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Liberdade em Carl Rogers

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L I B E R D A D E E M C A R L R O G E R S

zyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA

Virgínia Moreira Leitão

VUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA

R E S U M O : E s t e a r t i g o e x p õ e o c o n c e i t o d e l i b e r d a d e t a l c o m o

c o n c e b i d o p o r C a r l R o g e r s , a n a l i s a n d o - o h i s t o r i c a m e n t e d e s d e

s u a o r i g e m . S i t u a a A b o r d a g e m C e n t r a d a n a P e s s o a d e n t r o d a

f i l o s o f i a l i b e r a l c a p i t a l i s t a , q u e s t i o n a n d o s u a s i m p l i c a ç õ e s p o

-l í t i c a s . C r i t i c a a s u b j e t i v i d a d e d e s t e c o n c e i t o e p r o p õ e a b u s c a

d e s u a o b j e t i v a ç ã o .

INTRODUÇAO

liA hipótese de que possuímos, em termos de existência,

o poder de escolher é uma das temerárias conseqüências,

do ponto de vista rogeriano, em que se atribuem ao homem

a liberdade e a responsabilidade de suas opções" .

RacheI L. Rosenberg

A Abordagem Centrada na Pessoa acarreta em seu bojo o tema

da liberdade, implícito na base da proposta de Carl Rogers. Sua cren CI

na liberdade do homem leva-o a desenvolver uma psicoterapia que

chega a ser chamada de terapia da liberdade. 1

Mas que liberdade é essa tratada por Carl Roger ?

conceituada por ele? Qual sua origem histórica? Ouais unt

cações políticas?

i Este trabalho é uma tentativa de refletir sobre e CI lU t •

l. GONDRA, José Maria.

ZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA

L a P s i c o t e r a p i a d e C a r l R O r . . p

Desclee de Bilbao, 1970.

(2)

J.

VUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA

P E S S O A E L I B E R D A D E

Não é por acaso que a Abordagem Centrada na Pessoa enc 1111'11

se impregnada pelo tema da liberdade. Uma perspectiva hist ricI

mostra que o conceito de liberdade encontra-se intimamente associado

ZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA

D O conceito de pessoa, cuja origem etimológica - máscara, na tru

gédia grega - evoluiu seu significado para papel social e, por fim,

para homem livre.

Na Civilização Antiga, inexistia a noção de pessoa, tal como

hoje a conhecemos, associada à liberdade, visto que o homem antig

não tinha poder de escolha. devendo submeter-se ao culto da "polis" .2

Na Grécia Clássica, o homem livre era aquele que participava da vida

política da cidade. Os romanos introduziram os primeiros traços da

atual noção de liberdade individual: a liberdade civil. Assim, na

Antiguidade, inexistia a noção de pessoa, não existindo, igualmente,

a noção de liberdade individual.

WVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA

É somente com o Cristianismo que a noção de pessoa se

con-figura de forma mais concreta, a partir da idéia de liberdade e

igual-dade entre todos os homens.

Entre os pensadores cristãos, podemos citar São Tomás de Aquino

como o grande representante da idéia do homem livre por sua própria

natureza, idéia que reaparece no século XVIII, com os iluministas,

fielmente representados por Rousseau , O significado da noção de

pessoa enquanto homem livre encontra-se, ainda, no final do século

XVIII, através do pensamento de Adam Smith,3 criador da economia

política, base da filosofia capitalista. Com a exaltação da liberdade

individual, na corrente empirista, encontramos Stuart Mill,4 que

in-fluencia fortemente o pensamento liberal burguês, preocupando-se em

mostrar a importância da liberdade individual no sentido de encorajar

o crescimento do h o m o a e c o n o m i c u s .

Desembocamos, assim, no surgimento do Estado Liberal

Capita-lista, cuja base encontra-se na idéia de liberdade, que perpassa a

noção capitalista de pessoa. Sua filosofia básica - liberdade

indi-vidual de escolha e de opções - pressupõe a idéia de pessoa enquanto

homem livre para competir. A libertação espiritual do homem,

ini-ciada pelo Cristianismo, tem continuidade, no Capitalismo, em uma

dimensão intelectual, social e política. através da "liberdade

econô-mica".5

2. FUSTEL DE COULANGES, Numa Denis. A C id a d e A n t ig a . São

Paulo, Hemmus, 1986.

3. SMITH, Adam. OsP e n s a d o r e s . São Paulo, Abril Cultural, 1978.

4. MILL, Stuart. Os P e n s a d o r e s . São Paulo, Abril Cultural, 1979.

5. FROMM, Erich. O M e d o à L i b e r d a d e . Rio de Janeiro, Zahar, 1983.

o

Educação em' Debate, Fort, 19-20, p. 89-.98, jan./<;iez, 1999

1111(. I p 11I11.1I1u.11 noção de pcss~a c~quanto

;onr~~:-I '11 111111I 11' , 'idades cio próprio sistema e

11111111I 111do ,tlpitul: parti~clo lddodPr~:u!o~~fçõ~~e ~o~~~

"I I \111'I ' mpcur em igua a e '

111111,\\\11 I prunclc ilusão. , "

itali "Ima liberdade fictícia.

111\111,I I I ! IsI.ma capíta ísta, dvtVI:,I I 'stema em que vive,

, I VI', i~ ,t!L1' ,i to é prega o :~i~te~a, contribuindo para

,,111I11110.prtl nciro deste mes,m d omunicação de massa,

11111111l i ' I p ndente dos meIOS ed~terminar suas

necessi-,1\h-drulc d~ consum~ qu~ p;s~ a elo mesmo sistema social

111 I I p sta liberdade e a m q u i a a p A I' e e' prisioneiro

. it r ta que se cre rvre,

I I I pll I 'ssc homem capi a IS 'É 1 ue nunca tem tempo

. Inti do seu c:er aque e

q-\ 111I ! \ l ) mais m n m o , . tem sempre

compro-, lh dão prazer porque

I 1 \ I \ I o s c I~as que e it

1

É aquele que sempre consome

, (11111l i ociedade, com o cap: a 'd d dinheiro . deixando-se

d está sempre even o , , .

d i ! que, po e, que d f : aquele que passa a

pnon-1" I I P lu propaganda °d consumo: ~ seu ser Esse homem, que

I \11 I ' nc ligenciando, ca a vez mais, .'

I 11' I'livre, nada tem de livre.

A A B O R D A G E M C E N T R A D A N A P E S S O A

. 1 , D a F u n d a m e n t a ç ã o

t orno pressuposto básico

A Abordagem Centrada na Pessoa ~m c b mos de expor

to homem livre, que aca a

1 'oncepção de pessoa enquan t d Psicologia Humanista, pode ser

. criticar. Enqua~to representa~t:xt~ cultural, cuja gênese enC?l1tra-sc

1\1.lhor compreendida em seu co _ liberal a c ns rvad rlSI11 cio

,

r

S ge como uma reacao 1 <, ' I .

110 líbera ismo. ur , T 6 A Psicanálise v ltada puro c

ICl'lnl-Behaviorismo e da PSlcana ise. tamcnio humano C O I l l ! rr\llo

nnções inconscientes, encaOraBohco~p.ormo defende u m n ( O I 1 t ' ' p Ç l l d

f ' . scipntes e aVlOrlS ,

de atores mcon ~ . di d

10

meio atrav l i til: l ' 111\111

homem enquanto um ser con iciona o pe ,

lações exter?as, ,_ ontrária ao determiniRmo m <:1111i 'I 111.

Assummdo uma posiçao c t' d r rçns 'I '1'1111. l i

f ortamento humano a par Ir ' I

qU,e in e,re o comp a 1 '0 riedade~ interna \I dlls Illld '1\' I

p5tcologla da pessoa parte d s p. P to m conjunt ti, condi '1\'

111-pessoais, enfocando a pessoa enquan o u

, ' 10 as libcralld 010l'Y' 'l'lu 01'1,,1

6. BUSS, Alan. Hun;anTlshtl~r~,SY~~~<;eflA~lnali7.<U n o 10' M , 1 [ . f l I 1 0 ,

roots o f Maslow s .. e .T. ,.p o lit ic s a n d l I u l I u m h t 1 c ' I '. 1/('//11 (I / I ,

ROGERS, Carl et a1111.: t ~ e r t c a n 1 9 1 3 4

Dallas, Saybrook Publlshmg Company, '

(3)

ternas, concatenadas em uma unidade." Esta pessoa é vista como um

indivíduo consciente, capaz de optar, livre.

A fundamentação filosófica da Abordagem Centrada na Pe

WVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA

I

é, portanto, essencialmente existencialista: o homem é o que ele f

VUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA

r ;

um projeto que se vive subjetivamente. "Assim", diz Sartre, "o prl

meiro esforço do Existencialismo é o de pôr todo o homem no domíni )

do que ele ée de lhe atribuir total responsabilidade de sua existência'l.ã

Para o existencialismo sartriano, o homem é liberdade, mas

também angústia. Está condenado a ser livre, na medida em qu

não criou a si mesmo, mas é responsável pelo que fizer, tendo o de

tino em suas próprias mãos.

O pessimismo sartriano, no entanto, não aparece na psicologia

humanista. O existencialismo de Rogers e de outros autores huma

nistas norte-americanos está expurgado das feições européias de m

-lancolia de guerra, preservando um otimismo que pode funcionar

como fonte de alienação de uma realidade de classes, atuando como

uma psicologia conformista. 9

Rogers não se vê como conformista. Protesta, ao contrário,

contra os valores da sociedade oo século X X e idealiza o surgimento

de uma nova pessoa no futuro: o homem realmente livre, que ele não

encontra na sociedade capitalista ocidental. Mas seu protesto não vai

à raiz do problema, não questionando os fundamentos sociais nem a

sociedade que produz a alienação do homem. 10 Acredita que a partir

da transformação pessoal ocorrerá uma transformação social e é neste

sentido que desenvolve sua teoria. buscando o crescimento pessoal.

2 . 2 . D a T e o r i a

A Abordagem Centrada na Pessoa, como sugere a própria

deno-minação, defende a pessoa como c centro das preocupações, como o

fim básico.

Rogers defende a pessoa como sendo, em essência, um organismo

digno de confiança, na medida em que ela traz, em si mesma, uma

tendência natural a desenvolver-se de forma construtiva e positiva.

Esta tendência espontânea, presente em todos os organismos vivos, é

chamada de tendência atualizante, fundamento sobre o qual está

cons-truída a Abordagem Centrada na Pessoa. Rogers a descreve como um

7 RUBINSTEIN, S L.

ZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA

E l S e r u l a C o n c i ê n c i a . La Habana, Editorial

Pueblo y Educaci6n. 1979.

8. SARTRE, J.P. e FERREIRA, V. OE '! : i s t e n c i a ! i s m o é u m H u m a n i s m o .

Lisboa, Ed. Presença Lt.da., 1970, p.

aia.

9. J~COBY, RusseI. A m n é s i a S o c i a l : U m a C r f t i c a à P s i c o l o g i a C o n f o r -m z s t a d e A d l e r e L a i n g . Rio de Janeiro, Zahar, 1977.

10. GONDRA, J.M. Op. cito

92

Edueação em Debate, Fort. 19-20, p. 89-98, jan./dez. 1990

•• I 1\ II 111 I 111 titi imcntal "intrínseca" e "Inerente" à

pes-• pes-• " I ' I " quul R rs a vê como um organismo digno de

1'1 11111 1\1 'S nv Iv c e auto-regula de forma autônoma.

111 ti, 1111 () homem c mo seu próprio arquiteto,13 sua

pro-'I 1111' \ 1 , I u cada neste pressuposto, visa a proporcionar

con-I con-I H I I 1 I " I pc soa, para que ela utilize plenamente seus

" !111 11•• R

r

re-se ao modelo de pessoa que se depreende de

, 111

,I"

.om o d lima pessoa que exerce plenamente as

p~te~-I I I I , li 'U r anismo, não cessando de evoluir.l+ ~ tendência

I I 11,11 Ir Irft [ tona a enorme capacidade de aprendl:agem, e .de

I I 1 . llI d \ 'da pessoa, em uma atmosfera facilitadora q~e e o ~bJettvo

, " I d llp L 'm Centrada na Pessoa, não apenas em psícoterapra. rr:as

11I" 111 1\ trabalho com grupos, com comunidades, com educação.

I I , ' IIS de ajudar a pessoa a dar-se conta de seu poder,

partíci-I partíci-I ld " I l P nsavelmente de cada decisão queAlh~ afeta. ~ 5

l{tl .rs fundamenta seu conceito de tendencI~ a~ualtzant~ da

pvs-II1 111 um movimento universal maior, a tenden~l~ format~v~,que

I 1111 orno "uma capacidade para ~ mudança súbita e criativa .nu

I I d de estados novos e mais complexos" .1 6 Cita trabalhos da

bIO-, " . A' feri do se a

,,, li C da física que fundamentam sua eX.Isten~la: re n

-I mplos tanto da vida orgânica quan~o ~a morgan~ca, como a

for-m ção da galáxia a partir de' um turbilhão de partículas. ou a

for-11. ROGERS. CarI. S o b r e o P o d e r P e s s o a l São Paulo, Martins Fontes,

12

iib~~R~:

earI. Definições das noções teóricas. tn: ROGERS, ar1 .. e KINGET, G. Marian. p s i c o t e r a p i a e R e l a ç õ e s H u m a n a . Vol. I,

Belo Horizonte, Interlivros, 1977,p. 159.

13 ROGERS, CarI. Em retrospecto quarenta o s i ano . In: R G' RS,

. CarI e ROSENBERG, Rachel. A P e s s o a c o m o C e n t r o . o Paulo,

EPU, 1977. d lidad In:

14 ROGERS CarI. O funcionamento ótimo a P r na . .

. ROGERS: CarI e KINGET. Marian. p s t c o t e r a p t a e R t a ç õ H u

-m a n a s . Op. cit. R ERS '1 t allii

15 ROGERS. CarI. The Person. In: MAY,RoHo; " a r .

. P o l i t i c s a n d H u m a n i s t i c P s y c h o l o g y . Dallas, aybr ok Publi híng

Company, 1984. I . R RS

16 ROGERS, CarI. Um novo mundo - uma nova pe a. n. I ,

. CarI et allii. E m B u s c a d e V I d a : d a _ T e r a p i a C e n t r a d a n o C l i e n t e lL A b o r d a g e m C e n t r a d a n a P e s s o a . Sao Paulo.

(4)

mação da célula vida, que forma sempre colônias mais complexas. 17

Na espécie humana, essa tendência S~ expressa quando o indivíduo

progride de seu início unicelular para um funcionamento orgânico

complexo em direção positiva, o que leva Rogers a comparar o

desen-volvimento humano ao de uma planta, que cresce em direção ao sol. 18

VUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA

3 . A L l B E R D A D R N A A B O R D A G E M C E N T R A D A N A

P E S S O A

Uma psicoterapia que trabalha no sentido de facilitar a ativação

do potencial humano inato. vendo o homem enquanto ser autônomo

e responsável, tem como base a idéia de pessoa enouanto liberdade.

Esta idéia, profundamente presente na terapia de Carl Rogers, faz com

que sua teoria

WVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA

s e ja uma terapia da liberdade .19 O processo terapêutico

visa a aprendizagem de ser livre, ou seia, ser pessoa plena. exercendo

todo esse potencial de crescimento. Trata-se de uma liberdade

éxis-tencial . "Não significa carência ahsoluta de determinantes extrínsecos.

mas vivência subjetiva da opção e da responsabilidade". 20 .

No pensamento rogeriano, a realidade é um fenômeno subjetivo,

onde cada ser humano reconstrõí, em si mesmo, o mundo exterior.

"Há em cada indivíduo uma ccnsciência que lhe permite significar e

optar. Essa consciência autônoma e interna é a liberdade ... "21

Rogers descreve liberdade como sendo "essencialmenté algo

ín-timo. alguma coisa que existe na pessoa viva, indeoendentemente de

qualquer das escolhas de alternativas como constituintes da

liber-dade" . 22

E

uma liberdade íntima. subjetiva e existencial. " t ; a

des-coberta do sentido interior, sentido que aparece quando se ouvem,

sensível e abertamente, as complexidades da vivêncía. E o peso de

ser responsável pelo eu que a pessoa decide ser" . 23

"Estamos falando de algo que existe no íntimo do indivíduo. de

alguma coisa fenomeno16gica e não objetiva, mas a ser valorizada",24

17. ROGERS, CarI.

ZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA

U m j e i t o d e s e r . São Paulo, EPU, 1983.

18. Id. Ibid.

19. GONDRA,José Maria. Op. Cito 20. Id. Ibid.

21. LEITE, Ivanise. Apresentação da Edição Brasileira In:

MILHO-LLAN,Frank, e FORISHA, Bill S k i n n e r X R o g e r s : M a n e i r a s C o n -t r a s -t a n -t e s d e E n c a r a r a E d u c a ç ã o . São Paulo, Summus, 1978. p. 8. .

22. ROGERS, Carl. Aprender a ser livre. In: ROGERS. Carl e

STE-VENS, Barry , D e P e s s o a p a r a P e s s o a . São Paulo, Pioneira, 1976,

p . 59.

23. Id. Ibid.

24. Id. Ibid.

94

Educação em Debate, Fart. 19-20, p. 89-98, jan./dez. 1990

••P rtanto estamos falando de uma liberdade que existe

1 IUI ubjctiva, u~a liberdade que ela usa corajos~mente para

I \I I potcncialidades . Estamos falando de uma liberdade em

1I lu d iv í d u o procura realizar-se ao desempenhar um pa~el

r~spon-I I voluntário, ao provocar os acontecimentos do destino e seu

1I1I1I1dll" 2 acrescenta. .. _ d

r

I;

'j terapia rogeriana tem como objetivo a faclhtaçao. a

l-I •• 1111 interior, visto que "a pessoa que é psicologicamente. livre Je

1IIIIIIIIIIho numa direção que a leva a ser uma pesso~, a. f~nclOnar e

I . I o" 26 Através da psicoterapia, o indivíduo

tornar-1111I mo( mais p en . ido ã 'A'

um rganismo que funciona mais plenamente de~1 .

â

a ~ons~lenc~a

I

me

mo E "quanto mais a pessoa viver uma VI a pena, mais

11 ., " 2 7

pc rlmentará a liberdade de escolha . ,

Na visão rogeriana, a liberdade é algo irreversível. Se alguem .a

Iv r vivenciado, continuará sempre lutando por e~~. Pode ser

re~n-111da mas não extinta. Nas palavras de Rogers: a crença no va or

dll pessoa livre não é algo que possa ser extinto, n~m mesmo por todos

I modernos recursos tecnol6gicos - interceptaçao de conversas, uso

~Ic 'hospitais mentais' para recondicionar o comportamento, to~tura

-I trica e tudo o mais. Nada pode extinguir o imp~lso. d~ orgams~o

humano de ser ele mesmo - realizar-se de modo individual e

cna-tivo" . 28

4 . U M A P E R S P E C T I V A C R I T I C A

O tema da liberdade, tão amplamente discutido e controvertido

nas ciências humanas, aparece no pensamento de Carl Rogers através

de uma psicoterapia da liberdade, que acabamos. de exp~r.

Enfo-quemos, agora, uma perspectiva crítica. deste .concelt~ de hb.erdade.

Em primeiro lugar, devemos refletir a psicoterapia roge~lana

en-quanto uma proposta fundamentada no Liberalismo, como assinalam

anteriormente. CarI Rogers nasceu no início do século, exatament n

época em que explodem as idéias liberais. Seu pensamento en ontr

se impregnado pelos valores liberais, a tal ponto que toma o c n 11

de liberdade como fundamento de sua pro~o~~a, defendend . id iI

de homem livre. Ora, como vimos, essa Idel~ de hom m livr f I

parte da filosofia capitalista, estando a seu serviço.

25 Id. Ibid., p. 60. - P I M tln

26'. ROGERS, Carl. T o r n a r - s e P e s s o a . Sao nu o, ar p. 170.

27 Id Ibid., p. 171-172. 1 .' nt .

28: ROGERS, CarI. S o b r e oP o d e r P e s s o a l . fi o auto, M r n 1978, p. 246.

(5)

Em segundo lugar, o conceito rogeriano de liberdade, em si

';le~mo,~erece ser questi~nado. Trata-se de uma liberdade subjetiva,

íntíma, interna.

WVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA

E uma hberdade tratada enquanto um conceito

abs-trato, referindo-se a um homerri também abstrato. Como é que fica

essa liberdade quando' esse homem vive em um sistema social de

classes que o oprime? Como é essa liberdade interior quando esse

ho-mem, também fruto desse sistema social, está amarrado a ele em todo

o seu modo de ser, que nada tem de livre? Como é possível sentir-se

hvre quando não se tem as condições básicas de alimentação e

habi-tação? Que liberdade é essa que, tantas vezes, impossibilita a escolha

do mínimo de condições de vida? Que liberdade é essa que leva 'à

opção do consumo e de relações alienadas entre os homens? Em que

consiste uma liberdade subjetiva dentro de uma realidade social

ob-jetiva de divisão de classes? Como é possível ser livre interiormente

sem sê-lo exteriormente? ' .

O conceito de liberdade da Abordagem Centrada na Pessoa

en-contra-se permeado por uma visão subjetiva e a-histórica de homem

e da realidade social. Para um homem subjetivo e a-histórico,

pressupõe-se' também uma liberdade subjetiva e a-histórica. Tudo se passa em

uma dimensão abstrata que. distante da realidade concreta, é utópica

e ilusória, podendo, desta forma, funcionar até como um instrumento

de manutenção do

VUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA

s t a t u s q u o .

Uma perspectiva crítica do conceito de liberdade da Abordagem

Centrada na Pessoa mostra que este está historicamente impregnado

pelos valores liberais capitalistas. Mais precisamente, a' Abordagem

Centrada na Pessoa utiliza-se do conceito mesmo de liberdade

utili-zado pelo pensamento liberal, base filosófica do sistema de produção

capitalista.

Ora, sabendo das intenções revolucionárias de Carl Rogers no'

que 'diz respeito às transformações sociais, vale àpena examinar

cuida-dosamente e repensar o conceito deliberdade da Abordagem Centrada

na, Pessoa, a partir dessa perspectiva crítica. Se queremos mudanças

concretas.xíevemos ir além dê Carl Rogers, não nos contentando' com

os conceitos' abstratos como este de liberdade.

,Pr{,cisamos partir para os caminhos de concretização do conceito

de "liberdade da Abordagem Centrada na Pessoa, passando, desta

forma, a lidar com ( Ihomem concreto, objetivo, histórico. Então,

pas-saremos às seguintes questões: é possível a superacão do conceito

sub-jetivo de liberdade na Abordagem Centrada na Pessoa? Como

ultra-passá-Io, partindo para uma liberdade objetiva? E possível a existência

de uma liberdade objetiva? Dentro de que condições histórico-sociais?

Como seria uma psicoterapia da liberdade objetiva? E como, nesta

perspectiva; reconstruir o conceito de liberdade da Abordagem Centrada

na Pessoa?

Educação em' Debate, Fort. '19-20;

ZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA

'p , '89-98~ jan.ldéz" 1990

c 'O N 'L U S Ã O

p u içuo e a crítica do conceito de liberdade da A~ordagem ~a

1111 "II " , Pc soa mostra-nos que este merece ser qnestionado ere-11 ,,111, ' queremos, caminhar no sentido de um~ psicologia

compro-" t ld I \ (111 a mudança social, se queremos, especialmente, pensa,r em

" l i I J I '0 1 ia humanista que tenda às necessidades da reahdade

Iu "'1 1111ricana . "

I 'tica do conceito de liberdade da Abordagem Centrada na

I' "'; apenas um aspecto de todo o processo de crítica da,

Abor-I , r u ' mo um todo, Neste sentido, este trabalho, que rest~lllg,e-~e

IlIpl s reflexões sobre o assunto, é uma tentativa de contribuição

I processo mais amplo, na busca de uma psicoterapia voltada

I' " , homem concreto, histórico, no nosso caso, para o homem

Ia-I1111 rmericano, de terceiro mundo,

U E F E R E N C I A S B I B L l O G R A F I C A S

BUSS Alan. Humanistic Psychology as liberal ideology: The social roots 'of Maslow's Theory of SeU Actualization. In: MAY,RollO;, ROGERS, Carl et allii. A m e r i c a n P o l i t i c s a n d P s y c h o l o g y . Dallas,

Saybrook Publishing Company, 1984. ,

~. FROMM,Erich. OM e d o à L i b e r d a d e . Rio de .raaeiro, Zah~r, 198~.

3. FUSTEL DE COULANGES,Numa Denis. A C i d a d e A n t t g a . Sao

Paulo, Hemmus, 1966.

-4. GONDRA,José Maria. L a p s i c o t e r a p i a d e C a r l R o g e r s . Espana,

Desdee de Bilbao, 1970. ,

5. JACOBY, RusseI. A m n é s i a S o c i a l : U m a C r í t i c a à P s i c o l o gt a C o n

-f o r m i s t a d e A d l e r a L a i n g . Rio de Janeiro. Zahar, 1977.

6. LEITE, Ivanise. Apresentação da Edição Brasileira. In: ~ILHOIr LAN Frank e FORISHA, Bill. S k i n n e r X R o g e r s : M a n e · t r a s c o n

-t r a s -t a n -t e s d e E n c a r a r a E d u c a ç ã o , São Paulo, Summus, 1978. 7, MILL, Stuart. Os P e n s a d o r e s . São Paulo, Abril C~ltural, 1978. 8. ROGERS, CarI. T o r n a r - s e P e s s o a . São Paulo, Martms Fontes, 1961.

9. . Aprender a ser lívre , In: ROGER~, ca,rl e STEVENS,

Barry. De P e s s o a p a r a P e s s o a . São Paulo, PIOneIra, 1976.

----o

Definições das noções teóricas. In: ROGERS, ar) 10. KINGET, G. Marian. p s i c o t e r a p i a e R e l a ç õ e s H u m a n a s . Vol I,

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11. . O funcionamento ótimo da persona~ldade. tn: R 11'.1.

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Referências

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