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Palavras-chave: Trabalho; Política; Emancipação Humana.

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TRABALHO, POLÍTICA, FORMAÇÃO E EMANCIPAÇÃO HUMANA EM MÉSZÁROS.

Celeste Deográcias de Souza Bitencourt 1 Hormindo Pereira de Souza Junior 2 Programa de Pós-graduação em Educação da

Faculdade de Educação/UFMG Resumo

A pesquisa que estamos realizando, tem como objetivo central analisar as categorias trabalho, política, formação e emancipação humana nas principais obras de Mészáros. Visa identificar, explicitar e apreender como estas categorias se articulam, analisar a centralidade da categoria trabalho para a formação humana, sua atual configuração histórico-social e sua centralidade nos processos de produção e reprodução social do conhecimento e qual a negatividade e ou positividade destas categorias para a emancipação social como a única forma de transitar para além do capital. Adotamos como prioridade metodológica a leitura e a investigação imanente do texto, visando capturar a dimensão mais direta, imediata, explícita, ou seja, a gênese e o telos social do objeto investigado. Mas também, o que os textos afirmam implícita ou dedutivamente e o que os textos não dizem, com o propósito de apreender sua articulação e coerência interna. Estamos realizando um mapeamento detalhado das principais obras de Mészáros, com destaque para as referidas categorias. Este procedimento permitirá compreender de forma mais profunda e explicitar com precisão a concepção de Mészáros sobre as categorias investigadas e também analisar suas implicações teórico-práticas para a perspectiva do trabalho, política, formação e emancipação humana no contexto contemporâneo.

Estenderemos este “tecido categorial” para analisar a literatura produzida na última década pertinente a essa temática, a partir de um levantamento, em banco de dados da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior – Capes, do Scientific Electronic Library Online - SciELO e na base de dados do google acadêmico de livros, capítulos de livros, dissertações de mestrado, teses de doutorado e artigos. Também vamos analisar a produção de alguns dos principais grupos de pesquisa vinculados a programas de pós-graduação do País. Buscaremos identificar e estabelecer interlocução com grupos de pesquisa nacionais e/ou internacionais do mesmo campo de interesse.

Palavras-chave: Trabalho; Política; Emancipação Humana.

INTRODUÇÃO

Esta pesquisa originou-se a partir da elaboração da dissertação de mestrado “A Noção de Competência – Na Política Pública de Educação de Jovens e Adultos da Rede Municipal de Betim: Avanços e ou Retrocesso na Formação Humana”. Como esta se orientou pelo

1

Doutoranda do Programa de Pós-graduação da Faculdade de Educação da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). Avenida Antônio Carlos, 6627. CEP31270901 - Belo Horizonte - Minas Gerais – BRASIL. E- mail para contato: celdeminasfae@yahoo.com.br. Telefone: (31) 8883-6882

2

Professor do Programa de Pós-graduação da Faculdade de Educação da Universidade Federal de Minas Gerais

(UFMG). Avenida Antônio Carlos, 6627. CEP31270901 - Belo Horizonte - Minas Gerais – BRASIL. E-mail

para contato: hormindojunior@gmail.com. Telefone (31) 3409 – 6156/5323

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referencial teórico marxista, propiciou-nos uma aproximação da tematização realizada pelos grupos de pesquisa de pós-graduação sobre Trabalho e Educação e da teorização realizada por um dos maiores filósofos marxista da atualidade e ainda vivo, István Mészáros. Pelos próprios limites ao qual o referido estudo se propôs, não respondeu várias indagações que ainda nos inquietam sobre o complexo processo da formação humana, constituição e busca da emancipação.

Ao contrário, motivou-nos e indicou-nos a necessidade de realizar uma investigação mais profunda sobre categorias fundamentais da teoria social marxiana como o trabalho, política, formação e emancipação humana. Pesquisa que procuraremos objetivar com a tese de doutorado “Trabalho, Política, Formação e Emancipação Humana em Mészáros”. Este autor produz uma densa, sólida, rigorosa e polêmica obra, na qual realiza uma “síntese decisivamente inspirada em Marx [...] mas que é também tributário, por um lado, da matriz ontológica de Lukács”. Assim a originalidade de sua obra como nos apresenta Antunes (2002)

“devassa o passado recente e o nosso presente, oferecendo um manancial de ferramentas para aqueles que estão olhando para o futuro. Para além do capital.” (ANTUNES, 2002:20). A presente pesquisa tem como perspectiva nos possibilitar maior compreensão de questões teóricas e práticas, altamente desafiadoras, que estão postas para o conjunto da sociedade e particularmente para os que buscam a emancipação humana.

Como alerta-nos o próprio Mészáros (2007) a gravidade e complexidade dos problemas não nos deixam “espaço para tranqüilidade ou certeza”, caso “os desafios históricos postos diante do movimento socialista não sejam enfrentados com sucesso, enquanto ainda há tempo. Por isso, o século a nossa frente deverá ser o século do ‘socialismo ou barbárie’” (MÉSZÁROS, 2007:132). O filósofo húngaro consubstanciará esta assertiva em sua monumental obra Para além do capital – Rumo a uma teoria da transição. Mészáros (2002) realiza um intenso enfrentamento teórico-prático e dá sua contribuição para cumprirmos com nosso possível destino histórico ao elaborar uma teoria da transição, na qual uma das teses centrais, que é tratada com destaque, é a necessidade da “ofensiva socialista”.

Tonet (2004), também identifica os desafios teórico-práticos da realidade social e

afirma que é “impossível resolver os graves problemas que a humanidade enfrenta no

capitalismo”, sem a reconstrução da teoria revolucionária marxiana. Enfatiza que, neste

momento, a tarefa, das mais urgentes e importantes, é reconstruir a capacidade revolucionária

do pensamento de Marx. Mas indica-nos que para realizar esse intuíto “o resgate do

pensamento marxiano ocupa lugar centralíssimo”, e os elementos essenciais, o “núcleo mais

essencial está na demonstração da radical historicidade e sociabilidade do mundo dos homens

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e na identificação da correta articulação entre subjetividade e objetividade” (TONET, 2004:

111).

O mesmo alerta, porém que, neste movimento, não se pode adotar nem o caminho do dogmatismo e nem do ecletismo, pois lhe parece que ambos - “por maiores que sejam suas diferenças - confluem para o mesmo problema: a incapacidade de fundamentar a superação radical do capitalismo e a construção de uma sociedade comunista”. Propõe que a perspectiva, que pode levar ao objetivo mencionado é o da “compreensão do marxismo como ontologia do ser social”. Pois acredita que essa vertente, independentemente de quanto realizado e de seus erros e acertos, “é a que mais contribuiu para resgatar o espírito original do pensamento de Marx” (TONET, 2004: 104).

Souza Junior (2009) lembra-nos das questões que eram centrais para Marx. Expõe que

“a propriedade maior da obra de Marx era a de proporcionar uma determinação fundamental para derrocar as relações sociais vigentes sob o sistema do capital”; mas não se esgotava nesta, “os objetivos centrais das tematizações marxianas colocavam-se no plano do entendimento de como do macaco se dá o homem”, ou seja, como “o homem se humaniza”

(SOUZA JUNIOR, 2009:130).

Em outro instigante artigo Souza Junior (2008), pela clareza e amplitude, com que, estabelece uma interlocução com as mais significativas concepções teóricas da atualidade, entre elas “a teoria de Habermas e Offe sobre o ‘capitalismo tardio’, quanto a de Daniel Bell sobre a ‘sociedade pós-industrial’” que questionam a “atualidade da teoria marxiana do valor trabalho” e a “centralidade do trabalho na formação humana”, contextualiza-nos das grandes e atuais transformações que ocorrem na “base material da produção social no interior da ordem do capital”.

Souza Junior (2008) indica-nos também, o quanto esta nova configuração da realidade social provoca uma verdadeira avalanche tanto no modo da existência como no modo de pensá-la. O que explicita a contraditoriedade de nossos tempos, bem como as suas

“conseqüências para os diversos aspectos que envolvem desde a produção e reprodução social dos conhecimentos até os processos de formação dos sujeitos”. Neste quadro, segundo o mesmo autor, “a centralidade ontológica do trabalho afirma-se como dimensão fundamental da formação humana” (SOUZA JUNIOR, 2008:163-177).

O reconhecimento de que a originalidade do pensamento marxiano deve-se aos seus

fundamentos ontológicos, é compartilhado também, por Chasin (1982), Enderle (2005),

Frederico (2005), Netto (2004) e Antunes (2007). Para este as obras dos anos de formação e

maturidade de Marx, demonstram a “origem ontológica das geniais críticas de Marx. Muito

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mais que filósofo, sociólogo, cientista político ou economista, a teoria social de Marx é apresentada em seus anos de formação, quando se desenvolveram as críticas ontológicas fundamentais de Marx” (ANTUNES, 2007: 213). Portanto, a pesquisa “Trabalho, Política, Formação e Emancipação Humana em Mészáros” tem como objetivo realizar uma análise teórica das categorias trabalho, política, formação e emancipação humana nas principais obras de Mészáros e assim evidenciar a contribuição de sua elaboração para o processo de transformação social e apresentá-la como tese de doutorado.

OBJETIVOS DA PESQUISA

A pesquisa tem como objetivo geral realizar uma análise imanente das principais obras de Mészáros, a fim de identificar as categorias trabalho, política, formação e emancipação humana. Ao identificá-las procuraremos explicitar e apreender como estas se articulam e qual a negatividade e ou positividade destas no processo de manutenção da ordem do capital e para o projeto da emancipação social como a única forma de transitar para além do capital.

Os objetivos específicos visam analisar a centralidade da categoria trabalho, do ponto de vista teórico-prático, para o processo de produção e reprodução social do conhecimento e para a formação humana; analisar a sua atual configuração histórico-social e as possibilidades desta orientar-se “para além do capital”; analisar o papel que é atribuído à política, seus limites e desafios no processo de construção da emancipação humana; analisar os limites e impossibilidades da emancipação humana realizar-se sob o domínio do capital. Procuraremos com estes objetivos apreender das principais obras de Mészáros a contribuição de sua elaboração para o processo de conhecimento e superação da atual realidade social na perspectiva de uma “nova forma histórica”.

A fim de cumprir com estes objetivos adotaremos como prioridade metodológica a

leitura e a investigação imanente do texto que buscará a coerência interna ao pensamento do

autor. Este procedimento nos permitirá compreender de forma mais profunda e explicitar com

precisão a concepção de Mészáros sobre as categorias investigadas e também analisar suas

implicações teórico-práticas para a perspectiva do trabalho, política e formação humana no

contexto contemporâneo.

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METODOLOGIA

A fim de cumprir com os referidos objetivos adotaremos como prioridade metodológica a leitura e a investigação imanente. Ao priorizarmos este autor e esta metodologia apoiamo-nos nas considerações de Lessa (2007) quando faz a recuperação do significado da “ortodoxia e da leitura imanente”, contra o “dogmatismo e o ecletismo”. Este nos indica o que considera fundamental em uma teoria e uma exigência metodológica da maior importância no pensamento de um autor, que este seja -“tão coerente quanto unitário é o mundo”-, mais precisamente nos diz: “uma teoria que se proponha como reflexo adequado do real deve ser portadora de uma coerência interna que reflita os fundamentos ontológicos, por último unitários, das contradições e desigualdades do próprio real” (LESSA, 2007: 11).

Orienta-nos, também a distinção que Souza Junior (2011) faz entre a perspectiva ontológica marxiana e as perspectivas gnosiológicas de análise da realidade social, em sua elaboração a “perspectiva ontológica busca entender, como o em si pode ser capturável em sua integridade. Esta é, em termos ontológicos, a questão fundamental do método” (SOUZA JUNIOR, 2011:31).

A leitura imanente indica-nos que para extrair o conteúdo expresso do texto devemos realizar um “mapeamento” detalhado, com destaque para as referidas categorias. Devemos iniciar um processo de sua decomposição, e deter em seus significados, em cada parte e no conjunto dos textos. Esta postura metodológica orienta-nos para ler o texto procurando identificar o que ele é em si, e capturar sua dimensão mais direta, imediata, explícita, ou seja, o seu conteúdo imanente, a gênese e o telos social do objeto investigado. Mas também, o que afirma implícita ou dedutivamente e o que o texto não diz, o que significa apreender sua articulação interna.

Este procedimento metodológico nos permitirá compreender de forma mais profunda e explicitar com precisão a concepção de Mészáros sobre as categorias investigadas. Mas como nos adverte Lessa (2007) “todo texto é escrito tendo em vista um objeto externo a ele (um outro texto ou, então, a realidade enquanto tal), apenas na referência a este objeto exterior a lógica imanente do texto pode receber seu verdadeiro significado”, ou seja, todo texto “remete ao seu contexto e ao contexto do próprio leitor; remete para além de si próprio” (LESSA, 2007:18).

Assim, pretendemos estender este “tecido categorial” para analisar suas implicações

teórico-práticas para a perspectiva do trabalho, política e formação humana no contexto

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contemporâneo. Isto nos remeterá para a literatura produzida na última década, que também versa sobre essa temática. Para tal realizaremos um levantamento, a partir do banco de dados da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior – Capes, do Scientific Electronic Library Online - SciELO e na base de dados do google acadêmico de livros, capítulos de livros, dissertações de mestrado, teses de doutorado e artigos. Da mesma forma procuraremos identificar e estabelecer interlocução com grupos de pesquisa nacionais e/ou internacionais do mesmo campo de interesse.

Com estes procedimentos procuramos nos sintonizar com a teoria social de Marx (1978) e com o seu dizer de que “o modo de produção da vida material condiciona o processo geral de vida social, político e espiritual”. Ou seja, no processo de conhecimento, a prioridade metodológica, decorre da prioridade ontológica do objeto, em relação à subjetividade, assim, é a existência que determina a consciência. Somos advertidos também, que esses fenômenos não ocorrem isolados e integram o modo humano de produção social da existência, uma totalidade concreta. E ainda, a essência da realidade, a “coisa em si”, não se manifesta de imediato a nós, por isso nos propomos a analisar as categorias trabalho, política, formação e emancipação humana, na processualidade do desenvolvimento histórico, a partir de uma análise imanente dos textos de Mészáros.

RESULTADOS INICIAIS

Para realizar o que é proposto, não nos parece exequível e nem necessário abarcar toda a obra de Mészáros e nem o conjunto das tematizações que são por ele tratadas, focaremos nas categorias indicadas, pois acreditamos serem as que respondem mais diretamente ao nosso campo de investigação. Jinkings & Nobile (2011) informa-nos sobre dezenove obras deste autor. Destas, apenas seis ainda não foram traduzidas para o português, e a elas não nos parece necessário recorrer para contemplar nosso objetivo. Das treze com tradução para o português, cinco são reedições de capítulos ou partes que estão contidas na obra Para Além do Capital ou em outras, bastando-nos apenas recorrer a partes destas, ou às Introduções ou Prefácios das edições brasileiras, que foram atualizados pelo próprio Mészáros.

Restam-nos oito obras a serem mais diretamente pesquisadas. Dentre estas, duas foram

recentemente lançadas, e delas ainda não realizamos uma maior aproximação para avaliar a

necessidade de incluí-las em nossa investigação. Uma terceira obra que ainda não

consultamos, pois estamos aguardando a sua reedição prevista para este ano (embora já

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houvesse uma edição, pela Ensaio de 1991, não a conhecemos) intitula-se A obra de Sartre:

busca da liberdade. Quanto a importância dessa obra para compreendermos a teoria da transição proposta por Mészáros, mesmo que longa, vejamos a argumentação do próprio autor.

Para mim, Sartre é uma das figuras intelectuais mais importantes do século XX. No entanto, está na moda dizer que Sartre está morto. O tempo de Sartre voltará ainda, porque nele há uma mensagem muito importante: a liberdade, que, no entanto, colocada em termos individuais é um mito. A liberdade é uma problemática essencial da realidade e, portanto, ela é a razão de ser do socialismo. O socialismo sem liberdade é uma contradição nos termos. Mas aí a liberdade assume o sentido mais real e total da palavra. E não o sentido negativo de se poder fazer qualquer coisa formalmente, de protestar para se fazer ouvir, e assim por diante. [...](MÉSZÁROS, 2009: 156)

E prossegue na sua consideração sobre Sartre e de como tratou dele em sua obra.

No meu livro sobre Sartre quero, pois, falar da liberdade no sentido real da palavra, e não no sentido formal ou de autocomplacência. É óbvio, é essencial a defesa da liberdade civil, mas isso, por si só, não responde ao espírito da liberdade proposta pelo socialismo, que é autorrealização plena da personalidade humana. Neste sentido, há qualquer coisa de “fanático” em Sartre ao sustentar tal coisa, num período em que as forças sociais procuram diminuir este objetivo e a realidade da liberdade. No meu livro sobre Sartre há, obviamente, uma crítica a ele, pois foi escrito no espírito da relação entre Sartre e o marxismo. Mas, pelo fato de este homem propor, com um

“fanatismo” inoprimível, este tema tão importante para a humanidade é que estou convicto de que o tempo de Sartre retornará, não obstante os modismos dos intelectuais(MÉSZÁROS, 2009: 157).

A“Filosofia, Ideologia e Ciência Social”, é integrada por oito ensaios que versam sobre temas e problemáticas distintas, que se estendem da filosofia, à análise literária e às ciências sociais. Embora a Editora Boitempo a tenha reeditado em 2008, consultamos a sua primeira edição pela Editora Ensaio em 1993. Mas o próprio Mészáros, no Prefácio de O poder da ideologia, chama nossa atenção para quatro destes ensaios, presentes neste livro, e que segundo o mesmo “são diretamente relevantes para algumas das questões discutidas em O poder da ideologia”. Na obra anterior essas questões foram por ele analisadas “em seu contexto sócio-histórico específico, com consideráveis detalhes”. Os ensaios constantes em

“Filosofia, Ideologia e Ciência Social” a que se refere são: “Ideologia e ciência social”,

“Consciência de classe contigente e consciência de classe necessária”, “Marx filósofo” e

“Kant, Hegel e Marx: a necessidade histórica e o ponto de vista da economia política”

(MÉSZÁROS, 2004:9). Assim seguindo o seu alerta constarão em nossa pesquisa.

Portanto, do conjunto das obras de Mészáros, teremos mais este, anteriormente citado,

que tão logo seja editado tomaremos contato para somar-se aos outros cinco apresentados

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aqui, que nos parecem fundamentais e nos quais nossa investigação deverá deter-se mais profundamente, pelo menos nas partes que tratarem mais diretamente de nossa temática.

Ao delimitar este projeto às principais obras de Mészáros, e às referidas categorias nos referenciamos em autores que ao apresentá-lo e as suas obras indicam-nos da grandiosidade e monumental empreitada a que este se propôs. Segundo Antunes (2002) na apresentação que faz da obra de Mészáros “Para Além do Capital” coube a este, que foi um destacado e importante colaborador, assistente e amigo de Lukács, grande filósofo marxista e autor da Ontologia do ser social, realizar o que era intento deste “retomar o projeto de Marx e escrever O capital dos nossos dias. Investigar o mundo contemporâneo (...) objetivando com isso fazer, (...) uma atualização dos nexos categoriais presentes em O capital” (ANTUNES, 2002: 15).

Antunes considera que esta é sua obra de “maior envergadura e se configura como uma das mais agudas reflexões críticas sobre o capital em suas formas, engrenagens e mecanismos de funcionamento sociometabólico, condensando mais de duas décadas de intenso trabalho intelectual” (ANTUNES, 2002: 15). Nesta obra, como o próprio nome indica, Mészáros argumentará que há alternativa ao capitalismo, que esta só poderá realizar-se pelo trabalho, ou será a barbárie, que já vivenciamos em seus grandes traços, mas que pode agudizar-se até à brutal estupidez humana da autodestruição, como bem demonstra o atual arsenal produzido pela indústria bélica.

No prefácio que o autor realiza para a terceira edição da Teoria da Alienação em Marx (2006), isto apenas em 18 meses do primeiro lançamento, Mészáros suscita que os desdobramentos do desenvolvimento socioeconômico da atualidade se configuram como uma

“crise estrutural do capital” e de caráter destrutivo. Estas questões e o interesse demonstrado pelos leitores dão-lhe a confirmação de que a “crítica da alienação parece ter adquirido uma nova urgência histórica”.

Na Introdução, desta mesma obra, o autor ressalta ainda que o conceito de

“transcendência (aufhebung) da auto-alienação do trabalho deve situar-se no centro de nossas atenções”, primeiro porque “fornece a ligação essencial com a totalidade da obra de Marx” e também porque no “desenvolvimento do marxismo após a morte de seus fundadores, o tema foi muito negligenciado”. Estes argumentos, acrescidos dos primeiros, indicam-nos do resgate que Mészáros fará do papel fundante do trabalho, para a vida social e fundamentam a necessidade de nossa investigação para a compreensão deste e do porque de colocar a

“transcendência (aufhebung) da auto-alienação do trabalho”, na ordem do dia, como ressalta o

autor (MÉSZÁROS, 2006:15-25).

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A Teoria da Alienação em Marx, de Mészáros (2006), é uma de suas primeiras obras.

A primeira edição data de 1970, e foi elaborada a partir de seu estudo da obra marxiana. É muito ampla, pois como o próprio autor indica-nos ele realiza “uma análise detalhada dos vários aspectos da problemática complexa da alienação, desde os aspectos econômicos até os ontológicos e morais, e dos aspectos políticos aos estéticos”. Para tratar da gênese, aspectos e conceituação da alienação, Mészáros abarcará todas as categorias pretendidas por nossa investigação, assim parece-nos fundamental analisá-la.

Após as questões postas no livro, referido anteriormente, Mészáros, segundo Foster (2007), “reconhecendo a enormidade das mudanças que ocorreram tanto no interior do capitalismo como no sistema pós-capitalista soviético acabou por deixar de lado as grandes obras filosóficas que vinha escrevendo” (FOSTER, 2007:14). São elas: A determinação social do método e A dialética de estrutura e história, lançadas pela Boitempo, respectivamente em 2009 e 2011. Pelo caráter das obras e como já nos referimos, por serem as mais recentemente lançadas, temos delas pouca leitura. Assim, somente no decorrer deste estudo avaliaremos se devem ser incluídas em nossa investigação.

Mészáros, ainda de acordo com Foster (2007), passou a concentrar-se nas questões acima indicadas e que lhe pareceram de maior urgência. Esta preocupação resultou na elaboração de três obras cruciais para nosso estudo: O poder da ideologia (2004); Para além do capital (2002) e O desafio e o fardo do tempo histórico (2007). Também será objeto de nosso estudo O poder da ideologia (2004), que de acordo com a Apresentação de Netto (2004) coloca-se como um “marco da teoria social contemporânea – e da sua crítica”, como tal abre a via para a “compreensão renovada de complexos processos societais”, como a questão política e “questões pertinentes à problemática da emancipação humana” Netto (2004).

Retomamos a apresentação que Antunes (2002) faz de Para além do capital para dizer de uma das teses inovadoras e centrais esboçada por Mészáros nesta obra, a distinção entre capital e capitalismo, quando afirma que o capital é anterior ao capitalismo e também pode ser posterior a ele, caso ocorrido na antiga URSS. Por isso, denomina esta experiência e a dos demais países do Leste Europeu de “sistema de capital pós-capitalista”, porque não foram capazes de superar o sistema de metabolismo social do capital. O capitalismo é uma das formas possíveis da realização do capital, uma forma histórica específica, como ocorre na fase “caracterizada pela subsunção real do trabalho ao capital” (ANTUNES, 2002:15).

Nesta obra, Mészáros caracteriza o sistema de sociometabolismo do capital como

essencialmente destrutivo em sua lógica, expansionista e incontrolável, poderoso e

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totalmente abrangente, se auto-sustentando pelo tripé capital, trabalho e estado. Estas três

“dimensões fundamentais do sistema são materialmente constituídas e inter-relacionadas, e é impossível superar o capital sem a eliminação do conjunto dos elementos que compreende este sistema”. Porque mantiveram intactos os elementos básicos constitutivos da divisão social hierárquica do trabalho, fracassaram tanto as tentativas efetivadas pela socialdemocracia quanto a alternativa de tipo soviético (ANTUNES, 2002:16).

Conforme Foster (2007), o livro O desafio e o fardo do tempo histórico complementa de inúmeras maneiras o Para além do capital e ambos possuem a chave indispensável à crítica de Mészáros ao capital. Mas O desafio e o fardo do tempo histórico aborda mais diretamente o “próprio tempo histórico”, que está em profundo contraste com as concepções predominantes, que operam com a “decapitação do tempo”, em todos os planos do sistema do capital.

Com a emergência do capitalismo, a dilaceração do tempo tem sido a tônica, desde os maiores pensadores burgueses, como Locke, Smith, Kant e Hegel, que identificaram no capitalismo diversas maneiras para o “fim da história”, até o seu ressurgimento nas diversas concepções dominantes da globalização, expressas nas correntes do modernismo e pós- modernismo da ideologia neoliberal de que “não há alternativa”. Mészáros (2007) disserta sobre as várias formas necessárias de temporalidade e aponta para o caráter radicalmente ilimitado da história como a característica definidora da visão de mundo revolucionária de Marx.

Outro tema em O desafio e o fardo do tempo histórico, que também se contrasta com o pensamento dominante é o apontamento de Mészáros de que para a “transcendência positiva da auto-alienação do trabalho”, o conceito de formação humana em Marx é questão chave e está em agudo contraste com as concepções atualmente predominantes, pois estreitamente centradas nas instituições.

Em outra obra, Mészáros (2006) expressa, com firme convicção, que somente o conceito marxiano de formação humana que “abarca a totalidade dos processos individuais e sociais – pode oferecer uma solução para a crise social contemporânea, que está se tornando progressivamente mais aguda, e não menos, no campo da própria educação institucionalizada”

(MÉSZÁROS, 2006: 28).

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CONCLUSÃO

Assim esboçamos em caráter sintético e inicial o percurso que estamos desenvolvendo para cumprir com os objetivos propostos e quais procedimentos metodológicos que nos orienta. O que foi exposto são apreensões de uma leitura imanente apenas inicialmente realizada. Acreditamos, porém que no desenvolvimento e até a conclusão desta pesquisa, conseguiremos atingir os objetivos propostos.

Temos consciência do imenso desafio ao qual nos propomos, ao lidar com uma obra tão grandiosa e reveladora de teses tão polêmicas e complexas como a da própria constituição do sistema do capital, que segundo Mészáros deve ser superado para além da apenas

“derrubada” do capitalismo. Diferente e contraditoriamente a predominância do pensamento burguês e suas variantes que apregoam o “Adeus ao proletariado”, o “fim do trabalho”, da história e das ideologias, e que ao tentar eternizar a ordem vigente, insistem na afirmação de que “não há alternativa”, Mészáros afirma a centralidade do trabalho.

Declara que somente através da “transcendência positiva da auto-alienação do trabalho em toda a sua multifacetada complexidade condicionante” poderemos instaurar, não a chamada “sociedade do conhecimento”, mas a verdadeira sociedade humana. Neste processo, tanto de afirmação como de negação, Mészáros (2004) destaca o papel preponderante da ideologia. E nos dá o significado preciso de ideologia, que se justifica citá- lo na íntegra.

A ideologia não é ilusão nem supertição religiosa de indivíduos mal- orientados, mas uma forma específica de consciência social, materialmente ancorada e sustentada. Como tal, não pode ser superada nas sociedades de classe. Sua persistência se deve ao fato de ela ser constituída objetivamente (e constantemente reconstituída) como consciência prática inevitável das sociedades de classe, relacionada com a articulação de conjuntos de valores e estratégias rivais que tentam controlar o metabolismo social em todos os seus principais aspectos. Os interesses sociais que se desenvolvem ao longo da história e se entrelaçam conflituosamente manifestam-se, no plano da consciência social, na grande diversidade de discursos ideológicos relativamente autônomos (mas, é claro, de modo algum independentes), que exercem forte influência sobre os processos materiais mais tangíveis do metabolismo social” (MÉSZÁROS, 2004: 65).

Para este é inadequado dizer que “apenas os mecanismos de produção e troca”

explicam o funcionamento real da sociedade capitalista, pois que “nenhuma sociedade pode

perdurar sem seu sistema próprio de educação”. Sendo esta a verdadeira dimensão do

problema educacional, contribuir para a interiorização do sistema de valores dominantes em

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todas as suas dimensões. Assim, é através desse processo formativo ideologicamente estruturado que “os indivíduos ‘contribuem para manter uma concepção de mundo’ e para a manutenção de uma forma específica de intercâmbio social, que corresponde àquela concepção de mundo” (MÉSZÁROS, 2006: 263-264).

Portanto, como a pesquisa encontra-se em fase muito inicial, os resultados alcançados até aqui, nos permitem apenas sinalizar o que nos parece ser, a proposição de Mészáros, que só será possível uma formação humana que perspective a emancipação social se superarmos o trabalho do jugo da dominação estrutural que este está submetido pelo capital e pelo estado.

Estamos entendendo que esta é uma concepção e orientação clara e decisiva para que o homem possa sair da sua condição de “macaco e tornar-se humano” ou sair da sua “pré- história e realizar sua história humana. O determinante nesse processo histórico é a mediação, e uma reciprocidade dialética, entre objetividade e subjetividade, para que esta se objetive. Só assim a utopia da realização humana pode ser uma “utopia realista”, uma vez que o sentido verdadeiro da existência humana é realizar-se enquanto humano. Pois as provas científicas que temos até hoje indicam que somos o único ser dotado de liberdade e por isso podemos fazer nossa escolha entre “socialismo ou barbárie”.

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Referências

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