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O PADRÃO DE COMUNICAÇÃO DO ENFERMEIRO COM O PACIENTE

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Academic year: 2021

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MENDES, I.A.C.; TREVIZAN, M.A.; TAKAKURA, M.S.; NOGUEIRA, M.S. O padrão de comunicação do enfermeiro com o paciente. Rev. Paul. Enf, v.8, n.1, p.13-16, 1988.

O PADRÃO DE COMUNICAÇÃO DO ENFERMEIRO COM O

PACIENTE

Isabel Amélia Costa Mendes, Maria Auxiliadora Trevizan, Maura Santesso Takakura, Maria Suely Nogueira

RESUMO

Este é um estudo exploratório para identificar o padrão de comunicação do enfermeiro com pacientes num hospital-escola. Foi utilizado o instrumento de Bales para análise do conteúdo de 900 atos comunicativos envolvendo dez pacientes, cuja classificação foi efetuada por juizes.

ABSTRACT

PATTERN OF COMUNNICATION BETWEEN NURSE AND THE PATIENT

This is an exploratory study, whose purpose was to identify the pattern of communication between he nurse and the patient in o teaching hospital. It utilized Boles' Instrument to analyze the content of 900 communication actions involving 10 patients, whose classification was mode by judges.

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INTRODUÇÃO

Por estar direta ou indiretamente interessada ou movida em favor de pessoas, a enfermagem comumente é definido como um processo interpessoal. Numa única interação há um fluxo e refluxo de influências no momento em que a enfermeira e o paciente se observam e comunicam entre si pensamentos, sentimentos e atitudes. Os objetivos do enfermeiro nesta interação geralmente residem em conhecer o paciente, identificar e satisfazer as necessidades do mesmo e assim alcançar o propósito da enfermagem, qual seja: assistir o indivíduo, família ou comunidade na prevenção da doença e cooperar com a experiência da doença e do sofrimento e, se necessário, encontrar significado nestas experiências. Desta forma, a comunicação é um meio através do qual as metas do processo interativo podem ser alcançadas piora que o propósito da enfermagem seja atingido.

A enfermeira deve facilitar os componentes da comunicação para construir relacionamentos. Estes componentes fornecem o clima e nutrição para a compreensão e foram assim relacionados por alguns autores: — empatia, respeito e sinceridade4; presença, audição, percepção, cuidado, revelação, aceitação, empatia autenticidade e respeito7. Na visão de BROWN e FOWLER3, um interesse sincero no paciente e um desejo genuíno de ajudá-lo são pré-requisitos para o estabelecimento de um relacionamento harmonioso.

A observação de que os enfermeiros demonstram ignorar muitas vezes as necessidades emocionais em suas conversações com pacientes levou-nos à condução deste estudo com o objetivo de identificar o padrão de comunicação da díade enfermeiro-paciente.

METODOLOGIA

Realizou-se observação direta durante cinco dias consecutivos o partir do momento da internação, em cujo período seus atos comunicativos com o enfermeiro foram registrados em formulário — por observadores. Os dados extraídos destes registros foram classificados à luz do Interaction Process Analysis, de BALES1, por três juizes treinados e considerados aptos para

classificar atos comunicativos segundo o referido instrumento.

O instrumento compreende um conjunto de doze categorias (veja Fig.1) que permitem classificar os tipos de atos comunicativos. Estas categorias podem ser divididas tomando-se as mais centrais (4-9) como as de relevância direta para os problemas de adaptação e de controle instrumental, e as extremas (1-3 e 10-12) como as que indicam problemas de expressão de reações emocionais e tensões. Estas estão, portanto, vinculadas as respostas emocionais enquanto aquelas se referem propriamente à tarefa.

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Figura 1 - Representação Esquemática do Sistema de Categorias de Bales. ÁREA EMOCIONAL POSITIVA 1. Mostra Solidariedade 2. Mostra Descontração 3. Concorda ÁREA NEUTRA 4. Dá Sugestão 5. Dá Opinião 6. Dá Orientação 7. Pede Orientação 8. Pede Opinião 9. Pede Sugestão ÁREA EMOCIONAL NEGATIVA 10. Discorda 11. Mostra Tensão 12. Mostra Antagonismo

ANÁLISE DOS RESULTADOS

Registrou-se um total de novecentos atos comunicativos mantidos entre enfermeiros e os dez pacientes estudados. De sua classificação segundo as categorias de BALES1 resultou a seguinte

distribuição mostrado na Tabela 1: 90,7% na área neutra, 7,1% na área positiva e 2,2% na área negativa.

Este resultado indica que os atos de comunicação do enfermeiro com o paciente na área neutra superam significativamente os dos outras áreas. Fica assim explícita uma padronização de atos comunicativos na área de tarefa, uma relação profissional mecanizado e despersonalizado.

Se pretende-se elevar a qualidade da assistência, a interação entre o enfermeiro e o paciente não pode ser tão padronizado com superação tão significativa da área neutra sobre as áreas emocionais. Estes resultados parecem confirmar a observação de DIERS5 de que as enfermeiras

demonstram ignorar os necessidades emocionais em suas conversações com os pacientes.

Estamos de acordo com TOWNS 11 de que é necessário que o enfermeiro estimule nos pacientes a expressão de suas emoções.

A natureza intrínseca do papel do enfermeiro fornece a ele maior oportunidade do que a todos os outros no ambiente do paciente para "observar seu comportamento de solidão, explorá-lo com sua ajuda e executar medidas de intervenção que proporcionem alívio. A solidão é realmente um problema clínico comum e uma barreira para os relacionamentos interpessoais efetivos entre um paciente e um enfermeiro. Além de administrar a assistência de modo que o paciente sinta que ele é percebido como um ser total, o papel do enfermeiro reside em ajudá-lo o desempenhar o seu papel de paciente fornecendo a oportunidade de identificar e explorar seus problemas. HAYS & LARSON6 alertam sobre o responsabilidade que a enfermeira deve ter de explicitar o seu papel ao paciente para que ele saiba o que pode esperar dela, ao invés de levá-la o descobrir intuitivamente.

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Uma das queixas mais freqüentes dos pacientes hospitalizados é a falta de comunicação com o pessoal que os assiste, conforme exposição de SKIPPER10 que questiona o motivo pelo qual

enfermeiras e médicos não se comunicam com os pacientes mais do que estes gostariam. Lembra o autor que a estrutura do hospital moderno não é organizada com vistas ao alcance da necessidade de comunicação do paciente, mas mais dedicado aos fins da "orientação para as ações de cuidado e de cura dos pacientes. Há uma falha em reconhecer que o paciente é um participante no processo e que a comunicação com ele pode ser vital para o alcance dos fins do cuidado e da cura". Justifica este argumento baseado na seguinte colocação de BARNES2: "o pessoal de hospital geral é caracteristicamente guiado pela ação. A natureza básica de seu trabalho demanda ação sem muito pensamento. Sua abordagem total a qualquer tipo de problema é fazer algo, e o dizer parece ser esquecido no fazer". Talvez esta situação ocorra por uma compulsão em atender as metas organizacionais, embora as enfermeiras em geral recebam um enfoque humanístico em toda a sua formação profissional, com realce para a visualização do paciente como um ser total e como centro das atenções da equipe.

Os dados do presente estudo confirmam as colocações de SKIPPER10. Na Tabela 1 verifica-se que os atos comunicativos da enfermeira com o paciente número nove foi totalmente efetuado na área neutra; observa-se também que não houve oportunidade de os pacientes 1, 2, 9 e 10 expressarem a ela sentimentos na área negativa. A despeito de algumas variações individuais nos dez pacientes, as enfermeiras mostraram padrões semelhantes de interação com seus pacientes, sendo que na área neutra as categorias mais freqüentes foram: 6 — Dá Orientação, 7 — Pede Orientação e 4 —Dá Sugestão — o que se traduz pela execução de tarefas que são diretamente instrumentais para o cura e o cuidado físico dos pacientes.

Os dados revelam ainda que existe pouco reconhecimento das necessidades psicológicas e sociais do paciente; na área positiva, a interação da enfermeira foi bastante variável desde a ausência de atos comunicativos com o paciente nove, até o total de 14,1% com o paciente quatro. Este é um indicador do direcionamento da enfermeira para os pacientes mais graves, conforme se apregoa teoricamente. No caso deste paciente, principalmente, o comportamento da enfermeira demonstra bastante coerência uma vez que se trata daquele que dentre os que compõem a amostra, apresentou necessidade de apoio, compreensão e segurança em nível mais elevado. Por outro lado, na área negativa o paciente cinco foi o que trocou mais atos comunicativos com a enfermeira.

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TABELA 1 — Distribuição dos atos comunicativos trocados entre enfermeiras e pacientes estudados, segundo pacientes e áreas de categorias de BALES, e resultado da análise estatística da homogeneidade dos pacientes.

ÁREAS Pacientes

Positiva Neutra Negativa Total

1 8 (8,9) 82 (91,1) 0 (0) 90 (100) 2 4 (11,4) 31 (88,6) 0 (0) 35 (100) 3 8 (6,8) 107 (90,7) 3 (2,5) 118 (100) 4 13 (14,1) 76 (82,6) 3 (3,3) 92 (100) 5 7 (8,2) 71 (83,5) 7 (8,2) 85 (100) 6 1 (1,2) 78 (96,3) 2 (2,5) 81 (100) 7 18 (7,6) 217 (91,6) 2 (0,8) 237 (100) 8 4 (4,8) 76 (91,6) 3 (3,6) 83 (100) 9 0 (0) 42 (100) 0 (0) 42 (100) 10 1 (2,7) 36 (97,3) 0 (0) 37(100) TOTAL 64 (7,1) 816 (90,7) 20 (2,2) 900(100)

Se analisarmos a freqüência de atos comunicativos da enfermeira com os dez pacientes numa média de 350 horas, e considerando que cada ato comunicativo significa uma sentença curta, chegaremos à conclusão de que o total de novecentos atos significa uma participação mínima da enfermeira na comunicação com os pacientes. Esta análise nos leva o refletir sobre a possível desvalorização da comunicação como um dos principais instrumentos de enfermagem; ou talvez, uma subvalorização em função de uma hipertrofia nos valores organizacionais. Conforme expõe SKIPPER10, qualquer comunicação estritamente expressiva com pacientes é vista como uma atividade que consome tempo além da possibilidade inconveniente de envolvimento emocional com o mesmo — "tirando o tempo de enfermeiras e dos médicos de tarefas mais importantes"10.

Na tentativa de corrigir esta distorção, recentemente MENDES9 propôs a adoção de uma

filosofia de assistência de enfermagem caracterizada como humanística, conciliando-a com a perspectiva funcional, uma vez que a assistência de enfermagem se dá numa instituição burocrática: "o profissional de enfermagem continuará atendendo aos requisitos funcionais da instituição, mas imbuído de uma filosofia de trabalho voltado fundamentalmente para o paciente enquanto pessoa, e não mais para o paciente enquanto desempenhando um papel, nem simplesmente atendendo às expectativas que os profissionais têm dos pacientes" e nem priorizando os valores organizacionais.

Cumpre-nos repetir com MENDES9 que: "é preciso que a interação verbal da enfermeira com

o paciente fuja de um conteúdo que se limite ao cumprimento do seu papel instrumental, dentro de um processo que viabiliza unicamente o desempenho deste papel".

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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

1. BALES, R.F. Interaction process analysis: a method for the study of small groups. Cambridge. Mossachussetts; Addisan Wesley Press 1950.

2. BARNES, E. People in hospitals. London, Macmillan, 1961.

3. BROWN, M.N. & FOWLER, G.R. Psychodynamic Nursing - a biosocial orientation – 4th ed Philadelphia, W. B. Sounders, 1971.

4. CARKHUFF, R. R. & BERENSON, B. G. Beyond counseling and psychotherapy. New York, Holt, Rinehart & Winston. 1967.

5. DIERS, D. K. & SCHMIDT, R. L. Interaction analysis in nursing research. - In: VERHONICK, Phyllis. Nursing Research. Vol. II, Boston: Little Brown, 1977.

6.HAYS, J.S. & LARSON, K. H. Interacting with patients - New York, MacMillan,1963.

7. LONG, L. & PROPHIT, Sister P. Understanding/responding: a communication manual for nurses. Wadsworth Health Sciences Division, Monterey, California, 1981.

8. MALONEY, E.M. Interpersonal Relations. Dubuque, lowa, W.M.C. Brown Company Publishers, 1966.

9. MENDES, I.A.C. Interação verbal em situações de enfermagem hospitalar: enfoque humanístico Ribeirão Preto-SP. Tese de doutoramento. Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto - USP, 1986. 10. SKIPPER, J.K.Jr. Communication and the hospitalized patient p. 61-82 in: SKIPPER, J.K. & LEONARD, R. C. Social, interaction and Patient Care - Philadelphia, J. B. Lippincont Co, 1965.

11. TOWNS, J. E. How to understand and communicate with o person in sorrow. - Nursing Forum, 19 (3): 300-309, 1980.

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