vem crescendo até os dias atuais. Apesar de suas importantes funções, não é objeto de muitos estudos. Percebe-se, desta forma, a necessidade de explorar a temática envolvendo os periódicos científicos na área de Turismo no Brasil, compreendendo suas potencialidades na contribuição do desenvolvimento de pesquisas.

O presente trabalho aborda, primeiramente, a função do periódico no processo de comunicação científica, para então, baseado em pesquisa documental, estruturar o cenário geral das revistas científicas especializadas em Turismo, suas diversas origens, objetivos e associações. Nesse contexto, destaca-se um conjunto de resultados parciais de pesquisa sobre os artigos científicos publicados na revista Turismo em Análise, no período de 1990 a 2002 - características gerais dos artigos, do perfil dos autores e dos temas desenvolvidos.

Periódico Científico: Conceituação e Funções

Concorda-se com Muller (1994), para quem é impossível qualquer tipo de estudo sobre periódicos científicos sem o conhecimento da atividade de comunicação que precede sua impressão e divulgação. Sendo assim, é importante definir o conceito de comunicação científica que se está empregando:

Comunicação científica é o conjunto de atividades associadas à produção e uso da informação, desde o momento em que o cientista concebe a idéia de uma pesquisa, até aquele em que a informação acerca dos resultados é aceita como constituinte do conhecimento científico

(GARVEY, 1979).

Muller (1994) acrescenta, ainda, que esse processo engloba desde a produção até a inserção da informação nos canais de comunicação utilizados pelo meio científico, e que este sistema de comunicação se divide em dois domínios: o formal e o informal, os quais se relacionam de maneira interdependente e complementar. O periódico está inserido no domínio

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do canal formal, como uma fonte de informação escrita, armazenável e necessariamente pré-avaliada, o que dá maior credibilidade às suas informações.

Segundo a Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT), publicação periódica é a “publicação em qualquer suporte, editada em unidades físicas sucessivas, com designações numéricas e/ou cronológicas e destinada a ser continuada indefinidamente”. Dessa forma, os chamados periódicos (ABNT – NBR 6023, 2002) são publicações (boletins ou revistas) editadas a intervalos regulares ou irregulares de tempo, na forma de fascículos separados com diferentes conteúdos, mas sob o mesmo título. Podem ser especializados ou científicos em uma determinada área, sendo então denominados de periódicos científicos.

Independentemente do seu formato, impresso ou eletrônico, o periódico científico possui as seguintes funções principais:

Como veículo de comunicação do conhecimento, que se origina das atividades de pesquisa, o periódico cumpre as funções de ser registro oficial público (MIRANDA, 1996), estabelecer a prioridade da descoberta científica, e definir e legitimar novas disciplinas, formalizando o conhecimento científico e seus avanços. Passa, assim, a funcionar como memória e arquivo do conhecimento científico e se torna um meio de preservação e documentação. Harrison (apud BIOJONE, 2001) considera o papel de arquivo do conhecimento uma das funções prioritárias do periódico científico.

Como instrumento de comunicação entre os pares da comunidade científica, o periódico permite a disseminação de informações para os cientistas, favorecendo o desenvolvimento e avanço das pesquisas e da própria ciência. Price (1976) afirma que esse papel de disseminação tornou-se dependente das funções de recuperação desempenhadas pelos periódicos secundários. Como tal, permite a ascensão do cientista ou pesquisador entre o meio (ZIMAN, 1981). Por isso, algumas vezes, a publicação de artigos em periódicos de prestígio é usada pelo cientista como uma forma de obter reconhecimento e até de conquistar postos de poder no cenário da pesquisa em seu país. No entanto, dificilmente o cientista assume estar em busca de seu reconhecimento, fazendo com que esta questão seja avaliada de maneira indireta, como por exemplo, através de estudos sobre a produção da elite científica (HAGSTROM, apud MIRANDA, 1996).

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Para que as funções do periódico científico sejam cumpridas eficazmente é necessário um ambiente adequado. O ambiente apropriado requer o estabelecimento e a consolidação do periódico, que são dois processos inerentes à presença de uma comunidade científica e ao fomento das suas atividades de pesquisa. Além disso, o desempenho do periódico científico é influenciado diretamente pelos seguintes fatores:

• estágio de desenvolvimento da área científica a que está ligado;

• grau de engajamento da comunidade na pesquisa e fluxo de artigos para publicação;

• desempenho de grupos e instituições responsáveis pelas funções de: edição, avaliação, publicação, disseminação e recuperação;

• comunidade de usuários;

• infra-estrutura para sua distribuição e seu acesso.

Em países de tradição científica consolidada, os aspectos acima citados apresentam-se favoráveis ao bom desenvolvimento do periódico científico. A abundância e o afluxo de estudos sobre os diversos componentes do processo de Comunicação Científica beneficiam seu aperfeiçoamento.

No Brasil, a falta de tradição científica faz com que os periódicos apresentem problemas de normatização, falta de apoio financeiro e escassez de artigos para publicação. Desta maneira, principalmente aqueles cujas áreas de especialização são menos tradicionais em pesquisas científicas, muitas vezes não executam completamente suas funções. (MIRANDA, 1996)

Periódicos Científicos de Turismo

Panorama Internacional

As pesquisas na área de Turismo são influenciadas pelas correntes de pensamento existentes e pela realidade socioeconômica nas diferentes partes do mundo. Por extensão, obviamente o periódico científico de Turismo apresenta abordagens sob influência do lugar em

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que é publicado, dos responsáveis pela sua publicação e também do contexto presente no momento em que é criado e ao longo de sua “vida”.

O primeiro periódico de Turismo que se tem notícia surgiu em 1946: a Revue de

Tourisme, produzida por institutos de Turismo que posteriormente deram origem à Association Internacionale dÉxperts Scientifiques du Turisme (Aiest), a primeira associação cientifica

internacinal de turismo. Esse periódico, publicado em Saint-Gallen (Suíça), tem como objetivo contribuir para o aprofundamento do Turismo como fenômeno interdisciplinar, provendo reflexões para o progresso das questões e métodos de pesquisa na área. Com periodicidade trimestral, publica artigos em três idiomas (inglês, francês ou alemão), favorecendo o intercâmbio de resultados de pesquisas e conceitos científicos entre os seus membros.

Em 1962 surgiu o Journal of Travel Research, periódico trimestral publicado nos Estados Unidos pela Travel and Tourism Research Association (TTRA). Oferece informações úteis e novos pontos de vista de pesquisas sobre Viagem aos educadores e profissionais de Turismo. Também publica estudos e artigos, resumos e bibliografias de estudos recentes.

A revista Estudios Turísticos, editada na Espanha desde 1963 pelo Instituto Espanhol de Turismo. Atualmente publicada pelo Ministério da Economia, trimestralmente, é dirigida a universidades, organismos nacionais e internacionais, profissionais e estudiosos de turismo. Sua temática abrange aspectos econômicos, estatísticos, tecnológicos, ecológicos, geográficos, sociológicos relativos ao Turismo, Viagens, Recreação e Lazer.

Já na década de 1970, O Annals of Tourism Research foi editado pela primeira vez em 1973 pela Universidade de Winconsin-Stout (Menomonie, Estados Unidos). Focaliza perspectivas acadêmicas em Turismo e procura motivar a contribuição de várias disciplinas expandindo as fronteiras do conhecimento nessa área. Sua edição é supervisionada pelo editor Jafar Jafari e tem periodicidade trimestral.

O periódico trimestral Journal of Leisure Research é publicado desde 1969 pela

National Recreation Park Association, em cooperação com a Texas A&M University

(Department of Recreation, Park and Tourism), também os Estados Unidos. Publica artigos da área de Lazer e Recreação, buscando contribuir para o desenvolvimento do conhecimento e do entendimento das mesmas.

Desde 1977 é editado o Journal of Hospitality and Tourism Research (JHTR), pelo

Internacional Council on Hotel, Restaurant, and Institutional Education (CHRIE). Este

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experimentais com sólida fundamentação teórica e artigos baseados em pesquisas bibliográficas que contribuem para o desenvolvimento do conceito de gestão em Hospitalidade.

Em 1980 surgiu o periódico Tourism Management, publicado pela editora

Butterworth-Heinemann (Oxford, Inglaterra). Esta publicação tem por objetivo abordar de maneira

interdisciplinar os aspectos internacionais, nacionais e regionais do Turismo, assim como, estudos diversos de Administração em Turismo. Inclui artigos de pesquisas originais, discussões sobre questões atuais, estudos de caso, relatórios, críticas literárias e avisos de novidades literárias e de congressos a serem realizados.

O Internacional Journal of Hospitality Management é publicado desde 1982 pela

Internacional Association of Hotel Management Schools na Inglaterra. Publica avanços e

conhecimentos nos campos da educação para gerenciamento de hotéis e assuntos relacionados, visando o desenvolvimento da área de Hospitalidade.

Estudios y Perspectivas en Turismo foi publicado pela primeira vez em 1992, como

seqüência da Revista Latino-Americana de Turismo, lançada em 1991. O Centro de

Investigaciones y Estudios Turísticos (CIET), em Buenos Aires, Argentina, é responsável pela

publicação deste periódico. Seus artigos analisam o Turismo sob a ótica das Ciências Sociais e constitui um fórum interdisciplinar de expansão das fronteiras do conhecimento turístico.

Em 1993 foi lançado o Journal of Sustainable Tourism, editado na Nova Zelândia, que consiste num periódico bimestral, com o objetivo de prover reflexões aprofundadas e originais sobre o desenvolvimento do Turismo Sustentável, e sobre os impactos dos tipos de Turismo que sustentam comunidades e regiões. Inclui, além dos artigos, informações sobre novas descobertas científicas e prove pesquisas e informações para reduzir as tensões entre Turismo, Ambiente e turistas.

O número de periódicos de Turismo cresce constantemente, aumentando a quantidade de periódicos especializados em segmentos do Turismo. Por exemplo: o Journal of Ecotourism (JOE), criado em 2002, tem o objetivo de disseminar informações que contribuam ao estudo e desenvolvimento de pesquisas especificamente em Ecoturismo; o Journal of Sport Tourism, publicado desde 1995, tem o intuito de apoiar estudos e pesquisas relevantes à disseminação de conhecimento acerca do Turismo Esportivo.

Segundo Morrison (2003), o número de periódicos científicos de Turismo cresceu rapidamente nesses últimos dez anos, sendo difícil manter-se a par de todas as publicações existentes. Tentando diminuir esse problema, o autor, criou e disponibilizou uma lista

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eletrônica com mais de cinqüenta títulos de periódicos científicos da área de Turismo, Hotelaria, Lazer e Transporte, utilizando ainda o recurso da rápida interatividade da internet que possibilita inserção de outras revistas das mais diferentes partes do mundo.

Cenário Nacional

No Brasil a primeira revista acadêmica em turismo apareceu em 1971. Denominada de

Estudos Turísticos, era editada pela Organização Bandeirante de Tecnologia e Cultura, órgão

oficial da então Faculdade de Turismo do Morumbi e da Faculdade da Guanabara. Seus fascículos traziam, além de artigos dos docentes e alunos dessas faculdades, artigos de profissionais e estudiosos da área. No entanto, esses artigos não seguiam os padrões de um artigo científico, pois não apresentavam resumos, palavras chaves, nem bibliografia, e não eram baseados em resultados de pesquisas científicas inovadoras.

Em 1976, a EMBRATUR lançou uma publicação quinzenal denominada Informativo

EMBRATUR. Esse boletim trazia diversas informações sobre infra-estrutura e atividades

ligadas ao Turismo, e publicava notas informativas, informações sobre registro de empresas e empreendimentos turísticos, legislação e calendário turístico. No entanto, veiculava, em geral, um breve artigo relacionado aos estudos na área. Talvez possa se considerar esta publicação como uma iniciativa para o surgimento de publicações especializadas em Turismo no Brasil, mas não como um periódico científico, de acordo com as características e conceitos até aqui analisados.

Ainda nessa mesma época surgiram duas publicações especializadas na forma de boletins: o Informativo Centro de Pesquisas e Informações Turísticas (CEPITUR) e o Boletim

do Centro de Pesquisas Turísticas (CEPETUR), ambos editados por instituições de ensino. O

Informativo CEPITUR era editado trimestralmente, pela Pontifícia Universidade Católica de Campinas (PUCAMP); o Boletim do CEPETUR, bimestral, pela Universidade Católica de Petrópolis. Embora ambas trouxessem artigos de estudiosos e pesquisadores de Turismo, ainda destinavam grande parte do espaço para informações sobre assuntos pertinentes ao Turismo com caráter informativo.

Em 1991, a Associação Brasileira de Bacharéis em Turismo - seção Paraná (ABBTUR-PR) lançou seu boletim comemorativo de dez anos de existência. Essa publicação era composta por artigos de bacharéis em Turismo e teve o objetivo de contribuir para a difusão de idéias e

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estudos na área. Essa iniciativa da ABBTUR buscou incentivar a produção de artigos científicos escritos por turismólogos, mas não teve continuidade.

Os periódicos científicos propriamente ditos no Brasil surgiram a partir da década de 1990, a maioria deles ligados a instituições de ensino, cabendo destacar os descritos a seguir.

O periódico semestral Turismo em Análise surgiu em 1990, editado pelo Departamento de Relações Públicas, Propaganda e Turismo da Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo (ECA-USP). Enfoca vários temas relacionados ao Turismo, proporcionando um debate científico de ampla repercussão nos outros campos desta atividade sócio-econômica. Publica artigos em português ou espanhol.

Em 1991 surgiu o Boletim de Turismo e Administração Hoteleira do Centro Universitário Ibero-Americano (UNIBERO). Essa publicação bimestral foi criada com objetivo de contribuir com a então carente bibliografia da área, publicando a produção do corpo docente do curso de turismo da UNIBERO. Sua edição foi suspensa em 2003.

Em 1998 a Faculdade de Turismo da Bahia criou o periódico Turismo - Tendências e

Debates, publicação trimestral com artigos sobre temas desenvolvidos a partir do produto

turístico, fruto da produção científica do Centro de Estudos e Pós-graduação Olga Mettig dessa instituição. Sua edição foi suspensa no início da década de 2000, tendo sido retomada em 2004.

O periódico Turismo - Visão e Ação foi também criado em 1998 pela Universidade do Vale do Itajaí (UNIVALI), que estabeleceu uma política editorial voltada à publicação da produção científica da área de turismo e hotelaria. Essa publicação é publicada em português e inglês e tem periodicidade semestral.

Em 2001 surgiu o periódico bimestral Cadernos UNIBERO de Produção Científica da

UNIBERO com objetivo de divulgar a produção dos diversos núcleos de estudos dessa

instituição. Sua edição foi suspensa em 2003. No mesmo ano de 2001 foi criado o periódico semestral Turismo e Desenvolvimento pela União das Faculdades da Organização Paulistana Educacional e Cultural (UNIOPEC), com objetivo de abrir mais um espaço para a divulgação da produção científica na área de Turismo, através da publicação de relatos de pesquisa, artigos teóricos, comunicações breves, resenhas e cartas ao editor.

Em 2003 foi lançado o Seminário de Pesquisa em Turismo do Mercosul, uma revista em cd-rom, editada pelo Mestrado em Turismo da Universidade de Caxias do Sul, que visa promover uma comunicação científica eficaz entre os pesquisadores de Turismo do Mercosul.

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Comparando os objetivos e conteúdos dos periódicos acima mencionados, é possível perceber que houve certa evolução na área do Turismo. Em 1971 o primeiro periódico trazia os artigos fora dos padrões de uma publicação científica. Com o tempo e apoio de diversas instituições de ensino, os periódicos científicos de Turismo se aprimoraram, apresentando objetivos bem elaborados e artigos de caráter realmente científico.

Atualmente, dois periódicos científicos especializados se destacam no âmbito da comunicação científica em Turismo, principalmente por estarem vinculados a programas de pós-graduação “stricto sensu” nessa área: Turismo em Análise e Turismo – Visão & Ação.

Cabe ainda lembrar, que, há uma forte influência dos avanços tecnológicos na produção de periódicos científicos. Segundo Meadows apud Biojone (2001, p.16):

a utilização de tecnologias da informação favorece a pesquisa acadêmica, à medida que, promove a interação entre os cientistas (...) facilitando a transmissão de conhecimento e de técnicas aplicáveis no desenvolvimento de uma pesquisa.

No âmbito nacional, verifica-se a chegada dessa tendência na área de Turismo, através da veiculação de periódicos científicos eletrônicos especializados. Por exemplo:

O Caderno Virtual de Turismo (CVT), publicação trimestral editada pelo Instituto Virtual de Turismo (IVT) do Rio de Janeiro desde 2000, tem como objetivo de estimular a reflexão e a discussão sobre o Turismo como promotor de desenvolvimento social. Aborda essa temática através de uma visão multidisciplinar do fenômeno turístico;

A Revista Eletrônica de Turismo (RETUR), publicação científica semestral, foi criada em 2002 pelo Núcleo de Estudos Pedagógicos e Administrativos (NEPA), órgão vinculado ao Departamento Administração da Faculdade Cenecista Presidente Kennedy de Campo Largo-Paraná-Brasil. Esse periódico trata de temas teóricos e práticas de Turismo.

Revista “Turismo em Análise”

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O primeiro número da Revista Turismo em Análise foi publicado em 1990, mas sua origem antecede esta data, pois o projeto teve inicio em 1989, com a ciação de um grupo de estudos na ECA que tinha como meta discutir e elaborar projetos editoriais de revistas temáticas.

No projeto editorial seguiram-se os padrões vigentes de uma revista científica internacional em termos de: normatização (número internacional de periódicos, o International

Standard Serial Number – ISSN, e normas da Internacional Standard Organization - ISO),

estrutura administrativa (editor, conselho editorial e comissão de publicação) e formatação do trabalho (artigos científicos, síntese de eventos e resenhas críticas).

Nessa fase inicial, principalmente nos dois primeiros anos, o fluxo de artigos não era espontâneo, e havia um empenho do editor na busca e estímulo à produção de artigos, tanto de acadêmicos como de profissionais da área. Em meados da década de 1990, o fluxo de artigos espontâneos cresceu o suficiente para garantir a publicação da revista. Com o tempo, a maior parte dos artigos publicados passou a ser oriunda, principalmente, de teses e dissertações, o que caracterizou a tendência da revista em enfatizar a pesquisa científica.

Nos anos iniciais (1990 e 1991) a Diretoria da ECA subsidiou os custos de produção gráfica da revista. A partir de 1992 até 1997 o CNPq – Conselho Nacional de Pesquisa e Desenvolvimento - passou a apoiar financeiramente a mesma. Após esse período, a Turismo

em Análise se manteve principalmente com assinaturas e vendas avulsas, visto que o apoio da

ECA tornava-se cada vez mais restrito.

A revista cresceu e se consolidou. A tiragem inicial de 300 exemplares cresceu para 500, depois para 700 e hoje perfaz um total de 1.000 exemplares. Em 2003 a ECA firmou um convênio com a Editora Aleph, ficando a primeira com a responsabilidade científica e organização do conteúdo, e a segunda com a produção gráfica, distribuição e comercialização.

A revista Turismo em Análise possui cerca de 15 anos de existência, nos quais aprimorou-se consideravelmente. Atualmente, nenhuma outra revista periódica nacional possui um acervo de artigos que represente melhor a produção científica de Turismo no período 1990 a 2002. O objeto da pesquisa considerou somente os artigos científicos e seus respectivos autores, desconsiderando outras matérias como editoriais, resumos de eventos e resenhas de livros.

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No período estudado foram editados 13 volumes, 26 fascículos (números), perfazendo um total de 205 artigos. Em média, cada volume da revista apresenta 10 autores e 8 artigos com 12 páginas cada um.

Dos 187 autores distintos observados, 146 (78%) tiveram publicados um artigo de sua autoria e 24 deles (12%) dois artigos. Pode-se, de forma superficial, começar a perceber o nível de diversificação dos autores.

Autores dos Artigos

o período de 1990 a 2002, os autores dos artigos desenvolviam seus estudos vinculados a 89 instituições diferentes. Ao longo dos anos, esta diversidade variou bastante, entre 4 a 17 instituições por ano. A quantidade de instituições foi se estabilizando nos últimos 6 anos (Figura 1).

Em 1997, quando o fluxo de originais já era espontâneo, teve inicio este equilíbrio na variedade das Instituições, em outras palavras, o amadurecimento da revista possibilitou certa estabilidade, começando a construir sua identidade.

Figura 1 - Diversidade de instituições por ano 1990 1991 1992 1993 1996 1994 1997 1998 2001 2000 2002 1999 1995 0 2 4 6 8 10 12 14 16 18 1988 1990 1992 1994 1996 1998 2000 2002 2004 ano

quantidade de instituições distintas

Dessas 89 instituições, quase metade dos autores se vincula a 12 delas, que são as seguintes em ordem crescente de participação: Embratur, Fundação Getúlio Vargas, Universidade Federal da Bahia, Universidade Federal de Santa Catarina, Universidade Estadual de Santa Cruz, Universidade Federal de Sergipe, Universidade do Vale do Itajaí, Senac, Universidad Simon Bolívar, Universidad del Zulia, Faculdade de Economia e

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Administração da USP e Escola de Comunicações e Artes da USP. Portanto, no período analisado a USP detém a supremacia dos artigos publicados.

Em relação à distribuição entre os países a que esses autores estão vinculados, atingiu-se um resultado dentro do esperado, visto que atingiu-se trata de uma revista de circulação preponderantemente nacional. A maior parte dos autores (84%) desenvolve seu trabalho no Brasil. O segundo país de origem dos autores é a Venezuela (6%), o que também era esperado já que entre as quatro Instituições com o maior número de autores vinculados encontra-se a

Universidad Simon Bolívar e a Universidad Del Zulia, ambas localizadas na Venezuela.

Esclarece-se, ainda, que a ECA manteve um convênio com esta última Instituição até 2002. Outros autores estrangeiros, vinculam-se aos seguintes países: Argentina e Chile (5% cada um); Canadá, Cuba e Inglaterra (3% cada um); México e Uruguai com menor participação (1% cada um).

Temáticas dos Artigos

Em relação à temática abordada, os artigos foram classificados em 10 temas principais4: Administração Turística, Economia Turística, Educação em Turismo, Geografia Turística, Legislação Turística, História do Turismo, Indústria Turística, Mercado Turístico, Política do Turismo e Teoria do Turismo.

Após a classificação dos artigos chegou-se a uma distribuição concentrada principalmente nas seguintes categorias: Mercado Turístico e Indústria Turística, representando quase metade dos artigos (45%) pesquisados. Já os artigos focados nos temas História, Legislação e Teoria do Turismo, representam, juntos, apenas 8% dos artigos (Figura 2).

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Esses temas foram determinados com base no Vocabulário Controlado USP, adicionando, apenas, o tema Educação em Turismo a fim de incluir um grupo de artigos que não se classificou em nenhuma das outras categorias. Houve um esforço para alterar o mínimo possível os vocábulos disponíveis no Vocabulário controlado USP, por isso, apesar de não ser aceito pelo meio acadêmico, o termo “Indústria Turística”, foi mantido neste trabalho, com a ressalva de que esta categoria refere-se às empresas e profissionais da área de turismo.

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Figura 2 - Artigos por temas principais 1% 3% 4% 8% 8% 10% 10% 19% 11% 26% História do Turismo Legislação Turística Teoria do Turismo Economia Turística Educação em Turismo Geografia Turística Administração Turística Indústria Turistica Política Turística Mercado Turístico

Dentro do tema Mercado Turístico, os principais assuntos enfocados foram: Turismo Cultural (12%), Turismo Urbano (10%), Turismo de Eventos (10%), Turismo Rural (8%), Turismo Receptivo (8%) e Turismo Ecológico (8%), Fluxo Turístico (6%) e Ecoturismo (6%).

Detalhando um pouco mais os artigos classificados no tema Indústria Turística, parte significativa (48%) enfocou a questão da hospedagem de turistas. Se por um lado, essa questão foi bastante pesquisada, assuntos referentes ao Meio de Transporte utilizado pelo turista e Serviços de Entretenimento disponíveis para este foram pouco discutidos, representando, 6% dos artigos. (Figura 3)

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Figura 3 - Subtemas de Indústria Turística 8% 3% 16% 34% 11% 14% 8% 3% 3% Agências de viagem Colônia de férias Empresas de transportes Empresas prestadoras de seviços turísticos Hotelaria Meios de hospedagem Organização de eventos Profissionais de turismo Serviços de entretenimento Considerações Finais

O periódico científico se insere na comunicação científica como instrumento de canal formal e importante forma de comunicação entre cientistas e pesquisadores. A existência de um periódico científico especializado está estreitamente relacionado ao avanço de uma área do conhecimento científico.

Assim, pode-se concluir que, apesar do Turismo ser uma área de estudos recente, já apresenta um conjunto relevante de estudos e pesquisas científicas para a existência de periódicos internacionais e nacionais na área. Em âmbito internacional, é possível, por exemplo, verificar o avanço do conhecimento em Turismo com o surgimento de periódicos especializados em Lazer, Transporte, Economia etc.

No Brasil, percebe-se também esse avanço, em menor grau, a partir dos resultados da pesquisa sobre a revista Turismo em Análise, referentes à distribuição dos autores e de suas instituições de origem e às temáticas abordadas. Nesse último aspecto, cabe destacar a dificuldade de encontrar sistemas de indexação de temas na área de Turismo (“thesaurus”), o que fez adotar o vocabulário controlado da USP e, dentro deste, o termo “indústria turística”, não aceito por alguns estudiosos nacionais.

Por fim, o assunto aqui estudado envolve muito mais do que o exposto sobre os periódicos científicos em Turismo e sobre a revista Turismo em Análise, constituindo-se em

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uma pequena “fresta” de possibilidades de pesquisas na área da Comunicação Científica em Turismo.

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