• Nenhum resultado encontrado

Rev. Soc. Bras. Med. Trop. vol.23 número1

N/A
N/A
Protected

Academic year: 2018

Share "Rev. Soc. Bras. Med. Trop. vol.23 número1"

Copied!
4
0
0

Texto

(1)

R e v i s t a d a S o c i e d a d e B r a s i l e i r a d e M e d i c i n a T r o p i c a l 2 3 ( 1 ) : 1 - 4 , j a n - m a r , 1 9 9 0

EDITORIAL

O COMBATE ÀS DOENÇAS EN D ÉM ICA S E A PENDULAR

REGIONALIZAÇÃO d o s SERVIÇOS DE SAÚDE

A organização dos serviços de Saude Publica no Brasil teve inicio em 1808, quando um alvará do Pnncipe D. João restabeleceu no pais o cargo de Fisico-mor do Reino, passando para o Governo Central o que era responsabilidade dos municípios. Em 1828 um decreto aboliu a Fisicatura-mor. no­ vamente municipalizando-se a Saude Publica. So­ mente a vacinação antivariólica e a Inspeção de Saude dos Portos continuaram sob o controle do Governo Central. Pelo D ecreto n? 268 de 29/1/1843 voltou-se a desmunicipalização O reaparecimento da febre amarela, em 1849, forçou a nomeação da Comissão Central de Saude Publica, incorporada em 1851 pela Junta Central de Higiene Publica, a qual estavam subordinadas as Comissões Provinciais. E ra a orga­ nização sanitaria mais importante que ate então teve o p a is l. Alem da febre amarela havia o colera e eram importantes as febres, principalmente a malaria2. a tuberculose e a ancilostomose^. O Poder Central não tinha decisão de empreender campanhas de enverga­ dura. A reforma sanitária de 1886 criou a Inspetoria Geral de Higiene em substituição a Junta Central de Higiene Publica.

Com a proclamação do regime republicano federativo em 1889 mais uma vez os serviços de higiene foram desligados da administração federal e passados ao domínio de cada Estado. Estes não tinham condições de combater com èxito as doenças endêmicas.

A pesar da descentralização, foi criada, em 1897 a D iretoria G eral de Saúde Pública. M as a União somente prestaria socorro quando solicitada pelos Estados. O Governo Central tinha o controle sobre a prevenção da entrada das doenças exóticas, através das inspeções nos portos e das quarentenas a bordo de navios ou em lazaretos. A gravidade da febre amarela forçou a criação, em 1903 do Serviço de Profilaxia da Febre Am arela7. E sta foi nossa primeira experiência na mobilização de recursos e de tecnologia, em larga escala, no combate a uma de nossas grandes doenças endêmicas. E ra a epoca de Lutz, Emílio Ribas, Vital Brazil, Oswaldo Cruz. Aliás, foi devido à febre am arela e à peste que sanitaristas brasileiros puderam organizar a saude publica para atuar em âmbito nacional2. A Diretoria G eral de Saude Publica foi reorganizada por Oswaldo Cruz, em 1904, com

auto-Recebido para publicação em 2 0 /03/90.

E N D E M IC D IS E A S E C O N T R O L A N D T H E P E N D U L U M O F R E G IO N A L H E A L T H SERVICES

The organisation of a Public Health Service in Brazil started in 1808 when an edict of Prince Don João reestablished the title of Royal Physician-major to the country and transferred to the Central G o­ vernment the responsibility for the municipalities. In

1828 a decree abolished the Central Administration devolving Public H ealth responsibilities to a municipal level. Only smallpox vaccination and Port Health inspection were controlled by the Central Govern­ ment. By Decree 268 of 29/1/1843 responsibilities were again transferred to the Central Government. The reappearance of yellow fever in 1849 resulted in the formation of a Central Health Commission incor­ porated in 1851 in a Central Public Health Organi­ sation to which the provincial commissions were subor­ dinated. H enceforth1 this was the most important Pu­ blic H ealth organ in the country. In addition to the yellow fever cholera; malaria^, tuberculosis and hookworm disease^ were important diseases. The Central Government could not initiate campaigns. The health reform of 1886 created an inspector general of health in place of the original group.

W ith the Proclamation of the Federal Republic in 1889 once again the health services were separated from the Federal Administration and became the responsibility of each state. These did not have conditions to mount campaigns against endemic disease. In spite of the decentralisation in 1897 a director general of Public H ealth was appointed at a national level; however he only gave help when the state so requested. The Central Government had control over the entry o f exotic diseases into the country by inspection of parts, quarentine facilities, ships etc. The seriousness of the yellow fever situation in 1903 resulted in the yellow fever prevention service7. This was the first Brazilian attempt using technology to control an endemic disease on a national scale. It was the time of Lutz, Emilio Ribas, Vital Brazil and Oswaldo Cruz. It was because of yellow fever and plague that Brazilian Public Health workers could organise Public Health services to act in a national manner2. The Directory G eneral of Public H ealth was reorganised by Oswaldo Cruz in 1904 with authority to supervise the ports of Brazil.

This organisation persisted until 1920 when Carlos Chagas restructured the National Department of Public Health. The reports of journeys to the hinterland, among others, by Oswaldo Cruz^ to the M adeira River, Carlos Chagas4 to the Amazon Bazin, Lutz and M achado1® to the São Francisco River, A rtur Neiva and Belisario Penna' 3 to the wilderness

(2)

E d i t o r i a l . P r a t a A . O c o m b a t e à s d o e n ç a s e n d ê m i c a s e a p e n d u l a r r e g i o n a l iz a ç ã o d o s S e r v i ç o s d e S a ú d e . R e v i s t a d a S o c i e d a d e B r a s i l e i r a d e M e d i c i n a T r o p ic a l: 2 3 : 1 -4 , j a n - m a r , 1 9 9 0 .

ridade sobre o Rio de Janeiro e os portos em varias partes do pais.

E sta organização persistiu ate 1920, quando Carlos Chagas deu nova estrutura ao Departamento Nacional de Saude Pública. Os relatórios sobre via­ gens ao interior do Brasil, entre outras a de Osvaldo Cmz5 ao Madeira, de Carlos Chagas^ a Bacia Ama­ zônica, de Lutz e M achado10 ao rio São Francisco, de A rthur Neiva e Belisario P e n n a 1^ aos sertões da Bahia, Pernambuco, Piauí e Goiás, o livro Sanea­ mento do Brasil15? a descoberta da Doença de C ha­ gas, os escritos de M onteiro Lobato sobre o Jeca Tatu e a famosa frase de Miguel Pereira "fora do Rio e de São Paulo, capitais mais ou menos saneadas, e de algumas outras cidades em que a providência superin­ tende a higiene, o Brasil e ainda um imenso hospi­ t a l" 1!, reavivaram o drama das populações rurais. Muitos insistiam na necessidade do governo da Uniào organizar nos Estados os serviços de higiene15, em desacordo com os preceitos constitucionais. Nunca se contestou a doutrina e sim sua exeqüibilidade. A r gumentava-se que salvo as exceções, como por exem­ plo São Paulo, os Estados e municípios não estariam em condições de se desempenharem das funções sanitárias.

O Departam ento Nacional de Saúde Publica foi remodelado em 1934 sob o titulo da Diretoria N a ­ cional de Saude e Assistência Medico-Social. Em

1919 criou-se o Serviço de Profilaxia Rural, extinto em 1930.

Em 1937 foi instituído o Departamento N a ­ cional de Saude, com critério de autonomia municipal, mas reservando-se ao D.N.S. a supervisão geral dos serviços de Saude no pais, mediante ação nacional de combate às grandes endemias. Entre outros podem ser lembrados Barros Barreto, Evandro Chagas, Candau, Manoel Ferreira, Pellon, C ésar Pinto, Samuel Libà nio, Souza Araújo, Agricola, Orestes Diniz, Toledo Piza e Antunes. Em 1939 foi feito uni convênio com a Fundação Rockefeller, que ja participava da luta contra a febre amarela, para a erradicação do A n o p h e l e s g a m b i a e , recem-introduzido no p ais16 Foi criado o Serviço Especial de Saude Publica, o Serviço Nacional de Lepra e o Serviço Nacional de Malaria. E tambem o de Febre Am arela e o de Peste. Havia conhecimento, disciplina, mística e decisão, requisitos para a eficiência.

Em 1956. com vistas a polivalència-5 foi for mado o Departamento Nacional de Endemias Rurais (D N ER u) pela fusão dos serviços nacionais de M a­ laria, Febre Amarela, Peste e parte da Divisão de Organizaçao Sanitaria. No D N ER u havia Coorde nadorias para chefiar a campanha contra cada uma das seguintes doenças: ancilostomose, bocio endémico, bouba, brucelose, doença de Chagas,

esquistosso-of Bahia, Pernambuco, Piauí and Goiás, the book “ Saneamento do Brasil” 15, the discovery of Cha- gas’disease, the writings of M onteiro Lobato o f Jeca T atu and the famous phrase of Miguel Pereira that “ apart from Rio and São Paulo, capitals more or less safe and a few other cities with public health services Brazil is still an immense hospital” 1!, all these documents record the drama of rural Brazilian populations. Many insisted on the necessity for the Central Government to organise state health services15 opposing the cons­ titutional concept. Feasibility and not the doctrine was contradicted. Some points of view argued that with certain exceptions, such as São Paulo, states and municipalities did not have the conditions to institute public health measures.

The National D epartm ent of Public Health was remodelled m 1934 with the title of N ational h e a lth Authority and M édico-Social Assistance. In 1919 the rural prophylactic service was created which became extinct in 1930.

In 1937 the National Health Department was created preserving the municipal autonomy, but re ­ serving department action for general supervision of health services and control of important endemic diseases. M any distinguished Brasilians may be re­ membered, among them, Barros Barreto. Evandro Chagas, Candau, Manoel Ferreira, Pellon. Cesar Pinto, Samuel Libanio, Souza Araujo. Agricola. Orestes Diniz, Toledo Piza e Antunes. In 1937 an agreement with the Rockefeller Foundation resulted in reactivation of the yellow fever control programme and the eradication of A n o p h e le s g a m b i a e recently in ­ troduced into the country16. The special service of Public Health, the National Leprosy Service and the National M alaria Service were created: also special services for yellow fever and plague. A t that time expertise, technology, discipline and will necessary to mount an efficient service were available.

In 1956, under the motivation of polyvalency3, the National Department of Endemic Rural Disease ( DNERu) was formed by fusing the national services of malaria, yellow fever, plague and part of the public health service. In D N E R u coordinators led campaigns against the following diseases: hookworm, endemic goitre, yaws, brucellosis. Chagas'disease, schistos­ omiasis, yellow fever, hydatid disease, filariasis. leishmaniasis, malaria, plague and trachoma6. It was the time of Pinotti. Bustamante. Rachou. Olímpio da Silva Pinto, Emmanuel Dias. Nery Guimarães. Pellegrino, Vianna Martins. Rodrigues da Silva. Pe d reirade Freitas. Homem de Mello. Germano Faria. Fonseca and others to mention only some who are no longer with us. The public health scene was ready for further great campaigns. The advent of residual in

(3)

E d i t o r i a l . P r a t a A . O c o m b a t e à s d o e n ç a s e n d é m i c a s e a p e n d u l a r r e g i o n a l i z a ç ã o d o s S e r v i ç o s d e S a ú d e . R e v i s t a d a S o c i e d a d e B r a s i l e i r a d e M e d i c i n a T r o p i c a l 2 3 : 1 -3 , j a n - m a r , 1 9 9 0 .

mose, febre amarela, hidatidose. filariose. leishma­ niose. malaria. peste e tracoma^. Foi a epoca de Pinotti. Bustamante. Rachou. Olímpio da Silva Pinto. Emmanuel D ias. N ery Guimarães, Pellegrino. Vianna Martins. Rodrigues da Silva. Pedreira de Freitas. Homem de Mello. Germano Faria. Fonseca e outros para continuar citando somente alguns ja falecidos. O cenário estava montado para a realização de outras grandes campanhas. O advento dos inseticidas resi­ duais e novos quimioterapicos e antibioticos tomaram possíveis os êxitos obtidos.

As perspectivas de erradicação da vanola e da malaria. em mvel internacional, justificaram a criação de Campanhas Especiais (CEV e CEM ). Em 1970 a fusão com o D N E R u resultou na Superintendência de Campanhas de Saude Publica (S U C A M )12.

Agora, o pêndulo oscila novamente e a regio­ nalização se impõe, como preceito e meta. D esta vez. certamente, de modo definitivo, pois o pais .pode almeja-la. pelo menos algumas areas que já atingiram grau de desenvolvimento e educação necessários para suporta-la.

Contudo, não esqueçamos a experiência do passado. Troquemos os nomes, pois esta parece ser um a tradição sanitária, mas preservemos os co­ nhecimentos e a estrutura, no momento, representados pela SUCAM . que nenhum pais do mundo possui igual, para ser vencido o desafio do futuro, que e a ocupação da Amazônia.

secticides. and chemotherapeutic and antibiotic agents held promise of a new era of disease control.

The perspectives of eradication of smallpox and malaria, at an international level, justified the creation of special campaigns (CEV and CEM ). In 1970 their fusion with D N E R u resulted in the Superintendência de Campanhas de Saude Publica (S U C A M )12.

Now the pendulum has swung again and re- gionalisation is regarded as imperative. This time certainly in a final way because certain areas of Brazil have achieved a degree of development that can support an efficient state health service. However we must not forget past experience. Change the names, a tradition of Brazilian Public Health, but preserve the knowledge and structure. A t this moment this is represented by SUCAM , an organisation the world envies and not duplicated elsewhere. Such workers will secure Brazil's future and open the Am azon to rational settlement.

A l u i z i o P r a t a

Núcleo de Medicina Tropical, Universidade de Brasília

(4)

E d i to r ia l . P r a t a A . O c o m b a t e à s d o e n ç a s e n d ê m i c a s e a p e n d u l a r r e g i o n a l iz a ç ã o d o s S e r v i ç o s d e S a ú d e . R e v i s t a d a S o c i e d a d e B r a s i l e i r a d e M e d i c i n a T r o p ic a l: 2 3 : 1 -4 , j a n - m a r , 1 9 9 0 .

R EFER EN C IA S BIBLIOGRAFICÂS

1. Barbosa P, Rezende CB. Os Serviços de Saúde Pública no Brasil, especialmente na cidade do Rio de Janeiro, de

1808 a 1907. I m p r e n s a N a c i o n a l . 1909.

2. Benchimol JL. Manguinhos. D o sonho ã vida.

F I O C R U Z . 1990.

3. Brito RS. Caçando rato e matando mosquitos. Impres­ sões de um sanitarista. Im p ren sa O ficial d e M in as Gerais, 1986.

4. Chagas C. Notas sobre a epidemiologia do Amazonas.

B r a z i l - M é d i c o 27:450-456, 1913.

5. Cruz O. Considerações gerais sobre as condições sani­ tárias do rio Madeira, Rio de Janeiro, 1910.

6. Departamento Nacional de Endemias Rurais - DNERu. Combate a Endemias Rurais no Brasil. M in istério da Saúde, 1960.

7. Franco O. H istó ria d a Febre a m a re la no B rasil. Rio de Janeiro, 1969.

8. Homem FVT. Estudo clinico das febres do Rio de J a n e iro . 2? ed ., 1885.

9. Jobim JMC. A s moléstias que mais afligem a classe pobre do Rio de Janeiro. T ip o g r a f ia F lu m in e n s e , 1835. 10. Lutz A. Machado A. Viagem pelo rio São Francisco e por alguns de seus afluentes entre Pirapora e Juazeiro (Estudos feitos à requisição da Inspetoria de Obras contra as Secas. M e m ó r i a s d o I n s t i tu to O s w a l d o C r u z

7:5-50, 1915.

11. Martins W. H i s t ó r i a d a in t e l i g ê n c i a b r a s il e ir a . Editora Universidade de São Paulo, Vol. VI, 1978.

12. Moraes H F. S U C A M , s u a o r ig e m , s u a h is tó r ia . 2? edição. Brasilia, 1990.

13. N eiva A, PennaB. Viagem cientifica pelo norte da Bahia, sudoeste de Pernambuco, sul do Piauí e de norte a sul de Goiaz. M e m ó r i a s d o I n s t i t u t o O s v a l d o C r u z 8:74-224, 1916.

14. Pan American Sanitary Bureau. Plague in the Americas.

P u b l i c a t i o n 225, 1945.

15. Penna B Saneamento do Brasil. Rio de Janeiro, 1923. 16. Soper FL. W ilsonD B . Anopheles gambiae in Brasil. T h e

R o c k e f e l l e r F o u n d a tio n . N ew York, 1943.

A l u i z i o P r a i a

Referências

Documentos relacionados

Só essa leitura e o encontro com Ana Aragão me fizeram perceber a necessidade de estar levando para a sala de aula não só o dicionário Aurélio, mas também o de Geografia,

The performance of four molecular methods for the laboratory diagnosis of congenital toxoplasmosis in amniotic fluid samples. Rev Soc Bras

The probability of attending school four our group of interest in this region increased by 6.5 percentage points after the expansion of the Bolsa Família program in 2007 and

The first National Meeting on the Teaching and Prac- tice of Epidemiology in Venezuela was an outcome of interest on the part of the Venezuelan Ministry of Health and

Ousasse apontar algumas hipóteses para a solução desse problema público a partir do exposto dos autores usados como base para fundamentação teórica, da análise dos dados

The federal public health services of Brazil comprise four large agencies, i.e.: The National Department of Health, the National Children's Department, the

Demographic and clinical characteristics of PLH without the use of ART according to sex and diagnosis of dyslipidemia Rev Soc Bras Med Trop 50(6):879-880,

Trypanosoma cruzi infection in wild mammals of the National Park 'Serra da Capivara' and its surroundings (Piaui, Brazil), an area endemic for Chagas disease.. Trans R Soc Trop Med