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EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR DESEMBARGADOR PRESIDENTE DO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DA BAHIA

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EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR DESEMBARGADOR PRESIDENTE DO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DA BAHIA

Ementa: Acusado preso desde 24/05/2019.

Ação penal suspensa em razão de incidente de insanidade mental, instaurado equivocadamente em dois autos distintos.

Ofício expedido ao HCT solicitando realização de exame apenas em 10/09/2019. Ausência de previsão de realização da perícia. Prazo legal de 45 dias para conclusão do incidente há muito superado, devido tão-somente à desídia estatal. Constrangimento ilegal evidenciado.

Triagem nº [NÚMERO]

A DEFENSORIA PÚBLICA DO ESTADO DA BAHIA, instituição essencial à justiça, instrumento de efetivação dos direitos humanos, neste ato presentada pela Defensora Pública signatária, no uso de suas atribuições legais, vem, respeitosamente, perante Vossa Excelência, com fulcro no art. 5º, LXVII, da Constituição Federal e arts. 647 e 648, I e II, do Código de Processo Penal, impetrar a presente ordem de

HABEAS CORPUS C/C PEDIDO LIMINAR

em favor de [NOME COMPLETO DO(A) ASSISTIDO(A)], qualificado nos autos de origem,

[NACIONALIDADE], [ESTADO CIVIL], nascido em [DATA], RG [NÚMERO], filho de [NOME DOS

GENITORES], residente na [ENDEREÇO], o qual sofre constrangimento ilegal em decorrência

de ato do Excelentíssimo Senhor Doutor Juiz de Direito da 1ª Vara Criminal da Comarca de

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Amargosa/BA, no bojo da Ação Penal nº [NÚMERO], consoante as razões de fato e de direito a seguir aduzidas.

I – SÍNTESE DOS FATOS

O Paciente foi preso em cumprimento de mandado de prisão preventiva, em 24/05/2019, por alegado descumprimento de medida cautelar imposta no bojo da Ação Penal nº [NÚMERO], na qual lhe é imputada a prática do crime tipificado no artigo 158, do Código Penal, conforme decisão de f. 132/134 (vide ofício de f. 146).

Ocorre que no bojo da referida Ação Penal, após a realização da audiência de instrução, em 12/09/2018, o Ministério Público havia suscitado incidente de insanidade mental, o qual foi instaurado pelo Juízo coator na mesma oportunidade (cf. termo de audiência de f. 122/123).

Assim, foram instaurados - equivocadamente - dois autos em apartado, para processar o incidente, de n. [NÚMERO] (em 09/10/2018) e de n. [NÚMERO] (em 02/05/2019).

Na decisão que instaurou o incidente, a autoridade coatora estabeleceu que “O exame deverá ser realizado através de rede pública responsável pela saúde mental do município de Amargosa, devendo a secretaria de assistência social do município adotar as providências para a realização do exame, no prazo de 30 dias”.

Conforme se verifica às f. 14/15 dos autos do Incidente de Insanidade Mental nº [NÚMERO] (o segundo a ser instaurado), o ofício à Secretaria de Assistência Social foi entregue apenas em 09/05/2019.

Em 10/05/2019, o ofício foi respondido, no sentido de que, por se tratar de questão de saúde, a atribuição seria da Secretaria Municipal de Saúde, e não da Assistência Social (f.

13 dos Autos nº [NÚMERO]).

Em 29/08/2019, a Defensoria Pública protocolou, em favor do Paciente, pedido de

relaxamento da prisão preventiva por excesso de prazo, tendo em vista que já se encontrava

preso há cerca de 90 (noventa) dias, sem qualquer previsão de submissão a exame de sanidade

mental.

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Acolhendo o parecer ministerial, a autoridade coatora INDEFERIU o pedido, conforme decisão de f. 183/184, datada de 13/09/2019.

Em 10/09/2019, foi encaminhado ofício pela autoridade coatora ao Hospital de Custódia e Tratamento, para realização da perícia médica (f. 19/20 e 24/26 dos Autos nº [NÚMERO]).

Em 13/09/2019 foi certificado nos autos do Incidente de Insanidade Mental nº [NÚMERO] (o primeiro a ser instaurado), a duplicidade dos procedimentos, constando que o andamento seria dado nos Autos nº [NÚMERO] (f. 18).

Até o presente momento, não há notícia de quando será realizado o exame de sanidade mental do Acusado, custodiado há quase 04 (quatro) meses.

II – DO CONSTRAGIMENTO LEGAL POR EXCESSO DE PRAZO NA PERSECUÇÃO PENAL

O Paciente se encontra preso cautelarmente há 03 (três) meses, 03 (três) semanas e 05 (cinco) dias, sem que se tenha concluído o incidente de insanidade mental, cuja instauração foi determinada quando ainda se encontrava solto, em 12/09/2018.

No atual estágio do estado democrático de direito, não é lícito ao Estado demorar excessivamente para concluir procedimento da seara penal no qual esteja em jogo o direito de liberdade do cidadão, consagrado e reforçado pela cláusula do status de inocência.

É nesse sentido a prescrição contida no artigo 5º, LXXVIII, da Constituição Federal:

Art. 5º. Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes:

(...)

LXXVIII – a todos, no âmbito judicial e administrativo, são assegurados a razoável duração do processo e os meios que garantam a celeridade de sua tramitação. Grifo não original

.

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O citado dispositivo constitucional, acrescentado pela Emenda Constitucional n.º 45/2004, versa sobre garantia do acusado de obter uma tutela jurisdicional de maneira eficiente e sem dilação temporal indevida.

Nesse sentido, cabe registrar que nossa Constituição Federal, ao estabelecer a referida garantia, reproduziu a mens legis contida no artigo 7º, § 5º, da Convenção Americana de Direitos Humanos (Dec. 678/92), que há muito já trazia a exigência normativa de se ter uma duração razoável do processo. Por oportuno, transcreve-se o texto da norma internacional, já incorporada ao nosso ordenamento jurídico, desde o ano de 1992:

Art. 7º (...)

§ 5º. Toda pessoa detida ou retida deve ser conduzida, sem demora, à presença de um juiz ou outra autoridade autorizada pela lei a exercer funções judiciais e tem direito a ser julgada dentro de um prazo razoável ou a ser posta em liberdade, sem prejuízo de que prossiga o processo. Sua liberdade pode ser condicionada a garantias que assegurem o seu comparecimento em juízo.

(grifo nosso).

Assim, estando o conteúdo normativo da duração razoável do processo alocado no núcleo constitucional de direitos e garantias fundamentais, é forçoso concluir que a tal norma deva se conferir a máxima efetividade possível, ab-rogando qualquer interpretação que relativize o seu alcance.

Na hipótese vertente, em que a duração da prisão cautelar do Acusado já soma quase 04 (quatro) meses, sem que se tenha concluído o incidente de insanidade mental por razões as quais não deu causa, resta configurado o excesso de prazo na duração deste processo, devendo, em razão disso, a prisão ser relaxada, nos termos do que determina o artigo art. 5º, LXV, da Constituição.

Vale destacar que o art. 400, do CPP, fixa o prazo de QUARENTA E CINCO DIAS para a conclusão do incidente, salvo se os peritos demonstrarem a necessidade de maior

prazo (o que não ocorreu no presente caso).

Porém, a prisão sob exame perdura desde o dia 24/05/2019, ou seja, HÁ QUASE 120

(CENTO E VINTE) DIAS, não existindo um único motivo razoável que justifique a mantença

do réu na prisão por tão longo período de tempo, aguardando a realização do exame de

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É de se destacar, por oportuno, que o excesso de prazo não pode ser atribuído ao Paciente ou a sua Defesa.

Pelo contrário: houve, data vênia, uma inaceitável confusão acerca do processamento do incidente de insanidade mental no Juízo a quo. Com efeito, após mais de UM ANO da determinação de instauração do incidente, não houve solução ao procedimento, tendo sido instaurados equivocadamente dois autos distintos.

E mais: mesmo tendo sido o Acusado preso no curso do procedimento, em 24/05/2019, somente em 10/09/2019 é que foi expedido ofício ao Hospital de Custódia e Tratamento solicitando a realização da perícia. Ou seja, mais de três meses depois.

Na decisão que indeferiu o pedido de relaxamento da prisão, a autoridade coatora assim justificou:

No que concerne ao pedido de relaxamento da prisão, consigne-se que não há excesso prazal, considerando que se trata de feito complexo, no bojo do qual foi instaurado incidente de insanidade mental, o que justifica a dilação dos prazos processuais.

Destarte, considerando a especificidade do caso, o processo vem tramitando regularmente, estando pendente a realização de perícia, já tendo sido providenciado o envio de ofício ao Hospital de Custódia e Tratamento, de modo que não observo que o tempo de custódia cautelar do acusado ultrapassou os limites da razoabilidade.

Ocorre que, em verdade, a demora na conslusão do procedimento não se deve a uma suposta complexidade do feito, mas sim à desídia do Judiciário em providenciar os expedientes necessários para realização do exame. Ora, o ofício ao HCT somente foi encaminhado mais de três meses após a prisão do Paciente!

Destarte, é flagrante a ilegalidade da custódia cautelar, por manifesto excesso de prazo na conclusão do incidente de insanidade mental.

Afinal, o prazo de quarenta e cinco dias já foi em muito extrapolado, tendo

atingido mais que o DOBRO do prazo legal, sem qualquer justificativa apresentada

nos autos.

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Sobre o tema, a jurisprudência:

HABEAS CORPUS CRIME - ART. 157, §§ 1º E 2º, INCISO II, DO CÓDIGO PENAL E ART. 28 DA LEI 11.343/06 - ALEGAÇÃO QUANTO A EXISTÊNCIA DE EXCESSO DE PRAZO PARA REALIZAÇÃO DE EXAME DE INSANIDADE MENTAL - CONSTRANGIMENTO ILEGAL CONFIGURADO - PECULIARIDADES DO CASO EM CONCRETO - ORDEM CONHECIDA E CONCEDIDA, MEDIANTE APLICAÇÃO DE MEDIDAS CAUTELARES DIVERSAS. (TJ-PR - HC: 16307881 PR 1630788-1 (Acórdão), Relator: RUY ALVES HENRIQUES FILHO, Data de Julgamento: 23/02/2017, 5ª Câmara Criminal, Data de Publicação: DJ: 1992 20/03/2017) (grifo nosso)

"HABEAS CORPUS" - TRÁFICO DE DROGAS - INSTAURAÇÃO DE INCIDENTE DE INSANIDADE MENTAL - EXCESSO DE PRAZO PARA A FORMAÇÃO DA CULPA CONFIGURADO - DEMORA NA REALIZAÇÃO DO EXAME QUE NÃO PODE SER ATRIBUÍDA À DEFESA - ORDEM CONCEDIDA. - Embora a instauração do incidente de insanidade mental tenha sido requerida pela defesa, a demora para a sua realização não pode ser atribuída esta, tendo em vista o paciente não pode ser prejudicado pelas deficiências do Estado. (TJ-MG - HC:

10000130856016000 MG, Relator: Catta Preta, Data de Julgamento:

12/12/2013, Câmaras Criminais / 2ª CÂMARA CRIMINAL, Data de Publicação:

10/01/2014) (grifo nosso)

Assim, ante o exposto, a única solução possível é o relaxamento da prisão, porque ilegal, ante o manifesto excesso de prazo, a teor do art. 5º, LXV, da Constituição da República.

III - DA MEDIDA LIMINAR

O Habeas Corpus, embora ostente um procedimento sumaríssimo, sofre uma certa demora quanto à decisão definitiva de mérito, quer, por ser necessário, às vezes, a apresentação do Paciente, quer pela requisição de informações da autoridade coatora, quer pela oitiva do Ministério Público.

Contudo, com a ocorrência do fumus bonis iuris (constrangimento ilegal incidente sobre

o paciente) e do periculum in mora (grave dano de difícil ou mesmo impossível reparação a

liberdade física do Paciente), se faz imperativo o acolhimento da pretensão em sede de

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LIMINAR, expedindo-se a ordem, incontinenti, em favor do Paciente, a fim de que possa ver restaurado o seu direito constitucional de locomoção.

Apesar de não haver previsão legal para a concessão de liminar em sede de Habeas Corpus, a doutrina e a jurisprudência dominante vêm admitindo essa possibilidade.

Nesse sentido é a lição do doutrinador Guilherme de Souza Nucci:

A possibilidade de concessão de liminar em habeas corpus, viabilizando a pronta cessação do constrangimento apontado pelo impetrante, não se encontra prevista em lei. Trata-se de criação jurisprudencial, hoje consagrada no âmbito de todos os tribunais brasileiros. A primeira liminar ocorreu no Habeas Corpus 27.200, impetrado no Superior Tribunal Miliar por Arnoldo Wald em favor de Evandro Moniz Corrêa de Menezes, dada pelo Ministro Almirante de Esquadra José Espíndola, em 31 de agosto de 1964;logo, em pleno regime militar.1

No presente caso é manifesta a necessidade de concessão da ordem liminar, haja vista que o Paciente se encontra preso há quase 120 (cento e vinte) dias, sem que tenha se encerrado o incidente de insanidade mental, cujo prazo legal é de 45 (quarenta e cinco) dias.

IV - DO PEDIDO

Ante o exposto, requer seja o pleito julgado pela concessão liminar da ordem de Habeas Corpus em favor de [NOME], expedindo-se o competente alvará de soltura, de modo a que possa o Paciente aguardar o julgamento do Writ em liberdade; após, seja a ordem concedida, ratificando-se a liminar, para que possa o Paciente responder ao processo solto.

Requer também seja intimada a Defensoria Pública com atribuição para atuar no presente feito em 2ª Instância, para, querendo, exercer direito de sustentação oral.

DECLARO, por fim, para todos os fins de direito, com fundamento no art. 108, inciso III, da Lei Complementar Federal nº 80/94, que as cópias que instruem o presente pedido são autênticas e conferem com os originais.

1NUCCI, Guilherme de Souza. Habeas Corpus. 2 ed. Rio de Janeiro: Forense, 2014, p. 149.

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Pede deferimento.

Amargosa/BA, 19 de setembro de 2019.

JÚLIA ARAÚJO DE ABREU

Defensora Pública

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