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A nova classificação de tumores pulmonares interesse meramente académico?

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XVIII CONGRESSO DA SOCIEDADE PORTUGUESA DE PNEUMOLOGIA II CONGRESSO LUSO-BRASILEIRO DE PNEUMOLOGIA

SANTA MARIA DA FEIRA, 14 A 16 DE NOVEMBRO DE 2002

A nova classificação de tumores pulmonares

– interesse meramente académico?

LINA CARVALHO

INTRODUÇÃO

A classificação dos tumores do pulmão e da pleura – Histological Typing of Lung and Pleu-ral Tumours – que a Organização Mundial de Saúde fez pública em 1999, corrige de uma forma geral a linguagem morfológica que é possível aplicar às múltiplas apresentações dos tumores do pulmão e da pleura1.

Esta variedade morfológica foi explícita por Kreyberg em 1957, quando este patologista nórdico se debruçou sobre as correlações entre o ambiente de trabalho e as doenças pulmonares consequentes. As classificações de 1967 e 1981 seguiram-se, mantendo os grandes grupos morfo-lógicos principais e abrindo caminho para particularidades dos tumores e para o reconheci-mento de lesões pré-neoplásicas2.

A classificação de 1999 pretende clarificar a linguagem morfológica, uniformizando-a para facilitar um entendimento simples por todas as

áreas da saúde implicadas no diagnóstico e tratamento dos tumores do pulmão e da pleura, nesta abordagem com ênfase para os carcinomas broncopulmonares.

Se uma classificação médica deve ser clara e rigorosa na linguagem e na definição das entida-des que abrange, deve também entender-se valor prognóstico na sistematização que explicita.

Seguindo esta ordem de ideias, a abordagem seguida será feita nessas duas vertentes: da morfologia ao prognóstico figurativo.

CLASSIFICAÇÃO MORFOLÓGICA

A classificação morfológica (histopatológica) dos carcinomas broncopulmores compreende seis grupos fundamentais: carcinoma epidermóide, adenocarcinoma, tumores neuroendócrinos, car-cinoma adenoscamoso, carcar-cinoma de células grandes e carcinomas com elementos

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mórficos, sarcomatosos ou sarcomatóides. A classificação dual em carcinoma de células pequenas e carcinoma não células pequenas é aceitável quando em estádios cirurgicamente ultrapassados e com metastização incontrolável, não é possível obter tecido neoplásico suficiente ou com características morfológicas que permitam a classificação correcta. Esta afirmação é pertinente para não desvalorizar a capacidade terapêutica actual.

O grupo do carcinoma epidermóide, para além das formas correntes bem e pouco diferenciadas, prevê as variantes papilar, de células claras, de células pequenas e basalóide. Não há dificuldade diagnóstica e diferencial. A variante de células pequenas é identificada pelas características nucleares e pela presença de queratinização em forma de pérolas celulares ou queratinização unicelular.

Para o carcinoma de células pequenas, foram desvalorizadas características artefactuais que influenciavam a classificação de 1981. A forma combinada está descrita considerando as possi-bilidades de morfologia conjunta de carcinoma de células pequenas com:

- Carcinoma epidermóide - Adenocarcinoma

- Carcinoma de células grandes - Carcinoma de células fusiformes - Carcinoma de células gigantes - Carcinossarcoma

Naturalmente que a terapêutica será orientada para a vertente de carcinoma de células pequenas. O grupo do adenocarcinoma sofreu uma expansão que, embora extensa, é compreensível e necessária para facilidade de descrição morfológica. Os padrões básicos mantêm-se: aci-nar, papilar, carcinoma bronquíolo-alveolar, ade-nocarcinoma sólido produtor de muco e adeno-carcinoma misto. A designação de adenoadeno-carcinoma misto abrange a maioria dos adenocarcinomas

uma vez que apresentam na generalidade uma associação de padrões que vai desde o cresci-mento acinar, papilar ou micropapilar, central, em torno ou não de uma cicatriz hialina de tamanho variável, para a periferia, onde é comum observar--se crescimento sob o padrão bronquíolo-alveo-lar. Subentende-se uma amostragem alargada para a possibilidade de reconhecimento de todos os padrões.

As variantes reconhecidas do Adenocarcinoma são cinco: o adenocarcinoma fetal bem diferen-ciado saiu do grupo dos blastomas pulmonares porque tem padrão histológico bem definido e constitui uma entidade bem definida, mais frequente em mulheres e com metastização lenta; adenocarcinoma mucinoso ou colóide e cistade-nocarcinoma mucinoso, formas pouco frequentes; adenocarcinoma de células em anel e adenocar-cinoma de células claras – com padrão acinar predominante, também menos frequentes e com comportamento agressivo.

O carcinoma de células grandes tem também cinco variantes: carcinoma neuroendócrino de células grandes – com a variante carcinoma neuroendócrino de células grandes combinado, à semelhança do carcinoma de células pequenas; carcinoma basalóide, independente da variante basalóide do carcinoma epidermóide porque na variante de células grandes não há diferenciação reconhecida como epidermóide; carcinoma do tipo linfoepitelioma, carcinoma de células claras, quando não há definição de qualquer padrão de adenocarcinoma e carcinoma de células grandes com fenótipo rabdóide. Esta última variante e a variante tipo linfoepitelioma impõem diagnóstico diferencial para definição da origem primária da neoplasia.

O carcinoma adenoscamoso é definido pela presença de 10% dos padrões de adenocarcinoma e de carcinoma epidermóide, de forma arbitrária, ainda sem reconhecimento da importância da prevalência de um ou de outro padrão.

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elementos pleomórficos, sarcomatóides ou sarcomatosos – formado por entidades que saíram do grupo do carcinoma de células grandes e que abrange também outros tumores, clarificando padrões conhecidos mas que não eram abrangidos pela classificação de 1981: carcinoma com células fusiformes e/ou células gigantes; carcinossar-coma; blastoma pulmonar e outros...

O subgrupo do carcinoma com células fusi-formes e/ou células gigantes compreende três entidades:

- carcinoma pleomórfico

- carcinoma de células fusiformes - carcinoma de células gigantes

A designação «carcinoma pleomórfico» aplica-se quando num adenocarcinoma, num car-cinoma epidermóide ou num carcar-cinoma de células grandes há áreas de células gigantes e /ou de células fusiformes. É também um carcinoma pleomórfico aquele que for constituído por células gigantes e células fusiformes. A diferenciação neuroendócrina, quando associada a estes pa-drões, remete a neoplasia para o grupo dos tumores neuroendócrinos combinados, de células pequenas ou de células grandes.

O carcinóide típico e atípico estão definidos com critérios anteriormente conhecidos, permitindo eliminar a variante de carcinoma de células intermediárias, descrita na classificação de 1981 para o carcinoma de células pequenas. Naturalmente que os carcinomas do tipo das glândulas salivares se impoem e não sofreram caracterização particular.

VALOR PROGNÓSTICO

De uma forma geral, entende-se uma sequência prognóstica na linguagem morfoló-gica que utilizamos para os carcinomas bronco-pulmonares:

- Carcinóide típico - Carcinoma epidermóide - Adenocarcinoma

- Carcinoma adenoscamoso - Carcinoma de células grandes

- Carcinoma com elemento pleomórficos, sarcomatóides ou sarcomatosos

- Carcinoma de células pequenas - Com agravamento sucessivo.

Os tumores neuroendócrinos do pulmão podem ser agrupados da seguinte forma:

- Carcinóide típico - Carcinóide atípico

- Carcinoma neuroendócrino de células grandes

- Carcinoma neuroendócrino de células grandes combinado

- Carcinoma neuroendócrino de células pequenas

- Carcinoma neuroendócrino de células pequenas combinado

- Carcinoma com diferenciação neuroendó-crina morfológica e imuno-histoquímica. O carcinóide atípico distingue-se da forma típica por apresentar entre 2 e 10 mitoses em 10 campos de grande ampliação e necrose. Cursa com metastização entre 40 a 50% dos casos e este critério não o distingue do carcinóide típico que até 15 % dos casos, também metastiza para os gânglios linfáticos hilares.

A caracterização e diferenciação neuroen-dócrina é definida por revelação imuno-histo-química para um marcador neuroendócrino, excluindo-se a enolase específica dos neurónios: cromogranina A, sinaptofisina e CD 56 ou CD57 (Leu 7).

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situação é defendida por William Travis, mas apresenta dificuldade prática de aplicação e entendimento3.

De uma forma geral, os carcinomas neuroen-dócrinos, de células pequenas e de células grandes, têm índice proliferativo elevado e metastização fácil, para as suprarrenais e para o fígado.

A diferenciação neuroendócrina observada nos adenocarcinomas e nos carcinomas epidermóides continua a ser uma área de valorização difícil. Há trabalhos que defendem de forma sistemática e fundamentada posições opostas, de mau prognóstico ou sem interesse4.

Continuam a ser entidades com bom prognós-tico: o carcinoma epidermóide, variante papilar e no grupo do adenocarcinoma, o adenocarcinoma fetal bem diferenciado e o carcinoma bronquíolo--alveolar.

Para o carcinoma bronquíolo-alveolar são reconhecidas as seguintes variantes:

- Mucinoso – multifocal / forma pneumónica - Não Mucinoso – nódulo pulmonar

- Misto

- De difícil classificação (7%).

O diagnóstico de carcinoma bronquíolo-alveo-lar é actualmente rigoroso, baseado no revesti-mento lepídico / em escama, dos septos alveolares pelas células neoplásicas, com colagenização ligeira dos mesmos e sem aspectos de invasão, observando-se características semelhantes às que são apresentadas pela hiperplasia adenomatosa atípica. Há assim manutenção da rede elástica, ausência de metástases ganglionares e sobrevida de 100% aos 5 anos, após ressecção cirúrgica. Com estes critérios, muitos trabalhos anteriores elaborados sobre este tumor têm que ser inter-pretados de forma crítica e cuidadosa5.

Para os adenocarcinomas, são critérios de mau prognóstico: invasão vascular, crescimento pa-pilar superior a 25% do volume tumoral, cicatriz central com mais de 5mm de diâmetro e talvez

diferenciação neuroendócrina em mais de 10% das células tumorais6.

Para os carcinomas de células grandes e car-cinomas com elementos pleomórficos, sarcoma-tóides ou sacomatosos, está implícito mau prognóstico devido a invasão local extensa e metastização periférica. É discutível a utilidade da caracterização epidermóide ou de adenocarci-noma, baseada na imunomarcação, para aplicação terapêutica.

COMENTÁRIO FINAL

A classificação histológica dos carcinomas broncopulmonares da OMS de 1999, será durante muitos anos a tabela a seguir para a sua caracte-rização morfológica.

A terminologia das neoplasias e a sua forma de agrupamento, permitem entendimento prog-nóstico com aplicação prática.

O estadiamento TNM continua a ser a forma que dita o comportamento final dos carcinomas broncopulmonares7. Alguns critérios actuais

apontam para predisposição familiar em doentes jovens e o tabagismo e hipoxemia em cicatrizes pulmonares, conduzem a activação de proto--oncogenes e perturbação da reparação do ADN em células epiteliais.

A detecção precoce de alterações moleculares nas lesões pré-neoplásicas, será o futuro para ultrapassar o drama do carcinoma broncopul-monar. Detecção da metilação do ADN por alteração no gene p16, activação da telomerase e determinação da amplificação da proteína do p53, poderão ser pesquisadas de forma prática e roti-neira naquelas lesões8.

BIBLIOGRAFIA

Histological Typing of Lung and Pleural Tumours, WHO, Springer, 1999.

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DAIL DH, HAMMAR SP. Pulmonary Pathology. New YorK, Springer-Verlag, 1994.

TRAVIS WD. Pathology of lung cancer. Clinics in Chest Medicine 2002; 23: 65 – 81.

HIROSHIMA K, IYODA A, SHIBUYA K, TOYOZAKI T, HAGA Y, FUJISAWA T, OHWADA H. Prognostic sig-nificance of neuroendocrine differentiation in adenocarci-noma of the lung. Ann Thorac Srg 2002; 73(6): 1732-1735. KOGA T, HASHIMOTO S, SUGIO K, YOSHINO I, MOJTAHEDZADEH S, MATSUO Y, YONEMITSU Y, SUGIMACHI K, SUEISHI K. Clinicopathological and mo-lecular evidence indicating the independence of 2.

3. 4.

5.

bronchioloalveolar components from other subtypes of human peripheral lung adenocarcinoma. Clin Cancer Res 2001; 7(6): 1730 -1738.

AMIN MB, TAMBOLI P, MERCHANT SH, ORDONEZ NG, RO J, AYALA AG, RO JY. Micropapillary compo-nent in lung adenocarcinoma : a distinctive histologic fea-ture with possible prognostic significance. Am J Surg Pathol 2002; 26(3): 358-364.

FONG KM, MINNA JD. Molecular biology of lung can-cer: clinical implications. Clinics in Chest Medicine 2002; 23: 83-101.

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Referências

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