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RESPONSABILIDADE SUBSIDIÁRIA DOS AVÓS NA OBRIGAÇÃO ALIMENTÍCIA

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RESPONSABILIDADE SUBSIDIÁRIA DOS

AVÓS NA OBRIGAÇÃO ALIMENTÍCIA

Maria Cecília Nelson da Silva1 Valéria Edith Carvalho de Oliveira2

Banca Examinadora3

RESUMO: A sobrevivência humana está intimamente ligada ao provimento de necessidades vitais. Assim os alimentos aparecem como bem de valor no mundo jurídico, merecedor de tratamento legislativo específico. A obrigação estabelece-se em relação ao Estado e também em decor-rência do vínculo familiar, sendo esta último foco de estudo no presente artigo. Prover os alimentos a um parente que necessite é obrigação que ultrapassa o parentesco primeiro, isto é, os pais, estendendo-se aos ascendentes, tornando relevante o estudo dos contornos desta obrigação, também denominada obrigação avoenga.

PALAVRAS CHAVE: Alimentos. Avós. Solidariedade. Família.

SUMÁRIO: 1 Introdução; 2 Os alimentos como elemento essencial à vida; 3 Parâmetros da fixação da obrigação alimentar avoenga; 4 Tratamen-to legislativo da obrigação em relação aos avós; 5 Hipóteses de aplicação subsidiária da obrigação alimentar; 6 Considerações finais. Referências.

1 INTRODUÇÃO

A ciência do Direito de Família está em constante mutação e as normas que limitam esses direitos devem refletir anseios sociais, construídos cotidianamente a partir de transformações econômicas, políticas e filosóficas.

Tema de relevante importância no Direito Brasileiro diz respeito aos alimentos, uma vez que relaciona-se intimamente com a manu-tenção da vida. Em cada período da história nacional identificam-se contornos próprios para o tema, conforme a realidade social da época.

A vida que se busca proteger, com a proteção legal do direito a alimentos é tão importante que esta obrigação é distribuída entre o Estado e os familiares. Na seara familiar ela se estende a gerações além dos pais, em momento inicial, fomentando a discussão dos limi-tes desta obrigação em relação aos avós.

Assim, inicialmente, a fim de melhor compreender a respeito tema, é relevante destacar a importância dos alimentos, uma vez que é direito fundamental do ser humano a sua sobrevivência digna.

Os parâmetros para fixar a obrigação alimentícia avoenga es-tão expostos no Código Civil de 2002 edevem obedecer a critérios como a existência do vínculo de parentesco, a necessidade do ali-mentado, a possibilidade do alimentante e a proporcionalidade da prestação alimentícia, sendo estudo indispensável para compreen-são do tema.

Cabe salientar que o tema abordado tem tratamento nacional com base na Legislação Brasileira, e o fundamento legal para esta-belecer a responsabilidade subsidiária dos avós para os seus netos estão elencados na Constituição Federal, Estatuto da Criança e do Adolescente, além do Código Civil de 2012.

Por fim, para o desenvolvimento da presente análise,que tem fulcro nas hipóteses de aplicação da responsabilidade subsidiaria que recai sobre os avós estes serão pontos centrais de debate.

2 OS ALIMENTOS COMO ELEMENTO ESSENCIAL À VIDA

Quando se fala em prover ou manter a vida humana não há como se afastar da discussão dos alimentos. Este é item substancial da vida humana, daí ser tratado como um direito básico e fundamen-tal dos indivíduos, tendo como pano de fundo a integridade da vida,

o que lhe assegura grande importância e consequentemente o faz merecedor de lugar de destaque na Constituição nacional.

Frente à inobservância de direitos e garantias fundamentais do indivíduo, bem se coloca a visão do Doutrinador Yussef Said Cahali:

Desde o momento da concepção, o ser humano – por sua estrutura e natureza – é um ser carente por excelência; ainda no colo materno, ou já fora dele, a sua incapacidade ingêni-ta de produzir os meios necessários à sua manutenção faz com que se lhe reconheça, por um princípio natural jamais questionado, o superior direito de ser nutrido pelos respon-sáveis pela sua geração. (CAHALI. 2013. p. 29)

A importância dos alimentos se reflete nos princípios constitu-cionais da Dignidade da Pessoa Humana e da Solidariedade Familiar. Ressalta-se que os alimentos devem ser prestados e devidos, em ra-zão de todo indivíduo possuir necessidade fundamental em relação a manutenção da sua vida, decorrendo daí seu direito à subsistência.

Neste sentido Silvio de Salvo Venosa conceitua os alimentos em termos biologicamente primários para a subsistência humana, bem como amplia seus elementos componentes a partir da visão jurídica do Instituto.

O ser humano, desde o nascimento até sua morte, necessi-ta de amparo de seus semelhantes e de bens essências ou necessários para a sobrevivência. Nesse aspecto, realça-se a necessidade de alimentos. Desse modo, o termo alimen-tos pode ser entendido, em sua conotação vulgar, como tudo aquilo necessário à subsistência. A essa noção o con-ceito de obrigação que tem uma pessoa de fornecer esses alimentos a outra e se chegará facilmente a sua noção ju-rídica. No entanto, no Direito, a compreensão do termo é mais ampla, pois a palavra, além de abranger os alimentos propriamente ditos, deve referir-se também à satisfação de outras necessidades essenciais da vida em sociedade. (VE-NOSA, 2004, p.385).

A partir desta definição identifica-se a divisão doutrinária dos ali-mentos em naturais ou necessáriose civis ou côngruos.

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Os alimentos naturais (necessarium vitae) são aqueles essen-ciais para a manutenção da vida do indivíduo, ou seja, se equivalem às necessidades básicas do ser humano para sobreviver.

Por outro lado, os alimentos civis (necessarium personae), são caracterizados por dar continuidade à qualidade de vida do alimenta-dode acordoas possibilidades do obrigado.

Nessa mesma vertente, Yussef Said Cahali preceitua:

Quando se pretende identificar como alimentos aquilo que é estritamente necessário para a mantença de vida de uma pes-soa, compreendendo tão somente a alimentação, a cura, o vestuário, a habitação, nos limites assim do necessarium vitae, diz – se que são alimentos naturais; todavia; se abrangentes de outras necessidades,intelectuais e morais, inclusive recre-ação do beneficiário,compreendendo assim o necessarium personae e fixados segundo aqualidade do alimentando e os deveres da pessoa obrigada, diz – se que são alimentos civis. (CAHALI. 2013. p. 18)

A ideia dos alimentos necessários reflete-se no Código Civil Bra-sileiro, em seu artigo 1.694, que estabelece que os parentes, cônjuges ou companheiros, tem o direito de requerer uns aos outros os alimentos que são indispensáveis para manterem uma boa qualidade de vida de acordo com o padrão social em que o necessitado está acostumado.

Esta composição ampla encontra-se refletida também na orien-tação legal dos alimentos estabelecidos pelo direito sucessório.

Segundo o artigo 1.920 do Código Civil:

Art. 1.920. O legado de alimentos abrange o sustento, a cura, o vestuário e acasa, enquanto o legatário viver, além da educa-ção, se ele for menor.

Isto torna imperioso destacar que as formas como os alimen-tos são instituídos obrigacionalmente são através da lei, chamados alimentos legítimos, ou seja, aqueles devidos por direito de sangue, decorrentes do vínculo de parentesco, ou do matrimônio.

Desse pressuposto observa-se outra modalidade de obrigação alimentícia, são os atos voluntários, que ocorrem a partir de uma de-claração de vontade, inter vivos ou mortis causa. Esse direito é adqui-rido quando os sujeitos da relação jurídica almejam a realização da obrigação, bem como para aproveitamento próprio ou para terceiro.

Nessas palavras, ressalta o entendimento do doutrinador Yussef Said Cahali:

A aquisição do direito resulta de ato voluntário sempre que os sujeitos pretendem a criação de uma pretensão alimentícia; a obrigação assim estatuída pode sê-lo a benefício do próprio sujeito da relação jurídica ou a benefício de terceiros; se se pretendeu a constituição de um direito de alimentos em fa-vor de terceiro, o negócio toma a forma de ato a título gratuito quanto àquele que instituiu o benefício, com a outra parte as-sumindo o encargo de prestar alimentos ao terceiro necessi-tado, a qual se obrigou a socorrer; se, ao contrário, mediante ato jurídico, o necessitado visou constituir para si um direito alimentar, o ato jurídico, criador da obrigação de prestar, as-sume o caráter de ato jurídico oneroso. (CAHALI. 2013. p. 21) Nesse sentido, é de suma importância mencionar que a obriga-ção alimentícia poderá também ser estabelecida através do legado de alimentos disposto no artigo 1920 do Código Civil já mencionado.

Neste caso, a figura do testador deixará um encargo alimentar para o herdeiro em benefício de uma pessoa, além de fixar o montante devido. Se o testador não o fizer, o juiz competente para analisar a lide determinará a quantia do alimento, observando as necessidades do

responsável e a sua condição social para cumprir com a pretensão alimentícia. O legado será vitalício somente se o testador não der uma limitação temporal. Além disso, se o testador não determinar de quais bens será retirada a renda suficiente para a realização do legado, fica-rá a cargo do juiz poder escolher o bem.

3 PARÂMETROS DA FIXAÇÃO DA OBRIGAÇÃO ALIMENTAR AVOENGA

A discussão sobre a forma utilizada para a fixação da obrigação alimentícia avoenga é de grande relevância por envolver indivíduos que necessitam dessa proteção que é garantidapelo ordenamento jurídico brasileiro.

Primeiramente, é fundamental destacar que a fixação da obriga-ção imposta aos avós acontece com o objetivo de amparar descen-dentes necessitados. A questão da necessidade do alimentado surge quando o titular do direito não pode se manter sozinho em razão de não possuir recursos suficientes para realizar as suas necessidades e nem condições de prover tais recursos.

A respeito do critério em comento, Yussef Said Cahali leciona: Para além da existência do vínculo de família, a exigibilidade da prestação alimentar pressupõe que o titular do direito não possa manter-se por si mesmo ou com o seu próprio patrimô-nio; assim, só são devidos alimentos quando quem os pre-tende não tem bens, suficientes, nem pode prover, pelo seu trabalho, à própria mantença eaquele de quem se reclamam pode fornecê-los, sem desfalque do necessário ao seu sus-tento. (CAHALI, 2009, p. 512)

Dessa feita, é necessário verificar a condição social da família, a formação do alimentado, e a profissão que este segue. Em observân-cia das necessidade ora discutida, fica evidente que os netos devem ter amparo judicial para garantir sua mantença e sobrevivência, assim, nada mais coerente com base no vínculo parental que os avós se res-ponsabilizem de forma subsidiária pelo sustento dos netos, quando os genitores comprovarem a insuficiência de recursos para prestar os alimentos indispensáveis aos descendentes.

Dessa concepção, é de suma importância observar as palavras de Silvio de Salvo Venosa:

O ser humano, desde o nascimento até sua morte, necessi-ta de amparo de seus semelhantes e de bens essenciais ou necessários para a sobrevivência.Nesse aspecto, realça-se a necessidade dos alimentos.(VENOSA, 2013, p.371)

Por outro lado, temos outro critério essencial com relação à fixa-ção da pretensão alimentícia avoenga, a qual se refere o pressuposto da possibilidade do alimentante. Este caracteriza quando os avós ao cumprir com o encargo alimentar só poderão fornecer os alimentos sem que prejudique o necessário ao seu sustento; ou seja, os proge-nitores não podem sofrer a imposição de uma obrigação ao qual não conseguem suportar.

De acordo com o argumento supracitado, tem-se fundamento legal com base no artigo 1.695 do Código Civil de 2002:

Art. 1.695. São devidos os alimentos quando quem os pretende não tem bens suficientes, nem pode prover, pelo seu trabalho, à própria mantença, e aquele, de quem se reclamam, pode fornecê-los, sem desfalque do necessário ao seu sustento. Insta ressaltar, da mesma forma que o alimentante não é do a vender e dilapidar seus bens, uma vez que, a fixação da obriga-ção deverá ser com base na sua renda líquida e não pelo patrimônio imobiliário do devedor.

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Ainda se tratando da fixação dos alimentos, estes devem ser prestados na proporção das necessidades do alimentante e dos re-cursos dos avós conforme disposto no artigo 1.694, §1 do Código Civil: Podem os parentes, os cônjuges ou companheiros pedir uns aos outros os alimentos de que necessitem para viver de modo compatível com a sua condição social, inclusive para atender às necessidades de sua educação.

§ 1o Os alimentos devem ser fixados na proporção das neces-sidades do reclamante e dos recursos da pessoa obrigada. O artigo ora citado pode ter também como fundamento a base do quantum, que está relacionado à quantidade ou valor da prestação de alimentos. O quantum será calculado observando a renda média, em valor fixo, sobre os proventos obtidos através da atividade profis-sional da pessoa obrigada; sobre as condições sociais do alimen-tado, a capacidade financeira do alimentante, e qualquer outro sinal exterior de riqueza que o alimentante adquirir.Oportuno frisar, que as verbas rescisórias, como 13º salário, gratificação natalina, decorren-tes da atividade laboral do alimentante também deverá estar incluída no percentual estabelecido na obrigação alimentícia.

Outro ponto relevante a se destacar relacionado à pretensão alimentícia é a obrigação compartilhada entre avós paternos e avós maternos. Primeiramente deve-se frisar o artigo 1.698 do Código Civil:

Art. 1.698. Se o parente, que deve alimentos em primeiro lugar, não estiver em condições de suportar totalmente o encargo, serão chamados a concorrer os de grau imediato; sendo vá-rias as pessoas obrigadas a prestar alimentos, todas devem concorrer na proporção dos respectivos recursos, e, intentada ação contra uma delas, poderão as demais ser chamadas a integrar a lide.

Assim, em primeira análise, o credor da ação de alimentos po-derá trazer para o polo passivo os avós paternos ou avós maternos de acordo com a sua vontade. Mas, como se trata de uma obrigação subsidiária dos avós no caso em razão dos genitores não suportarem o encargo da obrigação, a responsabilidade deverá ser distribuída na medida de seus recursos, diante de que possam oferecer com refe-rência a sua possibilidade de prestar os alimentos.

Nesse diapasão, Caio Mário da Silva Pereira preceitua:

Os alimentos constituem um dever para o alimentante. Uma vez apurados os seus requisitos, o parente da classe e no grau indigitados legalmente tem de os cumprir. Mas se, pela força das circunstâncias, mas de um parente os tiver de fornecer, cada um responde pela sua parte (obrigação cumulativa por numerovirorum), de vez que não impera no caso o principio da solidariedade, nem se encontra na lei fundamental para hierarquizar o débito alimentar, estabelecendo-se uma ordem preferencial que o credor de alimentos deve necessariamente seguir.(PEREIRA.2013. p. 574)

Desse modo, entende-se que a fixação da obrigação alimentar avoenga é fundamental para atender as necessidades dos descen-dentes, mas deve ser fixada conforme a condição econômica do ali-mentante, ou seja, é indispensável observar a proporcionalidade da pretensão alimentícia.

4 TRATAMENTO LEGISLATIVO DA OBRIGAÇÃO EM RELAÇÃO AOS AVÓS

No ordenamento jurídico, há diversas discussões sobre a imposição da pretensão alimentícia dos avós para os seus netos. Entretanto, é imprescindível observar o tratamento legislativo que

garante a tutela do necessitado através da obrigação alimentar sub-metida aos progenitores.

Inicialmente, a respeito dessa matéria, deve-se ser esclarecida a trajetória que leva aos avós a assumirem essa responsabilidade pe-rante o alimentante. Assim, é notório observar o amparo que a Cons-tituição Federal assegura em seu artigo 227:

Art. 227. É dever da família, da sociedade e do Estado as-segurar à criança, ao adolescente e ao jovem, com abso-luta prioridade, o direito à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dig-nidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária, além de colocá-los a salvo de toda forma de negligência, discriminação, exploração, violência, cruelda-de e opressão.

Do mesmo teor, o Estatuto da Criança e Adolescente assevera: Art. 4º É dever da família, da comunidade, da sociedade em geral e do poder público assegurar, com absoluta prioridade, a efetivação dos direitos referentes à vida, à saúde, à alimen-tação, à educação, ao esporte, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária.

Nesse sentido, através das considerações elencadas nos arti-gos supracitados, é de suma relevância destacar que o alimentado, seja a criança, o adolescente ou jovem, que necessita dos direitos fundamentais a sua sobrevivência terão o direito de recorrer à família para que possa exercer todos os direitos adquiridos.

Em vista da necessidade que os netos têm de depender dos familiares para prover a sua mantença, é oportuno frisar que as pes-soas relacionadas pelo vínculo familiar não vedam a preferência pela vida em família, independente do paradigma ou o tipo que se cons-titua o núcleo familiar.

Nesse mesmo entendimento, é possível observar que na pre-tensão alimentícia, primeiramente são chamados para prestar os alimentos os parentes de linha reta, ou seja, pessoas que estão umas para com as outras na relação de ascendentes (pai, avô e bisavô) e descendentes (filho, neto e bisneto), e ainda descendem de um tronco em comum.

A respeito desse argumento, tem-se o artigo 1.696 do Código Civil que dispõe:

Art. 1.696. O direito à prestação de alimentos é recíproco entre pais e filhos, e extensivo a todos os ascendentes, recaindo a obrigação nos mais próximos em grau, uns em falta de outros. Neste caso, nota-se que primeiramente existe a obrigação dos pais em relação aos filhos, e dos filhos com os pais. Mas, na rela-ção dos sujeitos do encargo alimentar, não se faz menrela-ção somente na condição de pai e filho; pode-se também estender a pretensão de alimentos entre filhos, genitores, avós e ascendentes em graus próximos. Desse modo, os avós somente serão obrigados a cumprir com a prestação quando se der a falta dos genitores.

Nesta linha, o doutrinador Yussef Said Cahali ensina:

Para que os filhos possam reclamar dos avós, necessário é que faltem os pais. Ou pela falta absoluta, que resulta da morte ou da ausência. Ou pela impossibilidade de cumprir a obriga-ção, que se equipara à falta. (CAHALI, 2013. p. 452)

Diante desse panorama, é relevante mencionar o artigo 1.695 do Código Civil, este também serve como instrumento para aplicar a obrigação alimentícia dos progenitores:

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Art. 1.695. São devidos os alimentos quando quem os pretende não tem bens suficientes, nem pode prover, pelo seu trabalho, à própria mantença, e aquele, de quem se reclamam, pode fornecê-los, sem desfalque do necessário ao seu sustento. O dispositivo legal elencado acima prevê que os netos no caso de não terem patrimônio suficiente como forma de garantir o seu pró-prio sustento, poderão acionar o Poder Judiciário para requerer ali-mentos aos avós.Ressalta-se que nesta lide é fundamental verificar a capacidade financeira dos progenitores, pois, se não tiverem con-dições se suportar o encargo, não seria correto o mesmo sacrificar a sua própria mantença.

Sob esse aspecto, como já exposto anteriormente, os pais tem o dever de sustentar os filhos com o escopo de realizar todas as ne-cessidades essenciais à manutenção da vida da prole.

Todavia, na hipótese dos pais não terem recursos suficientes para suprir totalmente a obrigação, e ainda não conseguirem atingir o mínimo existencial aos seus filhos, serão chamados os avós pater-nos e materpater-nos, conjuntamente para participar da lide como forma de cumprir o encargo devido, com fulcro no artigo 1.698 do Código Civil:

Art. 1.698. Se o parente, que deve alimentos em primeiro lu-gar, não estiver em condições de suportar totalmente o encar-go, serão chamados a concorrer os de grau imediato; sendo várias as pessoas obrigadas a prestar alimentos, todas devem concorrer na proporção dos respectivos recursos, e, intentada ação contra uma delas, poderão as demais ser chamadas a integrar a lide.

Portanto, além de existir essa obrigação subsidiária e comple-mentar destinada aos avós como forma de garantir uma vida digna aos netos, os avós também não poderão suportar o encargo por intei-ro, devendo, se necessário,transferir a obrigação aos outros respon-sáveis na proporção de suas possibilidades.

5 HIPÓTESES DE APLICAÇÃO SUBSIDIÁRIA DA OBRIGAÇÃO ALIMENTAR

Existe no ordenamento jurídico vigente um estudo aprofundado de hipóteses de aplicação da responsabilidade subsidiária da obriga-ção alimentar imposta aos avós.

Primeiramente, é de suma importância destacar como será rea-lizada essa obrigação subsidiária, além de verificar qual é a legislação cabível e o porquê ela deve ser merecer tanta atenção com relação ao alimentado.

Diante de tais considerações, é preciso afirmar que a obrigação ora discutida parte do pressuposto que o estado de necessidade do alimentado que não pode ser suprido inicialmente pelos pais, em ra-zão de estarem ausentes, ou não estiverem emcondições financeiras suficientes para prover a mantença do alimentado, os progenitores maternos e paternos neste caso, serão chamados para integrar a lide e atender a obrigação conjuntamente já que possuem um vínculo de parentesco. Insta mencionar, que não há idade determinada para ces-sar a prestação de alimentos, pois, esta, sempre será paga quando houver a necessidade do alimentado.

Desse modo, tem-se o argumento acima exposto nos artigos 1696 e 1.698 do Código Civil:

Art. 1.696. O direito à prestação de alimentos é recíproco entre pais e filhos, e extensivo a todos os ascendentes, recaindo a obrigação nos mais próximos em grau, uns em falta de outros. Art. 1.698. Se o parente, que deve alimentos em primeiro lugar, não estiver em condições de suportar totalmente o encargo,

serão chamados a concorrer os de grau imediato; sendo vá-rias as pessoas obrigadas a prestar alimentos, todas devem concorrer na proporção dos respectivos recursos, e, intentada ação contra uma delas, poderão as demais ser chamadas a integrar a lide.

Assim, fica evidente que os netos devem ter amparo dos avós estabelecidos pelo Código Civil em comento como forma de garantir o sustento e atender as necessidades fundamentais do credor de ali-mentos para a sua sobrevivência, devendo sempre observar em que condições será cabível essa responsabilidade e verificar também a obrigação imposta aos avós.

Destarte, conforme a própria legislação prescreve e em relação à questão relativa à legitimidade passiva dos avós, é relevante men-cionaro entendimento doutrinário de Yussef Said Cahali:

Assim, duas circunstâncias abrem oportunidade para a convo-cação do ascendente mais remoto à prestação alimentícia: a falta de ascendente em grau mais próximo ou a falta econômi-ca de fazê-lo; o grau mais próximo exclui aquele mais remoto, sendo o primeiro lugar na escala dos obrigados ocupado pelos genitores; apenas se faltam os genitores, ou se estes se encon-tram impossibilitados financeiramente de fazê-lo, estende-se a obrigação de alimentos aos ulteriores ascendentes, respeitada a ordem de proximidade. (CAHALI. 2013. p. 452 e 453) Nesse contexto, o Superior Tribunal de Justiça já profere decisões em-basadas na responsabilidade subsidiária dos avós referente à presta-ção de alimentos, como demonstra o julgamento do Recurso Especial nº831497, de Minas Gerais (STJ, 2010):

DIREITO CIVIL. AÇÃO DE ALIMENTOS. RESPONSABILIDADE DOS AVÓS.OBRIGAÇÃO SUCESSIVA E COMPLEMENTAR. 1. A responsabilidade dos avós de prestar alimentos é subsi-diária e complementar à responsabilidade dospais, só sendo exigível em caso de impossibilidade de cumprimento da pres-tação - ou de cumprimento insuficiente - pelos genitores. 2. Recurso especial provido.

Nesse sentido, conforme a jurisprudência citada, a responsa-bilidade complementar e subsidiária dos avós somente é adquirida quando os pais estiverem impossibilitados de arcar com o encargo, mas, a lide só poderá seguir adiante contra os avós paternos e mater-nos quando comprovada a falta de recursos do genitor para prestar os alimentos aos filhos, observando o binômio necessidade do ali-mentado e possibilidade do alimentante.

A respeito disso, Yussef Said Cahali ensina:

Quando ocorre de virem os avós a complementar o neces-sário à subsistência dos netos, o encargo que assumem é de ser entendido como excepcional e transitório, a título de mera suplementação, de sorte a que não fique estimulada a inércia ou acomodação dos pais, primeiros responsáveis. (CAHALI, 2013. p. 459)

Dessa feita, conclui-se que a obrigação alimentar dos avós é subsidiária e complementar quando ficar comprovada que os pais não conseguem manter a subsistência dos filhos.Caso não haja com-provação dessa insuficiência, os avós serão exonerados do encargo. Assim, é imprescindível destacar que os dispositivos legais que asse-guram essa obrigação devem ser cumpridos, de forma a não prejudi-car a conservação de vida do progenitor e assegurar a manutenção da vida dos netos.

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Contudo, o tema abordado causa bastante discussão, pois essa responsabilidade foi recentemente positivada no Código Civil e ao lon-go do tempo sofre modificações para enquadrá-la à sociedade atual.

6 CONSIDERAÇÕES FINAIS

A Responsabilidade Subsidiária dos avós na obrigação alimen-tícia não pode ser analisada de forma apartada do Princípio da Digni-dade da Pessoa Humana.

Deixar de ter assegurados os alimentos, com todos os elementos que o compõe, como a saúde, educação, lazer, alimentação adequa-da, atinge frontalmente o direito a uma vida digna preceituada a todos. O vínculo familiar existente, estabelece solidariedade entre os parentes capaz de obriga-los, senão moralmente, juridicamente, a au-xiliar na manutenção da vida digna daqueles que não podem prover por si só sua própria manutenção.

Neste cenário aparecem os avós como obrigados em relação aos netos, diante da omissão dos pais.

Assim no caso em que os genitores não estiverem presentes, ou quando ficar comprovado que os pais não possuem recursos su-ficientes para garantir o sustento da prole serão chamados os avós paternos e maternos conjuntamente para cumprir com a obrigação. Nessas hipóteses os alimentos devidos pelos avós serão fixados com base no binômio da necessidade do alimentado e na possibilidade do alimentante, de modo que o progenitor não prejudique o seu próprio sustento. A impossibilidade de contribuição do genitor é indispensável para o ajuizamento da ação de alimentos contra os avós.

Assim, possível concluir que a obrigação avoenga decorre do vínculo de parentesco, obrigando solidariamente os avós, mas deve ser sopesada sem afastar-se dos parâmetros legais da possibilidade e necessidade das partes envolvidas.

REFERÊNCIAS

BRASIL. Lei nº 8.069, de 13 de julho de 1990.Dispõe sobre o estatuto da criança e do adolescente e dá outras providências. Disponível em:

<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l8069.htm> Acesso em: 15 de maio de 2014.

BRASIL. Leinº 10.406, de 10 de janeiro de 2002.Instituiu o Código Civil. Disponí-vel em:<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2002/l10406.htm> Acesso em: 26 de abril de 2014.

CAHALI, Yussef Said. Dos alimentos. 8ª ed. São Paulo: Editora Revista dos Tri-bunais, 2013.

DIAS, Maria Berenice, PEREIRA, Rodrigo da Cunha. Direito de Família e o novo

Código Civil. 2ª ed. Belo Horizonte: Editora Delrey, 2002.

JURÍDICO. Boletim. Relação avoenga e obrigação alimentar. Disponível em: <http://www.boletimjuridico.com.br/doutrina/texto.asp?id=266>Acesso em:1 de maio de 2014.

JÚRIDICO. Âmbito. Direito alimentar uma obrigação subsidiária dos avós. Disponível em:<http://www.ambito-juridico.com.br/site/index.php/index.php?n_ link=revista_artigos_leitura&artigo_id=12780&revista_caderno=14> Acesso em: 5 de maio de 2014.

JUSBRASIL, STJ - RECURSO ESPECIAL :REsp 831497 MG 2006/0053462-0. Disponível em: <http://stj.jusbrasil.com.br/jurisprudencia/8589273/recurso-es-pecial-resp-831497-mg-2006-0053462-0>Acesso em: 28 de abril de 2014. PEREIRA, Caio Mário da Silva. Instituições de Direito Civil. 21ª ed.Rio de Janei-ro: Editora Forense, 2013.

VENOSA, Silvio de Salvo. Direito civil: Direito de Família. 8ª ed. São Paulo: Edi-tora Atlas, 2004

NOTA DE FIM

1Graduanda do 9º período do Curso de Direito do Centro Universitário Newton. 2.Mestre em Direito Privado pela Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais. ³ Valéria Edith Carvalho de Oliveira; Leandro Henrique Simões Goulart.

Referências

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