Os benefícios do prontuário eletrônico na administração segura de medicamentos
Éder dos Santos Silva
1, Douglas Schneider
21. Enfermeiro. Universidade do Vale do Itajaí (UNIVALI – Biguaçu/SC), Especialista em Gestão em Saúde e Controle de Infecção Faculdade Método de São Paulo (FAMESP São Paulo/SP).
2. Cirurgião-Dentista (FOUSP - São Paulo/SP), Especialista em Saúde Pública (USP - São Paulo/SP) e em Saúde da Família (UNIFESP - São Paulo/SP).
Resumo
O presente trabalho traz uma revisão bibliográfica sobre o uso do prontuário eletrônico e sua relação com a administração segura de medicamentos, realizada nas bases de dados MEDLINE, LILACs, SCIELO e PUBMED, entre os anos de 2001 e 2016, na qual foram selecionados sete artigos científicos. Demonstrou-se que o prontuário eletrônico colaboradora significativamente para a redução de erros advindos da administração de medicamentos, porém, mudanças no comportamento dos profissionais tornam-se de extrema importância para o processo obter sucesso.
Além de aumentar a eficácia na assistência a saúde, melhorando a comunicação entre os profissionais, a prescrição eletrônica bloqueia os possíveis erros e segue como fator importante na segurança do cuidado prestado ao paciente.
Descritores: Segurança do paciente; prontuário eletrônico; qualidade; prescrição;
medicamento.
Introdução
No âmbito da saúde, a segurança é um princípio basilar e uma condição para
a qualidade da assistência prestada. A segurança do paciente é definida como a
redução do risco de danos desnecessários associados à atenção à saúde, até um
mínimo aceitável, haja vista como a complexidade de procedimentos e tratamentos,
a potencialidade para o dano é significativa. Uma assistência segura é pautada em
ações corretas dos profissionais de saúde, como de processos e sistemas
adequados nas instituições e serviços, assim como de políticas governamentais
regulatórias, exigindo um esforço coordenado e permanente.
(1)Diante disso, o Ministério da Saúde publicou a Portaria nº 529, de 1º de abril de 2013, instituindo o Programa Nacional de Segurança do Paciente.
(2)Dentre todos os passos inerentes a Política de Segurança do Paciente, este trabalho trata da administração segura de medicamentos. Sabe-se que a administração de medicamentos é uma função restritamente assistencial e seguramente pertencente à classe da enfermagem.
Trata-se de uma das principais atribuições dos profissionais que compõem esta classe, tornando uma das maiores responsabilidades da profissão.
(4)Os erros envolvendo a administração de medicamentos aumentam o período de internação, além de caracterizarem: procedimentos não previstos; possíveis danos irreversíveis das funções orgânicas; e dor e sofrimento dos pacientes e suas famílias quando há uma consequência grave destes eventos.
(10-11-12)Um estudo realizado nos Estados Unidos revela que cada paciente internado em hospital americano está sujeito a um erro de medicação por dia, sendo registrados anualmente no mínimo 400.000 eventos adversos evitáveis relacionados a medicamentos. No Brasil, estudo realizado em 2010 revelou que os erros durante a administração de medicamentos ocorrem em 30,3% dos casos.
(10-11-12)O uso de registros que configurem uma assistência de modo seguro ao paciente torna-se um dos principais subsídios para os profissionais. O uso do prontuário, que segundo a origem da palavra em latim promptuarium é o local onde são guardadas coisas que podem ser revistas a todo o momento. E segundo a definição do Dicionário da Língua Portuguesa Silveira Bueno, prontuário significa
“lugar para apontamento de dados que podem ser necessários a qualquer hora;
antecedentes de uma pessoa.”
(7-13)Tal prontuário deve ter todas as informações
necessárias para a assistência completa ao paciente e de forma clara. Para tanto,
muitas instituições tem adotado o uso do prontuário eletrônico, ferramenta esta que
colabora para a segurança do paciente e evita possíveis erros de compreensão
quanto à escrita dos profissionais, seja nas evoluções de cada categoria e
principalmente na prescrição de medicamentos. Entretanto, essa prática é recente e
ainda não tão difundida em todos os Estabelecimentos de Assistência a Saúde. O
Conselho Federal de Medicina autorizou o uso de sistemas eletrônicos para
prontuário do paciente no ano de 2007.
(7)Resta saber se o uso desta tecnologia
favorece o processo de trabalho da saúde e atende as normas de segurança do
paciente.
Para tanto, este estudo tem a seguinte questão norteadora: Quais os benefícios do prontuário eletrônico para a segurança do paciente na administração de medicamentos? Tendo como objetivos: Identificar os erros e acertos com o uso do prontuário eletrônico do paciente; Verificar a adesão dos profissionais de enfermagem ao sistema informatizado; Compreender o processo de trabalho da enfermagem baseado no sistema eletrônico.
Método
O presente estudo seguiu os preceitos da pesquisa exploratória, por meio de revisão bibliográfica de literatura, que é desenvolvida a partir de material já elaborado, constituído de livros e artigos científicos. A pesquisa exploratória tem como finalidade desenvolver, esclarecer e modificar conceitos e idéias, proporcionar familiaridade com os problemas, auxiliar na formulação de hipóteses, proporcionando uma visão geral a cerca de determinado fato.
(6)Desta forma, a pesquisa exploratória atende às expectativas deste estudo, que tem como objetivo identificar e revisar os estudos que tratam dos os benefícios do uso do prontuário eletrônico na administração segura de medicamentos.
A pesquisa foi realizada no período de agosto a outubro de 2016, por meio de consulta em bases de dados indexadas (MEDLINE, LILACs, SCIELO e PUBMED).
Os critérios adotados para inclusão dos artigos para este trabalho
contemplaram os artigos publicados no Brasil, nos últimos quinze anos, (entre 2001
e 2016), que tratam da segurança do paciente e da utilização de Prontuário
Eletrônico como instrumento para a administração segura de medicamentos. Foram
selecionados sete artigos científicos que atendiam a esses critérios.
Resultados
Os artigos selecionados para este estudo estão descritos a seguir.
Tabela 1 – Artigos localizados nas bases de dados LILACS, MEDLINE, SCIELO e PUBMED, sobre o
uso do prontuário eletrônico relacionado à segurança na administração segura de medicamentos.
Título do
Artigo/Referência Objetivo Resultados
Fatores de risco para erros de medicação na prescrição eletrônica e manual.
Volpe CRG, Melo EMM, Aguiar LB, Pinho DLM, Stival MM. Risk factors for medication errors in the electronic and manual prescription. Rev. Latino-
Am. Enfermagem.
2016;24:e2742.
O artigo tem por objetivo mostrar o comparativo entre a prescrição manual e eletrônica, evidenciando principalmente os pontos favoráveis diante de uma prescrição eletrônica.
Os autores relatam que a utilização de um sistema informatizado na prescrição de medicamentos contribui para diminuição significativa de erros associados à administração de medicamentos.
Implantação de prescrição eletrônica a fim de otimizar a dispensação de medicamentos
Cardoso, Albert Mamede.
Implantação de prescrição eletrônica a fim de otimizar a dispensação de medicamentos. Rev. Bras.
Farm. Hosp. Serv. Saúde São Paulo v.4 n.4 39-45 out./dez. 2013.
O presente artigo objetiva verificar o quão é útil e segura à utilização da prescrição eletrônica para diminuir os erros de dispensação de medicamentos.
O autor conclui que a implantação da prescrição eletrônica é de fato um fator muito importante no processo de segurança do paciente, embora não elimina totalmente os erros, contudo torna-se um avanço estratégico e fundamental em todo o processo de qualidade da assistência.
Responsabilidade da
enfermagem na
administração de
medicamentos: Algumas reflexões para uma prática segura com qualidade de assistência
Coimbra JAH, Cassiani SHB. Responsabilidade da
enfermagem na
administração de
medicamentos: algumas reflexões para uma prática segura com qualidade de assistência. Rev. Latino-am Enfermagem 2001 março; 9 (2): 56-60.
O artigo tem o objetivo de tratar da responsabilidade que a classe da enfermagem possui diante da administração segura de medicamentos.
Os autores trazem a questão ética e moral do cidadão para os profissionais de enfermagem, determinando que estes sejam responsáveis por suas atividades e neste caso, focado na segurança em relação à administração de medicamentos a seus pacientes.
Prontuário Eletrônico do Paciente: uma ferramenta para aprimorar a qualidade dos serviços de saúde
Bezerra, Selene Maria.
Prontuário Eletrônico do
O trabalho tem o objetivo analisar o prontuário eletrônico do paciente como um forte aliado para a cultura da segurança do paciente.
O autor relata que o uso de um documento único, digital, com todas as informações do estado de saúde-doença do paciente (prontuário eletrônico) favorece uma assistência segura e consequentemente, a continuidade do processo de cuidado, já que os registros existem e são seguidos.
Paciente: uma ferramenta para aprimorar a qualidade dos serviços de saúde.
Meta: Avaliação | Rio de Janeiro, v. 1, n. 1, p. 73-82, jan./abr. 2009.
O prontuário eletrônico do paciente no sistema de saúde brasileiro: uma realidade para os médicos?
Patrício CM et al. – O prontuário eletrônico do paciente no sistema de saúde brasileiro. Scientia Medica (Porto Alegre) 2011;
volume 21, número 3, p.
121-131.
O presente trabalho objetiva realizar uma discussão referente a introdução do prontuário eletrônico no Brasil, apresentando a realidade com seus prós e contras na utilização do mesmo.
Os autores trazem que embora se tenha atualmente muita dificuldade no uso do prontuário eletrônico, devido a desafios como a falta de adesão por alguns profissionais e escassez de recursos por exemplo, é de extrema valia utilizar este sistema para facilitar o processo de assistência a saúde.
Adoção de prontuário eletrônico do paciente em hospitais universitários de Brasil e Espanha. A percepção de profissionais de saúde
FARIAS, Josivania Silva et al. Adoção de prontuário eletrônico do paciente em hospitais universitários de Brasil e Espanha: a percepção de profissionais de saúde. Revista de Administração Pública, Rio de Janeiro, v. 45, n. 5, out.
2011.
Este artigo quer apresentar a percepção dos profissionais de saúde para a adesão do prontuário eletrônico do paciente.
Os autores apresentam uma reflexão a cerca da visão de cada profissional de saúde diante do prontuário eletrônico.
Há questões que estão relacionadas a níveis gerenciais, como o caso de recursos financeiros, porém, do ponto de vista assistencial, a adesão ao prontuário eletrônico é de fundamental importância, ficando apenas a falta de disponibilidade de treinamento como um dos fortes empecilhos para aderirem aos projetos.
Fatores determinantes da adoção de sistemas de informação na área de saúde: um estudo sobre o prontuário médico eletrônico
Perez, Gilberto. Zwicker,
Ronaldo. Fatores
determinantes da adoção de sistemas de informação na área de saúde: um estudo sobre o prontuário médico eletrônico RAM.
Revista de Administração Mackenzie (Online), v.11, n.1, p.174-200, 2010.
O artigo procura analisar quais os fatores que interferem no processo de adesão de um sistema de informática em saúde.
Os autores trouxeram como resultados a grande variedade de influenciadores existentes durante um processo de implantação de sistemas de informação em saúde, como recursos humanos, financeiros, compreensão dos profissionais operacionais, sendo estes peças-chaves do processo.