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NOMES CRUZADOS: CATALOGAÇÃO DOS PROCESSOS- CRIMES DE SANT ANNA DO PARANAÍBA 1

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Academic year: 2021

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NOMES CRUZADOS: CATALOGAÇÃO DOS PROCESSOS- CRIMES DE SANT’ANNA DO PARANAÍBA

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Ana Helena Rodrigues; Bianca Sayuri Fialho Maeda; Caroline Cassoli Gonçalves;

Jorge Tertuliano Matias Gomes Neto.

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Resumo

O trabalho aqui abordado tem como objetivo apresentar os resultados até o momento obtidos na catalogação dos processos-crimes do século XIX da comarca de Sant’Ana de Paranaíba (atual Paranaíba/MS), Sul de Mato Grosso. A análise dos processos-crimes, do acervo do Arquivo do Judiciário de Mato Grosso do Sul, é realizada por estagiários do Grupo PET-História da UFMS/CPTL e parte do cruzamento de dados que indicam a repetição de nomes de testemunhas, vítima e réu envolvidos em denúncias de crimes de roubo, rixas e incidentes, negociações, assassinatos, cobranças de dívidas, entre outros. Busca-se, nas fontes, acompanhar a trajetória de escravos e livres. Como objetivo prático, a análise pretende construir um catálogo de consulta aos processos-crimes.

Palavras-chave: Escravidão; processos-crimes; catalogação.

Introdução

O Grupo PET História – Conexões de Saberes da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul, campus de Três Lagoas, realiza o trabalho com os Processos Crimes que iniciou-se com o objetivo em pesquisas desenvolvidas em 2009 financiado pela Fundação de Pesquisa do Estado (FUNDECT-MS), que até então era coordenado pela Prof.ª Dr. Maria Celma Borges, sendo assumido pelo grupo PET no ano de 2011, e previa a digitalização e análise dos processos-crimes da região Sul de Sant’Ana do Paranaíba em Sul de Mato Grosso no século XIX.

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Artigo pautado em projeto realizado pelo grupo PET História – Conexões de Saberes, sob a tutoria do Profº Dr. Vitor Wagner Neto de oliveira.

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Acadêmicos do curso de História – Licenciatura da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul,

campus de Três Lagoas, e bolsistas PET História – Conexões de Saberes.

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A partir de fotos digitalizadas dos processos, é feito um trabalho de leitura pelos bolsistas onde as informações são coletadas e tabeladas em uma ficha. Nestas fichas, é feito um pequeno excerto que resuma o processo analisado, facilitando assim, o trabalho de pesquisa das fontes. Até o momento, foram catalogados mais de setenta processos criminais pelos bolsistas envolvidos no projeto. São fontes preservadas no Memorial do Tribunal de Justiça de Mato Grosso do Sul e essas fontes expõem vários tipos de acusações, como crimes de roubo, rixas e incidentes, negociações, assassinatos e cobranças de dívidas. Com a catalogação destes processos, busca-se destacar os sujeitos possibilitando uma análise mais abrangente do cotidiano destas pessoas, além de destacar também a interação dos escravos e livres com a Justiça.

Nestas breves páginas, buscamos realizar uma primeira análise comparativa cruzando processos criminais onde o mesmo sujeito aparece em posições diferentes, como réu e vítima, visando aquilatar as formas de tratamento e a presença de escravos e livres em Sant’Ana do Paranaíba.

Cruzando Processos Criminais: Ladisla José

Ladisla José da Silva foi um fazendeiro na década de 1880 na comarca de Sant’Ana do Paranaíba. O mesmo aparece em dois momentos e processos-crimes distintos, como réu e vítima. Para melhor elucidarmos o contexto analisado, seguem transcritas

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as duas fontes cujo sujeito é protagonista:

Réu: Ladisla José da Silva Vítima: Manoel João de Tal Descrição prévia do ocorrido:

Aos quatorze dias do mês de abril de mil oitocentos e oitenta e oito, Ladisla José da Silva foi acusado de assassinar seu vizinho Manoel João de tal morador da fazenda do Mosquito; segundo as testemunhas, Manoel não tinha problemas com ninguém, porém um dia antes de sua morte, ele havia tido uma rixa com Ladisla, por isso Ladisla se tornou o principal suspeito.

Segundo o inquérito policial, Ladisla usou uma arma de fogo para matar Manoel, porém não se sabe qual arma foi, pois não foi encontrada.

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O citado trecho foi retirado das fichas produzidas pelo bolsistas, portanto, a fonte em questão é uma

produção textual do bolsista que analisou o dado processo.

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Logo que as testemunhas foram ouvidas, foi decretado que Ladisla será julgado com o máximo das penas do referente art. 192 do Código Penal.

Réu: João Simão de Freitas; Joaquim Theodoro da Cruz (lavradores) Vítima: Ladisla José da Silva (fazendeiro e negociante)

Descrição prévia do ocorrido:

Aos doze dias do mês de janeiro de mil oitocentos e noventa e dois, o promotor público da Comarca da Villa de Santana do Paranahayba, usando da atribuição que a lei lhe confere denuncia João Simão de Freitas e Joaquim Theodoro da Cruz pelo facto criminoso que ocorreu na noite do dia que foi apresentado logo acima

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; segundo as testemunhas, Ladisla era um homem bom, porém muito exigente com seus negócios de trabalho. Devido às exigências, há um tempo atrás, Ladisla entrou em uma confusão com dois trabalhadores de sua fazenda, ambos mencionados como réus: João Simão de Freitas e Joaquim Theodoro da Cruz. Depois da briga entre o fazendeiro e os funcionários, Ladisla não os demitiu e permitiu que ambos continuassem na Fazenda da Árvore Grande, onde era proprietário, porém, João Simão e Joaquim resolveram se vingar e dispararam muitos tiros em Ladisla.

Conforme os depoimentos das testemunhas, decretaram que dois funcionários eram os assassinos. E conforme o art. 294 do Código Penal, João e Joaquim serão punidos com o máximo das penas.

Alguns aspectos devem ser levados em consideração quanto à fala dos sujeitos para a compreensão da história de vida de pessoas comuns. Ao analisar os dois processos, observamos que há um sujeito em comum, Ladisla José da Silva. No primeiro processo, ele é citado como réu e sua é vítima Manoel João de Tal. Por meio da descrição é possível observar que a vítima é um escravo e provavelmente trabalhava para algum fazendeiro.

Já no segundo processo, Ladisla é mencionado como vítima e levado à óbito devido aos tiros disparados por dois réus João Simão de Freitas e Joaquim Theodoro da Cruz, ambos lavradores e empregados de Ladisla.

Nessas fontes que retratam alguns aspectos históricos e comum do último século de escravização no Brasil, é necessário que atentemos aos sujeitos excluídos e esquecidos do poder, são esses então o escravo e os lavradores dos processos acima, por isso vamos atentar fugir da filosofia positivista dos crimes que ocorriam no século XIX.

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Nomes Cruzados: Ladisla José da Silva como réu no primeiro processo crime e, no posterior, vítima.

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Podemos então observar na análise do primeiro processo que o sujeito Ladisla se achou no direito de realizar o ato de crime com sua vítima, e como observamos no segundo processo Ladisla era um homem exigente com os trabalhos em sua fazenda. A condenação do réu se deu mais ou menos quatro anos, essa probabilidade de tempo se dá pelo intervalo de um processo ao outro.

No segundo processo Ladisla já se encontra livre e atuando em sua profissão como fazendeiro, mas ao ser morto pelos réus que são seus lavradores, o mesmo é citado no processo como “homem bom”, logo pensamos: por que Manoel João de Tal, vitima de Ladisla, também não foi mencionado como “homem bom” e apenas foi descrito que ele “não tinha problemas com ninguém”? Então supomos que independente de Manoel João de Tal não ser o escravo de Ladisla, e sim pertencer às posses de outro fazendeiro, todos os escravos eram tratados como um ser irrelevante e que era notado como uma posse que poderia ser descartada pelo seu proprietário. Durante a análise do processo, concluímos que as testemunhas eram conhecidas da vítima, ou seja, não há nada constando que o fazendeiro empregador de Manoel testemunhou a sua morte, e ao observar os nomes dos testemunhos e suas profissões, podemos evidenciar que só há trabalhadores como testemunhas.

Cruzando Processos Criminais: Maria Itapusiana de Tal, a escrava.

No processo em que fora vítima a escrava Maria Itapusiana de Tal – apesar de não haver referência à mesma personagem em outros momentos – destaca-se a discrepância do cotidiano e do tratamento à escrava, mesmo como vítima, em comparação ao prestigio e apreço demonstrado ao senhor de fazenda.

Réu: José Maria Barboza

Vítima: Maria Itapusiana de tal (escrava) Descrição prévia do ocorrido:

Aos dezoito dias do mês de agosto do ano de mil oitocentos e oitenta e seis, o

Tenente José Maria Barboza, foi autuado e preso pela acusação de embriaguez e

perturbação da ordem pública. Após o depoimento das testemunhas tirando o fato de

Maria Itapusiana de tal ter sofrido lesões corporais, toda a autuação foi dada como um

grande mal entendido.

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O promotor convocou quatro testemunhas, mas nenhuma compareceu ao tribunal.

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Para a análise desse processo observamos que além de mulher, Maria Itapusiana de Tal era também escrava. É notável através de dados, fontes e testemunhos que o genocídio sempre existiu, mas a diferença entre aquele tempo e o nosso é que mulheres são mais ouvidas, testemunhadas e existem militâncias feministas que no século XIX, mulheres e escravas jamais ousariam pensar.

Na análise do processo crime, notamos que a vítima provavelmente era

“propriedade” de José Maria Barboza e o mesmo possivelmente a violentava constantemente, pois há subsídios na fonte que afirmam e além de outros sujeitos que testemunharam, há um depoimento da vítima. Por mais que Maria testemunhasse, não seria ouvida por ser além de escrava, uma mulher, com o agravante de que os outros testemunhos não deram legitimidade à violência contra Maria.

Algumas considerações

Como um trabalho inicial, o cruzamento descritivo de processos criminais do século XIX nos ajuda a elucidar as vivencias cotidianas destes sujeitos, enxergando as negligencias ocorridas para com aqueles ditos inferiores perante a lente da sociedade do período. Também evidencia os ditos privilégios dos senhores de fazenda e de escravos.

O trabalho de cruzamento de nomes, pretende destacar as semelhanças e distinções nos diversos processos criminais de Sant’Ana do Paranaíba e formar um catálogo descritivo com objetivo de facilitar futuras pesquisas que venham a ser desenvolvidas na busca de se entender as relações sociais na comarca de Sant’Anna do Paranaíba no Sul de Mato Grosso nos fins do século XIX.

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Não foi encontrada a resolução do processo nas fontes.

Referências

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