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Sumário. Tribunal da Relação do Porto Processo nº 6237/09.0TDPRT.P1

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Tribunal da Relação do Porto Processo nº 6237/09.0TDPRT.P1

Relator: MARIA DOLORES SILVA E SOUSA Sessão: 29 Janeiro 2014

Número: RP201401296237/09.0TDPRT.P1 Votação: UNANIMIDADE

Meio Processual: REC PENAL

Decisão: PROVIDO PARCIALMENTE

CASO JULGADO NON BIS IN IDEM CONCURSO IDEAL

CONCURSO APARENTE

Sumário

I – A figura do caso julgado radica na necessidade de garantir a certeza e a segurança do direito, assegurando-se através dele a paz jurídica dos cidadãos e afastando-se o perigo de decisões contraditórias.

II – Duas correntes jurisprudenciais se perfilam quanto à sua aplicação em processo penal:

a) Uma, que defende que ao caso julgado se aplica subsidiariamente a

disciplina do processo civil, com as necessárias adaptações, por força do art. 4° do CPP;

b) Outra, no sentido de que os princípios que regem o caso julgado penal se não articulam com as regras do caso julgado cível, o que implica que estas últimas não possam ser aplicadas, nos termos do art. 4° do Código Processo Penal. A solução passa por recorrer aos princípios gerais do processo penal. III – A aplicação do princípio do non bis in idem, qualquer que seja a

orientação seguida, está sempre dependente da verificação do “mesmo crime”. IV - Por mesmo crime deve considerar-se a mesma factualidade jurídica e o seu aspecto substancial; o crime deve considerar-se o mesmo quando exista uma parte comum entre o facto histórico julgado e o facto histórico a julgar e que ambos tenham como objecto o mesmo bem jurídico ou formem, como acção que se integra na outra, um todo do ponto de vista jurídico.

V - Nos casos de concurso ideal, se o arguido foi já julgado por um dos crimes em concurso, tal não impede que seja novamente julgado pelos outros pois que os crimes são diversos.

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VI – Já nos casos de mero concurso aparente de crimes, julgado um, impedido está o julgamento pelo outro.

Texto Integral

Proc. n.º 6237/09.0TDPRT.P1 Gondomar

Acordam, em conferência, no Tribunal da Relação do Porto. 2ª secção criminal

I - Relatório.

No 1º Juízo criminal do Tribunal Judicial de Gondomar foi submetido a julgamento o arguido B… e proferida sentença com o seguinte dispositivo: «Pelo exposto, decide-se:

I – PARTE CRIME:

a).Absolver o arguido B… do crime de injúria agravado, previsto e punido pelo artigo 181.º, nº1, em conjugação com o arguido 183.º/2, do Código Penal, de que vinha acusado.

b).Custas pela assistente. *

PARTE CIVIL:

Decide-se julgar totalmente improcedente o pedido de indemnização civil formulado e, consequentemente, dele se absolve o demandado/arguido. Custas pelo demandante/assistente.

A presente sentença será depositada (art.º373.º, n.º5, do CPP).» *

Inconformado, o assistente C…, interpôs o presente recurso, apresentando a motivação de fls. 1379 a 1416, que remata com as seguintes conclusões: 1) A proibição constitucional contida no art 29, nº 5 da CRP "ninguém pode ser julgado mais do que uma vez pela prática do mesmo crime" abrange situações de duplo julgamento quer de forma simultânea, quer sucessiva; ou seja, quer o julgamento se realize no mesmo ato ou em atos e processos diferentes, como é o caso.

2) A expressão "mesmo crime" contida naquela norma constitucional deve ser interpretada como a mesma factualidade jurídica, devendo o crime considerar-se como o mesmo quando exista uma parte comum entre o facto da vida real julgado e o facto da vida real a submeter a julgamento e que ambos os factos tenham como objecto o mesmo bem jurídico ou formem, como acção que se integra na outra, um todo do ponto de vista jurídico.

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3) No caso presente, os factos juridicamente relevantes que integram o objeto do processo são diversos dos que foram objeto daquele outro processo em que era ofendido o D… e em que o arguido foi acusado, julgado e absolvido por crime de ofensa a pessoa coletiva, como diferentes são os bens jurídicos violados pela conduta do arguido.

4) No processo que correu termos nos juízos criminais do Porto e que se iniciou e ficou delimitado no seu objecto pela denúncia por parte do ofendido D…, o crime por que o arguido foi julgado foi o de ofensa a pessoa coletiva, p e p pelo art 187, nº 1 do C Penal, crime esse integrado pela afirmação da

existência do referido "concerto" ou "estratégia combinada" entre C… e o D…, imputado a este clube e a intenção do arguido de ofender a credibilidade e o prestígio desta instituição;

5) Ao invés, o objeto deste processo, iniciado e delimitado pela queixa do titular do respetivo interesse juridicamente protegido, traduziu-se no mesmo "concerto" ou estratégia combinada, mas agora imputado à pessoa do

assistente e na intenção do arguido de ofender a honra a dignidade e a

reputação do aqui assistente integrando um crime de difamação, p e p pelo art 180, n.º 1

6) Inexiste, pois, a alegada e invocada exceção do "ne bis in idem". 7) Deve ser alterada a decisão proferida em sede de matéria de facto,

considerando-se como não provados os factos indicados nos pontos 68, 69 e 98 dos factos provados inseridos na douta decisão.

8) O tribunal "a quo" para considerar provada tal factualidade não valorou o depoimento da testemunha E…, conjugado até com o depoimento do próprio Rec.te, onde ambos afirmam que a testemunha F… tomou conhecimento do incidente do D… na hora de almoço.

9) A testemunha E… esclareceu que comunicou a existência do requerimento do D1… ao seu chefe - Dr. F… - "por volta da hora de almoço ", concretamente entre as 12h20m e as 12h40m do dia 4/7, sendo por isso seguro que o Dr. F… teve conhecimento daquele requerimento desde pelo menos essa altura, e já não apenas 15 minutos antes da reunião (que estava prevista para as 15 horas, mas que começou mais tarde, precisamente por o assistente chegar do Porto bastante atrasado ...).

10) Aliás, no próprio ponto 96° dos factos provados foi dado como assente que o gabinete de apoio ao CJ da G… - chefiado pelo D. F…- detetou a existência do requerimento em apreço por volta das 12horas do dia 4 de Julho, pelo que não era minimamente razoável ou admissível sequer que o chefe daquele

departamento fosse mantido na ignorância dum documento importante até 15 minutos antes da reunião se iniciar...

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assistente aqui Rec.te na data da reunião em causa e até ao seu início, como, aliás, o fazia sempre que havia reuniões agendadas e assuntos a tratar com urgência, já que lhe competia informar de imediato o Presidente (aqui assistente) de todos os requerimentos e demais atos que ao CJ dissessem respeito.

12) Apesar de manifestar duvidas, F… admitiu no seu depoimento que também poderá num desses telefonemas, ter transmitido ao assistente a existência do requerimento do D1…, assim se explicando que desde a hora de almoço o assistente tivesse conhecimento daquele requerimento, que já não por qualquer "conhecimento oficioso assaz suspeito"; " se calhar fiz mas não me lembro" e " se calhar referi o requerimento do D1… ao Dr. C…" disse a

testemunha, que esclareceu ser prática dar conhecimento ao Presidente do CJ de todo o expediente que chegava ao Conselho.

13) Seria incompreensível e inaceitável à luz das regras comuns de

experiência que o Dr. F…, que tudo comunicava ao Assistente, até por dever funcional, não lhe tivesse comunicado um requerimento de impedimento que tinha tomado conhecimento à hora de almoço, sonegando tal informação ao Presidente do CJ e guardando para si a respetiva existência até à hora da reunião, com as inerentes responsabilidades que daí lhe poderiam advir. 14) Uma vez alterada a decisão em sede de matéria de facto, a consequência será naturalmente concluir-se não se mostrar preenchida a causa de

justificação do facto prevista no nº 2 do art 180 C Penal, porquanto o arguido não provou nem se preocupou em provar a verdade dos factos que imputou ao assistente e nem sequer demonstrou que tinha fundamento sério para em boa-fé reputar verdadeira essa imputação (alínea b) desse normativo).

15) A relevância desses factos - ora impugnados - emerge claramente do teor da douta decisão recorrida, que os considerou essenciais para concluir pela verificação do condicionalismo previsto na alínea b) do art 180, n° 2 C Penal. 16) Aliás e da concatenação dos demais elementos de facto apreciados na decisão recorrida quando muito o arguido poderia convencer-se que o assistente tudo fez para vingar as suas convicções jurídicas e para levar avante a sua tese na disputa pessoal com o arguido; ou ainda, na pior das hipóteses para o assistente, poderia o arguido ter-se convencido que o

assistente não conseguira esconder as suas opções clubistas (ou de "homem do Norte" - estavam em causa dois clubes do norte), hipóteses não muito agradáveis mas aceitáveis, já que o grau de ofensividade, se existisse, era diminuto se comparado com a imputação da prática de um crime ou mais

concretamente com a imputação de uma atuação concertada e combinada com uma das partes, para alterar o sentido de voto.

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demais argumentos esgrimidos pelo tribunal "a quo", para encontrar explicação para justificar a convicção "séria" do arguido se encaixam perfeitamente em qualquer dessas hipóteses!

18) Sendo o arguido um reputado jurista e não ignorando que estava a atribuir a um dos seus pares, perante a opinião pública, a prática de um crime de

abuso de poder p e p pelo art 382 C Penal, exigia-se-lhe ponderação e rigor, que o obrigariam a sopesar todas a explicações teóricas possíveis e a abster-se de adiantar a hipótese que não passaria disso - que efeitos mais devastadores provocaria e provocou ao assistente

Sem prescindir

19) A norma do art 180 n.º 2 C Penal contém em si uma ponderação de interesses em conflito que obriga a que o facto deva ser divulgado do modo menos gravoso possível para o seu autor, e por outro, que não poderão

ocasionar-se, com a divulgação, efeitos devastadores para a pessoa atingida, quando comparados com o interesse a salvaguardar, devendo atentar-se aquando dessa ponderação de interesses - a analisar casuisticamente - na circunstância de, no caso de divulgação através da imprensa, estar em causa o conhecimento do facto por um universo ilimitado de pessoas, e, para além disso, a notícia difamatória ficar disponível para no futuro poder ser

recorrentemente utilizada.

20) Assim, a simples circunstância de o tema abordado pelo arguido ter um interesse alargado e atual, por estar em causa um episódio da vida desportiva e uma decisão de um órgão de jurisdição da G… - independentemente, desde logo, da qualidade e condições peculiares que envolvem a pessoa que o

divulga e do grau de ofensividade para o lesado - não bastará para que se possa considerar preenchido o condicionalismo previsto no art 180, nº 2 a) C Penal.

21) O arguido não é propriamente um jornalista que tivesse feito determinada investigação, ouvindo ambas as partes interessadas, mantendo equidistância em relação a elas e respeitando as leges artis da profissão;

22) Ao invés, o arguido é alguém que exerceu funções jurisdicionais num órgão da G… e que

• obrigado ao dever de reserva, todavia se pronuncia sobre um processo ainda pendente em que interviera,

• sobre um dos seus pares no respetivo órgão colegial, com quem estava de relações cortadas sendo que a causa do corte das relações se prendia

diretamente com os factos a que se reportou a parte (penalmente relevante) da entrevista e o arguido tinha sido o visado pela atuação do ora assistente que criticou nessa parte da entrevista.

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relação aos factos, o arguido era exatamente a pessoa menos autorizada a fazer esses comentários e essa imputação ao assistente!

24) Ao invés, em sede de impacto na opinião pública e de danosidade para o assistente, por se tratar de alguém que interveio na reunião como conselheiro, o arguido era a "pessoa ideal" para exponenciar a ofensa!

25) Por isso entre o eventual direito de informar e o dever de reserva imposto ao arguido enquanto conselheiro de um órgão jurisdicional, relativo a decisões tomadas no seio desse órgão, máxime de uma decisão que o atingira

pessoalmente e fora proferida por outro membro com quem se

incompatibilizara, exigia-se que desse prevalência a esse dever de reserva e se abstivesse de divulgar factos baseados apenas na sua convicção e que se

traduziam na imputação de um ilícito criminal a um dos seus pares

26) Assim, não se pode concluir que essa imputação seja legítima por ter à luz da citada alínea a) do n.º 2 do art. 180 C Penal

27) Não estando verificada a causa de justificação prevista no art. 180 n° 2 C Penal, impõe-se a condenação quer como autor do crime que lhe é imputado, quer enquanto demandado no pedido de indemnização cível

Termina pedindo a revogação da douta decisão recorrida e a sua substituição por outra que julgue provada e procedente a acusação condenando o arguido com autor do crime por que está acusado e julgando-se provado e procedente o pedido de indemnização civil formulado pelo assistente.»

*

O arguido B… respondeu, conforme fls. 1462 a 1489, rematando a sua resposta com as seguintes conclusões:

«1.Fixemo-nos nos pontos axiais das motivações de recurso apresentadas pelo assistente, que sinteticamente enunciaremos, com o fito de lhes responder de forma desenvolvida por forma a cimentar a acertada e fundamentada decisão do tribunal recorrido.

São eles:

• Inexistência da violação do principio une bis in idem";

• Impugnação dos pontos 68, 69, e 98 dos factos dados como provados;

• Preenchimento do disposto nos artigos 180/1 e 183/2 do CP e inexistência de cláusulas de exclusão da punibilidade;

INEXISTÊNCIA DE VIOLAÇÃO DO PRINCÍPIO NE BIS IN IDEM

2º. De acordo com o disposto no artigo 29/5 da CRP "ninguém pode ser julgado mais do que uma vez pela prática do mesmo crime"

3º. A análise da bondade da decisão do Tribunal a quo passará por esclarecer apenas e só, o que efectivamente se entende, à luz da Lei Fundamental, por "prática do mesmo crime",

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daquele princípio nos termos que se enunciaram no corpo da motivação e para a qual remetemos.

5º. Na realidade, o recorrente tenta de forma "encapuzada" dar uma ideia de que se estão a julgar factos diferentes quando, efectivamente, é o primeiro a esclarecer que a "afirmação é a mesma" (facto objecto de ambos os

processos), os sujeitos visados é que são diferentes.

6º. Num processo são uma pessoa colectiva noutro, uma pessoa singular. 7º. No primeiro caso, o bem jurídico protegido é o bom nome da pessoa colectiva no segundo, a honra e dignidade do visado.

8º. Com o devido respeito, a argumentação do recorrente deve improceder. Vejamos porquê,

9° A estipulação constitucional é clara, dela decorre, que ninguém poderá ser julgado duas vezes pelo mesmo facto.

10º. Voltando à argumentação do recorrente dir-se-á que:

Como o próprio admite, os factos imputados ao arguido são os mesmos, pelos quais aquele foi julgado e absolvido no âmbito do processo n.º

5131/09.9TOPRT, da 1a Secção do 2.º Juízo do Porto, absolvição confirmada pelo Tribunal da Relação do Porto, pelo acórdão de 20 de Junho de 2012, a saber: O que disse na entrevista dada ao Jornal "H…" em 13 de Novembro de 2008.

11º. A única diferença reside no facto de, no primeiro julgamento, a assistente ser uma pessoa colectiva e nos presentes ser uma pessoa individual.

12º. O recorrente com tal constatação está de acordo, mas entende que o facto dos assistentes e os bens jurídicos tutelados pelas normas

incriminadoras serem diferentes, permite concluir que não está preenchido o conceito de "prática do mesmo crime" constante da lei Fundamental.

13º. O recorrente está errado.

14º. Os factos são os mesmos e os bens jurídicos protegidos também, uma vez que: "O bom nome das entidades abstractas é o equivalente normativo da honra das pessoas físicas (algo de muito semelhante à honra" dizia Sousa e Brito, na Comissão de revisão do CP de 1989-1991, in Actas CP/ Figueiredo Dias, 1993:504."

15º. Aqui chegados, dúvidas não subsistem de que se está perante a mesma factualidade - o teor da entrevista- e os mesmos bem jurídicos protegidos-equivalência entre o bem jurídico protegido para pessoas colectivas e

singulares- existindo apenas diferença nos versados na entrevista dada pelo arguido e na qualificação jurídica que consequentemente tem de se operar, nada mais.

16º. Ora, conforme muito bem se pode ler na sentença recorrida, não é o facto de existirem ofendidos, lesados ou assistentes diferentes, assim como

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qualificações jurídicas diferentes que, in casu, se pode considerar que o artigo 29/5 da CRP não tem aplicação no caso concreto.

17º. Não se percebe a que corrente desactualizada o recorrente se refere quando o acórdão referido na motivação data de 2011.

18º. Mais, se a corrente defendida na sentença recorrida está ultrapassada, porque é que o recorrente nem sequer dá a conhecer doutrina e

jurisprudência "modernas" em sentido contrário?

19º. Por último, e em resposta aos vários exemplos que o recorrente aduz e aos quais pretende obter uma resposta, dir-se-á que o problema não está em que os mesmos factos sejam julgados num único julgamento, podendo a mesma factualidade operar ao preenchimento de vários tipos de crimes. 20º. O que não pode é existir outro procedimento criminal onde sejam julgados os mesmos factos existindo apenas um "acusador" diferente e uma qualificação jurídica diferente.

21º. Pelo exposto, não merece qualquer reparo a decisão do Tribunal ao julgar extinto o procedimento criminal por violação daquele princípio.

III-IMPUGNAÇÃO DOS FACTOS PROVADOS NOS PONTOS 68, 69 E 98

22º. Cotejando o teor da motivação, o recorrido constata que, efectivamente, o recorrente especifica os concretos pontos de facto que pretende impugnar no entanto, não dá cumprimento ao disposto no artigo 412/3/b e 4, todos do CPP, nem no corpo da motivação propriamente dita, nem nas conclusões.

Vejamos com detalhe:

23º. O recorrente começa por impugnar os pontos de facto indicados por referência ao depoimento do assistente sem indicar quando é que o mesmo prestou depoimento, a hora do início e do seu terminus, a indicação das

passagens concretas do seu depoimento que no seu entender impunham uma decisão diversa da recorrida, nem por referência aos minutos e segundos da passagem do depoimento ou pelo menos da transcrição das passagens que lhe interessavam.

24º. Limita-se a resumir o que foi dito pelo assistente, na parte que lhe interessa, sem respeitar o formalismo mínimo exigido. Acresce que,

25º. Na motivação do recorrente podemos ler: "Depoimento da testemunha Dr. F… (testemunha, inquirida a 01/06/2012, com início da gravação áudio às 17:00:17 e fim às 18:36:43, e no dia 22/06/2012, com início da gravação áudio às 10:18:46 e fim às 1:54:29."

O recorrente limita-se a indicar o dia, hora de início e terminus do depoimento da referida testemunha, não especificando as concretas passagens do

depoimento que, no seu entender impõem uma sentença diversa da recorrida. 26º. O mesmo sucedendo em relação à testemunha E….

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28º. No tocante aos depoimentos prestados na audiência, a referência aos suportes magnéticos só se cumpre com a indicação do número de "voltas" do contador em que se encontram as passagens dos depoimentos gravados que impõem diferente decisão, não bastando a indicação das rotações

correspondentes ao início e fim de cada depoimento (cfr. Acórdão do TRP, de 15/11/2006, in CJ, XXXI, 5, 204).

Acresce ainda que,

29º. Não tendo o recorrente dado cumprimento, nem no corpo da motivação nem nas suas conclusões, ao estatuído no artigo 412/3/b e n.º 4, todos do do CPP, equivale a não apresentar, sequer, motivação de recurso quanto a esta matéria.

30º. Em consequência, não se encontrando delimitada a impugnação da matéria de facto, na motivação do recurso, é manifesta a improcedência do recurso interposto, na parte em que se impugna a matéria de facto, sem que deva ser formulado convite à correcção, nos termos do artigo 417/3 do CPP, uma vez que este normativo apenas diz respeito às conclusões e não ao texto da motivação do recurso.

31º. A manifesta improcedência do recurso conduz à sua rejeição, nos termos dos artigos 414/2, 417/6/b e 420/1/b, todos do CPP.

32º. Nem se diga que o próprio Tribunal a quo não deu cumprimento ao estatuído no artigo 364/2 do CPP, e por isso o recorrente não podia cumprir com os requisitos do artigo 412/3/b e 4 do CPP, uma vez que, a ser assim, para cumprir com os requisitos daquele normativo o recorrente teria,

necessariamente, de proceder às transcrições dos depoimentos e não fazer um "apanhado" do que foi dito pelas testemunhas.

33º. Assim se decidiu no Acórdão do STJ n.º 3/2012:

"Pelo exposto, acorda -se no Pleno das Secções Criminais do Supremo Tribunal de Justiça em, na procedência do presente recurso extraordinário, revogar o acórdão recorrido e fixar jurisprudência nos seguintes termos: «Visando o recurso a impugnação da decisão sobre a matéria de facto, com reapreciação da prova gravada, basta, para efeitos do disposto no artigo 412.º, n.º 3, alínea b), do CPP, a referência às concretas passagens/excertos das declarações que, no entendimento do recorrente, imponham decisão diversa da assumida, desde que transcritas, na ausência de consignação na acta do início e termo das declarações».

34º. A omissão do formalismo ínsito naquele normativo, amputa por completo a possibilidade do Tribunal e do recorrido sindicarem a impugnação do

recorrente, por as passagens concretas dos depoimentos não se encontrarem indicadas ou transcritas e portanto, o Tribunal ad quem terá de, nesta parte, rejeitar o recurso por inexistir sequer motivação quanto a este ponto concreto

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do recurso.

35º. Caso assim não se entenda, sem conceder, sempre se dirá que o

recorrente não impugna efectivamente a matéria de facto, uma vez que se limita a fazer a "sua" própria apreciação da prova, esgrimindo as razões pelas quais a decisão deveria ser diversa da tomada.

36º. Não invoca os concretos meios de prova que impunham uma decisão diversa, mas sim uma decisão diferente com base, repete-se, na sua própria análise da prova produzida.

37º. No nosso ordenamento jurídico, e particularmente no processo penal, não existe prova tarifada (portanto, não há regras de valoração probatória que vinculem o julgador), pelo que, por regra, qualquer meio de prova deve ser analisado e valorado de acordo com o princípio da livre convicção do julgador. 38º. Por isso, o juiz é livre de relevar, ou não, elementos de prova que sejam submetidos à sua apreciação e valoração: pode dar crédito às declarações do arguido ou do ofendido/lesado em detrimento dos depoimentos (mesmo que em sentido contrário) de uma ou várias testemunhas; pode mesmo absolver um arguido que confessa, integralmente, os factos que consubstanciam o crime de que é acusado (v.g. por suspeitar da veracidade ou do carácter livre da confissão); pode desvalorizar os depoimentos de várias testemunhas e considerar decisivo na formação da sua convicção o depoimento de uma só. 39º. O que se impõe é que explique e fundamente a sua decisão, pois só assim é possível saber se fez a apreciação da prova segundo as regras do

entendimento correcto e normal, isto é, de harmonia com as regras comuns da lógica, da razão e da experiência acumulada. o modo de valoração das provas, e o juízo resultante dessa mesma valoração, efectuado pelo "tribunal a quo", ao não coincidir com a perspectiva do recorrente nos termos em que este as analisa, e consequências que daí derivam, não traduz qualquer erro de julgamento e não é sindicável pelo Tribunal ad quem.

40º. A matéria que o recorrente pretende impugnar diz respeito a uma, de um conjunto de razões, invocadas pelo arguido e valoradas pelo Tribunal para considerar a verificação de um fundamento sério para, em boa fé, reputar de verdadeiras as afirmações constantes do teor da entrevista objecto da

participação criminal apresentada pelo assistente.

41º. Em relação à fundamentação do Tribunal a quo para considerar aquela razão facilmente se percebe que a apreciação foi feita à luz do princípio da imediação, da livre apreciação da prova, das regras da experiência e do princípio in dubio pro reo.

42º. Em suma, o Tribunal a quo de forma fundamentada e com respeito dos princípios referidos entendeu não conferir credibilidade às declarações do assistente que efectivamente não foram corroboradas pela testemunha F….

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Mas não só,

O tribunal recorrido teve ainda o cuidado de deixar claro que: "é certo que, depois, inexplicavelmente, e em aparente contradição com tudo quanto vem de narrar-se, questionado novamente em outra sessão de julgamento, muito embora mantivesse a ideia inicial (de que só falou com o assistente a despeito do requerimento do D1… 15 minutos antes da reunião), admitiu que pudesse ter contactado telefonicamente com o assistente antes da reunião dando-lhe conta do incidente do D1… (!!!)-embora não tivesse presente. Ora, sem embargo desta inexplicável falta de assertividade e segurança - a luz de quanto havia dito (e lembremos que a testemunha em causa vai mesmo ao ponto de narrar e reproduzir diálogos tidos com o assistente que claramente indiciam que este que este apenas teve conhecimento do incidente do D1… à boca da reunião) - a verdade é que, por tudo quanto disse a despeito da questão - tudo milita no sentido de que apenas tenha comunicado ao

assistente a existência do requerimento do D… São imediatamente antes da reunião. De resto, tratando-se de um facto conexo com uma causa de

justificação, a verdade é que, o princípio in dubio pro reo sempre imporia dar-se como provado que o assistente apenas teve conhecimento do requerimento do D1… cerca de 15 minutos antes da reunião. É que, o princípio in dubio pro reo, funciona no duplo sentido, impondo que, em caso de dúvida, se dê como não provado um facto que desfavorece o arguido, assim como, na dúvida,

impõe que se se dê como provado um facto que favoreça o arguido - mormente no que concerne à causa de exclusão da ilicitude."

43º. Concluindo, nunca é demais dizê-lo, o Tribunal a quo fez uma apreciação crítica da prova ao abrigo dos princípios elencados e fundamentou o iter lógico que o levou a concluir pela fixação da matéria de facto provada. 44º. A pretensão do recorrente em ver uma apreciação diversa, à luz da sua própria interpretação da prova, que de forma alguma é reveladora da

existência de imposição de uma solução diversa não é, como desenvolvemos, sindicável pelo Tribunal ad quem.

45º.

PREENCHIMENTO DO DISPOSTO NOS ARTIGOS 180/1 E 183/2 DO CP E INEXISTÊNCIA DE CLÁUSULA DE EXCLUSÃO DE PUNIBILIDADE

46º. Ainda que assim não se entendesse, sempre se dirá que os factos impugnados respeitam apenas a uma de dezoito razões invocadas pelo arguido, aceites pelo tribunal e não impugnadas pelo recorrente, que

traduzem a razão pela qual o arguido produziu determinadas afirmações, de boa fé, convencido que as mesmas eram verdadeiras.

47º. Faz-se um reparo à afirmação do recorrente que afirma que os factos impugnados são a razão essencial para a verificação da causa de exclusão

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quando na realidade representam apenas, repete-se, uma das dezoito razões que levaram o arguido a concluir, de boa fé, que as afirmações que faziam eram verdadeiras.

48º. É tudo quanto basta para o preenchimento da clausula de exclusão da ilicitude.

49º. O arguido não tinha de provar a sua veracidade como o recorrente gostaria.

50º. Apenas tem de demonstrar que a imputação foi feita para realizar interessas legítimos e que, in casu, face a determinadas circunstâncias concluiu que a mesma era verdadeiras, assim como qualquer outro cidadão assim teria concluido. (cfr. artigo 180/2/a/b e 4 todos do CP)

51º. Quanto à verificação da existência de matéria de facto provada que permita, sem dúvidas, concluir pela verificação de tal causa de exclusão, o Tribunal recorrido fundamento de uma forma tão profunda e irrepreensível que dificilmente o recorrido poderá acrescentar alguma mais- valia à

fundamentação esgrimida.

52º. A verificação da prossecução de interesses legítimos é fundamentada da forma que se sintetiza:

53º. O teor da entrevista dada pelo arguido diz respeito à forma de

funcionamento do orgão máximo da justiça desportiva em Portugal, que faz parte da G… que, por sua vez, prossegue interesses públicos em Portugal com repercussão nos organismos europeus como a UEFA, e de alegadas

motivações extra decisão.

54º. A reunião daquele órgão em Julho de 2009, na qual se decidiam a

suspensão do Presidente do D… por 2 anos e a descida do I… da .ª Divisão de Futebol, teve contornos, no mínimo, "estranhos", e com consequências que ainda hoje estão por apurar relativamente ao que nelas foi decidido. (Cfr-decisões do Tribunal Administrativo de Círculo de Lisboa)

55º. O assunto foi amplamente divulgado na comunicação social por outras individualidades e jornais sem que o assistente, alguma vez se tivesse contra elas insurgido.

56º. O jornal "H…" procurou o arguido e não o contrário e destacou na sua primeira página excertos do teor da entrevista que entendeu.

57º. O arguido limitou-se a responder às questões que lhe foram colocadas usando do seu direito de liberdade de expressão consagrado no artigo 37/1 da CRP.

58º. Não merece pois qualquer reparo aquela fundamentação uma vez que efectivamente o arguido actuou prosseguindo interesses legítimos.

59º. Em relação ao requisito cumulativo da prova da boa fé do agente para reputar o facto como verdadeiro cumpre apenas aderir à vasta fundamentação

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da sentença recorrida que enumera nada mais nada menos do que 18

circunstâncias de facto que levaram o arguido a reputar como verdadeiras as afirmações feitas em resposta às questões colocadas pelo Jornal "H…".

60º. Afirmamos sem peias que qualquer cidadão colocado nas vestes do arguido teria naturalmente chegado às mesmas conclusões.

61º. Circunstância que naturalmente permite que se verifique a causa de exclusão de ilicitude ínsita no artigo 180/2/b do CP tendo portanto andado bem o Tribunal a quo ao absolver o arguido do crime pelo qual vinha acusado bem como em consequência absolvê-lo do pedido de indemnização civil.

Termina pedindo a improcedência do recurso e a manutenção na íntegra da decisão recorrida.»

*

Também o MP ofereceu resposta ao recurso do assistente, pugnando pelo provimento da primeira questão colocada e pela negação de provimento às restantes.

*

O recurso foi admitido para este Tribunal da Relação do Porto, por despacho constante de fls. 330 dos autos.

Nesta Relação, o Exmº PGA emitiu parecer no sentido de que o recurso merece provimento quanto a não se verificar a excepção de caso julgado relativamente ao crime aqui apreciado e ao que foi julgado no outro processo a que se refere a sentença, já que os bens protegidos nuns e noutros são diferentes. No mais deve improceder o recurso.

Foi cumprido o artigo 417º, n.º 2, do Código de Processo Penal. Colhidos os vistos, cumpre apreciar e decidir.

*

II- Fundamentação.

Como é jurisprudência assente, sem prejuízo das questões de conhecimento oficioso, é pelas conclusões que o recorrente extrai da motivação apresentada, em que sintetiza as razões do pedido - artigo 412.º, n.º 1, do CPP -, que se delimita o objecto do recurso e os poderes de cognição do Tribunal Superior. 1.- Questões a decidir.

Face às conclusões extraídas pelos recorrentes da motivação apresentada, são as seguintes as questões a apreciar e decidir:

- Averiguar se é operante a excepção de caso julgado.

- Impugnação dos pontos 68, 69, e 98 dos factos dados como provados. - Inexistência da cláusula de justificação do facto contida no n.º2, do artigo 180º, do CP.

(14)

2. Factualidade.

Segue-se a enumeração dos factos provados, não provados e respectiva motivação, consoante constam da sentença da primeira instância.

«Da prova produzida, resultaram os seguintes A) Factos Provados

Da acusação particular de fls.213 e seg. – II Vol (depurada a matéria de carácter conclusivo):

1) Na sequência de uma entrevista concedida pelo arguido ao Jornal “H…”, aos 13 de Novembro de 2008, este jornal publicou a referida entrevista, sendo-lhe atribuído um destaque de primeira página onde por baixo da sua foto se pode ler: “Presidente do CJ quis alterar a votação por estratégia combinada com I… e D…” – B…, antigo conselheiro – p.14 e 15. – conforme resulta do teor da respectiva edição do jornal “H…” – edição esta patenteada no apenso 1 – e cujo o teor o tribunal dá como integralmente reproduzido. 2) Naquela entrevista o arguido apresenta a sua versão do ocorrido na

reunião de 4 de Julho de 2008 do Conselho de Justiça da G…, de que era então Presidente o assistente, reunião essa onde se iriam discutir, entre outros, os processos relacionados com o muito falado “Apito Final”, que ocupou páginas e páginas de toda a imprensa nacional escrita, bem como inúmeras horas de programas e noticiários de todas as televisões e rádios nacionais.

3) Destacada que estava a notícia na primeira página daquele jornal, podemos ler mais à frente (págs. 14 e 15) completa entrevista dada pelo arguido,

através da qual, são contados, na versão daquele ex-conselheiro “…os pormenores da polémica reunião…”.

4) Em jeito de título e com grande destaque o leitor é imediatamente

confrontado com a afirmação de que “C… quis alterar votação por estratégia de D… e I…”.

5) Questionado como recorda a tarde de 4 de Julho de 2008, o arguido afirma: “… C… quis declarar a minha suspeição nos processos alegando

incompatibilidade de funções…De imediato apresentei recurso para o plenário ali reunido…O Presidente recusou os pedidos… Acto Contínuo o presidente ditou para a acta a decisão de terminar a reunião, levantou-se e saiu”.

6) Perante aquela resposta é-lhe formulada a seguinte questão: “por que razão acha que o então presidente agiu assim?” ao que o arguido respondeu “C… estava a agir não apenas por ele” e continua “Foi estratégia combinada com o I… e D… com o propósito de alterar o sentido de voto dos acórdãos sobre os recursos da Comissão Disciplinar (CD) da Liga em declarar a despromoção do I… e punir J… por tentativa de corrupção…”.

7) O arguido mais afirmou perante os leitores e cidadãos que tiveram conhecimento desta entrevista, que: “ficou evidente a manobra de C… …”.

(15)

8) Foi dado amplo destaque a referida entrevista, com nota de capa e duas páginas completas – onde foram traçados juízos de valor e tiradas conclusões sobre a actuação do assistente.

9) Ao dar a referida entrevista, o arguido sabia que a mesma era susceptível de criar na opinião pública a ideia que o assistente actuava em prol de

interesses particulares e manobrado pelos dois Clubes ali referenciados. 10) O arguido, através de um órgão de comunicação social, no caso um jornal desportivo com elevada tiragem, teceu comentários e formulou afirmações que em muito afectaram a honra e consideração do assistente.

11) Conforme consta dos autos (cf. fls.62) a edição de 13/11/2008 do Jornal “H…” teve uma tiragem de 101.015 exemplares (sendo que a percentagem média de sobras nesse mês foi de 36%), tendo a entrevista aqui em causa tido grande projecção no grande público, como, aliás, seria de esperar.

12) O arguido sabia que, ao dar a referida entrevista, estaria a transmitir à opinião pública que ele, ao contrário do assistente, sempre agiu de forma imparcial e rigorosa.

13) Quando concedeu a entrevista o arguido bem sabia que a sua conduta era idónea a atingir, como atingiu, o bom-nome, a honra e a reputação do

assistente.

14) O arguido, com aquele entrevista, sabia que a mesma era idónea a pôr em causa a idoneidade e honestidade do assistente.

15) Denegrindo-o em termo públicos, afirmando ter o mesmo exercido duma forma parcial e indigna as funções em que este estava investido.

16) Passando para a opinião pública a imagem do assistente como uma pessoa desonesta, que age em função de interesses, não olhando a meios para atingir fins.

17) O arguido agiu de forma deliberada, livre, voluntária e conscientemente, sabendo que, dessa forma, ofendia a honra e consideração do assistente. Do pedido de Indemnização Cível de fls.217 e seg. (II Vol):

18) O assistente goza da consideração social de sempre ter pautado a sua vida pessoal e profissional por critérios de idoneidade moral, honestidade,

lealdade, competência e trabalho.

19) E assim é estimado e apreciado no meio social e profissional em que se insere.

20) Ao conceder a entrevista em causa, o demandado sabia que criava a ideia, e conseguiu, que o demandante exercia as suas funções no Conselho de

Justiça da G… de forma parcial, com o intuito de favorecer terceiros. 21) O demandante nunca tinha sido difamado da forma como o fez o

demandado, tendo toda esta actuação sido profundamente agravada pelo facto de o demandado ter usado um meio de comunicação para alegar factos acerca

(16)

do demandante.

22) Os factos supra descritos protagonizados pelo demandado foram objecto de comentário não apenas junto das pessoas mais próximas do demandante, mas por todo o país, atento o elevadíssimo destaque que era dado àquele chamado processo “Apito Final”.

23) O que muito desgostou o demandante por, dessa forma, se ver

confrontado com tais afirmações, que retiravam todo o profissionalismo,

empenho e sensatez com que sempre trabalhou enquanto Presidente do CJ da G….

24) Acresce o facto de o demandante ser uma figura pública, quer como

interveniente político, a nível autárquico e nacional, quer como Advogado com um nome e uma prática profissional tida como acima de qualquer suspeita, quer ainda, como responsável, há muitos anos, no dirigismo desportivo. 25) A descrita actuação do aqui demandado contribuiu para uma campanha na comunicação social que em muito denegriu a imagem do demandante, já que o mesmo foi, manifestamente, enxovalhado na “praça pública”.

26) As afirmações de parcialidade no exercício das suas funções de Presidente do Conselho de Justiça da G… muito o afectaram na sua honra e consideração, atingindo o seu bom nome, com perniciosos reflexos na sua vida pessoal,

familiar, social, profissional e política.

27) O assistente é Advogado há mais de 25 anos, granjeando a reputação de exercer a sua profissão com brio, profissionalismo e prática acima de qualquer suspeita, sendo também figura pública enquanto interveniente político e

dirigente desportivo, tendo sido, além do mais, o Candidato pelo K… à

Presidência da Câmara … nas eleições autárquicas de 2005, ali tendo exercido funções de Vereador durante quatro anos.

28) Isto, entre muitos outros cargos que exerceu ao longo dos anos, sempre tidos como sendo exercidos com dignidade e sentido de responsabilidade, sendo considerado pessoa de bem, séria e honesta, e respeitado por todos aqueles que lhe são próximos.

29) As acusações do demandado de que o assistente, enquanto Presidente do CJ da G…, actuou de forma parcial pretendendo favorecer os clubes já

referenciados (D… e I…), e com eles conluiado, denegriu a imagem do Assistente perante a opinião pública, sendo atentatório do seu bom nome e reputação.

30) O demandante com a actuação acima descrita do demandado, sofreu grande angústia ao longo de todo este tempo.

31) Sentindo-se enxovalhado publicamente e denegrido na sua imagem de homem sério e honesto, o que tudo lhe causou um grande desgosto, sendo fonte de um permanente nervosismo e até depressão.

(17)

Da contestação de fls.273 e seg.(II Vol.):

32) Não são da autoria nem da responsabilidade do arguido, quer o relevo dado pelo jornal às suas declarações, quer a escolha dos extractos que foram destacados, a colocação nas páginas do jornal e o destaque conferido,

mormente através das escolhas de títulos e subtítulos.

33) Foi o jornal H… quem estruturou a entrevista do ponto de vista gráfico e quem escolheu os títulos e os subtítulos, na forma que entendeu mais

adequada.

34) Na entrevista ajuizada, as referências feitas ao sucedido na reunião do Conselho de Justiça de 4 de Julho de 2008, surgiram por insistência do jornalista e não por iniciativa do arguido.

35) O arguido não agiu motivado pela necessidade de protagonismo, nem pela intenção de ofender o assistente.

36) As incidências e vicissitudes ocorridas na reunião do Conselho de Justiça de 04 de Julho de 2008, já tinham sido abundantemente tratadas em vários meios de comunicação social.

37) O próprio arguido já manifestara a sua opinião sobre o sucedido, em termos semelhantes às opiniões que veiculou na entrevista referida em 1). 38) O arguido continua absolutamente convencido da veracidade das suas afirmações.

39) A reunião do Conselho de Justiça (CJ) da G…, ocorrida em 04/07/2010 (lapso, manifesto, pois a reunião é de 04.07.2008), e amplamente referenciada nos meios de comunicação social, tinha como um dos objectivos, o deliberar sobre recursos interpostos pelo I1… e pelo presidente do D…, o sr. J….

40) Em relação ao I… estava em causa a descida de divisão, enquanto que em relação ao presidente do D…, estava em causa uma eventual suspensão pelo prazo de dois

anos.-41) Pela forma como a reunião decorreu, ficou criada a convicção no arguido (entre outros), que o comportamento do Presidente do Conselho de Justiçam assentava, precisamente, naquilo que o arguido designou como uma estratégia posta ao serviço do D… e do I…, visando influenciar o sentido de voto no

Conselho de Justiça.

42) Disto mesmo se fez eco na comunicação social, mormente no dia 6 de Julho de 2008, no jornal “H…”, numa peça assinada por L…, intitulada “…”, onde pode ler-se: “Como iriam decidir os sete membros do Conselho de Justiça da G… quanto aos recursos do I… e de J… na reunião passada de sexta-feira? Feitas as contas, e atendendo às posições, em contactos informais, com os vários Conselheiros que foram sendo afloradas, a votação daria 0 5-2 ou 4-3, contra as pretensões de … e …. Aí, foi criado, pelos defensores do I… e do D… um plano de contingência, a ser espoletado pelo presidente do CJ C… e que

(18)

passava pelo pedido de afastamento do Conselheiro B…, através de um incidente de suspeição, a propósito de uma alegada incompatibilidade deste…”.

43) O assistente não reagiu judicialmente à publicação do texto referido em 42).

44) O arguido é dirigente desportivo no âmbito do futebol desde a década de 80.

45) Teve intervenção activa na elaboração dos estatutos da G… e em várias alterações regulamentares.

46) É regularmente convidado a pronunciar-se nos meios de comunicação social sobre matérias de legislação, regulamentação e direito desportivo. 47) O arguido não teve a específica intenção de ofender o assistente. Mais se provou que:

48) Para consubstanciar o fundamento sério para, em boa fé, reputar de verdadeiras as imputações patenteadas na entrevista ajuizada, o arguido B…, em sede de audiência de julgamento, invocou um conjunto de razões, a saber: 49) Como enquadramento geral, alude a uma prática habitual dos

representantes da M..., nos órgãos jurisdicionais da G…, como meras correias de transmissão dos interesses dos respectivos clubes (dando acerca de tal aspecto exemplos).

50) O fundamento de impedimento no qual assenta a decisão proferida pelo então Presidente do CJ da G… (o ora assistente) para o considerar impedido na votação dos processos ligados ao chamado “apito final” (cf. decisão de fls.533 e seg.) (i.é., – a sua integração na lista de peritos inerente ao

Regulamento do Estatuto de Inscrição e transferência de jogadores) já era conhecido da maioria dos membros do CJ da G…, incluindo o assistente, desde pelo menos Maio de 2008, na sequência do caso N…, notando que, nessa

altura, reunião informal (jantar), todos os membros aí presentes, incluindo o assistente, concordaram que tal circunstância não configurava impedimento/ incompatibilidade com o exercício de quaisquer cargos ao nível dos órgãos da G…, mormente jurisdicionais (e especificamente no CJ).

51) A existência de outros casos com similitude ao seu, mormente o facto de presidentes de associações de futebol, e de vogais do conselho de disciplina na G…, cumularem tais funções com as de perito na sobredita lista, sem que

ninguém colocasse em causa a compatibilidade de funções (criticando, pois, e em síntese conclusiva, o acerto da decisão que o considerou impedido com base no fundamento invocado).

52) Dando conta de uma reunião ocorrida em 16 de Junho de 2008 (na G…), entre os membros do CJ para se discutir a posição dos membros relativamente à possibilidade de utilização das escutas obtidas em processo penal em

(19)

processo disciplinar desportivo, no âmbito da qual o assistente invocou dois pareceres (dos professores G.M.Silva e Costa Andrade – negando tal

possibilidade), observando ter então relatado não estar seguro da correcção dos mesmos, por se basearem na redacção do CPP emergente da reforma de 2007, e não aquela que considerava aplicável, a anterior, salienta que, na sequência, o assistente, de imediato começou a ligar ao dr. O… (também vogal do CJ) e a ele próprio tentando convencê-los da bondade da sua posição.

53) A circunstância de os processos de que era relator tendo estado em tabela desde 25 de Junho, o assistente, sem dar justificação, decide, de motu proprio, retirá-los da tabela – na medida em que tinha havido uma decisão não

transitada de um Juiz de Instrução Criminal do TIC do Porto, no “caso da fruta”, de não pronúncia – cujo sentido e orientação o assistente insistia para que fosse observado pelo arguido.

54) O facto de o assistente se ter referido ao seu trabalho/estudo/parecer sobre a susceptibilidade utilização das escutas (no âmbito do qual defendeu a sua utilização) como imérito “parecer”.

55) (estranhamente, sem conteúdo)

56) - Aludindo a uma notícia publicada no P… no dia 3 de Julho de 2008, no âmbito da qual, além de aí se verter transcrições da sua minuta de acórdão (alusiva a um dos processo do “apito final” envolvendo o sr. J…), se relata a posição de cada um dos membros do CJ, incluindo a posição do dr. Q… (cuja posição apenas era conhecida do assistente e do Dr. S… – sendo que

confrontado este pelo arguido com o teor da notícia, segundo o próprio mostrou genuíno espanto), concluindo, portanto, ser o assistente a fonte da notícia.

a. - Notícia esta que, nota, curiosamente, viria a ser usada no incidente do D1… – como um dos fundamentos da suspeição.

57) O facto de, de uma assentada, três entidades diferentes (I1…; D1… e J…), todos na véspera da reunião do dia 4 de Julho, tivessem suscitado a questão (impedimento/suspeição).

58) A pressão de que foi alvo o Dr. T… (vogal do conselho), no próprio dia da reunião, por parte do assistente, ao almoço, no sentido de votar de acordo com a sua posição, em deliberações prévias às dos processos relativos ao “apito final”, mas que envolviam igualmente a possibilidade de valoração das escutas – na acepção do arguido para criar o constrangimento do precedente.

59) - Salienta a proximidade temporal dos incidentes interpostos pelo I1… e pelo sr. J… e pelo D1… (todos entrados na véspera da reunião do dia 4 de Julho de 2008);

60) A similitude dos argumentos (todos invocando como fundamento de impedimento o facto de pertencer à referida lista de peritos – a que o D1…

(20)

acrescentava o teor da referida notícia).

61) O facto de nem sequer ter sido formalmente ouvido no que toca à bondade dos incidentes (tendo-se limitado a, por e-mail, comentar o incidente deduzido pelo I… – e aí fazendo referência que iria pronunciar-se mais à frente).

62) O facto de o assistente ter conhecido dos incidentes do I… quando estes nem sequer estavam subscritos por Advogado (o que era obrigatório à luz do regimento da CJ).

63) - O facto de entender “descabelada” a aplicação do Código de

Procedimento Administrativo aos incidentes - (explicando detalhadamente do porquê do seu entendimento).

64) - Com o intuito de, entre o mais, concluiu, não permitir recurso das decisões que o assistente proferira.

65) - O facto de considerar que, sendo matéria de incompatibilidade, a competência para a decisão caber ao Presidente da Assembleia-geral, com recurso para a assembleia (e nunca para o CJ) – observando existir

incompetência material.

66) E o conexo facto de, tratando-se de incompatibilidade: teria a mesma que se revelar em todos os processos, e não meramente nos do “apito final” – e de mesmo assim ter intervindo em votações anteriores, nessa mesma reunião, sem que a questão tivesse sido suscitada pelo assistente.

67) - O facto de os incidentes deduzidos pelo Sr. J… apenas terem sido enviados aos membros do CJ por e-mail, pelas 11 horas, do próprio dia da reunião de 4.07.2008, não permitindo que o assistente se pronunciasse em tempo útil, considerando que a reunião se iniciava às 15 horas, e o assistente ainda tinha que fazer a viagem do Porto para Lisboa.

68) - O facto de nem sequer ter sido notificado aos membros do conselho o incidente deduzido pelo D1…, e, apesar disso, o assistente fazer referência ao mesmo na sua decisão, observando que, através dos serviços da G…, o

assistente apenas tomou conhecimento do incidente já na sede da G…, à boca da reunião (Concluindo, então, que o assistente teve conhecimento do falado requerimento por outra via, que não através dos serviços da G…).

69) - E, na medida em que, oficialmente, apenas foi informado pelos serviços da G… à boca da reunião de 4 de Julho de 2008, teria pedido um computador já na G… para apagar, à pressa, do título e do dispositivo da decisão a

referência ao D1…, deixando inadvertidamente a menção ao D1… no relatório da decisão que o considerou impedido.

70) O facto de o assistente ter decidido no que tange a processos relativamente aos quais havia sido deduzido pelo U… um incidente de suspeição que o visava;

(21)

72) - Alude ainda à circunstância de ser falso ter existido qualquer tumulto ou situação que justificasse dar por encerrada a reunião do conselho por banda do assistente – tendo, isso sim, havido uma conversa/discussão curial, em torno das questões suscitadas, sem embargo do teor do requerimento ditado pelo Dr. V… (segundo qual ditado na maior das calmas).

73) Admitindo apenas uma imprecação da sua parte dirigida ao assistente (“vai pró raio que te parta”), já após a comunicação do encerramento da reunião.

74) Aludindo a um plano B – no sentido de encerrar a reunião por tumulto (o que poderia favorecer o I… fruto da homologação automática dos

campeonatos) – mencionou que o assistente tirou um papel da sua pasta que passou a ler – para dar por encerrada a reunião.

75) Concluindo, pois, pela falta de fundamento para o encerramento da reunião e a pré-intenção de a encerrar naquelas circunstâncias.

76) A ordem de serviço dada pelo assistente aos funcionários da G… – no sentido de proibir que secretariassem os membros do CJ que ali ficaram após ter dado por encerrada a reunião.

77) Refere ainda as ligações próximas do assistente ao I… (afirmando que o mesmo foi aí dirigente), ao D…, e a proximidade aos dirigentes do clube, aludindo, v.g., a que o mesmo, antes e depois dos jogos, vai fumar charutos para o camarote VIP do D….

78) O facto de ser adepto ferrenho do D….

79) A circunstância de não ter dado oportunidade aos restantes membros do CJ de se pronunciarem sobre o mérito e o procedimento a adoptar

relativamente aos vários incidentes; trazendo consigo logo as decisões.

80) Tudo no sentido de, concluiu, afastando-o dos processos, adivinhando-se nessa circunstância um empate dos membros do CJ (em função das posições assumidas até à reunião, mormente o veiculado numa reunião de 16 de Junho) – pelo menos relativamente aos processos em que assentavam basicamente em escutas – o voto de qualidade do assistente, enquanto presidente, permitir o vencimento da tese que defendia.

Mais de provou que:

81) O arguido denotou estar genuína e plenamente convicto relativamente à bondade/veracidade do referido de 48) a 79).

82) Mais se provou que:

83) O fundamento de impedimento no qual assenta a decisão proferida pelo então Presidente do CJ da G… (o ora assistente) - decisão essa que se mostra patenteada nos autos a fls.533 a fls.538, e cujo teor se dá como reproduzido -para o considerar impedido na votação dos processos ligados ao chamado “apito final” (i.é., – a sua integração na lista de peritos inerente ao

(22)

Regulamento do Estatuto de Inscrição e transferência de jogadores) já era conhecido da maioria dos membros do CJ da G…, incluindo o assistente, desde pelo menos Maio de 2008, sendo que, nessa altura, em reunião informal

(jantar ou almoço), todos os membros aí presentes, incluindo o assistente, concordaram que tal circunstância não configurava impedimento/

incompatibilidade com o exercício de quaisquer cargos ao nível dos órgãos da G…, mormente jurisdicionais (e especificamente no CJ).

84) Houve (e há) Presidentes de associações de futebol e de vogais do

conselho de disciplina na G…, que cumularam tais funções com as de perito na sobredita lista, sem que ninguém colocasse em causa a compatibilidade de funções.

85) No dia 3 de Julho de 2008, deram entrada na G… três requerimentos

dirigidos ao Presidente do CJ e respeitantes ao impedimento e/ou suspeição do então vogal do CJ dr. B…, com invocação expressa dos preceitos aplicáveis do Código do Procedimento Administrativo e também do Código de Processo Civil.

86) Tais requerimentos foram apresentados pelo I1…, na qualidade de recorrente, nos seguintes processos:

a. Recurso n.º36/CJ/-07/08, expedido por telecópia às 11.53 h (do dia 3 de Julho), que apresenta o seguinte carimbo de entrada na secretaria da G…: 292/08-09/G…, 03-07-2008 – 13:58:30;

b. Recurso n.º37-38/CJ/-07/08, expedido por telecópia às 11.55 h (do dia 3 de Julho), que apresenta o seguinte carimbo de entrada na secretaria da G…: 293/08-09/G…, 03-07-2008 – 14:12:01;

c. Recurso n.º39-40/CJ/-07/08, expedido por telecópia às 12.01 h (do dia 3 de Julho), que apresenta o seguinte carimbo de entrada na secretaria da G…: 295/08-09/G…, 03-07-2008 – 14:14:12 (e que se mostram patenteados nos autos a fls.1163 e seg., (VI Vol.), e cujo teor se dá por integralmente

reproduzido).

87) Os três requerimentos foram imediatamente comunicados, por via de correio electrónico, às 14:49, a todos os membros do CJ (cf. fls.1162 – VI Volume).

88) Igualmente por via de correio electrónico, o vogal dr. B…, comunicou aos demais membros do CJ as razões pelas quais discordava dos fundamentos invocados contra a sua imparcialidade.

89) No dia 3 de Julho de 2008, foram igualmente recebidos na G…, via telecópia, dois requerimentos de impedimento e/ou suspeição, apresentados pelo Sr. J…, na sua qualidade de recorrente dos recursos n.ºs 41-43 e 44-45, dirigidos ao presidente do CJ, visando o arguido – com invocação dos preceitos referidos em 86) – cf. fls.1176 e seg. (VI Vol.), e cujo teor se dá por

(23)

integralmente reproduzido.

90) Estes dois requerimentos foram remetidos sob o mesmo capeamento – uma única folha de fax – expedido no dia 3 de Julho de 2008, às 20.59 h, razão pela qual foram inicialmente registados com o mesmo número de entrada no programa informático da secretaria da G… e a mesma hora: 10:06.

91) Depois de verificada a autonomia dos requerimentos, o referente ao processo n.º44-45 foi remetido à secretaria para averbamento autónomo, sendo registada como hora de entrada as 11:09 h do dia 4 de Julho).

92) Ambos os requerimentos foram remetidos, por via de correio electrónico, a todos os membros do CJ, às 11.12 do dia 4 de Julho de 2008. (cf. fls.1175 – VI Vol.).

93) No entanto o Presidente do CJ havia sido previamente notificado por fax, pelas 10:30 h, do respectivo teor.

94) Ainda no mesmo dia 3 de Julho de 2008, foi também recebido na

secretaria da G…, por fax, remetido às 22:13 (do dia 3.07) um requerimento de impedimento e/ou suspeição, apresentado pelo D1…, invocando a sua qualidade de “interveniente” nos processos de recurso nºs 41-43, visando o arguido – patenteado nos autos a fls.688 e seg. (IV Vol.), e cujo teor se dá por integralmente reproduzido.

95) Pelos serviços da G… foi aposto carimbo, entre outras, com as seguintes menções: 04-07-2008 10:09:55 (cf. fls.688).

96) Por “lapso” dos serviços da G…, o gabinete de apoio ao CJ da G…, apenas viria a detectar a existência de tal requerimento pelas 12 horas do dia 4 de Julho de 2008.

97) Tal requerimento não notificado aos membros do CJ.

98) Os serviços da F… apenas derem conhecimento da existência do requerimento do D1… a todos os membros do CJ, incluindo os vogais, presidente e vice-presidente, imediatamente antes da reunião do CJ de

4/07/2008, agendada para as 15 horas, cerca de 15 minutos antes da reunião, assim que os membros foram chegando à sede da G….

99) No próprio dia 4 de Julho de 2008, às 00.07, o U… fez dar entrada na G…, por via de correio electrónico, e endereçados aos membros do CJ, três

requerimentos de impedimento e/ou suspeição, dirigidos contra o presidente do CJ, o dr. C…, com referências aos proc.s n.º36, 37-38 e 39-40 – patenteados nos autos a fls.864 e seg., e cujo teor se dá como reproduzido.

100) Houve uma reunião ocorrida em 16 de Junho de 2008, (na G…), entre os membros do CJ, para se discutir a posição dos membros relativamente à

possibilidade de utilização das escutas obtidas em processo penal em processo disciplinar desportivo, no âmbito da qual o assistente invocou dois pareceres (dos professores G.M.Silva e Costa Andrade – negando tal possibilidade).

(24)

101) Nessa reunião, o arguido observou não estar seguro da correcção

daqueles pareres, por se basearem na redacção do CPP emergente da reforma de 2007, e não aquela que considerava aplicável, a anterior.

102) Na sequência, o assistente, após a reunião, ligou ao dr. O… (também vogal do CJ), dando conta do objecto da reunião e do sentido das posições aí veiculadas, observando que o seu voto decidiria a questão.

103) Por motivos não concretamente apurados, a discussão e votação dos processos do chamado “apito final” foi sucessivamente adiada.

104) O assistente referiu-se ao trabalho/estudo/parecer do arguido sobre a susceptibilidade utilização das escutas (no âmbito do qual defendeu a sua utilização), como sendo imérito ”parecer”.

105) O arguido não foi formalmente ouvido no que toca à bondade dos incidentes deduzidos pelo I…; D… e pelo sr. J… (tendo-se limitado a, por e-mail, comentar o incidente deduzido pelo I…).

106) O assistente conheceu dos incidentes do I…, não se apresentando estes subscritos por Advogado (o que era obrigatório à luz do regimento da CJ). 107) Na reunião do dia 4/07/2008, o arguido interveio na votação de pelo menos um processo, antes da notificação da decisão de fls.533 e seg.. 108) No âmbito da decisão de fls.533 e seg., o assistente faz referência ao incidente deduzido pelo D1….

109) No dia 4 de Julho de 2008, o assistente, já na sede da G…, pediu para utilizar um computador.

110) O assistente não promoveu o agendamento, discussão e votação dos incidentes deduzidos pelo U….

111) Incidentes relativamente aos quais nem sequer se pronunciou.

112) A reunião do dia 4/07/2008, não assumiu contornos tumultuosos, não tendo havido discussões, gritos, injúrias e imprecações (registando-se apenas o facto de o arguido, a dado momento da reunião, dirigindo-se ao assistente, lhe ter dito:”vai pró raio que te parta”.

113) Aquando da prolação do despacho de encerramento da reunião do CJ de 4/07/2008, - exarado na respectiva acta – patenteada nos autos a fls.692 e seg., e cujo teor se dá como reproduzido - o assistente socorreu-se de uma papel, com conteúdo não concretamente apurado, que retirou da sua pasta. 114) Após o encerramento da reunião, o assistente emitiu uma ordem de serviço dirigida aos funcionários da G… – no sentido de proibir que

secretariassem os membros do CJ que ali ficaram após ter dado por encerrada a reunião.

115) O assistente é adepto do ….

116) O assistente não deu oportunidade aos restantes membros do CJ de se pronunciarem sobre o mérito e o procedimento a adoptar relativamente aos

(25)

vários incidentes; trazendo consigo logo as decisões.

117) Com base nas opiniões previamente emitidas pelos membros do CJ, e pelo sentido dos projectos de acórdão, adivinhava-se um empate dos membros do CJ, pelo menos relativamente aos processos em que assentavam

basicamente em escutas. Dispondo nessas circunstâncias o presidente de voto de qualidade.

118) Mais se provou que:

119) O arguido é advogado há mais de 30 anos. 120) É casado, embora esteja separado de facto. 121) Tem uma filha com 10 anos.

122) Tem um filho de 33 anos.

123) Reside em casa própria, pagando a título de amortização de empréstimo contraído para aquisição daquela, a quantia de €1.490,00.

124) Pediu um empréstimo de €380.000,00.

125) Tem um rendimento mensal a rondar os €4.500,00 e €5.000,00. 126) Tem um Mercedes, …, de 2006.

FACTOS NÃO PROVADOS:

- Que o arguido pretendesse obter protagonismo à custa do assistente,

tecendo comentários sobre a sua actuação na reunião do CJ, afirmando factos que são falsos.

- Que o arguido tivesse procurado especificamente criar na opinião pública a ideia que o assistente actuava em prol de interesses particulares e manobrado pelos dois Clubes ali referenciados.

- O arguido, ao dar a referida entrevista, pretendeu e conseguiu transmitir à opinião pública de que, se não fosse ele, nunca se saberia o que de facto ocorreu naquela dita reunião.

- Quando concedeu a entrevista o arguido bem sabia que estava a relatar factos falsos, não ignorando que sua conduta era ilícita, pois estava a atingir, como atingiu, o bom-nome, a honra e a reputação do assistente.

- O arguido, com aquele entrevista, visasse especificamente pôr em causa a idoneidade e honestidade do assistente, denegrindo-o em termo públicos, afirmando ter o mesmo exercido duma forma parcial e indigna as funções em que este estava investido.

- O arguido agiu especificamente com o propósito de ofender a honra e consideração do assistente, bem sabendo que a sua conduta era proibida e punida pela lei penal.

Do pedido de Indemnização Cível de fls.217 e seg. (II Vol): A falsidade dos factos alegados pelo demandado.

Na sequência e mercê daquele entrevista, o assistente tivesse sido ostracizado por alguns sectores do futebol nacional.

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Que a conduta do demandado tivesse sido fonte de um permanente nervosismo e até depressão.

Da contestação de fls.272 e seg.:

- A razão de ser imediata da entrevista concedida pelo arguido (mormente a referida no item 8.º, da contestação).

- o referido no ponto 29.º, da contestação.

---///---c) Motivação

Formou o tribunal a sua convicção com base no conjunto da prova produzida em audiência de julgamento e bem assim a prova documental junta aos autos, toda ela livre e criticamente apreciada de acordo com o seu valor legal

probatório e as regras da experiência, nos termos do artigo 127º do Código de Processo Penal, nos seguintes termos.

No que toca ao teor da entrevista concedida pelo arguido ao jornal “H…”, aos 13.11.2008, e a respectiva autoria das afirmações imputadas ao arguido, ponderou-se o teor da respectiva edição do jornal, patenteado nos autos (cf. apenso I), conjugado com o teor das declarações do arguido, quem, sem

embaraço, assumiu o teor da entrevista (apenas observando não serem da sua responsabilidade o título, o destaque, e a chamada na primeira página).

Relativamente às funções do arguido e do assistente no CJ da G…, à data de 4.11.2008, bem como a ampla publicidade dada às vicissitudes daquela reunião, sendo matéria pacífica, cumpre apenas referir que valeram, desde logo, as declarações combinadas dos sujeitos processuais (arguido e

assistente), bem como toda a sorte de recortes de jornais patenteados nos autos (entre outros elementos).

No que tange ao sentido difamatório de tal entrevista e à sua idoneidade para atingir a honra, o bom-nome e consideração do assistente – ponderou-se

outrossim a sua literalidade, que, pensamos, reveste um sentido susceptível de, inequívoca e objectivamente (em termos de idoneidade), por em cheque tais bens jurídicos. Agora, se era ou não intenção específica do arguido visar tais valores, como se refere infra, entende-se que não, mas que a entrevista tem esse condão (idoneidade), é evidente que sim, da mesma forma que é evidente para nós que o arguido tinha perfeita noção disso, o que resulta cristalinamente da conjugação dos elementos factuais, conclusivos e juízos de valor nela patenteados.

No que tange à expressão da divulgação e, concretamente, à tiragem do jornal “H…” da edição em causa, valeu o teor da informação de fls.62.

Quanto à consideração social e profissional de que goza o assistente, à sua inserção profissional, política e institucional e/ou associativa pretérita no “mundo do futebol”, bem como às consequência psíquicas e repercussões

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sociais e pessoais, em consequência da publicação da notícia, valeram

conjugadamente as declarações do assistente, que neste aspecto se tiveram por espontâneas, sérias e coerentes, bem como, conjugadamente, do cotejo dos depoimentos das testemunhas W… (Conservador dos Registos, em …), amigo do assistente, há pelo menos 30 anos, X…, empresário, amigo do assistente há 30 anos, e cliente deste, Y…, engenheiro, gerente de uma empresa, amigo há muitos anos do assistente, e cliente deste, os quais, relativamente a tais aspectos, depuseram com grande objectividade, naturalidade, espontaneidade e de forma perfeitamente coerente.

Relativamente às ligações do assistente ao Mundo do futebol e da política, bem como a sua inserção profissional e social, valeram ainda o teor das notícias de fls.518 a fls.519 (vol.III).

Entrando na matéria da contestação escrita, quanto ao vertido nos pontos 32), 33), 34), 36), 37), 38), 42), 43 para além das próprias declarações do arguido, que, neste ponto, se afiguraram perfeitamente espontâneas e coerentes, valeu ainda o testemunho de L…, jornalista, no jornal “H…” há 10 anos, que,

prestando um depoimento perfeitamente objectivo e equidistante, esclareceu de forma coerente tais aspectos, numa narrativa perfeitamente lógica.

Ainda no que especificamente se refere em 36), 37) e 42, valeram ainda os variados recortes de jornais patenteados nos autos.

Com base em tais elementos, sobretudo considerando que não foi da iniciativa do arguido a concessão de tal entrevista, e ponderando as suas próprias

declarações quanto àquela que, na sua acepção, foi a razão de ser próxima da entrevista, o tribunal dá como provada a matéria descrita no ponto 35).

Relativamente ao objecto da reunião do CJ do dia 4 de Julho de 2008, aspecto consensual, e também por causa disso, apenas se referem as próprias

declarações do assistente e do arguido.

No que tange à matéria dos pontos 40), 45) e 46), valeram conjugadamente os depoimentos de L…, Z…, à data Vice-Presidente da G… e AB…, advogado e presidente da AC…, os quais, de forma isenta e objectiva, asseveraram a bondade do aí narrado.

Quanto ao convencimento do arguido relativamente à bondade do teor da entrevista.

Em primeiro lugar, impõe-se observar que ao longo das declarações prestadas pelo arguido, o mesmo denotou sempre mostrar-se genuinamente convicto da correcção quer das premissas factuais em que assenta, quer dos respectivos silogismos e conclusões que tece no sentido de validar o teor da entrevista. É certo que, por vezes, o seu convencimento surtia sob a forma de arrogância e sobranceria intelectual desmedidas, e mesmo até sob a forma de

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despropósito.

Porém, postos de parte tais aspectos, é insofismável o sólido convencimento do arguido a despeito da correcção da entrevista e, em particular, sobre a bondade dos juízos de valor aí formulados.

Dito isto, é de notar que tais aspectos não jazem apenas no domínio da convicção arbitrária ou despida de substanciação.

Senão vejamos.

Para consubstanciar o fundamento sério para, em boa fé, reputar de

verdadeiras as imputações patenteadas na entrevista ajuizada, o arguido B… invocou um conjunto de razões, a saber (procurando fazer-se algum (o

possível) esforço de síntese em função da relevância das mesmas)[1]: I - Como enquadramento geral, alude a uma prática habitual dos representantes da M…, nos órgãos jurisdicionais da G…, como meras correias de transmissão dos interesses dos respectivos clubes –

observando que o assistente foi indicado por aquela M… (citou alguns exemplos escorado até em escutas telefónicas).

Relativamente ao facto de o assistente ter sido indicado pela M… para a

composição do CJ da G…, tal facto é pacífico, tendo decorrido das declarações do próprio assistente, do arguido, dos testemunhos dos ex. Conselheiros do CJ, os Dr. Q… e O… e, entre outras, do teor das notícias de fls.518 a fls.519 (III Vol.), de fls.521.

Dito isto, e quanto à conclusão crítica da actuação dos representantes da M…, é de notar que o mesmo procurou e logrou justificar a sua afirmação dando exemplos paradigmáticos da referida prática dos membros da M…, recorrendo mesmo aos conhecimentos escorados até em escutas a despeito de processos em que interveio (mormente os relativos ao “apito final”).

Como é manifesto, não cabe a este tribunal reconstituir historicamente toda a praxis dos membros dos órgãos da G… indicados pela M… (nem tal se afigura viável), nem as motivações últimas para cada uma das votações em que

intervieram.

Para efeitos do objecto dos autos, cumpre apenas ao tribunal registar que a posição do arguido não soou vaga e gratuita, mas surtiu escorada em casos concretamente apontados pelo arguido que, do ponto de vista exterior (sem entrar no mérito de cada um), podem ser considerados idóneos a formar a convicção expressa pelo arguido.

*

II - Observando que o fundamento de impedimento (i.é – a sua integração na lista de peritos inerente ao Estatuto de Inscrição e transferência de jogadores) já era conhecido da maioria dos membros do Conselho de Justiça (CJ) da G…, incluindo o assistente, desde pelo

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