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A CIDADE NA AMÉRICA ESPANHOLA AOS TEMPOS DA CONQUISTA E COLONIZAÇÃO

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A CIDADE NA AMÉRICA ESPANHOLA

AOS TEMPOS DA CONQUISTA E COLONIZAÇÃO

zyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA

LUIZ RICARDO MICHAELSEN CENTURIÃO'

Neste artigo tratarei de alguns aspectos referentes ao processo de

urbanização na América colonial espanhola. É sabido que, desde o início da

colonização, os soberanos espanhóis orientaram-se por um projeto moderno e

absolutista, a ser implantado nas colônias americanas. Para a execução

eficiente do projeto de ocupação e colonização das terras do Novo Mundo, e

em atendimento à noção de

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im p e r iu m , elaborada durante e após a

Reconquista, a implantação de núcleos urbanos era uma condição

indispensável. Seriam esses núcleos os suportes do processo econômico e

político. Daí a precocidade na execução de assentamentos urbanos que pode

ser observada pela rápida substituição das feitorias do Caribe por

assentamentos citadinos, de caráter mais permanente, e dos quais Santo

Domingo é o primeiro exemplo. Assim, as cidades tornaram-se, na América

espanhola, o grande teatro social no qual se desenrolaram

e

decidiram os

fatos de ordem política, econômica, religiosa e outros que marcaram a feição

da sociedade colonial. Elas implantaram, como extensão do poder

metropolitano, uma fisionomia e modos de ser característicos e específicos do

Novo Mundo colonial, mas que, de algum modo, transcendem e ultrapassam

aquele período. Serão alguns aspectos do contexto urbano da América

espanhola, que serão abordados neste artigo.

A CONFIGURAÇÃO URBANA

As cidades fundadas pelos espanhóis no continente americano

obedecem geralmente a uma planificação' rigorosa de planta em xadrez com

praça central, sendo semelhantes nestes aspectos, em virtudeda importância

dada à simetria e

ONMLKJIHGFEDCBA

à planificação urbana, às propostas dos arquitetos e

urbanistas italianos da Europa renascentista. Não houve necessariamente

uma relação de causalidade, pois os p.Ii!1leiros fundadores ignoravam os

prinCípios do urbanismo renascentista. Só posteriormente, a partir de 1573,

• Doutor em História - PUCRS; Professor do Curso de Antropologia - UFRGS.

(2)

irão surgir

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O r d e n e n z e s ' com referências específicas de inspiração vitruviana c o n Ia s p e r tin e n te s n o r m a s u r b a n ís tic a s : fo r m a c ió n , tr a z a , r e p a r to d ~

s o la r e s , c o n s tr u c c io n d e e d ific io s , c a /le s yp la z a s , e d ific io s p ú b lic o s , lu g a r e s

comuneles'.

Se impôs também a tradição castrense de origem romana qUe

de certa maneira, coincide com a planificação citada acima. De acordo co~

Weckmann, há um reconhecimento quase unânime a respeito da influência

do tratado De a r q u ite c tu r a , de Vitruvio, nas O r d e n a n z a s expedidas por Felipe

11em 1573. Mas, acrescenta Weckmann, já por esse tempo, a maioria das

principais cidades hispano-americanas havia sido fundada. Quanto

ONMLKJIHGFEDCBA

à

possível influência italiana, conjetura o mesmo autor que a planificação

geométrica teria sido mais um princípio acadêmico que real, o que torna a

questão genética problemática, em termos de influência italiana, para os

primeiros centros urbanos coloniais. Isso ocorre em vista do fato mencionado

acima, de os primeiros fundadores desconhecerem os princípios urbanistas do

Renascimento. Na América, com exceção de Cochabamba, Guayaquil e

outras cidades, nas quais, ao que parece, foram seguidos modelos de

inspiração vitruviana, o princípio norteador teria, talvez, que ser buscado em

modelos mais antigos, gregos e romanos". Pode-se conjeturar que a

semelhança de traçado das cidades hispano-americanas em relação ao

desenho em quadrícula vitruviano tenha sido coincidência, e tenha havido

uma imitação da forma das b a s tid e s do sul da França. Como se vê, esta

questão não é isenta de discussão. Há uma multiplicidade de opiniões

quando se trata de discutir a genealogia do traçado das cidades

hispano-americanas. Além disso, é importante considerar a funcionalidade militar do

traçado geométrico (se bem que o modelo mourisco-andaluz de traçado

tortuoso também era tido como eficaz na defesa militar das cidades). Mas o

modelo hispano-americano comporta variações e localismos, como veremos

posteriormente. Geralmente, as cidades espanholas do Novo Mundo são

formadas, a partir do centro, por quarteirões quadrados ou retangulares, e a

praça central é obtida pela supressão de um desses quarteirões. Era essa

parte da cidade a que correspondia, por excelência, á c iu d a d d e

esoeõotes.

na qual o desenho em quadrícula era rigorosamente observado. As áreas

adjacentes, como já foi visto, eram ocupadas pela c iu d a d d e in d io s , que

freqüentemente fugia á geometrização. Dava-se assim a representaçã~

espacial, imobilizada na matéria, do ordenamento social correspondente a

nova sociedade que começava a formar-se nas terras americanas."

1 Eram denominadas O r d e n a n z a s as regulamentações e codificações a respeito de uma matéria particular.

2Lou e Benasayag, 1992, p. 115.

3Para isso, consultar Weckmann, 1994, p. 414 e segs. _

4 Espinosa faz menção à distribuição espacial das diversas categorias de populaçao urbana, referindo-se à cidade de Lima. Assim, afirma haver nessa cidade m a s d e 50000

1 2 8 BIBlOS. Rio Grande. 10: 127·135. 1998

Verifica-se claramente uma regularidade de traçado que s6 poderia

ser encontrada mais raramente em terras européias. Isso pode ser

compreendido pelo fato de as cidades construídas em solo americano não

terem impedimentos em sua planificação, ou por serem erguidas em lugares

não habitados antes", ou por obedecerem às linhas gerais de traçado

geométrico já existentes nas cidades indígenas. É este último o caso, entre

outros de menor importância, da cidade do México, na qual o antigo traçado

urbano foi mantido, construindo-se a cidade espanhola, sob a orientação de

Alonso García Bravo", sobre a antiga Tenochtitlán de Monctezuma. Nesse

local se dá de maneira eloqüente a execução, nas terras americanas, em

termos de alinhamento urbano, do modelo de regularidade criado e prescrito

pelos urbanistas europeus da época, em oposição à "desordem" medieval.

Mas a questão geneal6gica permanece obscura. A primeira referência feita a

Vitruvio no México é de Cervantes de Salazar, e isso s6 no ano de 1554. Da

mesma maneira que o acontecido no México, há no Peru o caso da cidade

de Cuzco, no qual se faz a sobreposição entre o traçado urbano da cidade

indígena e o da cidade espanhola construída sobre ela.'

n e g r o s , m u la to s yo tr a g e n te d e s e r v ic io y S in g r a n n u m e r o d e in d io s , a s s i n a tu r a le s d e Ia tie r r a , c o m o d e to d o e l R e y n o m u c h o s d e e llo s o ffic ia le s d e to d o s o ffic io s , q u e v iu e n e n lo s a r r a b a le s d e Ia c iu d a d [ ... ](Espinosa, 1948, p. 399).

5 Como Buenos Aires, localização eventual de populações pré-colombianas nômades,

sem outros assentamentos que não to ld e r ía s facilmente transportáveis, e onde a própria topografia auxiliava o traçado retilíneo das cidades hispano-americanas.

6 Ver Benevolo, 1988, p. 603. Weckmann, após comentar que a cidade indígena

obedecia, na área dos te m p lo s m a y o r e s , a um e s tr ic to o r d e n g e o m é tr ic o , acrescenta que e l d is e n o r e tic u la r , q u e e n 1 0 fu n d a m e n ta l M é x ic o c o n s e r v a h a s ta e l p r e s e n te , e n r e a lid a d es d e o r ig e n e s p e õ o t yfu e o b r a d e I " b u e n ju m é tr ic o " A lo n s o G a r c ía B r a v o , q u ie n 1 0 tr a z 6 e n 1 5 2 3 -1 5 2 4 , p o s ib le m e n te in s p ir á n d o s e e n Ia c u e o r tc u te d e S a n to D o m in g o , d o n d e C o r té s e s tu v o c in c o a n o s . G a r c r a B r a v o , s e g u n d o a la r ife d e Ia c iu d a d d e M é x ic o [ ...

1

tu v o q u e b a s a r p o r fu e r z a s u d is e n o e n Ia s c a r a c te r is tic a s u r b a n a s d e Ia c a p ita l a z te c a , c u y o e s q u e m a b á s ic o e r a c r u c ifo r m e (grifo meu) y u tiliz a r c o m o e je d e r e fe r e n c ia Ia s c a lz a d a s q u e p a r tía n d e I T e m p lo M a y o r ; a p a r tir d e é s ta s , se tr a z 6 Ia c u a d r íc u la q u e g r a d u a lm e n te lIe n a d a c o n Ia s c o n s tr u c c io n e s

esoeõotes,

d i6 aIa c iu d a d s u fis io n o m ía c o lo n ia l. Mas acrescenta Weckmann:

M é x ic o , C u z c o y o tr o s r a r o s e je m p lo s s o n e x c e p c io n a le s p o r Ia in flu e n c ia in d íg e n a e n s u tr a z a d o , a u n q u e p o r s u p u e s to e l u r b a n is m o p r é - h is p á n ic o [ ... ] tu v o g r a n in flu e n c ia e n Ia u b ic a c i6 n d e Ia s p r im e r a s fu n d a c io n e s e s p e õ o te s e n e l c o n tin e n te e n e l s e n tid o d e q u e m u c h a s c iu d a d e s C O lo n ia le s fu e r o n c o n s tr u id a s e n c e n tr o s yah a b ita d o s d e a n tig u o (Weckmann, 1994, p. 413-414).

. 7 Cuzco, Umbigo do Mundo, centro dos quatro cantos da Terra, cidade cosmopolita e

Importante centro administrativo do Império Inca, é assim descrita por Sancho de Ia Hoz, cronista oficial de Pizarro: E s tá c h e ia d e p a lá c io s s e n h o r is [ ... ] C a d a s e n h o r c o n s tr 6 i a í sua

r e s id ê n c ia , m e s m o q u e n ã o r e s id a p e r m a n e n te m e n te . [ ... ] H á ta m b é m m u ita s c a s a s d e tijo lo s e

estão s itu a d a s em b o a o r d e m , ao lo n g o d a s r u a s d is p o s ta s em ta b u le ir o d e d a m a [ ... ] !o d a s c a lç a d a s e c o r ta d a s ao m e io p o r u m c a n a l d e p e d r a . [ ... ] A p r a ç a , q u a s e In te ir a m e n te p la n a , é q u a d r a d a ec a lç a d a . (grifo meu). HOZ, Sancho de Ia, apud GIORDANI, 1991, p, 230. Quanto a Lima, comenta Espinosa: C o g e s itio d e u n a g r a n d e , yp o p u lo s a c iu d a d , m a r a v ilh o s a m e n te tr a s a d a , tie n e a I p r e s e n te p o r 1 0 la r g o 2 5 q u a d r a s , [ ... ] p o r 1 0 a n c h o tie n e d e

1 4 q u a d r a s [ ... ] to d a s Ia s c a lle s , y q u a d r a s a1 0 m o d e r n o (grifo meu) s o n q u a d r a d a s , y m u y

BIBLOS, Rio Grande, 10: 127-135, 1998.

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Quando a fase pioneira do urbanismo colonial estava já concluída

Felipe 11 promulgou, em 1573, as

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L e y e s d e In d ia s , que impõem seu~

alinhamentos a r e g ia y c o r d e l, e nas quais esmiuçavam-se numerosas

prescrições a respeito do traçado e da edificação urbana. Desse momento

em diante, essas prescrições serão obedecidas rigorosamente durante dois

séculos. Esse fato é fundamental para a compreensão do urbanismo

hispano-americano não só nos séculos coloniais, como inclusive durante

boa parte do século XIX, em muitas fundações que durante ele ocorreram.

Cabe observar que em boa parte das cidades da América espanhola, tudo

se passava, mesmo no século XX, no que se refere ao estilo de vida urbano,

com seu modo de ser e suas socialidades, como se ainda se estivesse nos

velhos tempos colonlals". A "haussmanização" tanto física como cultural do

perfil urbano foi um fato muito circunscrito, tanto no espaço social como no

geográfico.

Já em fins do século XVI, no qual se considera concluída a etapa

inicial de ocupação", a expansão espanhola havia-se estendido pelos

principais territórios coloniais. Houve um forte impulso inicial nos quais se

fundaram as principais cidades e vilas e, após isso, as características

essenciais da morfologia urbana encontravam-se bem definidas. Conforme

Hardoy e Aranovitch, até fins do século XVI, h a b ía n s id o fu n d a d a s Ia s

p r in c ip a /e s c iu d a d e s d e Ia s p r o v in c ia s , Ia s q u e e r a n o, c o n e l tie m p o , fu e r o n Ia s c a p ita le s d e lo s v ir r e in a to s y, s a lv o e x c e p c io n e s , Ia s s e d e s d e Ia s a u d ie n c ia s , lo s p r in c ip a le s p u e r to s y lo s r e a le s d e m in a s m á s

prosperos".

O

d e r e c h a s ; tie n e c a d a c a lle d e a n c h o 4 0 p ie s G e o m e tr ic o s ,

ONMLKJIHGFEDCBA

y c a d a q u a d r a 4 0 0 ,y d e a n c h o 6 ,

1 6 0 .(Espinosa, 1948, p. 400).

8Charles Wiener dá uma interessante descrição, em 1884, da cidade de Guayaquil, tal

como foi vista por ele em fins do século XIX. As observações que esse autor faz a respeito de Guayaquil, na época um dos grandes portos da América do Sul,poderiam ser válidas para muitas cidades hispano-americanas do século XVII. Os costumes, festas, práticas religiosas, composição étnica da população, arquitetura, traçado urbano e muitos outros fatores que caracterizam essa cidade estariam perfeitamente bem localizados nos séculos coloniais. Para isso, consultar Wiener, 1958, p. 926 e segs.

9Ver Castillo, op. cít. pp. 99-104.

1 0Afirmam esses autores que e l p r o c e s o d e e x p lo r a c i6 n y c o lo n iz a c i6 n in ic ia d a p o r lo s

e s p e õ o le s in m e d ia ta m e n te d e s p u é s d e Ia C o n q u is ta , a lc a n z 6 , a fin e s d e i s ig lo X V I, u n a

e x p a n s ió n q u e in c lu ía ya a io s p r in c ip a le s te r r ito r io s d e Ia c o lo n ia p o r s u p o b la c i6 n y r e c u r s o s

n a tu r a le s y q u e fu e p o c o e x te n d id a d u r a n te lo s dos s ig lo s s ig u ie n te s . [ ...] d e n tr o d e lo s /ím ite s

im p r e c is o s d e estos te r r ito r io s , h a b ía n s id o fu n d a d a s Ia s p r in c ip a ,le s c iu d a d e s d e Ia s

p r o v in c ia s , Ia s q u e e r a n o, c o n e l tie m p o , fu e r o n (as c a p ita le s d e lo s v ir r e in a to s y, s a lv o

e x c e p c io n e s , Ia s sedes d e (as a u d ie n c ia s , lo s p r in c ip a le s p u e r to s y lo s r e a le s d e m in a s m á s

p r ó s p e r o s [ ...] se p r o d u jo u n a r e o r g a n iz a c i6 n d e Ia s fu n c io n e s q u e c u m p /ía n a lg u n o s c e n tr o s ,

y, p o r c o n s ig u ie n te , d e sus je r a r q u ía s , c o m o c o n s e c u e n c ia d e (a e s tr u c tu r a c i6 n d e fin itiv a d e i

s is te m a d e n o te s , d e (ar e e s tr u c tu r a c i6 n d e (aju s tic ia o d e (os a s u n to s r e lig io s o s o d e o tr a s

causas. [ ... ] Ia s c a r a c te r ís tic a s g e n e r a le s d e Ia s e c o n o m ía s e n c a d a v ir r e in a to q u e d a r on

d e te r m in a d a s c o n b a s ta n te a p r o x im a c ió n .[ ...] e n Ia d é c a d a d e 1 5 3 0 a 1 5 4 0 e l m o d e lo d e Ia

c iu d a d c o lo n ia l h is p a n o a m e r ic a n a h a b ía a lc a n z a d o s u s c a r a c te r ís tic a s fís ic a s d e fin itiv a s q u e

1 3 0 B I B l O S . R i o G r a n d e . 1 0 : 1 2 7 - 1 3 5 . 1 9 9 8 .

numero de fundações (considerando-se apenas os principais centros) entre

1520 e 1700 foi da seguinte ordem, se a distribuição espacial for feita a partir

dos territórios dos países atuais: Venezuela, 66; Colômbia, 88; Peru, 36;

Equador, 29; Chile, 44; Argentina, 34; Paraquai, 33; Bolfvia, 7; Uruguai, 2.

potosí, contando no século XVII com uma cifra entre 120_000 e 160.000

habitantes, foi tida como a maior cidade do mundo ocidental."

As características físicas definitivas da cidade hispano-americana

resultaram, conforme Hardoy, em vários modelos. Um desses seria o

modelo clássico, com traçado em d a m e r o e P la z a M a y o r , ao redor da qual

se localizavam o A y u n ta m ie n to e a G o b e m a c ió n . A P la z a M a y o r poderia ser

central ou excêntrica (nas cidades portuárias, por exemplo, era situada para

o lado do mar). Outro modelo seria o regular, que observa em linhas gerais o

traçado do modelo clássico, porém sem a mesma rigidez. Neste, a

regularidade e o ordenamento físico teriam sido introduzidos, de acordo com

Hardoy, após uma fase de crescimento espontâneo. Portanto, nos casos de

modelo regular, o primeiro traçado não seria o definitivo.

Ocorreu também o modelo irregular, que, de acordo com o autor

citado, pode ser encontrado em portos, centros de mineração, p u e b lo s d e

in d io s e alguns casa rios1 2 ao longo dos caminhos. Vários núcleos urbanos

desse tipo tiveram seu traçado refeito e regularizado anos ou décadas após

o primeiro assentamento. Outro modelo seria o radial, pouco usado, e no qual

Ia s m a n z a n a s s o n tr a p e z o id a /e s c o m o c o n s e c u e n c ia d e Ia c r e c ie n te a p e r tu r a

d e lo s r a d io s c o n r e s p e c to a I c e n tr o y a I p a r a le lis m o d e Ia s c a lle s

norizontetes",

A tipologia de Hardoy menciona, também, a existência de

aglomerações urbanas sem esquema definido. Mas, nesses casos, n ã o se

encontra nenhuma cidade de importância. As cidades mineiras poderiam,

com certa freqüência, ter um traçado mais irregular, como já foi colocado

anteriormente, em virtude da topografia acidentada das áreas de mineração."

fu e r o n r e p e tid a s s in tr a n s fo r m a c io n e s mayores h a s ta m u c h o tie m p o d e s p u é s d e fin a liz a d o e l

p e r ío d o c o lo n ia L (Aranovitch e Hardoy, in Solano, 1983, p. 345 e segs. É clara a observação

desses autores de que o grande ímpeto da urbanização hispano-americana deu-se nos primórdios da Conquista e que, Já nesse período inicial, fundando-se as principais cidades, a morfologia urbana havia se ordenado de maneira praticamente definitiva. Esses fatos fornecem um útil material de comparação com a urbanização da América portuguesa.

t t Para isto, ver Lou e Benasayag, 1992, p. 104-129.

1 2 Casa rios que, freqüentemente, eram utilizados como local de pouso para os

viajantes. Seguidamente, eram esses casarios o resultado de fundações anteriores de cidades para as quais se havia encontrado uma nova localização, considerada mais adequada. Esse fato comprova também a alta mobilidade das h u e s te s . Foi possível graças a isso, a realização num curto espaço de tempo, como afirma Friederici, de g r a n d e s d e s c u b r im ie n to s g e o g r á fic o s y

aIa p e n e tr a c ió n d e v a s to s te r r ito r io s . (Friederich, 1987, p. 347).

1 3Hardoy, in Solano, 1983, p, 315-344.

,. Mesmo assim, registra Espinosa a respeito de uma importante cidade mineradora:

L a forma d e e s ta c iu d a d (Chuquisaca, fundada em 1540. na provincia de Charcas) e s d e

(4)

De qualquer maneira, em todo o período colonial observa-se na

América hispânica uma preocupação constante (mesmo anterior às

hgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA

L e y e s

d e In d ia s , como foi visto) com a simetria, desejando-se que esta seja

aplicada aos mínimos detalhes da paisagem urbana". Um exemplo dessa

disposição precoce são as determinações de Hernán Cortés quando, já em

1525, ao tempo do alarife Alonso García Bravo, ordenou a seus c a p ita n e s

que, d e s p u é s d e d e r r ib a d o s lo s á r b o /e s , d e b e is c o m e n z a r a ig u a la r e l

te r r e n o , y d e s p u é s , s ig u ie n d o e l p la n o q u e h e h e c h o , d e b e is tr a z a r Ia s lu g a r e s p ú b lic o s ta l c o m o e s tá n in d ic a d o s :

'9

p la z a , Ia ig le s ia , e l m u n ic ip io , Ia

c á r c e l; e l m e r c a d o , e l m a ta d e r o , e l h o s p ita l[ ... ] O e s p u é s m o s tr a r e is

ONMLKJIHGFEDCBA

a c a d a

c iu d a d a n o e l á r e a d e te r r e n o q u e le c o r r e s p o n d e s e g ú n 1 0 s e õ e te a o e n e l

p la n o , y h a r e is 1 0 m is m o c o n lo s q u e v e n g a n a c o n tin u a c ió n . P o n d r e is e s p e c ia l c u id a d o e n q u e Ia s c a l/e s s e a n r e c ta s , y b u s c a r e is lo s té c n ic o s q u e

s e p a n

trezettes":

Se a influência renascentista for considerada inexistente

para esse caso, como é opinião de alguns autores, pode-se levantar a

hipótese genealógica (obscura, como todas as hipóteses desse tipo) de que

o modelo teria sido fornecido pelas cidades de fins do século XV, em

Castela, Extremadura e Aragón. Ou talvez pelas cidades mais fronteiriças a

Granada, e que exerciam a função de bastiões militares.

Por outro lado, e talvez isso seja o mais importante, pode-se

conjeturar que a experiência urbana na América espanhola, em vez de ser

vista como um simples caso de transplante de modelos trazidos da Europa,

c u a d r a s , y c a d a v n a d e 5 6 0 . v a r a s e n q u a d r o y Ia s cal/es d e r e c h a s , e l a n o d e 6 1 0 a u ia c in c o

cal/es q u e to m a b a n d e la r g o a c h o q u a d r a s , ya c h o cal/es a tr a u e s a d a s d e a seis q u a d r a s c a d a v n a . L a s cal/es tie n e n d e G u e c o c a d a v n a o n z e v a r a s [ ... ] L a p la ç a p r in c ip a l q u e está e n m e d ia d e esta c iu d a d tie n e 648. v a r a s e n q u a d r o , c o n e l G u e c o d e o c h o cal/es, q u e p o r Ia s q u a tr o e s q u in a s Ia c o g e n e n m e d ia tie n e otras q u a tr o p la ç a s m e n o r e s [ ... ] L a c iu d a d está fu n d a d a d e m o d o , q u e e l o r ie n te , y o c c id e n te Ia c o g e n a tr a u e s a d a d e e s q u in a , ae s q u in a . (sic) (Espinosa, op. cit., p. 602). Essa observação de Espinosa comprova a afirmação de que, mesmo em áreas de topografia irregular, buscava-se a geometrização e a simetria.

1 5Na América, não recorrem os espanhóis ao modelo de cidade muçulmana andaluza

existente na Espanha. Pelo contrário, recorre-se a uma urbanística que coincide (o que não significa que seja conseqüência) com o modelo das novas cidades espanholas do período renascentista. Conforme Álvarez, e l R e n a c im ie n to a p o r ta n u e v o s gustos y n u e v a s n e c e s id a d e s , fá c ile s d e c o n s ta ta r . M u c h a s d e Ia s c iu d a d e s c r e c e n y r e b a s a n sus v ie jo s p e r ím e tr o s m e d ie v a le s , s in p r e o c u p a r s e yad e a lz a r Ia s fo r m id a b le s m u r a l/a s ta n v a lo r a d a s p o r e l b u r g u ê s m e d ie v a l [ ... ] O tr a n o v e d a d q u e se im p o n e p o r d o q u ie r es Ia g r a n p la z a c e n tr a l. A

e l/a seir á p o r e l m e r c a d o , q u e e n Ia A lta E d a d M e d ia vemos c e le b r a r e x tr a m u r o s d e Ia c iu d a d ; Ia c u a l e s ta b a e n to n c e s d e m a s ia d o a h o g a d a e n su e s tr e c h o r e c in to a m u r a lla d o . E continua o mesmo autor: T a l es Ia c iu d a d m o d e r n a , o m o d e r n iz a d a , q u e se v a e n r iq u e c ie n d o p a u la tin a m e n te , c o n Ia e d ific a c i6 n d e p a la c io s , c a te d r a le s , ig le s ia s y c o n v e n to s . C a d a v e z a tr a e más ymás aIa a lta n o b le z a , q u e v a s a /ie n d o le n ta m e n te d e sus c a s tillo s p a r a h a b ita r e n lo s n u e v o s p a la c io s u r b a n o s [ ... ]Sep r o c u r a d a r p a r tic u la r im p o r ta n c ia aIa P la z a M a y o r [ ... ]Ia d is fo r m e y d e s ta r ta la d a p la z a m e d ie v a l v a a ser s u s titu id a p o r o tr a q u e se c ie r r a e n

cuadrado.(Álvarez, 1970, p. 46 e segs.).

1 6Citado em Benevolo, op. cit., p. 607.

132 BIBLOS, Rio Grande, 10: 127-135, 1998.

possa ser examinada para além desse aspecto. Seria nesse caso uma

experiência profundamente original e adaptada às novas condições e aos

novos ambientes geográficos e populacionais, ao mesmo tempo que

transformadora de ambos. Teria havido, em decorrência, uma dinâmica

muito peculiar, de uso da tradição a serviço da inovação. Levanta-se aqui

também a complexidade das relações entre forma e função, e de como a

manutenção de uma pode ser necessária para a modificação da outra,

máxime quando há mudança nos padrões ecológicos e dernoqráficos". Em

reforço desta idéia vem o fato de que as principais reformas urbanas do

Renascimento executadas na Europa foram posteriores às primeiras

cidades americanas. Estas, ao invés de serem moldadas pelas idéias

renascentistas, como pensam alguns autores, para um grande número de

casos de .cídades hispano-americanas, poderiam ter exercido, como já foi

mencionado neste capítulo, alguma influência, se não no nível do concreto,

talvez no nível das idéias, no urbanismo do Velho Mund01 8

, e

especificamente o italiano, por ter sido a Itália o centro das inovações

renascentistas. Uma perspectiva totalmente eurocêntrica, comum aos estudos

sobre a genealogia do traçado das vias, localização de edifícios e outros

aspectos das cidades americanas poderia em parte ser invertida na medida

em que se examina a influência do urbanismo americano sobre a Europa.

A tradição cultural trazida pelos conquistadores comporta elementos

tais como o conhecimento da planta de cidades castrenses romanas. Isso se

tornou possível pela tradição militar hispânica e pela existência das antigas

ruínas romanas de Mérida e Tarragona, mais que pela difusão dos textos da

Antigüidade, resgatados durante o Renascimento. Se houve essa influência

oriunda da Antigüidade hispânica, deve-se considerar esse caso como um

exemplo do pragmatismo posto em ação pelos fundadores espanhóis na

América colonial. Estes, movidos pela ânsia de atingir seus objetivos o mais

rapidamente possível, talvez marcados pela hiperexcitabilidade nervosa

própria dos homens de sociedades de fronteira", acicatados pela lógica do

proveito próprio, que Ihes acenava com a visão mirífica das riquezas do

Novo Mundo, nunca deixaram de considerar as vantagens da rápida

adequação ao ambiente. Atendendo assim à lógica célere da colonização,

1 7 Para este assunto, consultar Bastide, 1972, p. 40 e segs.

1 8 Cabe a questão de até que ponto o pensamento europeu teria condições de

apreender a realidade da cidade indígena, mesmo no que se refere a algo tão concreto como seu traçado físico. Conforme Weckmann, estes traçados eram apresentados pelos Conquistadores, no Velho Mundo, a partir de uma visão convencional, à européia. Só dessa forma poderiam ser compreendidos. Cita o autor o caso específico da cidade de Tenochtitlán. Para isto, verWechmann, op. cit., p. 413.

1 9 As chamadas sociedades de fronteira geram uma configuração psicossocial toda

própria, como pode ser comprovado em vários casos e contextos históricos, inclusive no luso-brasileiro, como será visto noutro capítulo. Para sociedades de fronteira, ver Hentig, 1969.

(5)

De qualquer maneira, em todo o período colonial observa-se na

América hispânica uma preocupação constante (mesmo anterior às

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L e y e s

d e In d ia s , como foi visto) com a simetria, desejando-se que esta seja

aplicada aos mínimos detalhes da paisagem urbana15. Um exemplo dessa

disposição precoce são as determinações de Hernán Cortés quando, já em

1525, ao tempo do alarife Alonso García Bravo, ordenou a seus c a p ita n e s

que, d e s p u é s d e d e r r ib a d o s lo s á r b o /e s , d e b e is c o m e n z a r

ONMLKJIHGFEDCBA

a ig u a la r e t te r r e n o , y d e s p u é s , s ig u ie n d o e l p la n o q u e h e h e c h o , d e b e is tr a z a r to s

lu g a r e s p ú b lic o s ta l c o m o e s tá n in d ic a d o s : Ia p la z a , Ia ig le s ia , e l m u n ic ip io , Ia I

c á r c e l; e l m e r c a d o , e l m a ta d e r o , e l h o s p ita l [ ... ] D e s p u é s m o s tr a r e is a c a d a

c iu d a d a n o e l á r e a d e te r r e n o q u e le c o r r e s p o n d e s e g ú n 1 0 sefíalado e n e l p la n o , y h a r e is 1 0 m is m o c o n lo s q u e v e n g a n a c o n tin u a c iá n . P o n d r e is e s p e c ia l c u id a d o e n q u e Ia s c a lle s s e a n r e c ta s , yb u s c a r e is lo s té c n ic o s q u e s e p a n

trezenes".

Se a influência renascentista for considerada inexistente

para esse caso, como é opinião de alguns autores, pode-se levantar a

hipótese genealógica (obscura, como todas as hipóteses desse tipo) de que

o modelo teria sido fornecido pelas cidades de fins do século XV, em

Castela, Extremadura e Aragán. Ou talvez pelas cidades mais fronteiriças a

Granada, e que exerciam a função de bastiões militares.

Por outro lado, e talvez isso seja o mais importante, pode-se

conjeturar que a experiência urbana na América espanhola, em vez de ser

vista como um simples caso de transplante de modelos trazidos da Europa,

c u a d r a s , y c a d a v n a d e 5 6 0 . v a r a s e n q u a d r o y Ia s c a l/e s d e r e c h a s , e l a n o d e 6 1 0 a u ia c in c o c a l/e s q u e to m a b a n d e la r g o o c h o q u a d r a s , y o c h o c a l/e s a tr a u e s a d a s d e a s e is q u a d r a s c a d a v n a . L a s c a l/e s tie n e n d e G u e c o c a d a v n a o n z e v a r a s [ ... ] L a p la ç a p r in c ip a l q u e e s tá e n m e d io d e e s ta c iu d a d tie n e 648. v a r a s e n q u a d r o , c o n e l G u e c o d e o c h o c a l/e s , q u e p o r Ia s q u a tr o e s q u in a s Ia c o g e n e n m e d io tie n e o tr a s q u a tr o p la ç a s m e n o r e s [ ... ] L a c iu d a d e s tá fu n d a d a d e m o d o , q u e e l o r ie n te , yo c c id e n te Ia c o g e n a tr a u e s a d a d e e s q u in a , ae s q u in a . (sic) (Espinosa, op. cit., p. 602). Essa observação de Espinosa comprova a afirmação de que, mesmo em áreas de topografia irregular, buscava-se a geometrização e a simetria.

1 5Na América, não recorrem os espanhóis ao modelo de cidade muçulmana andaluza

existente na Espanha. Pelo contrário, recorre-se a uma urbanística que coincide (o que não significa que seja conseqüêncía) com o modelo das novas cidades espanholas do período renascentista. Conforme Álvarez, e l R e n a c im ie n to a p o r ta n u e v o s g u s to s y n u e v a s n e c e s id a d e s , fá c ile s d e c o n s ta ta r . M u c h a s d e Ia s c iu d a d e s c r e c e n y r e b a s a n s u s v ie jo s p e r ím e tr o s m e d ie v a le s , s in p r e o c u p a r s e ya d e a lz a r Ia s fo r m id a b le s m u r a l/a s ta n v a lo r a d a s p o r e l b u r g u ê s m e d ie v a l [ ... ] O tr a n o v e d a d q u e se im p o n e p o r d o q u ie r es Ia g r a n p la z a c e n tr a l. A

e l/a se ir á p o r e l m e r c a d o , q u e e n Ia A lta E d a d M e d ia v e m o s c e le b r a r e x tr a m u r o s d e Ia c iu d a d ; Ia c u a l e s ta b a e n to n c e s d e m a s ia d o a h o g a d a e n s u e s tr e c h o r e c in to a m u r a l/a d o . E continua o

mesmo autor: T a l es Ia c iu d a d m o d e r n a , o m o d e r n iz a d a , q u e se v a e n r iq u e c ie n d o p a u la tin a m e n te , c o n Ia e d ific a c ió n d e p a la c io s , c a te d r a le s , ig le s ia s y c o n v e n to s . C a d a v e z a tr a e m á s y m á s a Ia a lta n o b le z a , q u e v a s a lie n d o le n ta m e n te d e s u s c a s tillo s p a r a h a b ita r e n lo s n u e v o s p a la c io s u r b a n o s [ ... ] Sep r o c u r a d a r p a r tic u la r im p o r ta n c ia a Ia P la z a M a y o r [ ... ]Ia d is fo r m e y d e s ta r ta la d a p la z a m e d ie v a l v a a s e r s u s titu id a p o r o tr a q u e se c ie r r a e n

cuadrado.(Álvarez, 1970, p. 46 e segs.).

1 6 Citado em Benevolo, op. cit., p. 607.

132 BIBLOS, Rio Grande. 10: 127-135, 1998.

possa ser examinada para além desse aspecto. Seria nesse caso uma

experiência profundamente original e adaptada às novas condições e aos

novos ambientes geográficos e populacionais, ao mesmo tempo que

transformadora de ambos. Teria havido, em decorrência, uma dinâmica

muito peculiar, de uso da tradição a serviço da inovação. Levanta-se aqui

também a complexidade das relações entre forma e função, e de como a

manutenção de uma pode ser necessária para a modificação da outra,

máxime quando há mudança nos padrões ecológicos e demográficos 17. Em

reforço desta idéia vem o fato de que as principais reformas urbanas do

Renascimento executadas na Europa foram posteriores às primeiras

cidades americanas. Estas, ao invés de serem moldadas pelas idéias

renascentistas, como pensam alguns autores, para um grande número de

casos de .cidades hispano-americanas, poderiam ter exercido, como já foi

mencionado neste capitulo, alguma influência, se não no nível do concreto,

talvez no nível das idéias, no urbanismo do Velho Mundo", e

especificamente o italiano, por ter sido a Itália o centro das inovações

renascentistas. Uma perspectiva totalmente eurocêntrica, comum aos estudos

sobre a genealogia do traçado das vias, localização de edifícios e outros

aspectos das cidades americanas poderia em parte ser invertida na medida

em que se examina a influência do urbanismo americano sobre a Europa.

A tradição cultural trazida pelos conquistadores comporta elementos

tais como o conhecimento da planta de cidades castrenses romanas. Isso se

tornou possível pela tradição militar hispânica e pela existência das antigas

ruínas romanas de Mérida e Tarragona, mais que pela difusão dos textos da

Antigüidade, resgatados durante o Renascimento. Se houve essa influência

oriunda da Antigüidade hispânica, deve-se considerar esse caso como um

exemplo do pragmatismo posto em ação pelos fundadores espanhóis na

América colonial. Estes, movidos pela ânsia de atingir seus objetivos o mais

rapidamente possível, talvez marcados pela hiperexcitabilidade nervosa

própria dos homens de sociedades de fronteira", acicatados pela lógica do

proveito próprio, que Ihes acenava com a visão mirífica das riquezas do

Novo Mundo, nunca deixaram de considerar as vantagens da rápida

adequação ao ambiente. Atendendo assim à lógica célere da colonização,

1 7Para este assunto, consultar Bastide, 1972, p. 40 e seqs,

1 8 Cabe a questão de até que ponto o pensamento europeu teria condições de

apreender a realidade da cidade indígena, mesmo no que se refere a algo tão concreto como seu traçado físico. Conforme Weckmann, estes traçados eram apresentados pelos Conquistadores, no Velho Mundo, a partir de uma visão convencional, à européia. Só dessa forma poderiam ser compreendidos. Cita o autor o caso específico da cidade de Tenochtitlán. Para isto, verWechmann, op. cit., p. 413,

1 9 As chamadas sociedades de fronteira geram uma configuração psicossocial toda

própria, como pode ser comprovado em vários casos e contextos históricos, inclusive no luso-brasileiro, como será visto noutro capítulo, Para sociedades de fronteira, ver Hentig, 1969.

BIBLOS, Rio Grande, 10: 127-135, 1998.

(6)

decidiram rapidamente sobre o tipo de assentamento a ser aplicado, sem

esperar instruções oficiais.

Especificamente, também foram levados em conta, na localização e

planejamento físico dos assentamentos, os propósitos fundacionais de cada

cidade em particular, tendo em vista as funções específicas que cada uma

destas deveria desempenhar na empresa colonizadora. Nas cidades

comerciais, nas serni-aqrárias" e nas mineradoras, em torno de um centro

físico relativamente homogêneo para todas elas, formavam-se as

especificidades de traçados e caminhos de acordo com a funcionalidade

exigida. Devem ser consideradas aqui as redes urbanas", ou seja, as áreas

de influência territorial de cada cidade, as vias de comunicação que

tornavam isso possível e a dinâmica centrípeta ou centrífuga de cada centro

urbano. Existiram núcleos que serviam como base a partir da qual se dava

uma dispersão populacional em direção às rotas de descobrimento dos

territórios do

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h in te r la n d , e outras, como Potosí, que estendiam seu poder de

atração para regiões extremamente remotas.

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2 0 As características das cidades agrárias da Europa medieval foram abordadas por Max Weber emL a d o m in a c ió n n o le g ítim a ( T ip o lo g ía d e Ia s C iu d a d e s ) .Na América, dá-se um fenômeno muito semelhante àquelas cidades européias, inclusive pela utilização dose jid o s ,ou seja, das terras comunais de pastagem e cultivo. São as chamadas cidades-território. Para isto, consultar Weber, 1992, p. 938 e segs.

2 1 E / c o n ta c to o in te r r e la c io n e s e n tr e Ia s r e d e s u r b a n a s d e I s u b c o n tin e n te fu e r o n m u y

e le m e n ta /e s h a s ta e l s ig lo X V I/ y te n ía n s u b a s e e n p u e r to s o p u n to s c la v e . E x is tie r o n ,

a d e m á s , c e n tr o s a is la d o s q u e te n ía n m a y o r r e la c ió n c o n e l e x te r io r q u e c o n s u s r e g io n e S

p r ó x im a s . L a s r e la c io n e s c o m e r c ia le s p o r m a r , e n tr e lo s n ú c le o s d is ta n te s , fu e r o n m á s

im p o r ta n te s q u e Ia s te r r e s tr e s , h e c h o q u e im p o s ib ilitó Ia in te g r a c ió n d e Ia s c o m u n id a d e s . t . o u e

Benasayag, op. cit., p. 120.

134 BIBLOS, Rio Grande, 10: 127-135. 1998.

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