• Nenhum resultado encontrado

OS ASSENTAMENTOS RURAIS NA CAMPANHA OCIDENTAL DO RIO GRANDE DO SUL E SUAS FORMAS DE EXPRESSÃO NO TERRITÓRIO

N/A
N/A
Protected

Academic year: 2021

Share "OS ASSENTAMENTOS RURAIS NA CAMPANHA OCIDENTAL DO RIO GRANDE DO SUL E SUAS FORMAS DE EXPRESSÃO NO TERRITÓRIO"

Copied!
10
0
0

Texto

(1)

OS ASSENTAMENTOS RURAIS NA CAMPANHA OCIDENTAL DO

RIO GRANDE DO SUL E SUAS FORMAS DE EXPRESSÃO NO

TERRITÓRIO

Marina FeldensHeineck1 Rosa Maria Vieira Medeiros2 Michele Lindner3

Resumo

A Macrorregião da Campanha Gaúcha, situada no sudoeste do Rio Grande do sul vêm modificando-se ao longo dos anosdevido á instalação de assentamentos de reforma agrária no território. A paisagem, a economia e a sociedade transformam-se e (re)transformam-se conforme a chegada de novas famílias agricultoras que se instalam nos assentamentos. Com foco na microrregião da Campanha Ocidental gaúcha, pertencente á mesorregião da Campanha, o trabalho a seguir tem como objetivo a compreensão destas transformações proporcionadas por estes novos territórios e a mescla de cultura proveniente da interação das famílias que chegam na região e os habitantes locais.

Palavras-chave: Assentamentos; Campanha Ocidental Gaúcha; Transformações socioterritoriais.

Introdução

A Campanha Gaúcha (Mesorregião Sudoeste Rio-Grandense), está localizada no Sudoeste do estado do Rio Grande do Sul e abrange três microrregiões: a Campanha Ocidental, a Campanha Meridional e a Campanha Central ( Figura 1.0). A microrregião de recorte espacial da pesquisa aqui apresentada é a Campanha Ocidental,a qual é composta por 10 municípios: Alegrete, Barra do Quaraí, Uruguaiana, Manoel Viana, São Francisco de Assis, São Borja, Itaqui, Maçambará,Garruchos e Quaraí. Estes municípios possuem variados números de habitantes, que oscilam entre 4.828 pessoas no município de Maçambará, o município de menores índices populacionais, e 125.435 pessoas em Uruguaiana, município com maior número de habitantes da microrregião. (Figura 2.0)

1Universidade Federal do Rio Grande do Sul (Licenciatura em Geografía/ NEAG UFRGS).

2Universidade Federal do Rio Grande do Sul (Profesora do Departamento de Geografia/ POSGEA UFRGS/

NEAG UFRGS).

3Universidade Federal do Rio Grande do Sul (Licenciatura em Geografia/ Pesquisidora PNPD/CAPES POSGEA

(2)

Figura 1.0- As microrregiões da Campanha Gaúcha. Fonte: IBGE (2016)

A imagem a cima, com informações retiradas do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, mostra as três microrregiões que compõe a mesorregião da Campanha Gaúcha, já a imagem abaixo, refere-se aos municípios pertencentes à nossa área de estudos, a Campanha Ocidental Gaúcha.

(3)

Figura 2.0- Os municípios da microrregião da Campanha Ocidental do Rio Grande do Sul. Fonte: IBGE (2015)

(4)

O Sudoeste do Rio Grande do Sul trás como bagagem histórico-cultural a presença de grandes latifúndios com criação extensiva de gado bovino e de monoculturasde soja e arroz. A paisagem molda-se a estas extensas propriedades em meio às coxilhas, caracterizadas pela presença de pastagens.

Em meados de 1990, os movimentos de luta pela terra em suas disputas sócioterritoriais, conquistaram os primeiros assentamentos de Reforma Agrária na Campanha Gaúcha, dando início a maior concentração de assentamentos do estado do Rio Grande do Sul, inicialmente, na década de 1990. Durante esta década, segundo o INCRA, houve a instalação de 36 assentamentos na região, cujos mesmos trouxeram um grande número de famílias de agricultores sem-terra vindas de diferentes municípios do estado.

É com este panorama, que esses novos sujeitos se depararam em sua chegada à Microrregião da Campanha Ocidental ,cuja cultura, economia e sociedade, eram distintas de sua área de origem. São, portanto novos atores inseridos neste território. São novas práticas decorrentes de processos sociais contidos na experiência de vida dos agricultores assentados envolvendo formas de produção e uso da terra.

Assim, o objetivo desta pesquisa é conhecer, compreender a analisar estes processos de transformação, a constituição desses novos territórios e territorialidades gerados pela interação do tradicional e do novo, neste recorte espacial, para que consigamos entender as dinâmicas que cercam estes diferentes territórios que são gerados em meio à Microrregião Ocidental da Campanha Gaúcha e que refletem, em distintas escalas, em outros espaços que compõem não somente a microrregião onde os assentamentos estão inseridos.

Quando nos referimos ao tradicional e o novo, não necessariamente estamos expressando que o tradicional se refere aos moradores que já estão territorializados na Campanha Ocidental que utilizam técnicas tradicionais e o novo aos sujeitos assentados que trazem novas técnicas, mas, à oscilação do ponto de vista do que é tradicional e do que é novo. Para os moradores da região já identificados com o local, o tradicional é rompido à medida que a chegada de novos sujeitos com técnicas também tradicionais ( no ponto de vista do método utilizado em seus locais de origem) vão de encontro aos métodos tradicionais da Campanha.

(5)

A metodologia empregada na pesquisa divide-se em duas etapas. A primeira delas constituída pela revisão bibliográfica acerca da temática proposta e a coleta de dados sobre os assentamentos da Microrregião, consultados em órgãos federais como INCRA (Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária), o Censo Agropecuário do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), tendo como base o último censo realizado em 2007 e o portal SIGRA (Sistema Integrado de Gestão Rural), que nos deram bases quantitativas sobre os assentamentos e propiciaram a análise de dados de produção, população, fundação dos assentamentos, número de hectares pertencentes aos sujeitos assentados, entre outros. Além destes, nos proporcionaram também, analisar as culturas tradicionalmente cultivadas na Campanha Ocidental, o tamanho das propriedades de terra e outros aspectos que permitiram observar de ambos os lados o encontro da cultura dos sujeitos assentados e dos sujeitos habitantes da microrregião.

Na segunda parte da pesquisa foram realizados os trabalhos de campo nos Assentamentos da Região da Campanha Ocidental, com o objetivo de realizar observações, entrevistas e aplicação de questionários com assentados, técnicos, representantes dos poderes públicos e moradores dos municípios onde os assentamentos estão localizados. Esta etapa contribuiu significativamente com a pesquisa ao passo que a análise qualitativa passa a ser a chave da compreensão das interpretações dos sujeitos envolvidos nas dinâmicas territoriais presentes neste meio. Com isso busca-se captar as percepções acerca da temática abordada e realizar uma análise quali-quantitativas das informações obtidas nesta etapa.

Os assentamentos rurais na microrregião da Campanha Ocidental

Atualmente na Campanha Gaúcha existem 86 assentamentos que abrigam 3.310 famílias, em aproximadamente 83.493,1083 ha de terra que se encontram divididas entre as três microrregiões da Campanha. Na Campanha Central, são 40 assentamentos com 1.669 famílias instaladas em 42.951,37 ha; na Campanha Meridional, são 34 assentamentos formados pelas 1.148 famílias instaladas nos 28.287,9 ha; e a Campanha Ocidental com 12 assentamentos e 496 famílias assentadas em uma área de 12.253,84 ha.

Nota-se que nossa área de estudo é marcada por possuir menos assentamentos em comparação às outras microrregiões que compõe a Campanha Gaúcha, estes 12 assentamentos estão distribuídos nas cidades de Uruguaiana, com 01 assentamento e abrigando cerca de 7

(6)

famílias; São Borja com 04 assentamentos e 77 famílias distribuídas entre eles; São Francisco de Assis com 01 assentamento e 25 famílias; Manoel Viana com 02 assentamentos que abrigam 223 famílias; Garrunchos com 01 assentamento e 45 famílias e Alegrete que possui 03 assentamentos e abriga 116 famílias. Observa-se também, que nem todos os municípios que compõe a área de estudo possuem assentamentos instalados, na tabela a seguir (Figura 3.0) podemos observar os assentamentos da microrregião , seus hectares, número de famílias abrigadas e seus respectivos anos de instalação.

Município Projeto de assentamento Número de hectares Número de famílias Ano de instalação Alegrete ACAUE 328,8554 ha 12 2004

Alegrete UNIDOS PELA

TERRA 1.224,23 ha 42 2009 Alegrete NOVO ALEGRETE 1.197,15 ha 62 2008 Garrunchos SÃO DOMINGOS 722 ha 44 1999

Manoel Viana SANTA

MERCEDES

394,0199 ha 7 2009

Manoel Viana SANTA MARIA 6.118,42 ha 216 1999

São Borja FAZENDA

CASSACAN

395,3157 ha 15 2002

São Borja CRISTO

REDENTOR

255 ha 15 1999

São Borja CAMBUCHIM 600,63 ha 30 1998

(7)

São Francisco de Assis

JAGUARI 534,6172 ha 25 2009

Uruguaiana IMBAA 81,5367 ha 7 1996

Figura 3.0 – Tabela de assentamentos da Campanha Ocidental Gaúcha. Fonte: IBGE,2015

Como podemos observar na tabela a cima, o primeiro assentamento da Microrregião da Campanha Ocidental foi criado em 1996, na cidade de Uruguaiana. Este é o assentamento Imbaa que abriga 7 famílias em uma área de 81,5367 ha. Na mesma década, foram instalados cerca de mais cinco assentamentos e nos anos 2000 mais 7, cujo últimos foram instalados no ano de 2009 em São Francisco de Assis, Manoel Viana e Alegrete.

As famílias que residem nos assentamentos provêm de diversas partes do Rio Grande do Sul, e, com a chegada destes agricultores nos assentamentos, foram construídos novos espaços de reprodução econômica, social e cultural. Como conseqüência se alterou também algumas dinâmicas de poder sobre o território. O território é assim como um espaço político, um jogo político, um lugar de poder. Definir seus limites e recortá-lo é sinônimo de dominação, de controle. O domínio entre pessoas e nações passa pelo exercício do controle do solo (MEDEIROS, 2009, p.217). Este exercício de poder sobre o território é dinamizado a partir do rompimento da tradicional dominação dos latifúndios monocultores da região, que mescla, além da economia, sociedade e cultura, a paisagem da região.

Esta dinâmica que envolveu e ainda envolve as famílias agricultoras dos assentamentos da microrregião da Campanha Ocidental impacta social e economicamente e reconfigura também, como vimos, a paisagem local. Primeiramente, a quantidade de famílias assentadas necessita de novas demandas, ou seja, maior quantidade de postos de saúde, de escolas, energia elétrica e água, além de estradas para facilitar o acesso entre a cidade e os assentamentos. A modificação paisagística do lugar, tradicionalmente marcado por campos cobertos de gramíneas, fica evidente com a presença de uma agricultura diversificada e de moradias das famílias assentadas.

(8)

paisagem é mesclada com a presença dos assentamentos em meio ás tradicionais criações de gado e ovinos, além da monocultura da soja e do arroz. Pode-se dizer também que, famílias que moram entorno dos assentamentos também consomem produtos originados destes territórios e, portanto, participam desta mudança paisagística, econômica e social, que, aos poucos transforma, também, o poder predominante na região.

A produção nos assentamentos, além de diversificada, envolve a diferença nos métodos de cultivo. No município de Manoel Viana, um dos assentamentos que produz o Arroz Ecológico, os assentamentos passam por uma transição de um cultivo sem agrotóxicos, pesticidas e fertilizantes químicos, para um cultivo baseado em princípios da agroecologia, onde o cuidado com a natureza, alimentação e sociedade interagem com uma ciência rica em interdisciplinaridade. Este modo de produção vai de encontro ao método tradicional de produção de arroz das grandes lavouras monocultoras da região que se utilizam destes insumos e possuem uma lógica oposta á proposta do arroz ecológico. Desta relação, surge, além do contraste na economia, paisagem e sociedade, a divergência entre os poderes e o exercício de controle do solo contido nesta região.

Este exercício de controle do solo, exposto por Medeiros(2009) é observado na produção das novas territorialidades nos assentamentos transformadoras da paisagem, pois enquanto o poder do solo estava predominantemente nas mãos de grandes latifundiários da região, a produção de arroz, soja e a criação de gado bovina de forma extensiva eram que, exclusivamente, moldavam a paisagem da região. Os assentamentos trazem então um modelo de produção diferenciada, por meio de cooperativas e diferentes técnicas de cultivo, trazidas pelos(as) agricultores(as) familiares que estão em processo de reterritorialização, de identificação com o meio e de conhecimento de diferentes formas de interagir com as condições naturais locais e com a sociedade que compõe este novo território.

Sobre a cultura que se instala e reinstala no território dos assentamentos da campanha ocidental gaúcha, segundo MEDEIROS; LINDNER (2014)apud Claval (1999) a cultura é dinâmica e as populações modificam o meio de acordo com suas necessidades, provocando um enraizamento de seus valores que legitimam suas escolhas e por consequência a paisagem se transforma de acordo com suas preferências, suas aspirações. Destas escolhas dos assentados decorreram ações transformadoras da paisagem que são reflexo da construção de sua identidade no novo território constituído.

(9)

A construção desta identidade neste novo espaço é lenta e passa por um processo de reconhecimento e adaptação ao espaço, para aos poucos adquirir traços de território, juntamente ao sentimento de pertencimento á este espaço dos assentamentos. Segundo MEDEIROS; LINDNER (2014)apud Raffestin (2011) o espaço e o território são diferentes; o espaço é anterior ao território, o território se forma a partir do espaço. Portanto, ao criar uma identidade ou reconstruir sua identidade, as famílias vão adaptando-se a este novo território.

Este processo de adaptação passa também pelo emocional das famílias que se instalam nestes assentamentos devido ao local de origem destes agricultores, que já passaram pela marginalização no campo, alguns na cidade até o momento em que migram para os assentamentos na campanha gaúcha, cujo estes, em comparação aos assentamentos de outras regiões do Rio Grande do Sul, ainda possuem estruturas precárias e em processo de construção.

Considerações

O território dos assentamentos na Campanha Ocidental Gaúcha está, portanto, em constante movimento. O espaço dinamiza-se ao mesmo tempo em que os assentamentos são criados e novos territórios são demarcados e habitados por sujeitos que ali vão se reterritorializar. Na medida em que esta dinâmica se desenvolve, os aspectos sociais da região passam por transformações constantes tendo em vista a recepção e a convivência da população local com estes novos moradores e com o novo território.

Apesar das dificuldades encontradas na construção de estruturas básicas para a sobrevivência das famílias nos assentamentos da região, aos poucos, a chegada de escolas e bases de saúde vão adentrando o território dos assentamentos, fazendo com que as condições de habitação do lugar sejam melhoradas e intensificadas. Destaca-se, para o desenvolvimento dos assentamentos, a formação de cooperativas pelos trabalhadores e organizações para exercer a gestão nos assentamentos, trazendo autonomia às famílias assentadas.

A forma de produção nos assentamentos também muda a tradição econômica local, sobretudo com o cultivo do arroz ecológico. A paisagem da microrregião se modifica, a economia se dinamiza: É a mescla de culturas e de identidades na Microrregião da Campanha Ocidental Gaúcha.

(10)

Referencias Bibliográficas

MEDEIROS, Rosa Maria Vieira. Território, espaço de identidade. In: SAQUET, M. A.; SPOSITO, E. S. (Org.). Territórios e Territorialidades – teorias, processos e conflitos (pp. 217). São Paulo, SP/Brasil: Expressão Popular, 2009.

MEDEIROS, Rosa Maria Vieira; MELCHIORS, Joel Luís; ROBL, Douglas Machado.

Agricultores assentados: atores sociais reconstruindo seu novo território. VI Simpósio

Internacional de Geografia Agrária. VII Simpósio Nacional de Geografia Agrária. 1ª Jornada de Geografia das águas. João Pessoa/PB, 2013.

MELCHIORS, Joel Luís; ROBL, Douglas Machado; MEDEIROS, Rosa Maria Vieira.

Agricultores assentados da Campanha Gaúcha. VII Encontro Nacional de Grupos de

Pesquisa. Rio Claro/SP, 2013.

MEDEIROS, Rosa Maria Vieira; LINDNER, Michele. A territorialização de assentamentos

e reassentamentos no Rio Grande do Sul: os espaços de vida no contexto da luta pela terra. Revista fsa (Periódico Científico da Faculdade Santo Agostinho). Teresina, v. 11, n. 2,

Referências

Documentos relacionados

Na Figura 4.7 está representado 5 segundos dos testes realizados à amostra 4, que tem os elétrodos aplicados na parte inferior do tórax (anterior) e à amostra 2 com elétrodos

A metodologia utilizada no presente trabalho buscou estabelecer formas para responder o questionamento da pesquisa: se existe diferença na percepção da qualidade de

A par disso, analisa-se o papel da tecnologia dentro da escola, o potencial dos recursos tecnológicos como instrumento de trabalho articulado ao desenvolvimento do currículo, e

Para tanto, no Laboratório de Análise Experimental de Estruturas (LAEES), da Escola de Engenharia da Universidade Federal de Minas Gerais (EE/UFMG), foram realizados ensaios

Com base no trabalho desenvolvido, o Laboratório Antidoping do Jockey Club Brasileiro (LAD/JCB) passou a ter acesso a um método validado para detecção da substância cafeína, à

No entanto, maiores lucros com publicidade e um crescimento no uso da plataforma em smartphones e tablets não serão suficientes para o mercado se a maior rede social do mundo

Entre as atividades, parte dos alunos é também conduzida a concertos entoados pela Orquestra Sinfônica de Santo André e OSESP (Orquestra Sinfônica do Estado de São