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SENTENÇA 1. RELATÓRIO

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Academic year: 2021

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Autos n. 0306670-75.2018.8.24.0011

Ação: Pedido de Resposta Ou Retificação da Lei de Imprensa Autor: Luciano Hang e outro/

Réu: Empresa Folha da Manhã S.a./

SENTENÇA 1. RELATÓRIO

Luciano Hang e Havan Lojas de Departamentos Ltda ajuizaram "ação

de direito de resposta com tutela de urgência" em face de Empresa Folha da

Manhã S/A (Jornal Folha de São Paulo), todos já qualificados nos autos.

Alegaram que, em 18/10/2018, publicação sob responsabilidade da requerida, por informação falsa e inverídica, acusou os autores da prática irregular de envio de mensagens em massa, atacando a honra, a reputação, o conceito, o nome, a marca e a imagem dos autores.

Sustentou que a requerida, embora notificada (fls. 59-69), conforme art. 3º da Lei nº 13.188/2015, para concessão do direito de resposta, manteve-se inerte.

Requer, em virtude de tal publicação, o direito de resposta, de acordo com a Lei 13.188/2015.

Juntou documentos (fls. 17-70).

A decisão de fls. 305-306, com fundamento no art. 6º, da Lei 13.188/2015, determinou a citação da requerida para que, em 24 horas, apresentasse as razões pelas quais não divulgou, publicou ou transmitiu, a resposta requerida pelos autores, por meio da notificação de fls. 59-66 e, no prazo de 3 dias, oferecesse contestação.

Citada, a requerida manifestou-se de acordo com a Lei 13.188/2015 (fls. 71-88), alegou que a matéria traz informações devidamente apuradas, verdadeiras e de inequívoco interesse público, que foi elaborada e publicada no livre exercício de manifestação do pensamento e divulgação da informação, sem qualquer ofensa ou abuso da liberdade de imprensa, não havendo, desta forma, fundamento para o direito de resposta pretendido. Pugnou pela improcedência dos pedidos.

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2. FUNDAMENTAÇÃO

Defiro a emenda à contestação de fls. 303-304, que requereu a desconsideração do item II, parágrafos 5 a 12 da contestação, referente às questões preliminares de inépcia e ausência de interesse processual.

Acato a preliminar de ilegitimidade passiva da requerida para responder por matéria publicada pela empresa Universo On-line S/A (UOL), pois trata-se de publicação sob responsabilidade de empresa diversa, conforme documentos de fls. 76 e 99-103.

A possibilidade de julgamento antecipado de mérito tem amparo na desnecessidade de produção de outras provas além dos documentos já acostados pelas partes, em conformidade com o disposto no artigo 355, I, do CPC, porquanto os elementos indispensáveis à resolução da demanda já se encontram presentes.

A propósito, “o julgamento antecipado da lide não implica cerceamento do direito de defesa se os elementos constantes dos autos são suficientes para formar o convencimento do magistrado e a matéria a ser apreciada dispensa a produção de outras provas” (TJSC, Processo: 0003589-14.2011.8.24.0020, Relator: Sebastião César Evangelista, Julgado em: 06/10/2016).

Logo, passo à análise do feito no estado em que se encontra, conforme determinado pela Lei nº 13.188/2015, que disciplina o direito de resposta.

A controvérsia reside em verificar se a matéria publicada pela requerida atentou contra os direitos da personalidade, de forma ofensiva a honra, intimidade ou imagem dos requerentes, atraindo, consequentemente, o direito de resposta.

A matéria publicada divulgou que empresários, em flagrante violação à legislação eleitoral, estavam contratando o disparo de milhares de mensagens via aplicativo WhatsApp e citou os requerentes como um dos contratantes dos referidos serviços de disparo de mensagens. Verifica-se, na publicação, que foi oportunizado a manifestação dos autores, acerca das informações trazidas pela referida matéria.

O entendimento da jurisprudência é que para prevalecer o direito de resposta é necessário a constatação de que a matéria apresentou uma inverdade verificável de plano:

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ELEIÇÕES 2018. REPRESENTAÇÃO. PEDIDO DE ANTECIPAÇÃO DA TUTELA INDEFERIDO. DIREITO DE RESPOSTA. ART. 58 DA LEI nº 9.504/1997. PUBLICAÇÃO DE MATÉRIA JORNALÍSTICA. COMPETÊNCIA. AFIRMAÇÃO SABIDAMENTE INVERÍDICA. AUSÊNCIA. NECESSIDADE DE INVERDADE VERIFICÁVEL DE PLANO. PRECEDENTES. IMPROCEDÊNCIA. 1. “Sempre que órgão de imprensa se referir de forma direta a candidatos, partidos ou coligações que disputam o pleito, com ofensa ou informação inverídica, extrapolando o direito de informar, haverá campo para atuação da Justiça Eleitoral para processar e julgar direito de resposta” (Rp nº 1313-02/DF, rel. Min. Admar Gonzaga, PSESS em 25.9.2014).

2. A concessão do direito de resposta previsto no art. 58 da Lei das Eleições pressupõe a divulgação de mensagem ofensiva ou afirmação sabidamente inverídica reconhecida de plano ou que extravase o debate político-eleitoral. 3. Não há, na matéria questionada, afirmações cujas falsidades sejam evidentes, perceptíveis de plano.

4. É preciso preservar, tanto quanto possível, a intangibilidade da liberdade de imprensa, notadamente porque a função de controle desempenhada pelos veículos de comunicação é essencial para a fiscalização do poder e para o exercício do voto consciente.

5. Improcedência do pedido. (TSE, Representação n.

0601047-24.2018.6.00.0000, rel. Ministro Sérgio Banhos, j. 20-11-2018).

O entendimento adotado pelos tribunais é que, não provado a inveracidade da informação, deve prevalecer o direito de liberdade de informação jornalística:

APELAÇÃO CÍVEL - AÇÃO DE RESPOSTA - PEDIDO JULGADO IMPROCEDENTE - CONFORMAÇÃO ENTRE DIREITOS FUNDAMENTAIS DE LIBERDADE DE INFORMAÇÃO JORNALÍSTICA E DE PROTEÇÃO À HONRA, IMAGEM E REPUTAÇÃO DE ADMINISTRADOR PÚBLICO - MATÉRIA JORNALÍSTICA DE CUNHO NARRATIVO, SEM NENHUM JUÍZO OFENSIVO OU PEJORATIVO - AUSÊNCIA DE PROVA DE QUE AS INFORMAÇÕES SÃO INVERÍDICAS - PEDIDO DE RESPOSTA QUE NÃO SE JUSTIFICA NO CASO - ARTIGO 5º, V, DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL E ARTIGO 2º, § 1º DA LEI Nº 13.188/2015 - PRECEDENTES - PEDIDO DE REDUÇÃO DOS HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS - NÃO ACOLHIMENTO - FIXAÇÃO EQUITATIVA NOS TERMOS DO ART. 85, § 8º, CPC - HONORÁRIOS RECURSAIS FIXADOS - SENTENÇA MANTIDA.1. "O Supremo Tribunal Federal tem destacado, de modo singular, em seu magistério jurisprudencial, a necessidade de preservar-se a prática da liberdade de informação, resguardando-preservar-se, inclusive, o exercício do direito de crítica que dela emana, verdadeira "garantia institucional da opinião pública" (Vidal Serrano Nunes Júnior), por tratar-se de prerrogativa essencial que se qualifica como um dos suportes axiológicos que conferem legitimação material ao próprio regime democrático." (STF, AgR no AI 690841, Relator(a): Min. CELSO DE MELLO, Segunda Turma, julgado em 21/06/2011) 2. A Carta de 1988 conferiu proteção constitucional aos direitos de personalidade de pessoas físicas ou jurídicas que sejam acusadas em meios de comunicação, garantindo-lhes o direito de resposta (artigo 5º, V, da Constituição Federal e artigo 2º, § 1º

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da Lei nº 13.188/2015). Contudo, o pedido de resposta deve ser rejeitado quando a matéria jornalística veicula informação de natureza essencialmente narrativa, sem qualquer juízo de valor negativo apto a denegrir a imagem, honra ou reputação do agente público, e quando o ofendido não comprova que os fatos narrados são inverídicos.3. Os honorários advocatícios sucumbenciais fixados atendem aos parâmetros do art. 85, § 8º do Código de Processo Civil, sendo justa sua manutenção. 4. Considerando a sucumbência recursal e o trabalho adicional realizado em segunda instância, é devida a majoração dos honorários advocatícios, com fundamento no art. 85, § 11 do Código de Processo Civil.RECURSO CONHECIDO E NÃO PROVIDO. (TJPR, Apelação Cível n. 1.605.332-0, de Castro, rel. Des. Rosana Amara Girardi Fachin, 17ª Câmara Cível, j. 22-02-2017).

Verificado que na ação 0600963-23.2018.6.00.0000, que tramitou junto ao Tribunal Superior Eleitoral, o primeiro requerido restou condenado pelo impulsionamento de mensagens, fora dos parâmetros legais, fica evidenciado que, em algum momento, houve a adoção de práticas irregulares pelos requerentes, quanto à campanha eleitoral para presidente, nas redes sociais.

Embora, na época dos fatos, ainda não houvesse provas cabais de que estivesse ocorrendo o impulsionamento ilegal de mensagens, as infrações denunciadas, na matéria publicada pela requerida, levaram à abertura de inquérito pela Polícia Federal, por determinação da Procuradoria Geral da República, evidenciando que não há como afirmar, de plano, que as informações são inverídicas.

Ainda, o primeiro requerente, durante o pleito eleitoral, utilizou-se amplamente das redes sociais para divulgação de suas ideias e para atacar aqueles que pensavam de forma contrária, instigando a crítica e as opiniões divergentes, adotando uma postura dissonante com alguém que tem interesse na proteção da intimidade e privacidade.

Verifico ainda que, por conta da mesma matéria, referida pelos autores, o então candidato a Presidente da República, à época dos fatos, formulou pedido de resposta junto à Justiça Eleitoral, por meio da ação 0601781-72.2018.6.00.0000, que foi negada pelo TSE, que afirmou em sentença transitada em julgado que:

[...] sopesados os valores constitucionais em jogo, concluo que a matéria jornalística impugnada traduz pleno exercício da liberdade de expressão e de opinião dos veículos de imprensa, de alta relevância no processo democrático

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de formação do juízo crítico dos eleitores.

Diante da constatação de que não é possível verificar de plano que a matéria publicada pela requerida é inverídica, não há como afirmar que a matéria publicada pela ré, atentou contra a honra, a intimidade, a reputação, o conceito, o nome ou a imagem dos autores.

Sendo evidente a existência de interesse público na averiguação e combate à práticas ilegais, em um evento tão importante para o País como a campanha eleitoral presidencial, e que a requerida exerceu sua liberdade de imprensa, denunciando possíveis ilegalidades, conclui-se pela inexistência do direito de resposta pleiteado pelo autores.

Assim, não sendo a matéria divulgada pela Ré ofensiva conforme determina o art. 2º, §1º, da Lei 13.188/2015, e que a matéria foi publicada no regular exercício do direito de imprensa, inexiste o direito de resposta.

3. DISPOSITIVO

Ante o exposto, com fundamento no artigo 487, I, do CPC, JULGO

IMPROCEDENTES os pedidos formulados na exordial. Condeno o autor a arcar

com as despesas e custas processuais e com os honorários de sucumbência, os quais, tendo em vista a duração da instrução processual e a natureza da matéria apreciada, arbitro em 10% (dez por cento) sobre o valor atualizado da causa, o que faço com amparo no artigo 85, § 2º, do CPC.

Publique-se. Registre-se. Intimem-se.

Transitada em julgado, providencie-se a cobrança das custas pendentes via GECOF e arquivem-se os autos.

Brusque, 14 de fevereiro de 2019.

Andréia Regis Vaz Juíza de Direito

DOCUMENTO ASSINADO DIGITALMENTE Lei n. 11.419/2006, art. 1º, § 2º, III, "a”

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