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Transições de fase induzidas por altas pressões no molibdato de ítrio

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(1)

Abra˜ao Cefas Torres Dias

Transic¸˜oes de Fase Induzidas por Altas Press˜oes no

Molibdato de ´Itrio.

Fortaleza – CE

(2)

Transic¸˜oes de Fase Induzidas por Altas Press˜oes

Hidrost´aticas no Molibdato de ´Itrio.

Dissertac¸˜ao apresentada ao departamento de F´ısica da Universidade Federal do Cear´a, como parte dos requisitos para a obtenc¸˜ao do t´ıtulo de Mestre em F´ısica.

Orientador:

Prof. Dr. Antˆonio Gomes de Souza Filho

Co-orientador:

Dr. Cleˆanio da Luz Lima

MESTRADO EM F´ISICA DEPARTAMENTO DE F´ISICA

CENTRO DE CIENCIASˆ

UNIVERSIDADEFEDERAL DO CEARA´

Fortaleza – CE

(3)

Dissertac¸˜ao de Mestrado sob o t´ıtulo Transic¸˜oes de Fase Induzidas por Altas Press˜oes

Hidrost´aticas no Molibdato de ´Itrio., defendida por Abra˜ao Cefas Torres Dias e aprovada em 20

de Setembro de 2011, em Fortaleza, Cear´a, pela banca examinadora constitu´ıda pelos doutores:

Prof. Dr. Antˆonio Gomes de Souza Filho

Departamento de F´ısica - Universidade Federal do Cear´a Orientador

Prof. Dr. Paulo de Tarso Cavalcante Freire

Departamento de F´ısica - Universidade Federal do Cear´a

Prof. Dr. Jerias Alves Batista

Departamento de F´ısica - Universidade Federal do Maranh˜ao

Dr. Cleˆanio da Luz Lima

Departamento de F´ısica - Universidade Federal do Piau´ı Co-orientador

(4)
(5)

Agradecimentos

Ao professor Gomes, pelas oportunidades e orientac¸˜ao deste trabalho.

Ao Cleˆanio, pela co-orientac¸˜ao deste trabalho.

Ao professor Josu´e, pela motivac¸˜ao constante.

Ao professor Carlos Alberto, pela iniciac¸˜ao cient´ıfica e amizade.

Ao professor Paulo de Tarso, pela ajuda com os experimentos.

Ao professor Waldeci Paraguassu, pelos calculos de dinˆamica de rede.

Ao professor Bojan Marinkovic, pelas amostras.

Ao professor Humberto Terrones, pelas dicuss˜oes sobre este trabalho.

Ao professor Milton, pelos excelentes cursos de Mecˆanica Quˆantica.

Ao professor Ramos, pelos cursos de F´ısica Matem´atica e Mecˆanica Estat´ıstica.

Ao professor Evangelista, pelos v´arios cursos ministrados na graduac¸˜ao.

`

A Katiane, pela amizade e ajuda nos experimentos.

Ao Acr´ısio, pela amizade e pelas in´umeras pequenas ajudas ao longo do mestrado.

Ao Eduardo, pela amizade e discuss˜oes sobre diversos assuntos da F´ısica.

Ao Rafael, pela amizade e pelas excelentes discuss˜oes sobre F´ısica do Estado S´olido.

Ao Bruno, pelas discuss˜oes sobre F´ısica de Altas Press˜oes e aux´ılio no laborat´orio.

Ao colegas Paschoal, Saulo, Ernerson, Pablo, J.J., Ana, S´ergio e Neves, pelo aprendizado.

`

A CAPES, ao CNPQ e `a FUNCAP pelo financiamento das nossas pesquisas e bolsas.

(6)
(7)

Resumo

Neste trabalho investigamos as propriedades vibracionais do molibdato de ´ıtrio hidratado e

anidro em func¸˜ao da press˜ao hidrost´atica. A an´alise dos modos vibracionais mostra que esse

material experimenta uma transic¸˜ao de fase da estrutura ortorrˆombica para uma fase de mais

baixa simetria para valores de press˜ao em torno de 0,3 GPa, provavelmente monocl´ınica, antes

de se transformar em uma estrutura com alto grau de desordem a partir de 2,4 GPa. A transic¸˜ao

estrutural da fase ordenada para a fase desordenada n˜ao ´e revers´ıvel, indicando que o material

provavelmente entrou em um estado de amorfizac¸˜ao. O comportamento dos modos vibracionais

(8)
(9)

Conte ´udo

Resumo p. vi

Abstract p. vii

Lista de Figuras p. x

Lista de Tabelas p. xii

Introduc¸˜ao p. 1

1 Propriedades F´ısicas dos Molibdatos p. 3

1.1 Molibdatos e Tungstatos . . . p. 3

1.2 Efeitos observados nos molibdatos sob altas press˜oes . . . p. 5

1.3 O Molibdato de ´Itrio . . . p. 6

2 M´etodos p. 8

2.1 Fundamentos do espalhamento Raman . . . p. 8

2.2 Dinˆamica de Rede . . . p. 13

2.3 T´ecnica para obter altas press˜oes hidrost´aticas . . . p. 14

2.4 Detalhes do experimento . . . p. 16

2.5 Tratamento dos dados experimentais . . . p. 17

3 Resultados e Discuss˜oes p. 18

3.1 An´alise de Teoria de Grupos . . . p. 18

(10)

4 Conclus˜oes e Perspectivas p. 37

Bibliografia p. 39

(11)

Lista de Figuras

1.1 Estrutura cristalina do Y2(MoO4)3 (Pbcn). Tetraedros escuros representam

MoO4e octaedros claros representam YO6. Adaptac¸˜ao do original [33]. . . . p. 7

2.1 Diagramas de n´ıveis ilustrando os diferentes tipos de espalhamento de luz

n˜ao ressonantes. Respectivamente, hνi, hνs e Evib representam as energias

dos f´otons incidentes, espalhados e as energias das vibrac¸˜oes. . . p. 9

2.2 Modelo cl´assico da interac¸˜ao entre radiac¸˜ao eletromagn´etica e mat´eria. Os

´ındices ‘i’ e ‘s’ est˜ao para incidente e espalhado, respectivamente. ω, p e ~ks˜ao frequˆencia, polarizac¸˜ao e vetor de propagac¸˜ao, respectivamente. Ii ´e a

intensidade da luz incidente eIs ´e a intensidade da luz espalhada. . . p. 10

2.3 Detalhe da bigorna de diamante, gaxeta e amostra. Adaptac¸˜ao do original

[41]. . . p. 14

2.4 Detalhe da gaxeta. Adaptac¸˜ao do original [41]. . . p. 15

2.5 C´elula de press˜ao tipo NBS. Adaptac¸˜ao do original [41]. . . p. 15

2.6 Deslocamento do rubi em relac¸˜ao `a energia do laser (2,41 eV) utilizado na

excitac¸˜ao. . . p. 16

3.1 Valores calculados para as constantes de forc¸a em func¸˜ao da distˆancia da

ligac¸˜ao entre os diferentes ´atomos do Y2(MoO4)3. . . p. 21

3.2 Autovetores e autovalores para os modos de baixa energia dos tetraedros

MoO4para a representac¸˜ao irredut´ıvel Ag. . . p. 22

3.3 Autovetores e autovalores para os modos de alta energia dos tetraedros MoO4

para a representac¸˜ao irredut´ıvel Ag. . . p. 22

3.4 Espectros Raman do molibdato de ´ıtrio nas fases anidra (Y2(MoO4)3) e hidratada

(Y2(MoO4)3·3H2O) medidos em condic¸˜oes de temperatura e press˜ao ambiente. p. 23

3.5 Espectro Raman do Y2(MoO4)3 logo ap´os ser transferido para o interior da

(12)

GPa e 0,3 GPa). . . p. 28

3.8 Comparac¸˜ao dos espectros tomados em 2,4 GPa (regime de compress˜ao), 9,6

GPa (m´axima press˜ao atingida em nosso experimento) e 0,2 GPa (regime de

descompress˜ao). . . p. 29

3.9 Variac¸˜ao da largura dos modos de flex˜ao com a press˜ao. . . p. 30

3.10 Variac¸˜ao da largura dos modos de estiramento assim´etrico com a press˜ao. . . p. 30

3.11 Variac¸˜ao da largura dos modos de estiramento sim´etrico com a press˜ao. . . . p. 31

3.12 Variac¸˜ao da largura dos modos remanescentes durante a descompress˜ao. . . . p. 31

3.13 Variac¸˜ao da posic¸˜ao dos modos do Y2(MoO4)3durante a compress˜ao. . . p. 32

3.14 Espectro Raman do Y2(MoO4)3·xH2O (x< 3) ap´os ser transferido para a

c´elula de press˜ao. . . p. 33

3.15 Espectros do Y2(MoO4)3·xH2O (x<3) em func¸˜ao da press˜ao hidrost´atica. . . p. 34

3.16 Dependˆencia da frequˆencia dos modos do Y2(MoO4)3·xH2O (x<3) em func¸˜ao

da press˜ao. . . p. 35

3.17 Dependˆencia da largura de linha dos modos do Y2(MoO4)3·xH2O (x<3) em

func¸˜ao da press˜ao. . . p. 36

(13)

Lista de Tabelas

3.1 Tabela de correlac¸˜ao dos modos para 8MoO4ocupando s´ıtio C1 na simetria

D2h. . . p. 19

3.2 Tabela de correlac¸˜ao dos modos para 4MoO4ocupando s´ıtio C2 na simetria

D2h. . . p. 19

3.3 Valores dos parˆametros utilizados no potencial de Buckingham. . . p. 20

3.4 Frequˆencias e identificac¸˜ao dos modos vibracionais dos tetraedros MoO4

cal-culados usando dinˆamica de rede. . . p. 21

3.5 Identificac¸˜ao do modos do Y2(MoO4)3observados experimentalmente. . . . p. 24

3.6 Valores deα (cm−1GPa−1) eω0(cm−1) determinados para: Fase 1 (entre 0,3

e 1,1 GPa) e Fase 2 (entre 2,4 GPa e 9,6 GPa). . . p. 32

3.7 Valores de ω0 (cm−1) e α (cm−1GPa−1) obtidos ajustando as frequˆencias

(14)

Introduc¸˜ao

As t´ecnicas de Altas Press˜oes est˜ao presentes em muitos estudos nas diversas disciplinas

do conhecimento na literatura cient´ıfica, constituindo uma importante ferramenta de pesquisa

interdisciplinar. Do ponto de vista da Geologia, essas t´ecnicas reproduzem em laborat´orio

as condic¸˜oes extremas de altas press˜oes encontradas nas camadas interiores da Terra, onde a

press˜ao ´e uma vari´avel determinante para a s´ıntese natural de alguns materiais (o diamante ´e

um exemplo cl´assico). Do ponto de vista da F´ısica de estado s´olido, oferece um meio eficaz

de investigar a estrutura da mat´eria, interac¸˜oes interatˆomicas, propriedades eletromagn´eticas e

mecˆanicas.

Podemos dizer que a F´ısica de Altas Press˜oes consiste em aliar modelos te´oricos e t´ecnicas

experimentais para descrever e aplicar press˜oes elevad´ıssimas (da ordem de gigapascais, 1atm

= 105Pa) e observar os efeitos induzidos na mat´eria utilizando em geral difrac¸˜ao e absorc¸˜ao de raios-X, espalhamento Raman (usada neste trabalho), absorc¸˜ao no infravermelho e, em alguns

casos, medidas el´etricas. Realizar um experimento de espectroscopia Raman em altas press˜oes

significa acessar a resposta vibracional de um material com o aumento da press˜ao sobre ele

apli-cada e determinar a partir dos resultados a influˆencia da press˜ao na estrutura e nas propriedades

do material estudado. Essa resposta ´e intimamente ligada ao arranjo molecular e as mudanc¸as

estruturais s˜ao observadas atrav´es das mudanc¸as no espectro vibracional.

Na mat´eria, as distˆancias interatˆomicas s˜ao reguladas pelas interac¸˜oes de curto e longo

al-cance entre os ´atomos. Podemos interferir nas distˆancias interatˆomicas de um material variando

a temperatura ou a press˜ao. Variac¸˜oes de temperatura provocam mudanc¸as na populac¸˜ao de

fˆonons, o que n˜ao ocorre se utilizarmos como parˆametro a press˜ao mantendo a temperatura

aproximadamente constante. A press˜ao hidrost´atica em n´ıveis elevados induz variac¸˜oes mais

dr´asticas nas distˆancias interatˆomicas, tornando-a mais eficiente do que a temperatura para esta

finalidade. De modo geral, a press˜ao hidrost´atica aplicada sobre um material tem como

con-sequˆencia a reduc¸˜ao das distˆancias entre os ´atomos que o comp˜oe, bem como a reduc¸˜ao do

volume, e ´e, portanto, uma ferramenta fundamental para investigar o delicado balanc¸o entre

as forc¸as de longo e curto alcance. Reduzir as distˆancias interatˆomicas e detectar as mudanc¸as

ocorridas nas propriedades estruturais de um material pode fornecer pistas sobre os mecanismos

(15)

2

ferramenta para as ciˆencias e engenharia dos materiais.

Nos s´olidos cristalinos (cristal, por simplicidade), o balanc¸o entre as interac¸˜oes de curto e

longo alcance ´e respons´avel pela estabilidade da estrutura cristalina e pela emergˆencia de

diver-sos fenˆomenos coletivos, tais como a ferroeletricidade. Quando um ´atomo ´e deslocado da sua

posic¸˜ao de equil´ıbrio dentro de um cristal, ele sofre ac¸˜ao de uma forc¸a restauradora devido as

interac¸˜oes interatˆomicas e portanto vibra em determinadas frequˆencias caracter´ısticas,

determi-nadas pela dinˆamica dos fˆonons da rede cristalina [1]. Essas vibrac¸˜oes s˜ao fortemente

depen-dentes da estrutura da rede e influenciam diretamente as propriedades ´oticas e de transporte do

material [2]. Ao realizar um experimento de espectroscopia Raman, acessamos as frequˆencias

vibracionais dos fˆonons ´oticos. Como a press˜ao influi na dinˆamica dos fˆonons, experimentos

de espectroscopia Raman em altas press˜oes permitem estudar a mudanc¸a do comportamento

dos fˆonons com a variac¸˜ao da press˜ao e consequentemente obter informac¸˜oes sobre as

propri-edades do cristal em estudo. A espectroscopia Raman em altas press˜oes tamb´em ´e ´util para

detectar transic¸˜oes de fase estruturais induzidas por essa vari´avel. Determinar para quais

valo-res de pvalo-ress˜ao hidrost´atica um material transita de uma fase cristalina para outra fase cristalina

ou ainda para uma fase desordenada de alta press˜ao contribui com a construc¸˜ao de diagramas de

fases que s˜ao essenciais para a descric¸˜ao dos aspectos termodinˆamicos do material. Os dados

obtidos num experimento de altas press˜oes para um material ‘bulk’ s˜ao importantes para o

apri-moramento de modelos te´oricos que descrevem o material. Os dados obtidos em altas press˜oes

para o material ‘bulk’ podem ser usados para a caracterizac¸˜ao do n´ıvel de ‘strain’ efetivo quando

esse material ´e usado na forma de filmes finos sobre substratos e nanocristais.

Esta dissertac¸˜ao descreve o estudo do molibdato de ´ıtrio em condic¸˜oes extremas de altas

press˜oes hidrost´aticas atrav´es da espectroscopia Raman. A redac¸˜ao est´a dividida em quatro

cap´ıtulos. No cap´ıtulo 1 comentamos os principais resultados fornecidos pela F´ısica de Altas

Press˜oes para os molibdatos e tungstatos, as propriedades de interesse cient´ıfico e tecnol´ogico

desses materiais e a motivac¸˜ao pela escolha do molibdato de ´ıtrio como material de estudo.

No cap´ıtulo 2 revisamos brevemente a teoria do espalhamento Raman, as t´ecnicas empregadas

para atingir altas press˜oes hidrost´aticas, o modelo te´orico utilizado para efetuar c´alculos de

dinˆamica de rede e alguns detalhes do experimento realizado. No cap´ıtulo 3 descrevemos em

detalhes os resultados dos nossos experimentos de espectroscopia Raman. Como suporte ao

trabalho experimental, inclu´ımos an´alise de Teoria de Grupos e c´alculos de dinˆamica de rede

aplicados ao molibdato de ´ıtrio. No cap´ıtulo 4 conclu´ımos o trabalho enfatizando as implicac¸˜oes

dos resultados obtidos para o conhecimento cient´ıfico sobre os molibdatos e tungstatos e as

(16)

1

Propriedades F´ısicas dos Molibdatos

Neste cap´ıtulo fazemos um resumo do conhecimento estabelecido na literatura sobre os

molibdatos de diversos elementos qu´ımicos. Comentamos sobre as propriedades e os

resulta-dos experimentais obtiresulta-dos utilizando as t´ecnicas da F´ısica de Altas Press˜oes. Em particular,

destacamos o molibdato de ´ıtrio, Y2(MoO4)3, cujas propriedades de expans˜ao t´ermica negativa

motivaram nosso estudo de espectroscopia Raman em condic¸˜oes de altas press˜oes para este

material.

1.1

Molibdatos e Tungstatos

Chamamos de molibdatos os materiais formados pela ligac¸˜ao do ´ıon molibdato MoO24− a c´ations. Podemos definir os tungstatos de maneira an´aloga, pela ligac¸˜ao com ´ıon tungstato

WO24−. Esses ´ıons tem forma tetra´edrica com um ´atomo de Mo/W no centro e quatro ´atomos de oxigˆenio nos v´ertices. Na literatura, muitos dos molibdatos (e tungstatos) s˜ao

represen-tados pela f´ormula qu´ımica B2(XO4)3, onde B ´e um c´ation trivalente (do Al ao Dy) e X =

W, Mo [3]. Entre outros molibdatos e tungstatos de interesse atual na literatura, podemos

citar: Ln2Mo4O15 (Ln = lantan´ıdeos), Bi2MoO6, K3Fe(MoO4)2(Mo2O7), ABW2O9 (A=K, Rb

e B=Nb, Ta), Cs4W11O35, Rb4W11O35, Bi2WO6, Bi2W2O9. Destacam-se tamb´em os

compos-tos AB(XO4)2, com A=metal alcalino, B=Sc, Y, Al, Fe, Bi, Ln e X=Mo/W. De modo geral,

os c´ations trivalentes s˜ao elementos qu´ımicos esperados para formar molibdatos e tungstatos

B2(XO4)3, nos quais o tamanho desses c´ations tem influˆencia direta nos coeficientes de

ex-pans˜ao t´ermica desses materiais [4]. De modo geral, a fam´ılia B2(XO4)3 desperta interesse

cient´ıfico por suas propriedades ´oticas, ferroel´etricas, ferroel´asticas e termodinˆamicas.

Em nosso trabalho, focalizamos nosso interesse na fam´ılia B2(XO4)3, visto que esses

mate-riais ganharam atenc¸˜ao da comunidade cient´ıfica porque alguns deles possuem coeficientes de

expans˜ao t´ermica negativos, ou seja, reduzem de volume com o aumento da temperatura, em

contraste com a maior parte dos materiais conhecidos, que expandem o volume com o aumento

(17)

4

apresentam expans˜ao t´ermica negativa (NTE), sendo alguns deles: Y2(MoO4)3 [7], Y2(WO4)3

[8], Sc2(MoO4)3 [9], Sc2(WO4)3 [10], Er2(MoO4)3 [3], Er2(WO4)3 [11], Yb2(MoO4)3 [4],

Yb2(WO4)3 [11], Lu2(MoO4)3 [4], Lu2(WO4)3 [4]. Estes exemplos tamb´em ilustram que o

comportamento de expans˜ao t´ermica entre molibdatos e tungstatos de um mesmo elemento

qu´ımico podem apresentar semelhanc¸as [4]. O grande interesse da comunidade cient´ıfica pela

NTE surgiu ap´os a descoberta dessa propriedade no ZrW2O8 [12]. Embora antes relatada para

outros materiais, a NTE no ZrW2O8 ´e intensa e aproximadamente isotr´opica num intervalo de

temperatura apreci´avel, tornando-o um sistema modelo para o estudo da propriedade de

ex-pans˜ao t´ermica negativa e consequentemente alvo de outros estudos [13, 14].

Os materiais que possuem NTE tornaram-se candidatos para o desenvolvimento de ligas

met´alicas com expans˜ao t´ermica controlada, dispositivos para placas de circuito impresso,

com-ponentes para instrumentos ´oticos de precis˜ao e outras aplicac¸˜oes [5]. Vale salientar que a NTE

ocorre apenas em determinanos intervalos de temperatura e press˜ao, sendo necess´ario observar

os limites dessas grandezas para tirar bom proveito da propriedade de NTE em aplicac¸˜oes.

Al-guns trabalhos atribuem a expans˜ao t´ermica negativa aos modos vibracionais de baixa energia

(chamados de modos das unidades r´ıgidas) e as vibrac¸˜oes anarmˆonicas transversais [15]. Evans

et al.descrevem algumas condic¸˜oes para a ocorrˆencia de NTE num material [5]:

1. A presenc¸a de ligac¸˜oes M-O que naturalmente apresentam baixa expans˜ao;

2. ´Atomos de oxigˆenio de coordenac¸˜ao dupla que permitem vibrac¸˜oes transversais;

3. A estrutura deve suportar modos vibracionais transversais de baixa energia;

4. Ausˆencia de c´ations intersticiais na estrutura;

5. Falta ou supress˜ao de transic¸˜oes para fases de mais baixa simetria;

A literatura relata que certos materiais B2(XO4)3com estrutura ortorrˆombica apresentam o

fenˆomeno da NTE [8, 9, 16]. Evanset al. tamb´em sugerem que uma dopagem qu´ımica

ade-quada pode suprimir transic¸˜oes de fases nesses compostos e isto pode ser utilizado como

meca-nismo de controle dos coeficientes de expans˜ao t´ermica, bastante interessante para aplicac¸˜oes

[5], pois fazendo uma engenharia apropriada de compostos com expans˜ao t´ermica negativa com

outros de expans˜ao t´ermica positiva ´e poss´ıvel obter um material com expans˜ao t´ermica nula.

Alguns materiais da fam´ılia B2(XO4)3que apresentam NTE amorfizam em altas press˜oes,

lev-antando a hip´otese da existˆencia de alguma correlac¸˜ao entre amorfizac¸˜ao e NTE [17]. Outra

pista para a investigac¸˜ao desse fenˆomeno ´e dada por Sikkaet al., que sugere uma relac¸˜ao entre

(18)

O primeiro estudo de um material do tipo B2(XO4)3 em altas press˜oes foi publicado em

1972 [18], relatando o fenˆomeno de amorfizac¸˜ao induzida por press˜ao (Pressure Induced

Amor-phization, PIA) para o Gd2(MoO4)3. Neste mesmo ano um trabalho relata as dimens˜oes das

c´elulas unit´arias dos compostos La2(MoO4)3, Ce2(MoO4)3, Pr2(MoO4)3 e Nd2(MoO4)3 em

func¸˜ao da press˜ao [19]. Em 1993 foi observado para o Gd2(MoO4)3 uma transic¸˜ao de fase

estrutural em torno de 2,0 GPa que antecede o processo de amorfizac¸˜ao induzida pela press˜ao

[20]. Posteriormente, mais experimentos de altas press˜oes (inclu´ındo difrac¸˜ao de raios-X e

es-pectroscopia Raman) mostraram diversas transic¸˜oes de fases estruturais (ordem e

ordem-desordem) ocorridas nos molibdatos e tungstatos B2(XO4)3, al´em de amorfizac¸˜ao em alguns

casos.

Alguns compostos B2(XO4)3mostram comportamentos semelhantes em altas press˜oes. Por

exemplo, o Sc2(MoO4)3 e o Al2(WO4)3 transitam da fase ortorrˆombica para monocl´ınica em

torno de 0,29 GPa e 0,28 GPa, respectivamente [21, 22]. Press˜oes mais elevadas induzem

uma desordem na estrutura de ambos, exibindo comportamento similar ao j´a citado para o

Gd2(MoO4)3. J´a os compostos Y2(WO4)3 e Lu2(WO4)3 transitam diretamente para a fase

amorfa, sem passar por uma fase cristalina intermedi´aria (pelo menos quando essa rota ´e

in-vestigada `a temperatura ambiente) [23, 24]. Dentre os compostos B2(XO4)3 que apresentam

amorfizac¸˜ao induzida por press˜ao, citamos: Sc2(MoO4)3[21], Sm2(MoO4)3[25], Eu2(MoO4)3

[26], Gd2(MoO4)3 [20], Tb2(MoO4)3 [27], Nd2(MoO4)3 [28], Y2(WO4)3 [23], Sc2(WO4)3

[29], e Lu2(WO4)3[24].

O fenˆomeno de amorfizac¸˜ao induzida por press˜ao ´e atribu´ıdo a trˆes fatores: deformac¸˜ao

mecˆanica, decomposic¸˜ao qu´ımica e proibic¸˜ao cin´etica (kinetic hindrance) da transic¸˜ao de uma

fase cristalina para outra. Para explicar a amorfizac¸˜ao dos compostos B2(XO4)3 citados, a

deformac¸˜ao mecˆanica pode ser descartada, visto que para esses compostos a amorfizac¸˜ao ´e

obtida sob condic¸˜oes de altas press˜oes hidrost´aticas e mostrou-se irrevers´ıvel quando ´e realizada

a descompress˜ao do sistema [25]. A amorfizac¸˜ao nos compostos tipo B2(XO4)3 ´e relacionada `a

decomposic¸˜ao qu´ımica, mas de forma geral, a proibic¸˜ao cin´etica para atingir outra fase cristalina

precisa ser considerada, pois a impossibilidade de atingir uma fase cristalina leva `a amorfizac¸˜ao.

Nesse caso, a fase amorfa induzida por press˜ao ´e cineticamente preferida [17, 30]. Prop˜oe-se

que o modelo estrutural para amorfizac¸˜ao induzida por press˜ao nos compostos do tipo B2(XO4)3

´e similar ao modelo adotado para oα-ZrW2O8e para oα-ZrMo2O8[17, 31].

(19)

6

se inclinem, reduzindo o valor m´edio dos ˆangulos B-O-X e das distˆancias entre os oxigˆenios

n˜ao ligantes. Quando as distˆancias entre os oxigˆenios n˜ao ligantes tornam-se muito curtas, elas

passam a contribuir de forma repulsiva para a energia livre e limitam espacialmente a estrutura,

ocasionando a mudanc¸a da fase de press˜ao ambiente original para uma fase metaest´avel de alta

press˜ao. Uma compress˜ao maior forc¸a a perda da correlac¸˜ao de longo alcance (aumentando a

entropia). O processo de amorfizac¸˜ao nesses compostos pode ser atribu´ıdo aos v´ınculos

espa-ciais (‘steric constrains’) e `a impossibilidade do sistema superar a barreira de energia para uma

fase ordenada de alta press˜ao [17].

1.3

O Molibdato de ´Itrio

Centramos agora nossa atenc¸˜ao no Y2(MoO4)3, que ´e o nosso sistema de estudo.

Trata-se de um dos compostos inorgˆanicos com f´ormula B2(XO4)3 que apresenta a propriedade de

NTE, possu´ındo os coeficientes de expans˜ao t´ermica (nas direc¸˜oes cristalogr´aficasa,bec)αa

=-11,19x10−6K−1,αb=-6,57x10−6K−1eαc=-10,04x10−6K−1, destacando-se como os mais

isotr´opicos entre os molibdatos e tungstatos de terras raras [32]. Essa caracter´ıstica de expans˜ao

isotr´opica ´e desej´avel para aplicac¸˜oes que podem tirar proveito da NTE [7].

Em condic¸˜oes de temperatura e press˜ao ambiente (n˜ao exposto `a umidade), o Y2(MoO4)3

´e ortorrˆombico, pertencendo ao grupo espacial Pbcn [7, 15]. Sua estrutura ´e formada por

oc-taedros YO6 e tetraedros MoO4ligados por seus v´ertices, num arranjo onde todos os poliedros

compartilham todos os seus v´ertices [7]. Como ´e mostrado na Figura 1.1, cada octaedro YO6

compartilha seus seis v´ertices com os tetraedros MoO4 e cada um destes compartilha seus

v´ertices com quatro octaedros YO6[33, 34]. C´ations de tamanho iˆonico grande como o Y3+e a

flexibilidade dos poliedros YO6e MoO4s˜ao vistos como fatores chave para ocorrˆencia de NTE

nesse material [7]. Devemos lembrar que a NTE nos compostos B2(XO4)3 ´e mais acentuada

para c´ations B3+ com maiores raios iˆonicos [35].

Uma dificuldade experimental para lidar com o Y2(MoO4)3 ´e o fato dele ser altamente

higrosc´opico. Quando exposto `a umidade ambiente, assume a forma tri-hidratada est´avel,

com f´ormula Y2(MoO4)3·3H2O, acumulando mol´eculas d’´agua nos microcanais existentes na

direc¸˜ao cristalogr´afica ‘c’ de sua estrutura [7]. Sabe-se que as mol´eculas de ´agua limitam os

movimentos dos poliedros MoO4 e por consequencia disso, o fenˆomeno de NTE n˜ao ocorre

na fase hidratada desse material. Um tratamento t´ermico pode ser efetuado para “expulsar” as

mol´eculas d’´agua e a amostra deve ser prontamente isolada em ambiente seco para que seja

(20)

Figura 1.1: Estrutura cristalina do Y2(MoO4)3(Pbcn). Tetraedros escuros representam MoO4e

octaedros claros representam YO6. Adaptac¸˜ao do original [33].

Uma consulta na literatura sobre o Y2(MoO4)3mostra-o isoestrutural em relac¸˜ao aos

com-postos Y2(WO4)3, Sc2(MoO4)3 e Sc2(WO4)3 em condic¸˜oes de temperatura e press˜ao

ambi-ente. Sob press˜ao, estes trˆes compostos amorfizam respectivamente em torno de 4 GPa, 6 GPa

e 11 GPa [21, 23, 29]. Isto nos leva a conjecturar sobre o comportamento do Y2(MoO4)3 em

condic¸˜oes an´alogas. Recordando o que j´a comentamos sobre a relac¸˜ao entre a fase ortorrˆombica

e NTE nesses compostos, percebemos que estudar as poss´ıveis transic¸˜oes de fase do Y2(MoO4)3

pode fornecer mais informac¸˜oes sobre os fenˆomenos de NTE e amorfizac¸˜ao para os compostos

B2(XO4)3.

At´e a presente data, n˜ao encontramos publicac¸˜oes de estudos em condic¸˜oes de altas press˜oes

para o Y2(MoO4)3. Propomos ent˜ao realizar experimentos de espectroscopia Raman em altas

press˜oes com amostras policristalinas de Y2(MoO4)3. Nosso objetivo ´e estudar o

comporta-mento dos fˆonons ´oticos deste material com a variac¸˜ao da press˜ao. Com os resultados obtidos,

podemos tanto detectar transformac¸˜oes estruturais como estimar algumas propriedades desse

(21)

8

2

M´etodos

Neste cap´ıtulo descrevemos a metolologia utilizada para estudar o molibdato de ´ıtrio em

condic¸˜oes de altas press˜oes hidrost´aticas. Comentamos de forma sucinta alguns fundamentos da

teoria do espalhamento Raman e o princ´ıpio de funcionamento da c´elula de press˜ao a extremos

de diamante. Alguns detalhes t´ecnicos dos equipamentos e m´etodos experimentais utilizados

s˜ao tamb´em descritos.

2.1

Fundamentos do espalhamento Raman

O fenˆomeno de espalhamento de luz pode ser explicado como um processo de absorc¸˜ao de

um f´oton (incidente) e emiss˜ao instantˆanea de outro f´oton (espalhado). Devemos diferenci´a-lo

do fenˆomeno de absorc¸˜ao, quando uma amostra (cristal ou mol´ecula) ´e excitada para um dos

seus estados de mais alta energia ao absorver a energia do f´oton incidente. No espalhamento

n˜ao ressonante, os el´etrons s˜ao excitados para um estado virtual. Esse estado virtual ´e assim

chamado por n˜ao corresponder a um dos estados eletrˆonicos reais do material [37]. A radiac¸˜ao

espalhada prov´em dos momentos de multipolo el´etrico e magn´etico oscilantes induzidos no

material pelo campo eletromagn´etico da radiac¸˜ao incidente.

O espalhamento pode ser el´astico ou inel´astico. No espalhamento el´astico (chamado de

espalhamento Rayleigh) o f´oton espalhado e o f´oton incidente possuem energias iguais, n˜ao

havendo mudanc¸a nos estados vibracionais. No espalhamento inel´astico (chamado de

espa-lhamento Raman) o f´oton espalhado possui energia diferente do f´oton incidente, indicando a

ocorrˆencia de alguma mudanc¸a entre dois estados do sistema. O efeito Raman ´e justamente

o fenˆomeno de espalhamento inel´astico devido `a interac¸˜ao da radiac¸˜ao eletromagn´etica com a

mat´eria, havendo mudanc¸a de energia (ou frequˆencia) entre radiac¸˜ao incidente e espalhada.

De-vemos sempre lembrar que o espalhamento Raman ´e incoerente, n˜ao havendo correlac¸˜ao entre

as fases das radiac¸˜oes incidente e espalhada.

(22)

Es=hω¯ s=hνs (2.1)

Ei=hω¯ i=hνi. (2.2)

Se Es<Ei (νs <νi), temos o espalhamento chamado de Stokes. O f´oton incidente ´e

ab-sorvido (virtualmente) e espalhado pela amostra, que passa do seu estado fundamental para um

estado virtual de energia mais elevada, deca´ındo em seguida para um estado excitado de menor

energia, cujo valor ´e a diferenc¸a entre a energia do f´oton espalhado em relac¸˜ao ao incidente. A

diferenc¸a de energia ´e exatamente igual a energia de um modo vibracional.

Se Es >Ei (νs >νi), temos o espalhamento chamado de anti-Stokes. O f´oton incidente

´e absorvido (virtualmente) e espalhado pela amostra, que passa de um de seus estados

exci-tados para um estado virtual de energia mais elevada, deca´ındo em seguida para seu estado

fundamental. A diferenc¸a de energia ´e associada a um quantum de energia vibracional que foi

aniquilado.

Na Figura 2.1 ilustramos os espalhamentos Rayleigh, Stokes e anti-Stokes em um diagrama

de n´ıveis.

Figura 2.1: Diagramas de n´ıveis ilustrando os diferentes tipos de espalhamento de luz n˜ao ressonantes. Respectivamente, hνi, hνs e Evib representam as energias dos f´otons incidentes,

espalhados e as energias das vibrac¸˜oes.

(23)

10

Figura 2.2: Modelo cl´assico da interac¸˜ao entre radiac¸˜ao eletromagn´etica e mat´eria. Os ´ındices ‘i’ e ‘s’ est˜ao para incidente e espalhado, respectivamente.ω, pe~ks˜ao frequˆencia, polarizac¸˜ao e vetor de propagac¸˜ao, respectivamente. Ii ´e a intensidade da luz incidente eIs ´e a intensidade

da luz espalhada.

momento de dipolo induzido~Pno sistema pelo campo de radiac¸˜ao como:

~Pmn = (αi j)mn~E, (2.3)

ondeα ´e o tensor polarizabilidade, cujas componentes s˜ao dadas por:

Px=αxxEx+αxyEy+αxzEz (2.4)

Py=αyxEx+αyyEy+αyzEz (2.5)

Pz=αzxEx+αzyEy+αzzEz. (2.6)

Sendo a polarizabilidade func¸˜ao do movimento vibracional, podemos ent˜ao expandir as

componentes do tensorα em s´erie de Taylor na coordenada normal q (modo vibracional) do

sistema:

α =αo+

dq

0

q+1

2

d2α dq2

0

q2+... (2.7)

onde o zero subscrito indica que a derivada em relac¸˜ao `a coordenada normal ´e calculada em

torno da posic¸˜ao de equil´ıbrio.

Podemos escrever o campo el´etrico da radiac¸˜ao incidente na forma:

~

E=~E0cos(ωit), (2.8)

ondeωi´e frequˆencia da radiac¸˜ao incidente. Supondo que as vibrac¸˜oes s˜ao harmˆonicas, podemos

escrever a coordenada vibracional como:

(24)

~

P=αo~E0cos(ωit) +

dq

0

q0cos(ωqt)E~0cos(ωit), (2.10)

onde consideramos apenas os dois primeiros termos da s´erie. Na equac¸˜ao 2.10 temos a

de-pendˆencia do momento de dipolo el´etrico em termos do campo el´etrico da radiac¸˜ao incidente e

da coordenada normal de vibrac¸˜ao do sistema. Usando a identidade trigonom´etrica

cos(ωqt)cos(ωit) =

1

2cos(ωit+ωqt) + 1

2cos(ωit−ωqt) (2.11)

e aplicando-a na equac¸˜ao 2.10, obtemos o momento de dipolo el´etrico na forma

~P=αo~E0cos(ωit) +1 2 dα dq 0

q0~E0

1

2[cos(ωit+ωqt) +cos(ωit−ωqt)]. (2.12)

Se(dα/dq)0=0, a equac¸˜ao 2.12 se reduz a

~

P=αo~E0cos(ωit) (2.13)

e temos um dipolo oscilando com frequˆenciaωi(portanto emitindo radiac¸˜ao) igual a frequˆencia

do f´oton incidente, caracterizando o espalhamento Rayleigh. Se(dα/dq)06=0, al´em do

espa-lhamento Rayleigh, temos um termo onde a radiac¸˜ao espalhada aumenta a frequˆencia e ganha

energia (ωs =ωi+ωq), o que caracteriza o espalhamento Raman anti-Stokes, e outro termo

onde a radiac¸˜ao espalhada diminui de frequˆencia e perde energia (ωs =ωi−ωq),

caracteri-zando o espalhamento Raman Stokes.

A condic¸˜ao para existˆencia do espalhamento Raman ´e (dα/dq)06=0, ou seja, a

polariza-bilidade deve variar com uma pequena mudanc¸a na coordenada normal em torno da posic¸˜ao

de equil´ıbrio, do contr´ario, n˜ao temos espalhamento Raman. Podemos fazer uma descric¸˜ao do

fenˆomeno utilizando as func¸˜oes de onda dos estados final e inicial no processo de espalhamento

Raman reescrevendo a expans˜ao do tensor polarizabilidade como

(αi j) = (αi j)o+

i j dq

0

q+1

2

d2αi j dq2

0

q2+... (2.14)

As componentes do tensor ser˜ao dadas por:

(αi j)mn= Z

ψm(αi j)ψndτ (2.15)

(αi j)mn= Z

ψm(αi j)0ψndτ+ Z ψm i j dq 0

(25)

12

(αi j)mn= (αi j)0

Z

ψmψndτ+

i j dq 0 Z

ψmqψndτ. (2.17)

Se o estado inicial for diferente do final, temosm6=ne consequentemente

Z

ψmψndτ =0. (2.18)

Se m = n, temos espalhamento Rayleigh. Se m 6=n, ent˜ao (αi j)mn 6= 0 se e somente se

(dαi j/dq)0 6= 0. Ent˜ao, m6=n implica que h´a variac¸˜ao em ao menos um dos componentes

do tensor polarizabilidade com a vibrac¸˜ao em torno da posic¸˜ao de equil´ıbrio, ocorrendo o

es-palhamento Raman. Outra propriedade importante a ser discutida ´e a paridade das func¸˜oes de

onda envolvidas no processo de espalhamento. Se tivermos

Z

ψmqψndτ6=0, (2.19)

ent˜aoψmqψn´e uma func¸˜ao par. Como o operadorq(posic¸˜ao) ´e uma func¸˜ao ´ımpar, ent˜aoψmψn

´e uma func¸˜ao ´ımpar, ou seja, ψm e ψn possuem diferentes paridades, e isso tem implicac¸˜oes

importantes para as regras de selec¸˜ao.

Fizemos uma ilustrac¸˜ao simples, com uma ´unica variac¸˜ao em torno da posic¸˜ao de equil´ıbrio

mas, de forma geral, as componentes do tensor polarizabilidade s˜ao dadas por [37]

(αi j)mn=

1

h

r

hψn|µi|ψrihψr|µj|ψmi νrm−ν0+iΓr

+hψn|µj|ψrihψr|µi|ψmi

νrm+ν0+iΓr

. (2.20)

Os kets|ψmi,|ψnie|ψrirepresentam os estados inicial, final e virtual, com ´ındicesm,ner. µi eµj s˜ao as componentes do operador momento de dipolo el´etrico. Os ´ındicesie jrecebem

os valoresx, y e z dos eixos coordenados, νrm ´e a frequˆencia de transic¸˜ao eletrˆonica, ν0 ´e a

frequˆencia da radiac¸˜ao incidente eΓr ´e o fator de amortecimento relacionado ao tempo de vida

do estado virtual|ψri, que para o espalhamento Raman ´e da ordem de 10−15s. Os estados|ψmi, |ψni e|ψris˜ao mistos, envolvendo parte eletrˆonica e parte vibracional. Para o efeito Raman,

as transic¸˜oes entre os estados acontecem em dois passos: do estado inicial|ψmipara o estado

virtual|ψri, representado pelo brackethψr|µj|ψmiseguida da transic¸˜ao do estado virtual|ψri

para o estado final|ψni, representado pelo brackethψn|µi|ψri.

A intensidade Raman depende do quadrado do m´odulo do tensor de polarizabilidade, sendo

dada por

Imn=

16π2

9c4 Iiν

4

s

i

j

|(αi j)mn|2, (2.21)

(26)

pr´oximo da frequˆencia de excitac¸˜ao.

2.2

Dinˆamica de Rede

Quando um ´atomo pertencente a um cristal ´e desclocado da sua posic¸˜ao de equil´ıbrio, ele

sofre ac¸˜ao de forc¸as restauradoras e consequentemente vibra numa determinada frequˆencia

ca-racter´ıstica determinada pela dinˆamica dos fˆonons da rede cristalina. Devemos lembrar que

a rede cristalina ´e formada por uma infinidade de ´atomos unidos num arranjo peri´odico. As

vibrac¸˜oes desses ´atomos dependem do arranjo atˆomico e influenciam diretamente as

proprie-dades ´oticas e de transporte do cristal. Podemos ent˜ao estudar as proprieproprie-dades de um cristal

atrav´es do comportamento dos seus fˆonons. Num cristal h´a fˆonons ac´usticos e ´oticos, que

po-dem ser transversais ou longitudinais. A espectroscopia Raman ´e capaz de acessar os fˆonons

´oticos e os modos transversais tˆem relevˆancia especial para o nosso estudo pela sua relac¸˜ao ao

fenˆomeno de expans˜ao t´ermica negativa [38].

Nem sempre todas as propriedades vibracionais de um material (um s´olido cristalino em

nosso caso) podem ser facilmente acessadas num experimento. Uma das maneiras para

con-tornar essa dificuldade ´e discutir os resultados experimentais sob a luz de um modelo te´orico.

Entre as ferramentas te´oricas utilizadas para esta finalidade, quando se trata de propriedades

vibracionais, temos o C´alculo da Dinˆamica de Rede. Uma modelagen te´orica bastante usada

nesse tipo de c´alculo computacional ´e Modelo do ´Ion R´ıgido, que para alguns sistemas fornece

resultados satisfat´orios. Este modelo cosidera o ´atomo como uma esfera r´ıgida representando

o n´ucleo atˆomico e a carga eletrˆonica, tratando o material como um conjunto dessas esferas

in-teragindo entre si atrav´es de potenciais cl´assicos de curto e longo alcance. Para sistemas como

o nosso, a literatura frequentemente utiliza o chamado potencial inter-atˆomico de

Bucking-ham, que obtemos adicionando, respectivamente, o potencial de Coulomb; respons´avel pelas

interac¸˜oes de longo alcance; o termo de Born-Meyer, que representa as forc¸as repulsivas de

curto alcance e o termo de van der Waals; devido `as interac¸˜oes atrativas de curto alcance do tipo

dipolo-dipolo, resultando na equac¸˜ao:

Ui j(ri j) = zizj

ri j

e2+bi je−ri j/ρi j− ci j ri j6

(2.22)

onde zi e zj s˜ao as cargas efetivas dos ´ıons i e j separados pela distˆancia ri j. O raio iˆonico

(27)

14

modelo n˜ao descreve satisfatoriamente as interac¸˜oes covalentes fortes do tipo M-O (M = Mo,

W, V, etc). Quando este ´e o caso, ´e necess´ario incluir correc¸˜oes no modelo [38].

C´alculos de dinˆamica de rede utilizando o modelo do ´ıon r´ıgido tem mostrado bons

resulta-dos na previs˜ao das propriedades vibracionais de molibdatos e tungstatos, auxiliando inclusive a

compreens˜ao dos fenˆomenos de polimorfismo e amorfizac¸˜ao induzidos por press˜ao hidrost´atica

observados nesses compostos, [38–40].

2.3

T´ecnica para obter altas press˜oes hidrost´aticas

O princ´ıpio de funcionamento da c´elula do tipo bigorna de diamante (DAC - Diamond Anvil

Cell) consiste em comprimir uma amostra entre as faces de dois diamantes diretamente opostos

empurrados um contra o outro por uma ac¸˜ao externa, como ilustrado na Figura 2.3 [41]. O

volume de amostra utilizado ´e pequeno, resultando numa superf´ıcie de contato extremamente

reduzida entre o compartimento da amostra e os diamantes. Como a press˜ao ´e inversamente

proporcional `a ´area na qual a forc¸a ´e aplicada, ´e poss´ıvel induzir altas press˜oes dentro da c´elula

de press˜ao sem a necessidade de aplicar forc¸as demasiadamente intensas. As c´elulas atuais

permitem alcanc¸ar press˜oes da ordem de centenas de gigapascais. Lembrando que 1atm = 105 Pa, ´e poss´ıvel obter press˜oes maiores que um milh˜ao de vezes a press˜ao atmosf´erica.

Figura 2.3: Detalhe da bigorna de diamante, gaxeta e amostra. Adaptac¸˜ao do original [41].

Em geral, as montagens utilizadas para aplicar forc¸as nos diamantes definem os tipos de

c´elulas. Em nosso experimento utilizamos o tipo NBS [41], cujo esquema ´e mostrado na Figura

2.5. O princ´ıpio de funcionamento de uma c´elula NBS ´e bastante simples: ao girarmos o

(28)

Figura 2.4: Detalhe da gaxeta. Adaptac¸˜ao do original [41].

Figura 2.5: C´elula de press˜ao tipo NBS. Adaptac¸˜ao do original [41].

A gaxeta ´e uma folha met´alica resistente que tem por func¸˜ao limitar o volume da amostra.

A gaxeta possui uma identac¸˜ao para acomodar os diamantes de modo que eles mantenham-se

alinhados quando submetidos a forc¸as externas. Essa condic¸˜ao de alinhamento ´e crucial para

garantir a seguranc¸a da c´elula quanto `a quebra dos diamantes.

O compartimento da amostra ´e simplesmente um furo aberto na gaxeta com profundidade

e diˆametro da ordem de algumas dezenas de micrˆometros (200µm em nosso equipamento).

O compartimento armazena um fragmento do material a ser estudado e um fragmento de rubi

imersos em um fluido. O rubi ´e utilizado para medir a press˜ao interna e o fluido serve como

meio transmissor da press˜ao.

O fluido deve preencher a c´elula e distribuir a press˜ao aplicada na superf´ıcie da amostra de

maneira uniforme. Isto exige que a press˜ao aplicada n˜ao exceda o limite de press˜ao para o qual

o fluido deixa de responder hidrostaticamente (limite hidrost´atico do fluido), caso contr´ario, a

press˜ao no compartimento da amostra n˜ao ser´a a mesma em todos os pontos. Para este fim h´a

v´arios compostos e misturas conhecidas na literatura, como ´oleos de parafina, etanol e misturas

metanol:etanol [41].

Para medir a press˜ao dentro da c´elula de diamante utilizamos o deslocamento de frequˆencia

das linhas R1 e R2 do rubi sob variac¸˜ao da press˜ao. O deslocamento com a press˜ao das linhas

R1e R2 ´e linear entre 0 e 10 GPa e dentro desse limite podemos utilizar a equac¸˜ao abaixo para

(29)

16

P= ωRi−ω

0

Ri

0,7535 , (2.23)

sendo a press˜ao dada em GPa,ωRieωRi0 em cm−1, sendoω medido em relac¸˜ao `a excitac¸˜ao do

laser. A Figura 2.6 ilustra o deslocamento das linhas R1 e R2 dos espectros rubi em press˜oes

diferentes. Os valores das frequˆencias das linhas R1substitu´ıdos na equac¸˜ao 2.23 resultam 0 e

2,4 GPa.

Figura 2.6: Deslocamento do rubi em relac¸˜ao `a energia do laser (2,41 eV) utilizado na excitac¸˜ao.

2.4

Detalhes do experimento

Como fonte de luz para excitac¸˜ao da amostra utilizamos um laser de argˆonio da

Coher-ent (λ = 514,5 nm). Para focalizac¸˜ao empregamos um microsc´opio Olympus modelo BX-40

equipado com uma lente Nikon (20X, f = 20 mm). Para acumular os espectros utilizamos um

espectrˆometro Yvon Jobin modelo T64000 equipado com um detector tipo CCD refrigerado por

nitrogˆenio l´ıquido. A aquisic¸˜ao dos dados foi feita atrav´es de microcomputador com o software

LabSpec.

Nosso experimento de espectroscopia Raman em altas press˜oes consiste em variar a press˜ao

aplicada ao material, aguardar um tempo de relaxac¸˜ao necess´ario para a press˜ao

estabilizar-se, medir o espectro do rubi para obter o valor da press˜ao aplicada, acumular os espectros

(30)

didas Raman da amostra executadas em intervalos de press˜ao crescentes, entre 0,2 GPa a 0,5

GPa. Ao atingir o valor m´aximo de press˜ao, fazemos uma etapa de descompress˜ao, seguindo

metodologia similar `a etapa de compress˜ao, por´em, com intervalos de press˜ao decrescentes.

2.5

Tratamento dos dados experimentais

Obtidos os espectros Raman da amostra, precisamos fazer a deconvoluc¸˜ao dos modos

vi-bracionais utilizando uma func¸˜ao distribuic¸˜ao conhecida. Abaixo mostramos as distribuic¸˜oes

Lorentziana e Gaussiana, respectivamente:

y= a0 [1+ (x−a1

a2 )

2] (2.24)

y=a0exp[−ln(2)(

x−a1

a2

)2] (2.25)

Os parˆametros a0, a1 e a2 s˜ao respectivamente a intensidade, o centro e a meia largura

`a meia altura (HWHM - Half Width at Half Maximum). A distribuic¸˜ao Lorentziana ´e

ade-quada para o ajuste dos espectros. Quando o erro estat´ıstico da acumulac¸˜ao dos espectros ´e

significativo, torna-se conveniente ajustar os espectros Raman utilizando uma convoluc¸˜ao das

distribuic¸˜oes Lorentziana e Gaussiana, chamada func¸˜ao Voigt. Neste trabalho, utilizamos o

pa-cote Fityk para ajustar os espectros do molibdato de ´ıtrio com func¸˜oes Voigt, lembrando que o

Fityk emprega a seguinte forma para a Voigt:

y=

a0Rdt e

−t2

a23+[x−a1

a2 −t]

R dt et2

a23+t2

(2.26)

O ajuste dos espectros fornece os parˆametros de cada modo vibracional: intensidade, centro

e largura total `a meia altura (FWHM - Full Width at Half Maximum). Com os parˆametros

fornecidos pelos ajustes, podemos construir gr´aficos da evoluc¸˜ao da frequˆencia e da largura de

linha dos modos Raman em func¸˜ao da variac¸˜ao da press˜ao, cuja an´alise permite inferir sobre as

(31)

18

3

Resultados e Discuss˜oes

Apresentamos nesse cap´ıtulo os resultados obtidos para o molibdato de ´ıtrio (Y2(MoO4)3)

em altas press˜oes hidrost´aticas. Utilizamos uma an´alise de Teoria de Grupos e c´alculos da

dinˆamica de rede como suporte para a caracterizac¸˜ao inicial do material. Observamos uma

transic¸˜ao da fase ortorrˆombica para outra fase cristalina em 0,3 GPa. A reduc¸˜ao na quantidade

de modos observados no espectro Raman entre 1,4 GPa e 1,8 GPa foi interpretada como sendo

uma transic¸˜ao para uma fase desordenada de alta press˜ao. Discutimos o car´ater irrevers´ıvel

desta transic¸˜ao de fase em 2,4 GPa, visto que os modos caracter´ısticos do material observados

`a press˜ao ambiente n˜ao foram recuperados ap´os descompress˜ao.

3.1

An´alise de Teoria de Grupos

O molibdato de ´ıtrio utilizado em nosso estudo apresenta-se na fase cristalina ortorrˆombica

em condic¸˜oes de press˜ao e temperatura ambiente. Esse material pertence ao grupo espacial

Pbcn, D142h(mmm), comZ=4. A c´elula unit´aria ´e formada por 8 ´atomos de ´ıtrio ocupando s´ıtios de simetria C1equivalentes, 8 tetraedros MoO4ocupando s´ıtios de simetria C1equivalentes e 4

tetraedros MoO4ocupando s´ıtios de simetria C2n˜ao equivalentes, totalizando 68 ´atomos assim

distribu´ıdos:

D142h(P21/b2/c21/n) =dC1(8) +cC2Y(4) + (b+a)C1(4) (3.1)

Isoladamente, o tetraedro MoO4pertence ao grupo de ponto Tde pelo m´etodo da correlac¸˜ao

de s´ıtios, podemos obter as simetrias dos modos de vibrac¸˜ao quando esse ´ıon for incorporado na

rede cristalina do material cuja simetria ´e D142h. Resumimos nas tabelas 3.1 e 3.2 os resultados da an´alise de Teoria de Grupos para designar a simetria dos modos relativos aos tetraedros MoO4

localizados nos s´ıtios de simetrias C1e C2, respectivamente. A nomeclaturaν1se refere ao

esti-ramento sim´etrico,ν2 `a flex˜ao sim´etrica,ν3ao estiramento assim´etrico,ν4 `a flex˜ao assim´etrica,

(32)

A1(ν1) A Ag 1ν11S 2ν23R 3ν33ν43T

A2(S) Au 1ν11S 2ν23R 3ν33ν43T

E(ν2) B1g 1ν11S 2ν23R 3ν33ν43T

T1(R) B1u 1ν11S 2ν23R 3ν33ν43T

T2(ν3,ν4,T) B2g 1ν11S 2ν23R 3ν33ν43T

B2u 1ν11S 2ν23R 3ν33ν43T

B3g 1ν11S 2ν23R 3ν33ν43T

B3u 1ν11S 2ν23R 3ν33ν43T

Tabela 3.2: Tabela de correlac¸˜ao dos modos para 4MoO4ocupando s´ıtio C2na simetria D2h.

Td C2 D2h Modos

A1(ν1) A Ag 1ν11S 2ν21R 1ν31ν41T

A2(S) Au 1ν11S 2ν21R 1ν31ν41T

E(ν2) B1g 2R 2ν32ν42T

B1u 2R 2ν32ν42T

T1(R) B B2g 2R 2ν32ν42T

T2(ν3,ν4,T) B2u 2R 2ν32ν42T

B3g 1ν11S 2ν21R 1ν31ν41T

B3u 1ν11S 2ν21R 1ν31ν41T

Atrav´es das tabelas 3.1 e 3.2, obtemos o total de 180 modos vibracionais dos tetraedros

MoO4:

ΓMoO4 =22Ag+22Au+23B1g+23B1u+23B2g+23B2u+22B3g+22B3u (3.2)

Os modos vibracionais dos ´atomos de ´ıtrio ocupando s´ıtios de simetria C1s˜ao dados por:

ΓY =3Ag+3Au+3B1g+3B1u+3B2g+3B2u+3B3g+3B3u (3.3)

Somando os modos dos ´atomos de ´ıtrio e dos tetraedros MoO4, obtemos o total de modos

vibracionais do Y2(MoO4)3, assim distribu´ıdos nas representac¸˜oes irredut´ıveis do grupo de

ponto D2h:

ΓTotal =25Ag+25Au+26B1g+26B1u+26B2g+26B2u+25B3g+25B3u (3.4)

Temos ao todo 204 graus de liberdade no centro da zona de Brillo¨uin Γ. Pelas regras de

selec¸˜ao do grupo D142h (mmm), apenas os modos de simetria Ag, B1g, B2g e B3g s˜ao ativos na

espectroscopia Raman, pois s˜ao os ´unicos cujas func¸˜oes de base s˜ao quadr´aticas. Os modos com

(33)

20

simetria Aus˜ao ac´usticos. Ent˜ao, temos um total de 102 modos previstos pela Teoria de Grupos

que podem ser observados pela t´ecnica de espectroscopia Raman no molibdato de ´ıtrio:

ΓRaman=25Ag+26B1g+26B2g+25B3g (3.5)

3.2

C´alculos de dinˆamica de rede

Efetuamos os c´alculos de dinˆamica de rede utilizando o software GULP desenvoldido por

J.J. Gale [43]. Esse programa trata o sistema em estudo de acordo com a teoria do ´ıon r´ıgido

dis-cutida no cap´ıtulo anterior. Os valores listados na Tabela 3.3 referentes aos parˆametrosbi j,ρi j e

ci jdo potencial de Buckingham s˜ao ajustados de forma a se ter melhor correspondˆencia entre os

c´alculos e os experimentos. Adotamos as cargas efetivaszi j dos ´ıons (indicados pelos ´ındices)

com valores: ZY =3, ZMo =6, ZO=−2.84819. Como fator de correc¸˜ao, adicionamos um

potencial harmˆonico com constante de molak0=74.92mDynA˚−1 representando as interac¸˜oes

entre os ´atomos de oxigˆenio.

Tabela 3.3: Valores dos parˆametros utilizados no potencial de Buckingham. Ligac¸˜ao b(eV) ρ( ˚A) c(eV ˚A6)

Mo - O 1285,2 0,375 0

Y - O 16,19x106 0,14 0

O - O 22764 0,149 27,00

As frequˆencias dos fˆonons foram calculadas utilizando o m´etodo da matriz FG de Wilson

e o software VIBRATZ desenvolvido por Dowty [44]. As constantes de forc¸a iniciais foram

obtidas atrav´es da relac¸˜ao:

fi j =−

1

r

∂Ui j(r)

∂r (3.6)

onde os ´ındices i e j indicam os ´ıons interagentes e r ´e a distˆancia que os separa. Podemos

observar os resultados dos c´alculos das constantes de forc¸a versus a distˆancia das ligac¸˜oes na

Figura 3.1.

Nossos c´alculos mostram que os modos Raman do tetraedro MoO4na regi˜ao 800-970 cm−1

correspondem `as vibrac¸˜oes de estiramento e os modos na regi˜ao 200-380 cm−1correspondem aos modos de flex˜ao. Os resultados tamb´em mostram que os modos abaixo de 200 cm−1 s˜ao fortemente acoplados e envolvem librac¸˜oes e translac¸˜oes das unidades MoO4e translac¸˜oes dos

´atomos deY. As frequˆencias calculadas para os modos vibracionais e suas respectivas esp´ecies

s˜ao mostradas na tabela 3.4. As vibrac¸˜oes dos tetraedros MoO4est˜ao ilustradas nas Figuras 3.2

(34)

Tabela 3.4: Frequˆencias e identificac¸˜ao dos modos vibracionais dos tetraedros MoO4calculados

usando dinˆamica de rede.

Modos Descric¸˜ao dos modos Frequˆencias calculadas cm−1

T translac¸˜ao Y - MoO4 70

162

L librac¸˜ao 291

ν2,ν4 flex˜ao sim´etrica e assim´etrica 325

335 340

ν3 estiramento assim´etrico 828

842

ν1 estiramento sim´etrico 896

937 952 994

(35)

22

Figura 3.2: Autovetores e autovalores para os modos de baixa energia dos tetraedros MoO4para

a representac¸˜ao irredut´ıvel Ag.

Figura 3.3: Autovetores e autovalores para os modos de alta energia dos tetraedros MoO4para

(36)

O molibdato de ´ıtrio (Y2(MoO4)3) ´e altamente higrosc´opico [36], exigindo alguns cuidados

quando o objetivo ´e medir o espectro Raman da fase anidra. A amostra Y2(MoO4)3·3H2O foi

colocada em um criostato e aquecida `a temperatura de 120◦C em condic¸˜oes de v´acuo de 10−3 torr. Deixamos o sistema resfrirar at´e a temperatura ambiente em condic¸˜oes de v´acuo por 12

horas antes da medida do espectro Raman da fase anidra, mostrado na Figura 3.4. Para efeito

de comparac¸˜ao, mostramos na mesma Figura o espectro Raman obtido para a fase hidratada.

A partir da an´alise de deconvoluc¸˜ao dos espectros usando func¸˜oes do tipo Voigt, obtivemos os

deslocamentos Raman e as larguras de linha.

Figura 3.4: Espectros Raman do molibdato de ´ıtrio nas fases anidra (Y2(MoO4)3) e hidratada

(Y2(MoO4)3·3H2O) medidos em condic¸˜oes de temperatura e press˜ao ambiente.

Em nosso experimento, a fase hidratada mostra trˆes bandas largas e altamente degeneradas,

centradas em 340, 831 e 952 cm−1. Lianget al. relatam essas bandas em torno de 340, 828 (836 em outro trabalho) e 945 cm−1, classificando-as respectivamente como flex˜ao sim´etrica e assim´etrica (ν2eν4), estiramento assim´etrico (ν3) e estiramento sim´etrico (ν1) [32, 36].

(37)

24

Notamos que os modos de baixa frequˆencia (atribu´ıdos `a rede cristalina) apresentam intensidade

relativa baixa. Comparando estes resultados com a literatura, constatamos que nossas amostras

de Y2(MoO4)3est˜ao na fase ortorrˆombica e com boa qualidade cristalina [32, 36].

No espectro da Figura 3.4, podemos distinguir apenas 13 modos. Essa grande diferenc¸a

entre a quantidade de modos previstos pela Teoria de Grupos e a quantidade de modos observada

experimentalmente ´e devido ao fato de que realizamos medidas em amostras policristalinas e

que o espectro deve ter muitas degenerescˆencias acidentais. Comparando nossos resultados

obtidos pela aplicac¸˜ao da Teoria de Grupos com a literatura [33], podemos identificar os modos

observados experimentalmente. Nomeamos e listamos esses modos na tabela 3.5 para facilitar

nossa an´alise dos experimentos em condic¸˜oes de altas press˜oes.

Tabela 3.5: Identificac¸˜ao do modos do Y2(MoO4)3observados experimentalmente.

Modo Descric¸˜ao Frequˆencia (cm−1) Nomeclatura Esp´ecie

ν2,ν4 flex˜ao sim´etrica e assim´etrica 324 A Ag+B2g

337 B B3g

352 C Ag+B2g

ν3 estiramento assim´etrico 825 D B1g

836 E B3g

ν1 estiramento sim´etrico 937 F B3g

955 G

969 H

3.4

Y

2

(MoO

4

)

3

sob altas press˜oes hidrost´aticas

A amostra policristalina de Y2(MoO4)3foi aquecida num cadinho `a temperatura de 120◦C,

sendo em seguida envolvida com o meio compressor (´oleo mineral comercial - Nujol) e

imedi-atamente colocada dentro da c´elula de press˜ao a extremos de diamante. Ap´os o resfriamento,

constatamos que o ´oleo “blindou” a amostra contra a umidade, conservando-a anidra, como

podemos verificar no primeiro espectro medido dentro da c´elula de press˜ao (Figura 3.5) ao

compar´a-lo com o espectro medido dentro do criostato (Figura 3.4), nos quais identificamos

imediatamente os mesmos modos. Isto nos permite continuar o experimento sem preju´ızo para

nossas considerac¸˜oes feitas anteriormente sobre a caracterizac¸˜ao da amostra.

Em cada medida, tomamos duas acumulac¸˜oes de 30 segundos. A baixa intensidade dos

modos do espectro da amostra dentro da c´elula de press˜ao, por causa do volume reduzido da

amostra, tornou necess´ario o ajuste da potˆencia de sa´ıda do laser para 200 mW (dobro do valor

(38)

Figura 3.5: Espectro Raman do Y2(MoO4)3 logo ap´os ser transferido para o interior da c´elula

de press˜ao.

(tempo de relaxac¸˜ao do sistema) ap´os variarmos a press˜ao. Ressaltamos que durante cada

in-tervalo de acumulac¸˜ao n˜ao notamos variac¸˜ao significativa na energia da linha do rubi, ou seja,

a press˜ao aplicada manteve-se constante para cada medida. Ao todo, obtivemos 26 espectros

durante o regime de compress˜ao (de 0 a 9,6 GPa) e mais 16 espectros durante o regime de

descompress˜ao (at´e o m´ınimo de 0,2 GPa).

O ajuste do espectro da Figura 3.5 mostra que as frequˆencias e larguras dos picos observados

s˜ao quase idˆenticos `aqueles medidos para o Y2(MoO4)3fora da c´elula, cujo espectro mostramos

na Figura 3.4. A diferenc¸a notada entre as frequˆencias dos modos observados no experimento

`a press˜ao ambiente e no primeiro espectro do experimento sob press˜ao (ver as Figuras 3.4 e

3.5) n˜ao ´e significativa e pode ser devida a uma diferenc¸a muito pequena entre a press˜ao

ambi-ente e a press˜ao inicial medida dentro da c´elula, tomada como zero no experimento. Os modos

observados com frequˆencia inferior `a 250 cm−1possuem baixa intensidade relativa, sendo des-considerados em nossa primeira an´alise ao observarmos que esta caracter´ıstica acentua-se com o

aumento da press˜ao, tornando qualquer an´alise quantitativa imprecisa. Apesar desses modos de

(39)

26

os modos da rede), veremos que o comportamento dos modos de flex˜ao (‘bending’) e

estira-mento (‘stretching’) em func¸˜ao da press˜ao revela caracter´ısticas suficientes para descrevermos

o comportamento do molibdato de ´ıtrio sob altas press˜oes.

Figura 3.6: Espectros Raman do Y2(MoO4)3medidos durante a compress˜ao entre 0 e 2,4 GPa.

Na Figura 3.6 mostramos os espectros Raman caracter´ısticos da evoluc¸˜ao do Y2(MoO4)3

com o aumento da press˜ao. Partindo da press˜ao m´ınima (0 GPa), notamos de imediato a perda

de intensidade em todos os modos com o aumento da press˜ao. Observamos tamb´em que os

modos de flex˜ao A e B gradualmente perdem intensidade relativa em comparac¸˜ao com o modo

C (flex˜ao) entre 0 e 1,1 GPa, tendendo progressivamente a colapsar em uma ´unica banda. Em

torno de 0,3 GPa, verificamos que a largura do modo C tem um grande aumento (4x

aprox-imadamente). Como pode ser conferido na Figura 3.9, o modo H (estiramento sim´etrico),

centrado em 969 cm−1, se divide (‘splitting’) e observamos um novo modo centrado em 978 cm−1 (chamaremos de modo I), indicando uma transic¸˜ao da fase ortorrˆombica para outra fase cristalina menos sim´etrica (maior quantidade de modos vibracionais implica simetria mais baixa

do sistema). Em torno de 0,6 GPa podemos notar que a separac¸˜ao dos modos H e I torna-se

bastante evidente. Tamb´em notamos que o modo G (estiramento sim´etrico) ganha intensidade

abruptamente em relac¸˜ao ao modo F (estiramento sim´etrico), implicando na presenc¸a de uma

(40)

em altas press˜oes aplicadas ao molibdato de escˆandio (Sc2(MoO4)3) mostra uma transic¸˜ao da

fase ortorrˆombica (em condic¸˜ao ambiente) para outra fase cristalina em 0,29 GPa [21]. Uma

an´alise comparativa dos resultados em altas press˜oes com experimentos Raman em baixas

tem-peraturas para este material sugere tratar-se da fase monocl´ınica, de simetria menor que a

or-torrˆombica [21]. Devido a semelhanc¸a desses dois materiais em termos de estrutura cristalina

(em condic¸˜oes de press˜ao e temperatura ambiente), ´e prov´avel que a fase do molibdato de ´ıtrio

estabilizada para press˜oes maiores que 0,3 GPa possa ser associada tamb´em a uma fase com

estrutura monocl´ınica.

A partir de 1,4 GPa, vemos na Figura 3.6 que os modos de flex˜ao A e B desaparecem,

a largura do modo C duplica (ver Figura 3.9 e este passa a ocupar o espac¸o onde antes

en-contr´avamos os trˆes modos de dobramento. O modo H (estiramento sim´etrico) tamb´em n˜ao ´e

mais observado para este valor de press˜ao. Os modos restantes (C, D, E, F, G e I) tornam-se

menos resolvidos no espectro, apresentando-se como bandas largas. Para esta press˜ao,

verifi-camos tamb´em o alargamento dos modos de estiramento sim´etrico F e G, como pode ser

con-statado nos detalhes da Figura 3.11). A partir dessas observac¸˜oes, sugerimos o in´ıcio de outra

transic¸˜ao de fase, mas desta vez, para uma fase de alta press˜ao possivelmente n˜ao cristalina

devido `a acentuada largura das bandas que traduzem a desordem estrutural induzida no material

pela press˜ao hidrost´atica [21, 23, 31]. Uma observac¸˜ao meramente qualitativa da evoluc¸˜ao da

forma dos espectros com a press˜ao ilustrada na Figura 3.6 mostra uma tendˆencia de alargamento

e supress˜ao de todos os modos. Entre 1,4 GPa e 1,8 GPa, verificamos atrav´es da Figura 3.10 um

comportamento crescente da largura dos modos D e E (estiramento assim´etrico) com o aumento

da press˜ao.

Em torno de 2,4 GPa (ver Figura 3.6), os modos de estiramento sim´etrico F e I tamb´em

deixam de ser distingu´ıveis. A partir deste valor de press˜ao, os espectros apresentam apenas

quatro modos (C, D, E e G) extremamente largos e de baix´ıssima intensidade. Os espectros

medidos em press˜oes maiores acentuam a tendˆencia j´a observada entre 1,4 GPa e 2,4 GPa,

havendo gradual perda na intensidade e aumento da largura de linha. Os picos bem resolvidos

dos trˆes conjuntos observados em baixa press˜ao colapsam para formar em alta press˜ao trˆes

bandas largas. O alargamento pronunciado dos modos restantes nos permite concluir que houve

perda da simetria translacional e da correlac¸˜ao de longo alcance do cristal, em outras palavras,

alcanc¸amos uma fase desordenada de alta press˜ao em 2,4 GPa e possivelmente temos o in´ıcio

do processo de amorfizac¸˜ao induzida pela press˜ao. O espectro (ilustrado na Figura 3.8) medido

(41)

28

tungstato de ´ıtrio (Y2(WO4)3) em 10,8 GPa, j´a caracterizado na sua fase amorfa [23]. Isto nos

permite sugerir que o molibdato de ´ıtrio pode tornar-se amorfo em press˜oes superiores ao limite

estudado neste trabalho.

Figura 3.7: Espectros Raman do Y2(MoO4)3medidos durante a descompress˜ao entre 5,3 GPa

e 0,3 GPa).

A reversibilidade das transformac¸˜oes estruturais observadas fornece informac¸˜oes

impor-tantes sobre as mudanc¸as cristalino-desordenado. Realizamos medidas de espalhamento Raman

durante o processo de descompress˜ao, conforme ilustrado na Figura 3.7. Podemos observar que

a descompress˜ao n˜ao provocou variac¸˜oes significativas na forma dos espectros entre 9,1 GPa

e 5,7 GPa. A Figura 3.7 mostra as oito ´ultimas medidas no regime de descompress˜ao, onde

podemos notar uma leve diminuic¸˜ao nas larguras de linha, indicando uma reduc¸˜ao no grau de

desordem `a medida que a press˜ao diminui. O comportamento da largura de linha (ver Figura

3.12) e da posic¸˜ao dos modos (ver Figura 3.13) indicam a manutenc¸˜ao da fase desordenada,

indicando que a transformac¸˜ao cristalino-desordenado ´e irrevers´ıvel.

Percebemos que o ´ultimo espectro medido no regime de descompresss˜ao em 0,2 GPa ´e

muito semelhante ao espectro medido no regime de compress˜ao em 2,4 GPa, valor para o qual

estabelecemos o aparecimento da fase desordenada de alta press˜ao. A Figura 3.8 apresenta um

comparativo espec´ıfico entre estes espectros. Essas observac¸˜oes mostram claramente que a fase

(42)

Figura 3.8: Comparac¸˜ao dos espectros tomados em 2,4 GPa (regime de compress˜ao), 9,6 GPa (m´axima press˜ao atingida em nosso experimento) e 0,2 GPa (regime de descompress˜ao).

0,3 GPa. Ao fim do experimento, obtivemos a mesma fase desordenada alcanc¸ada em 2,4 GPa,

mostrando que apenas a descompress˜ao n˜ao ´e capaz de devolver a fase original do molibdato

de ´ıtrio.

Procedemos com uma an´alise mais detalhada sobre a dependˆencia da frequˆencia dos modos

com a variac¸˜ao da press˜ao. Montamos ent˜ao o gr´aficoω (cm−1) versus P (GPa) mostrado na Figura 3.13, cujos pontos representam as frequˆencias onde os modos est˜ao centrados para os

respectivos valores de press˜ao nos quais foram observados. As linhas s´olidas representam os

ajustes para esses pontos utilizando a equac¸˜ao:

ω(P) =ω0+αP. (3.7)

Determinamos os coeficientes α =∂ ω/∂P das retas ajustadas na Figura 3.13. Os

valo-res das frequˆenciasω0 obtidas das retas est˜ao listados na tabela 3.6. A ocorrˆencia de valores

negativos paraα ´e comum em compostos que apresentam expans˜ao t´ermica negativa [14]. Os

(43)

30

Figura 3.9: Variac¸˜ao da largura dos modos de flex˜ao com a press˜ao.

Figura 3.10: Variac¸˜ao da largura dos modos de estiramento assim´etrico com a press˜ao.

que os valores encontrados para os modos de mesma esp´ecie na fase cristalina. Este

compor-tamento ´e invertido para os modos C e E. Podemos relacionar isto com a reduc¸˜ao do volume

do material, lembrando que a press˜ao aplicada forc¸a uma reduc¸˜ao das distˆancias interatˆomicas

(44)

Figura 3.11: Variac¸˜ao da largura dos modos de estiramento sim´etrico com a press˜ao.

Figura 3.12: Variac¸˜ao da largura dos modos remanescentes durante a descompress˜ao.

Na literatura [21] ´e relatado para o Sc2(MoO4)3 que se a press˜ao aplicada for

suficiente-mente alta para empurrar os tetraedros MoO24− uns contra os outros, a forte repuls˜ao entre eles em conjunto com a reduc¸˜ao do volume impedem uma reconFigurac¸˜ao do material, levando `a

perda da correlac¸˜ao de longo alcance e consequente desordenamento da estrutura cristalina.

(45)

32

Figura 3.13: Variac¸˜ao da posic¸˜ao dos modos do Y2(MoO4)3durante a compress˜ao.

Tabela 3.6: Valores deα (cm−1GPa−1) eω0(cm−1) determinados para: Fase 1 (entre 0,3 e 1,1

GPa) e Fase 2 (entre 2,4 GPa e 9,6 GPa).

Fase 1 Fase 2

Modo ω0 α ω0 α

A 323,8 -0,6

B 336,0 -0,9

C 349,6 14,9 351,6 7,1

D 824,6 4,4 728,5 5,2

E 834,7 8,6 849,8 3,1

F 937,6 -2,7

G 958,5 -1,5 940,4 0,6

H 968,3 -2,6

I 976,9 2,7

considerac¸˜oes te´oricas.

Para finalizar nosso estudo, ainda precisamos descobrir qual fase cristalina foi obtida em

0,3 GPa para o Y2(MoO4)3. Como mais ind´ıcios, podemos lembrar que diversos molibdatos e

tungstatos (inclu´ındo nossa amostra) apresentam uma sequˆencia de transic¸˜oes de fase sob altas

press˜oes, passando de uma fase cristalina para outra fase cristalina de simetria mais baixa e

pos-teriormente para uma fase desordenada [21] e estudos em molibdatos de terras raras sugerem

que estes compostos transitam da fase ortorrˆombica para monocl´ınica antes de amorfizar-se

(46)

experi-3.5

Y

2

(MoO

4

)

3

·

xH

2

O sob altas press˜oes hidrost´aticas

Embora apenas a fase anidra do molibdato de ´ıtrio mostre o fenˆomeno de expans˜ao t´ermica

negativa e portanto o torna um material mais atrativo, realizamos tamb´em experimentos de

espectroscopia Raman em altas press˜oes para a fase hidratada. Nosso objetivo ´e comparar os

resultados com aqueles obtidos para a fase anidra na tentativa de revelar o papel das mol´eculas

de H2O na estabilidade do molibdato de ´ıtrio.

Colocamos uma amostra de molibdato de ´ıtrio policristalina e hidratada dentro da c´elula

de press˜ao a extremos de diamante, utilizando novamente o ´oleo comercial Nujol como meio

transmissor de press˜ao. Em cada medida, foram realizadas duas acumulac¸˜oes de 180 segundos.

Obtivemos 16 espectros durante o regime de compress˜ao (de 0 a 6,2 GPa) e mais 12 espectros

durante o regime de descompress˜ao (press˜ao ambiente).

Figura 3.14: Espectro Raman do Y2(MoO4)3·xH2O (x<3) ap´os ser transferido para a c´elula

de press˜ao.

O primeiro espectro medido no interior da c´elula de press˜ao exibe as trˆes bandas

anterior-mente identificadas durante a caracterizac¸˜ao da amostra: 340 cm−1 (ν2), 831 cm−1(ν3) e 952

(47)

34

931 cm−1, como pode ser observado no espectro ilustrado na Figura 3.14. Lianget al.atribuem esses trˆes modos adicionais `a fase hidratada com f´ormula Y2(MoO4)3·xH2O (x<3) [36], que

identificamos como sendo a fase investigada neste experimento de press˜ao. A evoluc¸˜ao dos

espectros com o aumento da press˜ao est´a ilustrada na Figura 3.15.

Figura 3.15: Espectros do Y2(MoO4)3·xH2O (x<3) em func¸˜ao da press˜ao hidrost´atica.

A partir de 0,8 GPa, os modos com frequˆencias de partida iguais a 814 cm−1, 831 cm−1 e 850 cm−1 tendem a colapsar em uma ´unica banda com frequˆencia em torno de 834 cm−1, formando claramente uma banda larga para valores de press˜ao em torno de 1,2 GPa. A Figura

3.16 mostra que os modos de frequˆencias iniciais 814 cm−1e 850 cm−1n˜ao s˜ao mais observa-dos em 0,8 GPa e 1,2 GPa, respectivamente. A partir de 3,3 GPa, os moobserva-dos com frequˆencias de

partida iguais a 931 cm−1e 952 cm−1 evoluem para uma banda com frequˆencia de 945 cm−1, exibindo comportamento idˆentico ao observado para a fase anidra em torno dos mesmos

valo-res de pvalo-ress˜ao, indicando poss´ıvel in´ıcio de um processo de amorfizac¸˜ao induzida pela pvalo-ress˜ao

hidrost´atica nessa fase hidratada. Tamb´em ressaltamos que o espectro medido em 6,2 GPa

in-dica uma reduc¸˜ao significativa na correlac¸˜ao de longo alcance do material, apresentando forma

t´ıpica de um espectro de fase amorfa, como ´e observado na literatura para o Y2(WoO4)3 [23].

Ap´os a descompress˜ao do sistema, a amostra retornou para o estado desordenado observado em

2,4 GPa durante a compress˜ao, como pode ser conferido na Figura 3.15.

Imagem

Figura 1.1: Estrutura cristalina do Y 2 (MoO 4 ) 3 (Pbcn). Tetraedros escuros representam MoO 4 e octaedros claros representam YO 6
Figura 2.1: Diagramas de n´ıveis ilustrando os diferentes tipos de espalhamento de luz n˜ao ressonantes
Figura 2.2: Modelo cl´assico da interac¸˜ao entre radiac¸˜ao eletromagn´etica e mat´eria
Figura 2.3: Detalhe da bigorna de diamante, gaxeta e amostra. Adaptac¸˜ao do original [41].
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