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ECOSSOCIALISMO: UMA UTOPIA CONCRETA ESTUDO DAS CORRENTES ECOSSOCIALISTAS NA FRANÇA E NO BRASIL DOUTORADO EM CIÊNCIAS SOCIAIS

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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO

PUC - SP

ARLINDO MANUEL ESTEVES RODRIGUES

ECOSSOCIALISMO: UMA UTOPIA CONCRETA

ESTUDO DAS CORRENTES ECOSSOCIALISTAS NA FRANÇA E NO

BRASIL

DOUTORADO EM CIÊNCIAS SOCIAIS

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ARLINDO MANUEL ESTEVES RODRIGUES

ECOSSOCIALISMO: UMA UTOPIA CONCRETA

ESTUDO DAS CORRENTES ECOSSOCIALISTAS NA FRANÇA E NO

BRASIL

DOUTORADO EM CIÊNCIAS SOCIAIS

Tese apresentada à Banca Examinadora

da Pontifícia Universidade Católica de

São Paulo, como exigência parcial para

obtenção do título de Doutor em Ciências

Sociais na área de Sociologia sob a

orientação do Prof. Dr. Luiz Eduardo

Waldemarin Wanderley.

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Banca Examinadora

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AGRADECIMENTOS

Ao orientador Prof. Dr. Luiz Eduardo Wanderley pela atenção e sábias e oportunas orientações, bem como incentivo permanente.

Ao co-orientador não somente no período de estágio doutoral junto a École des Hautes Études en Sciences Sociales, em Paris / França, professor Dr. Michael Löwy por sua acolhida e seus ensinamentos.

Aos professores Dr. Ladislau Dowbor e Dr. José Corrêa Leite pelas valiosas contribuições no Exame de Qualificação.

Aos professores da PUC, em especial a Dra. Maura Pardini Véras, pela dedicação e competência no diálogo na construção do conhecimento.

Aos colegas do programa de pós em Ciências Sociais, principalmente os amigos e parceiros de luta socioambiental, Lauro Prado e Adolfo Deny.

Aos funcionários da PUC / SP, que sempre me atenderam com eficiência e dedicação.

Aos ecossocialistas presentes em diversas organizações no planeta que compartilham a utopia de construção de uma sociedade justa, ecológica e solidária.

Aos meus pais pela dedicação, pelos ensinamentos éticos e inspiração.

Aos meus filhos, pela compreensão da minha ausência e apoio carinhoso.

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ECOSSOCIALISMO: UMA UTOPIA CONCRETA

ESTUDO DAS CORRENTES ECOSSOCIALISTAS NA FRANÇA E NO BRASIL

ARLINDO MANUEL ESTEVES RODRIGUES

RESUMO

A tese desenvolve um estudo sobre Ecossocialismo, uma corrente de pensamento e

ação socioambiental, e tem como objetivo central analisar os avanços e os desafios

do ecossocialismo internacional, com mais profundidade nos partidos políticos da

França e do Brasil. Para tanto, a tese apresenta, de início, as motivações para as

ações concretas do ecossocialismo. Discute-se como está se desenvolvendo a crise

socioambiental e os seus riscos para a humanidade. Em seguida, expõe as diversas

formas de propostas socioambientais para enfrentar a crise, suas divergências e

convergências. Posteriormente, apresenta mais detalhadamente a forma de

pensamento e ação da corrente ecossocialista e como ela está presente na política

partidária francesa. O ecossocialismo na política partidária brasileira é analisado sob

os aspectos de sua história e perspectivas. Os resultados da pesquisa demonstram

que, apesar de apresentar limitações, quais sejam as resistências da esquerda

tradicional e o baixo desempenho eleitoral, as correntes ecossocialistas na política

partidária francesa e brasileira têm crescido nos debates internos e podem evoluir ao

aumentar sua interação com os movimentos sociais, principalmente despertando

neles a consciência dos aspectos ecológicos, muitas vezes, já presentes nas suas

pautas.

.

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ECOSSOCIALISMO: UMA UTOPIA CONCRETA

ESTUDO DAS CORRENTES ECOSSOCIALISTAS NA FRANÇA E NO BRASIL

ARLINDO MANUEL ESTEVES RODRIGUES

ABSTRACT

The thesis develops a study on Ecosocialism, a current of thought and

socio-environmental action, and is mainly aimed to analyze the progress and challenges of

international ecosocialism, deeper political parties of France and Brazil. Therefore,

the thesis presents at first, the motivations for the concrete actions of eco-socialism.

It discusses how is developing the socio-environmental crisis and risks for humanity.

It then sets the various forms of social and environmental proposals to address the

crisis, their differences and similarities. Then, it presents in more detail the form of

thought and action of ecosocialist current and how it is present in the French party

politics. Ecosocialism in Brazilian party politics is analyzed from the aspects of its

history and perspectives. The survey results show that, despite its limitations, namely

the resistance of the traditional left and the low electoral performance, current

ecosocialists in French and Brazilian party politics have grown in internal debates

and may progress to increase their interaction with social movements mainly

awakening in them the awareness of ecological aspects often already present in its

patterns.

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ... 1

CAPÍTULO 1 Crise Socioambiental: Riscos Assumidos ... 9

1.1 Caminhos da Nova Barbárie ... 9

1.2 Trem sem freio: Capitalismo como devorador ... 19

1.3 Soluções da Desgovernança global ... 25

CAPÍTULO 2 Correntes Ecológicas ... 31

2.1 Correntes Ecológicas: Propostas e Divergências ... 31

2.2 Proposta de Alier ... 41

2.3 Decrescimento ... 47

2.4 Buen Vivir ... 53

2.5 Política partidária ecológica na França ... 58

2.6 Política partidária ecológica no Brasil ... 59

CAPÍTULO 3 Ecossocialismo ... 71

3.1 Corrente Ecossocialista: Pensamentos e Propostas ... 71

3.2 Ética Ecossocialista ... 81

3.3 Planejamento e Estratégia na construção do Ecossocialismo ... 88

3.4 Ecossocialismo e o Altermundismo ... 91

3.5 Ecossocialismo na política partidária francesa ... 96

NPA Nouveau Parti Anticapitaliste ... 100

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CAPÍTULO 4 Ecossocialismo Brasileiro ... 108

4.1 Ecossocialismo de Chico Mendes ... 108

4.2 Ecossocialismo na política partidária brasileira ... 122

PT Partido dos Trabalhadores ... 122

PSOL Partido Socialismo e Liberdade ... 137

Rede Sustentabilidade ... 143

4.3 Rede Brasil de Ecossocialistas ... 151

CONSIDERAÇÕES FINAIS ... 156

REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA ... 162

ENTREVISTAS ... 183

SÍTIOS ... 185

ANEXOS ... 188

1 Primeiro Manifesto Ecossocialista brasileiro (1991) ... 188

2 Manifesto Ecossocialista Internacional (2001) ... 199

3 Declaração Ecossocialista de Belém (2003) ... 203

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Lista de gráficos

Gráfico 1 Macrotendências – de 1750 até atualidade ... 10

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Lista de Tabelas

Tabela 1 Limites Planetários ... 14

Tabela 2 Comparação de Consumo por pessoas Canadá x EUA x Índia e Mundo. 20

Tabela 3 Evolução da participação no Fórum Social Mundial nos primeiros anos.... 92

Tabela 4 Dívidas assumidas pelo seringueiro para iniciar sua jornada ... 109

Tabela 5 Distribuição das áreas de alerta em 2012 ... 119

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Lista de Figuras

Figura 1 Crescente consumo humano... 11

Figura 2 Impacto no meio ambiente do crescimento do consumo humano ... 12

Figura 3 Limites Planetários... 15

Figura 4 Curvas Ambientais de Kuznets ... 43

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INTRODUÇÃO

As crises sociais e ambientais geradas pelo atual modo hegemônico de produção na Terra têm desafiado a sociedade e motivado importantes debates nas últimas décadas. Apesar dos esforços dos governos, empresas e sociedade civil, principalmente após a publicação do Relatório Brundtland, Nosso Futuro Comum, em 1987, em projetos para tornar o atual modelo socioeconômico sustentável, a crise socioambiental persiste e tem se agravado.

A falta de condições de obter o consenso entre os países ricos e os demais países ocorre desde a primeira Conferência das Nações Unidas para debater os problemas ambientais, a Conferência do Meio Ambiente Humano em Estocolmo, em 1972. A grande barreira à ação conjunta dos países para chegar às soluções socioambientais unificadas era, e tem persistido, equalizar o conflito entre a busca do bem comum mundial e os interesses internos específicos de cada país. Em nome da soberania nacional, os países impõem suas condições particulares nas negociações, o que leva a poucos resultados.

As demais conferências, RIO 92, Johannesburgo – 2002 e Rio+20 mantiveram os conflitos de interesses e poucas soluções práticas. Porém, os debates envolvendo desenvolvimento sustentável e possíveis soluções provocaram maior conscientização da sociedade sobre a importância da governança ambiental global e local, isto é, aumento da percepção que os problemas globais impactam e são impactados pelas questões locais. Assim, tem origem a estratégia: pensar globalmente e agir localmente.

A resposta dos órgãos oficiais (ONU, PNUMA) e de alguns representantes dos governos e do setor empresarial para a crise ambiental é, hoje, a adoção da Economia Verde como caminho para o Desenvolvimento Sustentável. Mesmo com a inovação da definição oficial da ONU para Economia Verde, no documento preparatório da Conferência Rio+20, que vincula combate à miséria e responsabilidade ambiental, as soluções não cumprem o prometido.

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consumo-frustação-2

mais consumo e, consequentemente, aumenta a concentração de riqueza e mantém o poder financeiro e político da classe detentora do capital.

O consumismo descontrolado, gerado nesse ciclo, esgotou a capacidade de o planeta repor reservas naturais, e o fluxo infinito de consumo não respeita a finitude do planeta. Segundo o relatório Planeta Vivo de 2012, publicado pelo World Wide Fund for Nature (WWF), a Natureza consegue repor apenas 50% do impacto ambiental do consumo humano (WWF, 2012a, p. 14).

O relatório do WWF demostra que as tentativas hegemônicas de ajuste do atual modo de produção e consumo não estão gerando o resultado prometido. A reversão da atual crise socioambiental exige da humanidade a capacidade de sonhar e ter esperança e construir um mundo novo, isto é, a capacidade de produzir e gerar utopia.

Essa utopia, para iniciar uma transformação mais profunda, deve ser realista, isto é, deve unir uma análise radical da realidade e o anúncio de uma outra lógica de civilização. A visão utópica é realista quando está consciente das contradições, conflitos e da grande desigualdade da atual sociedade mundial (Wanderley, 2013, p. 121); ao mesmo tempo em que, sem abandonar a preocupação realista com a estratégia transformadora, permite os devaneios, a esperança ativa e o “espírito visionário vermelho” (LÖWY, 2000a, p. 127).

A utopia tem na indignação sua energia mobilizadora, pois a consciência da realidade indesejada e da esperança da construção do futuro sonhado foram, ao longo da história, as condições necessárias para as transformações. A indignação gerada pela consciência da realidade pobreza absoluta, fome e morte recorrente, frutos da globalização hegemônica caminha na companhia da utopia, compondo os “sonhos de asas e raízes” (Wanderley, 2013, p. 121). Bensaïd (2008, p. 97) define a indignação como “um começo. Uma maneira de se levantar e de entrar em ação. É preciso indignar-se, insurgir-se só depois ver no que dá. É preciso indignar-se apaixonadamente, antes mesmo de descobrir as razões dessa paixão”. Por isso é muito interessante a recomendação de Hessel (2011, p. 5) de que cada indivíduo deve encontrar seu motivo de indignação, pois esse sentimento nos transforma em militantes, fortes e engajados na busca da justiça e liberdade.

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No processo de acumulação de capital à custa do esgotamento dos trabalhadores e depredação ambiental, o ecossocialismo surge como alternativa utópica, e, também, como contribuição epistemológica, quando assume que o debate ambiental atualiza a teoria marxista; e o marxismo é fundamental para o movimento ambientalista não optar por soluções reformistas.

O caminho indicado pelo ecossocialismo para superar a crise socioambiental é a ruptura da lógica produtivista do capitalismo e do socialismo “real”, através do resgate da proposta marxiana do “Reino da Liberdade”, na qual o produtivismo que desgasta o trabalhador e o meio ambiente é substituído pela redução da jornada de trabalho, o que propiciará o tempo livre necessário para estudo, atividade cidadã, lazer, namoro, enfim, ações de satisfação pessoal geradas pela qualidade na integração social; ações que na maioria das vezes não envolvem relação comercial. E o prazer deixará de ser mercadoria remunerável ao capital e ganhará a função social da autorrealização (LÖWY, 2005a, p. 71).

No desenvolvimento de uma outra civilização, socialmente e ambientalmente justa, o ecossocialismo se apresenta como a utopia concreta que transforma a esperança de uma vida feliz em construção desta vida. O pensamento utópico ecossocialista é a antecipação dessa outra civilização, sob a perspectiva da busca do inédito viável de Paulo Freire, “inédito, porque ainda não aconteceu; viável, porque pode acontecer e já está presente na realidade concreta” (WANDERLEY, 2009c, p. 119).

O ecossocialismo é uma proposta de pensamento que está em construção nos últimos trinta anos, graças ao diálogo e obras de pensadores como Manuel Sacristan, Raymond Williams, Rudolf Bahro e André Gorz, James O’Connor, Barry Commoner, John Bellamy Foster, Joel Koveluan Martínez Alier, Francisco Fernandez Buey, Jorge Riechman, Jean-Paul Déléage, Jean-Marie Harribey, Elmas Altvater, Frieder Otto Wolf entre outros. Revistas como Capitalism, Nature and Socialism, Écologie politique são espaços utilizados pelos autores para apresentarem suas concepções. (LÖWY, 2000b, p. 234; LÖWY, 2005a, p. 48; LÖWY, 2011, p. 13).

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Há alguns pontos que unem todas as correntes de pensamento ecossocialistas:  As crises ecológicas e o colapso social são consequências do processo capitalista, com superação da capacidade de resiliência do planeta pelo produtivismo industrial e consumismo massivo, ou seja, pela superexploração dos recursos naturais pelo capital;  O sistema capitalista não tem capacidade de gerenciar ou superar a crise engendrada, pois sua lógica produtiva está alicerçada na regra “cresça ou morra!”;

 O Ecossocialismo é, obrigatoriamente, internacional.

A proposta do ecossocialismo é fundada numa aposta já presente nas obras de Marx: “predominância, numa sociedade sem classes, do “ser” sobre o “ter”, isto é, da realização pessoal, pelas atividades culturais, lúdicas, eróticas, esportivas, artísticas, políticas, em vez do desejo de acumulação ao infinito de bens e produtos. Esse desejo é induzido pela ideologia burguesa e sua publicidade, e nada indica que é uma “natureza humana eterna”” (LÖWY, 2005a, p. 58).

O ecossocialismo é a proposta utópica de mudança socioambiental fundada na associação das lutas ambientalistas com os demais movimentos representativos da classe social oprimida. A associação entre os movimentos assume a visão de que a atual crise ecológica tem a mesma origem que as demais crises sociais: a máquina mortífera da busca ao retorno rápido do capital. Perante esse desafio da superação da crise socioambiental, a libertação da tirania do capital depende da integração dos movimentos contra-hegemônicos:

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PROBLEMA DE PESQUISA

A escolha do Ecossocialismo como tema se deve à necessidade de analisar a corrente ecossocialista como resposta à crise socioambiental. Essa crise envolve mudanças climáticas, perda da biodiversidade e aumento da desertificação dos solos e mares, fatores de risco para as condições de vida humana no planeta. A atual resposta das lideranças governamentais e empresariais para a crise, o Desenvolvimento Sustentável, se mostra ineficiente e contraditório.

A sociedade civil e as lideranças dos movimentos contra-hegemônicos estão buscando alternativas aos atuais modelos de desenvolvimento. O lema dessa busca, batizado pelas lideranças no Fórum Social Mundial, é que “um outro mundo é possível”. Em entrevista, Joel Kovel (D’Almeida, 2011) afirmou que “logicamente, deveríamos poder dizer que este “outro mundo” é o do Ecossocialismo”.

Considerando essa provocação de Kovel, a tese busca responder às seguintes questões: O Ecossocialismo é opção utópica na construção de uma outra sociedade? Quais são os desafios e oportunidades da politica partidária na construção da Sociedade Ecossocialista?

OBJETIVOS

Esta pesquisa tem como objetivo central analisar os avanços e dificuldades do Ecossocialismo como proposta utópica na construção de uma outra civilização. A construção dessa nova Sociedade envolve grande transformação do atual modelo de civilização produtivista e consumista para um novo paradigma de civilização, responsável social e ambientalmente, principalmente sem opressor e oprimido.

Os objetivos específicos são:

a) Analisar os avanços e os desafios da corrente ecossocialista internacional;

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METODOLOGIA

A metodologia desta tese baseou-se nas seguintes etapas:

a) Pesquisar a bibliografia com o intuito de apurar um arcabouço teórico sobre a crise ambiental e propostas utópicas de sua superação;

b) Pesquisar a bibliografia sobre a proposta ecossocialista, principalmente as contribuições de Michael Löwy, John Bellamy Foster e Joel Kovel;

c) Levantamento das experiências do movimento ecossocialista na política partidária da França, debate ecossocialista entre NPA – Noveau Parti Anti Anticapitaliste, Parti de Gauche e Ensemble Mouvement pour une alternative de Gauche, Ecologiste et Solidaire; e no Brasil, Partido dos Trabalhadores, Partido Socialismo e Liberdade e Rede Sustentabilidade;

d) Levantamento da experiência Rede Brasil de Ecossocialistas;

e) Levantamento de documentos elaborados pelos próprios partidos na sua fundação e encontros relevantes para suas correntes ecossocialistas;

f) Entrevistas com militantes dos partidos políticos para apurar as dificuldades, oportunidades e propostas de ações futuras do movimento ecossocialista no mundo e no Brasil.

A pesquisa enfocou a política partidária, pois é o setor da sociedade que tem debatido o ecossocialismo há mais tempo e com mais vigor, principalmente depois do anúncio da IV Internacional ter aderido ao ecossocialismo. Em 2003, a IV Internacional adotou em seu congresso o documento “Ecologia e Revoluções Sociais” de inspiração ecossocialista (LÖWY, 2011, p. 14).

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interno em seus partidos. Foi também entrevistado Michael Löwy por sua vivência na política partidária e, principalmente, pela influência que sua obra exerce sobre as correntes ecossocialistas nos partidos políticos brasileiros.

A tese está dividida em quatro capítulos e considerações finais, além da referência bibliográfica e os anexos.

O primeiro capitulo apresenta a crise socioambiental, sua dimensão e perspectivas. A pesquisa aponta que a barbárie socioambiental é uma das duas bifurcações possíveis para a sociedade. Incialmente a nova barbárie apresentada nesse capítulo está relacionada aos riscos assumidos pelas decisões dos donos do Capital e suas ações institucionais multilaterais que apontam soluções de ajustes que não tem desviado a civilização da situação de risco de condições da manutenção da vida humana no planeta.

No segundo capítulo, procura-se retratar as diferentes propostas socioambientais, suas evoluções, conflitos e contradições. A opção foi utilizar a classificação dos segmentos políticos ecológicos do professor Eduardo J. Viola para ajudar a entender as relações desses segmentos, seus conflitos e convergências. Porém, como essa classificação não esgota a riqueza da política ecológica, assim foi necessário incorporar os conceitos dos movimentos Ecologismo dos Pobres de Alier, Decrescimento e Buen Vivir. Além dos conceitos das posições políticas ecológicas, há também nesse capítulo a apresentação das ações dessas posições na política na França e no Brasil.

O terceiro capítulo debate a proposta para a outra bifurcação possível: o ecossocialismo, seus principais pensadores, como está presente mundialmente na vida política partidária mundial, com realce na França. A opção pela vida política francesa foi devido a sua importância dentro da corrente ecossocialista mundial, inclusive com a presença de três partidos políticos ecossocialistas, NPA, Parti de Gauche e Ensemble. As fontes principais das informações sobre os partidos foram os documentos elaborados pelos mesmos, além de obras e blogs de seus militantes. O acesso a essas informações foi possível através de estágio sanduíche em Paris, sob orientação de Michel Löwy, no segundo semestre de 2013.

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na Rede Sustentabilidade, assim, as histórias das correntes ecossocialistas nesses partidos estão retratadas nesse capítulo. O Estudo sobre a Rede Brasil de Ecossocialistas, sua história e retomada, encerra esse capítulo.

Por fim, nas considerações finais, são retomadas as questões relevantes no conjunto do trabalho, bem como a análise dos desafios e oportunidades do Ecossocialismo, principalmente na política partidária brasileira.

Além da Referência Bibliográfica, há a relação das entrevistas e sítios visitados importantes para o tema, inclusive os blogs de militantes partidários. Esse conjunto de fontes foi importante para o embasamento teórico da pesquisa.

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CAPÍTULO 1 Crise Socioambiental: Riscos assumidos

1.1 Caminhos da Nova Barbárie

A vida no planeta está estruturada em um sistema complexo e delicado. Espécies estão inseridas em diferentes nichos complementares e em constantes ajustes (homeostase). A complementaridade entre os nichos elimina a geração de sobra, “lixo”, pois os resíduos de um nicho de espécies oferecem recursos vitais para outro nicho:

Toda essa complementaridade entre as espécies só é possível devido à diversidade que elas apresentam, fazendo com que se complementem, evitando a competição e possibilitando a cooperação. Ela é tão requintada que faz com que na natureza não

exista a noção de “lixo”, porque os resíduos de uma determinada espécie são suporte para a existência de outra (MILANEZ, 2003, p. 79).

Vencida a capacidade de adaptação às novas condições ambientais pelas espécies, sua extinção é a consequência mais provável; como a biodiversidade garante a complementaridade entre os nichos, a extinção de uma espécie desarmoniza o sistema causando reação em cadeia, impactando a sobrevivência das outras espécies dependentes.

O modelo produtivista e consumista da sociedade pós-revolução industrial exerce uma pressão sobre os recursos naturais de uma forma cada vez mais agressiva. As consequências da alteração do fluxo das mudanças estruturais do planeta e a resposta do planeta para estas interferências desafiam toda sociedade a repensar o modelo produtivo. O Special report: How our economy is killing the Earth publicado pela revista New Scientist ilustra a crescente pressão das atividades humanas em diversos níveis, as quais pressionam o esgotamento da adaptação da natureza. O Gráfico 1 apresenta a convergência de ritmo dos diversos vetores das atividades humanas e o aumento de degradação ambiental.

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10 Gráfico 1 – Macrotendências – de 1750 até atualidade

Fonte: New Scientist, outubro de 2008, apud Lopes, 2010, p. 13.

As figuras 1 e 2 são os quadros de apoio do relatório How our economy is killing the Earth da New Scientist, elas confirmam a relação das atividades humanas com sua pressão do consumo (Fígula 1) e o esgotamento da Natureza (Figura 2).

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11 Figura 1 – Crescente consumo humano

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Figura 2 – Impacto no meio ambiente do crescimento do consumo humano

Fonte: New Scientist, outubro de 2008, apud Cortez, 2012.

Para Cortez (2012): “este modelo não vai funcionar por muito tempo, na exata medida em que os recursos naturais se esgotam e que as mudanças climáticas podem colocar a economia e a sociedade diante de uma catástrofe planetária”.

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permitiu que a humanidade iniciasse a agricultura, entre outras atividades necessárias ao seu desenvolvimento. Antes dessa estabilidade, a humanidade vivia em pequenos grupos como caçadores-coletores (STEFFEN, 2007, p. 614).

As alterações nas condições do planeta, provocadas pela produção capitalista pós II Grande Guerra, foram expressivas na dinâmica do planeta e causaram a mudança da era planetária, o Antropoceno. Junto com a nova era, vieram os riscos de colapso da civilização. Considerando os severos riscos envolvidos na Era Antropoceno, alguns cientistas elaboraram a métrica Limites do Planeta. O objetivo da proposta é responder: Quais são as pré-condições planetárias não negociáveis que a humanidade precisa respeitar, a fim de evitar o risco de mudanças ambientais prejudiciais ou mesmo catastróficas para humanidade? (Rockström, 2009). Para responder essa questão, foi elaborado um modelo de métricas para identificar os limites perigosos cuja ultrapassagem pode eliminar as condições do planeta de suprir a civilização (Tabela 1).

A civilização, em 2009, já tinha ultrapassado três limites:

 Mudanças Climáticas: a proposta é ter 350 ppm (partes de CO2por milhão), mas em 2009, o planeta já apresentava 387 ppm, e em maio de 2012, esse índice chegou a 400 ppm. Nesse item há também a retenção da radiação solar, isto é, a diferença da radiação recebida do Sol pelo planeta e aquela irradiada de volta ao espaço, o proposto é 1 e a situação em 2009 era 1,5.

 Perda de biodiversidade: a proposta é 10 espécies extintas por milhão de espécies por ano, em 2009 o planeta apresentava um número superior a 100;

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14 Tabela 1 – Limites Planetários

Processo Planetário Variável Métrica

Proposta Mudanças Climáticas (i) Concentração de dióxido de carbono

atmosférico (ppm)

(ii) Mudanças na retenção de radiação solar (watts por m2)

350

1

Taxa de perda da biodiversidade

taxa de extinção (número de espécies extintas por milhão de espécies por ano)

10

Ciclo do nitrogênio (parte de um limite com o ciclo do fósforo)

Quantidade de N2 removido da atmosfera para uso humano (milhões de toneladas por ano)

35

Ciclo do Fósforo (parte

de um limite com o ciclo do nitrogênio)

Quantidade de P fuindo para os oceanos (milhões de toneladas por ano)

11

Esgotamento do ozônio estratosférico

Concentração de ozônio (unidade Dobson) 276

Acidicação dos oceanos

Saturação média global de aragonita em águas Superciais

2,75

Uso global da Água doce

Consumo de água doce por seres humanos (km3 por ano)

4.000

Mudanças no uso do solo

Percentagem do território global convertido em terras agrícolas

15

Carga atmosférica de aerossóis

Concentração total de material particulado na atmosfera, em bases regionais

A definir

Poluição química Por exemplo, a quantidade emitida ou a

concentração, no ambiente global, de poluentes orgânicos persistentes, plásticos, disruptores endócrinos, metais pesados e lixo nuclear ou seus efeitos no funcionamento dos

ecossistemas e do Sistema terra

A definir

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15

As demais fronteiras estavam dentro do limite proposto. A figura 3 ilustra a tabela, a sinalização vermelha e amarela no indicadores auxiliam a analisar a situação e riscos dos índices. As fronteiras marcadas em vermelho indicam que os limites foram ultrapassados e as em amarelo indicam perigosa aproximação do limite.

Figura 3 Limites Planetários

ROCKSTRÖM, 2009

A perda da diversidade é relevante, pois ela compromete a capacidade biótica de sustentar seu funcionamento sob novas condições ambientais (FOLKE, 2013, p. 24).

A complexidade das fronteiras está na interpendência entre elas. A ultrapassagem de um limite altera as condições e limites das outras fronteiras, e esta dinâmica obriga novos cálculos sobre os limites das fronteiras (Folke, 2013, p. 26). Mas essa complexidade deve ser aprofundada, não somente nos cálculos das fronteiras planetárias, mas também nas análises de impacto socioambiental.

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16

por completo de água doce, assim, não será mais habitável por seres humanos, além de deixar os furacões mais ferozes (LYNAS, 2008, p. 37).

O risco envolvido nas mudanças climáticas é a perda da estabilidade vigente no Holoceno, que é vital para a nossa agricultura, isto é, nossa capacidade de alimentar bilhões de pessoas. As transformações socioambientais pelo incremento descontrolado das mudanças climáticas podem levar à barbárie, temida por setores do movimento socioambiental, pois as disputas por nascente de rios e terras férteis levarão a conflitos e guerras.

Mas a crise socioambiental não está restrita ao esgotamento dos recursos naturais, a civilização também tem sérios problemas, principalmente na divisão justa da riqueza produzida. O Gráfico 2 indica que os 20% mais ricos se apropriam de 82,7% da riqueza produzida por todos, em contrapartida dois terços da população mais pobre são obrigados a se contentar com 20% da produção.

Gráfico 2 – Distribuição de renda

Fonte: Relatório de Desenvolvimento Humano (1992, p. 35 e 2005, p. 37), apud Lopes (2010, p. 14).

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Em contrapartida, se o total da riqueza produzida no mundo está em torno de U$ 70 trilhões em 2014, e considerando que a população mundial está em torno de 7 bilhões de pessoas, pode-se considerar que há volume de riqueza o suficiente para proporcionar a renda mensal de U$ 3 mil por família de 4 pessoas (Dowbor, 2014, p. 85). Mas a lógica do capitalismo é concentradora de riqueza, não apresenta a abertura de negociação dessa divisão igualitária e justa.

Além da divisão da riqueza, o uso dos recursos no consumo expõe sérios problemas na alocação dessa riqueza. O estudo considerando indicadores de várias instituições multilaterais (ONU, 1997; UNDP / UNFPA e UNICEF, 1994, Relatório Direitos Humanos 1998) indicaram que são necessários investir 6 bilhões e 12 bilhões, respectivamente, para proporcionar educação básica para todos no planeta e oferecer saúde reprodutiva a todas as mulheres no mundo, mas esses recursos não são apurados para esse fim. Por outro lado, valores bem mais expressivos são “alocados” para fins, no mínimo questionáveis, como por exemplo: cosméticos nos EUA (U$ 8 bilhões); perfumes na Europa e nos EUA; sorvetes na Europa (U$ 11 bilhões); entretenimento corporativo no Japão (U$ 35 bilhões); cigarros na Europa (U$ 50 bilhões); bebidas alcoólicas na Europa (U$ 105 bilhões); drogas no mundo (U$ 400 bilhões) e gastos militares no mundo (U$ 670 bilhões) (LOPES, 2010, p. 17).

A conclusão possível na análise sobre o impacto das atividades humanas sobre a Natureza, retratado no relatório divulgado pela New Scientist (Gráfico 1), e a concentração de renda, ilustrada pelo Gráfico 2, é que “estamos destruindo o planeta, para o proveito de um terço da população mundial” (LOPES, 2010, p. 15).

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A concentração de riqueza apontada pelos estudos da OXFAM confirma os resultados estatísticos da ETH (Instituto Federal Suíço de Pesquisa Tecnologica). ETH partiu de uma amostra de 43.060 corporações contida no banco de dados Orbis 2007, com 30 milhões de empresas. A pesquisa estudou como está estruturada a relação entre as empresas: o peso econômico de cada entidade, a sua rede de conexões, os fluxos financeiros, e em que empresas têm participações que permitem controle indireto (Dowbor, 2012a). O objetivo foi analisar o inter-relacionamento de controle mútuo das empresas, isto é, uma empresa pode ser controladora e controlada por outra, ou por uma rede de outras, e esse controle é estruturado por mutua participação de ações, mutual cross-shareholdings. O resultado é que o poder está altamente concentrado, pois apenas 737 das principais empresas (top-holders) detêm 80% do controle de todas as empresas transnacionais (ETN) e destes, 147 transnacionais formam o núcleo de poder da rede, isto é, controlam a si mesmas e destes 75% são intermediários financeiros (Vitali, 2001). Para Dowbor (2012a), “O estudo do ETH abriu uma janela importante para a abordagem científica do poder global das corporações, com implicações óbvias para as ciências econômicas, políticas, sociais, de relações internacionais e outras”.

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1.2 Trem sem freio: Capitalismo como devorador

A percepção que o consumo é o causador do esgotamento dos recursos naturais não está correta. Alguns setores ambientalistas apontam que a atual crise ambiental é gerada pelo consumo excessivo da população, porém essa percepção deve ser questionada pois o tipo de consumo da atual civilização capitalista, com sua ostentação, desperdício e obsessão acumuladora é a verdadeira fonte da crise ambiental (Löwy, 2005a, p.52; Löwy, 2011, p. 38-37). Além disso, a desigualdade social deve ser considerada no debate sobre o esgotamento da natureza, pois o consumo nos países avançados é, além de muito maior, ostentatório. Assim, não é adequado dar o mesmo tratamento à população que consome feijão e milho, em algumas vezes de forma insuficiente, e àqueles que acumulam iates (LÖWY, 2012a, p.13).

O consumismo descontrolado gerado nesse ciclo supera a capacidade de o planeta repor reservas naturais, o fluxo infinito de consumismo capitalista não respeita a finitude do planeta. O esgotamento do planeta em manter o atual padrão de consumo pode ser demonstrado no relatório Pegada Ecológica da WWF (2012b), que indica a superação de 50% da capacidade de reposição do planeta.

O método pegada ecológica ou ecological footprint method foi desenvolvido por Wackernagel e Reed (1996). Os autores apontavam sérios problemas estruturais no modelo de sociedade e seu consumo, para eles se toda civilização consumisse no mesmo padrão norte-americano, seria necessário mais dois planetas (Wackernagel, 1996, p. 15). A Tabela 2 - Comparação de consumo por pessoa Canadá x EUA x Índia e Mundo apresenta números da desigualdade no uso dos recursos naturais, o que permite deduzir que o baixa consumo dos países não ricos compensam o superconsumo dos países ricos. A tabela demonstra que o padrão de consumo dos países desenvolvidos, representado pelo Canadá e do EUA, está sustentado pela carência de consumo dos países pobres ou em desenvolvimento. Essa lógica deve ser transformada, afinal vale o questionamento: por que razão não teriam todos os chineses e todos os indianos direito a uma vida confortável? (DOWBOR, 2008, p.13).

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Tabela 2 – Comparação de consumo por pessoa Canadá x EUA x Índia e Mundo Consumo por pessoa (1991) Canada USA Índia Mundo Emissão de CO2 (toneladas/ano) 15.2 19.5 0.81 4.2

Renda (US$) 19,320 22,130 1,150 3,800

Veículos (por 100 pessoas) 46 57 0.2 10

Consumo de Papel (kg/ano) 247 317 2 44

Consumo Energia Fóssil (Gigajoules/ano) 250 (234) 287 5 56

Consumo Água (m3 / ano) 1,688 1,868 612 644

Pegada Ecológica (ha. M3/ano) 4.3 5.1 0.4 1.8

Fonte: Wackernagel, 1996, p. 85

O capitalismo tem duas armas para manter o consumismo sempre muito ativo: propaganda e a obsolescência programada.

A obsolescência programada ou planejada foi incorporada pela indústria como forma de vender mais pelo incremento de consumo por substituição do bem já possuído por outro mais moderno ou em melhores condições. O planejamento da produção prevê um prazo de vida útil do bem que antecipa sua obsolescência. A redução da durabilidade do produto é “parte produtivista e consumista, e também precisa ser modificado” (Löwy, 2012a, p. 13). O termo obsolescência planejada foi atribuído ao desenhista industrial, Brooks Stevens, com sua definição: “instigar no comprador o desejo de possuir algo um pouco mais novo, um pouco melhor e um pouco mais rápido que o necessário” (LEONARD, 2011, p. 174).

Löwy (2012a, p. 13) exemplifica a obsolescência planejada com a geladeira que há quarenta anos durava quarenta anos, mas atualmente tem sua durabilidade reduzida para três anos para aumentar artificialmente a necessidade de comprar outro produto para substituí-lo. A obsolescência não tem outro objetivo senão gerar mais lucro para as grandes empresas com o consumismo criado artificialmente (LÖWY, 2011, p. 69).

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A obsolescência é uma estratégia mundial, esse modelo de planejamento de processo produtivo está presente em todos os países. O documentário Comprar, tirar, comprar apresenta experiências e reflexões na Espanha, França, Alemanha, Estados Unidos e Gana com esse tema. Para Oliveira (2013), “a prática da obsolescência programada (proposital curta vida útil) se configura numa maquiavélica estratégia de mercado” cujo objetivo único é forçar que o consumidor não tenha alternativa diferente de efetuar nova compra.

Essa estratégia foi incorporada de forma mais intensa com a crise de 1929. Já em 1928, o lema do capitalismo era “Aquilo que não se desgasta não é bom para os negócios” e em 1932, o corretor de imóveis, Bernard London propôs que a obsolescência planejada fosse obrigatória, no seu panfleto Acabando com a Depressão através da obsolescência planejada (Leonard, 2011, p. 175), isto é, os produtos deveriam ter uma data de expiração, pois assim, as fabricas manteriam o nível de produção com o consumo contínuo do mercado e, por consequência, o trabalhador manteria o nível de emprego, e o capital teria seu ciclo de lucro garantido (Padilha, 2013). A obsolescência planejada avançou com a substituição da ideia cultural do suficiente pela abundância contida no american way of life (Padilha, 2013).

Há produtos com a obsolescência planejada com ciclo único de consumo, conhecido como bens descartáveis ou produtos de obsolescência instantânea. As fraudas e os absorventes higiênicos foram os primeiros, mas posteriormente surgiram outros produtos como lâminas de barbear, pratos e talheres, câmaras, esfregões, entre diversos produtos produzidos para serem utilizados apenas uma vez (Leonard, 2011, p. 175).

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Os produtos pesquisados e o tempo de uso da última unidade descartada (em anos) foram (IDEC, 2013, p. 29):

 Celular ou Smartphone 3,0  Câmara fotográfica: 3,8  Impressora: 4,0  Computador: 4,0  DVD ou Blue Ray: 4,1  Televisão: 7,6  Micro-ondas: 5,2  Lavador de roupas: 7,4

 Fogão: 8,3

 Geladeira ou freezer: 9,5

Apesar da vida útil reduzida do bem, o consumidor tem uma percepção positiva da durabilidade de seus bens. A pergunta sobre satisfação da durabilidade para eletrodoméstico apontou 62% como totalmente satisfeito, 28% como parcialmente satisfeito e 3% como totalmente insatisfeito; os eletroeletrônicos e digitais apresentaram índices semelhantes, apenas o celular apresenta números de satisfação menores: 56% como totalmente satisfeito e 34% como parcialmente satisfeito e menos de 4% como totalmente insatisfeito (IDEC, 2013, p. 13). A conclusão apontada na pesquisa é que o “consumidor brasileiro está muito satisfeito com o desempenho e a durabilidade dos equipamentos que possui” (IDEC, 2013, p. 59) ao mesmo tempo, considera a durabilidade uma característica importante do bem (IDEC, 2013, p. 59).

A pesquisa também apontou que, quando o bem apresenta defeito que impede ou atrapalha, o consumidor compra outro e não o conserta. O mapa dos motivos da opção de nova compra em relação ao conserto é muito interessante, pois revela que os produtos foram produzidos para não serem consertados e sim descartados após o prazo definido. Os principais motivos para que o consumidor não fizesse o conserto do bem após a avaliação da assistência técnica foram (IDEC, 2013, p. 39): conserto muito caro, demora do conserto, falta de peça e o resultado não era garantido.

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a moda assumem o controle. A cor e o cumprimento da roupa, a largura da gravata, nova versão do celular, o armário de cozinha da época formam a obsolescência percebida em ação (LEONARD, 2011, p.176).

A interpretação de Echegaray, diretor geral da Market Analysis (2014) para as informações da pesquisa é que “existe uma assimilação conformada do consumidor frente às estratégias da indústria e da propaganda, já que ele percebe “em abstrato” que os aparelhos deveriam durar mais, mas está satisfeito com a durabilidade e desempenho de seu aparelho”.

É possível outra forma de produzir, a perenidade do bem e sua utilidade podem e devem ser priorizados, para reduzir o impacto do descarte de grande quantidade de resíduo e eliminação da ilusão da felicidade pelo consumo da nova versão do mesmo produto que já atende as reais necessidades. A lâmpada, um dos símbolos da obsolescência planejada, pode também ser o símbolo da resistência: foi criada, pelo engenheiro espanhol Benito Mouro, uma lâmpada que tem a capacidade de ficar ligada de forma ininterrupta pelo preço de 37 euros. Para seu desenvolvimento, Muros visitou o parque de bombeiros de Livermore na Califórnia para conhecer a lâmpada que permanece acessa há mais de 111 anos, o conhecimento sobre essa lâmpada só ocorre com entrevista aos descendentes dos criadores, pois não há documentação de seu projeto (Castellano, 2012). Certamente não será a popularização da lâmpada de Mouro que vencerá o consumismo, mas sua lâmpada demonstra que a produção pode gerar bens perenes.

Os gráficos das figuras 1 e 2 apresentados no item “Caminhos da Nova Barbárie” ilustra algumas consequências da política de consumo impostas pela obsolescência planejada ao volume de consumo e sua pressão no meio ambiente.

A obsolescência planejada tem uma relação vital com a propaganda, pois a primeira depende da ilusão de felicidade propagada pela segunda, e esta precisa da carência artificial produzida pela primeira como fator de oportunidade de novas vendas.

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A publicidade tem exercido o poder de influência sobre as necessidades através da manipulação mental. O modelo de sociedade imposto pela publicidade invadiu grande parte do cotidiano da sociedade como alimento, roupas, cultura, politica, religião (Löwy, 2009b, p. 46-47). A publicidade impõe sua vontade com a apropriação das ruas, jornais, mídias e da atenção da sociedade. Para Löwy (2012b, p. 151), “se trata de criar um novo modo de consumo e um novo modo de vida, baseado na satisfação das verdadeiras falsas necessidades produzidas artificialmente pela publicidade capitalista”.

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1.3 Soluções da Desgovernança global

Os representantes governamentais passaram a se reunir periodicamente, buscando responder a crescente pressão dos movimentos sociais e ambientais sobre os riscos relacionados ao desequilíbrio ecológico causado pelas alterações das condições do planeta pelas atividades humanas.

O primeiro passo encontrado foi definir a sociedade ideal, cujo desenvolvimento seja sustentável, e os mecanismos para alcançá-la. Lester Brow definiu essa expressão no inicio dos anos 80 como “sociedade que é capaz de satisfazer suas necessidades sem comprometer as chances da sobrevivência das gerações futuras” (Milanez, 2003, p. 77). Posteriormente a CMMAD (Comissão Mundial sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento da ONU) definiu desenvolvimento sustentável (DS) como sendo “aquele que atende às necessidades do presente sem comprometer a possibilidade de as gerações futuras atenderem a suas próprias necessidades” (CMMAD, 1988, p. 46).

A definição da CMMAD não é unânime e nem é a última definição aplicada. Para Sachs, o desenvolvimento sustentável deve obedecer ao duplo imperativo ético da solidariedade: com as gerações presentes e futuras, e com a explicitação de critérios de sustentabilidade social e ambiental e de viabilidade econômica. Assim, o desenvolvimento para ser sustentável deve considerar os três elementos, isto é, promover o crescimento econômico com impactos positivos em termos sociais e ambientais (SACHS, 2004, p. 36).

Mas, o próprio Sachs (2004, p. 15-16) ampliou a definição de desenvolvimento sustentável ao considerar a estrutura de cinco pilares sustentável:

Social: “fundamental por motivos tanto intrínsecos, quanto instrumentais, por causa da perspectiva de disrupção social que paira de forma ameaçadora sobre muitos lugares problemáticos do nosso planeta”;

Ambiental: “com as suas duas dimensões (os sistemas de sustentação da vida como provedores de recursos e como “recipientes” para a disposição de resíduos)”;

Territorial: “relacionado à distribuição espacial dos recursos, das populações e das atividades”;

Econômico: “sendo a viabilidade econômica a conditio sine qua non para que as coisas aconteçam”;

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O debate mundial pela tomada de consciência sobre a necessidade de alcançar uma solução global para a crise ambiental do planeta intensificou-se no final do século XX. No entanto, alguns debates sobre questões ambientais aconteceram em encontros governamentais desde século XIX, mas esses encontros debateram apenas temas específicos. Os primeiros encontros ocorreram em Paris, em 1883, para debater sobre a proteção das focas do mar de Bering e em 1895, sobre a proteção dos pássaros úteis à agricultura. Em 1949, houve a Conferência da ONU sobre a Conservação e Utilização de Recursos (UNSCCUR) na cidade de Nova Iorque, Estados Unidos (BENINCÁ, 2010, p. 101).

A Conferência Intergovernamental de Especialistas sobre as Bases Científicas para Uso e Conservação Racionais dos Recursos da Biosfera, “Conferência da Biosfera”, ocorreu na cidade de Paris em 1968. A poluição da água e do ar, responsáveis pela chuva ácida foram os temas debatidos nessa conferência (Benincá, 2010, p. 103). Esse encontro foi importante por seu caráter científico e por ter proporcionado um dos primeiros diagnóstico e prognóstico pessimistas para o planeta Terra (DUARTE, 2003, p. 13).

A primeira conferência organizada pela ONU foi a Conferência Mundial do Meio Ambiente Humano em Estocolmo em 1972, que teve como objetivo tratar os seguintes temas: poluição atmosférica, da água e do solo provocadas pela crescente industrialização dos “países até então fora do circuito de economia internacional” (RIBEIRO, 2010, p. 74).

O Encontro foi marcado por conflito entre os países ricos e os países não desenvolvidos. O conflito de posicionamento entre as nações pode ser assim resumido: os países em desenvolvimento defenderam o direito do uso de suas riquezas naturais no seu processo de crescimento e, por outro lado, os países ricos expressaram a preocupação com o esgotamento de recursos estratégicos e poluição.

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Essa posição radical repercutiu entre os países em desenvolvimento, principalmente a Índia e a China, que já apresentavam alto índice de crescimento econômico. Nesse sentido o discurso da primeira ministra indiana Indira Gandhi ficou marcado por denunciar a pior das poluições: a pobreza. O mantra “poluição da pobreza” foi repetido diversas vezes nos debates do encontro.

Apesar das diferenças entre as nações, o encontro conseguiu concluir o documento Declaração sobre o Meio Ambiente Humano, composto de 26 princípios. Mas não conseguiu eliminar a preocupação dúbia em relação ao planejamento ambiental: deve ter o foco no crescimento atual e futuro dos países em desenvolvimento (Princípio 11); mas ao mesmo tempo os recursos devem ser destinados para a preservação e melhoramento do meio ambiente (Princípio 12) (UNEP, 1972).

A forma da organização do Encontro de Estocolmo foi inovadora. Havia a assembleia dos representantes dos Estados no parlamento sueco, conferências públicas com convidados do secretariado coordenadas por Maurice Strong e reuniões off Broadway organizadas pela sociedade civil. A cidade Estocolmo se transformou em um grande palco de debates e reflexões (Sachs, 2009b, p. 232). A principal resolução da Conferência foi a criação do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA) com sede em Nairóbi, capital do Quênia, com o objetivo de centralizar as ações da ONU em relação às questões ambientais.

Outra herança foi a apresentação da proposta ecodesenvolvimento por Strong no encontro. A virtude simbólica desse conceito estava na associação indissolúvel do desenvolvimento e o meio ambiente. Posteriormente a palavra ecodesenvolvimento foi substituída por desenvolvimento sustentável (Sachs, 2009b, p. 232).

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A Conferência das Nações Unidas para o Meio Ambiente e Desenvolvimento (CNUMAD), Cúpula da Terra, ocorreu em junho de 1992 na cidade do Rio de Janeiro, com o objetivo de estabelecer acordos internacionais “que mediassem as ações antrópicas no ambiente” (RIBEIRO, 2010, p. 108).

Houve um amplo leque de temas debatidos nessa Conferência: proteção do solo, por meio do combate ao desmatamento, desertificação e seca; proteção da atmosfera por meio do combate às mudanças climáticas, ao rompimento da camada de ozônio e a poluição transfronteiriça; proteção das áreas oceânicas e marítimas; conservação da diversidade biológica; controle da biotecnologia; controle de dejetos químicos e tóxicos; erradicação de agentes patogênicos e proteção das condições de saúde (DUARTE, 2003, p. 40).

A Cúpula da Terra foi um marco positivo, pois foram pactuados diversos compromissos visando uma sociedade mais sustentável. O documento mais importante firmado no encontro foi a Agenda 21, um extenso programa de ação com 40 capítulos que consolida e estrutura as resoluções da Conferência, com o objetivo de facilitar sua implementação nos diversos níveis. As diversas recomendações nela contidas devem ser ainda subsídios para o seu detalhamento por Agendas 21 locais. Além da Agenda 21, foram aprovados os documentos Declaração do Rio de Janeiro sobre Meio Ambiente e o Desenvolvimento e Convenção sobre Mudanças Climáticas, a Convenção da Biodiversidade.

O otimismo deixado pela Cúpula Rio 92 foi aos poucos eliminado pela hegemonia das políticas neoliberais do Consenso de Washington, que buscam o lucro a qualquer custo. Esse momento histórico proporcionou o frustrante encontro de Johannesburgo em 2002.

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A conferência mais recente foi a Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável-2012, Rio+20, que ocorreu na cidade do Rio de Janeiro em junho de 2012, com o tema: “uma economia verde no contexto do desenvolvimento sustentável e a erradicação da pobreza” e “o quadro institucional para o desenvolvimento sustentável” (PNUMA, 2011).

O debate do tema economia verde e a erradicação da pobreza foi antecipado pelo relatório "Rumo a uma economia verde: caminhos para o desenvolvimento sustentável e a erradicação da pobreza", divulgado em fevereiro de 2011 pelo Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA, 2011) em Nairóbi, no Quênia, durante o Fórum Global de Ministros do Meio Ambiente. A conclusão do relatório é que seria necessário o investimento de apenas 2% do PIB mundial, em torno de cerca de US$ 1,3 trilhões, para mundialização da economia verde. Esse recurso seria aplicado na melhoria do bem-estar das populações, diminuição das desigualdades sociais e redução dos riscos de um colapso ambiental. Para alcançar esse objetivo, o investimento focará na transformação para economia verde de dez setores-chaves: agricultura, edificações, energia, pesca, silvicultura, indústria, turismo, transporte, água e gestão de resíduos. O montante previsto no relatório seria investido entre os anos 2011 e 2050 (PNUMA, 2011).

Além dos Congressos, o outro formato de reuniões mundiais das nações encontrado pelas Nações Unidas são as Conferências das Partes (COP). A COP de maior impacto foi a COP3 realizada em Quioto em 1997, pois nesse encontro as nações aprovaram o Protocolo de Quioto. Segundo esse compromisso, os países contidos no Anexo 1 da Convenção sobre Mudança do Clima devem reduzir as emissões antrópicas de gases de efeito estufa em pelo menos 5% abaixo de dos níveis de 1990 no período entre 2008 e 2012. Essa redução poderia ser individual ou em conjunto (Barbieri, 2011, p. 36). A grande contribuição para a Gestão Ambiental Global do Tratado de Quito é a criação dos três mecanismos previstos no método do Tratado: Implementação Conjunta, Comércio de Emissões e Mecanismos de Desenvolvimento Limpo. Sua implantação foi prejudicada pela falta de assinatura dos representantes dos principais países poluidores, entre eles os Estados Unidos. A reação da sociedade americana, influenciada pelo uso dos meios de comunicação pelas indústrias, foi negativa pelo temor de que haveria desemprego generalizado. Assim, o congresso estadunidense rejeitou a assinatura do Tratado (DUARTE, 2003, p. 49).

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afirmou que a China tem o mesmo volume de poluição e “se esse país não fizer nada, não serão eles que tomarão a iniciativa” e em contrapartida, a China respondeu que os Estados Unidos estão emitindo gases há mais tempo e têm a responsabilidade histórica de investir na redução de suas emissões e, por isso, somente após essa ação, a China poderá discutir o assunto. Mais uma vez, cada país empurrou para o outro a responsabilidade das mudanças (LÖWY, 2012a, p.10).

A sequência de debates e encontros mundiais para buscar caminhos e soluções para a crise ambiental não apresentaram soluções consistentes para a crise socioambiental. Mas, mesmo sem melhorias nas condições de vida, os governos e empresários insistem no atual modelo. A proposta da economia verde como ponto para chegar ao desenvolvimento sustentável é a aposta do inicio do século XXI da classe dominante para melhorar o atual modo de produção sem alterar suas condições essenciais.

O impasse pode ser resumido pelo conflito de dois interesses: o primeiro grupo formado pelos países desenvolvidos que procuram chutar a escada na qual construíram seu crescimento econômico; e o segundo, formado pelos demais países que buscam seu desenvolvimento. Mas essa é uma interpretação, há outras conforme a estrutura teórica e ideológica que as fundamentam.

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CAPÍTULO 2 Correntes Ecológicas

2.1 Correntes Ecológicas: Propostas e Divergências

A concepção utópica dos movimentos ambientalistas não é unanimidade, principalmente na área de ecologia política. Há diversas formas de conceituar os movimentos ecológicos e diversos critérios para classificá-los, e, mesmo dentro da mesma classificação, há diferentes correntes de pensamento. A presente pesquisa adota a classificação proposta pelo professor Viola (1987b, p. 45): “sintetizando as correntes existentes no movimento ecológico e na teoria política ecologista, podemos diferenciar quatro posições: ecologistas fundamentalistas, ecologistas realistas, ecossocialistas e ecocapitalistas”. Mas há a necessidade de completar esse modelo de classificação de Viola com a contribuição de Jean Martínez Alier, o movimento Decrescimento e a corrente Buen Vivir.

Os ecologistas fundamentalistas, ou deep ecology, expressam sua herança anarquista através de uma projeção histórica pessimista: “futuro é inviável (não há Terra nem Paraíso), resta apenas esperar o fim vivendo de modo coerente com os princípios” (Viola, 1987b, p. 45). A proposta da ecologia fundamentalista é a construção de uma sociedade ecológica alternativa na margem da sociedade materialista, reforçada pela crença que não há possibilidade de transformação social, pois a lógica predatória da civilização contemporânea é irreversível (VIOLA, 1987a; VIOLA, 1987b, p. 45).

As bases conceituais dos ecologistas fundamentalistas são constituídas por duas fontes: a primeira, baseada nas ideias de norueguês Arne Naess com sua ecologia profunda de perfil anti-humanista e pan-naturalista, que propõe um retorno romântico à natureza, à igualdade quase total com os animais e plantas. A segunda fonte é o anarquismo libertário de estadunidense Murray Bookchin com a proposta de uma ecologia social, baseada no municipalismo ecológico-libertário (MÜNSTER, 2013, p. 140).

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Em contrapartida, os ecologistas realistas apresentam críticas semelhantes ao modelo insustentável de civilização, porém acreditam na possibilidade de transformação social com a organização de um movimento ecologista rígido nos princípios e flexível na interação com a sociedade. Os realistas não buscam alteração do modo de produção, a proposta é ecologizar progressivamente o capitalismo e o socialismo. A opção transformadora dos realistas é pela longa transição da atual civilização a partir da atual estrutura. (VIOLA, 1987a; VIOLA, 1987b, p. 46).

Os realistas debatem a plataforma ecológica, mas com distância do embate esquerda x direita. Seu enfoque é formular um programa econômico de transição viável capaz de ecologizar paulatinamente a sociedade desenvolvimentista com aproximação de setores sensíveis a projetos verdes dos partidos socialdemocratas, socialistas e liberais (Viola, 1987a). A postura política dos realistas, presente nos partidos verdes, se destaca por se considerar acima da direita e da esquerda, essa postura é confirmada pela afirmação de Rabóczkay (2004, p. 14): “o Partido Verde não é nem da esquerda, nem da direita – é pra frente”.

Os ecologistas realistas têm participação ativa na politica partidária. Essa corrente está presente na direção dos Partidos Verdes (Viola, 1987b, p. 46). As primeiras experiências partidárias ecológicas mundiais ocorreram na Tasmânia (Austrália) e Nova Zelândia. A experiência da Tasmânia foi a United Tasmania Group, UTG, fundada em 23 de março de 1972. Sua importância histórica é ter sido o primeiro partido político com plataforma ambientalista a disputar uma eleição; sua criação foi o caminho encontrado pelo movimento ambiental tasmaniano para confrontar os projetos hidroelétricos no lago Pedder, que desapareceria com a implementação desses projetos. A principal força antagônica ao UTG foi a aliança dos grandes partidos no Lake Pedder Action Committee, LPAC, que defendiam uma nova política hidroelétrica (RABÓCZKAY, 2004, p. 18).

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A segunda experiência partidária de plataforma ambiental foi o The Values Party, Partido dos Valores, da Nova Zelândia. Esse partido foi fundado em 30 de maio de 1972 com propostas de crescimento econômico e demográfico zero para conter a poluição e a pressão sobre os recursos naturais (Rabóczkay, 2004, p. 19). O formato inicial de atuação política foi somente no nível comunitário, para fugir de estrutura convencional de partido, mas essa estratégia quase levou o partido à extinção. Em 1975, o The Values Party alterou a estrutura organizacional e sua proposta política foi ampliada para atender as demandas de um projeto de política econômica consistente (Rabóczkay, 2004, p. 19-20). Porém, essa ampliação acirrou o embate entre posições antagônicas na condução do partido: a primeira posição defendia que o partido deveria se comportar como um movimento visando apenas a promoção de um novo estilo de vida alternativo; a segunda, composta por políticos mais experientes, acreditava que seria possível provocar mudanças através de ações políticas convencionais e com a busca do poder (Rabóczkay, 2004, p. 20). A crise aumentou na campanha das eleições de 1978, pois as principais propostas do partido foram a nacionalização das terras e a obrigatoriedade de cooperativismo das empresas privadas. Isso acarretou reação do setor interno que defendia que o partido deveria ser apenas um movimento, além disso, esse setor acusou estar ocorrendo a tomada marxista do partido. Com a baixa votação eleitoral, o partido alcançou apenas 2,8%, a crise se agravou, e a consequência foi a dissolução do partido e migração de seus ativistas para o novo partido, Green Party (RABÓCZKAY, 2004, p. 21).

A primeira experiência partidária ecológica europeia foi o People no Reino Unido. O partido foi fundado em fevereiro de 1973, em uma reunião com a presença de aproximadamente cinquenta pessoas. Em 1975, People mudou o nome para Ecology Party, EP, mas o nome escolhido foi considerado estéril, porque a palavra ecologia tem conceito demasiadamente científico e “não transmitia compaixão, esperança”, espelhando o ambientalismo emocional dos verdes britânicos. Assim, em 1985, o partido definiu o nome Green Party para representar o perfil de sua militância (Rabóczkay, 2004, p. 22). O processo de criação foi delineando a presença de duas visões de partido: a primeira defendia que a estrutura organizacional deveria ser descentralizada, com democracia de bases e liderança coletiva; e, para a segunda, o partido deveria ter uma estrutura centralizada, com liderança mais efetiva para poder enfrentar disputas eleitorais mais eficazmente (RABÓCZKAY, 2004, p. 22).

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militantes foi expressiva, principalmente se considerar que cada um representava mais dez membros do seu lugar de origem (Rabóczkay, 2004, p. 27). Em outubro de 1980, o partido participou da sua primeira eleição, obtendo apenas 1,5% dos votos, mas mesmo com esse baixo índice elegeu representantes em diversas cidades (Rabóczkay, 2004, p. 28). Sua história, com seus conflitos internos, avanços e crises, levou o Partido Verde alemão a se tornar a terceira força política alemã e a ser convidado a participar do governo Social Democrata (RABÓCZKAY, 2004, p. 45).

Há também a posição ecocapitalista, a qual assume que o mercado tem a função de alocar os recursos, porém com a presença do Estado como “guardião ecológico da sociedade, sendo compatível com o predomínio da grande propriedade oligopólica” (Viola, 1987a; Viola, 1987b, p. 46). Nessa ótica, o “Estado de Bem-Estar Social deverá se transformar no Estado de Bem-Estar Sócio-Ecológico” (Viola, 1987a; Viola, 1987b, p. 46). Outra característica desse modelo é o otimismo em relação ao futuro e a crença nas instituições internacionais de proteção ambiental como o PNUMA, ONU e na “tecnoburocracia estatal” (Viola, 1987b, p. 46 - 48). Os pensamentos predominantes dessa corrente são o liberalismo e a socialdemocracia (VIOLA, 1987b, p. 47).

Os ecocapitalistas repousam no Desenvolvimento Sustentável (debatido no item 1.3 Soluções da Desgovernança global do capítulo 1–Crise Socioambiental: Riscos Assumidos) e na tecnologia os ajustes necessários para acertar as arestas ambientais e, ao mesmo tempo, melhorar a rentabilidade das empresas. A preocupação ecocapitalista está inserida na dinâmica do processo produtivo, pois ele gera dois resultados, o produto desejado e o resíduo, material para descarte e esse material é a poluição. Para minimizar essa poluição, os ecocapitalistas apostam na associação de tecnologias, Produção Mais Limpa (P+L), 4Rs e a Ecoeficiência.

A Produção Mais Limpa foi desenvolvida pelo PNUMA e pela Organização das Nações Unidas para o Desenvolvimento Industrial. A proposta da P+L é produzir com menos poluição ao meio ambiente, menos resíduos e menos recursos naturais (Barbieri, 2011, p. 124); sua base é gerir produtos e processos de acordo com a seguinte sequência: “prevenção, redução, reuso e reciclagem, tratamento com recuperação de materiais e energia, tratamento e disposição final” (BARBIERI, 2011, p. 126).

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poluição aumenta a produtividade da empresa, pois a redução de poluentes na fonte significa recursos poupados, o que permite produzir mais bens e serviços com menos insumos” (Barbieri, 2011, p. 110). A motivação ecocapitalista para adotar os Rs é a redução dos custos, melhoria da produtividade e, consequentemente, aumento dos lucros (Barbieri, 2011, p. 110). Os 4Rs são: reduzir, reusar, reciclar e recuperar energia.

Reduzir é a opção prioritária, tem duas frentes: reduzir o consumo de insumos e o resíduo gerado no fim da produção. Para implementar essa opção, o processo produtivo deve ser continuamente estruturado para produzir o máximo com o mínimo de matéria prima (Barbieri, 2011, p. 110). Reusar é, entre outras ações, reaproveitar o resíduo como matéria prima da produção com reaproveitamento do resíduo de matéria prima, energia pelo calor dissipado e aumentar a vida útil de embalagens (Barbieri, 2011, p. 111). A Reciclagem é a utilização dos resíduos de um ciclo produtivo por outro, esse processo envolve nova transformação do resíduo (Barbieri, 2011, p. 110). Por último, Recuperar energia é utilizar o material sem possibilidade de reaproveitamento como fonte energética (Barbieri, 2011, p. 1121). Os inevitáveis resíduos da produção são captados, tratados e dispostos com o uso de técnicas de controle end-of-pipe, para reduzir o impacto da poluição no meio ambiente (BARBIERI, 2011, p. 110).

A outra tecnologia é a Ecoeficiência, modelo promovido pela OCDE e Business Council for Sustainable Development, WBCSD. Sua proposta é produzir com preços competitivos e reduzir progressivamente o impacto ecológico, respeitando a capacidade do planeta. Nesse caso, a produção deve minimizar a intensidade de energia, dispersão de material tóxico e, ao mesmo tempo. aumentar o uso sustentável dos recursos renováveis e a intensidade dos serviços nos seus produtos (Barbieri, 2011, p. 129). A ecoeficiência está baseada na proposta de que “a redução de materiais e energia por unidade de produto ou serviço aumenta a competitividade da empresa, ao mesmo tempo em que reduz as pressões sobre o meio ambiente” (BARBIERI, 2011, P. 129).

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Figura 2  –  Impacto no meio ambiente do crescimento do consumo humano
Figura 3  –  Limites Planetários
Gráfico 2  –  Distribuição de renda
Tabela 4  –  Dívidas assumidas pelo seringueiro para iniciar sua jornada
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Referências

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