Registro: 2017.0000852719
ACÓRDÃO
Vistos, relatados e discutidos estes autos do Apelação nº 1003094-43.2016.8.26.0077, da Comarca de Birigüi, em que é apelante TAINÁ LETÍCIA TIAGO NUNES (JUSTIÇA GRATUITA), é apelado DIOGO RODRIGUES ALVES.
ACORDAM, em 2ª Câmara de Direito Privado do Tribunal de Justiça de
São Paulo, proferir a seguinte decisão: "Nos termos do art. 942 do Novo Código de Processo Civil, foram convocados outros julgadores pelo presidente da sessão, para a conclusão do julgamento, restando assim o resultado: Por maioria de votos, deram provimento ao recurso, vencido o relator sorteado, que declara voto. Acórdão com o 2º desembargador.", de conformidade com o voto do Relator, que integra este acórdão.
O julgamento teve a participação dos Exmos. Desembargadores ALCIDES LEOPOLDO E SILVA JÚNIOR, vencedor, GIFFONI FERREIRA, vencido, JOSÉ JOAQUIM DOS SANTOS (Presidente), ROSANGELA TELLES E JOSÉ CARLOS FERREIRA ALVES.
São Paulo, 24 de outubro de 2017
ALCIDES LEOPOLDO E SILVA JÚNIOR RELATOR DESIGNADO
APELAÇÃO CÍVEL
Processo n. 1003094-43.2016.8.26.0077
Comarca: Foro de Birigui (3ª Vara Cível)
Apelante: Tainá Letícia Tiago Nunes
Apelado:
Diogo Rodrigues Alves
Juíza: Cássia de Abreu
Voto n. 11.603
EMENTA: DANO MORAL – Divulgação em Rede Social de fotos e vídeo íntimos - Réu que admitiu a realização do vídeo - Prova de que não divulgou e nem teve culpa no eventual acesso de terceiro ao material relativo a intimidade da autora, que lhe competia - Obrigação de indenizar, posto que caracterizado o dano moral – Gratuidade da justiça mantida ao réu - Recurso provido.
Adotado o acurado relatório do I. Desembargador
Relator Sorteado GIFFONI FERREIRA, trata-se de ação de indenização
julgada improcedente, apelando a autora buscando a condenação do réu
por ter divulgado fotos íntimas e um vídeo em que mantinham relações
sexuais, enquanto namorados, após o rompimento do relacionamento, e a
revogação da gratuidade da justiça que lhe foi concedida. Foram
apresentadas contrarrazões sustentando-se a manutenção da sentença.
Quando da captação das imagens a autora era menor
de idade com 17 anos e, independentemente de seu conhecimento, não
estava o réu autorizado a divulga-las pelo aplicativo WhatsApp ou por
qualquer outro meio.
O requerido foi condenado em Primeiro Grau pelos
fatos no Processo Crime n. 0000301-51.2016.8.26.0077, à "pena de 03
(três) anos de reclusão, em regime aberto, e pagamento de 10 (dez)
dias-multa, no menor valor (art. 49 e parágrafos, do CP), dando-o como incurso
nas penas do artigo 241-A da Lei nº. 8.069/90 (Estatuto da Criança e do
Adolescente)" e em conformidade com o art. 44, caput e § 2º, do Código
Penal, foi substituída a pena privativa de liberdade por uma restritiva de
direitos, consistente em prestação de serviços à comunidade pelo mesmo
período da pena privativa de liberdade fixada, na forma a ser definida pelo
Juízo da Execução, e mais 10 (dez) dias-multa (10+10= 20 dias-multa),
estando pendente recurso de apelação do réu.
O apelado admitiu que fez o vídeo (fls. 29), sendo
irrelevante se ainda estavam ou não namorando, e cabia-lhe a prova de que
não o divulgou e nem teve culpa no eventual acesso de terceiro ao material
relativo a intimidade da autora, do que não se desincumbiu, sendo
legitimado e do que decorre a obrigação de indenizar, posto que
caracterizado o dano moral.
Com observância dos princípios da razoabilidade e da
proporcionalidade apresenta-se adequada a fixação da indenização em R$
10.000,00 na data deste julgamento, com atualização monetária pelos
índices da tabela Prática do TJSP e juros de mora de 1% ao mês da data do
conhecimento dos fatos em 17/11/2015.
Todavia, não existem evidências de que o requerido
tenha suficiência de recursos para suportar o pagamento das custas e
honorários advocatícios, o que não deflui do documento de fls. 106,
considerando-se, ainda, que constituiu família.
A contratação de advogado particular por si só não
impede a concessão do benefício, como está expresso no § 4º do art. 99 do
CPC/2015.
Na moderna intelecção do direito de acesso à justiça,
não há necessidade da prova do estado de miserabilidade para a concessão
da gratuidade da justiça, mas, como se disse, tão-somente a insuficiência de
recursos disponíveis (art. 98 do CPC/2015), o que é o caso do recorrido.
Pelo exposto, DÁ-SE PROVIMENTO ao recurso
para Julgar-se Procedente a ação, condenando-se o réu por dano moral, na
forma constante da fundamentação, além das custas do processo e em
honorários advocatícios fixados em 15% sobre o valor devido, nos termos
do art. 85, § 2º, do CPC/2015, observada a gratuidade da justiça.
ALCIDES LEOPOLDO E SILVA JÚNIOR RELATOR DESIGNADO
Apelação nº 1003094-43.2016.8.26.0077
DECLARAÇÃO DE VOTO Nº 19561
Dissinto respeitosamente da d. Maioria.
Com efeito, a R. sentença deu adequada solução à espécie, e em verdade não vem atingida pelas razões de apelo, merecendo subsistir na integralidade.
A PROCEDÊNCIA DE UM FEITO SE NÃO PAGA DO SOLO MOVEDIÇO DO POSSÍVEL OU DO PROVÁVEL, senão do terreno firme da certeza é lição vetusta.
Demonstram os autos, à saciedade, que os litigantes, quando namorados, consentiram em filmagem de cenas íntimas, malgrado a menoridade da Autora; a tese por que porfia o Apelado sustenta-se na negativa de autoria, irrogando ao irmão e a outrem a divulgação das cenas íntimas do casal tese essa sustentada por dois documentos; assim que em verdade existe prova bastante de que não houve a atitude apontada na exordial, suficiente para a apenação perseguida, e tanto mais que o Réu aponta, o que não é negado pela autora, que a filmagem dera-se também pelo aparelho celular da Autora, que ela mantinha as mesmas cenas em seu poder dela nem havendo, de aí, suporte para a insistência que foi do Autor a iniciativa da divulgação das cenas de intimidade, pois que órfã de qualquer outro adminículo que não essa mera insistência e nem mesmo a oitiva da amiga da Autor, que lha avisou da postagem, conforme fls., foi capaz de irrogar ao Réu a postagem e as acusações de ameaças, empós de novos relacionamentos, constam das palavras de parte a parte e em verdade bem andou a sédula decisão com pronunciar o NON LIQUET, e nem se havendo de falar em culpa, já que a Autora também possuía a mesma série de imagens em seu poder, e o potencial lesivo em linha de repercussão pública dessas atitudes não está circunscrita à Autora apenas, senão também ao Réu, mormente em se tratando de cidade pequena, onde ambos residem.
Alfim, repita-se, à míngua de prova de autoria, tendo em vista a prova em contrário, documental, conforme fls., e a anuência da Autora com a malsinada gravação
de imagens, a melhor solução para a pendenga, por minha tenção, fora mesmo aquela localizada em Primeiro Grau motivos esses suficientes para NEGAR PROVIMENTO ao recurso.
Este documento é cópia do original que recebeu as seguintes assinaturas digitais:
Pg. inicial
Pg. final
Categoria Nome do assinante Confirmação
1 4 Acórdãos
Eletrônicos
ALCIDES LEOPOLDO E SILVA JUNIOR 673AE9A
5 6 Declarações
de Votos
LUIZ BEETHOVEN GIFFONI FERREIRA 71B032B
Para conferir o original acesse o site:
https://esaj.tjsp.jus.br/pastadigital/sg/abrirConferenciaDocumento.do, informando o processo 1003094-43.2016.8.26.0077 e o código de confirmação da tabela acima.