• Nenhum resultado encontrado

Mestrado em Contabilidade e Finanças

N/A
N/A
Protected

Academic year: 2021

Share "Mestrado em Contabilidade e Finanças"

Copied!
163
0
0

Texto

(1)

Mestrado em Contabilidade e Finanças

A Influência da Manipulação de Resultados na Análise Económica e Financeira das PME’s Portuguesas

Janine Morais Ramos Pereira

Dissertação apresentada ao Instituto Politécnico do Cávado e do Ave para Obtenção do Grau de Mestre em Contabilidade e Finanças

Orientada pelo Professor Doutor Fernando Rodrigues

Esta dissertação não inclui as críticas e sugestões feitas pelo Júri

Barcelos, dezembro, 2013

(2)
(3)

A Influência da Manipulação de Resultados na Análise Económica e Financeira das PME’s Portuguesas

Mestranda: Janine Morais Ramos Pereira

Orientador: Professor Doutor Fernando Rodrigues

Barcelos, dezembro, 2013

(4)

Resumo

Face à atual globalização da informação patente nas mais diversas entidades, questões relacionadas com o recurso à Manipulação de Resultados tendem a assumir uma importância cada vez mais relevante, dado que se trata de uma gestão que tem como objetivo aproveitar-se das assimetrias patentes no Normativo Contabilístico.

Desta forma, a presente dissertação tem como objetivo analisar a temática da Manipulação de Resultados, a sua relação com o normativo contabilístico e a sua influência na análise económica e financeira das Pequenas e Médias Empresas (PME’s) portuguesas. Ou seja, inicialmente será efetuado um pequeno enquadramento teórico sobre a normalização contabilística, passando a uma análise mais detalhada sobre o que se tem efetuado ao nível empírico sobre a Manipulação de Resultados, fazendo um ponto de situação da literatura existente a nível nacional e internacional, realçando quais são as principais motivações que levam à Gestão de uma empresa a recorrer a tais práticas.

Posteriormente e de forma a contextualizar-se o último capítulo, será realizada uma abordagem à Análise Económica e Financeira, a qual tem como finalidade retratar a sua importância, de que forma é efetuada, quais são os principais rácios e indicadores, assim como as suas limitações.

Finalmente, no Capítulo 3 será efetuado um estudo de caso, o qual engloba 6 empresas portuguesas (PME’s). Para tal, inicialmente é apresentando o atual panorama do tecido empresarial português assim como o contexto económico e legal patente, passando à caraterização da amostra, breve análise económica e financeira, evidenciando quais são as práticas contabilísticas criativas que levantam algumas questões sobre a verdadeira realidade da empresa. Para cada empresa, o movimento contabilístico é confrontado com o normativo contabilístico, mostrando assim a subjetividade patente nas normas.

Palavras-Chave: Manipulação de Resultados, Normativo Contabilístico, Análise Económica e Financeira, PME’s.

(5)

Abstract

In light of the current globalization of information present in several organizations, issues related to the use of Results Manipulation tend to assume an ever more relevant role, given that it is a management that aims to take advantage of asymmetries patents in accounting standards.

Thus, this thesis aims to analyze the issue of handling results, their relationship with the accounting standards and their influence on economic and financial analysis of Small and Medium Enterprises (SMEs) in Portugal. Initially a small theoretical framework on Accounting Normalization will be carried out, moving to a more detailed analysis of what has been done on the empirical level on the Results Manipulation, looking at current available national and international literature, highlighting what are the motivations of the Enterprise Management to resort to such practices.

Subsequently, and to provide context to the last chapter, there will be an approach to the Economic and Financial Review, which aims to portray their importance, the way it is carried out, what are the key ratios and indicators, as well as its limitations.

Finally in Chapter 3, will be made a case study which includes 6 Portuguese enterprises (SMEs). To do this, it is initially presented the current panorama of the Portuguese business as well as the economic and legal context, moving on to the characterization of the sample, brief economic and financial analysis, showing which are the creative accounting practices that raise questions about the true reality of the company. For each company, the accounting movement is confronted with the accounting standards, thus showing the subjectivity of the norms present.

Keywords: Results Manipulation, Accounting Standards, Economic and Financial Analysis, SME.

(6)

Agradecimentos

Quero agradecer a todos que contribuíram para a realização desta Dissertação, a qual não teria sido possível sem a vossa intervenção. Assim, muito obrigada:

Ao Professor Doutor Fernando Rodrigues, pela orientação prestada na elaboração deste trabalho académico.

À minha Entidade Patronal, pelo apoio disponibilizado em todas as fases do Mestrado.

À minha família, em especial ao Daniel, que sempre incentivaram a aposta na minha Formação.

(7)

Lista de Abreviaturas

ANCDV – Ativo Não Corrente Detido para Venda AF – Autonomia Financeira

AFT – Ativos Fixos Tangíveis

CAE – Código de Atividade Económica CAPP – Capital Próprio

CMVMC – Custo das Mercadorias Vendidas e das Matérias Consumidas CLC – Certificação Legal de Contas

CP – Curto Prazo

CIRC – Código do Imposto sobre o Rendimento das Pessoas Coletivas CRC BdP – Centralização de Riscos de Crédito do Banco de Portugal DACP – Demonstração de Alterações do Capital Próprio

DF’s – Demonstrações Financeiras DR – Demonstração de Resultados EBIT – Earning Before Interest Taxes

EBITDA - Earning Before Interest Taxes Depreciation Amortization EC – Estrutura Conceptual

EOEP – Estado e Outros Entes Públicos FM – Fundo de Maneio

FSE’s – Fornecimentos e Serviços Externos GAF - Grau de Alavanca Financeira

GAO – Grau de Alavanca Operacional

IASB – International Accounting Standards Board IC’s – Instituições de Crédito

INE - Instituto Nacional de Estatística IRC – Imposto sobre as Pessoas Coletivas

ISA - International Standards on Auditing (Norma Internacional de Auditoria) MEP – Método de Equivalência Patrimonial

MLL’s – Meios Líquidos Libertos MLO’s – Meios Líquidos Operacionais MLP – Médio e Longo Prazo

NCRF – Norma Contabilística e de Relato Financeiro

NCRF-PE – Norma Contabilística e de Relato Financeiro para Pequenas Entidades NFM – Necessidades de Fundo de Maneio

PBV – Price Book Value

PEC – Pagamento Especial por Conta PER – Price Earning Ratio

PME’s – Pequenas e Médias Empresas

(8)

PMI – Prazo Médio dos Inventários PMP – Prazo Médio de Pagamento PMR – Prazo Médio de Recebimento POC – Plano de Oficial de Contabilidade p.p. – Pontos Percentuais

pp. Páginas

PSR – Price Sales Ratio

RADGFI - Resultados Antes de Depreciação, Gastos de Financiamentos e Impostos RAGFI – Resultados Antes de Gastos de Financiamentos e Impostos

RLP – Resultado Líquido do Período

SNC – Sistema de Normalização Contabilística TIR – Taxa Interna de Rendibilidade

TL – Tesouraria Líquida U.E. União Europeia

VAB – Valor Acrescentado Bruto VAL – Valor Atual Líquido VN – Volume de Negócios

(9)

Índice

Resumo ... i

Abstract ... ii

Agradecimentos... iii

Lista de Abreviaturas ... iv

Introdução ... 1

Capítulo I - Revisão da Literatura:Enquadramento Teórico ... 4

1. Revisão da Literatura: Enquadramento Teórico ... 5

1.1 Normalização e Harmonização Contabilística em Portugal – Entrada do SNC em Vigor 5 1.2 Principais Alterações Evidenciadas com o SNC ... 9

1.3 A Relação entre a Contabilidade e a Fiscalidade em Portugal ... 12

1.4 A Manipulação de Resultados ... 13

1.4.1 Conceito e Caraterísticas ... 13

1.4.2 Determinantes da Manipulação de Resultados ... 17

1.5 Incentivos à Manipulação de Resultados – Caso de Portugal ... 20

1.5.1 Incentivos à Minimização do Pagamento de Imposto Sobre o Rendimento ... 22

1.5.2 Incentivos na Ótica de Acesso a Melhores Condições de Financiamento ... 24

1.6 A Manipulação de Resultados e a Estrutura de Propriedade ... 24

1.7 Práticas Contabilísticas Criativas ... 25

1.7.1 Técnicas Para Deteção de Práticas Contabilísticas Criativas ... 27

1.7.2 Vantagens e Desvantagens do Uso das Técnicas Contabilísticas Criativas ... 30

1.7.3 Prevenção das Práticas Contabilísticas Criativas ... 30

1.8 A Implementação do SNC e a Manipulação de Resultados ... 31

1.9 A Influência da Manipulação de Resultados na Análise Financeira ... 33

1.10 A Contabilidade Criativa e a Responsabilidade dos Auditores ... 37

Capítulo II - A Análise Económica e Financeira das Empresas ... 39

2. A Análise Económica e Financeira das Empresas ... 40

2.1 Técnicas e Instrumentos de Análise ... 42

2.2 Método dos Rácios ... 44

2.3 Rácios de Rendibilidade ... 44

2.4 Rácios de Funcionamento ... 46

2.5 Rácios Financeiros ... 47

2.6 Outros Indicadores ... 48

2.7 As Limitações dos Elementos Contabilísticos e a Manipulação de Resultados ... 51

Capítulo III: Estudo de Casos - A Influência da Manipulação de Resultados na Análise Económica e Financeira das PME’s Portuguesas ... 54

(10)

3. Estudo de Casos - A Influência da Manipulação de Resultados na Análise Económica e

Financeira das PME’s Portuguesas ... 55

3.1 Breve Caraterização do Tecido Empresarial Português vs Contexto Económico-Legal .. 55

3.2 Caraterização da Amostra ... 64

3.3 Enquadramento da Atividade e Apresentação dos Elementos Contabilísticos de Suporte à Análise ... 65

3.4 Análise do Impacto da Contabilidade Criativa nas DF’s das Empresas – Influência na Tomada de Decisão ... 66

3.5 Empresa ABC Têxteis Lda. ... 67

3.6 Empresa AEIOU Lda. ... 73

3.7 Empresa Estrela Lda. ... 77

3.8 Empresa Façanhas Lda. ... 81

3.9 Empresa Olhar S.A... 84

3.10 Empresa Caminhos S.A. ... 88

Conclusão ... 92

Referências Bibliográficas ... 96

Referências Bibliográficas da Internet ... 99

Anexos ... 100

Anexo 1: Balanço, Demonstração de Resultados 2012, 2011 e 2010 da Empresa ABC Têxteis Lda. ... 101

Anexo 2: Balanço, Demonstração de Resultados 2012, 2011 e 2010 da Empresa AEIOU Lda. ... 102

Anexo 3: Balanço, Demonstração de Resultados 2012, 2011 e 2010 da Empresa Estrela Lda. ... 103

Anexo 4: Balanço, Demonstração de Resultados 2012, 2011 e 2010 da Empresa Façanhas Lda. ... 104

Anexo 5: Balanço, Demonstração de Resultados 2012, 2011 e 2010 da Empresa Olhar S.A. ... 105

Anexo 6: Balanço, Demonstração de Resultados 2012, 2011 e 2010 da Empresa Caminhos S.A. ... 106

Apêndices ... 107

Apêndice 1: Rácios e Indicadores Económico e Financeiros 2012, 2011 e 2010 da Empresa ABC Têxteis Lda... 108

Apêndice 2: Rácios e Indicadores Económico e Financeiros 2012, 2011 e 2010 da Empresa AEIOU Lda. ... 109

Apêndice 3: Rácios e Indicadores Económico e Financeiros 2012, 2011 e 2010 da Empresa Estrela Lda. ... 110

Apêndice 4: Rácios e Indicadores Económico e Financeiros 2012, 2011 e 2010 da Empresa Façanhas Lda. ... 111

Apêndice 5: Rácios e Indicadores Económico e Financeiros 2012, 2011 e 2010 da Empresa Olhar S.A. ... 112

(11)

Apêndice 6: Rácios e Indicadores Económico e Financeiros 2012, 2011 e 2010 da Empresa Caminhos S.A... 113

(12)

Índice de Figuras

Figura 1: Hierarquia das Normas ... 7

Figura 2: Alisamento de Resultados ... 16

Figura 3: IRC: Pagamento Especial por Conta ... 23

Figura 4: Práticas Contabilísticas Criativas e os seus Efeitos ... 27

Figura 5: Itens a ter em Conta na Análise Económico Financeira em SNC ... 36

Figura 6: Conceitos Integrantes da Análise Económica e Financeira... 40

Figura 7: Perspetivas da Análise Económica e Financeira ... 41

Figura 8: Demonstrações Financeiras de acordo com o SNC ... 42

Figura 9: Principais Rácios de Rendibilidade ... 45

Figura 10: Principais Rácios de Funcionamento ... 46

Figura 11: Principais Rácios Financeiros – 1ª Parte ... 47

Figura 12: Principais Rácios Financeiros – 2ª Parte ... 48

Figura 13: Outros Indicadores ... 49

Figura 14: Entidades obrigadas a Prestação de Contas ... 57

Figura 15: Entidades não obrigadas a Prestação de Contas ... 58

(13)

Índice de Quadros

Quadro 1: Principais Alterações com o SNC ... 10

Quadro 2: Principais Alterações com o SNC – Continuação ... 11

Quadro 3: Algumas Técnicas de Práticas Contabilísticas Criativas ... 29

Quadro 4: Mensuração Inicial dos Elementos Patrimoniais... 51

Quadro 5: Mensuração Subsequente dos Elementos Patrimoniais ... 52

Quadro 6: Caraterísticas das PME’s ... 55

Quadro 7: Perfil das Empresas por dimensão ... 59

Quadro 8: Perfil das Empresas por Setor de Atividade ... 61

Quadro 9: Caraterização da Amostra de Empresas ... 65

Quadro 10: Principais Rácios e Indicadores da Empresa ABC Têxteis Lda ... 69

Quadro 11: Principais Rácios e Indicadores da Empresa AEIOU Lda. ... 74

Quadro 12: Principais Rácios e Indicadores da Empresa Estrela Lda. ... 78

Quadro 13: Principais Rácios e Indicadores da Empresa Façanhas Lda ... 82

Quadro 14: Principais Rácios e Indicadores da Empresa Olhar S.A. ... 85

Quadro 15: Principais Rácios e Indicadores da Empresa Caminhos S.A. ... 89

(14)

Índice de Gráficos

Gráfico 1: N.º Empresas obrigadas à Apresentação de Contas ... 57

Gráfico 2: N.º Empresas Sem Obrigatoriedade de Apresentação de Contas ... 58

Gráfico 3: Perfil por Dimensão de Empresa – N.º Empresas ... 59

Gráfico 4: Perfil por Dimensão de Empresa – VN ... 60

Gráfico 5: Perfil por Dimensão de Empresa – N.º Colaboradores ... 60

Gráfico 6: Perfil por Setor de Atividade – N.º Empresas ... 62

Gráfico 7: Perfil por Setor de Atividade – VN ... 62

Gráfico 8: Perfil por Setor de Atividade – N.º Empregados ... 63

(15)

Introdução

A 1 de janeiro de 2010 entrou em vigor o novo normativo contabilístico: o Sistema de Normalização Contabilística (SNC), revogando assim o anterior normativo contabilístico português, o Plano Oficial de Contabilidade (POC) e as Diretrizes Contabilísticas. Esta alteração no sistema contabilístico português já carecia de ser implementada há algum tempo face aos variados fenómenos que tem surgido no meio ambiente empresarial, quer em termos de inovação financeira, tecnologias de informação, globalização assim como a integração dos mercados de capitais, situações que geram novas exigências na tomada de decisão por parte dos principais agentes económicos. Desta forma, é implementado o SNC, um sistema baseado em princípios e não em regras, o qual foi baseado no modelo International Accounting Standards Board (IASB) adotado na União Europeia, mas compatível com as Diretivas Contabilísticas Comunitárias.

Com a entrada do SNC verifica-se que foi dado mais um passo no processo da Harmonização Contabilística, no entanto, também obriga a uma alteração de paradigma em Portugal pois, com a introdução de alguns novos conceitos, todas as entidades envolvidas deverão redefinir a sua forma de atuação.

Atualmente a temática da Contabilidade Criativa é acompanhada por vários investigadores em todo mundo, estudo que se intensificou nos últimos anos. Dadas as caraterísticas do tecido empresarial português, maioritariamente constituído por Pequenas e Médias Empresas (PME’s) com hábitos de recurso a capitais alheios elevados e dada a atual conjuntura, torna-se cada vez mais premente compreender a questão, a razão/motivação e que tipo de práticas são utilizadas para tornar as contas de uma entidade mais atrativas para os vários stakeholders dessa mesma entidade. Assim, face à alteração relativamente recente do sistema contabilístico em Portugal, é importante aferir se este novo normativo irá contribuir para a redução das situações geradoras de Contabilidade Criativa, assim como perceber quais são as principais alterações patentes numa Análise Económica e Financeira.

Com a entrada do SNC em vigor, questiona-se se o esforço realizado pelos organismos de normalização contabilística, nacionais e internacionais, na realização de um conjunto de normas que proporcionem uma imagem verdadeira e apropriada da posição financeira e dos resultados da empresa no que diz respeito à diminuição da manipulação contabilística.

A maior parte da literatura internacional existente sobre o tema da Contabilidade Criativa aponta como principais determinantes para a sua ocorrência, a visibilidade política da empresa, os contratos de remuneração dos gestores estabelecidos pelas Demonstrações Financeiras (DF’s) e as cláusulas restritivas dos contratos de endividamento (Mendes e

(16)

Rodrigues, 2007). No entanto, numa análise mais específica ao contexto económico e legal português verifica-se que existe: uma forte relação de proximidade entre o Órgão de Gestão (Estrutura de Propriedade) e a Gestão da Empresa, levando a que na maioria das empresas a sua gestão esteja a cargo dos seus proprietários, logo não se verificam problemas de agência;

forte recurso das empresas ao endividamento bancário, não ficando por isso dependentes de cláusulas restritivas de contratos de endividamento; um forte alinhamento entre a contabilidade e a fiscalidade (Moreira, 2006). Face à realidade patente no território nacional, as motivações para a Manipulação de Resultados serão claramente diferentes, no entanto, maioritariamente passarão por manipular numa ótica de redução do imposto sobre o rendimento a pagar ao Estado ou manipular as DF’s num cenário de otimização dos resultados de forma a aceder a financiamento bancário para reforçar a sua tesouraria/necessidades de investimento.

A dissertação agora apresentada tem como finalidade demonstrar de que forma a Manipulação de Resultados influencia a realidade contabilística, identificar as principais práticas e determinantes da contabilidade criativa, observar os impactos da introdução do SNC vs gestão de resultados, assim como estudar a Análise Económica e Financeira efetuada pelas entidades externas a determinada empresa, ou seja, analisar como esta é afetada com situações de criatividade contabilística através da análise de casos reais de PME’s portuguesas que elaboram as suas DF’s com a finalidade de apresentar uma realidade mais atrativa para os mais diversos stakeholders.

A Análise Económica e Financeira deve ser tratada de uma forma dinâmica, não devendo os rácios e indicadores serem encarados como instrumentos imutáveis. Com o SNC e o aumento das necessidades de relato, torna-se claro que a Análise Económica e Financeira beneficia desta alteração, dependendo sempre do grau de aplicabilidade das normas utilizado pelo Órgão de Gestão ao preparar as suas DF’s. De acordo com Brás (2010:16), “Do ponto de vista da regulamentação, as NCRF estão pensadas para aumentar a qualidade das DF’s produzidas e, por isso, aumentar a sua utilidade para a tomada e decisão dos seus utilizadores”. Assim, verifica-se que um dos principais objetivos com a introdução do SNC, além da harmonização contabilística, é o de proporcionar informação com um elevado grau de qualidade e fiabilidade aos variados utilizadores das DF’s, informação essa que deverá espelhar sempre a realidade da empresa. Ainda de acordo com Brás (2010:16), “(…) apesar de ainda haver margem para que as DF’s contabilísticas sejam ajustadas pelos analistas, os estudos científicos continuam a mostrar que as previsões baseadas em resultados contabilísticos são as mais valorizadas pelos investidores.”

A Manipulação de Resultados vai ser sempre um tema de investigação, dado que a sua resolução definitiva é muito difícil de alcançar pois, face às políticas contabilísticas previstas no SNC, diferentes critérios de mensuração, estimativas, entre outros, ficará sempre a cargo do

(17)

Órgão de Gestão a tomada de decisão (sob a ótica que mais lhe favorece) sobre como as suas DF’s serão elaboradas. Já Guimarães (2000:12) referia que a Contabilidade Criativa deve ser usada atendendo aos princípios e normas contabilísticas, completando-os com o objetivo de melhorar a informação, ou seja, “deve pugnar pela ‘imagem verdadeira e apropriada’ da entidade, de forma a ser útil aos destinatários das demonstrações contabilísticas.” Ora, se a Manipulação de resultados for usada com o intuito de transparecer uma realidade mais adequada da empresa, cumprindo sempre com a legalidade contabilística, trata-se de um eficaz instrumento de gestão, atendendo a que necessidades se pretende responder (utentes internos ou externos).

Ao longo do trabalho, irá verificar-se que os objetivos são cumpridos, ou seja, a manipulação de resultados continua presente no novo normativo contabilístico, assim como a análise económica e financeira das entidades é significativamente afetada pelas práticas contabilísticas criativas, o que por vezes se reflete numa entidade subavaliada ou sobreavaliada, ou por apresentar um desempenho em determinados exercícios que não corresponde à verdadeira realidade.

(18)

Capítulo I - Revisão da Literatura:

Enquadramento Teórico

(19)

1. Revisão da Literatura: Enquadramento Teórico

1.1 Normalização e Harmonização Contabilística em Portugal – Entrada do SNC em Vigor

É essencial para o desenvolvimento de qualquer atividade empresarial, a presença de um normativo contabilístico adequado, que espelhe a realidade das transações realizadas assim como o verdadeiro valor patrimonial.

Quando se fala em normalizar, fala-se em criar normas, sendo o grande objetivo da comunidade académica e profissional, a harmonização de todos os normativos contabilísticos de vários países. Para tal, tem sido cruzada uma grande jornada pois, a diversidade contabilística internacional apresenta vários fatores impeditivos como o meio envolvente onde atuam as empresas; o sistema legal (Common law/Roman law1); as principais fontes de financiamento empresarial; o nível de desenvolvimento do mercado bolsista; organização e propriedade empresarial; o sistema político e a cultural; fatores relacionados com as próprias práticas contabilísticas, como a influência da fiscalidade; os principais utilizadores da informação contabilística; o nível de desenvolvimento/influência da profissão contabilística, entre outros.

Assim, verificam-se dificuldades na comparabilidade e compreensibilidade da informação contabilística a nível internacional, uma vez que a credibilidade da informação é questionada. O fato de existirem normativos diferentes, muda realmente a forma como se efetua uma análise económica e financeira a determinada empresa, caso esteja a ser analisada numa ótica de obtenção de financiamento alheio (através do mercado de capitais, ou por via de financiamento bancário puro junto de IC’s), quer numa ótica fiscal. É importante assegurar a comparabilidade da informação financeira no tempo (adotar os mesmos procedimentos ao longo de vários exercícios económicos) e no espaço (aplicação de métodos e terminologias comuns por todas as empresas).

1De acordo com Amaral, C. (2001:40, 41)”De entre os países mais desenvolvidos do mundo existem dois sistemas legais distintos que, por sua vez, conduziram a dois padrões de desenvolvimento das práticas contabilísticas: o Codified Roman Law e o Common Law. A maior parte dos países da Europa Continental tem um sistema legal baseado no direito romano, de orientação legalista, cujas leis contêm um conjunto de obrigações que estabelecem normas mínimas que determinam o comportamento que se espera dos cidadãos. (…) Muitos outros países usam uma versão do sistema legal inglês (Common law) que tem como objetivo primordial dar solução a casos específicos, em detrimento da formulação de regras gerais para o futuro. Neste sistema, o Estado tende a não emitir normas contabilísticas (…)”

(20)

Daí a questão da harmonização contabilística ser cada vez mais relevante, a qual foi iniciada pelo IASB2, cujo objetivo passa pela elaboração e difusão de normas para a elaboração e apresentação das Demonstrações Financeiras, assim como a promoção da sua aceitação e aplicação a nível mundial, tendo em vista a harmonização das práticas contabilísticas e a comparabilidade da informação financeira.

Em 2005, o processo de harmonização contabilística em Portugal alcançou mais uma etapa importante: passou a ser obrigatória a aplicação da IAS/IFRS para as entidades cujos valores mobiliários estivessem admitidos a negociação num mercado regulamentado por parte de qualquer Estado-Membro da União Europeia. Posteriormente, em 2007 Portugal deu mais um passo para o objetivo Harmonização Contabilística: foi aprovado o novo Sistema de Normalização Contabilística, concretizado através do Decreto-Lei 158/2009, de 13 de julho, que revogou o POC e restante legislação adicional, entrando assim em vigor no dia 1 de janeiro de 2010.

Desta forma, o SNC surge em Portugal para combater a diversidade contabilística internacional: trata-se de um modelo baseado nas normas do IASB adotadas na União Europeia, o qual assegura a compatibilidade com as Diretivas Contabilísticas Comunitárias, através da criação das NCRF. Além disso, pode-se mencionar outros fatores que contribuíram para a mudança de normativo em Portugal: eliminação da dupla contabilização; racionalização de procedimentos de consolidação de contas; aumento da transparência da informação;

aperfeiçoamento dos instrumentos conceptuais de análise. É considerado por tal, um modelo que atende às diferentes necessidades de relato financeiro e, por essa razão, também foi criada uma Norma especial destinada às entidades de pequena dimensão (NCRF-PE), a qual obriga a relatos mais reduzidos (Monteiro, 2013). Assim, Portugal passou a beneficiar de normativos contabilísticos diferentes:

Para empresas cotadas em Bolsa (cujos valores mobiliários estejam admitidos à negociação num mercado regulamentado de qualquer Estado Membro da União Europeia) - aplica-se o Normativo Contabilístico do IASB (NIC/NIRF e respetivas interpretações) adotado na U.E.;

Para as restantes Empresas (exceto setor bancário e seguradoras) – aplica-se o SNC e, como tal as NCRF e respetivas interpretações (tendo em conta que as empresas de menor dimensão podem adotar a NCRF-PE3).

2 International Accounting Standards Boar: Trata-se de um organismo privado, de caráter profissional e de âmbito mundial, constituído em Londres em 1973 para dar resposta às necessidades de harmonização contabilística internacional.

3 Note-se que a adoção desta Norma não é obrigatória mas facultativa pois, as entidades independentemente da sua dimensão podem adotar todo o normativo previsto no SNC (Monteiro, 2013).

(21)

Foi ainda criado um regime de Normalização Contabilística para entidades do Setor Não Lucrativo, que faz parte integrante do SNC. De notar que também foi criado um regime especial simplificado para a micro empresas, que se baseia nos princípios enunciados no SNC, no entanto, não é parte integrante do SNC.

Relativamente ao âmbito de aplicação do SNC, é importante referir a hierarquia de aplicação das normas, isto é, quando surgirem dúvidas na aplicabilidade de determinada norma, deve-se recorrer ao normativo imediatamente superior (análise Down-Top), de forma a colmatar determinadas lacunas que podem estar subjacentes a determinada norma:

Figura 1: Hierarquia das Normas

IAS/IFRS

NCRF

NCRF – PE

Fonte: Elaboração Própria com base no SNC

É ainda parte integrante do SNC, a Estrutura Concetual (EC)4: não é uma norma (NCRF), e deve ser considerada acima de qualquer norma contabilística. No entanto, em caso de conflito de uma NCRF com a EC, prevalece a Norma.

Assim, é um objetivo crucial aproximar a normalização contabilística nacional às normas internacionais, sem descurar as caraterísticas e necessidades do tecido empresarial português, o qual é constituído em mais de 99% por PME’s: com a adoção do SNC pretende- se simplificar, reduzir custos, aumentar a competitividade das empresas e melhorar a qualidade da informação. O SNC visa assegurar a compatibilidade e a coerência entre os normativos contabilísticos. Para tal, as DF’s a apresentar de acordo com o SNC devem ser elaboradas seguindo uma determinada estrutura e conteúdo, patentes nas NCRF 1 e 2. Os modelos de DF’s criados são distintos:

4 EC: “Esta Estrutura estabelece conceitos que estão subjacentes à preparação e apresentação das demonstrações financeiras para utentes externos, seja pelas entidades que preparam um conjunto completo de demonstrações financeiras, seja pelas pequenas entidades.” (EC, SNC, §2). Aplica-se às DF’s de todas as entidades comerciais, industriais e de negócios que relatam, abrangidas pelo SNC.

(22)

Entidades que apliquem as NCRF: Balanço, Demonstração de resultados por naturezas; Demonstração de resultados por funções (facultativa); Demonstração das Alterações no Capital Próprio; Demonstração dos Fluxos de Caixa – Método Direto;

Anexo;

Entidades que apliquem a NCRF-PE: Balanço, Demonstração de resultados por naturezas; Demonstração de resultados por funções (facultativa); Anexo.

Dos modelos obrigatórios a apresentar na divulgação da informação contabilística, destaca-se o Anexo,

“ (…) como espaço privilegiado para uma informação detalhada da razão de ser dos valores constantes nas DF’s. Tal importância acrescida àquela DF advém do facto de o SNC assentar mais em princípios do que em regras definidas. Assim, estamos perante uma norma de conduta que poderá incorporar em si mesma um certo grau de subjetividade, que carece por vezes de explicação pormenorizada.” (Oliveira et al:

2010:45).

Este elemento apresenta grande importância, dada a ligação direta que apresenta com as restantes DF’s: especialistas da área já mencionaram que é através do Anexo que se diferencia um bom Contabilista de um mau Contabilista. O SNC veio alterar a forma de pensar e agir contabilisticamente, no entanto, não quer dizer que esteja isento de críticas.

Além dos modelos, deve-se ter em atenção as bases para apresentação da informação financeira, as quais deverão ser elaboradas em função:

Pressuposto da continuidade;

Regime de periodização económica (acréscimo);

Consistência de apresentação;

Agregação ou desagregação das quantias das rubricas nas DF’s segundo o princípio da materialidade;

Não compensação, em regra, entre ativos e passivos e, entre rendimentos e gastos, salvo se for permitido por uma NCRF;

Prestação de informação comparativa para todas as quantias relatadas nas DF’s.

(Anexo do SNC, DL n.º 158/2009).

Toda a informação financeira é elaborada para determinados utilizadores, os quais visam a satisfação das suas necessidades informativas. Assim, os objetivos e conteúdo na elaboração das DF’s deverão estar de acordo com essas necessidades. Esta questão encontra-se contemplada no §9 da EC do SNC, na qual se aborda os utentes da informação financeira e as suas necessidades de informação, utentes a seguir discriminados:

• Investidores: As necessidades de informação estão relacionadas com o risco e retorno associado aos seus investimentos, carecendo de informação contabilística para decidirem se

(23)

devem manter ou vender determinado investimento, assim como no caso dos acionistas, que lhes permite aferir a capacidade da empresa em pagar dividendos;

• Colaboradores: tem interesse em obter informação que lhes permita aferir a estabilidade e lucratividade das entidades patronais, de forma a avaliarem a capacidade da entidade proporcionar remuneração, bem como os benefícios a reforma;

• Mutuantes: necessidades de informação relacionadas com a avaliação da capacidade da entidade em fazer face ao cumprimento atempado dos seus compromissos financeiros;

• Fornecedores e outros credores comerciais: necessitam de obter informação para tentar avaliar se os seus créditos serão pagos dentro do prazo;

• Clientes: necessidades relacionadas com a continuidade da empresa, principalmente nos casos em que o envolvimento é substancial;

• Governo e seus departamentos: necessidades relacionadas com a alocação de recursos, a regulação da atividade das empresas e a determinação de políticas de tributação;

• Público: necessidades relacionadas com a capacidade dessas entidades para contribuírem na economia local, como por exemplo, o número de pessoas que empregam.

A estes utilizadores, pode-se acrescentar outro (§11 da EC do SNC): o Órgão de Gestão de uma entidade, que para além de ter a responsabilidade de preparação das DF’s, também utilizam essa informação na tomada de decisão, planeamento e controlo.

O novo normativo salienta que “as demonstrações financeiras devem apresentar apropriadamente a posição financeira, o desempenho financeiro e os fluxos de caixa de uma entidade” (2.1.5, Capítulo 2, SNC), afirmação que leva a referir que “as políticas contabilísticas inapropriadas não deixam de o ser pelo fato de serem divulgadas ou assumidas, em notas ou material explicativo” (2.1.7, Capítulo 2, SNC). Ora, esta informação que consta do Anexo ao SNC, alerta para o fato de por vezes se utilizarem políticas/critérios que não são os mais corretos em prol de uma imagem mais positiva da posição financeira da empresa, matéria que será abordada ao longo desta tese, a qual visa descortinar, além dos benefícios do SNC, as fragilidades patentes neste novo normativo em Portugal, que por vezes leva a situações de Contabilidade Criativa.

1.2 Principais Alterações Evidenciadas com o SNC

Tendo em conta todas as particularidades que o SNC implica e atendendo à finalidade da presente dissertação, é importante a análise resumida das principais alterações que o novo normativo contabilístico evidencia face ao antigo POC, de forma a obter uma melhor compreensão da temática Manipulação de Resultados vs SNC.

Assim, segue um pequeno resumo evidenciado no Quadro 1 e 2, com pequenas observações dos vários factos a ter em especial atenção.

(24)

Quadro 1: Principais Alterações com o SNC

Alterações Observações

1. Baseia-se mais em princípios do que em regras.

2. Orientação para o Justo Valor.

3. Apresentação das DF’s em formato vertical e de conteúdo mínimo; universal;

com referência às notas do Anexo.

4. Obrigatoriedade de apresentação da Demonstração de Alterações no Capital Próprio nas Demonstrações Financeiras integrantes do SNC.

5. Obrigatoriedade da apresentação da Demonstração dos Fluxos de Caixa pelo Método Direto e da Demonstração de Resultados por Natureza.

6. Análise das DF’s como um todo 7. Correção de erros materiais efetuada através da reexpressão da informação comparativa.

8. Alteração das designações das contas de acordo com a terminologia adotada pela IAS/IFRS

9. Desreconhecimento de Alguns Ativos e Passivos.

10. Ativo e Passivo subdivididos em Correntes e Não Correntes.

11. Ativo apresentado em termos líquidos.

12. Contabilização de Ativos intangíveis com vida útil indefinida e com valor residual, em determinadas circunstâncias (como o Goodwill).

13. Não é permitida a revalorização de ativos fixos tangíveis com base em coeficientes de desvalorização monetária.

1. Visa conceber um sistema de relato de informação que seja abrangente, flexível e, necessariamente, responsabilizador. Mas também significa que está implícito um maior grau de subjetividade na elaboração e entendimento das normas.

2. Maioritariamente utilizado para mensurar os instrumentos financeiros, os ativos biológicos, as propriedades de investimento e os ativos fixos tangíveis.

3. Diferenciando-se assim do POC, onde as DF’s eram apresentadas em formato horizontal e com um conteúdo mais alargado.

4. Com o SNC, esta DF passa a ter outra relevância (informação estava incluída em diversas notas no ABDR preconizado pelo POC):

introduz um conceito novo, o de resultado integral que resulta da agregação direta do RLP com todas as variações ocorridas em CAPP não diretamente relacionadas com os detentores de capital.

5. Sendo a demonstração por funções de caráter opcional.

6. Atendendo à EC do SNC, as DF’s devem ser analisadas e interpretadas no seu todo e não individualmente, de forma a obter-se uma leitura alargada e agregada do relato financeiro da entidade, como suporte na tomada de decisão pelos utentes das DF’s

7. O que diverge do POC, onde as DF’s apenas contemplavam informação sobre o Ano N

8. Mais um passo na harmonização contabilística.

9. Como ativos intangíveis gerados internamente; despesas de investigação e contratos de construção. Apenas podem ser capitalizados dispêndios internos com Ativos Intangíveis em situações específicas e se incorridos na fase de desenvolvimento. Não é permitida a capitalização.

10. Correntes: realizado no decurso normal do ciclo de operacional da entidade, respeitado um prazo inferior a 12 meses. Não Correntes:

São todos aqueles que não satisfaçam a definição de corrente.

11. Líquido de depreciações/amortizações/ajustamentos.

12. Quando não houver limite previsível para a geração de benefícios económicos futuros, esse ativo terá uma vida útil indefinida e não é amortizado, sendo obrigatória a realização de um teste anual de imparidade ou, sempre que haja indicação de que o ativo possa estar em imparidade.

13. Valorizando-se assim revalorizações com base em valores fidedignos.

Fonte: Elaboração própria com base no SNC

(25)

Quadro 2: Principais Alterações com o SNC - Continuação

Alterações Observações

14. Introdução dos Ativos não correntes detidos para venda (ANCDV) e conceito de grupos para alienação.

15. As componentes de terreno e edifício devem ser separadas contabilisticamente para efeitos de classificação e registo de locações de imóveis.

16. É aceite o tratamento alternativo de capitalização de custos com empréstimos.

17. Capital próprio (CAPP) evidencia apenas o capital realizado.

18. Os interesses minoritários são parte integrante do CAPP.

19. Introdução da rubrica de Ativos Biológicos.

20. Eliminação do método de custeio dos inventários – LIFO.

21. Permite a contabilização inicial dos Subsídios não reembolsáveis relacionados com Ativos Fixos Tangíveis diretamente na classe de Capitais Próprios

22. Exclusão das Rubricas de caráter extraordinário na demonstração de resultados.

23. DR contempla os resultados com operações descontinuadas, os quais são apresentados numa linha a título informativo.

24. DR requer a apresentação separada dos subsídios à exploração.

25. Não é possível o diferimento de diferenças de câmbio favoráveis em nenhuma circunstância.

26. Os custos com o aumento de Capital Social são registados como uma dedução ao capital.

14. Novidade face ao POC. São estabelecidas regras de mensuração, apresentação e divulgação. Os ANCDV deixam de ser depreciados/amortizados.

15. O que não acontecia no POC.

16. Como parte do custo de determinado ativos incluindo inventários.

17. No POC, o CAPP contemplava também o capital subscrito, sendo apresentado no Ativo o capital a realizar.

18. O que não acontecia no POC (apresentados fora do CAPP).

19. Definição da classificação e regras de mensuração.

20. A NCRF 18 estabelece a eliminação do método do LIFO, colocando assim um fim a uma problemática discutida em vários estudos5.

21. Aumentando assim a estrutura de CAPP.

22. Todos os movimentos anteriormente considerados como tal, serão reclassificados de acordo com a natureza, como por exemplo os Proveitos Extraordinários.

23. Aumentando assim a qualidade da DR.

24. Aumentando assim a objetividade da DR.

25. Aumenta a fiabilidade das DF’s.

26. Deixam de ser incorporados como CAPP.

Fonte: Elaboração própria com base no SNC

5A utilização do método de custeio LIFO originava, em períodos de elevada inflação, margens de lucro mais baixas, dado o custeio mais elevado das vendas e as existências ao preço mais antigo, havendo ainda o risco de subavaliação dos stocks.

(26)

1.3 A Relação entre a Contabilidade e a Fiscalidade em Portugal

A relação entre a Contabilidade e a Fiscalidade tem sido caraterizada ao longo dos anos por alguma controvérsia, dado que muitas vezes as Demonstrações Financeiras de uma entidade são elaboradas de acordo com o normativo fiscal, em detrimento das normas contabilísticas. De acordo com Silva (2011:55) “ (…) a relação entre a fiscalidade e a contabilidade parece, assim, pautada mais pela interferência da primeira na segunda, o que poderá desviar a contabilidade da prossecução do seu objetivo (…)”.

Desta forma, torna-se crucial a análise dos principais itens que levam a relações de conflito com o agora SNC, nomeadamente questões relacionadas com as amortizações/depreciações, ajustamentos e critérios de valorimetria.

Assim, é importante analisar o impacto da entrada em vigor do SNC na aplicação da legislação fiscal. É referido no preâmbulo do DL n.º 159/2009 que deu origem ao SNC, que a manutenção do modelo de dependência parcial determina, desde logo que, sempre que não estejam estabelecidas regras fiscais próprias, se verifica o acolhimento do tratamento contabilístico decorrente das novas normas. Com a adaptação do CIRC ao SNC, optou-se por manter a ligação estreita entre a contabilidade e a fiscalidade, procedendo-se apenas à adaptação das normas do CIRC às novas normas contabilísticas, ou seja, é necessário proceder à atualização da legislação fiscal à terminologia que decorre da reforma contabilística.

Não obstante, de acordo com Pires (2010) verifica-se um esforço de adaptação na nova redação dada ao CIRC pelo DL n.º 159/2009 no âmbito da atualização da terminologia adotada, no entanto, não se verifica o mesmo no Decreto-Regulamentar n.º 25/2009, no qual a Administração Fiscal vem regulamentar o regime de reintegrações e amortizações, em substituição do Decreto-Regulamentar n.º 2/2009, onde é mencionado nos artigos 5.º e 6.º, os métodos das “quotas constantes” e das “quotas decrescentes”, enquanto que no normativo contabilístico atual é efetuada uma alusão aos métodos “da linha reta” e do “saldo decrescente”.

Quanto aos critérios valorimétricos:

“Ao passarmos para um sistema contabilístico que não só permite como em muitos casos incentiva a mensuração ao justo valor, tal significa que estamos não só a reconhecer o património e as variações que ocorrem sobre este e sobre os resultados como, e também, a permitir a inclusão de resultados potenciais, que se espera vir a obter no futuro e, por isso, ainda não realizados. Ou seja, o resultado apurado mantém, em conformidade com o que vinha acontecendo, a sua componente de ‘resultado realizado’ e passa a acolher, como consequência da reforma, uma fração e ‘resultado não realizado’ como um dos aspetos mais visíveis de um modelo contabilístico que se diz assente em princípio e menos em regras explícitas de movimentação de contas.” (Pires, 2010: 10).

(27)

Tendo em conta esta situação, verifica-se aqui um maior afastamento de critérios de objetividade e verificabilidade, dada a estrutura do novo normativo ser um pouco subjetiva causando azo a situações com várias formas de operar, afastando-se da objetividade que tanto carateriza o cálculo do resultado fiscal.

Pode-se assim concluir que com a entrada do SNC em vigor, assiste-se a uma maior autonomia da contabilidade perante a fiscalidade no que concerne à definição das políticas contabilísticas de uma entidade, situações que podem ser constatadas em áreas como as estimativas, provisões, imparidades e o justo valor. Os critérios do IRC não se alteraram muito em relação ao passado, tendo ocorrido mais alterações na terminologia do que na substância do cálculo da fiscalidade. No entanto, continuam a existir alguns entraves da fiscalidade na definição da forma de reconhecimento e mensuração.

1.4 A Manipulação de Resultados

A Contabilidade, enquanto ciência, obriga ao registo de todos os fatos patrimoniais de acordo com o normativo contabilístico em vigor, deve apresentar uma imagem verdadeira e adequada, deve garantir a relevância de todos os fatos patrimoniais, a fiabilidade dos seus valores qualitativos e quantitativos, assim como deve assegurar a comparabilidade no tempo e no espaço da informação apresentada.

O conceito de Contabilidade Criativa/Manipulação de Resultados tem origem anglo- saxônica, tendo sido alvo de vários estudos empíricos na comunidade académica internacional, principalmente no Reino Unido.

1.4.1 Conceito e Caraterísticas

A Manipulação de Resultados 6 é um tema que tem originado grande debate dentro e fora da comunidade académica. Importa referir que existem diversas definições e sentidos na literatura para a manipulação de resultados. Após consulta da variada literacia existente sobre o tema, constata-se que as conclusões obtidas são divergentes nos diferentes estudos empíricos.

Atendendo a Amat e Blake (1996:11), “a contabilidade criativa é o processo mediante o qual se utilizam normas contabilísticas para manipular os valores incluídos nas demonstrações

6Ao longo da presente dissertação serão utilizados os termos manipulação de resultados, contabilidade criativa, earnings management, gestão de resultados, entre outros, todos mencionados de forma indistinta, não obstante alguns autores defenderem que existem algumas diferenças no que concerne ao propósito do ato.

(28)

financeiras que divulgam”. Ou seja, sempre respeitando o normativo e a legislação em vigor, a contabilização é efetuada de acordo com a imagem desejada pela empresa. Face à informação atrás espelhada:

“para a elaboração da informação contabilística existem normas a seguir que não podem deixar de incluir elementos de subjetividade e cuja aplicação requer, algumas vezes, a realização de juízos de valor por parte da empresa, abrindo assim a possibilidade de uma mesma realidade ser refletida de formas diferentes. Além disto, a própria flexibilidade existente nas normas contabilísticas, mais em alguns países que noutros, permite utilizar diversos critérios para contabilizar o mesmo facto económico. É a denominada Contabilidade Criativa (…)” (Marques e Silva, 2010:265).

Por sua vez, Naser elucida que a Contabilidade Criativa é o desfecho da modificação dos valores contabilísticos daquilo que realmente são para aquilo que se ambiciona (Naser, 1993). Assim, os intervenientes responsáveis pela preparação da informação financeira aproveitam-se das facilidades que as normas contabilísticas proporcionam.

Não obstante, já Guimarães (2000:12) referia “Na verdade, a Contabilidade Criativa deverá ser usada em respeito pelos princípios e normas contabilísticas, completando-os com o objetivo de melhorar a informação, ou seja, deve pugnar pela ‘imagem verdadeira e apropriada’

da entidade, de forma a ser útil aos destinatários das demonstrações contabilísticas.” Ora, se a contabilidade criativa for usada com o intuito de transparecer uma realidade mais adequada da empresa, cumprindo sempre com a legalidade contabilística, trata-se de um eficaz instrumento de gestão, atendendo a que necessidades se pretende responder (utentes internos ou externos). Posto isto, a Contabilidade Criativa não deve ser associada a práticas contabilísticas irregulares, nem conduzir à conversão da informação contabilística em algo enganoso e inútil para os seus utilizadores (Shah et al., 2011).

Será que a contabilidade criativa obedece a todos os pressupostos da Contabilidade enquanto ciência? Pode dizer-se que sim, pois face à existência de uma normalização não restritiva, a constante inovação dos factos patrimoniais, ausência de reguladores pró-ativos, a contabilização pode ser efetuada atendendo aos principais interesses da empresa.

A manipulação de resultados é utilizada por um grande número de empresa conforme os seus interesses, isto é, se o objetivo é espelhar uma imagem fiscal ou uma imagem societária/acionista desejada para as empresas. Assim, aproveitando a subjetividade, variadas opções de escolha, vazios jurídicos, a Manipulação de Resultados permite apresentar as DF’s com a imagem desejada, que muitas vezes não é a imagem verdadeira e apropriada - será um meio para um fim.

É relevante também reforçar quais são as empresas propensas à manipulação de resultados, isto é, uma pequena empresa não terá tantos motivos para recorrer à contabilidade

(29)

criativa como uma empresa de grande dimensão, dado que estas têm instrumentos de gestão bem mais limitados. Por exemplo, as grandes empresas apresentam uma maior probabilidade de apresentar nas suas demonstrações financeiras sinais de manipulação de resultados como o goodwill de grandes ativos que lhes permite obter ganhos através de depreciação de bens ou mudança de taxas de depreciação (Latif et al., 2011). Não obstante, atendendo ao contexto económico e legal de cada país, as propensões para recorrer à gestão dos resultados também mudam.

Dentro da pesquisa efetuada, verifica-se que a manipulação de resultados constitui um dos aspetos que tem atraído significativa atenção por parte da literatura contabilística, sendo que Eckel (1981) sugeriu um modelo onde poderão existir diferentes tipos de alisamento de resultados, ou seja: Alisamento Natural e Alisamento Intencional.

De acordo com Mendes e Rodrigues (2006:146): “O alisamento natural resulta do processo de geração dos resultados, o qual produz inerentemente uma tendência de resultados alisada. Em contraste, o alisamento intencional traduz uma vontade do gestor em empreender certas ações com a finalidade de obter um resultado alisado”. Para se conseguir obter um alisamento intencional tem que se ter em conta duas variáveis: contabilísticas (resulta num alisamento artificial concebido através da seleção de procedimentos contabilísticos) ou reais (resultam num alisamento real/económico, alcançado através do controlo de transações económicas).

Esquematicamente, pode-se analisar estas diferenças através do modelo criado por Eckel (1981), como mostra a Figura 2:

(30)

Figura 2: Alisamento de Resultados

Fonte: Adaptado de Eckel (1981)

Outros autores discutiram este tema adicionando novas ideias, isto é, além da identificação de comportamentos de alisamento de resultados, é importante perceber que tipos de empresas desenvolvem tais práticas. Assim, alguns autores como Lev e Kunitzky (1974);

Amihud et al. (1983); Chalayer (1994), Wang e Williams (1994); Michelson et al. (1995); Iñiguez e Poveda (2004), referidos por Mendes & Rodrigues (2006) conseguiram provas empíricas para confirmar que a gestão de uma empresa contribui para a manipulação de resultados e dos resultados líquidos quando esta consegue antecipar determinado risco percecionado que prefere não assumir, assim como contribui para a valorização da empresa.

Fluxo de Alisamento de Resultados

Intencional É alisado pelo Gestor

Alisamento Natural

Alisamento Artificial Alisamento Real

Manipulações Contabilísticas efetuadas pelos

Gestores

Ações tomadas pelos Gestores para controlarem

os eventos económicos

Processo de geração de resultados que

produz inerentemente

resultados manipulados

(31)

Importa ainda referir a diferença entre práticas contabilísticas de contabilidade criativa que respeitam o normativo e a legislação e, aquelas que resultam em fraude7. Não é objetivo da presente tese abordar as práticas fraudulentas, o que iria tornar este trabalho bastante extenso. É sim objetivo, abordar de que forma as empresas portuguesas utilizam o atual normativo contabilístico, dentro da legalidade, para obter os resultados desejados.

A maior parte dos estudos realizados sobre esta temática, apontam os resultados (líquidos ou não) como principal objetivo da manipulação contabilística, no entanto, não se deve cingir este tema apenas aos resultados, uma vez que a gestão de resultados pode abranger vários indicadores financeiros, como será visto mais à frente.

1.4.2 Determinantes da Manipulação de Resultados

A manipulação de resultados é utilizada pelos gestores apenas quando os benefícios que esperam retirar forem superiores aos potenciais custos associados. Caso a manipulação de resultados seja detetada, a entidade e gestores perdem a credibilidade junto dos seus principais parceiros, assim como aumenta o custo de capital usado pelas empresas em virtude dos investidores reverem em baixa as suas estimativas sobre o valor da empresa e da credibilidade das suas demonstrações financeiras (Dechow et al., 1996).

A prática de manipulação de resultados não é de fácil observação: empiricamente têm sido desenvolvidos vários estudos, os quais tem como objetivo definir os principais fatores que levam os gestores às práticas contabilísticas criativas. Foi através da Positive Accounting Theory (PAT) desenvolvida por Watts e Zimmerman (1978), que foram introduzidos os conceitos de custos políticos e custos contratuais8 como determinantes das escolhas contabilísticas das empresas num contexto de assimetria de informação. De acordo com Mendes e Rodrigues (2007), a manipulação de resultados é fortemente influenciada por:

o Determinantes relacionados com o normativo contabilístico;

o Determinantes relacionados com o ambiente empresarial.

Relativamente aos fatores relacionados com o normativo contabilístico, destaca-se a discricionariedade na aplicação de determinados princípios contabilísticos; o predomínio do princípio de apresentação de uma imagem verdadeira e apropriada, que por muitas vezes serve como justificação da gestão para a utilização de determinadas práticas contabilísticas; a

7A ISA 240 define a fraude como “um ato intencional, praticado por uma ou mais pessoas, com intenção deliberada de obter uma vantagem ilegal, que resulta numa representação indevida nas Demonstrações Financeiras”.

8Apelidado também como Teoria Político-Contratual.

(32)

flexibilidade das normas contabilísticas, podendo o gestor de determinada empresa optar por normas alternativas que vão ao encontro do seu objetivo; necessidade da empresa efetuar algumas previsões na contabilização, como é o caso da determinação da vida útil de um bem ou do valor residual no caso das depreciações/amortizações de ativos, situação caraterizada pela subjetividade e incerteza; e, a existência de lacunas/vazios nas normas contabilísticas dando azo à aplicação contabilística que melhor servir os interesses da empresa.

Quanto aos determinantes relacionados com o ambiente empresarial, Mendes e Rodrigues (2007) destacam variáveis avançadas pela Teoria Político-Contratual da Contabilidade, assim como a estrutura de Controlo da empresa, como fatores influenciadores de manipulação contabilística. Face à informação mencionada, a Teoria Político-Contratual pressupõe três situações passíveis de manipulação:

Custos Políticos: esta hipótese indica que pelo facto de algumas empresas apresentarem uma maior visibilidade política que outras entidades, existe uma maior propensão de atração dos poderes públicos, ou seja, uma maior probabilidade destas empresas serem alvo de intervenções governamentais que podem envolver custos. De acordo com o estudo desenvolvido por Zimmerman (1983), empresas de grande dimensão são objeto de maior tributação, logo custos políticos mais elevados. No entanto, outras medidas de custos políticos têm sido analisadas, como a quota de mercado da empresa (aumenta a probabilidade de adoção de medidas antimonopolistas por parte do Estado, o que por sua vez aumenta os custos políticos a suportar pela empresa); grau de sindicalização de uma empresa; graus de concentração da indústria. Estas últimas medidas tem-se demonstrado de difícil comprovação empírica.

Custos Contratuais (Contratos de Remuneração dos gestores): a relação entre gestores e acionistas pode, por vezes resultar em conflitos uma vez que, como os gestores atuam em nome dos acionistas de determinada entidade, tem acesso a informação privilegiada, o que muitas vezes pode resultar numa manipulação da informação publicada com uma finalidade estritamente pessoal. Assim, de forma a contrariar a ocorrência deste tipo de situações, os acionistas podem definir contratos de remuneração (com atribuição de prémios face ao desempenho da empresa) que incentivem o gestor a maximizar o valor da empresa. Empiricamente tem-se concluído que os gestores de empresa que laboram tendo como base contratos de remuneração indexados aos resultados das empresas, tem uma maior tendência para escolher métodos contabilísticos que maximizam o valor da empresa. No entanto, é importante referir que autores como Moses (1987) alertaram para o fato de que nem sempre a maximização do resultado é o objetivo pois, a maioria dos contratos de remuneração

(33)

tem incluído um limite mínimo e máximo de resultados. Assim, quanto maior o resultado, maior será o imposto a pagar, logo o gestor pode optar por diminuir os resultados, constituir uma “reserva” que pode ser utilizada em períodos mais difíceis dado que um aumento adicional nos resultados não implica um prémio adicional e, envolve assim menos custos para o gestor. Este estudo foi comprovado empiricamente assim como estudos posteriormente realizados por outros autores.

Contratos de Endividamento: trata-se de um fator que ganha cada vez mais importância, principalmente no caso português (território constituído maioritariamente por PME’s com necessidades de recurso a financiamento bancário para a prossecução da sua atividade). De acordo com Mendes e Rodrigues (2007), a relação entre acionistas e credores pode gerar por vezes conflitos de interesses. Para atenuar esta situação, os credores optam muitas vezes por estabelecer cláusulas restritivas nos Contratos de endividamento de forma a controlar as ações do Órgão de Gestão, as quais visam a diminuição do risco de transferência de riqueza a favor dos acionistas9. Ora, tendo em conta esta limitação imposta pelos credores, o gestor tende a ser influenciado a manipular a informação financeira, respeitando sempre o normativo contabilístico em vigor, no sentido de minimizar o impacto que este tipo de restrições acarreta para a empresa. Estudos desenvolvidos demonstram que quanto maior o grau de endividamento de uma empresa, maior é a tendência do gestor para efetuar escolhas contabilísticas que aumentem os resultados apresentados. Carlson e Bathala (1997) também reforçam que o endividamento constitui um incentivo para a manipulação de resultados, dado que os gestores de empresa com um endividamento elevado tendem a manipular o resultado devido às restrições impostas pelos contratos de endividamento e de forma a minimizar o risco percebido pelos credores. Neste âmbito tem sido utilizadas diversas técnicas para aferir estas relações, nomeadamente a utilização de rácios financeiros que relacionam a dívida com o valor da empresa.

A estrutura de Controlo da empresa é também considerada por diversos autores, um determinante para a manipulação contabilística. No estudo desenvolvido por Mendes e Rodrigues (2007), verificam-se práticas diferentes quando uma empresa é gerida com propriedade concentrada (onde o controlo da empresa é assegurado pelos acionistas) ou quando é gerida com propriedade de capital difusa (tomada de decisão e propriedade de capital estão separadas). Enquanto no primeiro caso, é esperada a maximização do valor da empresa, o mesmo não acontece nas empresas com propriedade de capital difusa, dado que os gestores deste tipo de empresas preferem maximizar em primeiro lugar os seus interesses e, posteriormente a riqueza dos acionistas. A literatura sobre o tema, aponta para uma maior

9Como é o caso da cláusula de Autonomia Financeira (dada pelo rácio Capital Próprio/Ativo Líquido Total), a qual é utilizada diversas vezes por credores como a Banca, para impor a manutenção de um determinado nível de Capitais Próprios – matéria a ser desenvolvida na II Parte do presente trabalho.

(34)

tendência de práticas contabilísticas manipuladas no caso da propriedade de capital diversificada:

1.º O gestor pretende manter os acionistas da empresa satisfeitos, de forma a segurar o seu lugar na empresa;

2.º O gestor pretende reduzir o risco sistemático (caso se aborde uma empresa cotada na Bolsa de Valores);

3.º O gestor pretende reduzir as assimetrias de informação entre a gestão e os detentores de capital, transmitindo assim os seus objetivos para o futuro da empresa;

4.º O gestor visa planos de remuneração direta ou indiretamente relacionados com os resultados contabilísticos, situação que compreende um compromisso entre os interesses do gestor e dos detentores de capital de forma a assegurar um crescimento estável dos resultados e da remuneração do gestor.

Ainda sobre esta temática, de acordo com Marques e Silva (2010), das razões inerentes à utilização da manipulação de resultados no caso de empresas cotadas em bolsa, podem-se destacar as seguintes:

“- Manutenção de um fluxo constante de receitas: as empresas gostam de demonstrar uma tendência estável de crescimento da faturação e não de evidenciar oscilações bruscas, o que poderia ser interpretado como risco pelo mercado. (…);

- A contabilidade criativa também pode ser utilizada para manter em alta o preço das ações, por meio de mecanismos que reduzam aparentemente o endividamento ou aumentem as receitas e os resultados;

- A contabilidade criativa pode ser utilizada também para atrasar a chegada de informações ao mercado financeiro, beneficiando alguns investidores que tenham acesso privilegiado a tais informações (…);

- A contabilidade criativa pode ser utilizada para mascarar o desempenho governamental.” (Marques e Silva, 2010:268).

No entanto, atendendo ao tecido empresarial português, composto maioritariamente por PME’s e onde existe uma grande interligação entre a fiscalidade e a contabilidade, o pagamento de um imposto sobre o rendimento inferior e a obtenção de financiamento bancário (Eilifsen et al., 1999) surgem como os principais incentivos para a manipulação dos resultados.

1.5 Incentivos à Manipulação de Resultados – Caso de Portugal

De uma forma geral, a Manipulação de Resultados acontece devido à existência de assimetria na informação entre os vários utilizadores das DF’s, assim como devido ao facto do normativo contabilístico em vigor permitir várias interpretações, de acordo com os interesses de quem a utiliza, sempre dentro da legalidade. Pode-se indicar que provavelmente a principal razão para a ocorrência de Contabilidade Criativa prende-se com a intenção de modificar, alterar e distorcer a informação contabilística, nomeadamente o valor da empresa.

Referências

Documentos relacionados

Detectadas as baixas condições socioeconômicas e sanitárias do Município de Cuité, bem como a carência de informação por parte da população de como prevenir

O número de desalentados no 4° trimestre de 2020, pessoas que desistiram de procurar emprego por não acreditarem que vão encontrar uma vaga, alcançou 5,8 milhões

•   O  material  a  seguir  consiste  de  adaptações  e  extensões  dos  originais  gentilmente  cedidos  pelo 

Os dados experimentais de temperatura na secagem da pêra em estufa a 40 o C estão apresentados na Figura 6, assim como os valores calculados pelo modelo

O objetivo deste trabalho foi avaliar épocas de colheita na produção de biomassa e no rendimento de óleo essencial de Piper aduncum L.. em Manaus

5 “A Teoria Pura do Direito é uma teoria do Direito positivo – do Direito positivo em geral, não de uma ordem jurídica especial” (KELSEN, Teoria pura do direito, p..

Os interessados em adquirir quaisquer dos animais inscritos nos páreos de claiming deverão comparecer à sala da Diretoria Geral de Turfe, localizada no 4º andar da Arquibancada

Ficou com a impressão de estar na presença de um compositor ( Clique aqui para introduzir texto. ), de um guitarrista ( Clique aqui para introduzir texto. ), de um director