L I B E R D A D E E M C A R L R O G E R S
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Virgínia Moreira Leitão
VUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA
R E S U M O : E s t e a r t i g o e x p õ e o c o n c e i t o d e l i b e r d a d e t a l c o m o
c o n c e b i d o p o r C a r l R o g e r s , a n a l i s a n d o - o h i s t o r i c a m e n t e d e s d e
s u a o r i g e m . S i t u a a A b o r d a g e m C e n t r a d a n a P e s s o a d e n t r o d a
f i l o s o f i a l i b e r a l c a p i t a l i s t a , q u e s t i o n a n d o s u a s i m p l i c a ç õ e s p o
-l í t i c a s . C r i t i c a a s u b j e t i v i d a d e d e s t e c o n c e i t o e p r o p õ e a b u s c a
d e s u a o b j e t i v a ç ã o .
INTRODUÇAO
liA hipótese de que possuímos, em termos de existência,
o poder de escolher é uma das temerárias conseqüências,
do ponto de vista rogeriano, em que se atribuem ao homem
a liberdade e a responsabilidade de suas opções" .
RacheI L. Rosenberg
A Abordagem Centrada na Pessoa acarreta em seu bojo o tema
da liberdade, implícito na base da proposta de Carl Rogers. Sua cren CI
na liberdade do homem leva-o a desenvolver uma psicoterapia que
chega a ser chamada de terapia da liberdade. 1
Mas que liberdade é essa tratada por Carl Roger ?
conceituada por ele? Qual sua origem histórica? Ouais unt
cações políticas?
i Este trabalho é uma tentativa de refletir sobre e CI lU t •
l. GONDRA, José Maria.
ZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA
L a P s i c o t e r a p i a d e C a r l R O r . . pDesclee de Bilbao, 1970.
J.
VUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA
P E S S O A E L I B E R D A D ENão é por acaso que a Abordagem Centrada na Pessoa enc 1111'11
se impregnada pelo tema da liberdade. Uma perspectiva hist ricI
mostra que o conceito de liberdade encontra-se intimamente associado
ZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA
D O conceito de pessoa, cuja origem etimológica - máscara, na tru
gédia grega - evoluiu seu significado para papel social e, por fim,
para homem livre.
Na Civilização Antiga, inexistia a noção de pessoa, tal como
hoje a conhecemos, associada à liberdade, visto que o homem antig
não tinha poder de escolha. devendo submeter-se ao culto da "polis" .2
Na Grécia Clássica, o homem livre era aquele que participava da vida
política da cidade. Os romanos introduziram os primeiros traços da
atual noção de liberdade individual: a liberdade civil. Assim, na
Antiguidade, inexistia a noção de pessoa, não existindo, igualmente,
a noção de liberdade individual.
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É somente com o Cristianismo que a noção de pessoa se
con-figura de forma mais concreta, a partir da idéia de liberdade e
igual-dade entre todos os homens.
Entre os pensadores cristãos, podemos citar São Tomás de Aquino
como o grande representante da idéia do homem livre por sua própria
natureza, idéia que reaparece no século XVIII, com os iluministas,
fielmente representados por Rousseau , O significado da noção de
pessoa enquanto homem livre encontra-se, ainda, no final do século
XVIII, através do pensamento de Adam Smith,3 criador da economia
política, base da filosofia capitalista. Com a exaltação da liberdade
individual, na corrente empirista, encontramos Stuart Mill,4 que
in-fluencia fortemente o pensamento liberal burguês, preocupando-se em
mostrar a importância da liberdade individual no sentido de encorajar
o crescimento do h o m o a e c o n o m i c u s .
Desembocamos, assim, no surgimento do Estado Liberal
Capita-lista, cuja base encontra-se na idéia de liberdade, que perpassa a
noção capitalista de pessoa. Sua filosofia básica - liberdade
indi-vidual de escolha e de opções - pressupõe a idéia de pessoa enquanto
homem livre para competir. A libertação espiritual do homem,
ini-ciada pelo Cristianismo, tem continuidade, no Capitalismo, em uma
dimensão intelectual, social e política. através da "liberdade
econô-mica".5
2. FUSTEL DE COULANGES, Numa Denis. A C id a d e A n t ig a . São
Paulo, Hemmus, 1986.
3. SMITH, Adam. OsP e n s a d o r e s . São Paulo, Abril Cultural, 1978.
4. MILL, Stuart. Os P e n s a d o r e s . São Paulo, Abril Cultural, 1979.
5. FROMM, Erich. O M e d o à L i b e r d a d e . Rio de Janeiro, Zahar, 1983.
o
Educação em' Debate, Fort, 19-20, p. 89-.98, jan./<;iez, 19991111(. I p 11I11.1I1u.11 noção de pcss~a c~quanto
;onr~~:-I '11 111111I 11' , 'idades cio próprio sistema e
11111111I 111do ,tlpitul: parti~clo lddodPr~:u!o~~fçõ~~e ~o~~~
"I I \111'I ' mpcur em igua a e '
111111,\\\11 I prunclc ilusão. , "
itali "Ima liberdade fictícia.
111\111,I I I ! IsI.ma capíta ísta, dvtVI:,I I 'stema em que vive,
, I VI', i~ ,t!L1' ,i to é prega o :~i~te~a, contribuindo para
,,111I11110.prtl nciro deste mes,m d omunicação de massa,
11111111l i ' I p ndente dos meIOS ed~terminar suas
necessi-,1\h-drulc d~ consum~ qu~ p;s~ a elo mesmo sistema social
111 I I p sta liberdade e a m q u i a a p A I' e e' prisioneiro
. it r ta que se cre rvre,
I I I pll I 'ssc homem capi a IS 'É 1 ue nunca tem tempo
. Inti do seu c:er aque e
q-\ 111I ! \ l ) mais m n m o , . tem sempre
compro-, lh dão prazer porque
I 1 \ I \ I o s c I~as que e it
1
É aquele que sempre consome, (11111l i ociedade, com o cap: a 'd d dinheiro . deixando-se
d está sempre even o , , .
d i ! que, po e, que d f : aquele que passa a
pnon-1" I I P lu propaganda °d consumo: ~ seu ser Esse homem, que
I \11 I ' nc ligenciando, ca a vez mais, .'
I 11' I'livre, nada tem de livre.
A A B O R D A G E M C E N T R A D A N A P E S S O A
. 1 , D a F u n d a m e n t a ç ã o
t orno pressuposto básico
A Abordagem Centrada na Pessoa ~m c b mos de expor
to homem livre, que aca a
1 'oncepção de pessoa enquan t d Psicologia Humanista, pode ser
. criticar. Enqua~to representa~t:xt~ cultural, cuja gênese enC?l1tra-sc
1\1.lhor compreendida em seu co _ liberal a c ns rvad rlSI11 cio
,
r
S ge como uma reacao 1 <, ' I .110 líbera ismo. ur , T 6 A Psicanálise v ltada puro c
ICl'lnl-Behaviorismo e da PSlcana ise. tamcnio humano C O I l l ! rr\llo
nnções inconscientes, encaOraBohco~p.ormo defende u m n ( O I 1 t ' ' p Ç l l d
f ' . scipntes e aVlOrlS ,
de atores mcon ~ . di d
10
meio atrav l i til: l ' 111\111homem enquanto um ser con iciona o pe ,
lações exter?as, ,_ ontrária ao determiniRmo m <:1111i 'I 111.
Assummdo uma posiçao c t' d r rçns 'I '1'1111. l i
f ortamento humano a par Ir ' I
qU,e in e,re o comp a 1 '0 riedade~ interna \I dlls Illld '1\' I
p5tcologla da pessoa parte d s p. P to m conjunt ti, condi '1\'
111-pessoais, enfocando a pessoa enquan o u
, ' 10 as libcralld 010l'Y' 'l'lu 01'1,,1
6. BUSS, Alan. Hun;anTlshtl~r~,SY~~~<;eflA~lnali7.<U n o 10' M , 1 [ . f l I 1 0 ,
roots o f Maslow s .. e .T. ,.p o lit ic s a n d l I u l I u m h t 1 c ' I '. 1/('//11 (I / I ,
ROGERS, Carl et a1111.: t ~ e r t c a n 1 9 1 3 4
Dallas, Saybrook Publlshmg Company, '
ternas, concatenadas em uma unidade." Esta pessoa é vista como um
indivíduo consciente, capaz de optar, livre.
A fundamentação filosófica da Abordagem Centrada na Pe
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Ié, portanto, essencialmente existencialista: o homem é o que ele f
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r ;um projeto que se vive subjetivamente. "Assim", diz Sartre, "o prl
meiro esforço do Existencialismo é o de pôr todo o homem no domíni )
do que ele ée de lhe atribuir total responsabilidade de sua existência'l.ã
Para o existencialismo sartriano, o homem é liberdade, mas
também angústia. Está condenado a ser livre, na medida em qu
não criou a si mesmo, mas é responsável pelo que fizer, tendo o de
tino em suas próprias mãos.
O pessimismo sartriano, no entanto, não aparece na psicologia
humanista. O existencialismo de Rogers e de outros autores huma
nistas norte-americanos está expurgado das feições européias de m
-lancolia de guerra, preservando um otimismo que pode funcionar
como fonte de alienação de uma realidade de classes, atuando como
uma psicologia conformista. 9
Rogers não se vê como conformista. Protesta, ao contrário,
contra os valores da sociedade oo século X X e idealiza o surgimento
de uma nova pessoa no futuro: o homem realmente livre, que ele não
encontra na sociedade capitalista ocidental. Mas seu protesto não vai
à raiz do problema, não questionando os fundamentos sociais nem a
sociedade que produz a alienação do homem. 10 Acredita que a partir
da transformação pessoal ocorrerá uma transformação social e é neste
sentido que desenvolve sua teoria. buscando o crescimento pessoal.
2 . 2 . D a T e o r i a
A Abordagem Centrada na Pessoa, como sugere a própria
deno-minação, defende a pessoa como c centro das preocupações, como o
fim básico.
Rogers defende a pessoa como sendo, em essência, um organismo
digno de confiança, na medida em que ela traz, em si mesma, uma
tendência natural a desenvolver-se de forma construtiva e positiva.
Esta tendência espontânea, presente em todos os organismos vivos, é
chamada de tendência atualizante, fundamento sobre o qual está
cons-truída a Abordagem Centrada na Pessoa. Rogers a descreve como um
7 RUBINSTEIN, S L.
ZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA
E l S e r u l a C o n c i ê n c i a . La Habana, EditorialPueblo y Educaci6n. 1979.
8. SARTRE, J.P. e FERREIRA, V. OE '! : i s t e n c i a ! i s m o é u m H u m a n i s m o .
Lisboa, Ed. Presença Lt.da., 1970, p.
aia.
9. J~COBY, RusseI. A m n é s i a S o c i a l : U m a C r f t i c a à P s i c o l o g i a C o n f o r -m z s t a d e A d l e r e L a i n g . Rio de Janeiro, Zahar, 1977.
10. GONDRA, J.M. Op. cito
92
Edueação em Debate, Fort. 19-20, p. 89-98, jan./dez. 1990•• I 1\ II 111 I 111 titi imcntal "intrínseca" e "Inerente" à
pes-• pes-• " I ' I " quul R rs a vê como um organismo digno de
1'1 11111 1\1 'S nv Iv c e auto-regula de forma autônoma.
111 ti, 1111 () homem c mo seu próprio arquiteto,13 sua
pro-'I 1111' \ 1 , I u cada neste pressuposto, visa a proporcionar
con-I con-I H I I 1 I " I pc soa, para que ela utilize plenamente seus
" !111 11•• R
r
re-se ao modelo de pessoa que se depreende de, 111
,I"
.om o d lima pessoa que exerce plenamente asp~te~-I I I I , li 'U r anismo, não cessando de evoluir.l+ ~ tendência
I I 11,11 Ir Irft [ tona a enorme capacidade de aprendl:agem, e .de
I I 1 . llI d \ 'da pessoa, em uma atmosfera facilitadora q~e e o ~bJettvo
, " I d llp L 'm Centrada na Pessoa, não apenas em psícoterapra. rr:as
11I" 111 1\ trabalho com grupos, com comunidades, com educação.
I I , ' IIS de ajudar a pessoa a dar-se conta de seu poder,
partíci-I partíci-I ld " I l P nsavelmente de cada decisão queAlh~ afeta. ~ 5
l{tl .rs fundamenta seu conceito de tendencI~ a~ualtzant~ da
pvs-II1 111 um movimento universal maior, a tenden~l~ format~v~,que
I 1111 orno "uma capacidade para ~ mudança súbita e criativa .nu
I I d de estados novos e mais complexos" .1 6 Cita trabalhos da
bIO-, " . A' feri do se a
,,, li C da física que fundamentam sua eX.Isten~la: re n
-I mplos tanto da vida orgânica quan~o ~a morgan~ca, como a
for-m ção da galáxia a partir de' um turbilhão de partículas. ou a
for-11. ROGERS. CarI. S o b r e o P o d e r P e s s o a l São Paulo, Martins Fontes,
12
iib~~R~:
earI. Definições das noções teóricas. tn: ROGERS, ar1 .. e KINGET, G. Marian. p s i c o t e r a p i a e R e l a ç õ e s H u m a n a . Vol. I,Belo Horizonte, Interlivros, 1977,p. 159.
13 ROGERS, CarI. Em retrospecto quarenta o s i ano . In: R G' RS,
. CarI e ROSENBERG, Rachel. A P e s s o a c o m o C e n t r o . o Paulo,
EPU, 1977. d lidad In:
14 ROGERS CarI. O funcionamento ótimo a P r na . .
. ROGERS: CarI e KINGET. Marian. p s t c o t e r a p t a e R t a ç õ H u
-m a n a s . Op. cit. R ERS '1 t allii
15 ROGERS. CarI. The Person. In: MAY,RoHo; " a r .
. P o l i t i c s a n d H u m a n i s t i c P s y c h o l o g y . Dallas, aybr ok Publi híng
Company, 1984. I . R RS
16 ROGERS, CarI. Um novo mundo - uma nova pe a. n. I ,
. CarI et allii. E m B u s c a d e V I d a : d a _ T e r a p i a C e n t r a d a n o C l i e n t e lL A b o r d a g e m C e n t r a d a n a P e s s o a . Sao Paulo.
mação da célula vida, que forma sempre colônias mais complexas. 17
Na espécie humana, essa tendência S~ expressa quando o indivíduo
progride de seu início unicelular para um funcionamento orgânico
complexo em direção positiva, o que leva Rogers a comparar o
desen-volvimento humano ao de uma planta, que cresce em direção ao sol. 18
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3 . A L l B E R D A D R N A A B O R D A G E M C E N T R A D A N A
P E S S O A
Uma psicoterapia que trabalha no sentido de facilitar a ativação
do potencial humano inato. vendo o homem enquanto ser autônomo
e responsável, tem como base a idéia de pessoa enouanto liberdade.
Esta idéia, profundamente presente na terapia de Carl Rogers, faz com
que sua teoria
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s e ja uma terapia da liberdade .19 O processo terapêuticovisa a aprendizagem de ser livre, ou seia, ser pessoa plena. exercendo
todo esse potencial de crescimento. Trata-se de uma liberdade
éxis-tencial . "Não significa carência ahsoluta de determinantes extrínsecos.
mas vivência subjetiva da opção e da responsabilidade". 20 .
No pensamento rogeriano, a realidade é um fenômeno subjetivo,
onde cada ser humano reconstrõí, em si mesmo, o mundo exterior.
"Há em cada indivíduo uma ccnsciência que lhe permite significar e
optar. Essa consciência autônoma e interna é a liberdade ... "21
Rogers descreve liberdade como sendo "essencialmenté algo
ín-timo. alguma coisa que existe na pessoa viva, indeoendentemente de
qualquer das escolhas de alternativas como constituintes da
liber-dade" . 22
E
uma liberdade íntima. subjetiva e existencial. " t ; ades-coberta do sentido interior, sentido que aparece quando se ouvem,
sensível e abertamente, as complexidades da vivêncía. E o peso de
ser responsável pelo eu que a pessoa decide ser" . 23
"Estamos falando de algo que existe no íntimo do indivíduo. de
alguma coisa fenomeno16gica e não objetiva, mas a ser valorizada",24
17. ROGERS, CarI.
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U m j e i t o d e s e r . São Paulo, EPU, 1983.18. Id. Ibid.
19. GONDRA,José Maria. Op. Cito 20. Id. Ibid.
21. LEITE, Ivanise. Apresentação da Edição Brasileira In:
MILHO-LLAN,Frank, e FORISHA, Bill S k i n n e r X R o g e r s : M a n e i r a s C o n -t r a s -t a n -t e s d e E n c a r a r a E d u c a ç ã o . São Paulo, Summus, 1978. p. 8. .
22. ROGERS, Carl. Aprender a ser livre. In: ROGERS. Carl e
STE-VENS, Barry , D e P e s s o a p a r a P e s s o a . São Paulo, Pioneira, 1976,
p . 59.
23. Id. Ibid.
24. Id. Ibid.
94
Educação em Debate, Fart. 19-20, p. 89-98, jan./dez. 1990
••P rtanto estamos falando de uma liberdade que existe
1 IUI ubjctiva, u~a liberdade que ela usa corajos~mente para
I \I I potcncialidades . Estamos falando de uma liberdade em
1I lu d iv í d u o procura realizar-se ao desempenhar um pa~el
r~spon-I I voluntário, ao provocar os acontecimentos do destino e seu
1I1I1I1dll" 2 acrescenta. .. _ d
r
I;
'j terapia rogeriana tem como objetivo a faclhtaçao. al-I •• 1111 interior, visto que "a pessoa que é psicologicamente. livre Je
1IIIIIIIIIIho numa direção que a leva a ser uma pesso~, a. f~nclOnar e
I . I o" 26 Através da psicoterapia, o indivíduo
tornar-1111I mo( mais p en . ido ã 'A'
um rganismo que funciona mais plenamente de~1 .
â
a ~ons~lenc~aI
me
mo E "quanto mais a pessoa viver uma VI a pena, mais11 ., " 2 7
pc rlmentará a liberdade de escolha . ,
Na visão rogeriana, a liberdade é algo irreversível. Se alguem .a
Iv r vivenciado, continuará sempre lutando por e~~. Pode ser
re~n-111da mas não extinta. Nas palavras de Rogers: a crença no va or
dll pessoa livre não é algo que possa ser extinto, n~m mesmo por todos
I modernos recursos tecnol6gicos - interceptaçao de conversas, uso
~Ic 'hospitais mentais' para recondicionar o comportamento, to~tura
-I trica e tudo o mais. Nada pode extinguir o imp~lso. d~ orgams~o
humano de ser ele mesmo - realizar-se de modo individual e
cna-tivo" . 28
4 . U M A P E R S P E C T I V A C R I T I C A
O tema da liberdade, tão amplamente discutido e controvertido
nas ciências humanas, aparece no pensamento de Carl Rogers através
de uma psicoterapia da liberdade, que acabamos. de exp~r.
Enfo-quemos, agora, uma perspectiva crítica. deste .concelt~ de hb.erdade.
Em primeiro lugar, devemos refletir a psicoterapia roge~lana
en-quanto uma proposta fundamentada no Liberalismo, como assinalam
anteriormente. CarI Rogers nasceu no início do século, exatament n
época em que explodem as idéias liberais. Seu pensamento en ontr
se impregnado pelos valores liberais, a tal ponto que toma o c n 11
de liberdade como fundamento de sua pro~o~~a, defendend . id iI
de homem livre. Ora, como vimos, essa Idel~ de hom m livr f I
parte da filosofia capitalista, estando a seu serviço.
25 Id. Ibid., p. 60. - P I M tln
26'. ROGERS, Carl. T o r n a r - s e P e s s o a . Sao nu o, ar p. 170.
27 Id Ibid., p. 171-172. 1 .' nt .
28: ROGERS, CarI. S o b r e oP o d e r P e s s o a l . fi o auto, M r n 1978, p. 246.
Em segundo lugar, o conceito rogeriano de liberdade, em si
';le~mo,~erece ser questi~nado. Trata-se de uma liberdade subjetiva,
íntíma, interna.
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E uma hberdade tratada enquanto um conceitoabs-trato, referindo-se a um homerri também abstrato. Como é que fica
essa liberdade quando' esse homem vive em um sistema social de
classes que o oprime? Como é essa liberdade interior quando esse
ho-mem, também fruto desse sistema social, está amarrado a ele em todo
o seu modo de ser, que nada tem de livre? Como é possível sentir-se
hvre quando não se tem as condições básicas de alimentação e
habi-tação? Que liberdade é essa que, tantas vezes, impossibilita a escolha
do mínimo de condições de vida? Que liberdade é essa que leva 'à
opção do consumo e de relações alienadas entre os homens? Em que
consiste uma liberdade subjetiva dentro de uma realidade social
ob-jetiva de divisão de classes? Como é possível ser livre interiormente
sem sê-lo exteriormente? ' .
O conceito de liberdade da Abordagem Centrada na Pessoa
en-contra-se permeado por uma visão subjetiva e a-histórica de homem
e da realidade social. Para um homem subjetivo e a-histórico,
pressupõe-se' também uma liberdade subjetiva e a-histórica. Tudo se passa em
uma dimensão abstrata que. distante da realidade concreta, é utópica
e ilusória, podendo, desta forma, funcionar até como um instrumento
de manutenção do
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s t a t u s q u o .Uma perspectiva crítica do conceito de liberdade da Abordagem
Centrada na Pessoa mostra que este está historicamente impregnado
pelos valores liberais capitalistas. Mais precisamente, a' Abordagem
Centrada na Pessoa utiliza-se do conceito mesmo de liberdade
utili-zado pelo pensamento liberal, base filosófica do sistema de produção
capitalista.
Ora, sabendo das intenções revolucionárias de Carl Rogers no'
que 'diz respeito às transformações sociais, vale àpena examinar
cuida-dosamente e repensar o conceito deliberdade da Abordagem Centrada
na, Pessoa, a partir dessa perspectiva crítica. Se queremos mudanças
concretas.xíevemos ir além dê Carl Rogers, não nos contentando' com
os conceitos' abstratos como este de liberdade.
,Pr{,cisamos partir para os caminhos de concretização do conceito
de "liberdade da Abordagem Centrada na Pessoa, passando, desta
forma, a lidar com ( Ihomem concreto, objetivo, histórico. Então,
pas-saremos às seguintes questões: é possível a superacão do conceito
sub-jetivo de liberdade na Abordagem Centrada na Pessoa? Como
ultra-passá-Io, partindo para uma liberdade objetiva? E possível a existência
de uma liberdade objetiva? Dentro de que condições histórico-sociais?
Como seria uma psicoterapia da liberdade objetiva? E como, nesta
perspectiva; reconstruir o conceito de liberdade da Abordagem Centrada
na Pessoa?
Educação em' Debate, Fort. '19-20;
ZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA
'p , '89-98~ jan.ldéz" 1990c 'O N 'L U S Ã O
p u içuo e a crítica do conceito de liberdade da A~ordagem ~a
1111 "II " , Pc soa mostra-nos que este merece ser qnestionado ere-11 ,,111, ' queremos, caminhar no sentido de um~ psicologia
compro-" t ld I \ (111 a mudança social, se queremos, especialmente, pensa,r em
" l i I J I '0 1 ia humanista que tenda às necessidades da reahdade
Iu "'1 1111ricana . "
I 'tica do conceito de liberdade da Abordagem Centrada na
I' "'; apenas um aspecto de todo o processo de crítica da,
Abor-I , r u ' mo um todo, Neste sentido, este trabalho, que rest~lllg,e-~e
IlIpl s reflexões sobre o assunto, é uma tentativa de contribuição
I processo mais amplo, na busca de uma psicoterapia voltada
I' " , homem concreto, histórico, no nosso caso, para o homem
Ia-I1111 rmericano, de terceiro mundo,
U E F E R E N C I A S B I B L l O G R A F I C A S
BUSS Alan. Humanistic Psychology as liberal ideology: The social roots 'of Maslow's Theory of SeU Actualization. In: MAY,RollO;, ROGERS, Carl et allii. A m e r i c a n P o l i t i c s a n d P s y c h o l o g y . Dallas,
Saybrook Publishing Company, 1984. ,
~. FROMM,Erich. OM e d o à L i b e r d a d e . Rio de .raaeiro, Zah~r, 198~.
3. FUSTEL DE COULANGES,Numa Denis. A C i d a d e A n t t g a . Sao
Paulo, Hemmus, 1966.
-4. GONDRA,José Maria. L a p s i c o t e r a p i a d e C a r l R o g e r s . Espana,
Desdee de Bilbao, 1970. ,
5. JACOBY, RusseI. A m n é s i a S o c i a l : U m a C r í t i c a à P s i c o l o gt a C o n
-f o r m i s t a d e A d l e r a L a i n g . Rio de Janeiro. Zahar, 1977.
6. LEITE, Ivanise. Apresentação da Edição Brasileira. In: ~ILHOIr LAN Frank e FORISHA, Bill. S k i n n e r X R o g e r s : M a n e · t r a s c o n
-t r a s -t a n -t e s d e E n c a r a r a E d u c a ç ã o , São Paulo, Summus, 1978. 7, MILL, Stuart. Os P e n s a d o r e s . São Paulo, Abril C~ltural, 1978. 8. ROGERS, CarI. T o r n a r - s e P e s s o a . São Paulo, Martms Fontes, 1961.
9. . Aprender a ser lívre , In: ROGER~, ca,rl e STEVENS,
Barry. De P e s s o a p a r a P e s s o a . São Paulo, PIOneIra, 1976.
----o
Definições das noções teóricas. In: ROGERS, ar) 10. KINGET, G. Marian. p s i c o t e r a p i a e R e l a ç õ e s H u m a n a s . Vol I,Belo Horizonte, Interlivros, 1977. ,
11. . O funcionamento ótimo da persona~ldade. tn: R 11'.1.
CarI e KINGET, Marian. p s i c o t e r a p i a eR e l a ç o e s I l u m m / ( / s Vo! 1,
Belo Horizonte, Interlivros, 1977.
12. .
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Em retrospecto quarenta e seis anos. In: ROGERS. Carl e ROSENBERG. Rachei.ZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA
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