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Cultura de massa e cultura popular: questões metodológicas

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Academic year: 2018

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REVIEW

A Journal of

Fernand Braudel Center for the Study of Economics, Histories! Systems, and Civilizations,

State University of New York, Binghamton.

Editor: IMMANUEL WALLERSTEIN

ACTES DE LA RECHERCHE

en sciences sociales

Directeur: PIERRE BOURDIEU

54, Boulevard Raspail PARIS

Publié avec le concours de la Maison des Sciences de I'Homme et de I'École des Hautes Études en Sciences Sociales

I

--CULTURA DE MASSA E --CULTURA POPULAR:

QUESTÕES METODOLóGICAS

Maria Sylvia Porto Alegre

Este trabalho se propõe a discutir certos aspectos meto-dológicos do estudo da cultura popular e suas relações com a comunicação de massa no Brasil, a partir da análise de uma pesquisa realizada por ECLEA BOSI - CULTURA DE MASSA E CULTURA POPULAR: leituras de operárias -

apre-sentado inicialmente como tese ao Departamento de Psico-logia da Universidade de São Paulo e publicado em 1973 (*) com apresentação de Dante Moreira Leite e prefácio de Otto Maria Carpeaux.

O trabalho de Ecléa Bosi insere-se na área da Sociologia da Comunicação e levanta questões bastante relevantes, tanto em termos dos pressupostos e referencial teórico que lhe ser-vem de base, como no que se refere à construção de hipóteses

e relações estabelecidas entre teoria e dado empírico.

Por se tratar de uma análise crítica, predominará nesta apreciação a busca das inconsistências internas da obra, sem que isso signifique o não reconhecimento da excelente con-tribuição dada por Ecléa Bosi ao estudo de um tema ainda pouco explorado pela sociologia brasileira.

O livro de Ecléa Bosi levanta algumas questões de im-portância fundamental na área da sociologia da comunicação

*

BOSI, Ecléa, Cultura de Massa e Cultura Popular: leituras de operárias,

Petrópolis: Vozes, 1973.

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e da cultura. Escrito em um momento em que poucos dos nos-sos pesquisadores preocupavam-se com os estudos do campo da cultura operária dentro da sociedade industrial, o principal mérito do livro está justamente em propor questões, em pole-mizar e tentar discutir quais as perspectivas culturais do tra-balhador dentro dessa sociedade e qual o papel do intelec-tual e do pesquisador diante dessas perspectivas, se é que

lhes cabe algum. Tema de tradicionais e incansáveis estu-dos nos países altamente industrializaestu-dos, de base capitalista, a questão da "alta cultura" e da "cultura de massa" só re-centemente, passadas algumas décadas de estudos preocupa-dos com as questões infra-estruturais do nosso processo de formação e desenvolvimento capitalista, ganha o primeiro

pla-no pla-no interesse dos cientistas sociais e políticos brasileiros. Por esta razão, é bastante válido o exame da contribu' ção do livro de Ecléa Bosi. Contribuição que se poderia definir, primordialmente, em termos de sua capacidade de problema-tização de questões já em si polêmicas: "há aproximação e

quase identificação entre· os meios de comunicação e os de cultura?", "os meios de comunicação de massa estão servindo satisfatoriamente à cultura popular?", "existe uma cultura po-pular (ou seja, uma realidade estruturada a partir das rela-ções internas, no coração da sociedade) nas sociedades indus-triais?", "se existe, quais as relações que apresenta com a

indústria cultural?", "a cultura de massa vai absorver a cul-tura popular?"

Para discutir essas questões, a autora organiza sua aná-lise em três níveis, os dois primeiros de natureza teórica e o terceiro de natureza empírica, a partir de um estudo quali-tativo, de caráter etnográfico, com 52 operárias de uma fá-brica na zona oeste de São Paulo.

Seu quadro de referência teórica é dado pelos trabalhos de alguns dos principais estudiosos europeus da chamada "indústria cultural", em especial pelas colocações de Theodor Adorno e sua teoria crítica da produção e consumo de "bens culturais" . Umberto Eco e Antonio Gramsci são também

to-184

REV. C. SOCIAIS, FORTALEZA, V. VIII, N.os 1-2 (1977), 183-196

mados como pontos de apoio, o primeiro em relação às teses sobre cultura e "estruturas de consolação", que servem de base à hipótese central da pesquisa e o segundo como re-ferencial para as considerações sobre cultura operária e lite-ratura. Hannam Arendt, Edgard Morin, Georges Friedmann e Alain Touraine completam o quadro de "argumentos de auto-ridade", sem contudo esgotar a bibliografia utilizada, bastante ampla e diferenciada, que percorre desde a escola funciona-lista de Merton e Charles Wright até as análises em termos de "canal" e "código" de Marshall Mcluhan e Edmar Car-penter, passando por cima talvez unicamente das explicações baseadas nas visões de "sociedade pluralista" de estudiosos como Paul Lazarsfeld, David Riesman e Wright Millís. A fonte de inspiração para a pesquisa parece ter sido a resenha pe-riódica publicada pela revista francesa "Communications" (Paris, Ed. du Seu i I).

A primeira cl'ítica pertinente ao trabalho de Ecléa Bosi re-fere-se ao uso e aplicação mecânica que faz desses modelos

teóricos. Sem entrar na questão de sua adequação e validade explicativa, (o que fugiria aos objetivos deste trabalho) nada, no livro de Ecléa Bosi, indica que ela tenha levado em conta, com a devida atenção, a possibilidade ou não de operar no Brasil com categorias analíticas como "classe operária", "for-ças produtoras", "indústria cultural", etc., da .mesma forma que o fazem Adorno ou Morin na Europa às vezes chamada "pós industrial" . Em nenhum momento considera a hipótese, por exemplo, de que a cultura de um país dependente é também dependente e que isso afeta toda a análise. Quanto às peculia-ridades históricas de nossa cultura, só algumas breves refe-rências, de resto dicutíveis. 7

Esta deficiência é ainda mais séria quando se observa que a autora te:m como proposta apoiar-se em um eixo epistê-mico macro-est1•utural (classe social) e não psicossociológico, como é o caso de toda uma sociologia altamente atuante na pesquisa de comunicação de caráter funcional, assentada sobre os efeitos dos mass média sobre os indivíduos, e

as funções e disfunções desses meios na sociedade.

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e da cultura. Escrito em um momento em que poucos dos nos .. sos pesquisadores preocupavam-se com os estudos do campo da cultura operária dentro da sociedade industrial, o principal mérito do livro está justamente em propor questões, em pole-mizar e tentar discutir quais as perspectivas culturais do tra-balhador dentro dessa sociedade e qual o papel do intelec-tual -e do pesquisador diante dessas perspectivas, se é que

lhes cabe algum. Tema de tradicionais e incansáveis estu-dos nos países altamente industrializaestu-dos, de base capitalista, a questão da "alta cultura" e da "cultura de massa" só re-centemente, passadas algumas décadas de estudos preocupa-dos com as questões infra-estruturais do nosso processo de formação e desenvolvimento capitalista, ganha o primeiro

pla-no pla-no interesse dos cientistas sociais e políticos brasileiros. Por -esta razão, é bastante válido o exame da contribu'ção do livro de Ecléa Bosi. Contribuição que se poderia definir, primordialmente, em termos de sua capacidade de problema-tização de questões já em si polêmicas: "há aproximação e

quase identificação centre· os meios de comunicação e os de cultura?", "os meios de comunicação de massa estão servindo satisfatoriamente à cultura popular?", "existe uma cultura po-pular (ou seja, uma realidade estruturada a partir das rela-ções internas, no coração da sociedade) nas sociedades indus-triais?", "se existe, quais as relações que apresenta com a

indústria cultural?", "a cultura de massa vai absorver a cul-tura popular?"

Para discutir essas questões, a autora organiza sua aná-lise em três níveis, os dois primeiros de natureza teórica e o terceiro de natureza empírica, a partir de um estudo quali-tativo, de caráter etnográfico, com 52 operárias de uma fá-brica na zona oeste de São Paulo.

Seu quadro de referência teórica é dado pelos trabalhos de alguns dos principais estudiosos europeus da chamada "indústria cultural", em especial pelas colocações de Theodor Adorno e sua teoria crítica da produção e consumo de "bens culturais" . Umberto Eco e Antonio Gramsci são também

to-184 REV. C. SOCIAIS, FORTALEZA, V. VIII, N.os 1-2 (1977), 183-196

mados como pontos de apoio, o primeiro em relação às teses sobre cultura e "estruturas de consolação", que servem de base à hipótese central da pesquisa e o segundo como re-ferencial para as considerações sobre cultura operária e lite-ratura. Hannam Arendt, Edgard Morin, Georges Friedmann e Alain Touraine completam o quadro de "argumentos de auto-ridade", sem contudo esgotar a bibliografia utilizada, bastante ampla e diferenciada, que percorre desde a escola funciona-lista de Merton e Charles Wright até as análises em termos de "canal" e " cód igo" de Marshall Mcluhan e Edmar Car-penter, passando por cima talvez unicamente das explicações baseadas nas visões de "sociedade pluralista" de estudiosos como Paul Lazarsfeld, David Riesman e Wright Millis. A fonte de inspiração para a pesquisa parece ter sido a resenha pe-riódica publicada pela revista francesa "Communications" (Paris, Ed . du Seu i I).

A primeira cr'ítica pertinente ao trabalho de Ecléa Bosi re-fere-se ao uso e aplicação mecânica que faz desses modelos

teóricos. Sem entrar na questão de sua adequação e validade explicativa, (o que fugiria aos objetivos deste trabalho) nada, no livro de Ecléa Bosi , indica que ela tenha levado em conta, com a devida atenção, a possibilidade ou não de operar no Brasil com categorias analíticas como "classe operária", "for-ças produtoras", "indústria cultural", etc., da .mesma forma que o fazem Adorno ou Morin na Europa às vezes chamada "pós industrial" . Em nenhum momento considera a hipótese, por exemplo, de que a cultura de um país dependente é também dependente e que isso afeta toda a análise. Quanto às peculia-ridades históricas de nossa cultura, só algumas breves refe-rências, de resto dicutíveis. 7

Esta deficiência é ainda mais séria quando se observa que a autora tem como proposta apoiar-se em um eixo epistê-mico macro-est1•utural (classe social) e não psicossociológico, como é o caso de toda uma sociologia altamente atuante na pesquisa de comunicação de caráter funcional, assentada sobre os efeitos dos mass média sobre os indivíduos, e

as funções e disfunções desses meios na sociedade.

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Ecléa Bosi não só se propõe uma visão macro-estrutu-ral como se percebe em seu discurso a preocupação com a dimensão histórica e a análise crítica. Preocupação que a leva a voltar-se para o contexto social ao qual se refere o processo

de comunicação de massa e não para outras perspectivas pos-síveis (psicossocial , semiológica, teoria da informação, ciber-nética, etc.).

Procura, a partir daí, extrair os pontos comuns, as con-vergências dos vários modelos de explicação da cultura na

so-ciedade industrial, cultura esta vista de forma sistemática e estruturada: "os vários fatores da comunicação operam inter-ligados, compõem a estrutura de um sistema. O sistema é a indústria cultural, indústria enquanto complexo de produção de bens. Cultural, quanto ao tipo de bens" (pág. 40).

Dentro dessa perspectiva, e dando a tônica central à

análise, a autora procura uma visão uni ficadora, mas acaba oscilando entre conceitos de estrutura e súperestrutura, re-duzindo e simplificando os quadros de referência, uma vez que não está preocupada com suas dissemelhanças e sim com seus pontos comuns. Esse reducionismo é a segunda

falha mais evidente, principalmente porque deixa de consi-derar a dimensão política e ideológica do tema. A discussão da questão da ideologia como expressão cultural das formas de dominação, por exemplo, não chega a ser fe ita, apesar de ser peça fundamental na teoria da "indústria cultural". O texto refere-se apenas tangencialmente ao problema, sem chegar a considerá-lo central na análise. Por vezes toca o tema, como quando interpreta a teoria de E . Morin sobre a produção da indústria cultural visando um "consumidor ideal", da "socie-dade de massa", ou quando constata que a " el ite do poder" tem uma "visão preconceituosa" do que é a massa. Gabriel Cohn, em seu rigoroso trabalho sobre teoria e ideologia da sociologia da comunicação, (*) chama atenção, por exemplo, para as diferenças entre Morin, que procede a uma análise contextual estruturalista, baseada na construção de

"padrões-*

COHN, G ., Sociologia da Comunicação - Teoria e Ideo logia, S. Paulo, Pioneira, 1973.

186

REV. C. SOCIAIS, FoRTALEZA, V. VIII, N.os 1-2 (1977) , 183-196

modelos" , e Adorno , preocupado com a indústria cultural en-quanto sistema que se articula, não a partir do consumidor real, mas em função do nivelamento de um " público massa" abstrato, ao qual uma realidade cultural é imposta, de cima para baixo. Para Adorno as massas não são a medida, mas a ideologia da indústria cultural.

Ao optar pelos aspectos convergentes dos diversos auto-res, a autora acaba caindo em uma posição que se poderia pretender "eclética" , mas que na rea lidade é ambígua, pela

impossibilidade de conciliação ou coexistência de certos as-pectos das diferentes abordagens. Compare-se essa orienta-ção com a de Gabriel Cohn, por exemplo, que percorrre na obra acima citada o caminho oposto de buscar as divergências entre as escolas, o que o leva a optar por uma delas -a escol-a de Fr-ankfurt; ou com -a de Miri-am Goldefeder em

"Manipulação e Participação : a Rádio Nacional em debate" (tese de mestrado em ciências políticas pela Unicamp) que, pelo mesmo caminho, refuta Adorno e sua visão pessimista e "Jmobilista" da realidade para seguir a trilha mais " otimista" aberta por Gramsci, Eco e Morin , sobre as possibilidades de superação dessa realidade.

Dentro dessa ambiguidade, a não definição metodológica clara é uma constante em Ecléa Bosi. Mesmo quando reco-nhece que "a definição de cultura popular não é tarefa sim-ples: depende da escolha de um ponto de vista e, em geral, implica tomada de posição" (pág. 53), não define sua posição. Começa citando Gramsci e as " estruturas ideológicas" da so-ciedade e termina se inclinando para Dwight MacDonald e sua bipartição da cultura popular em " masscult" e "midcult", apud

Eco. Ora considera classe e massa como conceitos conflitan-tes, ora os confunde em um só conceito, o memo fazendo com cultura de massa e indústria cultural.

A ambiguidade e falta de clareza cristalizam-se na hipó-tese central: "o teor e os processos de composição da lite-ratura de massa estariam subordinados a necessidades de evasão e de consolação . . . O que lê uma jovem industriária

à noite ou nos fins de semana? Caso se encontrasse· nas suas

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Ecléa Bosi não só se propõe uma visão macro-estrutu-ral como se percebe em seu discurso a preocupação com a dimensão histórica e a análise crítica. Preocupação que a leva a voltar-se para o contexto social ao qual se refere o processo

de comunicação de massa e não para outras perspectivas pos-síveis (psicossocial , semiológica, teoria da informação, ciber-nética, etc.).

Procura, a partir daí, extrair os pontos comuns, as con-vergências dos vários modelos de explicação da cultura na

so-ciedade industrial, cultura esta vista de forma sistemática e estruturada: "os vários fatores da comunicação operam inter-ligados, compõem a estrutura de um sistema. O sistema é a indústria cultural, indústria enquanto complexo de produção de bens. Cultural, quanto ao tipo de bens" (pág. 40).

Dentro dessa perspectiva, e dando a tônica central à

análise, a autora procura uma visão unificadora, mas acaba oscilando entre conceitos de estrutura e súperestrutura, re-duzindo e simplificando os quadros de referência, uma vez que não está preocupada com suas dissemelhanças e sim com seus pontos comuns. Esse reducionismo é a segunda falha mais evidente, principalmente porque deixa de consi-derar a dimensão política e ideológica do tema. A discussão da questão da ideologia como expressão cultural das formas de dominação, por exemplo, não chega a ser fe ita, apesar de ser peça fundamental na teoria da "indústria cultural". O texto refere-se apenas tangencialmente ao problema, sem chegar a considerá-lo central na análise. Por vezes toca o tema, como quando interpreta a teoria de E . Morin sobre a produção da indústria cultural visando um "consumidor ideal", da "socie-dade de massa", ou quando constata que a " el ite do poder" tem uma "visão preconceituosa" do que é a massa. Gabriel Cohn, em seu rigoroso trabalho sobre teoria e ideologia da sociologia da comunicação, (*) chama atenção, por exemplo, para as diferenças entre Morin, que procede a uma análise contextual estruturalista, baseada na construção de

"padrões-*

COHN, G. , Sociologia da Comunicação - Teoria e Ideo logia, S. Paulo, Pioneira, 1973.

186

REV. C. SOCIAIS, FoRTALEZA, V. VIII, N.os 1-2 (1977) , 183-196

modelos" , e Adorno , preocupado com a indústria cultural en-quanto sistema que se articula, não a partir do consumidor real, mas em função do nivelamento de um " público massa" abstrato, ao qual uma realidade cultural é imposta, de cima para baixo. Para Adorno as massas não são a medida, mas a ideologia da indústria cultural.

Ao optar pelos aspectos convergentes dos diversos auto-res, a autora acaba caindo em uma posição que se poderia pretender " eclética" , mas que na rea lidade é ambígua, pela

impossibilidade de conciliação ou coexistência de certos as-pectos das diferentes abordagens. Compare-se essa orienta-ção com a de Gabriel Cohn, por exemplo, que percorrre na obra acima citada o caminho oposto de buscar as divergências entre as escolas, o que o leva a optar por uma delas -a escol-a de Fr-ankfurt; ou com -a de Miri-am Goldefeder em

"Manipulação e Participação: a Rádio Nacional em debate" (tese de mestrado em ciências políticas pela Unicamp) que, pelo mesmo caminho, refuta Adorno e sua visão pessimista e "Jmobilista" da realidade para seguir a trilha mais " otimista" aberta por Gramsci, Eco e Morin, sobre as possibilidades de superação dessa realidade.

Dentro dessa ambiguidade, a não definição metodológica clara é uma constante em Ecléa Bosi. Mesmo quando reco-nhece que "a definição de cultura popular não é tarefa sim-ples: depende da escolha de um ponto de vista e, em geral, implica tomada de posição" (pág. 53), não define sua posição. Começa citando Gramsci e as " estruturas ideológicas" da so-ciedade e termina se inclinando para Dwight MacDonald e sua bipartição da cultura popular em "masscult" e "midcult", apud

Eco. Ora considera classe e massa como conceitos conflitan-tes, ora os confunde em um só conceito, o memo fazendo com cultura de massa e indústria cultural.

A ambiguidade e falta de clareza cristalizam-se na hipó-tese central: "o teor e os processos de composição da lite-ratura de massa estariam subordinados a necessidades de evasão e de consolação . . . O que lê uma jovem industriária

à noite ou nos fins de semana? Caso se encontrasse· nas suas

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leituras um corpus temático peculiar à sua situação objetiva

de classe, ter-se-iam condições para afirmar a existência de uma literatura aderente aos problemas do meio operário. Em caso negativo, ter-se-á a confirmação de que a operária

é

mais um tipo de consumidor de produtos culturais fabricados em série, em função de certos efeitos" (pgs .. 75/76) .

O que significa " um corpus temático peculiar à sua

si-tuação objetiva de classe"? Não há qualquer esclarecimento a respeito. Aliás, para se afirmar a existência ou não existên-cia de uma literatura "aderente aos problemas do meio ope-rário" o melhor caminho não parece ser entrevistar um pu-nhado de operárias mas examinar essa literatura, o que não seria muito difícil, em um país onde a produção editorial é tão baixa. O aspecto mais integrante da hipótese, entretanto,

é a observação " . .. em caso negativo, ter-se-á a confirma-ção de que a operária é mais um tipo de consumidor de pro-dutos culturais . . . " Como, caso a operária leia fotonovelas, revistas em quadrinho ou romances policiais baratos, deixa de estar inserida em uma situação de classe e passa a existir em situação de massa?

Claro que a questão está mal formulada. Mais esclare-cedora é a afirmação que faz a seguir, que remete ao problema da "consciência de classe" (que ela contudo não formula): "se no trabalho e no lazer corre o mesmo sangue social, é de se esperar que a alienação de um gere a evasão e proces-sos compensatórios em outro" (pág. 76) . E mais não diz sobre o assunto.

O resultado é que os problemas vão aparecer no plano empírico, demonstrando a importância dos pressupostos

teó-ricos e metodológicos e da construção de conceitos operató-rios adequados no estabelecimento da relações entre· teoria e dado empírico.

lntuindo a complexidade das questões levantadas no que diz respeito à sua verificação empírica, a pesquisadora logo adverte: "qualquer sondagem sobre a leitura em meios

ope-rários se arriscará a ficar na mera constatação de que a

in-188

REV. C. SOCIAIS, FORTALEZA, V. VIII, N.os 1-2 (1977 ) , 183-196

dústria cultural provê o único alimento dos sujeitos conside-rados" (pág. 82).

(Aliás, para saber isso bastaria recorrer aos arquivos dos departamentos de pesquia das empresas editoras de jornais e revistas ou das agências de propaganda, que possuem es-tatísticas bastante acuradas e precisas sobre tais hábitos).

O que fazer então? A solução proposta, longe de resolver a questão, acaba por criar uma 。セュ。、ゥャィ。@ que enreda a pes-quisadora em suas próprias malhas: "a não ser que o pesqui-sador tente ir além da pergunta 'o que lê uma operária?' e in-dagar das potencialidades realizáveis nos ・ョセイ・カゥウエ。、ッウ ᄋ@ ('o que gostaria de ler uma operária?')" (pág. 83). Ingenuamen-te, crê ter resolvido o problema recorrendo às próprias entre-vistadas, sem levar em conta que o dado empírico, neste caso,

é apenas a manifestação mais externa de condicionantes es-truturais globais que operam para além do plano da consci-ência individual.

O resultado é óbvio: uma operária, leitora de revistas sen-timentais, principalmente fotonovelas, horóscopos e

assun-tos sobre a vida doméstica e prefere ler. . . os mesmos

te-mas.

Seria preciso recorrer a Lucaks e a Goldmann e discutir os conceitos de consciência real e consciência possível para

tentar elucidar essa questão, mas isso alongaria esse trabalho além de seus objetivos. Goldmann, em seu artigo "Consciên-cia Possível e Comunicação" faz considerações bastante inte-ressantes sobre a possibilidade de pesquisa da "consciência possível" fora dos quadros da sociologia descritiva conven-cional. (*) De qualquer forma, é fácil perceber que se está seguindo uma pista metodológica errada ao se supor que "só o confronto destes hábitos com as aspirações declaradas pode

testar com objetividade a hipótese geral lançada atrás, pela qual a leitura mais procurada pelas operárias responde

prin-*

"L"importance du concept de conscience possible pour la communication",

publicado em português por Gabriel Cohn, no livro : Comunicação e

In-dústria Cultural, São Paulo, CEN, 1971.

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leituras um corpus temático peculiar à sua situação objetiva

de classe, ter-se-iam condições para afirmar a existência de uma literatura aderente aos problemas do meio operário. Em caso negativo, ter-se-á a confirmação de que a operária é mais um tipo de consumidor de produtos culturais fabricados em série, em função de certos efeitos" (pgs .. 75/76).

O que significa " um corpus temático peculiar à sua

si-tuação objetiva de classe"? Não há qualquer esclarecimento a respeito. Aliás , para se afirmar a existência ou não existên-cia de uma literatura "aderente aos problemas do meio ope-rário" o melhor caminho não parece ser entrevistar um pu-nhado de operárias mas examinar essa literatura, o que não seria mu ito difícil, em um país onde a produção editorial é tão baixa. O aspecto mais integrante da hipótese, entretanto, é a observação " . .. em caso negativo, ter-se-á a confirma-ção de que a operária é mais um tipo de consumidor de pro-dutos culturais . . . " Como, caso a operária leia fotonovelas, revistas em quadrinho ou romances policiais baratos, deixa de estar inserida em uma situação de classe e passa a existir em situação de massa?

Claro que a questão está mal formulada. Mais esclare-cedora é a afirmação que faz a seguir, que remete ao problema da "consciência de classe" (que ela contudo não formula): "se no trabalho e no lazer corre o mesmo sangue social, é de se esperar que a alienação de um gere a evasão e proces-sos compensatórios em outro" (pág. 76). E mais não diz sobre o assunto.

O resultado é que os problemas vão aparecer no plano empírico, demonstrando a importância dos pressupostos

teó-ricos e metodológicos e da construção de conceitos operató-rios adequados no estabelecimento da relações entre· teoria e dado empírico.

lntuindo a complexidade das questões levantadas no que diz respeito à sua verificação empírica, a pesquisadora logo adverte: "qualquer sondagem sobre a leitura em meios

ope-rários se arriscará a ficar na mera constatação de que a

in-188 REV. C. SOCIAIS, FoRTALEZA, v . VIII, N.os 1-2 (1977 ), 183-196

dústria cultural provê o único alimento dos sujeitos conside-rados" (pág. 82).

(Aliás, para saber isso bastaria recorrer aos arquivos dos departamentos de pesquia das empresas editoras de jornais e revistas ou das agências de propaganda, que possuem es-tatísticas bastante acuradas e precisas sobre tais hábitos).

O que fazer então? A solução proposta, longe de resolver a questão, acaba por criar uma 。セュ。、ゥャィ。@ que enreda a pes-quisadora em suas próprias malhas: "a não ser que o pesqui-sador tente ir além da pergunta 'o que lê uma operária?' e in-dagar das potencialidades realizáveis nos enüevistados· ('o que gostaria de ler uma operária?')" (pág. 83). Ingenuamen-te, crê ter resolvido o problema recorrendo às próprias entre-vistadas, sem levar em conta que o dado empírico, neste caso, é apenas a manifestação mais externa de condicionantes es-truturais globais que operam para além do plano da consci-ência individual.

O resultado é óbvio: uma operária, leitora de revistas sen-timentais, principalmente fotonovelas, horóscopos e

assun-tos sobre a vida doméstica e prefere ler . . . os mesmos

te-mas.

Seria preciso recorrer a Lucaks e a Goldmann e discutir os conceitos de consciência real e consciência possível para

tentar elucidar essa questão, mas isso alongaria esse trabalho além de seus objetivos. Goldmann, em seu artigo "Consciên-cia Possível e Comunicação" faz considerações bastante inte-ressantes sobre a possibilidade de pesquisa da "consciência possível" fora dos quadros da sociologia descritiva conven-cional. (*) De qualquer forma, é fácil perceber que se está seguindo uma pista metodológica errada ao se supor que ''só o confronto destes hábitos com as aspirações declaradas pode

testar com objetividade a hipótese geral lançada atrás, pela qual a leitura mais procurada pelas operárias responde

prin-*

"L"importance du concept de conscience possible pour la communication",

publicado em português por Gabriel Cohn, no livro : Comunicação e

In-dústria Cultural, São Paulo, CEN, 1971.

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cipalmente a tendências compensatórias, evasivas, gratifica-deras" (pág. 83).

A tentativa de conjugar, em um mesmo estudo, categorias analíticas explicativas, inspi:mdas no modelo marxista, com le-vantamentos de dados empíricos de caráter descritivo, é uma temeridade a que já se expôs mais de um cientista social. Fernando Henrique Cardoso demonstra a atualidade do tema ao comentar as dificuldades de operacionalização do conceito de "classe social" marxista em pesquisas de campo que uti-lizam amostragens populacionais. (':') Embora sem explicitá-las, a autora demonstra várias vezes suas dificuldades meto-dológicas. Comentando, por exemplo, como se poderia res-ponder à pergunta: "existe uma cultura especificamente ope-rária?" conclui: "fosse qual fosse o resultado da pesquisa e a natureza dos dados empíricos colhidos em certo momento, impõe-se ao espírito do pesquisador a dimensão da História, em que dados diferentes já se manifestaram" (pág. 162), e logo adiante: "além desses hábitos devem existir, por hipótese, caracteres específicos da classe operária, visíveis ou não a olho nú, captáveis ou não pelo aqui-e-agora de uma pesquisa"

(pág. 163).

Mais uma vez fica patente a necessidade de uma perspec-tiva teórica e metodológica clara, sejam quais forem as ten-dências do pesquisador, que oriente não só a reflexão e a aná-lise mas a própria observação empírica. Em Ecléa Bosi a falta de uma proposta própria provoca a ida e volta do dado em-pírico à teoria, e não saber exatamente o que fazer com o ma-terial pesquisado, até chegar ao limite da auto-negação da pesquisa, ao declarar: "um exame do passado desses grupos ajuda a transcender a pseudoconcreticidade dos dados

empí-ricos e dirige nossa atenção para ocorrências não-visíveis no momento, mas possíveis. Acreditamos na possibilidade de uma cultura operária revendo o seu passado, diferente, sim, da si-tuação atual" (pág. 163).

A chave para o entendimento das ambiguidades do

pen-*

Cardoso, F. H., Autoritarismo e Democratização.

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REV. C. SOCIAIS, FORTALEZA, V. VIII, N.os 1-2 (1977), 183-196

sarnento da autora parece estar em seu interesse não só por aquilo que é (ou parece ser) cultura de massa e cultura

po-pular, mas pelo que acredita que deve ser e pelas teses que ad-voga quanto ao papel do intelectual nesse contexto.

As tomadas de posição são claras. Não se pode acusá-la de omissão nesse ponto. Ecléa Bosi está profundamente inte-ressada na possibilidade "de uma intervenção ativa das co-munidades culturais no campo das comunicações de massa" e acredita que essa possibilidade é "de colaboração e critica construtiva", "de luta por uma cultura de proposta" contra uma "cultura de entretenimento".

Coloca problemas éticos quanto ao papel do intelectual: "a sua atitude não deve ser nem a de polêmica aristocrática contra os meios de massa, nem a cegueira ante sua periculo-sidade". (pág. 169).

Assume compromissos com a realidade que procura apre-ender: "depois de descobrir carências, percebemos que elas nos comprometem". Comprometimento que gostaria de levar ao limite de poder falar em nome do operário a partir da pers-pectiva que ele próprio tem da realidade: "assumir uma visão operária do mundo é um serviço difícil, um limite que tenta-mos alcançar, um caminho a percorrer". (pág. 169)

Acredita que os meios de comunicação de massa devem servir à cultura popular e que a pesquisa pode· contribuir para isso, pois "os seus resultados afetam o coração mesmo de qualquer planejamento democrático em áreas prioritárias como a Educação e a Cultura" (pág. 23).

Fortemente influenciada pelo papel formador que entrevê para a função social da literatura (afinal o livro é apresentado por Dante Moreira Leite, prefaciado por Otto Maria Carpeaux e dedicado a Alfredo Bosi), constata com Sartre que "escrever é desvendar o mundo" e tem suficiente abertura intelectual para vislumbrar até mesmo na fotonovela popular uma possi-bilidade de uso: "um sopro renovador poderia alterar contexto, meio, mensagem e exercer em benefício da operária uma

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cipalmente a tendências compensatórias , evasivas, gratifica-doras" (pág. 83) .

A tentativa de conjugar, em um mesmo estudo, categorias analíticas explicativas, inspi P.adas no modelo marxista, com le-vantamentos de dados empíricos de caráter descritivo, é uma temeridade a que já se expôs mais de um cientista social. Fernando Henrique Cardoso demonstra a atualidade do tema ao comentar as dificuldades de operacionalização do conceito de "classe social" marxista em pesquisas de, campo que uti-lizam amostragens populacionais. (':') Embora sem explicitá-las, a autora demonstra várias vezes suas dificuldades meto-dológicas. Comentando, por exemplo, como se poderia res-ponder à pergunta: "existe uma cultura especificamente ope-rária?" conclui: "fosse qual fosse o resultado da pesquisa e a natureza dos dados empíricos colhidos em certo momento, impõe-se ao espírito do pesquisador a dimensão da História, em que dados diferentes já se manifestaram" (pág. 162), e logo adiante: "além desses hábitos devem existir, por hipótese, caracteres específicos da classe operária, visíveis ou não a olho nú, captáveis ou não pelo aqui-e-agora de uma pesquisa"

(pág. 163) .

Mais uma vez fica patente a necessidade de uma perspec-tiva teórica e metodológica clara, sejam quais forem as ten-dências do pesquisador, que oriente não só a reflexão e a aná-lise .mas a própria observação empírica. Em Ecléa Bosi a falta de uma proposta própria provoca a ida e volta do dado em-pírico à teoria, e não saber exatamente o que fazer com o ma-terial pesquisado, até chegar ao limite da auto-negação da pesquisa, ao declarar: " um exame do passado desses grupos ajuda a transcender a pseudoconcreticidade dos dados

empí-ricos e dirige nossa atenção para ocorrências não-visíveis no momento, mas possíveis. Acred itamos na possibilidade de uma cultura operária revendo o seu passado, diferente, sim, da si-tuação atual" (pág. 163).

A chave para o entendimento das ambiguidades do

pen-*

Cardoso, F . H. , Autoritarismo e Democratização.

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REV. C. SOCIAIS, FORTALEZA, V. VIII, N.os 1-2 (1977 ) , 183-196

-sarnento da autora parece estar em seu interesse não só por aquilo que é (ou parece ser) cultura de massa e cultura

po-pular, mas pelo que acredita que deve ser e pelas teses que

ad-voga quanto ao papel do intelectual nesse contexto.

As tomadas de posição são claras. Não se pode acusá-la de omissão nesse ponto. Ecléa Bosi está profundamente inte-ressada na possibilidade "de uma intervenção ativa das co-munidades culturais no campo das comunicações de massa" e acredita que essa possibilidade é "de colaboração e critica construtiva" , " de luta por uma cultura de proposta" contra uma " cultura de entretenimento".

Coloca problemas éticos quanto ao papel do intelectual: "a sua atitude não deve ser nem a de polêmica aristocrática contra os meios de massa, nem a cegueira ante sua periculo-sidade". (pág. 169).

Assume compromissos com a realidade que procura apre-ender: "depois de descobrir carências, percebemos que elas nos comprometem" . Comprometimento que gostaria de levar ao limite de poder falar em nome do operário a partir da pers-pectiva que ele próprio tem da realidade: "assumir uma visão operária do mundo é um serviço difícil, um limite que tenta-mos alcançar, um caminho a percorrer". (pág. 169)

Acredita que os meios de comunicação de massa devem servir à cultura popular e que a pesquisa pode, contribuir para isso, pois "os seus resultados afetam o coração mesmo de qualquer planejamento democrático em áreas prioritárias como a Educação e a Cultura" (pág. 23) .

Fortemente influenciada pelo papel formador que entrevê para a função social da literatura (afinal o livro é apresentado por Dante Moreira Leite, prefaciado por Otto Maria Carpeaux e dedicado a Alfredo Bosi) , constata com Sartre que " escrever é desvendar o mundo" e tem suficiente abertura intelectual para vislumbrar até mesmo na fotonovela popular uma possi-bil idade de uso: "u.m sopro renovador poderia alterar contexto, meio, mensagem e exercer em benefício da operária uma

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dagogia visual. A fotonovela subverteria sua função obscuran-tista. O meio em si poderia falar a favor do homem" (pág. 135).

Vista dessa perspectiva ideológica, a sua recusa do dado empírico não estaria no temor de que ele talvez contrarie suas

expectativas de possibilidade de intervenção na realidade? Por exemplo, após constatar que "o mesmo sistema que com finalidade mercantilista despoja suas tarefas (do operá-rio) de todo interesse e vida, vai explorar comercialmente a necessidade de evasão" (pág. 154). Que "a imprensa de massa se· dirige ao trabalhador não como membro de um público es-pecial, mas como a um consumidor anônimo, debilitando em sua consciência o sentido e a significação de sua classe" (pág. 157), parte para um discurso abertamente ideológico: "se con-siderarmos a classe operária como um público urbano e nos interrogarmos sobre os traços próprios de sua cultura vere-mos que esta contém, como a popular, elementos lúdicos e

cognitivos. Ontem o operário teve sua cultura de folk como lavrador; amanhã vai se integrar na cultura urbana; hoje pode viver uma fusão das duas culturas. Mas, se existe uma cultu-ra operária específica, ainda que por um lapso de tempo, ela

nos parece dirigida para o conhecimento e a ação e não para a evasão . . . Conservando resíduos artesanais, rurais ou populares indistintamente, ela é sempre engajada quando se corporifica em algum lugar ou tempo" (pág. 166).

O livro termina com a questão "como situar este traba-lho no conjunto dessas análises?" Além da louvável intenção

de contribuir para uma visão do operário a partir de sua pró-pria perspectiva e não daquilo que o intelectual acredita que ele seja, propõe: "esta pesquisa foi realizada na véspera, antes dos fatos, isto é, antes da formação de uma comunidade de leitores. Devemos trabalhar para sua existência através da for mação de bibliotecas de bairro, de paróquia, de fábrica"

(pág. 169) .

Parece que a autora cultua a visão ingênua de um pro-gressismo cultural fatal, a crença de que o simples aumento da leitura por parte do operário lhe seria benéfica do ponto de vista da busca de identidade social . Mas, e se essa

lei-192

REV. C. SOCIAIS, FORTALEZA, V. VIII, N.os 1-2 (1977), 183-196

-tura continuar carregada do mesmo "conteúdo mercantilis-ta", di[,tanciada dos reais interesses da classe operária, até que ponto terá ela um papel diferente dos demais meios de comunicação na formação da consciência de classe? Além disso, para quem iniciou a discussão falando em "estruturas sócio-econômicas", torna-se incompreensível considerar que bibliotecas paroquiais possam ter qualquer influência decisi-va no processo de alteração da estrutura de dominação cul-tural em que se encontra a classe operária.

A autora discute a essa altura as posições de Lazarsfeld e Adorno em torno da questão do papel do intelectual, geral-mente colocada em uma perspectiva política de alternativa entre o protesto isolado ou a negação total do modelo polí-tico. Negando a posição do intelectual "que se abstém de toda

prática, esgotando-se na crítica", defende a possibilidade "de uma mudança que vem à luz sob a pressão de um agregado de forças infinitesimais, cuja somatória permite um salto qua-litativo".

Trazendo a discussão para a atualidade e para nossa pró-priar realidade, caberia lembrar a importante contribuição de· Carlos Guilherme Motta em "Ideologia da Cultura Brasilei-ra" {*) a respeito das vinculações entre política, vanguarda cultural e integração capitalista, quando observa que "a inte-lectualidade mais progressista, vivendo o colapso do populis-mo, viu-se obrigada a renunciar ao ideal .mannheimeano de intelectual (sempre acima e à frente do processo histórico) e a integrar-se no sistema, ou, num outro caminho, a partir para posições mais radicais, fora dos quadros consentidos".

Ecléa Bosi possivelmente não aceitaria essa interpretação, uma vez que acredita na possibilidade de atuação do intelec-tual dentro do sistema, sem obrigatoriamente estar• a serviço dele.

Tem uma visão mais otimista do processo.

Quem está com a razão - pessimistas ou otimistas? - é sem dúvida uma questão em aberto, que em última análise

*

MOTA, Carlos Guilherme, Ideologia da Cultura Brasileira (1933-1974) . São Paulo, Atica, 1977, p. 248.

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dagogia visual. A fotonovela subverteria sua função obscuran-tista. O meio em si poderia falar a favor do homem" (pág. 135). Vista dessa perspectiva ideológica, a sua recusa do dado empírico não estaria no temor de que ele talvez contrarie suas

expectativas de possibilidade de intervenção na realidade? Por exemplo, após constatar que "o mesmo sistema que com finalidade mercantilista despoja suas tarefas (do operá-rio) de todo interesse e vida, vai explorar comercialmente a necessidade de evasão" (pág. 154). Que "a imprensa de massa se· dirige ao trabalhador não como membro de um público es-pecial, mas como a um consumidor anônimo, debilitando em sua consciência o sentido e a significação de sua classe" (pág. 157), parte para um discurso abertamente ideológico: "se con-siderarmos a classe operária como um público urbano e nos interrogarmos sobre os traços próprios de sua cultura vere-mos que esta contém, como a popular, elementos lúdicos e cognitivos. Ontem o operário teve sua cultura de folk como lavrador; amanhã vai se integrar na cultura urbana; hoje pode viver uma fusão das duas culturas. Mas, se existe uma cultu-ra operária específica, ainda que por um lapso de tempo, ela

nos parece dirigida para o conhecimento e a ação e não para a evasão. . . Conservando resíduos artesanais, rurais ou populares indistintamente, ela é sempre engajada quando se corporifica em algum lugar ou tempo" (pág. 166).

O livro termina com a questão "como situar este traba-lho no conjunto dessas análises?" Além da louvável intenção

de contribuir para uma visão do operário a partir de sua pró-pria perspectiva e não daquilo que o intelectual acredita que ele seja, propõe: "esta pesquisa foi realizada na véspera, antes dos fatos, isto é, antes da formação de uma comunidade de leitores. Devemos trabalhar para sua existência através da for-mação de bibliotecas de bairro, de paróquia, de fábrica"

(pág. 169) .

Parece que a autora cultua a visão ingênua de um pro-gressismo cultural fatal, a crença de que o simples aumento da leitura por parte do operário lhe seria benéfica do ponto de vista da busca de identidade social . Mas, e se essa

lei-192

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tura continuar carregada do mesmo ''conteúdo mercantilis-ta", di[,tl.lnciada dos reais interesses da classe operária, até que ponto terá ela um papel diferente dos demais meios de comunicação na formação da consciência de classe? Além disso, para quem iniciou a discussão falando em "estruturas sócio-econômicas", torna-se incompreensível considerar que bibliotecas paroquiais possam ter qualquer influência decisi-va no processo de alteração da estrutura de dominação cul-tural em que se encontra a classe operária.

A autora discute a essa altura as posições de Lazarsfeld e Adorno em torno da questão do papel do intelectual, geral-mente colocada em uma perspectiva política de alternativa entre o protesto isolado ou a negação total do modelo polí-tico. Negando a posição do intelectual "que se abstém de toda

prática, esgotando-se na crítica", defende a possibilidade "de uma mudança que vem à luz sob a pressão de um agregado de forças infinitesimais, cuja somatória permite um salto qua-litativo".

Trazendo a discussão para a atualidade e para nossa pró-priar realidade, caberia lembrar a importante contribuição de· Carlos Guilherme Motta em ''Ideologia da Cultura Brasilei-ra" {*) a respeito das vinculações entre política, vanguarda cultural e integração capitalista, quando observa que "a inte-lectualidade mais progressista, vivendo o colapso do populis-mo, viu-se obrigada a renunciar ao ideal mannheimeano de intelectual (sempre acima e à frente do processo histórico) e a integrar-se no sistema, ou, num outro caminho, a partir para posições mais radicais, fora dos quadros consentidos".

Ecléa Bosi possivelmente não aceitaria essa interpretação, uma vez que acredita na possibilidade de atuação do intelec-tual dentro do sistema, sem obrigatoriamente estar• a serviço dele.

Tem uma visão mais otimista do processo.

Quem está com a razão - pessimistas ou otimistas? - é sem dúvida uma questão em aberto, que em última análise

*

MOTA, Carlos Guilherme, Ideologia da Cultura Brasileira (1933-1974). São Paulo, Atica, 1977, p. 248.

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caberá à História esclarecer. O importante do ponto de vista deste trabalho é que cabe a cada um o direito de escolher de que lado se engajar, contanto que se tenha a lucidez de· se-parar o que é engajamento do que é intenção de diagnóstico correto da realidade. Não confundir o ''dever ser" com o que

"é" .

E

possível que se veja nesta última argumentação uma posição weberiana de neutralidade científica. Para não dar margem a confusões ou acusações de visão simplista do pro-blema é que se sublinha acima a palavra "intenção", pela qual

se pretende destacar a busca de· objetivação científica e não a crença na objetividade. Busca que deve ser orientada pelo esforço de pôr à prova métodos e teorias e testar sua força explicativa. Porque sem teoria e método não há como alcan-çar a objetivação e sem visão "cientificamente objetivada" a prática não pode ser produtiva.

* *

*

Alguns comentários de natureza empfríca

Tem predominado na sociologia da comunicação que re-corre ao dado empírico a utilização de· métodos estatísticos que apanham o indivíduo isoladamente e o classificam segun-do diversos tipos de categorização (nível de renda, idade, sexo, estilo de vida, etc.). As interpretações dos resultados geral-mente levam a uma visão de sociedade "atomizada" e "homo-geneizada", na qual o indivíduo se isola ou se refugia nos grupos primários.

Gabriel Cohn, em Sociologia da Comunicação, lembra o fato de que algumas alternativas têm sido usadas, como a técnica de "painéis", que procuram apanhar os indivíduos em relação interpessoal (como os clássicos estudos de Lazamfeld e seu grupo sobre processo eleitoral nos Estados Unidos) ou a "metodologia contextual" proposta por Raymond Boudon. Cabe lembrar ainda o uso de técnicas experimentais bem su-cedidas, na área da psicologia da percepção e p&rsuasão dos meios de comunicação, desenvolvidas por Karl Hovland.

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De· qualquer forma, nenhuma dessas alternativas tem con-seguido apanhar os indivíduos em relações dinâmicas, dentro de estruturas coletivas, e acabam ficando ao nível da socio-logia descritiva, sem poder analítico explicativo.

Evitando esses tipos de enfoque, Ecléa Bosi adota uma metodologia de· observação diferente, bastante produtiva e rica de achados. Procedendo a um tipo de coleta de dados que

po-deria ser chamada de etnológica, utiliza a técnica da entre-vista aberta. Procurando sondar uma pequena comunidade de operárias, tenta pegar esse micro-universo como um conjunto estruturado, que ocupa um lugar específico dentro da estru-tura de classe mais abrangente.

Na condução do trabalho de campo e na análise especí-fica do material coletado incorre, entretanto, em alguns viéses

que seria interessante apontar.

O primeiro deles diz respeito a uma certa tendenciosidade na formulação das perguntas, que acabam por favorecer a aceitação da hipótese central. São perguntas do tipo ''conte alguma coisa que leu ultimamente numa revista e que tocou seu sentimento", ". . . que leu ultimamente num jornal e que

mexeu com você", " ... de que tratava um livro ... e que lhe

causou emoção".

A perguntas desse tipo só poderiam surgir respostas de conteúdo emotivo e não se justifica a conclusão, baseada nesse conjunto de perguntas, de que "a especificidade de interesses do grupo sugere a dominância de um fator emotivo e parece afastar da leitura o interesse cognitivo". Se o viés não foi in-tencional, nem consciente (e não há porque pôr em dúvida a ho-nestidade da pesquisadora) nem por isso deixa de levantar dúvidas sobre a validade de certas conclusões.

Uma segunda restrição refere-se ao desconhecimento do mercado de leitura de massa no Brasil, ou melhor dizendo, a não consideração dos aspectos do mercado na análise. Por exemplo, refere-se várias vezes à "nossa" fotonovela,

entran-do em minuciosas considerações sobre o seu conteúentran-do, sem observar que a ''nossa" fotonovela, a exemplo dos

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caberá à História esclarecer. O importante do ponto de vista deste trabalho é que cabe a cada um o direito de escolher de que lado se engajar, contanto que se tenha a lucidez de· se-parar o que é engajamento do que é intenção de diagnóstico correto da realidade. Não confundir o ''dever ser" com o que

"é".

E

possível que se veja nesta última argumentação uma posição weberiana de neutralidade científica. Para não dar margem a confusões ou acusações de visão simplista do pro-blema é que se sublinha acima a .palavra "intenção", pela qual

se pretende destacar a busca de objetivação científica e não a crença na objetividade. Busca que deve ser orientada pelo esforço de pôr à prova métodos e teorias e testar sua força e-xplicativa. Porque sem teoria e método não há como alcan-çar a objetivação e sem visão "cientificamente objetivada" a prática não pode ser produtiva.

* *

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Alguns comentárfos de natureza empfríca

Tem predominado na sociologia da comunicação que re-corre ao dado empírico a utilização de· métodos estatísticos que apanham o indivíduo isoladamente e o classificam segun-do diversos tipos de categorização (nível de renda, idade, sexo, estilo de vida, etc.). As interpretações dos resultados geral-mente levam a uma visão de sociedade "atomizada" e "homo-geneizada", na qual o indivíduo se isola ou se refugia nos grupos primários.

Gabriel Cohn, em Sociologia da Comunicação, lembra o fato de que algumas alternativas têm sido usadas, como a técnica de "painéis", que procuram apanhar os indivíduos em relação interpessoal (como os clássicos estudos de Lazart>feld e seu grupo sobre processo eleitoral nos Estados Unidos) ou a "metodologia contextual" proposta por Raymond Boudon. Cabe lembrar ainda o uso de técnicas experimentais bem su-cedidas, na área da psicologia da percepção e p&rsuasão dos meios de comunicação, desenvolvidas por Karl Hovland.

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De· qualquer forma, nenhuma dessas alternativas tem con-seguido apanhar os indivíduos em relações dinâmicas, dentro de estruturas coletivas, e acabam ficando ao nível da socio-logia descritiva, sem .poder analítico explicativo.

Evitando esses tipos de enfoque, Ecléa Bosi adota uma metodologia de· observação diferente, bastante produtiva e rica de achados. Procedendo a um tipo de coleta de dados que

po-deria ser chamada de etnológica, utiliza a técnica da entre-vista aberta. Procurando sondar uma pequena comunidade de operárias, tenta pegar esse micro-universo como um conjunto estruturado, que ocupa um lugar específico dentro da estru-tura de classe mais abrangente.

Na condução do trabalho de campo e na análise especí-fica do material coletado incorre, entretanto, em alguns viéses

que seria interessante apontar.

O primeiro deles diz respeito a uma certa tendenciosidade na formulação das perguntas, que acabam por favorecer a aceitação da hipótese central. São perguntas do tipo ''conte alguma coisa que leu ultimamente numa revista e que tocou seu sentimento", " . . . que leu ultimamente num jornal e que

mexeu com você", " . . . de que tratava um livro . . . e que lhe

causou emoção".

A perguntas desse tipo só poderiam surgir respostas de conteúdo emotivo e não se justifica a conclusão, baseada nesse conjunto de perguntas, de que "a especificidade de interesses do grupo sugere a dominância de um fator emotivo e parece afastar da leitura o interesse cognitivo". Se o viés não foi in-tencional, nem consciente (e não há porque pôr em dúvida a ho-nestidade da pesquisadora) nem por isso deixa de levantar dúvidas sobre a validade de certas conclusões.

Uma segunda restrição refere-se ao desconhecimento do mercado de leitura de massa no Brasil, ou melhor dizendo, a não consideração dos aspectos do mercado na análise. Por exemplo, refere-se várias vezes à "nossa" fotonovela,

entran-do em minuciosas considerações sobre o seu conteúentran-do, sem observar que a ''nossa" fotonovela, a exemplo dos

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prada pelas grandes editoras (Abril, Block) e apenas traduzida para o mercado brasileiro. セ@ ainda baixa a produção de foto-novela local e os que existem são de nível técnico bem

infe-rior às européias.

Poder-se-ia também discutir a validade de utilizar o con-ceito de "literatura de massa" para publicações que atingem um público bastante reduzido em termos de representatividade populacional. Segundo o Instituto Verificador de Circulação (IVC), em 1974 a circulação das principais revistas brasileiras oscilava entre 150 e 250 mil exemplares, sendo que no setor fotonovelas e infantis, os maiores, atingia no máximo 400 mil exemplares por mês.

Não é por acaso que os estudiosos da marginalidade social estão agora se voltando para a cultura popular, já que essa marginalidade é também cultural, de acesso aos bens cultu-rais.

Esses viéses mais evidentes poderiam talvez ser atribuí-dos a certas limitações da formação da pesquisadora. Ecléa Bosi é psicóloga e não socióloga, e sua pouca experiência sociológica é patente na obra. Não teria sido mais produtivo ela ter tentado se ater a uma perspectiva mais própria da psi-cologia social, que tem evidentemente importante contribuição a dar ao estudo da comunicação?

Além disso, parece ter apenas uma vivência acadêmica, de professora universitária e estudiosa, e como todo estudioso so-fre limitações por estar distanciada de certas questões con-cretas que só uma participação mais ativa ou mais próxima da

realidade estudada pode dar . Dando destaque às suas pró-prias conclusões, "assumir uma visão operária (assim como qualquer outra que não a nossa própria) é um exercício difícil, um limite que tentamos alcançar, um caminho a percorrer", um exercício do qual nem sempre se sai ileso e com as mãos lim-pas, poderia se acrescentar.

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A NOÇÃO DE "ARTE POPULAR" :

UMA CRíTICA ANTROPOLóGICA

Prof. Luis Felipe Baêta Neves

No repertório de conceitos e noções com que usualmente se tenta classificar e explicar a produção estética, poucos são usados com tanta inconseqüência (e freqüência) quanto a no-ção de "arte popular" . Acreditamos que uma intervenno-ção de caráter antropológico seja eficiente e necessária para a crí-tica dos inúmeros pré-conceitos e, assim, para a construção teoricamente mais responsável e rigorosa de um conceito que dê conta do que se vem chamando "arte popular" entre nós.

Talvez o primeiro dos vícios a ser denunciado seja o de uma visão que chamaríamos "folclorizante" da obra de arte popular. Nesta visão estariam enquadrados os falsos princí-pios que regem a procura do "pitoresco", do "típico", do " ori-ginal" . A peça popular seria algo de ''curioso", por mero aci-dente encontrado - ou "salvo" - pela cultura mais "evoluída" e "avançada" que a recolheu e observa. Recolheu e· observa geralmente em um espaço designado e nomeado para recebê--la como alguma coisa já a priori determinada como

diferen-te; museus e exposições "de arte popular". A esta visão fol-clorizante se soma outra que chamaríamos de " museologizan-te" que, baseando-se em uma postura típica de· um evolucio-nismo vulgar, acredita que a obra de arte popular seja repre-sentativa de uma etapa anterior da civilização - como se só

houvesse uma "civilização" ou um único desdobramento

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