Registro: 2011.0000113235 ACÓRDÃO
Vistos, relatados e discutidos estes autos de Apelação / Reexame Necessário nº 0249743-83.2009.8.26.0000, da Comarca de Ribeirão Preto, em que é apelante MAUBISA AGRICULTURA LTDA e Recorrente JUIZO EX-OFFICIO sendo apelado GAS BRASILIANO DISTRIBUIDORA S/A.
ACORDAM, em 1ª Câmara de Direito Público do Tribunal de
Justiça de São Paulo, proferir a seguinte decisão: "Negaram provimento aos recursos. V. U.", de conformidade com o voto do Relator, que integra este acórdão.
O julgamento teve a participação dos Exmos. Desembargadores REGINA CAPISTRANO (Presidente sem voto), RENATO NALINI E FRANKLIN NOGUEIRA.
São Paulo, 26 de julho de 2011.
VICENTE DE ABREU AMADEI RELATOR
VOTO Nº 436
APELAÇÃO Nº 024.9743-83.2009.8.26.0000 e reexame necessário
APELANTE: Maubisa Agricultura Ltda.
APELADA: Gás Brasiliano Distribuidora S/A
APELAÇÃO Servidão de passagem de
gasoduto Indenização sobre o valor da terra nua Avaliação Método Phillip Westin e tabela NBR nº 14.653-2-2004 item 11.22 Apoio em dados objetivos, fundamentação e equilíbrio Prevalência do laudo oficial aos pareceres críticos dos assistentes técnicos Pretensões não acolhidas da ré para elevação do valor da indenização Depósito integral efetivado antes da imissão na posse - Juros moratórios e compensatórios indevidos - Verba honorária fixada em 5% - Adequação ao art. 27, § 1º, do Dec.-lei nº 3.365/41 - Apelo da ré e reexame necessário não providos.
1. Na fixação da indenização, em servidão administrativa, a avaliação expressa no laudo do perito é significativo elemento de convicção e, ante seu fundamento e equilíbrio, pautado em dados objetivos, há de prevalecer em relação à crítica dos assistentes, despidas de objetividade suficiente ao ataque.
2. Inadmissível considerar na indenização a valorização do imóvel ou quaisquer outros fatores ocorridos após a imissão na posse, pois contraria o princípio da contemporaneidade, previsto no artigo 26 do Dec.-Lei 3365/41.
diferença entre o valor da indenização e o da oferta, atualizados, incluídas, na sua base de cálculo, as parcelas dos juros, se o caso.
Trata-se de reexame necessário e apelação interposta por Maubisa Agricultura Ltda. (fls. 831/841), em ação de instituição de servidão administrativa de passagem de gasoduto proposta por Gás Brasiliano Distribuidora S.A., em face da r. sentença (fls. 805/814), que julgou procedente a demanda, instituiu a servidão mediante o pagamento da indenização de R$ 46.801,00 (fls. 177/218), já depositados nos autos, desde 21 de fevereiro de 2006, observada: (a) condenação na indenização atualizada do imóvel, na medida em que a oferta constante da inicial foi inferior ao valor indenizatório ora estipulado, sem juros compensatórios e moratórios, pois o depósito do valor da indenização foi anterior imissão na posse do imóvel; (b) condenação ao pagamento das despesas processuais, inclusos os honorários periciais e honorários advocatícios, fixados em 5% do valor da diferença entre o valor da oferta corrigida e o da indenização fixada.
Foram opostos embargos de declaração (fls. 817/820), parcialmente acolhidos, para cumprimento do art. 34 do Decreto-lei nº 3.365/41 (fls. 845).
serviente). E mais, a majoração dos honorários advocatícios para 20% do valor total da indenização. Reputa inidôneo o laudo do expert judicial.
Recebido o apelo nos regulares efeitos (fls. 848), foi contrariado pela autora (fls. 849/863) e os autos subiram a este E. Tribunal de Justiça.
É o relatório, em acréscimo ao da r. decisão recorrida.
Satisfeitos os requisitos legais de admissibilidade, recebo o recurso de apelação interposto, consignando-se, ainda, situação em que o reexame necessário é imperativo.
Trata-se de ação de instituição de servidão administrativa para passagem de Gasoduto, incidente numa faixa de terra com 10,00 metros de largura, totalizando 5.268,26m2, em imóvel rural, matrícula nº 29.537 do 2º Registro de Imóveis de Ribeirão Preto (fls. 154/155), gleba de terras desmembradas da Fazenda São José, com área total de 125.605m2, localizada na Rodovia SP-255, altura do km 4, no município de Ribeirão Preto, declarada de utilidade pública pelo decreto Estadual nº 46.928, de 20 de julho de 2002 (fls. 147/152).
O valor indenizatório foi apurado pelo perito judicial de modo fundamentado nos critérios clássicos e legais de avaliação de imóveis em servidão, alcançando o percentual de 29% pela proibição das culturas e de 44% para a depreciação total da terra nua, destacando, ainda, que, por falta de critérios fixos, utilizou por analogia a tabela elaborada para casos de oleodutos, por Phillip Westin, a qual se baseia na aplicação de fatores de depreciação aos principais inconvenientes e proibições provocadas pela faixa de servidão e a tabela NBR nº 14.653-2-2004 item 11.22 (fls. 660).
Anote-se, ainda, que a faixa da servidão para o Gasoduto aproveita a faixa non aedificandi ao longo da rodovia.
A matéria em questão já conta com entendimento desta C. 1ª Câmara, e porque oportuno, transcreve-se, em parte, da Ap. n° 9131806-93.2009.8.26.0000, o voto da rel.
Des. Regina Capistrano, j. em 24/05/2011:
alterar a largura da faixa serviente de 4m para 20m ou 30/77. Ora, o projeto dos gasodutos foi elaborado pela autora, sendo que lhe cabe de forma exclusiva estabelecer a faixa de terras de que necessita para a implantação da servidão, não sendo possível ao particular alterar estas características, sob qualquer argumento. No que tange ao valor da indenização, deve ele pautar-se pelas características e condições mercadológicas verificadas no imóvel à data da imissão. Ora, o principal objetivo da perícia prévia é o de estabelecer as condições em que se encontravam o imóvel no momento da imissão na posse, e o secundário, por óbvio, é o de fixar os parâmetros da justa indenização, para viabilizar esta imissão. Já a segunda perícia é designada a fim de permitir uma discussão mais ampla sobre o valor da indenização, mormente porque, via de regra, as partes, especialmente os expropriados, não têm a oportunidade de apresentar quesitos, indicar assistente técnico, enfim, de produzir prova nesta primeira perícia, porque quando de sua realização, ainda não integraram o pólo passivo da lide, na medida em que ela é elaborada, em geral, antes mesmo da citação. Entretanto, esta segunda perícia não pode considerar elementos que, à época da imissão na posse, inexistiam. De fato, inadmissível considerar na indenização apurada na segunda perícia a valorização do imóvel ou quaisquer outros fatores ocorridos após a imissão na posse, sejam eles em benefício ou em desfavor desta ou daquela parte, pois tal pretensão contraria o Princípio da Contemporaneidade, previsto no artigo 26, do Dec.-Lei 3365/41. A adotar-se entendimento em sentido contrário, não haveria sentido em designar-se a avaliação prévia, pois no decorrer do processo ela seria absolutamente descartada. Injusto é imputar à expropriante a obrigação de suportar valorizações decorrentes de benfeitorias realizadas por ela própria após a imissão. ' (...) Assim, em toda e qualquer avaliação realizada em processos de desapropriação e/ou servidão, o perito sempre deve observar, no laudo pericial definitivo, as condições do imóvel estabelecidas na avaliação prévia, ignorando valorizações posteriores, sejam elas decorrentes de benfeitorias realizadas pela expropriante, ou ainda de fatos alheios. Oportuno consignar que o trabalho pericial está devidamente fundamentado, e foi baseado em Normas Técnicas, não havendo fundamentos plausíveis para desconsiderá-lo, pois aqueles trazidos pelas partes não se sustentam, conforme exposto nesta sentença. Assim, o valor apurado a fls. 191 e 641, de R$4.290,00, deve ser acolhido para indenizar os réus pela servidão instituída no seu imóvel' (fls. 723/728)”.
contemporaneidade (art. 26 do Dec.-lei nº 3.365/41).
Inadmissíveis ataques aos paradigmas considerados pelo perito no primeiro laudo e, a rigor, as críticas ao trabalho do perito não procedem, pois foram bem respondidas em seus esclarecimentos. A divergência de valores entre os pareceres dos assistentes técnicos das partes, ademais, é eloquente: isso, portanto, só reforça o equilíbrio do laudo pericial.
Logo, as críticas dos assistentes técnicos da autora e da ré não merecem acolhida.
Em outras palavras, na fixação da indenização, em servidão, a avaliação expressa no laudo do perito é significativo elemento de convicção e, ante seu fundamento e equilíbrio, pautados em dados objetivos, há de prevalecer em relação às críticas dos assistentes técnicos despidas de objetividade suficiente ao ataque.
Neste sentido, é o precedente jurisprudencial deste E. Tribunal de Justiça, por sua 11ª Câmara de Direito Público, em v. acórdão referente à Ap. nº 990.10.260609-0, rel. Des. Pires do Araújo, j. 16/08/2010, com a seguinte ementa:
“SERVIDÃO ADMINISTRATIVA - GASODUTO INDENIZAÇÃO SOBRE O VALOR DA TERRA NUA COM DEPRECIAÇÃO INCABÍVEL A INDENIZAÇÃO SOBRE O VALOR TOTAL DA FAIXA DE SERVIDÃO REXAME NECESSÁRIO E RECURSO NÃO IMPROVIDOS.”
Por consequência, não se acolhe o inconformismo da ré com o valor indenizatório fixado na r. sentença.
Superado esse ponto nuclear do apelo, reexaminam-se os temas satélites da lide.
Em relação aos juros compensatórios e moratórios e correção monetária não há incidência, pois, o depósito do valor integral da indenização foi anterior à imissão na posse do imóvel e se encontra à disposição do Juízo, devidamente corrigido pela instituição bancária.
Sobre esse tema, não faltam precedentes desta Corte:
“AÇÃO DE INSTITUIÇÃO DE SERVIDÃO ADMINISTRATIVA
MANUTENÇÃO DO VALOR FIXADO RELATIVAMENTE À
INDENIZAÇÃO LAUDO DO PERITO JUDICIAL BEM
ELABORADO, APTO A RESPALDAR AS CONCLUSÕES DA D. MAGISTRADA A QUO DESCABIDA A INCIDÊNCIA DE JUROS MORATÓRIOS, COMPENSATÓRIOS E DE CORREÇÃO
MONETÁRIA VALOR INDENIZAÇÃO DEPOSITADO
INTEGRALMENTE ANTES DA IMISSÃO NA POSSE
HONORÁRIOS MANUTENÇÃO DO PERCENTUAL DE 5% -
APLICAÇÃO DO ART. 27 § 1º, DO DEC. LEI Nº 3.365/41 - RECURSO AO QUAL SE NEGA PROVIMENTO SENTENÇA MANTIDA” (Ap. nº 9131806-93.2009.8.26.0000, rel. Des.
Regina Capistrano, j. 24/05/2011 supracitada)
“APELAÇÃO - Servidão de passagem não configurada a
sentença ultra petita - O laudo pericial encontra-se devidamente fundamentado e embasado em sólidos elementos técnicos de pesquisa e merece ser prestigiado - Descabida a incidência de juros moratórios e compensatórios - Valor da indenização depositado integralmente antes da imissão na posse - Custo do processo carreado integralmente à autora, pois o valor da indenização superou em muito sua oferta inicial - Recursos parcialmente providos” (Ap. n° 0369130-92.2009.8.26.0000,
rel. Des. Sérgio Gomes, j. 30/11/2011).
compensatórios, quando depositado integralmente o valor indenizatório fixado na sentença antes da imissão na posse - Recurso dos réus desprovido e recurso ex officio não conhecido" (Ap. n° 994.09.234367-0, Rel. Des. Wanderley José Federighi, j. 14.04.2010).
"DIREITO ADMINISTRATIVO - SERVIDÃO DE PASSAGEM. OFERTA PRÉVIA AVALIAÇÃO PROVISÓRIA DEPÓSITO EM COMPLEMENTAÇÃO - IMISSÃO NA POSSE - SENTENÇA JUROS COMPENSATÓRIOS E JUROS MORATÓRIOS - Inaplicabilidade - Impugnação acolhida - Recurso voluntário provido" (Ap. n°
449.027-5/6-00, Rel. Des. Xavier de Aquino, j. 05/10/06). Quanto aos honorários advocatícios, porque o valor da indenização supera o da oferta, não se pode deixar de condenar a expropriante, sobre a diferença entre a indenização e a oferta (Súmula 141 do STJ), ainda que os expropriados sustentem, como devido, valor superior ao acolhido.
Isso, em razão do prescrito no § 1º do art. 27 do Dec.-lei nº 3.365/41, na redação que lhe deu a Medida Provisória nº 2.183, de 24/08/2001, que reduziu e limitou o percentual da verba honorária (não superior a 5%, observado o teto de R$ 151.000,00).
Neste sentido, é a orientação do E. STJ: REsp 848577/AC, rel. Min. Mauro Campbell Marques, j. 10/08/2010, DJe 10/09/2010; REsp 1113666/SP, rel. Min.
Benedito Gonçalves, j. 06/08/2009, DJe 19/08/2009; REsp
815229/SP, rel. Min. Castro Meira, j. 08/05/2007, DJ 18/05/2007, p. 318. E, nesta Câmara, também não faltam iguais precedentes: Ap. nº 0148264-18.2007.8.26.0000 [994.07.148264-4], rel. Des. Regina
Capistrano, j. 24/08/2010; Ap. nº
9113176-91.2006.8.26.0000 [994.06.076815-0], rel. Des. Luís Francisco
Sem reparo, por fim, a r. sentença,
Pelo exposto, NEGO PROVIMENTO ao reexame necessário e ao recurso voluntário.