• Nenhum resultado encontrado

A atuação do terapeuta ocupacional com crianças e adolescentes em situação de vulnerabilidade social: uma revisão da literatura

N/A
N/A
Protected

Academic year: 2021

Share "A atuação do terapeuta ocupacional com crianças e adolescentes em situação de vulnerabilidade social: uma revisão da literatura"

Copied!
16
0
0

Texto

(1)

A atuação do terapeuta ocupacional com crianças e adolescentes em situação de vulnerabilidade social: uma revisão da literatura

Jean Euripedes da Silva FERREIRA

1

Lais de Carvalho SOUZA

2

Roselilian da Cunha Pereira Alves RODRIGUES

3

Camila Maria Severi MARTINS-MONTEVERDE

4

Resumo: A atuação do terapeuta ocupacional com crianças e adolescentes em situação de vulnerabilidade social e violência se dá por meio de atividades lú- dicas, expressivas e artísticas, possibilitando a exteriorização de sentimentos. O presente estudo tem como objetivo verificar na literatura quais são as abordagens realizadas pelos terapeutas ocupacionais. O método utilizado neste estudo foi uma revisão bibliográfica nas bases de dados: SciELO e LILACS. Além disso, fez-se busca manual em revistas de terapia ocupacional. Os critérios de inclusão estabelecidos foram de publicações no idioma português dos últimos 10 anos.

Foram identificados 12 estudos sobre o tema. Foi possível observar a necessida- de de estratégias terapêuticas eficazes, objetivando a diminuição dos prejuízos e a prevenção da vulnerabilidade social e violência com crianças e adolescentes.

O estudo possibilitou identificação de um grande campo de trabalho com essa população, exposta a desigualdade social e confrontos culturais, proporcionando um desenvolvimento saudável por meio de recursos terapêuticos.

Palavras-chave: Criança. Adolescente. Violência. Vulnerabilidade Social. Tera- pia Ocupacional.

1 Jean Euripedes da Silva Ferreira. Bacharel em Terapia Ocupacional pelo Claretiano – Centro

Universitário. E-mail: <jeanterapeutaocupacional@hotmail.com>.

0

Lais de Carvalho Souza. Bacharel em Terapia Ocupacional pelo Claretiano – Centro Universitário.

E-mail: <laisterapeutaocupacional@hotmail.com>.

3

Roselilian da Cunha Pereira Alves Rodrigues. Mestra em Ciências Médicas pelo Programa de Ginecologia e Obstetrícia da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo (USP). Bacharel em Terapia Ocupacional pelo Claretiano – Centro Universitário. Docente do Curso de Terapia Ocupacional do Claretiano – Centro Universitário. E-mail: <roselilian@terra.com.br>.

4 Camila Maria Severi Martins-Monteverde. Doutora e Mestra em Ciências pela Faculdade

de Medicina de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo (FMRP-USP). Bacharel em Terapia Ocupacional pela Universidade Federal de São Carlos (UFSCar). Docente e Coordenadora do Curso de Terapia Ocupacional do Claretiano – Centro Universitário.

E-mail: <camilamartins@claretiano.edu.br>.

(2)

The work of the occupational therapist with children and adolescents in situations of social vulnerability: a review of the literature

Jean Euripedes da Silva FERREIRA Lais de Carvalho SOUZA Roselilian da Cunha Pereira Alves RODRIGUES Camila Maria Severi MARTINS-MONTEVERDE

Abstract: The work of the occupational therapist with children and adolescents in situations of social vulnerability and violence occurs through playful, expressive and artistic activities, allowing the externalization of feelings. The present study aims to verify in the literature which are the approaches performed by occupational therapists. The method used in this study was a bibliographical review, in the databases: Scielo and Lilacs. In addition, manual search was conducted in occupational therapy journals. The inclusion criteria established were in the Portuguese language and publications of the last 10 years. Twelve studies on this topic were identified. It was possible to observe the need for effective therapeutic strategies, with a view to reducing harm and preventing social vulnerability and violence with children and adolescents. The study allowed the identification of a large field of work with this population, exposed to social inequality and cultural confrontations, providing a healthy development through the therapeutic resources.

Keywords: Child. Teenager. Violence. Social Vulnerability. Occupational

Therapy.

(3)

1. INTRODUÇÃO

Vulnerabilidade social

A vulnerabilidade social é marcada pela fragilidade de víncu- los sociais e pela inserção precária no mundo do trabalho. A desi- gualdade social marca o cotidiano de várias famílias brasileiras que vivenciam situações de violência, desemprego, uso de drogas, entre outras, e, junto à condição de pobreza extrema, limita a garantia de sobrevivência e proteção de crianças e adolescentes dando origem à vulnerabilidade social (LOPES, 2006).

Embora a condição de crianças e adolescentes seja produto- ra de vulnerabilidades, de maior ou menor intensidade, a situação social dos grupos de crianças e adolescentes pobres se destaca pela precariedade das ações a eles destinadas, pela defasagem de acesso a seus direitos civis e sociais e de exercício desses direitos, assim como pelas construções sociais negativas que lhes são impostas.

Isso os coloca em desvantagem social em relação aos grupos de crianças e adolescentes que detêm poder aquisitivo mais elevado, tornando-os alvos prioritários de situações de vulnerabilidade so- cial (PEREIRA; BARDI; MALFITANO, 2014).

Violência na infância e adolescência

As violências vivenciadas por crianças e adolescentes são um fenômeno global que atinge diversas classes sociais e culturais, cau- sando impacto sobre a qualidade de vida do indivíduo e se configu- rando como um grande problema de saúde (CÔRTES; CONTIJO;

ALVES, 2011). Ao longo do processo de desenvolvimento vital,

podem ser identificados fatores traumáticos intensos, associados a

condições socioeconômicas adversas, como o trabalho infantil, a

baixa renda, a desnutrição, a limitação dos recursos relacionados

à escolaridade (muitas vezes, de má qualidade), a violência intra

e extrafamiliar, o alcoolismo, entre outras adversidades que fazem

(4)

com que o indivíduo geneticamente saudável possa apresentar al- terações no desenvolvimento biopsicossocial (ZAVASCHI, 2009).

Os fatores de violência mais comuns vivenciados por crian- ças e adolescentes são violência física, emocional ou psicológica, abuso sexual e negligência (AZEVEDO; GUERRA, 2007).

• Violência física corresponde ao ato de aplicar força física contra a criança ou adolescente no processo disciplinador.

A ação física pode ser um eventual tapa e até mesmo um espancamento que pode ser fatal (AZEVEDO; GUERRA, 2007).

• Violência emocional ou psicológica é toda interferência negativa do adulto sobre a criança ou adolescente que a exponha a humilhações, chantagem, queixas, palavrões, por meio de gritos e comparações. Essas ações podem prejudicar a autoconfiança e autoestima (AZEVEDO;

GUERRA, 2007).

• Abuso sexual é todo jogo ou ato sexual entre uma pessoa adulta e uma criança ou adolescente, tendo por finalidade estimulá-la sexualmente, ou utilizá-la para obter prazer ou satisfação sexual (AZEVEDO; GUERRA, 2007).

• Negligência emocional caracteriza-se pela falha do cuida- dor ao fornecer as necessidades básicas emocionais e psi- cológicas, como amor, motivação e suporte (BERNSTEIN et al., 2003).

• Negligência física é quando os pais ou responsáveis fa- lham em termos de fornecer alimentação, vestuário ade- quado, entre outras necessidades básicas, como moradia, segurança, supervisão e saúde (BERNSTEIN et al., 2003).

Além de todos os fatores citados anteriormente, estudos in-

dicam que outros tipos de violência são vivenciados na infância e

adolescência, atingindo não somente as classes menos favorecidas,

mas outros níveis sociais e culturais, que podem afetar o desen-

volvimento saudável da criança ou adolescente. Essas situações po-

dem, por exemplo, ser a separação ou divórcio dos pais e(ou) lares

monoparentais, que ocorrem quando apenas um dos pais arca com

(5)

as responsabilidades de criar ou educar o(s) filho(s). Tal fenômeno ocorre, por exemplo, quando o pai não reconhece a paternidade do filho e abandona a mãe, ou quando há perdas precoces de pais ou familiares, gravidez ou uso de drogas na adolescência, ou pela rotina agitada dos pais e carga horária de trabalho excessiva. Neste último caso, o(s) filho(s) pode(m) ficar em creches ou aos cuida- dos de terceiros, o que pode não possibilitar a formação de vínculo estável com o cuidador, que pode estar ligado à alta rotatividade dos profissionais que oferecem e trabalham nesse tipo de serviço.

Outra adversidade infantil à qual crianças e adolescentes podem es- tar expostos é a ocorrência de transtornos psiquiátricos nos pais ou familiares, já que essa situação pode gerar carência afetiva, falta de cuidados e suporte, entre outros, colocando-os em vulnerabilidade social (ZAVASCHI, 2009).

2. TERAPIA OCUPACIONAL

A Terapia Ocupacional é uma profissão que aplica valores essenciais, conhecimentos e habilidades para auxiliar pessoas, or- ganizações e populações a se envolverem em atividades cotidianas ou ocupações que queiram e necessitem fazer de maneira a apoiar a saúde e a participação (CARLETO et al., 2010 apud AOTA, 2008).

A Terapia Ocupacional possui denominações diversas, e o espaço de intervenção pode ser na saúde, na educação, em progra- mas sociais, hospitais, escolas, centros comunitários, no ambiente de trabalho e doméstico. O público-alvo varia de bebês a idosos. A intervenção terapêutica ocupacional inicia-se a partir da avaliação de demandas ocupacionais, a fim de estabelecer metas e resultados que desejam ser alcançados pelo paciente, os quais podem ser: me- lhorar o desempenho ocupacional, ampliar a autonomia, garantir a inserção na comunidade, ou superar traumas e deficit sensoriais, cognitivos e funcionais (SOARES, 2007).

A Terapia Ocupacional na área social surge no Brasil no final

da década de 70 e ganha força a partir da década de 80. Durante

o regime militar, os terapeutas ocupacionais foram inseridos nas

instituições totais, como os presídios, a antiga FEBEM (Fundação

(6)

Estadual do Bem-Estar do Menor) – atualmente chamada de Fun- dação Casa –, e programas comunitários com perspectivas e deba- tes sobre a responsabilidade dos técnicos na formação de valores sociais, e para realizar questionamentos acerca do saber médico- -psicólogico sobre as formas reducionistas e a compreensão do pro- cesso de saúde e doença. A Terapia Ocupacional no campo social vem contribuir para superar a questão contraditória das sociedades, marcada pela desigualdade, dissolução de vínculos, precarização do trabalho e vulnerabilização das redes sociais (BARROS; LO- PES; GALHEIGO, 2007).

A atuação do terapeuta ocupacional com crianças e adoles- centes que vivem em situação de vulnerabilidade social e violên- cia, principalmente as que sofrem violência ou abuso sexual, está levando a uma ótica nova por parte dos profissionais não só de Te- rapia Ocupacional, mas também de outros que trabalham com essa população. A Terapia Ocupacional na prática com crianças e ado- lescentes muitas vezes foca e objetiva os aspectos motores e cogni- tivos, o neurodensenvolvimento, entre outros. Assim, o profissional não se dá conta de que muitas vezes vários desses aspectos fazem parte, direta ou indiretamente, de sinais clínicos exteriorizados por crianças e adolescentes que estão em situação de vulnerabilidade social ou violência, seja esta física, emocional, sexual ou por negli- gência (ARAUJO, 2005).

Entretanto, sabe-se da falta de publicações e as dificulda- des em manter um acervo bibliográfico específico sobre a Terapia Ocupacional no campo social, tornando assim difícil a precisão das ideias, termos ou conceitos nesse campo de atuação. Nesse sentido, o objetivo do presente estudo foi verificar na literatura quais são as abordagens realizadas pelos terapeutas ocupacionais com crianças e adolescentes em situação de vulnerabilidade social e violência.

3. MÉTODO

O método utilizado para realização deste estudo foi a revi-

são da literatura no que diz respeito a artigos científicos na área da

Terapia Ocupacional social. Os critérios de inclusão estabelecidos

(7)

para este trabalho foram de publicações em língua portuguesa dos últimos 10 anos, nas bases de dados SciELO e LILACS. A Tabela 1 representa o percurso metodológico realizado pelos autores.

Tabela 1. Artigos encontrados segundo base de dados e palavras- chave.

Base de

dados Palavras-chave Artigos encontrados

Artigos excluídos

(motivo)

Artigos incluídos SciELO

“terapia ocupacional”

AND “vulnerabilidade social” AND “violência”

AND “criança” OR

“adolescente”

N= 0 N= 0 N= 0

SciELO

“terapia ocupacional”

AND “violência”

AND “criança” OR

“adolescente”

N= 3 N=1

(por não ser em português) N=2

LILACS

“terapia ocupacional”

AND “vulnerabilidade social” AND “violência”

AND “criança” OR

“adolescente”

N=2 N=0 N=2

TOTAL N=5 N=1 N=4

Fonte: elaborado pelos autores.

Devido à escassez de artigos nas bases de dados SciELO e LILACS, procedeu-se a busca manual de artigos científicos na Re- vista de Terapia Ocupacional da USP e nos Cadernos de Terapia Ocupacional da UFSCar. Foram encontrados oito artigos condi- zentes com o tema investigado.

4. RESULTADOS/DISCUSSÃO

Após a revisão sistemática da literatura sobre o tema, foram

encontrados 12 artigos de quatro tipos diferentes: (N=3) artigo de

reflexão, (N=3) artigo original, (N=3) estudo de caso e (N=3) re-

lato de experiência. A tabela a seguir mostra a distribuição sobre a

caracterização dos artigos.

(8)

Tabela 2. Distribuição sobre a caracterização dos artigos.

Caracterização dos artigos Número de artigos Frequência (%)

Artigo de reflexão 3 25

Artigo original 3 25

Estudo de caso 3 25

Relato de experiência 3 25

Fonte: elaborado pelos autores.

Foram encontrados 12 estudos sobre as abordagens reali- zadas pelos terapeutas ocupacionais com crianças e adolescentes em situação de vulnerabilidade social e violência. Nota-se que os anos de maior publicação foram 2006, 2009, 2011 e 2014, com dois artigos em cada ano. Os anos de 2005, 2007, 2010 e 2013 têm um artigo cada. Observamos ainda que, nos anos de 2008, 2012 e 2015 (até o presente momento), não foram encontradas publicações sobre a intervenção da terapia ocupacional com crianças e adoles- centes em situação de vulnerabilidade social e violência. O gráfico a seguir demonstra a distribuição de artigos publicados de acordo com o ano.

Gráfico 1. Distribuição artigos por ano.

Fonte: elaborado pelos autores.

(9)

A metade dos artigos selecionados para a presente revisão fo- ram publicados no periódico Cadernos de Terapia Ocupacional da UFSCar. Há dois artigos que foram publicados na Revista de Tera- pia Ocupacional da USP. Os demais (N=3) artigos) foram publica- dos em periódicos diversos. A tabela a seguir mostra a distribuição de artigos de acordo com os periódicos.

Tabela 3. Distribuição de artigos de acordo com os periódicos.

Periódico Número de artigos Frequência (%) Cadernos de Terapia Ocupacional da

UFSCar 6 50

Revista de Terapia Ocupacional da USP 3 25

O Mundo da Saúde 1 8,33

Psicologia: Ciência e Profissão 1 8,33

Psicologia em Estudo 1 8,33

Fonte: elaborado pelos autores.

Foi observado ainda que, dos (N=20) autores dos artigos en- contrados nesta revisão sistemática da literatura sobre o tema, ape- nas (N=5) – Ana Paula Serrata Malfitano, Daniela Tavares Gontijo, Heliana Castro Alves, Lucivaldo da Silva Araújo e Roseli Esquerdo Lopes – tiveram seus nomes apresentados em três (N=3) artigos diferentes. Adelma do Socorro Gonçalves Pimentel e Patrícia Leme de Oliveira Borba tiveram seus nomes apresentados em dois (N=2) artigos diferentes. Os demais (N=13) autores publicaram apenas uma vez (até o presente momento) artigos relacionados sobre o tema. A tabela a seguir mostra a distribuição de autores e números de publicações.

Tabela 4. Distribuição de autores e números de publicações.

Autor Número de artigos Frequência (%)

Ana Paula Serrata Malfitano 3 9,37

Daniela Tavares Gontijo 3 9,37

Heliana Castro Alves 3 9,37

Lucivaldo da Silva Araújo 3 9,37

Roseli Esquerdo Lopes 3 9,37

Adelma do Socorro Gonçalves Pimentel 2 6,25

(10)

Patrícia Leme de Oliveira Borba 2 6,25

Carla Regina Silva 1 3,12

Carolina Cortes 1 3,12

Daniel Gustavo de Sousa Carleto 1 3,12

Elizabeth M. f. Araújo Lima 1 3,12

Erika Alves Inforsato 1 3,12

Giovanna Bardi 1 3,12

Iara Faleiros Braga 1 3,12

Izabela Alves 1 3,12

Karina Gonçalves da Silva 1 3,12

Mayra Cappellaro 1 3,12

Natalia Guimarães Mota 1 3,12

Paulo Estevão Pereira 1 3,12

Renata Monteiro Buelau 1 3,12

Fonte: elaborado pelos autores.

A partir dos periódicos encontrados, é possível observar que o assunto tem sido abordado por autores como um problema de saúde mental. Observa-se também a necessidade de estratégias te- rapêuticas eficazes, objetivando a prevenção do fenômeno da vul- nerabilidade social e da violência contra crianças e adolescentes em situação de risco, bem como a diminuição dos prejuízos no desen- volvimento da criança e do adolescente que vivenciaram diversos tipos de violências.

A violência, em suas múltiplas formas, se apresenta de for-

ma cada vez mais preocupante. Devido à grande exposição desse

assunto na mídia, ele tem se banalizado e tornado corriqueiro em

rodas de conversas, de crianças até idosos. Isso, por sua vez, nos

traz duas perspectivas sobre o assunto. A primeira corresponde ao

fato de a sociedade encarar cada caso novo como “só mais um caso

de violência”. A segunda diz respeito à perda da empatia e da per-

plexidade da sociedade diante do assunto violência, de qualquer

gênero. As notícias estão espalhadas pelas redes sociais, jornais im-

pressos e eletrônicos e são entregues aos leitores com uma veloci-

(11)

dade estrondosa, por conta da evolução da informática e da internet (PIMENTEL; ARAUJO, 2009).

A violência contra crianças e adolescentes pode gerar trans- tornos no desenvolvimento e desencadear graves patologias de- correntes de diversos tipos de traumas negativos, que podem ser constatados precocemente. A maioria das consequências, porém, não deixa marcas físicas aparentes, como o transtorno emocional e o estresse pós-traumático. Às vezes, as consequências aparecem ao longo dos anos, como surgimento de doenças físicas, baixo rendi- mento escolar, aumento da criminalidade, uso de drogas, gravidez precoce, dificuldade de relacionamentos, queixas somáticas, entre tantas outras (ZAVASCHI, 2009). Devido aos traumas vivenciados, tais como trabalho infantil, negligência, exposição a território hos- til, abuso sexual, entre outros, essas crianças e adolescentes acabam por perder a oportunidade única de ser criança, não somente pelo sentido biológico, mas principalmente por não poderem experi- mentar o aprender, intervir, evoluir, concluir, agir, além do brincar, que faz parte da aprendizagem como um todo quando se trata, prin- cipalmente, de uma criança (PIMENTEL; ARAUJO, 2007).

É importante ressaltar que as consequências imediatas do trauma vivido na infância e adolescência são os riscos de proble- mas comportamentais, incluindo comportamentos internos, que se refletem por meio de sintomas de ansiedade, depressão, queixas somáticas e inibição, e comportamentos externos, que se referem a alterações comportamentais, tais como aumento da agressividade e delinquência. Problemas relacionados a comportamentos sexuais se incluem também neste domínio (BAES; MARTINS; JURUE- NA, 2014).

O Terapeuta Ocupacional cria espaço de aprendizagem e ex-

perimentação para que crianças e adolescentes em situação de vul-

nerabilidade social e violência desenvolvam ativamente o processo

de construção da subjetividade. As oficinas oferecidas por terapeu-

tas ocupacionais podem ser compreendidas de diversas formas e

aplicadas com distintos propósitos, tais como focando recursos, o

uso e a produção de materiais, o trânsito pelos setores da cultura,

arte, esporte e lazer, trabalho e outros, conforme temáticas e objeti-

(12)

vos preestabelecidos. Assim, pode-se implementar debates sobre o cotidiano, trocas de informações a respeito do mundo de trabalho, perspectivas de vida, processos educativos sobre os deveres e di- reitos e a proteção da infância e adolescência em sua cidade entre outros temas (LOPES et al., 2014).

As oficinas de atividades nos apresentam diversas situações nas quais a criação do vínculo se torna fundamental para que se proponha uma reflexão das possibilidades de construção de novas formas de relacionamento. A estratégia pode ser elaborada em for- ma de contrato e realização de trocas para acordos estabelecidos no grupo, escutando-se as demandas e as possibilidades de participa- ção nas atividades propostas (MALFITANO et al., 2006).

A violência sofrida na infância e adolescência tem se tornado banalizada, principalmente nas classes sociais desfavorecidas. Esse público vivencia em seu cotidiano práticas de violências, o que gera estigma relacionando essa população à periculosidade. Por meio de jogos teatrais e dramatizações de cenas vividas são expressos os contextos de vida dos jovens e suas condições sociais, podendo abordar aspectos relacionados com a facilidade ao acesso a drogas e vivências cotidianas como os diversos tipos de violência, devido à vulnerabilidade social (ALVES; CONTIJO; ALVES, 2013).

A situação de vulnerabilidade social e violência contra crian- ças e adolescentes pode ser um impulso inicial para uma inter- venção da Terapia Ocupacional. O profissional, entretanto, deve também considerar como foco de intervenção as preocupações dos pais, familiares e órgãos de saúde (CARLETO; ALVES; CONTI- JO, 2010).

Dessa forma, a Terapia Ocupacional tem muito a oferecer a essa população, tendo em vista que, dentro da prática da Terapia Ocupacional, cria-se o campo de experimentação e escolha ao indi- víduo, um espaço para ele exercer a sua autonomia e independên- cia, e onde pode ter um enfrentamento de determinada situação.

Esse espaço oferecido pela Terapia Ocupacional se torna funda-

mental para a criação de novos territórios existenciais e, conse-

quentemente, para produção de vida dessas crianças e adolescentes

(BUELAU; INFORSATO; LIMA, 2009).

(13)

Além disso, o trabalho da Terapia Ocupacional na comunida- de escolar com crianças e adolescentes pode proporcionar a cons- trução de estratégias e programas com objetivo de possibilitar a realização de ações focadas na reflexão da personalidade. Entende- -se, assim, esses sujeitos como cidadãos inseridos no contexto so- cial e permeáveis, portanto, aos conflitos e valores evidenciados na sociedade por fenômenos como a violência, que interfere na forma de desempenhar seus papéis sociais no futuro (CÔRTES; CONTI- JO; ALVES, 2011). Para o fortalecimento das redes sociais, aponta- -se a necessidade de ações da Terapia Ocupacional junto às famílias de origem ou substitutas, à escola e a instituições de acolhimento.

Oferecem-se, dessa forma, oportunidades e condições necessárias de saúde e bem-estar, considerando que um único ambiente pode apresentar fatores que ampliam ou limitam o desempenho ocupa- cional (CARLETO; ALVES; CONTIJO, 2010).

Após todas essas reflexões realizadas sobre a Terapia Ocupa- cional com essa população em situação de vulnerabilidade social e violência, nota-se o quanto é importante a questão do vínculo terapêutico, do paciente com toda a equipe, mas principalmente com os profissionais da Terapia Ocupacional. Isso porque cria-se um espaço para a revisão de suas posturas, para o enfrentamento e para estratégias que visem acabar com as situações vivenciadas rotineiramente por essas crianças e adolescentes ou ao menos ame- nizá-las, sem tanto medo e sem tantos preconceitos. Deve-se men- cionar também as orientações realizadas junto ao núcleo familiar.

Esse processo conta com a colaboração fundamental da família, que deve estar presente no período de vinculação e proporcionar possibilidades de uma melhor apreensão e de esclarecimentos em torno das questões vividas pelas crianças e adolescentes e todas as decorrências desse aspecto em sua vida (LOPES; BORBA; CA- PELLARO, 2011).

5. CONSIDERAÇÕES FINAIS

A pesquisa realizada sobre a atuação da Terapia Ocupacional

com crianças e adolescentes em situação de vulnerabilidade e vio-

lência possibilitou a identificação de um grande campo de trabalho

(14)

com essa população, imposta a desigualdades, contradições sociais e confrontos culturais. Através dos recursos terapêuticos utilizados de acordo com a necessidade do contexto, pretende-se proporcionar um desenvolvimento saudável a esses indivíduos. Portanto, é funda- mental que o profissional conheça as diferentes formas de violência para que se possibilite diminuir as consequências no desenvolvi- mento da criança ou adolescente, considerando que a problemática pode ter origem em contextos sociais, ambientais, culturais e po- líticos, exigindo uma abordagem multissetorial do profissional. O terapeuta ocupacional pode contribuir para o desenvolvimento de propostas de promoção e manutenção da saúde.

Por fim, é fundamental para o crescimento e fortalecimento da profissão que os terapeutas ocupacionais produzam e divulguem trabalhos científicos.

REFERÊNCIAS

ALVES, I.; GONTIJO, D. T.; ALVES, H. C. Teatro do oprimido e Terapia Ocupacional: uma proposta de intervenção com jovens em situação de vulnerabilidade social. Cad. Ter. Ocup. UFSCar, São Carlos, v. 21, n. 2, p. 325- 337, 2013. Disponível em: <http://dx.doi.org/10.4322/cto.2013.034>. Acesso em: 22 ago. 2017.

AMERICAN OCCUPATIONAL THERAPY ASSOCIATION – AOTA.

Occupational therapy practice framework: domain and process. 2. ed. The American Journal of Occupational Therapy, v. 62, n. 6, p. 625-683, 2008.

Disponível em: <https://ajot.aota.org/article.aspx?articleid=1867122>. Acesso em: 22 ago. 2017.

______. Estrutura da prática da Terapia Ocupacional: domínio e processo.

2. ed. Rev. Triang.: Ens. Pesq. Ext. Uberaba, v. 3. n. 2, p. 57-147, jul./dez.

2010. Disponível em: <http://seer.uftm.edu.br/revistaeletronica/index.php/

revistatriangulo/article/view/150/177>. Acesso em: 22 ago. 2017.

ARAUJO, L. S. Maus tratos infantis, singularidade e contexto: um desafio para clínica da Terapia Ocupacional. Cad. Ter. Ocup. UFSCar, São Carlos, v. 13, n. 2, p. 77-89, 2005. Disponível em: <http://www.cadernosdeterapiaocupacional.

ufscar.br/index.php/cadernos/article/view/168/125>. Acesso em: 22 ago. 2017.

(15)

AZEVEDO, M. A.; GUERRA, V. N. Z. Vitimação e vitimização: questões conceituais. In: AZEVEDO, M. A.; GUERRA, V. N. Z. (Orgs.). Crianças vitimizadas: a síndrome do pequeno poder. São Paulo: Iglu, 2007. p. 25-47.

BAES, C. W.; MARTINS, C. M. S.; JURUENA, M. F. Diagnóstico e tratamento do stress nos transtornos afetivos na infância e na adolescência. In: LIPP, M.

(Org.). Stress em crianças e adolescentes. Campinas: Papirus Editora, 2014.

p. 77-98.

BARROS, D. D.; LOPES, R. E.; GALHEIGO, S. M. Terapia Ocupacional Social:

concepção e perspectivas. In: CAVALCANTI, A.; GALVÃO, C. (Orgs.). Terapia ocupacional: fundamentação e prática. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2007.

p. 347-353.

BERNSTEIN, D. P. et al. Development and validation of a brief screening version of the childhood trauma questionnaire. Child Abuse Negl., v. 27, n. 2, p. 169- 190, 2003. Disponível em: <https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/12615092>.

Acesso em: 22 ago. 2017.

BUELAU, R. M.; INFORSATO, E. A.; LIMA, E. M. F. A. Exercícios de sonhar junto: criatividade e experiências estéticas no acompanhamento de uma criança.

Rev. Ter. Ocup. Univ. São Paulo, v. 20, n. 3, p. 164-170, set./dez. 2009. Disponível em: <https://www.revistas.usp.br/rto/article/download/14072/15890>. Acesso em: 22 ago. 2017.

CARLETO, D. G. S.; ALVES, H. C.; GONTIJO, D. T. Promoção de saúde, desempenho ocupacional e vulnerabilidade social: subsídios para a intervenção da Terapia Ocupacional com adolescentes acolhidas institucionalmente. Rev. Ter.

Ocup. Univ. São Paulo, v. 21, n. 1, p. 89-97, jan./abr. 2010.

Disponível em: <https://www.revistas.usp.br/rto/article/

download/14090/15908>. Acesso em: 22 ago. 2017.

CÔRTES, C.; GONTIJO, D. T.; ALVES, H. C. Ações da Terapia Ocupacional para a prevenção da violência com adolescentes: relato de pesquisa. Rev. Ter.

Ocup. Univ. São Paulo, v. 22, n. 3, p. 208-215, set./dez. 2011. Disponível em: <https://www.revistas.usp.br/rto/article/view/46384/50141>. Acesso em:

22 ago. 2017.

LOPES, R. E. Terapia ocupacional social e a infância e a juventude pobres:

experiências do Núcleo UFSCar do Projeto METUIA. Cad. Ter. Ocup. UFSCar, v. 14, n. 1, 2006. Disponível em: <http://www.cadernosdeterapiaocupacional.

ufscar.br/index.php/cadernos/article/view/162/118>. Acesso em: 22 ago. 2017.

LOPES, R. E.; BORBA, P. L. O. B.; CAPPELLARO, M. Acompanhamento individual e articulação de recursos em Terapia Ocupacional Social:

compartilhando uma experiência. O Mundo da Saúde, São Paulo, v. 35, n. 2,

(16)

p. 233-238, 2011. Disponível em: <http://bvsms.saude.gov.br/bvs/artigos/

acompanhamento_individual_articulacao_recursos_terapia.pdf>. Acesso em: 22 ago. 2017.

LOPES, R. E. et al. Recursos e tecnologias em Terapia Ocupacional Social: ações com jovens pobres na cidade. Cad. Ter. Ocup. UFSCar, São Carlos, v. 22, n. 3, p. 591-602, 2014. Disponível em: <http://www.cadernosdeterapiaocupacional.

ufscar.br/index.php/cadernos/article/view/1114/574>. Acesso em: 22 ago. 2017.

MALFITANO, A. P. S. et al. A promoção de direitos e crianças e adolescentes em situação de vulnerabilidade social: oficina de brincadeiras como recursos.

Cad. Ter. Ocup. UFSCar, São Carlos, v. 14, n. 2, p. 103-110, 2006. Disponível em: <http://www.cadernosdeterapiaocupacional.ufscar.br/index.php/cadernos/

article/view/159/115>. Acesso em: 22 ago. 2017.

PEREIRA, P. E.; BARDI, G.; MALFITANO, A. P. S. Juventude, drogas e a desconstrução de paradigmas estabelecidos. Cad. Ter. Ocup. UFSCar, São Carlos, v. 22, n. Suplemento Especial, p. 49-60, 2014. Disponível em: <http://

www.cadernosdeterapiaocupacional.ufscar.br/index.php/cadernos/article/

view/1038/517>. Acesso em: 22 ago. 2017.

PIMENTEL, A. S. G.; ARAUJO, L. S. Concepção de criança na pós- modernidade. Psicologia: Ciência e Profissão, v. 27, n. 2, p. 184-193, 2007.

Disponível em: <http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid

=S1414-98932007000200002>. Acesso em: 22 ago. 2017.

______. Hermenêutica gestáltica de uma violência sexual intrafamiliar. Psicologia em Estudo, Maringá, v. 14, n. 4, p. 659-667, out./dez. 2009. Disponível em:

<http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S1413-73722009000400006&script=sci_

abstract&tlng=pt>. Acesso em: 22 ago. 2017.

SOARES, L. B. T. História da Terapia Ocupacional. In: CAVALCANTI, A.;

GALVÃO, C. (Orgs.). Terapia Ocupacional: fundamentação e prática. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2007. p. 3-9.

ZAVASCHI, M. L. S. Crianças vulneráveis. In: ZAVASCHI, M. L. S. et al.

Crianças e adolescentes vulneráveis: o atendimento interdisciplinar nos centros

de atenção psicossocial. Porto Alegre: Artmed, 2009. p. 23-42.

Referências

Documentos relacionados

1 Instituto de Física, Universidade Federal de Alagoas 57072-900 Maceió-AL, Brazil Caminhadas quânticas (CQs) apresentam-se como uma ferramenta avançada para a construção de

E ai reside a importância da educação estética, onde a arte torna- se mecanismo que acompanha toda a existência humana, não só como complemento mas como resultado

Os pergaminhos contendo estes textos conservam-se actualmente em diversos fundos arquivísticos dos AN/TT – este volume concentra-se sobretudo na reforma dos

Instituto Cultural São Francisco de Assis – CPCA e Presidente do CMDCA: Gente, 247.

Costa (2001) aduz que o Balanced Scorecard pode ser sumariado como um relatório único, contendo medidas de desempenho financeiro e não- financeiro nas quatro perspectivas de

(iv) a alteração do Suplemento da 1ª Emissão de Cotas Ordinárias constante do Anexo V ao Regulamento do Fundo, nos termos da proposta da Administradora, para prever que, após (1)

Embalagem: caixa cm 12 cores diversas, com dados de identificação do produto e marca do fabricante, madeira 100% reflorestada. Cx

Foi possível constatar a eficácia do tratamento farmacológico, que tem como objetivo minimizar e controlar sintomas como: fadiga, dor generalizada, sono não reparador e transtorno