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Márcio André Lopes Cavalcante ÍNDICE

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Academic year: 2021

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Márcio André Lopes Cavalcante

Todos os julgados foram comentados.

ÍNDICE

DIREITO CONSTITUCIONAL TRIBUNAL DE CONTAS

Requisito para integrar Tribunal de Contas.

DIREITO ADMINISTRATIVO IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA

Possibilidade de dupla condenação ao ressarcimento ao erário pelo mesmo fato.

DIREITO CIVIL USUCAPIÃO

Pode ser deferida usucapião especial urbana ainda que a área do imóvel seja inferior ao "módulo urbano".

DIREITO AGRÁRIO ARRENDAMENTO RURAL

Prazo mínimo de contrato de arrendamento rural para a criação de gado bovino.

DIREITO DO CONSUMIDOR PLANO DE SAÚDE

Dever de assistência ao neonato durante os trinta primeiros dias após o seu nascimento.

DIREITO EMPRESARIAL CHEQUE

Cheque pré-datado e o seu prazo de apresentação para pagamento.

Possibilidade de protesto de cheque após o prazo de apresentação com a indicação apenas do emitente no apontamento.

DIREITO ECONÔMICO DIREITOS ANTIDUMPING

Suspensão da exigibilidade do direito antidumping provisório

DIREITO PROCESSUAL CIVIL EXECUÇÃO

Necessidade de prévia intimação das partes antes de se decretar a prescrição intercorrente.

(2)

DIREITO PENAL

PENAS RESTRITIVAS DE DIREITOS

Impossibilidade de reconversão da pena restritiva de direitos em privativa de liberdade a pedido do condenado.

APROPRIAÇÃO INDÉBITA

O síndico mencionado no inciso II do § 1º, do art. 168, do CP não é o síndico de condomínio edilício.

EXERCÍCIO ARBITRÁRIO DAS PRÓPRIAS RAZÕES

Prostituta que arranca cordão de cliente que não quis pagar o programa responde por exercício arbitrário das próprias razões.

DIREITO PROCESSUAL PENAL NOTICIA CRIMINIS

Dever de a Receita Federal encaminhar a representação fiscal para fins penais mesmo que não haja imposição de multa ao contribuinte.

DIREITO TRIBUTÁRIO IPI

Base de cálculo do IPI nas vendas a prazo.

REPRESENTAÇÃO FISCAL PARA FINS PENAIS

Dever de encaminhar a representação mesmo que não haja imposição de multa ao contribuinte.

DIREITO PREVIDENCIÁRIO PREVIDÊNCIA PRIVADA

Devolução de valores recebidos a título de antecipação de tutela posteriormente revogada.

DIREITO CONSTITUCIONAL

TRIBUNAL DE CONTAS

Requisito para integrar Tribunal de Contas

Membro do Ministério Público junto ao Tribunal de Contas de Estados ou do Distrito Federal que ocupa esse cargo há menos de dez anos pode ser indicado para compor lista tríplice destinada à escolha de conselheiro da referida corte.

STJ. 2ª Turma. RMS 35.403-DF, Rel. Min. Herman Benjamin, julgado em 3/3/2016 (Info 584).

Como é a composição dos Tribunais de Contas:

 TCU: 9 membros (são chamados de Ministros do TCU).

 TCE: 7 membros (são chamados de Conselheiros do TCE).

Quais são os requisitos constitucionais para ser membro dos Tribunais de Contas?

São requisitos para ser Ministro do TCU ou Conselheiro do TCE:

a) nacionalidade brasileira (brasileiros natos ou naturalizados);

b) mais de 35 e menos de 65 anos de idade;

c) idoneidade moral e reputação ilibada;

d) notórios conhecimentos jurídicos, contábeis, econômicos e financeiros ou de administração pública;

e) mais de 10 anos de exercício de função ou de efetiva atividade profissional que exija os conhecimentos mencionados.

(3)

Obs: os requisitos acima estão previstos no art. 73, § 1º c/c o art. 75 da CF/88.

Como é a forma de composição do TCU?

1/3 (3 Ministros) são escolhidos pelo Presidente da República.

Desses 3 Ministros, o Presidente deverá escolher:

1 dentre os auditores do TCU (indicados em lista tríplice pelo Tribunal)

1 dentre os membros do MP que atuam junto ao TCU (também indicados em lista tríplice) 1 de livre escolha do Presidente (esta escolha é livre, atendidos os requisitos constitucionais).

Todos os indicados pelo Presidente precisarão ser aprovados pela maioria simples do Senado, em arguição secreta.

2/3 (6 Ministros) são escolhidos pelo Congresso Nacional.

Os Ministros do TCU terão as mesmas garantias, prerrogativas, impedimentos, vencimentos e vantagens dos Ministros do STJ (art. 73, § 3º, CF).

Como é a forma de composição do TCE?

A CF/88 não traz, de modo detalhado, como deve ser a composição dos Tribunais de Contas dos Estados, dizendo apenas que o TCE deve ser formado por 7 Conselheiros e que as normas previstas para o TCU aplicam-se, no que couber, ao TCE (art. 75 da CF/88).

Assim, entende-se que a forma de escolha dos membros do TCE deve ser prevista na respectiva Constituição Estadual. O STF, contudo, afirmou que, por força do princípio da simetria, essas regras de escolha dos Conselheiros do TCE devem obedecer ao mesmo modelo estabelecido pela Constituição Federal para o TCU (art. 73, § 2º da CF).

Em suma, a Constituição Estadual deverá detalhar as normas sobre a escolha dos membros do TCE, mas tais regras deverão seguir a mesma sistemática adotada para a composição do TCU. Esse entendimento deu origem à súmula 653 do STF:

Súmula 653-STF: No Tribunal de Contas estadual, composto por sete conselheiros, quatro devem ser escolhidos pela Assembleia Legislativa e três pelo Chefe do Poder Executivo estadual, cabendo a este indicar um dentre auditores e outro dentre membros do Ministério Público, e um terceiro à sua livre escolha.

Desse modo, os 7 membros do TCE são designados da seguinte forma:

3 Conselheiros são escolhidos pelo Governador do Estado.

Desses 3 Conselheiros, o Governador deverá escolher:

1 dentre os auditores do TCE (indicados em lista tríplice pelo Tribunal)

1 dentre os membros do MP que atuam junto ao TCE (também indicados em lista tríplice) 1 de livre escolha do Governador (esta escolha é livre, atendidos os requisitos constitucionais).

4 Conselheiros escolhidos pela Assembleia Legislativa.

Os Conselheiros do TCE terão as mesmas garantias, prerrogativas, impedimentos, vencimentos e vantagens dos Desembargadores do TJ (STF. Plenário. ADI 4190 MC-REF, Rel. Min. Celso de Mello, julgado em 10/03/2010).

Feitos os devidos esclarecimentos, imagine a seguinte situação hipotética:

No Tribunal de Contas de determinado Estado, um Conselheiro que era oriundo do Ministério Público do Tribunal de Contas aposentou-se. Isso significa que o Governador terá que escolher outro Conselheiro e que esta vaga é reservada para o MP que atua junto ao TCE. Assim, será elaborada uma lista com três nomes de Procuradores de Contas e o Governador escolherá um desses para ser nomeado Conselheiro.

Suponhamos que a lista tríplice foi formada com os nomes de João, Maria e Pedro.

(4)

Tese de que os membros do MP deverão ter mais de 10 anos para que possam ser Conselheiros Maria e Pedro impugnaram o nome de João alegando a tese que será exposta a seguir.

O art. 73, § 1º, IV, da CF/88 prevê que só pode ser membro do TCU aquele que tiver mais de 10 anos de função ou efetiva atividade profissional. Veja:

Art. 73 (...)

§ 1º - Os Ministros do Tribunal de Contas da União serão nomeados dentre brasileiros que satisfaçam os seguintes requisitos:

(...)

IV - mais de dez anos de exercício de função ou de efetiva atividade profissional que exija os conhecimentos mencionados no inciso anterior.

Os requisitos desse art. 73, § 1º aplicam-se também para os membros do TCE (art. 75 da CF/88).

Além disso, os impugnantes alegaram que, para as vagas nos Tribunais de Justiça e Tribunais Regionais Federais destinadas ao quinto constitucional somente podem concorrer membros do MP com mais de 10 anos de carreira (art. 94 da CF/88). Esse mesmo raciocínio deve ser estendido para os Tribunais de Contas.

João possui menos de 10 anos de Ministério Público. Logo, ele não poderia concorrer ao cargo de Conselheiro do TCE, não podendo, portanto, figurar na lista tríplice.

A tese de Maria e Pedro foi aceita pelo STJ? Para que o membro do Ministério Público junto ao Tribunal de Contas possa concorrer ao cargo de Conselheiro do TCE é necessário que ele possua mais de 10 anos de carreira no MP?

NÃO.

Membro do Ministério Público junto ao Tribunal de Contas de Estados ou do Distrito Federal que ocupa esse cargo há menos de dez anos pode ser indicado para compor lista tríplice destinada à escolha de conselheiro da referida corte.

STJ. 2ª Turma. RMS 35.403-DF, Rel. Min. Herman Benjamin, julgado em 3/3/2016 (Info 584).

Art. 73, § 1º, IV, da CF/88 não exige que o candidato ao cargo tenha 10 anos de carreira no MP

O art. 73, § 1º, da CF/88 não estabelece que os membros do Ministério Público ou os auditores devem ter mais de 10 anos no cargo para poderem ser nomeados para a função de membro do Tribunal de Contas.

O que o § 1º do art. 73 da CF/88 prevê é que, para ser nomeado membro do Tribunal de Contas, a pessoa deve ter mais de 10 anos de exercício de função ou de efetiva atividade profissional que exija notórios conhecimentos jurídicos, contábeis, econômicos e financeiros ou de administração pública.

Desse modo, a pessoa pode ter apenas 7 anos, por exemplo, no cargo de Procurador de Contas, mas se ela tiver outros 3 anos de atividade profissional na qual se exija notórios conhecimentos jurídicos, ela terá preenchido o requisito constitucional.

As regras do quinto constitucional (art. 94 da CF/88) não se aplicam para a escolha dos Conselheiros do Tribunal de Contas

Realmente o art. 94 da CF/88 prevê a exigência de que o membro do MP tenha 10 anos no cargo para que possa ser nomeado Desembargador nos Tribunais Regionais Federais ou Tribunais de Justiça, nas vagas destinadas ao chamado "quinto constitucional".

No entanto, essa regra não se aplica às Cortes de Contas.

Os Tribunais de Contas, embora se denominem tribunais e tenham alta relevância constitucional, não integram o Poder Judiciário, razão pela qual não se pode pretender que normas destinadas a reger o Judiciário devam ser aplicáveis a eles, salvo previsão constitucional específica.

(5)

DIREITO ADMINISTRATIVO

IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA

Possibilidade de dupla condenação ao ressarcimento ao erário pelo mesmo fato

Não configura bis in idem a coexistência de título executivo extrajudicial (acórdão do TCU) e sentença condenatória em ação civil pública de improbidade administrativa que determinam o ressarcimento ao erário e se referem ao mesmo fato, desde que seja observada a dedução do valor da obrigação que primeiramente foi executada no momento da execução do título remanescente.

STJ. 1ª Turma. REsp 1.413.674-SE, Rel. Min. Olindo Menezes (Desembargador Convocado do TRF 1ª Região), Rel. para o acórdão Min. Benedito Gonçalves, julgado em 17/5/2016 (Info 584).

Imagine a seguinte situação hipotética:

Determinado Município celebrou convênio com a União recebendo recursos federais que deveriam ser investidos em projetos de interesse social.

O Tribunal de Contas da União instaurou procedimento de tomada de contas especial para fiscalizar o convênio e, ao final, concluiu que João, prefeito do Município à época, responsável pelo pacto, utilizou incorretamente os recursos, causando prejuízo ao erário, razão pela qual aplicou multa ao administrador, além de determinar que ele faça o ressarcimento da verba pública.

De posse do acórdão do TCU, o Procurador da República ajuizou ação de improbidade administrativa contra o Prefeito alegando que ele, ao não aplicar corretamente as verbas do convênio, praticou ato de improbidade administrativa, nos termos do art. 10 da Lei nº 8.429/92.

O juiz federal julgou a ação procedente e condenou o Prefeito, aplicando-lhe as seguintes sanções:

a) Ressarcimento integral do dano;

b) Suspensão de direitos políticos por 3 anos;

c) Proibição de contratar com o Poder Publico ou receber benefícios ou incentivos fiscais ou creditícios, direta ou indiretamente, ainda que por intermédio de pessoa jurídica da qual seja sócio majoritário, pelo prazo de 3 anos.

Recurso do Prefeito: tese do bis in idem

O Prefeito recorreu contra a decisão argumentando que foi vítima de bis in idem. Isso porque ele foi condenado duas vezes a ressarcir o dano: uma pelo TCU e outra pelo Poder Judiciário.

Dessa forma, a defesa pediu que fosse excluída a sanção "a" (ressarcimento integral do dano).

A tese da defesa foi aceita pelo STJ?

NÃO. As instâncias judicial e administrativa não se confundem, razão pela qual o fato de o TCU já ter punido o administrador com o ressarcimento ao erário não proíbe que seja proposta ação de improbidade administrativa relacionada com o mesmo fato e que o administrador seja novamente condenado pelo Poder Judiciário a ressarcir ao erário.

Mas o administrador pagará duas vezes o ressarcimento? Neste caso, haverá um enriquecimento sem causa do Poder Público, que receberá duas vezes o ressarcimento...

NÃO. O STJ afirmou que no momento do segundo pagamento, deverá ser feito o abatimento do valor que foi pago na primeira execução que foi movida.

O que não se permite é a constrição patrimonial além do efetivo prejuízo apurado. Assim, é possível a formação de dois títulos executivos, devendo ser observada a devida dedução do valor da obrigação que primeiramente foi executada no momento da execução do título remanescente.

(6)

Em suma:

Não configura bis in idem a coexistência de título executivo extrajudicial (acórdão do TCU) e sentença condenatória em ação civil pública de improbidade administrativa que determinam o ressarcimento ao erário e se referem ao mesmo fato, desde que seja observada a dedução do valor da obrigação que primeiramente foi executada no momento da execução do título remanescente.

STJ. 1ª Turma. REsp 1.413.674-SE, Rel. Min. Olindo Menezes (Desembargador Convocado do TRF 1ª Região), Rel. para o acórdão Min. Benedito Gonçalves, julgado em 17/5/2016 (Info 584).

Vale ressaltar que existem outros precedentes no mesmo sentido:

(...) 1. O fato de existir um título executivo extrajudicial, decorrente de condenação proferida pelo Tribunal de Contas da União, não impede que os legitimados ingressem com ação de improbidade administrativa requerendo a condenação da recorrida nas penas constantes no art. 12, II da Lei n. 8429/92, inclusive a de ressarcimento integral do prejuízo.

(...)

3. Ademais, não se há falar em bis in idem. A proibição da dupla penalização se restringe ao abalo patrimonial que o executado poderá sofrer. O princípio não pode ser interpretado de maneira ampla, de modo a impedir a formação de um título executivo judicial, em razão do simples fato de já existir um outro título de natureza extrajudicial. (...)

STJ. 2ª Turma. REsp 1135858/TO, Rel. Min. Humberto Martins, julgado em 22/09/2009.

(...) 6. As instâncias judicial e administrativa não se confundem, razão pela qual a fiscalização do TCU não inibe a propositura da ação civil pública, tanto mais que, consoante informações prestadas pela autoridade coatora, “na hipótese de ser condenada ao final do processo judicial, bastaria à Impetrante a apresentação dos documentos comprobatórios da quitação do débito na esfera administrativa ou vice-versa.”. Assim, não ocorreria duplo ressarcimento em favor da União pelo mesmo fato. (...)

STF. 1ª Turma. MS 26969, Rel. Min. Luiz Fux, julgado em 18/11/2014.

DIREITO CIVIL

USUCAPIÃO

Pode ser deferida usucapião especial urbana ainda que a área do imóvel seja inferior ao "módulo urbano"

Não obsta o pedido declaratório de usucapião especial urbana o fato de a área do imóvel ser inferior à correspondente ao "módulo urbano" (a área mínima a ser observada no parcelamento de solo urbano por determinação infraconstitucional).

STJ. 4ª Turma. REsp 1.360.017-RJ, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado em 5/5/2016 (Info 584).

Preenchidos os requisitos do art. 183 da Constituição Federal, o reconhecimento do direito à usucapião especial urbana não pode ser obstado por legislação infraconstitucional que estabeleça módulos urbanos na respectiva área em que situado o imóvel (dimensão do lote).

STF. Plenário. RE 422349, Rel. Min. Dias Toffoli, julgado em 29/04/2015 (Info 783 STF).

Usucapião especial urbana

Existem várias modalidades de usucapião.

A CF/88 prevê duas espécies:

a) a usucapião especial urbana (pro misero) (art. 183);

b) a usucapião especial rural (pro labore) (art. 191).

(7)

O julgado ora analisado diz respeito à usucapião especial urbana.

Requisitos da usucapião especial urbana

A usucapião especial urbana é prevista no art. 183 da CF/88, sendo também reproduzida no art. 1.240 do CC e no art. 9º da Lei n. 10.257/2001.

Para se ter direito à usucapião especial urbana, é necessário preencher os seguintes requisitos:

a) 250m2: a pessoa deve estar na posse de uma área urbana de, no máximo, 250m2;

b) 5 anos: a pessoa deve ter a posse mansa e pacífica dessa área por, no mínimo, 5 anos ininterruptos, sem oposição de ninguém;

c) Moradia: o imóvel deve estar sendo utilizado para a moradia da pessoa ou de sua família;

d) Não ter outro imóvel: a pessoa não pode ser proprietária de outro bem imóvel (urbano ou rural).

Algumas observações:

 Não se exige que a pessoa prove que tinha um justo título ou que estava de boa-fé;

 Esse direito não será reconhecido ao mesmo possuidor mais de uma vez;

 É possível usucapião especial urbana de apartamentos (nesse caso, quando for calcular se o tamanho do imóvel é menor que 250m2 não se incluirá a área comum, como salão de festas etc, mas tão somente a parte privativa);

 O título de domínio e a concessão de uso serão conferidos ao homem ou à mulher, ou a ambos, independentemente do estado civil.

Feitos os esclarecimentos acima, imagine a seguinte situação hipotética:

João é possuidor, há mais de 5 anos, de uma área urbana de 50m2, que utiliza para a sua própria moradia.

Ele não tem o título de propriedade dessa área, mas lá mora há todos esses anos sem oposição de ninguém. Vale ressaltar também que ele não tem outro imóvel, seja urbano, seja rural.

Determinado dia, João procura a Defensoria Pública e esta ajuíza, em nome do autor, uma ação de usucapião especial urbana pedindo que ele se torne proprietário da área.

O juiz julga improcedente o pedido alegando que João preenche os requisitos da usucapião especial urbana previstos no art. 183 da CF/88, porém ele não poderia se tornar proprietário em virtude de o plano diretor da cidade (Lei municipal “XXX”) proibir que existam imóveis urbanos registrados com metragem inferior a 100m2. Em outras palavras, o plano diretor da cidade, para fins de organização e planejamento urbano, fixou que o módulo mínimo dos lotes urbanos naquele Município seria de 100m2 e, como a área ocupada por João seria menor que isso, ele não poderia registrar o imóvel em seu nome.

A decisão do magistrado está correta? O fato de haver essa limitação na lei municipal impede que a pessoa tenha direito à usucapião especial urbana?

NÃO. A decisão do juiz não foi correta. Segundo entende o STF e o STJ, se forem preenchidos os requisitos do art. 183 da CF/88, a pessoa terá direito à usucapião especial urbana e o fato de o imóvel em questão não atender ao mínimo dos módulos urbanos exigidos pela legislação local para a respectiva área (dimensão do lote) não é motivo suficiente para se negar esse direito, que tem índole constitucional.

Para que seja deferido o direito à usucapião especial urbana basta o preenchimento dos requisitos exigidos pelo texto constitucional, de modo que não se pode impor obstáculos, de índole infraconstitucional, para impedir que se aperfeiçoe, em favor de parte interessada, o modo originário de aquisição de propriedade.

Em suma:

Não obsta o pedido declaratório de usucapião especial urbana o fato de a área do imóvel ser inferior à correspondente ao "módulo urbano" (a área mínima a ser observada no parcelamento de solo urbano por determinação infraconstitucional).

STJ. 4ª Turma. REsp 1.360.017-RJ, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado em 5/5/2016 (Info 584).

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Preenchidos os requisitos do art. 183 da Constituição Federal, o reconhecimento do direito à usucapião especial urbana não pode ser obstado por legislação infraconstitucional que estabeleça módulos urbanos na respectiva área em que situado o imóvel (dimensão do lote).

STF. Plenário. RE 422349, Rel. Min. Dias Toffoli, julgado em 29/04/2015 (Info 783 STF).

DIREITO AGRÁRIO

ARRENDAMENTO RURAL

Prazo mínimo de contrato de arrendamento rural para a criação de gado bovino

Importante!!!

É de cinco anos o prazo mínimo para a duração de contrato de arrendamento rural em que ocorra pecuária de gado bovino, independentemente da maior ou menor escala da atividade exploratória ou da extensão da área a que se refira o contrato.

STJ. 3ª Turma. REsp 1.336.293-RS, Rel. Min. João Otávio de Noronha, julgado em 24/5/2016 (Info 584).

Arrendamento rural

De forma resumida, arrendamento rural é um contrato por meio do qual o arrendador aluga um imóvel que será utilizado por outra pessoa (arrendatário) para a exploração de atividade rural (agrícola, pecuária, granjeira etc).

Vamos detalhar essa definição:

Arrendamento rural é...

- o contrato agrário

- por meio do qual uma pessoa se obriga a ceder à outra, - por tempo determinado ou indeterminado,

- o uso e gozo de imóvel rural (no todo ou em parte),

- incluindo, ou não, outros bens, benfeitorias e ou facilidades, - com o objetivo de que nele seja exercida atividade de

- exploração agrícola, pecuária, agroindustrial, extrativa ou mista, - pagando o arrendatário ao arrendador uma retribuição ou aluguel, - observados os limites percentuais da Lei.

O contrato de arrendamento rural é regido pelo Estatuto da Terra (Lei nº 4.504/64) e pelo Decreto nº 59.566/66.

Imagine a seguinte situação hipotética:

João, dono de uma fazenda, firmou contrato particular de arrendamento rural com Pedro por meio do qual este, arrendatário, poderia explorar, durante 2 anos, o imóvel para criar gado, devendo pagar, em contraprestação, R$ 5 mil por mês.

Chegando ao fim do contrato, Pedro queria renová-lo, mas João não aceitou.

Diante disso, Pedro ingressou com ação alegando que, como ele desenvolve pecuária bovina no local, o prazo mínimo do arrendamento deveria ser de 5 anos, nos termos do art. 12, II, "a", do Decreto nº 59.566/66. Assim, pedia que fosse declarada a nulidade da cláusula que previa apenas 2 anos e que o contrato fosse estendido até completar os 5 anos estabelecidos no Decreto. Veja o dispositivo legal mencionado:

(9)

Art. 13. Nos contratos agrários, qualquer que seja a sua forma, contarão obrigatoriamente, cláusulas que assegurem a conservação dos recursos naturais e a proteção social e econômica dos arrendatários e dos parceiros-outorgados a saber (Art. 13, incisos III e V da Lei nº 4.947-66);

(...)

II - Observância das seguintes normas, visando a conservação dos recursos naturais:

a) prazos mínimos, na forma da alínea " b ", do inciso XI, do art. 95 e da alínea " b ", do inciso V, do art. 96 do Estatuto da Terra:

- de 3 (três) anos nos casos de arrendamento em que ocorra atividade de exploração de lavoura temporária e ou de pecuária de pequeno e médio porte; ou em todos os casos de parceria;

- de 5 (cinco) anos nos casos de arrendamento em que ocorra atividade de exploração de lavoura permanente e ou de pecuária de grande porte para cria, recria, engorda ou extração de matérias primas de origem animal;

O juiz julgou o pedido parcialmente procedente. O magistrado reconheceu que o autor tinha direito de estender o prazo do contrato, mas não para 5 (como queria Pedro) e sim para 3 anos. Isso porque, na visão do julgador, a pecuária desenvolvida pelo arrendatário era de pequeno e médio porte e o prazo de 5 anos só se aplica para a pecuária de grande porte. O autor recorreu e a questão chegou até o STJ.

O argumento do magistrado foi aceito pelo STJ? O prazo mínimo do arrendamento rural deverá ser de 3 anos caso a pecuária desenvolvida seja de pequeno e médio porte?

NÃO.

É de cinco anos o prazo mínimo para a duração de contrato de arrendamento rural em que ocorra pecuária de gado bovino, independentemente da maior ou menor escala da atividade exploratória ou da extensão da área a que se refira o contrato.

STJ. 3ª Turma. REsp 1.336.293-RS, Rel. Min. João Otávio de Noronha, julgado em 24/5/2016 (Info 584).

Função social da propriedade e prazo mínimo do contrato

O contrato agrário, mesmo tendo natureza privada (por envolver particulares), é utilizado pelo legislador como um instrumento de concretização da função social da propriedade rural (arts. 5º, XXIII, 182 e 186 da CF/88). Por essa razão, o arrendamento rural está sujeito a inúmeras repercussões do direito público.

Uma dessas "influências" do direito público é a proteção conferida pelo legislador à parte economicamente mais frágil deste contrato (o arrendatário), conforme dispõe o art. 13 do Decreto nº 59.566/66.

Segundo este artigo do decreto, os contratos de arrendamento rural que tenham por objeto atividade de pecuária (alínea "a" do inciso II do art. 13) devem ter prazos mínimos de vigência com a finalidade de permitir que o arrendatário tenha tempo para criar, reproduzir e engordar o gado, considerando que isso demora. O art. 13 faz a seguinte distinção

 pecuária de pequeno e médio porte: o arrendamento deverá ter prazo mínimo de 3 anos;

 pecuária de grande porte: o prazo mínimo será de 5 anos.

O que se entende por pecuária de pequeno, médio e grande porte?

Existe divergência na doutrina sobre o tema, mas o STJ adotou a corrente doutrinária que defende o seguinte:

 Pequeno porte: envolve apicultura, piscicultura, avicultura, cunicultura e ovinocultura.

 Médio porte: refere-se à criação de suínos, caprinos e ovinos.

 Grande porte: abrange o gado bovino, bubalino, equino e asinino.

É a posição de RAMOS, Helena Maria Bezerra. Contrato de arrendamento rural. 2ª ed. Curitiba: Juruá, 2013, p. 97 e de COLHEO, José Fernando Lutz. Contratos Agrários: uma visão neo-agrarista. Curitiba: Juruá, 2006, p. 130).

(10)

Desse modo, quando o Decreto fala em grande porte, não está se referindo ao tamanho da propriedade, número de animais etc. O critério aqui é a espécie de animal que é criado. Veja:

"A expressão 'grande porte' não se refere à escala da atividade (número de unidades de animais, por exemplo), mas, sim, ao porte dos animais, cujo prazo reprodutivo e de engorda é maior que os de menor porte. Na pecuária de pequeno porte são incluídas a apicultura, piscicultura, avicultura e cunicultura. Na de médio porte, a suinocultura, caprinocultura e ovinocultura e na de grande porte a bovinocultura, bubalinocultura, equinocultura e asinino cultura." (CARVALHO, Edson Ferreira de. Manual didático de direito agrário. Curitiba: Juruá, 2010, p. 410).

Assim, tratando-se do exercício de pecuária de gado bovino, deve-se reconhecer que a atividade é de grande porte, aplicando-se o prazo mínimo de 5 anos para a duração dos contratos de arrendamento rural.

DIREITO DO CONSUMIDOR

PLANO DE SAÚDE

Dever de assistência ao neonato durante os trinta primeiros dias após o seu nascimento Quando o contrato de plano de saúde incluir atendimento obstétrico, a operadora tem o dever de prestar assistência ao recém-nascido durante os primeiros trinta dias após o parto (art. 12, III, "a", da Lei nº 9.656/98), independentemente de a operadora ter autorizado a efetivação da cobertura, ter ou não custeado o parto, tampouco de inscrição do neonato como dependente nos trinta dias seguintes ao nascimento.

STJ. 4ª Turma. REsp 1.269.757-MG, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 3/5/2016 (Info 584).

Imagine a seguinte situação hipotética:

Maria é cliente de um plano de saúde.

Vale ressaltar que seu contrato oferece cobertura inclusive para tratamento obstétrico.

Maria ficou grávida e deu à luz a Lucas.

Ocorre que o bebê apresentou problema respiratório ao nascer.

Os pais tentaram que o plano de saúde atendesse o recém-nascido, mas, como a autorização estava demorando muito para ser dada, e considerando que ele corria risco de morte, eles decidiram interná-lo pagando do próprio bolso o tratamento.

Felizmente, depois de 20 dias na UTI neonatal, Lucas teve alta e pode ser levado para casa.

Maria ingressou, então, com ação de indenização contra o plano de saúde cobrando todos os custos que teve com o tratamento do filho.

O plano de saúde contestou a demanda afirmando que o contrato previa a assistência de saúde apenas à Maria, e não ao seu filho, o que deveria ser ainda objeto de aditamento do pacto.

A ação deverá ser julgada procedente? O plano de saúde tinha o dever de prestar assistência ao filho recém-nascido de Maria?

SIM.

Quando o contrato de plano de saúde incluir atendimento obstétrico, a operadora tem o dever de prestar assistência ao recém-nascido durante os primeiros trinta dias após o parto (art. 12, III, "a", da Lei nº 9.656/98), independentemente de a operadora ter autorizado a efetivação da cobertura, ter ou não custeado o parto, tampouco de inscrição do neonato como dependente nos trinta dias seguintes ao nascimento.

STJ. 4ª Turma. REsp 1.269.757-MG, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 3/5/2016 (Info 584).

(11)

O art. 12 da Lei nº 9.656/98 (Lei dos Planos de Saúde) prevê diversas modalidades de planos de saúde, estabelecendo os serviços que são incluídos.

No caso de ter sido contratado o plano com atendimento obstétrico, esse serviço abrange também a cobertura assistencial do recém-nascido nos 30 primeiros dias após o parto. Veja:

Art. 12. São facultadas a oferta, a contratação e a vigência dos produtos de que tratam o inciso I e o § 1º do art. 1º desta Lei, nas segmentações previstas nos incisos I a IV deste artigo, respeitadas as respectivas amplitudes de cobertura definidas no plano-referência de que trata o art. 10, segundo as seguintes exigências mínimas:

(...)

III - quando incluir atendimento obstétrico:

a) cobertura assistencial ao recém-nascido, filho natural ou adotivo do consumidor, ou de seu dependente, durante os primeiros trinta dias após o parto;

Vale ressaltar que, para ter direito ao atendimento, não é necessário que o recém-nascido esteja incluído ou seja cadastrado no plano. Esse é um direito que decorre do simples fato de ser filho do cliente do plano.

Em suma, o plano de saúde deveria ter autorizado o tratamento do recém-nascido sem impor dificuldades, considerando que a Lei nº 9.656/98 garantia este direito.

É importante alertar, no entanto, que, mesmo já recebendo o tratamento, o filho recém-nascido deverá ser inscrito no plano de saúde no prazo de 30 dias para ter direito de se tornar dependente do titular (pai ou mãe), sem a exigência de carência:

Art. 12. (...)

III - quando incluir atendimento obstétrico:

b) inscrição assegurada ao recém-nascido, filho natural ou adotivo do consumidor, como dependente, isento do cumprimento dos períodos de carência, desde que a inscrição ocorra no prazo máximo de trinta dias do nascimento ou da adoção;

DIREITO EMPRESARIAL

CONTRATOS BANCÁRIOS

Período de legalidade da cobrança de tarifa de renovação de cadastro (TRC)

É válida cláusula contratual que prevê a cobrança da tarifa de renovação de cadastro (TRC) em contrato bancário celebrado ainda no período de vigência da Circular 3.371/2007 do BACEN, considerando que ela autorizava que os bancos exigissem a TRC.

Posteriormente, com a edição da Circular 3.466/2009 do BACEN, que entrou em vigor no dia 14/09/2009, foi proibida a cobrança da referida tarifa.

STJ. 3ª Turma. REsp 1.303.646-RJ, Rel. Min. João Otávio de Noronha, julgado em 10/5/2016 (Info 584).

Tarifas bancárias

“Tarifa bancária” é o nome dado para a remuneração cobrada pelas instituições financeiras como contraprestação pelos serviços bancários prestados aos clientes. Ex: caso o cliente solicite do banco o fornecimento de cópia ou de segunda via de algum comprovante ou documento, terá que pagar a tarifa bancária por este serviço.

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Tarifa de Renovação de Cadastro (TRC)

A Tarifa de Renovação de Cadastro (TRC) era cobrada pela instituição financeira, até duas vezes por ano, sob o argumento de que o banco precisava fazer a atualização cadastral do cliente (consultar se o telefone permanecia o mesmo, se o endereço havia mudado etc.), de forma que o correntista deveria remunerar a instituição por este serviço.

Quem autoriza ou proíbe que as instituições financeiras cobrem dos usuários tarifas bancárias?

O Conselho Monetário Nacional (CMN).

O Conselho Monetário Nacional (CMN) é um órgão federal, classificado como "órgão superior do Sistema Financeiro Nacional". Suas competências estão elencadas no art. 4º da Lei nº 4.595/64, sendo ele responsável por formular a política da moeda e do crédito, objetivando o progresso econômico e social do País (art. 3º da Lei).

O CMN é composto por três autoridades:

 Ministro da Fazenda (que é o Presidente do Conselho);

 Ministro do Planejamento;

 Presidente do Banco Central.

As reuniões do CMN acontecem, em regra, uma vez por mês. As matérias são aprovadas por meio de

"Resoluções".

Por que o CMN é que define as tarifas bancárias que podem ser cobradas? Qual é o fundamento legal para isso?

Essa competência do CMN encontra-se prevista na Lei nº 4.595/64.

A Lei nº 4.595/64 trata sobre as instituições monetárias, bancárias e creditícias, sendo conhecida como

"Lei do Sistema Financeiro nacional".

Vale ressaltar que a Lei nº 4.595/64, apesar de ser formalmente uma lei ordinária, foi recepcionada pela Constituição Federal de 1988 com status de lei complementar. Isso porque o art. 192 da CF/88 preconiza que o sistema financeiro nacional "será regulado por leis complementares".

CMN tem competência para limitar a remuneração que os bancos recebem pelas operações realizadas e pelos serviços prestados

Veja o que diz o art. 4º, VI, da Lei nº 4.595/64:

Art. 4º Compete ao Conselho Monetário Nacional, segundo diretrizes estabelecidas pelo Presidente da República:

(...)

IX - Limitar, sempre que necessário, as taxas de juros, descontos, comissões e qualquer outra forma de remuneração de operações e serviços bancários ou financeiros, inclusive os prestados pelo Banco Central da República do Brasil (...)

Assim, é o CMN que define se os bancos podem cobrar ou não pelos serviços oferecidos.

A disciplina e os limites impostos pelo CMN são realizados por decisões instrumentalizadas por meio de

"resoluções". Assim, quando o CMN decide proibir que as instituições financeiras cobrem determinada tarifa, ele o faz por meio de uma "resolução".

Resolução CMN 2.303/1996

Em 1996, o CMN editou a Resolução nº 2.303, que disciplinava a cobrança de tarifas pela prestação de serviços por parte das instituições financeiras.

Esta Resolução era considerada flexível e "não intervencionista". Isso porque permitia que os bancos cobrassem pela prestação de quaisquer tipos de serviços, desde que fossem efetivamente contratados e

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prestados ao cliente, com exceção de uns poucos que a Resolução definia como básicos e que, por isso, não poderiam ser cobrados (ex: o fornecimento de um extrato por mês deveria ser gratuito).

Assim, de acordo com a Resolução CMN 2.303/1996, tirando os considerados "básicos", os bancos poderiam cobrar tarifas por quaisquer outros serviços prestados.

Resolução CMN 3.518/2007 e Circular BACEN 3.371/2007

Em 30/4/2008, a Resolução CMN 2.303/1996 foi revogada e, em seu lugar, passou a vigorar a Resolução CMN 3.518/2007.

A nova Resolução assumiu uma postura mais intervencionista e regulatória e dividiu os serviços bancários em quatro categorias:

a) os essenciais (art. 2º), que não poderiam ser cobrados dos clientes pelos bancos;

b) os prioritários (art. 3º), cuja cobrança somente poderia ser realizada se autorizada pelo BACEN;

c) os especiais (art. 4º), regidos por legislação própria, entre os quais o crédito rural, mercado de câmbio, PIS/PASEP, penhor civil e operações de microcrédito; e

d) os diferenciados (art. 5º), que admitiam a cobrança de tarifa, desde que explicitadas ao cliente ou usuário as condições de utilização e pagamento.

Em cumprimento ao disposto no art. 3º, o BACEN editou a Circular 3.371, de 6.12.2007, definindo os serviços considerados "prioritários" que poderiam ser cobrados. Esta Circular afirmou, ainda, que a cobrança de tarifa por qualquer serviço "prioritário" que não estivesse ali prevista só poderia ser realizada com autorização do Banco Central.

TRC constava na Circular 3.371/2007 como serviço que poderia ser cobrado

A Tarifa de Renovação de Cadastro (TRC) constava na Circular 3.371/2007 (que era o complemento da Resolução CMN 2.303/1996) como serviço que poderia ser cobrado dos clientes. Em outras palavras, a Circular 3.371/2007 autorizava que os bancos cobrassem a TRC.

Circular 3.466/2009

Algum tempo depois foi editada a Circular 3.466/2009, vigente a partir de 14/9/2009, que proibiu os bancos de cobrarem TRC.

Em suma:

É válida cláusula contratual que prevê a cobrança da tarifa de renovação de cadastro (TRC) em contrato bancário celebrado ainda no período de vigência da Circular 3.371/2007 do BACEN, considerando que ela autorizava que os bancos exigissem a TRC.

Posteriormente, com a edição da Circular 3.466/2009 do BACEN, que entrou em vigor no dia 14/09/2009, foi proibida a cobrança da referida tarifa.

STJ. 3ª Turma. REsp 1.303.646-RJ, Rel. Min. João Otávio de Noronha, julgado em 10/5/2016 (Info 584).

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CHEQUE

Cheque pré-datado e o seu prazo de apresentação para pagamento

Atualize seu livro de 2014 (p. 423)

Atualize livro Julgados Resumidos (p. 400)

O cheque pós-datado amplia o prazo de apresentação? Em suma, no caso de cheque pós-datado (pré-datado), a partir de quando é contado o prazo de apresentação?

1) Pós-datação regular (efetivada no campo referente à data de emissão): SIM.

A pactuação da pós-datação de cheque, para que seja hábil a ampliar o prazo de apresentação à instituição financeira sacada, deve espelhar a data de emissão estampada no campo específico da cártula. O ordenamento jurídico confere segurança e eficácia à pós-datação regular (efetivada no campo referente à data de emissão).

Ex: no dia 20/05, João emitiu (preencheu) um cheque e o entregou para Pedro (beneficiário).

No entanto, no campo reservado para a data de emissão, ele, em vez de colocar 20/05, escreveu 20/07 (data que ficou combinada para que Pedro sacasse o cheque). O termo inicial do prazo de apresentação do cheque é o dia 20/07.

STJ. 2ª Seção. REsp 1.423.464-SC, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 27/4/2016 (recurso repetitivo) (Info 584).

2) Pós-datação extracartular (feita em campo diverso do campo específico): NÃO.

A pós-datação extracartular do cheque não modifica o prazo de apresentação nem o prazo de prescrição do título. A pós-datação extracartular tem existência jurídica, mas apenas com natureza obrigacional entre as partes (Súmula 370). Esta pactuação extracartular, contudo, é ineficaz em relação à contagem do prazo de apresentação e, por conseguinte, não tem o condão de operar o efeito de ampliar o prazo de apresentação do cheque.

Ex: João emitiu o cheque no dia 20/05 e o entregou a Pedro. No campo reservado para a data de emissão, ele colocou 20/05 (dia atual). No entanto, no verso do cheque escreveu o seguinte:

“bom para o dia 20/07” (que foi a data combinada para que Pedro sacasse o dinheiro). O termo inicial do prazo de apresentação do cheque continua sendo o dia 20/05.

STJ. 4ª Turma. REsp 1.124.709-TO, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 18/6/2013 (Info 528).

NOÇÕES GERAIS SOBRE O CHEQUE

Conceito O cheque é...

- uma ordem de pagamento à vista - que é dada pelo emitente do cheque

- em favor do indivíduo que consta como beneficiário no cheque (ou seu portador) - ordem essa que deve ser cumprida por um banco

- que tem a obrigação de pagar a quantia escrita na cártula

- em razão de o emitente do cheque ter fundos (dinheiro) depositados naquela instituição financeira.

“Trata-se de uma ordem de pagamento, na medida em que seu criador não promete efetuar pessoalmente o pagamento, mas promete que terceiro irá efetuar esse pagamento. Esse terceiro deverá ser um banco, no qual o criador do cheque deverá ter fundos disponíveis. À luz desses fundos, o banco efetuará o pagamento das ordens que lhe forem sendo apresentadas, vale dizer, o cheque se tornará exigível sempre no momento em que for apresentado ao sacado (vencimento sempre à vista).”

(TOMAZETTE, Marlon. Curso de Direito Empresarial. Vol. 2. São Paulo: Atlas, 2011, p. 218).

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Personagens

a) emitente (sacador): aquele que dá a ordem de pagamento;

b) sacado: aquele que recebe a ordem de pagamento (o banco);

c) beneficiário (tomador, portador): é o favorecido da ordem de pagamento, ou seja, aquele que tem o direito de receber o valor escrito no cheque.

Natureza jurídica

Para a doutrina majoritária, trata-se de um título de crédito.

Legislação aplicável

O cheque é regido atualmente pela Lei n.º 7.357/85.

O que é o chamado “prazo de apresentação do cheque”?

É o prazo de que dispõe o portador do cheque para apresentá-lo ao banco sacado, a fim de receber o valor determinado na cártula.

Ex: João passa um cheque de 2 mil reais para Eduardo. O prazo de apresentação é o tempo que Eduardo tem para levar o cheque ao banco e receber o valor.

O prazo de apresentação começa a ser contado da data da emissão do cheque.

De quanto é o prazo de apresentação?

30 dias

Se o cheque é da mesma praça do pagamento (município onde foi assinado é o município da

agência pagadora).

60 dias

Se o cheque for de praça diferente (município onde foi assinado é diferente do

município da agência pagadora).

O prazo será de 30 dias se o local da emissão do cheque (preenchido pelo emitente) for o mesmo lugar do pagamento (local da agência pagadora impressa no cheque). Nesse caso, diz-se que o cheque é da mesma praça (mesmo município).

Ex: em um cheque de uma agência de São Paulo (SP), o emitente datou e assinou São Paulo (SP) como local da emissão.

O prazo será de 60 dias se o local da emissão do cheque (preenchido pelo emitente) for diferente do lugar do pagamento (local da agência pagadora impressa no cheque). Nesse caso, diz- se que o cheque é de outra praça.

Ex: em um cheque de uma agência de São Paulo (SP), o emitente datou e assinou Manaus (AM) como local da emissão.

Se o beneficiário apresenta o cheque ao banco mesmo após esse prazo, haverá pagamento?

SIM, mesmo após o fim do prazo de apresentação, o cheque pode ser apresentado para pagamento ao sacado, desde que não esteja prescrito.

Então para que serve esse prazo de apresentação?

A doutrina aponta três finalidades:

1) O fim do prazo de apresentação é o termo inicial do prazo prescricional da execução do cheque.

2) Só é possível executar o endossante do cheque se ele foi apresentado para pagamento dentro do prazo legal. Se ele foi apresentado após o prazo, o beneficiário perde o direito de executar os codevedores. Poderá continuar executando o emitente do cheque e seus avalistas.

Súmula 600-STF: Cabe ação executiva contra o emitente e seus avalistas, ainda que não apresentado o cheque ao sacado no prazo legal, desde que não prescrita a ação cambiária.

3) O portador que não apresentar o cheque em tempo hábil ou não comprovar a recusa de pagamento perde o direito de execução contra o emitente, se este tinha fundos disponíveis durante o prazo de apresentação e os deixou de ter, em razão de fato que não lhe seja imputável (art. 47, § 3º, da Lei n.

7.357/85).

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Qual é o prazo prescricional para a execução do cheque?

6 meses, contados do fim do prazo de apresentação do cheque.

Atente-se que o prazo prescricional somente se inicia quando termina o prazo de apresentação, e não da sua efetiva apresentação ao banco sacado.

CHEQUE "PRÉ-DATADO"

Cheque “pré-datado” (ou “pós-datado”)

Vimos acima que o cheque é uma ordem de pagamento à vista. Isso está, inclusive, previsto na própria Lei do Cheque (Lei n.º 7.357/85):

Art. 32. O cheque é pagável à vista. Considera-se não-escrita qualquer menção em contrário.

Ocorre que há muitos anos, adotou-se outra prática, qual seja, a de se colocar uma data futura no cheque, com o objetivo de proporcionar que o emitente tenha um prazo maior para pagamento. Ex: no dia 16/05, Maria queria fazer uma escova no salão de cabeleireiro. Ocorre que ainda não havia recebido seu salário.

Por isso, combinou com a dona do salão de “passar” um cheque com data de 04/06, momento no qual a sua remuneração já teria sido depositada.

Essa prática ganhou o nome de cheque “pré-datado”. A maioria da doutrina, contudo, prefere utilizar a nomenclatura cheque “pós-datado”. Pode-se utilizar as expressões indistintamente.

O cheque “pós-datado” pode ser conceituado como um cheque no qual emitente e beneficiário combinaram que seria colocado um dia futuro na cártula, a fim de que a apresentação do título somente ocorresse a partir daquela data.

Existem duas formas de se emitir um cheque pós-datado (pré-datado):

1) Pós-datação regular

(efetivada no campo referente à data de emissão)

2) Pós-datação extracartular

(feita em campo diverso do campo específico) Ocorre quando o emitente, no campo reservado

para o dia de emissão, escreve uma data futura que foi combinada entre as partes.

Ocorre quando o emitente, no campo reservado para o dia de emissão, escreve a data atual, ou seja, o dia da emissão realmente. No entanto, no verso da cártula, ele escreve um aviso de que o cheque somente deverá ser descontado em uma data futura.

Ex: no dia 20/05, João emitiu (preencheu) um cheque e o entregou para Pedro (beneficiário). No entanto, no campo reservado para a data de emissão, ele, em vez de colocar 20/05, escreveu 20/07 (data combinada para que Pedro sacasse o cheque).

Ex: João emitiu o cheque no dia 20/05 e o entregou a Pedro. No campo reservado para a data de emissão, ele colocou 20/05 (dia atual). No entanto, no verso do cheque escreveu o seguinte:

“bom para o dia 20/07” (que foi a data combinada para que Pedro sacasse o dinheiro).

Vale ressaltar que, mesmo este aviso estando consignado no próprio cheque, tal combinação é considerada extracartular porque a Lei não prevê que isso possa ser escrito na cártula, não havendo campo com este objetivo.

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O cheque pós-datado continua sendo uma ordem de pagamento à vista? Se o beneficiário apresentar o cheque pré-datado antes da data nele escrita, o banco deverá pagá-lo?

SIM. O cheque pré-datado é um acordo entre o emitente e o beneficiário. No entanto, esse ajuste só vale entre as partes, não produzindo efeitos perante a instituição financeira. Logo, o cheque (mesmo sendo pré-datado) será pago no dia em que for apresentado ao banco, mesmo que antes da data combinada.

Isso ocorre porque a data futura no cheque é considerada pelo caput do art. 32 da Lei do Cheque como não-escrita (inexistente). Assim, é comum os doutrinadores dizerem que, para efeitos de direito cambiário, a pós-datação não existe (não altera as características e efeitos do cheque).

Ressalte-se que o parágrafo único do art. 32 da Lei do Cheque determina que, mesmo se o campo da data de emissão estiver indicando um dia futuro, mas o portador do cheque apresentá-lo antes dessa data, o banco deverá pagar imediatamente. Ex: Maria emitiu o cheque no dia 16/05, mas preencheu o cheque com a data de 04/06. Se, em 01/06, o portador for até o banco e apresentar o cheque, a instituição financeira deverá pagá-lo mesmo havendo uma data de emissão escrita para um dia futuro. Veja:

Art. 32 (...) Parágrafo único. O cheque apresentado para pagamento antes do dia indicado como data de emissão é pagável no dia da apresentação.

Se o banco pagar um cheque pós-datado antes da data prevista na cártula, pratica algum ato ilícito?

NÃO. Ao contrário, como o cheque é, por força de lei, uma ordem de pagamento à vista, o banco é obrigado, em regra, a pagá-lo.

O beneficiário que apresenta no banco o cheque pós-datado antes da data nele prevista pratica algum ato ilícito?

SIM. Como já explicado, o cheque pós-datado é um ajuste de vontades, um acordo entre emitente e tomador. Logo, o beneficiário, ao descumprir esse pacto, pratica um ilícito contratual, podendo, portanto, ser condenado a indenizar o sacador por danos morais e materiais. Esse é o entendimento do STJ:

Súmula 370-STJ: Caracteriza dano moral a apresentação antecipada do cheque pré-datado.

O cheque pós-datado amplia o prazo de apresentação? Em suma, no caso de cheque pós-datado (pré- datado), a partir de quando é contado o prazo de apresentação?

Depende:

1) Pós-datação regular:

SIM

2) Pós-datação extracartular:

NÃO A pactuação da pós-datação de cheque, para que

seja hábil a ampliar o prazo de apresentação à instituição financeira sacada, deve espelhar a data de emissão estampada no campo específico da cártula.

O ordenamento jurídico confere segurança e eficácia à pós-datação regular (efetivada no campo referente à data de emissão).

STJ. 2ª Seção. REsp 1.423.464-SC, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 27/4/2016 (recurso repetitivo) (Info 584).

A pós-datação extracartular do cheque não modifica o prazo de apresentação nem o prazo de prescrição do título.

A pós-datação extracartular tem existência jurídica, mas apenas com natureza obrigacional entre as partes (Súmula 370). Esta pactuação extracartular, contudo, é ineficaz em relação à contagem do prazo de apresentação e, por conseguinte, não tem o condão de operar o efeito de ampliar o prazo de apresentação do cheque.

STJ. 4ª Turma. REsp 1.124.709-TO, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 18/6/2013 (Info 528).

Em suma, somente a pós-datação regular, efetuada no campo da data de emissão do cheque, é hábil a ampliar o prazo de apresentação da cártula a que se refere o art. 33, caput, da Lei do Cheque.

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CHEQUE

Possibilidade de protesto de cheque após o prazo de apresentação com a indicação apenas do emitente no apontamento

Sempre será possível, no prazo para a execução cambial, o protesto cambiário de cheque com a indicação do emitente como devedor.

STJ. 2ª Seção. REsp 1.423.464-SC, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 27/4/2016 (recurso repetitivo) (Info 584).

O que é um protesto de título?

Protesto de títulos é o ato público, formal e solene, realizado pelo tabelião, com a finalidade de provar a inadimplência e o descumprimento de obrigação constante de título de crédito ou de outros documentos de dívida.

É possível o protesto do cheque contra o emitente mesmo após ter se passado o prazo de apresentação?

SIM. É legítimo o protesto de cheque efetuado contra o emitente depois do prazo de apresentação, desde que não escoado o prazo prescricional relativo à ação cambial de execução.

Mas o art. 48 da Lei n. 7.357/85 afirma que o protesto do cheque deve ocorrer durante o prazo de apresentação. Veja: “Art. 48 O protesto ou as declarações do artigo anterior devem fazer-se no lugar de pagamento ou do domicílio do emitente, antes da expiração do prazo de apresentação.” E agora?

Calma. O STJ afirma que a exigência imposta no art. 48 de que o protesto ocorra antes de expirado o prazo de apresentação do cheque só vale para o protesto necessário, isto é, aquele feito contra os coobrigados, para o exercício do direito de regresso, e não em relação ao emitente do título.

Em outras palavras, o art. 48 da Lei nº 7.357/85 trata apenas da possibilidade de cobrança dos eventuais devedores indiretos (coobrigados), mas não do devedor principal (emitente).

O protesto pode ser feito contra o emitente mesmo após o prazo de apresentação, desde que o cheque ainda não esteja prescrito.

Relembrando:

 Prazo de apresentação do cheque: 30 dias, se ele for da mesma praça do pagamento ou 60 dias, se for de praça diferente.

 Prazo prescricional para a execução do cheque: 6 meses, contados a partir do momento em que termina o prazo de apresentação do cheque.

Resumindo:

O protesto do cheque efetuado contra os coobrigados para o exercício do direito de regresso deve ocorrer antes de expirado o prazo de apresentação (art. 48 da Lei 7.357/85). Trata-se do chamado protesto necessário.

O protesto de cheque efetuado contra o emitente pode ocorrer mesmo depois do prazo de apresentação, desde que não escoado o prazo prescricional. Esse é o protesto facultativo.

STJ. 3ª Turma. REsp 1.297.797-MG, Rel. João Otávio de Noronha, julgado em 24/2/2015 (Info 556).

O STJ reafirmou este entendimento, agora sob a sistemática de recurso repetitivo, e fixou a seguinte tese:

Sempre será possível, no prazo para a execução cambial, o protesto cambiário de cheque com a indicação do emitente como devedor.

STJ. 2ª Seção. REsp 1.423.464-SC, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 27/4/2016 (recurso repetitivo) (Info 584).

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Exemplo:

João emitiu um cheque em fevereiro/2015 em favor de Pedro. Este, por sua vez, endossa o cheque para Carlos. Isso significa que Pedro passa a ser codevedor do cheque perante Carlos.

Suponhamos que o cheque seja da mesma praça do pagamento. Logo, neste caso, o prazo de apresentação do cheque é de 30 dias.

Carlos tenta descontar o cheque, mas não há fundos disponíveis.

Diante dessa cenário, Carlos tinha até março/2015 (prazo de apresentação) para fazer o protesto do cheque contra João (emitente) e Pedro (codevedor).

Imaginemos, no entanto, que chegou abril/2015 e Pedro não fez o referido protesto. Ele perderá o direito de protestar e de executar o codevedor (Pedro), nos termos do art. 48 da Lei do Cheque. Ele poderá ainda, contudo, levar o cheque a protesto, mas agora apenas contra o emitente (João). Este protesto contra o emitente poderá ser feito até setembro/2015 (prazo prescricional = 6 meses depois do fim do prazo de apresentação do cheque).

DIREITO ECONÔMICO

DIREITOS ANTIDUMPING

Suspensão da exigibilidade do direito antidumping provisório

Não se pode aceitar as máquinas do importador como caução idônea (garantia) para liberar as mercadorias importadas e que estão sujeitas a direitos antidumping provisórios.

Isso porque o art. 3º da Lei nº 9.019/95 prevê que a a exigibilidade dos direitos provisórios poderá ficar suspensa, até decisão final do processo, a critério da CAMEX, desde que o importador ofereça garantia mediante: depósito em dinheiro ou fiança bancária.

Essas hipóteses do art. 3º são taxativas e, portanto, não se admite como garantia o oferecimento de maquinário.

A suspensão da exigibilidade do direito provisório é um benefício excepcional e, portanto, não se pode permitir a interpretação extensiva do art. 3º para alcançar outras formas de garantias nele não previstas, sob pena de o Poder Judiciário atuar como legislador positivo e afrontar o princípio da separação dos poderes.

STJ. 1ª Turma. REsp 1.516.614-PR, Rel. Min. Gurgel de Faria, julgado em 10/5/2016 (Info 584).

Dumping

"O dumping consiste na conduta dos agentes econômicos que vendem os seus produtos fora do país abaixo do custo de produção e também por preço inferior aos cobrados no país de origem." (MASSO, Fabiano Del. Direito Econômico esquematizado. São Paulo: Método, 2ª ed., p. 283).

Trata-se de uma prática comercial predatória por meio da qual uma empresa exporta seus produtos por preços inferiores ao custo com o objetivo de fazer com que as indústrias do país importador não consigam competir e, assim, quebrem. Durante um tempo, a empresa exportadora fica suportando o prejuízo de vender suas mercadorias abaixo do custo. No entanto, depois de não ter mais concorrentes no mercado (já que eles faliram por não acompanharem os preços), a empresa que praticou o dumping aumenta absurdamente os preços de seus produtos, considerando que o público consumidor não terá mais opções de outras empresas.

É uma forma, portanto, de eliminar a concorrência.

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Direitos antidumping

O dumping é condenado pelos organismos de comércio internacional, como a Organização Mundial do Comércio (OMC), que possui medidas de combate a essa prática.

O artigo VI do GATT 47 (Acordo Geral sobre Tarifas Aduaneiras e Comércio) prevê que os países deverão disciplinar medidas para se proteger do dumping. São os chamados direitos antidumping e de compensação.

No Brasil, foi editada a Lei nº 9.019/95, que dispõe sobre a aplicação em nosso país dos direitos previstos no Acordo Antidumping e no Acordo de Subsídios e Direitos Compensatórios. Esta Lei prevê que o Governo brasileiro, ao perceber que determinada mercadoria está entrando em nosso país com o objetivo de fazer dumping, deverá exigir, para que haja o desembaraço aduaneiro, o pagamento de um valor que corresponda ao percentual da margem de dumping que está sendo praticado ou dos incentivos que o Governo estrangeiro está dando para aquele exportador.

Assim, a Secretaria de Comércio Exterior (SECEX) investiga possíveis dumpings e, se constatar que está ocorrendo, instaura um processo administrativo e calcula o quanto de "desconto" artificial a empresa estrangeira está fornecendo.

Art. 5º Compete à SECEX, mediante processo administrativo, apurar a margem de dumping ou o montante de subsídio, a existência de dano e a relação causal entre esses.

Depois disso, a Câmara de Comércio Exterior (CAMEX) se reúne e pode decidir que o Brasil irá cobrar essa diferença para que a mercadoria entre em nosso país. Com isso, a CAMEX garante que o preço praticado seja justo, evitando que a indústria nacional quebre e que, em médio ou longo prazo, o próprio consumidor brasileiro seja prejudicado.

Art. 6º Compete à CAMEX fixar os direitos provisórios ou definitivos, bem como decidir sobre a suspensão da exigibilidade dos direitos provisórios, a que se refere o art. 3º desta Lei.

Parágrafo único. O ato de imposição de direitos antidumping ou Compensatórios, provisórios ou definitivos, deverá indicar o prazo de vigência, o produto atingido, o valor da obrigação, o país de origem ou de exportação, as razões pelas quais a decisão foi tomada, e, quando couber, o nome dos exportadores.

Esse valor que é exigido como direito antidumping é autorizado pelo art. 1º da Lei nº 9.019/95 e é fixado pela CAMEX por meio de Resoluções.

Veja o que diz o art. 1º da Lei nº 9.019/95 em suas partes mais importantes:

Art. 1º Os direitos antidumping e os direitos compensatórios, provisórios ou definitivos, (...) serão aplicados mediante a cobrança de importância, em moeda corrente do País, que corresponderá a percentual da margem de dumping ou do montante de subsídios, apurados em processo administrativo, (...) suficientes para sanar dano ou ameaça de dano à indústria doméstica.

Segundo o parágrafo único do art. 1º, "os direitos antidumping e os direitos compensatórios serão cobrados independentemente de quaisquer obrigações de natureza tributária relativas à importação dos produtos afetados." Em outras palavras, o importador pagará o imposto de importação, o imposto sobre produtos industrializados (se for o caso) e mais os direitos antidumping.

Em palavras mais simples, os direitos antidumping consistem em um valor a mais (fora os tributos) que terá que ser pago pelo importador em virtude de estar trazendo para o país uma mercadoria que está sendo vendida pela empresa no exterior abaixo do preço de custo.

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Direitos antidumping provisório e definitivo

Os direitos antidumping fixados pelo Governo brasileiro poderão ser:

 Provisórios: são aplicados antes que a investigação tenha encerrado, desde que, em análise preliminar, verifique-se a existência de indícios da prática de dumping ou de concessão de subsídios, e que tais práticas causam dano, ou ameaça de dano, à indústria doméstica, sendo necessário impedi-las no curso da investigação.

 Definitivos: ocorre quando a investigação já se encerrou e foi constatada realmente a ocorrência da prática de dumping ou de concessão de subsídios.

Obs: vale ressaltar que os direitos antidumping são sempre fixados por prazo determinado, tanto no caso de direitos provisórios como definitivos. Assim, quando se fala em "direitos definitivos" não significa que sejam para sempre. Definitivos, aí, está no sentido de que foram fixados após a conclusão do processo administrativo.

Suspensão da exigibilidade dos direitos antidumping provisórios

Como vimos acima, os direitos antidumping provisórios são fixados durante a investigação de dumping, ou seja, ainda não se tem certeza se realmente está ocorrendo e, ao final, poderá ser que se constate a sua não-ocorrência.

Por ser uma imposição ainda provisória, a lei prevê a possibilidade de o importador "adiar" o pagamento desses valores até que a investigação e o processo administrativo sejam concluídos. No entanto, para gozar dessa suspensão do pagamento, ele precisará oferecer uma garantia. Isso está disciplinado no art. 3º da Lei nº 9.019/95:

Art. 3º A exigibilidade dos direitos provisórios poderá ficar suspensa, até decisão final do processo, a critério da CAMEX, desde que o importador ofereça garantia equivalente ao valor integral da obrigação e dos demais encargos legais, que consistirá em:

I - depósito em dinheiro; ou II - fiança bancária.

(...)

§ 3º O desembaraço aduaneiro dos bens objeto da aplicação dos direitos provisórios dependerá da prestação da garantia a que se refere este artigo.

Veja um exemplo de Resolução CAMEX que impõe direitos antidumping:

RESOLUÇÃO No 24, DE 28 DE ABRIL DE 2010 (Publicada no D.O.U. de 29/04/2010)

Aplica direito antidumping definitivo, por até 5 anos, às importações brasileiras de canetas esferográficas fabricadas a base de resinas plásticas de corpo único tipo monobloco ou desmontável, retrátil ou não, com ou sem grip, com tinta gel ou a base de óleo, originárias da República Popular da China.

O PRESIDENTE DO CONSELHO DE MINISTROS DA CÂMARA DE COMÉRCIO EXTERIOR - CAMEX, ouvidos os respectivos membros, com fundamento no que dispõe o inciso XV do art. 2º e no § 7º do art. 4º do Decreto nº 4.732, de 10 de junho de 2003, e no § 3º do art. 64 do Decreto nº 1.602, de 23 de agosto de 1995, e tendo em vista o que consta nos autos do Processo MDIC/SECEX 52000.032886/2008-10,

RESOLVE:

Art. 1º Aplicar direito antidumping definitivo, por até 5 (cinco) anos, às importações brasileiras de canetas esferográficas fabricadas a base de resinas plásticas de corpo único tipo monobloco ou desmontável, retrátil ou não, com ou sem grip, com tinta gel ou a base de óleo, originárias da República Popular da China, comumente classificadas no item 9608.10.00 da Nomenclatura Comum do MERCOSUL, a ser recolhido sob a forma de alíquota específica fixa de 14,52 US$/kg (catorze dólares estadunidenses e

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