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Sumário. Texto Integral. Tribunal da Relação de Évora Processo nº 588/07.5TLLE-B.E1

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Tribunal da Relação de Évora Processo nº 588/07.5TLLE-B.E1 Relator: FRANCISCO MATOS Sessão: 21 Junho 2012

Votação: UNANIMIDADE Meio Processual: APELAÇÃO

Decisão: CONFIRMADA A DECISÃO

DIFERIMENTO DE DESOCUPAÇÃO DE IMÓVEL

ARRENDAMENTO RURAL

Sumário

O incidente do diferimento da desocupação de imóvel arrendado para habitação não é aplicável à execução para entrega de coisa certa de prédio rústico dado de arrendamento rural, ainda que este abranja a habitação do arrendatário.

Texto Integral

Proc. Nº 588/07.5TLLE-B.E1 Loulé

Acordam na 1ªSecção Cível do Tribunal da Relação de Évora:

Apelante: M...

Apelada: J...

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1.1. Por apenso à execução para entrega de coisa certa que corre no 2º juízo cível do Tribunal Judicial de Loulé e é exequente J..., veio o

executado, ora apelante, no prazo da oposição à execução, suscitar o incidente do deferimento da desocupação do imóvel (parte urbana), com fundamento na sua avançada idade (79 anos), no seu debilitado estado de saúde (patologia crónica do foro cardiovascular e síndrome vertebral com irradiação de dor geradora de incapacidade), na sua frágil situação económica (vive da reforma e esta não lhe permite arrendar outra casa), na ausência de apoio familiar (não tem família próxima que possa prestar-lhe auxílio), e nas reduzidas vantagens que o despejo ocasionaria à exequente (pessoa abastada,

proprietária de vários imóveis, que não precisa do arrendado e muito menos da parte urbana para fazer face ao seu sustento).

1.2. Apreciado liminarmente o incidente mereceu o seguinte despacho:

«Estatui o art.930º-C nº 1 do C.P.C. que "no caso de imóvel arrendado para habitação, dentro do prazo de oposição à execução, o executado pode requerer o diferimento da desocupação, por razões sociais imperiosas,

devendo oferecer as provas disponíveis e indicar as testemunhas a apresentar até ao limite de três."

Ora, no caso vertente, o fim do arrendamento não foi a habitação do imóvel, estando-se, tal como se retira dos factos provados em sede de acção

declarativa, perante arrendamento rural.

Em face do exposto cumpre concluir que o fim do arrendamento discutido nos autos principais não se subsume ao disposto no art. 930º-C do C.P.C. e, por tal facto, nos termos do estatuído no art. 930º-D nº 1 al. b) do C.P.C., indefiro liminarmente a petição de diferimento da desocupação.»

1.3. É deste despacho que o executado agora recorre, exarando as seguintes conclusões que se transcrevem:

a) O que está em causa nos presentes autos é o direito à habitação do Recorrente.

b) Tal é assim, independentemente do facto de, na origem da habitação, estar um contrato de arrendamento urbano, ou rural.

c) As normas de proteção da habitação, e especialmente as invocadas pelo Recorrente, não dependem das questões meramente formais que

determinaram a douta decisão recorrida.

d) Assim sendo, como se decidiu no douto acórdão invocado, o art. 930º-A, e o seu regime, aplicam-se quando estivermos em face de uma coisa imóvel

arrendada, ou seja, sem se cuidar se o arrendamento é urbano ou rural.

e) Seria desumano tratar de forma diversa casos exatamente iguais, só por

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causa da diversa qualificação do negócio que deu origem à habitação, o que violaria o princípio fundamental da isonomia.

Respondeu a recorrida pugnando pela manutenção da decisão recorrida.

O recurso foi admitido como de apelação.

Colhidos os vistos legais, cumpre apreciar e decidir.

2. Objecto do recurso.

Determinar se o incidente de diferimento da desocupação de imóvel arrendado para habitação se aplica ao arrendamento rural.

3. Fundamentação.

3.1 Para a solução de direito, importa considerar os seguintes factos que se mostram adquiridos nos autos:

a) Por acordo verbal, celebrado em 6 de Setembro de 1969 e reduzido a

escrito no dia 31 de Março de 1976, J... cedeu a Manuel Eduardo do Ò de Lemos o uso, fruição e aproveitamento das utilidades temporárias e mediante retribuição anual de 12.000$00 do prédio com a área de 83073 m2 e casa de habitação, situado em Vale da Rosa ou Amada, então inscrito na

matriz da freguesia de S. Sebastião, do concelho de Loulé sob o artº 4142 e actualmente sob o artigo 6167.

b) Por acórdão de 21/4/2010, deste Tribunal da Relação, transitado em julgado, com fundamento na falta de pagamento de rendas, foi declarado resolvido o contrato de arrendamento rural celebrado entre Manuel Eduardo do Ò de Lemos e J... e aquele condenado a entregar a esta o prédio referido em a), livre, devoluto e desembaraçado.

3.2. Direito

O diferimento da desocupação dos prédios urbanos arrendados para

habitação, na sequencia das acções de despejo, foi introduzido pelo D.L. nº 293/77, de 20 de Julho, que encarando o chamado «problema dos despejos»

veio “reforçar até aos limites do possível a tutela dos interesses do réu”.[1]

Permitiu-se então, que na “decisão proferida em acção de despejo de prédio urbano arrendado para habitação … pode o juiz fixar prazo, não excedente a um ano, a contar do trânsito em julgado na mesma decisão, para a

desocupação do prédio” (artº 1º, nº1) e no juízo sobre o diferimento da desocupação impunha-se ao juiz que levasse em conta “a carência de meios por parte do réu; a excessiva onerosidade para o réu; quaisquer factos

demonstrativos de que a imediata execução do despejo constituiria manifesto abuso de direito por parte do autor, nos termos do artº 334º do Código Civil; a circunstância de o réu não poder dispor imediatamente de outra habitação ou

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de só vir a dispor dela dentro de certo prazo; o número de pessoas que habitam no prédio, a sua idade, o seu estado de saúde e, em geral, a sua situação económica e social” e as informações constantes do ficheiro a organizar pelo Instituto da Família e Acção Social relativo a inquilinos beneficiários do seu apoio (artº3, nºs. 1 e 2 e 16º).

Medidas de protecção tornadas extensíveis às acções de restituição de posse de prédio urbano ocupado, ainda que provisória, ou a sua entrega judicial (artº 22º, nº1).

O regime do diferimento da desocupação de imóveis incidia, assim, sobre a desocupação de prédios urbanos arrendados para habitação e aplicava-se à restituição e entrega judicial de prédios urbanos.

E por isso se compreende que a sua revogação tenha sido operada pelo diploma que aprovou o Regime do Arrendamento Urbano (RAU)[2], que consagrou na secção VI relativa à cessação do contrato do arrendamento urbano para habitação, uma subsecção (II) sobre o diferimento das

desocupações permitindo-o, por um prazo não excedente a um ano a contar da data do trânsito em julgado da sentença (artº 104º, nº1), por razões sociais imperiosas (artº 102º, nº1, do RAU), desde que demonstrada uma das seguintes circunstâncias:

- que a desocupação imediata do local causa ao réu um prejuízo muito superior à vantagem conferida ao autor;

- que, tratando-se de resolução por não pagamento de rendas, a falta do mesmo se deve a carência de meios do réu.

E após ponderadas as exigências da boa-fé, a circunstância de o réu não dispor imediatamente de outra habitação, o número de pessoas que habitam com o réu, a sua idade, o seu estado de saúde e, em geral, a situação

económica e social das pessoas envolvidas (artº 103º, do RAU).

O incidente do diferimento da desocupação dum local arrendado manteve-se, assim, restrito ao despejo do prédio urbano para habitação.

O RAU foi revogado pela Lei nº 6/2006, de 27/2[3] que aprovou o Novo

Regime do Arrendamento Urbano (NRAU) e veio aditar, entre outros, os artºs 930º-C e 930º-D ao Código de Processo Civil que hoje disciplinam o incidente do diferimento da desocupação de imóvel arrendado para habitação, o que se compreende por comportar o incidente procedimentos destinados à

concretização do despejo e não à declaração ou reconhecimento dos seus pressupostos.

O regime vigente fixa em 10 meses o prazo máximo para o diferimento da desocupação (nº5 do artº 930-D) e mantém grosso modo os fundamentos já constavam do RAU, neles incluindo a situação de deficiência com grau

comprovado de incapacidade superior a 60% do executado [artº 930º-C, nº2

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al.c)].

Decorre agora do disposto no artº 930º-C do C.P.C. que:

“No caso de imóvel arrendado para habitação, dentro do prazo de oposição à execução, o executado pode requerer o diferimento da desocupação, por razões sociais imperiosas, devendo logo oferecer as provas disponíveis e indicar as testemunhas a apresentar, até ao limite de três.”

A expressão imóvel arrendado para habitação hoje integrada no Subtítulo III do C.P.C. que têm por epígrafe “Da execução para entrega de coisa certa” e, assim, desinserida dum capitulo regulador do arrendamento para habitação, como acontecia no RAU, retira-lhe a segurança interpretativa que resultava da sua anterior inserção sistemática.

E isto porque imóveis tanto são os prédios rústicos como os urbanos (artº 204º nº1, al. a) do CC) e o arrendamento rural que incide sobre prédios rústicos[4]

pode abranger, além do terreno e vegetação permanente de natureza não florestal, as construções destinadas habitualmente aos fins próprios da

exploração normal dos prédios locados, também à habitação do arrendatário.

[5]

Podendo questionar-se se o legislador com o uso da expressão “imóvel

arrendado para habitação” pretendeu abarcar tanto os prédios urbanos como os prédios rústicos, nestes se incluindo os locados para fins de exploração agrícola ou pecuária que abranjam a habitação do arrendatário.

Duvidas que não subsistiriam se o legislador tivesse usado a expressão prédio urbano arrendado para habitação em vez da expressão imóvel arrendado para habitação.

Uma coisa é certa, o arrendamento rural não é um arrendamento de prédio rústico para habitação é um arrendamento de prédio rústico para fins de exploração agrícola ou pecuária (artº 1º, da LAR) que pode abranger também a habitação do arrendatário (artº 2º da LAR); os arrendamentos para

habitação são os arrendamentos urbanos com fim habitacional (artºs 1067º e 1092º a 1107º, do CC).

E o sentido que colhemos da expressão imóvel arrendado para habitação usada pelo nº1 do artº 930º-C do CPC é o de arrendamento de prédio urbano com fim habitacional; este sentido, claramente consentido pela letra do

preceito, é o que se ajusta à evolução legislativa que conduziu à inserção do incidente no C.P.C. Acepção que exclui a sua aplicação aos casos de

arrendamento rural ainda que este abranja a habitação do arrendatário.

Solução que não conduz à violação do principio da igualdade como receia o recorrente e isto porque não é igual o diferimento da desocupação de um prédio urbano arrendado para habitação, cujo sacrifício imposto ao exequente se esgota com a impossibilidade temporária (não excedente a 10 meses) do

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gozo da habitação e o deferimento da desocupação de um prédio rústico que abranja a habitação (por natureza sem autonomia económica) cujo sacrifício imposto ao exequente envolve a impossibilidade temporária do gozo das principais utilidades do prédio, ou seja, a exploração agrícola ou pecuária.

Afirmação que continua a ser válida mesma para a situação, posta nos autos, em que o executado pretende apenas o diferimento da desocupação da

habitação, porquanto constituindo-se esta como parte integrante do prédio rústico objecto do arrendamento rural, a sua ocupação compromete a

autonomia económica deste criando injustificadas dificuldades à sua livre e desembaraçada circulação no mercado.

Com o incidente do diferimento da desocupação de imóvel arrendado para habitação não se confunde o incidente da suspensão ou sustação da execução com regras próprias e que sempre se mantiveram a par e passo daquelas,[6]

cujo desiderato visa salvaguardar, na parte que importa considerar, direitos fundamentais do executado como seja o direito à saúde ou à própria vida.

O executor do mandado de despejo deve sobrestar na diligência se esta puser em risco de vida a pessoa que se encontra na habitação (artºs 930º, nº6 e 930º-B, nº3, ambos do CPC.

O bem jurídico vida constitui nas sociedades modernas o primeiro dos bens a tutelar reconhecida que se mostra a evidência que todos os demais nele

assentam e daqui que sobrestar num despejo quando a diligência põe em risco a vida da pessoa que se encontra no local (artº 930º-B, nº3, do CPC), seja ele quem for porque a lei não se refere nem ao arrendatário, nem ao executado, é o detentor ou a pessoa que se encontre no local (artº 930º-B, nº4, do CPC) constitua, estamos em crer, um simples acto bom senso cuja consagração legal só poderá ter uma de duas explicações: ou afastar resquícios do passado

(tempos houve em que o bem jurídico propriedade se sobrepunha ao bem jurídico vida) ou prevenir injustificados excessos de zelo.

Nestas situações, o executor deverá sobrestar na execução da entrega da habitação quer se trate de arrendamento de prédio urbano, quer se trate de habitação abrangida pelo arrendamento rural, quer não se trate de

arrendamento e enfim se despeje o executado da sua habitação (artºs 930º, nº6, do CPC).

Estamos pois de acordo com a jurisprudência anotada nas alegações de recurso, mas ela não resolve a questão colocada nos autos.

Nos autos executa-se a entrega de um prédio rústico dado de arrendamento rural cujo contrato foi declarado resolvido por falta de pagamento das rendas e o que o executado pretende é o diferimento da desocupação do prédio

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rústico, ainda que circunscrita à habitação, incidente que, como se procurou demonstrar, não tem, no caso, aplicação.

Resta, assim, confirmar a decisão recorrida.

Sumário:

O incidente do diferimento da desocupação de imóvel arrendado para habitação não é aplicável à execução para entrega de coisa certa de prédio rústico dado de arrendamento rural, ainda que este abranja a habitação do arrendatário.

4. Decisão:

Delibera-se, pelo exposto, em julgar improcedente o recurso, confirmando-se a decisão recorrida.

Custas pelo apelante.

Évora, 21/6/12 Francisco Matos

José António Penetra Lúcio

Maria Alexandra Afonso de Moura Santos

__________________________________________________

[1] Cfr. preâmbulo do DL nº 293/77.

[2] Cfr. artºs 3º, nº1, al. c), do D.L. nº 321-B/90 de 15/10.

[3] Cfr. artº 60º, nº1.

[4] Cfr. artº 1º, do DL nº 385/88, de 25/10 (LAR) [5] Cfr. artº 2º, do cit. DL.

[6] Cfr. artºs 986º e 987º do CPC anterior à versão de 1995; 930-A do CPC com a reforma de 1995; 61º do RAU; 930º, nº6 e 930º-B do CPC na redacção actual.

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