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A importância do BNDES no financiamento de ecoinovações em energia solar fotovoltaica distribuída para o desenvolvimento sustentável brasileiro

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO INSTITUTO DE ECONOMIA

MONOGRAFIA DE BACHARELADO

A IMPORTÂNCIA DO BNDES NO FINANCIAMENTO DE

ECOINOVAÇÕES EM ENERGIA SOLAR FOTOVOLTAICA

DISTRIBUIDA PARA O DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL

BRASILEIRO.

FELIPE ALVES FONTES SIQUEIRA

Matricula nº 112193056

ORIENTADOR: Prof.ª Drª. Esther Dweck

CO-ORIENTADOR: Prof.ª Drª. Maria Gabriela Podcameni

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO INSTITUTO DE ECONOMIA

MONOGRAFIA DE BACHARELADO

A IMPORTÂNCIA DO BNDES NO FINANCIAMENTO DE

ECOINOVAÇÕES EM ENERGIA SOLAR FOTOVOLTAICA

DISTRIBUIDA PARA O DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL

BRASILEIRO.

FELIPE ALVES FONTES SIQUEIRA

Matricula nº 112193056

ORIENTADOR: Prof.ª Drª. Esther Dweck

CO-ORIENTADOR: Prof.ª Drª. Maria Gabriela Podcameni

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Dedico este trabalho a minha mãe, Vilmaci Alves Fontes Siqueira, por sempre me fazer acreditar que meus sonhos se tornariam realidade.

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AGRADECIMENTOS

A construção de um trabalho monográfico é um período de muita atenção, árduo e de bastante descobertas. Em primeiro lugar, gostaria de agradecer a Deus pelo dom da vida, a sociedade brasileira que ainda permite a existência de uma universidade pública e gratuita e pela oportunidade que me deram.

Aos meus pais, Vilmaci Alves Fontes Siqueira e Celio de Azevedo Siqueira, pela minha educação, por todo carinho e apoio durante a vida acadêmica. Por sempre me incentivarem a busca pelo conhecimento.

Ao meu companheiro, Renan Gomes da Costa, que me entendeu, me aturou e me deu apoio emocional durante boa parte da elaboração deste trabalho.

Durante a vida acadêmica tive a oportunidade de conhecer pessoas bastante especiais que vou levar pelo resto da minha vida. O Instituto de Economia/UFRJ me deu como herança meus amigos: Raissa Tenuto, Pedro Paulo Gonçalves Neto, Lorena Luz, Yasmin Marinho, Vinicius Schmidt, Ana Gabriela Viana e ao Andrey Takashi, este último, por ter me dado muito suporte nas questões relacionadas à monografia – inclusive de madrugada. Acreditem, ele me salvou! Obrigado a todos vocês por fazerem parte da minha vida e deixá-la mais leve.

À Comissão de Valores Mobiliários (CVM) pela existência do programa de estágio. Ao Claudio Maes – Analista de Mercado de Capitais na CMV – que acreditando no meu potencial me contratou e me incluiu no projeto do Laboratório de Inovação Financeira1 (LAB).

Agradeço ao LAB, importante iniciativa em parceria da CVM-BID-ABDE-GIZ, por ter me proporcionado participar de diversas discussões no âmbito do GT Finanças Verdes a respeito do tema Eficiência Energética e Geração Solar Distribuída. Graças a esta oportunidade, tais temas foram abordados neste trabalho.

Não poderia deixar de fora o restante da família CVM como um todo. Ao Glauco José Souza, por diversas vezes fazer provocações a respeito do meu tema e do desenvolvimento do meu trabalho. Agradeço ao Marcelo Ronchini e aos demais estagiários da SOI pelo clima descontraído de trabalho.

À Marilena Lacerda e Eloísa de Almeida (as bibliotecárias da CVM), por fazerem minhas tardes de estágio mais agradáveis e pelos nossos momentos de chá.

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“O pessimista queixa-se do vento, o

otimista espera que ele mude e o realista

ajusta as velas.”

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RESUMO

O conceito de Desenvolvimento Sustentável trouxe uma nova abordagem para a relação entre o homem e o meio ambiente, bem como um novo modo de se pensar sobre o desenvolvimento econômico das nações. No âmbito da teoria Neo-schumpeteriana, as ecoinovações poderim ser vistas como centro da dinâmica no sistema econômico, sendo caracterizadas por um processo não-linear, mas sistêmico e interativo. A disponibilidade de financiamento, por sua vez, é essencial para o desenvolvimento tecnológico, bem como para a difusão e uso das inovações voltadas a sustentabilidade, também conhecidas como ecoinovações. Entre a gama de ecoinovações existentes, as voltadas para a geração de energia elética via fonte solar são vistas como estratégicas para o alcance da diversificação da matriz elétrica renovável brasileira. Além de trazerem benefícios econômicos ao país e redução dos custos de energia, as ecoinovações em energias renováveis são essenciais para mitigação das mudanças climáticas causadas pela emissão de gases efeito estufa.

Palavras-chave: Desenvolvimento Sustentável; Ecoinovação; Energia Solar Fotovoltaica; Geração

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SÍMBOLOS, ABREVIATURAS, SIGLAS E CONVENÇÕES

ABSOLAR – Associação Brasileira de Energia Solar Fotovoltaica AFD – Agência Francesa de Desenvolvimento

ANEEL – Agência Nacional de Energia Elétrica BEI – Banco Europeu de Investimento

BNDE – Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico

BNDES – Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social BNDESPar - BNDES Participações S.A.

C&T&I – Ciência, Tecnologia e Inovação C.A. – Corrente alternada

C.C. – Corrente contínua CO² – Dióxido de Carbono

CONFAZ – Conselho Nacional de Política Fazendária COP – Conferência das Partes

CRI – Certificado de Recebíveis Imobiliários

ECO-92 – Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente e o Desenvolvimento EPE – Empresa de Pesquisa Energética

EUA – Estados Unidos da América EVA – Etileno-Vinil-Acetato

FGTS – Fundo de Garantia de Tempo de Serviço FIDC – Fundo de Investimento em Direitos Creditórios FIT – Feed-in tariff

FNMC – Fundo Nacional sobre Mudança do Clima FUNTEC – Fundo Tecnológico

GIZ – Associação Alemã para Cooperação Internacional (Deutsche Gesellschaft für Internationale Zusammenarbeit GmbH)

GW – Gigawatt

ICMS – Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços

IEA – Agência Internacional de Energia (International Energy Agency)

kW – Kilowatt

MMA – Ministério do Meio Ambiente MW – Megawatt

MWp – Megawatt-pico

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ODS – Objetivos de Desenvolvimento Sustentável ONU – Organização das Nações Unidas

P&D – Pesquisa e Desenvolvimento

P,D&I – Pesquisa, Desenvolvimento e Inovação PAAR – Plano Anual de Aplicação de Recursos

PADIS – Programa de Apoio ao Desenvolvimento Tecnológico da Indústria de Semicondutores PBM – Plano Brasil Maior

PDDE – Plano Decenal de Expansão de Energia PDP – Política de Desenvolvimento Produtivo PIB – Produto Interno Bruto

PITCE – Política Industrial, Tecnológica e de Comércio Exterior PLS – Projeto de Lei do Senado

PMEs – Pequenas e Médias Empresas PND – Plano Nacional de Desestatização

PNMC – Política Nacional sobre Mudança do Clima PNP – Programa de Nacionalização Progressiva

PROESCO – Programa de Apoio a Projetos de Eficiência Energética

PROFARMA – Programa de Apoio ao Desenvolvimento da Cadeia Produtiva Farmacêutica ProGD – Programa de Desenvolvimento da Geração Distribuída de Energia Elétrica

PRSA – Política Corporativa de Responsabilidade Social e Ambiental

REIDI – Regime Especial de Incentivos para o Desenvolvimento da Infraestrutura SNI – Sistema Nacional de Inovação

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ÍNDICE DE FIGURAS, GRÁFICOS E TABELAS

FIGURAS

Figura 1. Objetivos de Desenvolvimento Sustentável, p. 21. Figura 2. Sistema Nacional de Inovação, p. 29.

Figura 3. Esquema de um Sistema de Energia Solar Fotovoltaica Distribuída, p. 38.

Figura 4. Ranking dos estados brasileiros em termos de geração de energia solar distribuída, p. 53.

Figura 5. Mapa da Irradiação Solar no Brasil, p. 54.

Figura 6. Estrutura do financiamento de energia solar fotovoltaica distribuída via Fundo Clima, p. 71.

GRÁFICOS

Gráfico 1. Evolução anual da capacidade instalada solar fotovoltaica em Megawatt-pico DC (MWpdc), p. 40.

Gráfico 2. Matriz energética mundial e brasileira, p. 46. Gráfico 3. A matriz elétrica brasileira, p. 47.

Gráfico 4. Evolução no número de unidades brasileiras com geração solar fotovoltaica distribuída, p. 49.

Gráfico 5. Evolução dos Desembolsos Totais do BNDES em comparação com os desembolsos em Economia Verde (2012 – 2018), p. 65.

Gráfico 6. Composição dos Desembolsos para a Economia Verde em 2018, p. 66. Gráfico 7. Principais financiadores de projetos de energia renovável (2009-2018), p. 67. Gráfico 8. Volume de Desembolso para Energia Solar Fotovoltaica por Agente Financeiro e por Categoria do Tomador (2018 - 2019), p. 74.

Gráfico 9. Unidades consumidoras com geração solar fotovoltaica distribuída na região sul (2016 – 2019), p. 75.

Gráfico 10. Contratações por origem de recursos no período (2017-2018), p. 77

TABELAS

Tabela 1. Descrição dos principais mecanismos de regulação e organização de mercados como incentivo para energia solar fotovoltaica pelo mundo, p. 44.

Tabela 2. Descrição dos principais mecanismos de incentivo para energia solar fotovoltaica distribuída no Brasil, p. 51.

Tabela 3. Desembolsos do BNDES, p. 63.

Tabela 4. Volume de Desembolsos do BNDES via Fundo Clima (Subprograma Máquinas e Equipamentos Eficientes) para energia solar fotovoltaica (2018-2019), p. 72.

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ... 12

CAPÍTULO 1 DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL E A ECOINOVAÇÃO ... 15

1.1. Conceito de Desenvolvimento Sustentável ... 18

1.2. Papel das Tecnologias Ambientais e Ecoinovações no debate da sustentabilidade . 22 1.3. Inovações e Ecoinovação: Entendendo os conceitos ... 24

1.3.1. Schumpeter e Inovação ... 24

1.3.2. Ecoinovação ... 25

1.4. Inovação e Ecoinovação: Compreendendo um pouco mais sobre sua dinâmica e seus determinantes ... 28

1.5. A importância do financiamento nas Ecoinovações ... 32

1.6. Conclusão ... 34

CAPÍTULO 2 - ENERGIA SOLAR NO BRASIL ... 36

2.1. Energia Renovável Solar ... 37

2.2. Panorama mundial da energia solar fotovoltaica ... 39

2.2.1. Políticas de incentivo à energia solar ... 42

2.3. Panorama nacional da energia solar fotovoltaica distribuída ... 45

2.3.1. Oportunidades e desafios para o desenvolvimento do setor no Brasil ... 50

2.4. A importância do financiamento para o desenvolvimento da fonte solar no Brasil . 56 2.5. Conclusão ... 58

CAPÍTULO 3 – O BNDES E O FINANCIAMENTO DA ENERGIA SOLAR FOTOVOLTAICA DISTRIBUIDA ... 60

3.1. O BNDES no financiamento da economia brasileira ... 60

3.2. O aprofundamento do BNDES às questões ambientais ... 63

3.2.1. Análise da evolução dos desembolsos do BNDES para a Economia Verde ... 64

3.3. Linhas de financiamento para a energia solar no BNDES ... 68

3.3.1. O Fundo Clima ... 70

3.3.2. O financiamento da energia solar na Região Sul ... 73

3.4. Análise de algumas barreiras para o desenvolvimento do setor solar fotovoltaico brasileiro ... 77

3.5. Conclusão ... 79

CONSIDERAÇÕES FINAIS ... 82

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ... 85

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12

INTRODUÇÃO

A importância do estudo a respeito do desenvolvimento sustentável traz o senso de urgência das questões relacionadas ao atendimento das necessidades e aspirações humanas e a preservação do meio ambiente. A área da sustentabilidade tem o desafio de tentar balancear crescimento e bem-estar e, ao mesmo tempo, pensar no planeta como uma unidade de todos a longo prazo e que o uso de seus recursos naturais deve ser planejado a partir da perspectiva do interesse comum (ONU, 1987, p. 46-49).

A crescente preocupação com o meio ambiente e os impactos climáticos ao planeta em virtude do desenvolvimento econômico originou diversas agendas sustentáveis ao redor do mundo, como o Acordo de Paris, na Conferência das Partes (COP), que estabeleceu o compromisso da redução de emissão de poluentes em diversos países2. O Brasil, por sua vez, se comprometeu na redução de gases de efeito estufa trazendo consigo a importância dos estudos em fontes alternativas de energias renováveis que possam ser incorporadas à matriz elétrica brasileira.

O mundo vem expandindo de forma significativa o uso da fonte solar para geração de energia elétrica. O Brasil, por outro lado, possui vantagens para o uso desse tipo de fonte de energia - que serão apresentadas ao longo deste trabalho -, entretanto, a energia não é aproveitada de maneira satisfatória. Desse modo, proporcionar os devidos incentivos para propagação do uso da energia solar distribuída entre os agentes torna-se uma grande estratégia para que o Brasil possa cumprir com os acordos firmados. Além disso, a difusão de Ecoinovações pode trazer benefícios econômicos ao estimular as indústrias brasileiras a se tornarem mais eficientes.

O presente trabalho, portanto, tem por objetivo refletir em que medida o Banco Nacional do Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), enquanto instituição financeira de desenvolvimento, tem contribuído com o desenvolvimento sustentável no Brasil através do detalhamento das medidas para financiamento que incentivam a difusão de ecoinovações em energia solar fotovoltaica distribuída. Para isso, foi realizada uma resenha bibliográfica que buscou estudar os objetivos específicos, que podem ser identificados como: (i) compreender o

2 A Conferência das Partes (COP) é o órgão supremo da Convenção Quadro das Nações Unidas sobre Mudança

do Clima (UNFCCC), que reúne anualmente os países Parte em conferências mundiais. A primeira COP ocorreu em 1995 em Berlim. O Acordo de Paris é um tratado no âmbito da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre a Mudança do Clima (CQNUMC), que rege medidas de redução de emissão de gases estufa a partir de 2020, a fim de conter o aquecimento global abaixo de 2 ºC, preferencialmente em 1,5 ºC, e reforçar a capacidade dos países de responder ao desafio, num contexto de desenvolvimento sustentável. O acordo foi negociado em Paris durante a COP21, e aprovado em 12 de dezembro de 2015.

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13 conceito de desenvolvimento sustentável; (ii) compreender o conceito de ecoinovações e sua dinâmica dentro da economia; (iii) analisar a energia solar distribuída como fonte de energia elétrica; (iv) estudar os principais incentivos para energia solar fotovoltaica no Brasil e no mundo; e (v) estudar as medidas de financiamento do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) para a auto geração de energia elétrica via fonte solar e como essas medidas interagem com os incentivos para o desenvolvimento do setor solar. A monografia está dividida em três capítulos além desta introdução e as considerações finais.

No primeiro capítulo é apresentada a abordagem do referencial teórico Neo-shumpeteriano, que é utilizado durante todo trabalho. Inicialmente, a seção 1.1 e 1.2 discutem sobre os desdobramentos dos conceitos do desenvolvimento sustentável e a relação das tecnologias ambientais com o tema da sustentabilidade. Em seguida, a seção 1.3 aborda a teoria de Joseph Schumpeter, em que as inovações são consideradas o centro na dinâmica do desenvolvimento econômico. Além disso, esta seção busca entender o conceito de ecoinovações. A seção 1.4 discute os determinantes e a dinâmica das Ecoinovações em um contexto de Sistema Nacional de Inovação. Por fim, a seção 1.5 aborda a importância do financiamento nas ecoinovações e a 1.6 a conclusão do capítulo.

O segundo capítulo apresenta as principais características da energia solar distribuída como fonte de energia renovável. Este subdivide-se na seção 2.1, que discute a energia solar como uma fonte de energia renovável, a seção 2.2 que apresenta o panorama internacional da energia solar, bem como os principais incentivos para este tipo de energia praticados pelo mundo. A seção 2.3 apresenta o panorama da energia solar distribuída, além das vantagens e os desafios presentes no Brasil para o desenvolvimento do setor. Por fim, a seção 2.4 aborda a importância do financiamento para o desenvolvimento da fonte solar e a seção 2.5 a conclusão do capítulo.

O terceiro capítulo apresenta a importância do BNDES como fonte de financiamento de longo prazo para a energia solar e sua interação com os demais incentivos para o desenvolvimento do setor solar. Este subdivide-se em cinco subseções. A seção 3.1 discute o BNDES como financiador da economia brasil, a seção 3.2 debate as adequações do banco para incluir ao seu escopo às questões ambientais. A seção 3.3 levanta as linhas de financiamento do BNDES, bem como as estratégias adotadas pelo banco para fomentar o setor solar. Por fim, a seção 3.4 traz algumas barreiras para o desenvolvimento do setor e a seção 3.5 a conclusão do capítulo.

(14)

14 Por fim, são apresentadas as considerações finais sobre a monografia e as referências bibliográficas.

(15)

15

CAPÍTULO 1

DESENVOLVIMENTO

SUSTENTÁVEL

E

A

ECOINOVAÇÃO

A ideia de desenvolvimento econômico caminha por uma longa trajetória de debates acerca do seu conceito, sendo a questão de como alcançá-lo uma questão central para o processo de decisão econômica das nações. Por meio deste, há o surgimento da teoria do desenvolvimento econômico, em que diversas correntes teóricas perseguem caminhos diferentes e buscam encontrar soluções para melhorar as condições de vida nos países, através do incremento da produtividade do trabalho e a forma de distribuição e utilização do produto social.

Furtado (1961, p. 25) levanta em seus textos a questão da metodologia na teoria do desenvolvimento. Há uma primeira etapa que consiste na formulação de modelos de crescimento que de maneira abstrata buscam explicar o fenômeno nos países desenvolvidos. Em um segundo momento, esses elementos do modelo são contrapostos aos fatos históricos, onde muitos economistas tentam, por meio da generalização da realidade, encontrar elementos no caminho para o alcance do desenvolvimento em países que já são considerados desenvolvidos e replicá-los nos países que ainda estão em desenvolvimento.

Hirchmann (1981, p. 2-4) analisa a evolução da disciplina a partir da origem de diferentes correntes ideológicas e faz um esforço para mapeá-las. O autor destaca a existência de diversas correntes. A corrente Ortodoxa argumenta que o comércio entre grupos de países podem resultar em benefício mútuo – o que ele chama de afirmação do benefício mútuo – e de que há apenas uma teoria econômica que comporta todos os países – afirmação monoeconômica. Há também outras correntes que rejeitam o pressuposto da “afimação

monoeconômica”, como é o caso da Neomarxista e a Economia Desenvolvimentista. Essas

acreditam que deveria ter uma análise diferenciada para alguns países, aqueles considerados

“subdesenvolvidos”, onde seriam tratados a partir de uma abordagem alternativa daqueles

países que já possuem suas industrias avançadas e tiveram suas experiências absorvidas para a construção da economia tradicional.

A partir disso, Hirschman (1981, p. 6-7) expõe a dificuldade do estabelecimento de novos modelos de desenvolvimento econômico, visto que a teoria ortodoxa era forte e amplamente aceita na época. Porém, a crescente descrença dos modelos ortodoxos com a crise dos anos 1930 acabaram por apoiar, mesmo que involuntariamente, novas teorias. Culminando,

(16)

16 dessa forma, na ascensão da chamada “revolução Keynesiana” durante os anos 1930-50 que foi o ponto crucial para o fortalecimento de teorias alternativas à economia tradicional.

De maneira geral, as teorias foram surgindo e, em parte, tratavam dos países subdesenvolvidos a partir da ideia relacionada ao subemprego rural - característica comum entre esses países. Esse fenômeno foi amplamente estudado por Arthur Lewis em seu artigo “O Desenvolvimento Econômico com oferta ilimitada de mão-de-obra”, resultando na abertura da ideia de novas abordagens e contribuição para o sistema de análise Keynesiano, ao estender a ideia de subemprego a outros fatores além do fator trabalho (HIRSCHMAN, 1981, p. 7-9).

Hirschman (1981, p. 10) aponta que outras teorias, como a do etapismo evolutivo em Rostow ou a teoria do grande impulso (Big Push) de Paul Rosesnstein-Rodan, foram construídas a partir da perspectiva de países industrialmente atrasados. O autor se apoia no fato de que esses países foram alicerce na industrialização de outros e ao se especializarem em produtos de base para exportação, se atrasaram na industrialização. Nessa perspectiva, fica nítido a carência de condições desses países para alcançarem a industrialização, sugerindo uma

“força-tarefa” para solucionar a questão do desenvolvimento. Em alguns casos, essas teorias

tomavam forma até de etapas, com isso, o surgimento de diversas metáforas dentro das teorias como aponta Hirschman (1981, p. 10) no seguinte trecho:

“The long delay in industrialization, the lack of entrepreneurship for larger ventures, and

the real or alleged presence of a host of other inhibiting factors made for the conviction that, in underdeveloped areas, industrialization required a deliberate, intensive, guided effort. Naming and characterizing this effort led to a competition of metaphors: big push (Paul Rosenstein - Rodan), take off (Walt W. Rostow), great spurt (Alexander Gerschenkron), minimum critical effort (Harvey Leibenstein), backward and forward linkages (Albert O. Hirschman)” (HIRSCHMAN, 1981, p. 10).

Entretanto, é possível notar que o método de impor etapas, como visto em algumas teorias, pode originar diversos debates. Os países são estruturalmente diferentes, cada economia segue um determinado processo de desenvolvimento, e, tampouco, é possível descartar a variável tempo que altera o cenário em que está ocorrendo o processo de desenvolvimento em cada país. Há o acúmulo dos processos históricos que podem levar os países a encarar outras realidades econômicas. Esses indícios mostram a dificuldade de “generalizar etapas” de como alcançar o ápice do chamado desenvolvimento (FURTADO, 1961, p. 26).

Hirschman (1981, p. 11) elenca os obstáculos que os países em desenvolvimento percorrem ao tentar se industrializar. O autor aponta elementos como a oferta ilimitada de mão de obra, a escassez de financiamento, o surgimento das corporações transnacionais, o fato da industrialização vir acompanhada de persistente inflação e pressões sobre o balanço de

(17)

17 pagamentos. Em suma, conclui que nem sempre é possível replicar as experiências passadas e que novas variáveis exigem o estudo crítico e constante das teorias de desenvolvimento econômico.

As múltiplas teorias abrem espaço para a análise do que se tem propagado a respeito do desenvolvimento, Chang (por exemplo Chang, 2002) apresenta críticas aos modelos que têm sido compartilhados por algumas economias consideradas desenvolvidas, onde o Estado é colocado como coadjuvante durante o processo de desenvolvimento. Tais países buscam disseminar a ideia de que o livre-comércio é o caminho ideal para alcançar oprogresso e que traz benefícios para todos os países, mas omitem a importância do Estado durante os seus processos de desenvolvimento (CHANG, 2002, p. 14-24).

Para países como a Grã-Bretanha e os Estados Unidos, por exemplo, a importância da proteção da indústria nascente mostrou-se essencial no período de fortalecimento da competitividade de suas indústrias. Para reforçar a ideia de que as nações quererem suprimir a importância do Estado em suas fases iniciais de progresso, com a intenção de omitir o caminho traçado para o desenvolvimento, Chang (2002, p. 16-17) menciona a seguinte passagem de List (1885, p. 295-6):

“É um expediente muito comum e inteligente de quem chegou ao topo da magnitude

chutar a escada pela qual subiu a fim de impedir os outros de fazerem o mesmo. (...). Qualquer nação que, valendo-se de taxas protecionistas e restrições à navegação, tiver levado sua capacidade industrial e sua navegação a um grau de desenvolvimento que impeça as outras de concorrerem livremente com ela não pode fazer coisas mais sábia do que chutar a escada pela qual ascendeu à grandeza, pregar os benefícios do livre-comércio e declarar, em tom penitente, que até recentemente vinha trilhando o caminho errado, mas acaba de descobrir a grande verdade” (LIST, 1885, p. 295-6, apud CHANG, 2002, p. 16-17).

Furtado (1998) afirma que boa parte das literaturas sobre a questão do desenvolvimento procuram afirmar que o modelo de desenvolvimento ideal para alcance da melhora no padrão de vida seria o baseado no consumo em massa praticado pelos países líderes da revolução industrial. Partindo da crença que, a partir desse modelo, todos os países em desenvolvimento conseguiriam acumular cada vez mais capital e alcançariam o padrão de consumo praticado em países desenvolvidos. Como se pode constatar através do trecho:

“A literatura sobre desenvolvimento econômico do último quarto de século nos dá um

exemplo meridiano desse papel diretor dos mitos nas ciências: pelo menos noventa por cento do que aí encontramos se funda na ideia, que se dá por evidente, segundo a qual o desenvolvimento econômico, tal qual vem sendo praticado pelos países que lideram a revolução industrial, pode ser universalizado. Mais precisamente: pretende-se que os standards de consumo da minoria da humanidade, que atualmente vive nos países altamente industrializados, é acessível às grandes massas de população em rápida expansão que formam o chamado terceiro mundo” (FURTADO, 1998, p. 16).

(18)

18 Contudo, não se sabe ao certo se realmente seria possível replicar esse tipo de “modelo

de sociedade” para todas as nações, pois a maioria deles não estudam as consequências de suas

aplicações para a sociedade como um todo. Além de serem modelos carregados e baseados nos interesses privados, que nem mensuram as consequências da busca constante pelo crescimento desenfreado e nem julgam os meios pelos quais vão alcançá-lo. Como fica nítido na seguinte passagem de Furtado (1998):

“Por que ignorar na medição do PIB, o custo para a coletividade da destruição dos

recursos naturais não renováveis, e os dos solos e florestas (dificilmente renováveis)? Por que ignorar a poluição das águas e a destruição total dos peixes nos rios em que as usinas despejam seus resíduos? Se o aumento da taxa de crescimento do PIB é acompanhado da baixa do salário real e esse salário está no nível de subsistência fisiológica, é de admitir

que estará havendo um desgaste humano” (FURTADO, 1998, p. 116).

Portanto, um dos desafios que foram lançados para a sociedade atual é caminhar para uma nova abordagem de desenvolvimento que busque incorporar o conceito de sustentabilidade.

1.1. Conceito de Desenvolvimento Sustentável

A escassez de recursos e o custo de oportunidade3 são termos presentes dentro do campo da economia, fundamentais para a discussão sobre alocação de recursos. Com o surgimento do relatório formulado pelo Clube de Roma em 1972 que abordava os limites de crescimento do planeta, a questão do gerenciamento dos recursos existentes, em especial aqueles essenciais para a vida de todos, se tornou ainda mais essencial na pauta do desenvolvimento (MEADOWS, 1972, p. 17-24). O relatório “limites do Crescimento” (1972) teve especial importância para a problemática ambiental, principalmente pela imensa divulgação internacional que acabou por colocar a questão ambiental na agenda política mundial, mas também por trazer “para o primeiro plano da discussão problemas cruciais que os economistas do desenvolvimento econômico sempre deixaram à sombra” (FURTADO, 1998, p. 09). A proposta central de

“Limites do Crescimento” era parar o crescimento econômico e populacional. A ideia-chave do documento, sintetizada sob o estigma de “crescimento zero”, era dificilmente aceitável tanto do

ponto de vista econômico quanto do político, principalmente em curto prazo (RATTNER, 1979: 191).

Diversas críticas se seguiram ao relatório Limites do Crescimento. A Universidade de Sussex, por exemplo, criticou ao documento defendendo que os limites do crescimento são mais

3 De acordo com Mankiw (2013), o custo de oportunidade pode ser entendido como o custo de se abrir mão de

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19 políticos e sociais que econômicos e que o relatório subestimou o progresso técnico (OLIVEIRA, 2012). Na mesma linha, Sachs (2002, p. 50-51) aponta que a incorporação das questões ambientais da forma como o relatório propunha poderiam atrasar a industrialização dos países em desenvolvimento. Diversos autores latino-americanos criticaram o relatório, pois este representaria que as nações periféricas não atingissem o mesmo grau de desenvolvimento dos países mais ricos (PORTO-GONÇALVES, 1985; FURTADO, 1998; ACSELRAD, 1993).

Desse modo, ao passo que as questões ambientais foram tomando cada vez mais força nesse campo e, principalmente, a partir da Conferência de Estocolmo estruturada pela ONU (Organização das Nações Unidas) em 1972. Um dos principais resultados desta conferência foi a Declaração de Estocolmo, primeiro documento internacional reconhecendo que o meio ambiente era um direito humano. A partir deste momento, ficou nítida a importância de rever as relações entre o homem e o meio ambiente.

Em meio ao debate, o conceito “Ecodesenvolvimento” é apresentado por Maurice Strong em 1973. Este conceito se torna central no debate da sustentabilidade. O ecodesenvolvimento reconhece a relevância da necessidade do crescimento econômico, mas não de maneira extremista, levando-se em consideração aspectos relacionados ao meio ambiente nas decisões estratégicas do desenvolvimento. (FERNANDEZ, 2011, p.110; SACHS, 2002, p. 52).

Na década seguinte, o relatório Nosso Futuro Comum (1987, p. 46) trouxe uma das definições mais conhecidas tomadas para o Desenvolvimento Sustentável e parte do pressuposto que “é aquele que atende às necessidades do presente sem comprometer a possibilidade de as gerações futuras atenderem a suas próprias necessidades”. Portanto, ela relacionava o desenvolvimento das nações com a melhora da qualidade de vida para todos de maneira equitativa, entendendo as limitações que o planeta apresenta e utilizando os recursos naturais de maneira mais eficiente e consciente, atendendo as necessidades presentes e preservando para que futuras gerações também possam usufruir desses recursos. (ONU, 1987, p. 46-49).

A partir da concepção do que é o “desenvolvimento sustentável” pelo relatório Nosso Futuro Comum, diversos novos pontos de vista foram agregando. Sikdar (2003), por exemplo, parte do pressuposto da limitação dos recursos naturais no planeta e do seu uso desigual – a maior parte dos recursos utilizados no presente é aproveitada por uma minoria das pessoas que vivem em nações mais ricas. Por outro lado, o autor também chama atenção para a desproporção

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20 no uso de recursos entre as diferentes gerações. Baseado nisso, encontra o desenvolvimento sustentável através de “um equilíbrio sábio entre desenvolvimento econômico, administração e

equidade social” (SIKDAR, 2003, p. 1928).

Enquanto Sachs (2002, p. 85) vai além e implementa ao arcabouço teórico oito dimensões ao conceito, abrangendo não apenas aspectos ambientais e econômicos, mas sociais, culturais, territoriais e de cunho político nacional e internacional. Portanto, partindo desta ótica, para que o desenvolvimento econômico de determinada nação fosse considerado como

“desenvolvimento sustentável” seria necessário abarcar todas essas dimensões da

sustentabilidade.

O Desenvolvimento Sustentável tem por finalidade a garantia da vida humana com oportunidades iguais e o suprimento das necessidades básicas de todos. Sendo o acompanhamento contínuo das questões ambientais a garantia do atendimento das necessidades intergeracionais indefinidamente, evitando que em algum momento no tempo o planeta entre em colapso ambiental (ONU,1987, p. 46-47; SACHS, 2002, p. 66-67).

Bellen (2007) chega à seguinte conclusão a respeito dos diversos conceitos que são atribuídos e vão evoluindo ao longo do tempo:

“O conceito de desenvolvimento sustentável provém de um processo histórico de

reavaliação crítica da relação existente entre a sociedade civil e seu meio natural. Por se tratar de um processo contínuo e complexo, observa-se hoje que existe uma variedade de abordagens que procura explicar o conceito de sustentabilidade” (BELLEN, 2007, p. 23). Entre tantas concepções e dimensões, é possível notar o quão relevante é o papel da sociedade na atribuição do uso dos recursos para construir novos caminhos e mudar resultados. Diante disso, a maior atribuição do tema por meio de uma série de iniciativas tornou-se estratégico para articular as nações, propagando boas práticas e impulsionando o desenvolvimento sustentável no globo.

A ECO-92 4 (Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente e o Desenvolvimento) pode ser apontada como uma dessas importantes iniciativas. Realizada no Rio de Janeiro em 1992, vinte anos após a conferência de Estocolmo, consolidando e tomando

como referência a abordagem do “Desenvolvimento Sustentável”. Esta conferência

recomendava um caminho alternativo de desenvolvimento a partir da chamada “Agenda 21”

(21)

21 (vinte um), que reúne práticas para o desenvolvimento sustentável e reafirma dimensões como as sociais, ambientais, culturais e políticas do seu conceito (ONU, 2019).

Embora os acordos climáticos sejam fundamentais e complementares, somente eles não são suficientes para garantir o desenvolvimento sustentável. Inicialmente, a criação dos Objetivos de Desenvolvimento do Milênio (ODM), nos anos 2000, foi fundamental para estabelecer uma primeira agenda global constituída por 8 metas (KOELLER, 2018, p. 7). Entretanto, com a virada do milênio, o prazo dos ODM se encerram e estes são substituídos pelos 17 Objetivos do Desenvolvimento Sustentável (ODS) – apresentado na Figura 1 abaixo. Assim como a formação da chamada “Agenda 2030”, onde foram implementadas 169 metas que estabelecem as principais problemáticas que devem ser sanadas pelas nações até 2030. A construção de um plano de ação comum é uma estratégia que torna mais claro os objetivos almejados com o Desenvolvimento Sustentável, estipulando um trabalho conjunto em prol do planeta como um todo (ONU, 2016, p. 1).

Figura 1. Objetivos de Desenvolvimento Sustentável.

Fonte: Site das Nações Unidas, 2019.

Entre os 17 ODS, o ODS 9 promove a construção de infraestruturas resilientes, a industrialização inclusiva e sustentável e fomentar a inovação. Portanto, ressalta a importância das tecnologias sustentáveis, principalmente, dentro das indústrias. Assim como já previa entrelinhas o relatório de Brundtland (1987, p. 48), a tecnologia é uma peça chave que pode prevenir o mal-uso dos recursos, bem como a orientação ao progresso tecnológico pode viabilizar novos horizontes que garantam a sustentabilidade. O papel das tecnologias ambientais no âmbito da sustentabilidade será o tema analisado com maior profundidade na próxima seção.

(22)

22

1.2. Papel das tecnologias ambientais e Ecoinovações no debate da sustentabilidade

Com a introdução das tecnologias na produção ao longo do tempo, elas vêm sendo consideradas como sinônimo de crescimento e sinal de desenvolvimento econômico. Por meio delas é possível viabilizar maior produção e ter menores custos, porém para atingir tais resultados, inicialmente, não foram mensurados os impactos ao planeta ou as perspectivas de longo prazo. Talvez, naquele primeiro período, devido a abundância de recursos naturais, a sustentabilidade desse processo não fosse uma variável relevante a ser estudada (LUSTOSA, 2011, p. 112).

O uso desenfreado de técnicas e formas produtivas nocivas ao planeta – uso de tecnologias intensivas em determinados recursos naturais, sem levar em consideração as consequências de sua utilização ao meio ambiente – podem gerar poluição e trazer externalidades negativas ao meio ambiente e à sociedade. Como aponta Cánepa (2010) sobre a abordagem pigouviana:

“(...) o dano causado pela poluição é um custo social, uma externalidade negativa,

resultante do fato de um agente econômico, pela sua atividade, gerar um custo pelo qual outro agente tem que pagar. Assim, por exemplo, temos o caso de uma fábrica de cimento, que por meio da fumaça emitida pela sua chaminé (que contém material particulado e dióxido de enxofre), acaba gerando custos adicionais a outros empreendimentos

(lavanderia, p. ex.) e aos moradores circundantes” (CANEPA, 2010, p. 80).

A incorporação desses tipos de técnicas aos modelos de desenvolvimento dos países, não reflete o desenvolvimento sustentável, visto que sua utilização resulta diretamente em danos ao meio ambiente como se pode averiguar hoje os casos de poluição das águas, do solo e do ar. O acúmulo desses impactos pode aprofundar e tomar proporções ainda maiores como, por exemplo, o aquecimento global e a utilização dessas tecnologias podem desencadear a perda de estoque de recursos naturais.

Levando em consideração que os danos causados ao planeta são intertemporais, ou seja, passam de geração em geração, há um espaço de tempo natural para reposição de tais recursos no meio ambiente. Caso contrário, determinado recurso natural pode caminhar para extinção devido às incertezas relacionadas aos impactos no planeta. Como aponta Lustosa (2011, p. 112) na seguinte passagem:

“A depleção dos recursos naturais e a poluição são problemas ambientais resultantes das

ações antrópicas, que também levam à perda da biodiversidade, gerando desequilíbrios nos ecossistemas e fazendo com que percam parte de suas funções biológicas e sociais.

Esse conjunto de problemas é denominado de “questão ambiental”. Seus efeitos negativos

sobre o meio ambiente são resultados de decisões e ações passadas, sugerindo uma interdependência temporal (path dependence), revelando um processo de mudanças

(23)

23 contínuas e evidenciando incertezas em relação ao conhecimento dos impactos ambientais resultantes do crescimento econômico” (LUSTOSA, 2011, p. 112).

Com isso, é possível notar a importância de encontrar formas alternativas de os países crescerem, se desenvolverem, levando em consideração a ótica de que há uma finitude de recursos naturais, que esses precisam ser utilizados de maneira mais eficiente e a necessidade de se evitar que determinados tipos de produto sejam lançados na natureza durante o processo de produção.

A partir disso, muito se tem debatido a respeito da incorporação da consciência ambiental aos processos de produção através de novas tecnologias, visto que com o crescimento populacional há o incremento da demanda por novos produtos e serviços visando bem-estar e esse aumento da demanda resulta no uso dos recursos naturais do planeta cada vez mais intensivamente para o aumento da produção.

Nessa perspectiva, Freeman (1996, p. 32) traz à discussão a ideia de que ao longo do tempo a crescente escassez de determinados recursos farão com que seus preços aumentem, incorrendo em maiores custos e incentivando a substituição para técnicas mais eficientes que utilizem materiais recicláveis e tecnologias antipoluentes. Desse modo, mecanismos de competição impulsionariam a disseminação dessas tecnologias e o mundo seria incentivado a assumir um novo padrão de crescimento. Portanto, a tecnologia ambiental surge como elemento chave nesse processo, fazendo com que se ultrapassem as barreiras impostas pelos limites de crescimento.

Essa lógica pode ser apoiada pelo modelo de crescimento de Solow, como aponta Moro (2013, p.3). O modelo considera o equilíbrio no estoque total de capital composto pelo estoque de recursos naturais, de capital físico produzido, de capital humano - definido pelas capacidades e qualificações da mão de obra em determinado momento do tempo - e pelo o que seria chamado

de “estoque” de infraestrutura institucional que agrega toda a infraestrutura institucional em

determinado momento do tempo.

A partir disso, Moro (2013, p. 3-4) conclui que, independentemente da composição do estoque de capital total, o modelo de crescimento se torna sustentável ao compensar as deficiências de recursos naturais com o aumento do progresso tecnológico. Refletindo uma substitutibilidade entre os fatores, de maneira a substituir o uso do estoque de recursos naturais por maior eficiência no estoque de capital físico e manter ou aumentar o volume de estoque total de capital para novas gerações

(24)

24 Contudo, seria uma proposta muito simplista deixar a cargo da economia mundial e dos mecanismos de competição escolher o momento da substituição dessas tecnologias. Visto que o próprio Solow (1974, p. 71) propõe o seguinte mecanismo na teoria dos recursos esgotáveis:

“Eventually, as the extraction cost falls and the net price rises, the scarcity rent must come

to dominate the movement of market price, so the market price will eventually rise, although that may take a very long time to happen. Whatever the pattern, the market price and the rate of extraction are connected by the demand curve for the resource. So, ultimately, when the market price rises, the current rate of production must fall along the demand curve. Sooner or later, the market price will get high enough to choke off the demand entirely. At that moment production falls to zero” (SOLOW, 1974, p.71). Portanto, o tempo necessário para o impacto nos preços de mercado dos recursos naturais esgotáveis é incerto, logicamente, retardando as mudanças tecnológicas, dado que a alteração de preços incentivaria esse tipo de mudança. Enquanto não surgem as mudanças tecnológicas, não se sabe ao certo os reais impactos do lançamento dos produtos das atuais tecnologias poluentes no planeta e do consumo excessivo de determinados recursos naturais durante esse período de espera. Além do mais, conforme aponta Lustosa (2011, p. 112-113), outro fator deve ser considerado: a incerteza em relação a natureza conseguir repor alguns desses recursos naturais.

Reconhecendo o importante papel do desenvolvimento tecnológico no debate ambiental, este trabalho discute a difusão de tecnologias ambientais relacionadas a fontes de energia, em especial as de fonte solar, como elemento auxiliar no desenvolvimento sustentável. A seção seguinte irá detalhar alguns conceitos importantes acerca do processo de inovação, a fim de embasar a discussão sobre energia solar.

1.3. Inovações e Ecoinovação: entendendo os conceitos

1.3.1. Schumpeter e Inovação

A inovação tem papel fundamental para o crescimento e desenvolvimento das nações, pois é a ferramenta essencial para o aumento do potencial tecnológico e produtivo. Ao longo dos séculos, evidenciou-se diversas transformações devido à introdução de inovações na economia que possibilitou mudanças profundas e novos paradigmas dentro do próprio sistema econômico.

Schumpeter foi um dos economistas que deu ênfase ao fenômeno da inovação dentro do sistema econômico através da dinâmica dos longos ciclos de crescimento. Fazendo alusão às grandes descobertas como a máquina a vapor, as estradas de ferro e as diversas inovações

(25)

25 surgidas durante aquele período, ele deduziu que o surgimento de inovações induz as oscilações no crescimento econômico (FREEMAN, 1982, p. 1-2).

Partindo desta ótica, a figura do empresário e o crédito emergem como elementos cruciais dentro desse ciclo, visto que as movimentações nos setores industrial e comercial frente à dinâmica da concorrência capitalista impulsiona os empresários a realizar diferentes combinações dos recursos. Desse modo, guiados pela busca dos chamados lucros

“extraordinários” são incentivados a inovar, trazendo novos produtos, processos e

possibilitando a abertura de novos mercados. Toda essa dinâmica causaria perturbações no equilíbrio do sistema econômico, podendo inclusive deslocar a economia para um novo patamar de crescimento. (SCHUMPETER, 1982, p. 75-83).

Portanto, é fundamental o estudo do fenômeno da inovação dada à proporção dos seus impactos dentro do sistema econômico. Nesse sentido, a proposta de inclusão da consciência ambiental no processo de inovação traria mudanças na orientação do progresso tecnológico, o que poderia resultar em impactos benéficos no aspecto ambiental e econômico.

A invenção por si só não é considerada uma inovação, Schumpeter já trazia a diferença

ao construir um conceito para o que é “inovação”. A invenção é apenas o surgimento de um novo objeto e a inovação é um processo mais complexo. A aplicação da “invenção” deve

resultar em novos bens ou serviços, novos processos, no desenvolvimento de um novo mercado ou culminar no surgimento de novas fontes de insumos para que dessa forma esteja dentro do

conceito de “inovação” (SCHUMPETER, 1982, p. 76-77).

A abordagem de inovação constituída por Schumpeter não explicitava as questões ambientais, talvez por privilegiar o entendimento da relação entre o fenômeno das inovações e os ciclos de desenvolvimento econômico. Uma vez enfatizada a importância da inovação por ele, dentro desse ciclo, é possível notar o quanto estratégico é a utilização dessa ferramenta em um contexto de desenvolvimento sustentável.

1.3.2. Ecoinovação

James (1997, p. 52) chama atenção para outro tipo de ciclo: o da sustentabilidade. Segundo ele, existem ondas de preocupações ambientais que surgem quando as economias estão no auge e parecem desaparecer quando há outras questões econômicas em foco, como o aumento do desemprego, por exemplo. Entretanto, as questões relacionadas à sustentabilidade devido ao aumento da expectativa de vida e dos padrões de vida a seguir pelos próximos anos

(26)

26 traz a pauta o senso de urgência. Inclusive, o fato de o desenvolvimento sustentável propor a redução da desigualdade e o atendimento das necessidades básicas de todos pelo mundo constitui outro grande desafio.

Para endereçar questões como as mencionadas por James (1997) acima, a proposta elaborada deve passar pelo aumento da produtividade dos recursos naturais, resultando em maior produção com menos matérias-primas; ou a criação de novos bens e serviços que atendam as expectativas dos seus consumidores, entretanto, sua produção consuma menos recursos naturais e emita menos poluição. Por assim verificar, ambas as soluções envolvem inovação dentro da empresa e seus negócios (JAMES, 1997, p. 53).

Há diversos termos para referenciar as inovações voltadas para mitigação dos impactos negativos ao meio ambiente. Termos como inovação verde, inovação ambiental, inovação sustentável ou ecoinovação foram amplamente utilizados. Contudo, a ecoinovação tornou-se predominante na literatura, principalmente por incorporar todos os aspectos econômicos, ecológicos e sociais dos outros termos (DÍAZ-GARCÍAA, C. et al, 2015, p. 7).

Uma das atribuições dadas ao termo ecoinovação foi pelo próprio James, em 1997, em seu artigo que relaciona os ciclos da sustentabilidade e o desenvolvimento de novos produtos e processos que levam em consideração aspectos ambientais. Nele, o conceito de Ecoinovação é

voltado para a inovação dentro do campo comercial, agregando todos os “(...) novos produtos

e processos que geram valor ao consumidor e ao negócio, mas reduzem significativamente o

impacto ambiental” (JAMES, 1997, p. 53).

Charter & Clark (2007) propõem que a “Ecoinovação” poderia ser igualmente traduzida por “Inovação Sustentável” e atribuíram o conceito a seguir:

“(…) is a process where sustainability considerations (environmental, social, financial)

are integrated into company systems from idea generation through to research and development (R&D) and commercialisation. This applies to products, services and

technologies, as well as new business and organisation models” (CHARTER & CLARK,

2007, p.09).

Portanto, a definição parte do princípio que podem ser classificadas como

“Ecoinovação” todas as inovações que tem por característica a motivação em sanar os impactos

ambientais. Nesse sentido, não há uma relação propriamente dita da definição com os impactos obtidos com a inovação.

Kemp e Pearson (2007) também chegaram a uma definição para Ecoinovação no relatório para a Measuring Eco-Innovation (MEI) que é colocada da seguinte forma:

(27)

27

“Eco-innovation is the production, application or exploitation of a good, service,

production process, organizational structure, or management or business method that is novel to the firm or user and which results, throughout its life cycle, in a reduction of environmental risk, pollution and the negative impacts of resource use (including energy

use) compared to relevant alternatives”.” (KEMP; PEARSON, 2007, p. 8).

Nessa perspectiva, a construção da definição é baseada diretamente no desempenho da inovação em termos de impactos positivos ao meio ambiente, seja pelo surgimento de um novo produto ou de um novo processo de produção. A preferência por esse tipo de construção reflete a importância dada aos benefícios ambientais resultantes do uso da inovação em detrimento da definição que leva em conta apenas a motivação em sanar os impactos ambientais.

A Comissão Europeia acreditando na possibilidade de desenvolvimento atrelado ao meio ambiente adotou em suas estratégias iniciativas visando o crescimento sustentável, inteligente e inclusivo. Com o intuito de fortalecer e aumentar a competitividade na Europa foram disponibilizados recursos para impulsionar as Ecoinovações. A partir desse contexto, difundiram a seguinte definição:

“Eco-innovation is any form of innovation aiming at significant and demonstrable

progress towards the goal of sustainable development, through reducing impacts on the environment or achieving a more efficient and responsible use of natural resources,

including energy” (EUROPEAN COMISSION, 2013, p. 1)

Portanto, a definição propagada pela Comissão Europeia une a ideia das duas outras

definições vistas anteriormente. Por um lado, considera a “inovação com motivação em obter impactos ambientais positivos” como uma ecoinovação e, por outro, agrega “a eficácia da inovação em relação aos resultados obtidos”. Comprovando que, embora seja possível notar os

diversos caminhos tomados para identificar o que de fato seria a Ecoinovação, há uma nítida importância dela para a sociedade e os benefícios que ela traz para a sustentabilidade do planeta.

Outros dois aspectos relevantes a serem considerados, é o fato de que a tecnologia difundida nas empresas pode não ser necessariamente a mais limpa disponível e o fato de que as demais definições não englobam o ciclo de vida das inovações (que vai da produção ou processo até a sua disposição final); portanto, não são descontados durante a sua classificação, os potenciais custos dos danos causados durante todas as etapas, desde seu surgimento até a entrega ao consumidor (KOELLER; MIRANDA; 2018, p. 8-9).

Desta forma, o processo de implementação e difusão das Ecoinovações é essencial para o Desenvolvimento Sustentável, pois possibilitaria reduzir os impactos ambientais e ao mesmo tempo buscar o desenvolvimento econômico. Apesar de sua grande importância, há o desafio de implementá-las na prática, encontrando soluções para conscientizar ambientalmente o

(28)

28 mercado, estimulando a inovação nesse sentido, e incentivando para que as ecoinovações possam ser usadas e replicadas com mais facilidade dentro da economia.

1.4. Inovação e ecoinovação: compreendendo um pouco mais sobre sua dinâmica e seus Determinantes

Para compreender os determinantes das ecoinovações, é preciso primeiramente analisar os determinantes do processo de inovação para posteriormente perceber as especificidades das ecoinovações. Cassiolato e Lastres (2005, p. 35-36) atribuem maior peso no processo de

inovação da firma à formação de “redes” formais e informais de inovação, pois “o desempenho

inovativo depende não apenas do desempenho de empresas e organizações de ensino e pesquisa, mas também de como elas interagem entre si e com vários outros atores, e como as instituições – inclusive as políticas – afetam o desenvolvimento dos sistemas”. Os autores

caracterizam o processo de inovação como um fato não-linear, cumulativo, específico da localidade e conformado institucionalmente e, embasados pelos resultados de estudos internacionais5, conceituam o Sistema Nacional de Inovação (SNI) da seguinte maneira:

“(...) a set of different institutions that contribute to the development of the innovation

and learning capacity of a country, region, economic sector or locality, comprises a series of elements and relations that relate production, assimilation, use and diffusion of

knowledge.” (CASSIOLATO; LASTRES, 2008, p. 8).

Corroborando, assim como colocado por Del Río González (2008, p. 863), a importância da existência de um fluxo de informações e parcerias entre as firmas e as demais instituições formando uma rede de compartilhamento e aprendizado incentivando as empresas a se tornarem inovadoras.

A partir dessa perspectiva, Cassiolato e Lastres (2008, p. 11) constroem a Figura 2 abaixo que ilustra a interação entre os atores dentro do Sistema Nacional de Inovação. Considerado como uma importante ferramenta para análise das políticas voltadas para inovação nos países, o SNI é composto por subsistemas que, de maneira ampla e restrita, leva em conta não apenas o papel das empresas e das organizações de pesquisa e políticas de C&T&I, mas inclui políticas governamentais como um todo, organizações financiadoras e outros atores e elementos que influenciam na aquisição, uso e difusão de inovações. Além disso, também é levado em consideração o papel dos processos históricos que criam sistemas de inovação

5 Projeto SAPPHO realizado sob a coordenação de Chris Freeman no Science and Technology Policy Research –

(29)

29 caracterizados pelo contexto local, dessa maneira, demonstrando a importância de delimitar o sistema de inovação ao âmbito nacional (CASSIOLATO; LATRES; 2008, p. 9).

Figura 2. Sistema Nacional de Inovação.

Fonte: Cassiolato e Lastres, 2008.

Jacobsson & Johnson (2000, p. 629-630) ao estudar a difusão e adoção de tecnologias ambientais voltadas para energia renovável, apontam o SNI como determinante para a seleção de uma tecnologia dentro das firmas, como se pode notar no seguinte trecho:

“(…) the determinants of technology choice are not only to be found within individual firms, but also reside in an ‘innovation system’ which both aids and constrains the individual actors making a choice of technology within it. This ‘innovation system’ includes a large number of variables apart from prices” (JACOBSSON; JOHNSON,

2000, p. 629)

A partir desse ideal do SNI, Jacobsson & Johnson (2000, p. 629-630) derivam a ideia de Sistema Tecnológico que tem por finalidade formar uma rede de interação sobre uma área tecnológica específica, respeitando a infraestrutura institucional, com o intuito de estimular a difusão, criação e utilização da tecnologia. O Sistema tecnológico é composto por:

 Atores competentes que possam apoiar politicamente, financeiramente e tecnicamente para o desenvolvimento e difusão da tecnologia;

(30)

30

 Redes para compartilhamento de conhecimento que possam identificar novos problemas e desenvolver novas soluções. Além de aumentar a base de conhecimento das firmas individuais;

 Instituições que possam viabilizar alta conectividade dentro do sistema e/ou influenciar a estrutura de incentivo.

Lustosa (2011) traz a importância do inovar dentro das empresas, atribuindo um forte papel na mudança de ótica dentro do processo de inovação, culminando no surgimento das ecoinovações:

“Uma vez que são as empresas os agentes produtores da economia, a capacidade de elas

gerarem e adotarem inovações ambientais é determinante para que se tenham processos produtivos e produtos menos agressivos ao meio ambiente e, consequentemente, melhorias ambientais – gerenciando adequadamente os recursos naturais e controlando a

poluição” (LUSTOSA, 2011, p. 121-122).

A partir disso, o foco se volta para o processo da mudança para tecnologia ambiental que parte de dentro da firma. Entende-se por mudança de tecnologia ambiental “processos novos ou modificados, técnicas, práticas, sistemas ou produtos com fins de reduzir ou evitar

danos ambientais” (BEISE; RENNINGS, 2005, p. 6).

Contudo, Lustosa (2011, p. 115) expõe alguns fatores das firmas que acabam sendo limitantes dentro desse processo de mudança para tecnologia ambiental: em primeiro lugar, o fato das empresas ao buscarem por soluções se limitarem ao paradigma tecnológico vigente e, em segundo lugar, o efeito lock-in em que as tecnologias adotadas não são as mais eficientes.

As inovações são necessárias para que haja mudanças ambientais positivas nas empresas. Entretanto, para que isso ocorra de forma mais fluída, diversos autores fizeram o estudo dos fatores internos e externos à firma com o intuito de elencar o que pode induzir as empresas a se tornarem ambientalmente inovadoras, bem como as barreiras que obstruem os caminhos para uma inovação ambiental.

Del Río González (2008, p. 862-863) destaca esses fatores internos à firma como uma forma de estímulos que são necessários para que elas se tornem ambientalmente inovadoras. Para isso é necessário que existam pré-condições e características que facilitem o envolvimento em mudanças de cunho tecnológico ambiental. Segundo ele, são determinantes internos à firma: a) o comprometimento da gestão da empresa com as questões ambientais; b) a existência de uma estratégia ambiental proativa; c) a competência tecnológica da empresa, desde os seus recursos humanos até o engajamento em fluxos de informações sobre novas tecnologias; d) sua capacidade de desenvolvimento interno de tecnologias ambientais e de absorção dessas

(31)

31 tecnologias; e) a propriedade da empresa (dependendo dos seus proprietários, a firma pode se beneficiar de ganhos em termos de competência tecnológica); e f) a orientação para a exportação da produção. Além disso, o porte da firma é relevante, visto que pequenas e médias empresas (PMEs) possuem recursos humanos, técnicos e financeiros limitados, podendo ser uma barreira a indução de mudança tecnológica ambiental.

Lustosa (2011, p. 116) aponta que entre os fatores internos, os mais relevantes estariam: na capacidade da empresa em solucionar seus problemas, sua capacidade de absorção e acesso às inovações formuladas por terceiros. Portanto, é fundamental que a empresa invista em pesquisa e desenvolvimento (P&D), visto que ela deve agir prontamente frente às novas informações tecnológicas para aplicá-las em seus negócios, bem como devem estar em constante desenvolvimento para aprimorar sua capacidade de resolução de problemas. Por outro lado, os altos custos que podem ser associados à aquisição de tecnologias de terceiros surgem como uma possível barreira. Portanto, a firma se depara com problemas de custos tanto para seu desenvolvimento interno quanto para absorção tecnológica ambiental.

Entre os fatores externos a firma, aqueles relacionados à interação da firma com o ambiente institucional, cultural e social, Del Río González (2008, p. 863) destaca: a) as pressões de mercado; b) o acesso aos fluxos de informações e parcerias de colaboração; c) os impulsos originados pela regulação; e d) atores da sociedade civil como associações industriais e câmaras de comércio, investidores, fornecedores de insumos e equipamentos, seguradoras, concorrentes, ONGs ambientalistas, partidos verdes, centros de pesquisa públicos e privados, instituições financeiras e os próprios consumidores finais e clientes industriais podem exercer grande influência e pressão para a adoção e o desenvolvimento de tecnologias ambientais. O que caracteriza uma relação bastante complexa entre a firma e o sistema como um todo.

Já no âmbito da regulação, para garantir um efeito positivo para as ecoinovações, é importante incorporar a visão de Kemp & Soete (1990, p. 246-247) que ressaltam que os custos ou riscos costumam sempre recair sobre uma parte da sociedade, enquanto que os benefícios são amplamente difundidos. Um bom exemplo para isso seria o uso de tecnologias voltadas para evitar a poluição do meio ambiente, embora seja benéfico do ponto de vista social, as firmas incorrem em custos que serão repassados por último aos preços, resultando em perda de competitividade para a firma.

Nesse sentido, seguindo a lógica de Kemp & Soete (1990, p. 247), é importante o estabelecimento de regulações governamentais que coíbam as externalidades negativas ao meio ambiente. Visto que se deixar a cargo da livre competição corrigir esse tipo de distorção,

(32)

32 acarretará em mais perdas ambientais e uma barreira à ecoinovação, dado que as firmas estariam pouco estimuladas a inovar.

Além disso, autores como Doran & Ryan, acreditam que a regulação pode ser um grande incentivo às inovações ambientais. Guiados pela chamada hipótese de Porter, acreditam que a inserção de regulação ambiental estrategicamente projetada resulta em uma relação de ganho mútuo, tanto em termos ambientais, quanto em competitividade (DORAN; RYAN, 2012, p. 426).

Com base em sua pesquisa sobre o que guia a ecoinovação na Irlanda, Doran & Ryan (2012, p. 436) deram suporte à hipótese de Porter ao identificar que empresas que implementam ecoinovações possuem maior nível de volume de negócios por empregado do que empresas que

empregam inovações consideradas “comuns” (sem motivações ambientais) ou não praticam

atividades voltadas para inovação.

Entre os fatores externos, Lustosa (2011, p. 118) também inclui o grau de competitividade dentro daquele setor, a existência de competitividade induz as empresas a se tornarem inovadoras, inclusive no sentido ambiental. A questão do contexto macroeconômico em que a firma se encontra também é colocada. Se for um cenário econômico positivo há o incentivo para investimentos por parte das empresas, entretanto, se o cenário for negativo pode apresentar grande instabilidade e incerteza, afetando as decisões dos agentes.

1.5. A importância do financiamento nas Ecoinovações

A disponibilidade de recursos para Ecoinovações, assim como toda inovação, tem papel fundamental, tanto no estágio do seu desenvolvimento, bem como para a sua difusão dentro da sociedade. Kemp e Pearson (2007, p. 13) puderam evidenciar que a disponibilidade de capital de risco, de recursos financeiros e humanos e o insuficiente investimento em atividades de P&D são fatores relevantes no que tange o impacto sobre a ecoinovação da firma. Vincent (2006, p.3) apontou em seus estudos a respeito da comercialização e inovação em tecnologias de baixo carbono que a insuficiência de financiamento durante a etapa de demonstração e pré-comercial da ecoinovação é uma das determinantes para que ela “sobreviva”.

Seguindo a mesma tendência, a Comissão Europeia (2011, p. 13) lançou uma pesquisa com o intuito de estudar como é o comportamento dos empreendedores em relação ao desenvolvimento e absorção das Ecoinovações. Além da incerteza sobre a demanda do mercado, o retorno incerto do investimento ou período de retorno muito longo para as

(33)

33 Ecoinovações, a falta de fundos dentro da empresa é apontada como barreira “muito séria” pelos entrevistados.

Através de uma revisão da literatura, Johnson e Lybecker (2012, p. 3-6) cientes da carência de financiamento, buscam estudar diferentes meios para financiar as Ecoinovações. Na esfera do financiamento público, os autores sugerem alguns mecanismos que poderiam ser utilizados, como o subsídio, os créditos tributários6, o financiamento direto, a partilha de custos ou Joint Venture7 e os prêmios8. Além desses mecanismos, os autores enfatizaram a importância de explorar a gama de políticas já existentes que poderiam ser adaptadas para a ecoinovação.

Um dos produtos da ecoinovação é a tecnologia ambiental. Nesse quesito, Blackman (1999, p. 12-14) estuda a difusão e a adoção de tecnologias ambientais em países em desenvolvimento. Além de chamar atenção para as fracas instituições regulatórias, relata também a questão da carência de financiamento como uma barreira crítica para sua difusão. Em suma, o autor sugere a concentração dos esforços na melhoria contínua da intermediação financeira para ultrapassar as barreiras de financiamento em tecnologias ambientais nos países em desenvolvimento.

Em se tratar de fontes privadas de financiamento para as Ecoinovações, Johnson e Lybecker (2012, p. 7) observam a oportunidade do lucro corporativo que é retido pelas empresas e são fortemente utilizados em P&D. Levando em consideração que as firmas são motivadas, principalmente, pela demanda do mercado para serem eco-inovadoras. De outro modo, os autores também citam como fonte de financiamento: o Venture Capital9e o

“Investimento-Anjo”10 – modalidades de investimento com maior grau de risco.

A literatura a respeito do financiamento das Ecoinovações é colocada por Johnson e Lybecker (2012, p. 1-2) como extremamente carente, o que sugere a necessidade de pesquisas

6 Esse tipo de modalidade não é aconselhado no caso dos países em desenvolvimento devido ao grande nível de

atividade informal (JOHNSON; LYBECKER, 2012, p. 5).

7 Partilha de custos público-privada como uma técnica de financiamento para a inovação (JOHNSON;

LYBECKER, 2012, p. 5).

8 A utilização de prêmios como um incentivo para a ecoinovação, paralelamente ao trabalho de organizações sem

fins lucrativos que já utilizam esta ferramenta noutros locais (por exemplo, a Fundação Bill e Melinda Gates para a saúde pública) (JOHNSON; LYBECKER, 2012, p. 6).

9 O Venture Capital é uma modalidade de investimento utilizada para apoiar negócios por meio da compra de uma

participação acionária, geralmente minoritária, com objetivo de ter as ações valorizadas para posterior saída da operação. O risco se dá pela aposta em empresas cujo potencial de valorização é elevado e o retorno esperado é idêntico ao risco que os investidores querem correr (STARTSE, 2017).

10 O Investimento-Anjo é o investimento efetuado por pessoas físicas com seu capital próprio em empresas

nascentes com alto potencial de crescimento. O Investidor-Anjo tem como objetivo aplicar em negócios com alto potencial de retorno (STARTSE, 2017).

Referências

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