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Open Políticas públicas de esporte e lazer na cidade de João PessoaParaíba: uma análise do ordenamento legal

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Academic year: 2018

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UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA CENTRO DE EDUCAÇÃO

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO MESTRADO EM EDUCAÇÃO

ÁUREA AUGUSTA RODRIGUES DA MATA

POLÍTICAS PÚBLICAS DE ESPORTE E LAZER NA CIDADE DE JOÃO PESSOA/PARAÍBA: uma análise do ordenamento legal.

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ÁUREA AUGUSTA RODRIGUES DA MATA

POLÍTICAS PÚBLICAS DE ESPORTE E LAZER NA CIDADE DE JOÃO PESSOA/PARAÍBA: uma análise do ordenamento legal.

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Educação do Centro de Educação da Universidade Federal da Paraíba (PPGE/CE/UFPB), como requisito para a obtenção do título de Mestre em Educação.

Orientador: Prof. Dr. Jorge Fernando Hermida

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M425p Mata, Áurea Augusta Rodrigues da.

Políticas públicas de esporte e lazer na cidade de João

Pessoa/Paraíba: uma análise do ordenamento legal / Áurea Augusta Rodrigues da Mata. -- João Pessoa, 2011.

207f. : il. Orientador: Jorge Fernando Hermida Dissertação (Mestrado) – UFPB/CE

1. Educação. 2. Políticas Públicas e Sociais. 3. Políticas Municipais – Esporte – Lazer – João Pessoa-PB. 4. Ministério do Esporte. 5. Ordenamento Legal.

UFPB/BC CDU: 37(043)

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AGRADECIMENTOS

À minha MÃE, minha inspiração de vida, exemplo de mulher, guerreira, lutadora. À meu pai, irmãs, sobrinhos e a Luar – filha do coração, por todo o apoio que me dão e pela

confiança que depositam em mim, amo-os muito.

À Tárcio, meu companheiro do dia-a-dia, e também da militância nas lutas em defesa da classe trabalhadora; obrigada pelo amor, carinho, cuidado, calma e, sobretudo, por

compartilhar comigo os sonhos e os medos.

Ao meu querido orientador, prof. Jorge Hermida, a quem aprendi a conviver e admirar, por compartilhar de seus conhecimentos, pelos auxílios nos momentos complicados, por ser

sempre otimista e achar que no final tudo vai dar certo.

A Celi Taffarel, exemplo de luta, de militância, por nos fazer acreditar e nos impulsionar a lutar em nome da construção coletiva, em defesa de um projeto histórico para além do capital.

A todos os que fazem o coletivo LEPELPB, em especial a Jeimison Macieira, pelos vários momentos compartilhados de angústias e aprendizados.

Aos lepelianos do LEPEL/FACED/UFBA, pela socialização do conhecimento, pelos auxílios no trato com o conhecimento.

À professora Roseane Almeida, minha eterna orientadora.

À professora Virgínia de Oliveira, por ter nos ajudado nesta construção desde o projeto de pesquisa, enquanto ministrante da disciplina Seminários em Políticas Educacionais, até este

momento de defesa. Espero estarmos juntas em muitos outros momentos.

Ao professor Alberto Puga, pelos importantíssimos momentos que se dispôs a contribuir com o nosso estudo. A burocracia acadêmica infelizmente nos furtou um riquíssimo momento de

crescimento e amadurecimento teórico e prático ao seu lado.

Aos amigos conquistados no mestrado, Francisco, Ítalo, Socorro, Carla, Tarcísio, Corina, Daniel, Ana Cláudia. Que sejam eternos.

Às florzinhas do nosso jardim mirabili visu, da minha vida, Magna, Érika, Chica, Janine,

Aniele, Joanna, Poliana, Gisele. Mesmo distantes sempre dando total apoio. Amo-as muito. À Hugo, Mônica Villaça e Edamara, em nome dos demais amigos irmãos e irmãs, que a vida

me possibilitou conhecer e escolher para ser parte de minha família, valeu pela torcida. À todos os outros que de alguma forma colaboraram para a construção deste estudo, e

que aqui não foram citados, meu muito obrigada.

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RESUMO

O presente estudo se propõe avaliar as Políticas Públicas de Esporte e Lazer desenvolvidas no município de João Pessoa/Paraíba, através do seu ordenamento legal. Para dar conta desse objetivo, foi elaborado o seguinte problema de pesquisa: quais relações e nexos são estabelecidos entre as políticas públicas de esporte e lazer desenvolvidas no referido município, nos aspectos relativos ao ordenamento legal, com as políticas públicas destes setores a nível federal e estadual, considerando o esporte e o lazer como direito constitucionais? Do ponto de vista metodológico, tomamos como base a abordagem qualitativa e nos utilizamos do método de pesquisa documental e explicativa; para análise, nos valemos do método de análise de conjuntura. Assumimos como referência o materialismo histórico-dialético como teoria do conhecimento. Para a consecução dos objetivos desta pesquisa, realizamos um levantamento do ordenamento legal relacionado ao esporte e ao lazer do referido município, do estado e também a nível federal. Desenvolvemos um quadro analítico tomando como base dois significativos marcos históricos para a política e também para o esporte e o lazer no nosso país. São eles: a promulgação da Constituição Federal de 1988 e a eleição de Luiz Inácio Lula da Silva no ano de 2002. Para tanto, partiu-se da avaliação dos dados da realidade e apontou indicadores para essas políticas setoriais de esporte e lazer em nível municipal e federal, na perspectiva da democratização e universalização do esporte e do lazer. O percurso trilhado junto ao objeto de estudo, fez chegar aos seguintes resultados: a) As políticas públicas de esporte e lazer a nível municipal e federal são pautadas por orientações neoliberais que privilegiam os interesses da lógica do mercado em detrimento das necessidades humanas, negligenciando, assim, o esporte e o lazer as camadas mais carentes da população, isto é, aos filhos da classe trabalhadora; b) Atualmente, o ordenamento legal do município não apresenta política pública consistente que possibilite efetivamente a democratização e universalização desse setor, e que elevem o grau de desenvolvimento da cultura esportiva e de lazer da população. Faltam elementos para compor uma política pública nessa perspectiva. O acesso que a população mais carente tem a esse setor é precário e restrito; e, c) Contudo, existem propostas tramitando na Câmara Municipal de João Pessoa que, se aprovadas e efetivadas, possibilitarão um maior acesso ao esporte e ao lazer, e possivelmente contribuirão para elevar o padrão esportivo e cultural da sua população, além de colaborar na estruturação do Sistema Brasileiro Esportivo. Para isso, as políticas para o esporte e lazer no município não podem ser pautadas apenas pela possibilidade da cidade se tornar subsede de um megaevento esportivo, a Copa do Mundo FIFA 2014. Elas precisam levar em consideração as determinações sócio-históricas da sociedade brasileira e assumir que o esporte é um patrimônio cultural da humanidade, um direito social, previsto na constituição, que deve se materializar na vida de todos. Para tanto é necessário o impulso das Políticas Públicas devidamente regulamentadas e esta regulamentação deve prever marcos referentes ao: financiamento; espaços públicos; projetos e programas em todas as manifestações – educacional, de participação e alto rendimento. Com diretrizes, planejamentos, pessoal e infra-estrutura que realmente viabilizem políticas articuladas de acesso ao esporte para universalizá-lo e democratizá-lo.

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ABSTRACT

The present study aims to evaluate the Sports and Leisure Public Policies developed in the city of João Pessoa/Paraíba, through its legal budget. To accomplish this goal, it was designed the following research problem: considering sport and leisure as a constitutional right, what connections and relationships are established between the public policies of sport and leisure developed in the aforementioned city, in the aspects related to the legal budget, with the public policies at the federal and state level. From the methodological standpoint, the study takes a qualitative approach and uses of the method of explanatory and documentary research, for the analysis, we use the ―método de análise de conjuntura‖. We take as reference the historical and dialectical materialism as a theory of knowledge. To achieve the objectives of this research, we mapped out the legal budget related to sport and leisure of that city, the state and also at the federal level. We develop an analytical framework drawing on two significant landmarks for the politics and also for the sport and leisure in our country. They are: The enactment of the 1988 Federal Constitution and the election of Luiz Inácio Lula da Silva in 2002. To this end, the study started with the evaluation of the existent data and pointed to indicators for these regional policies for sport and leisure at the municipal and federal level, from the perspective of democratization and socialization of the sport and leisure. The path taken alongside the object of study, brought the following results: a) Public policies for sport and leisure at the municipal and federal level are guided by neo-liberals orientation which favor the interests of the logic of the market at the expense of human needs. Neglecting, thus, the sport and leisure to the poorest section of the population, that is, the children of the working class, b) Currently, the legal budget of the city does not present a consistent policy that effectively enables the democratization and socialization of this section, and that it raises the degree of development of sports and leisure culture of the population. There are missing elements to make a public policy in this perspective. The access that the poorest people have in this section is restricted and precarious; and c) However, there are proposals under consideration at ―Câmara Municipal‖ of João Pessoa, which, if approved and implemented, will enable a greater access to sport and leisure, and possibly help raising the standard for sports and culture of its population as well as to collaborate in the structuring of the Brazilian Sports System. For this, policies for sport and leisure in the city cannot be guided only by the possibility of the city to become one of the places for a mega sports event, in this case, FIFA‘s 2014 World Cup. They need to take into account the socio-historical determinations of Brazilian society and assume that sport is a part of humanity's cultural heritage, a social right supported by the constitution and one that should be present in the lives of all people. This requires the force of properly regulated public policy and this regulation should provide for benchmarks related to: finance, public spaces, projects and programs in all areas - education, participation and high performance. With guidance, planning, personnel and infrastructure that actually create viable and articulated policies around access to sport that universalize and democratize it.

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LISTA DE FIGURAS E QUADRO

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LISTA DE SIGLAS

ALCA Acordo de Livre Comércio das Américas BID Banco Interamericano para o Desenvolvimento

BM Banco Mundial

CBCE Colégio Brasileiro de Ciência do Esporte CBF Confederação Brasileira de Futebol

CDDB Conselho de Desenvolvimento do Desporto Brasileiro CDMB Comissão Desportiva Militar Brasileira

CMJP Câmara Municipal de João Pessoa CNA Comissão Nacional de Atletas CND Conselho Nacional do Desporto CNE Conselho Nacional de Esporte

CONANDA Conselho Nacional dos Direitos da Criança e do Adolescente COB Comitê Olímpico Brasileiro

CONFEF Conselho Nacional de Educação Física CPB Comitê Paraolímpico Brasileiro

DED Departamento de Educação Física e Desporto

DIEESE Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos FHC Fernando Henrique Cardoso

FMI Fundo Monetário Internacional

IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística

INDESP Instituto Nacional de Desenvolvimento do Desporto IDH Índice de Desenvolvimento Humano

LEPEL Linha de Estudo e Pesquisa em Educação Física & Esporte e Lazer LEPELPB Laboratório de Estudos e Pesquisa em Educação Física, Esporte e Lazer

da Paraíba

ME Ministério do Esporte

MEC Ministério da Educação e Cultura MET Ministério do Esporte e Turismo

MP Medida Provisória

ONED Organização Nacional de Entidades Nacionais Dirigentes de Desporto ONG Organização Não-Governamental

ONU Organização das Nações Unidas

PAC Programa de Aceleração do Crescimento PCdoB Partido Comunista do Brasil

PELC Programa de Esporte e Lazer da Cidade PMJP Prefeitura Municipal de João Pessoa PNE Política Nacional do Esporte

PNAD Plano Nacional de Educação Física e Desportos PPA Plano Plurianual

PST Programa Segundo Tempo PT Partido dos Trabalhadores

SEED Secretaria de Educação Física e Desporto PIB Produto Interno Bruto

SEJER Secretaria da Juventude, Esporte e Recreação SEJEL Secretaria de Estado da Juventude, Esporte e Lazer

SNDEL Secretaria Nacional de Desenvolvimento de Esporte e de Lazer SNEED Secretaria Nacional de Esporte Educacional

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO... 11

Capítulo 1 - As Políticas Públicas e Sociais no Estado Capitalista... 20

1.1. As Políticas Públicas no Estado Capitalista... 27

1.2. As Políticas Sociais: origem e método no contexto do Neoliberalismo... 31 1.3. Breve análise do esporte de alto rendimento na sociedade capitalista, a partir das leis gerais que regem o capital... 38

Capítulo 2 - O Esporte e o Lazer como Direitos Sociais... 44

2.1. O Processo de transição política do Esporte no Brasil... 51

2.2. O governo Lula e a criação do Ministério do Esporte... 57

2.3. O Ministério do Esporte: em que base se constituiu?... 62

2.4. O Ministério do Esporte em ação ... 68

2.4.1. A Conferência Nacional de Esporte e seus desdobramentos ... 77

2.4.2. Diagnóstico e Levantamentos Nacionais do Esporte e do Lazer... 81

Capítulo 3 - A Legislação Esportiva Brasileira: a Relação entre o local e o nacional na construção do Sistema Brasileiro Esportivo... 88

3.1. Breve histórico da Legislação Esportiva Brasileira... 88

3.2. ―Leis Cidadãs‖ que reconhecem o esporte e o lazer enquanto direitos sociais... 101

3.3. O Ordenamento Legal Estadual e Municipal e a relação com o Sistema Brasileiro Esportivo... 104

3.3.1. A Constituição do Estado da Paraíba, a Lei Orgânica do Município de João Pessoa, o Plano Diretor e suas relações com o esporte e o lazer... 104

3.3.2. Os órgãos gestores da política de esporte e lazer: a Secretaria Municipal da Juventude, Esporte e Recreação (SEJER) e a Secretaria de Estado da Juventude, Esporte e Lazer (SEJEL)... 111

3.3.3. Análise do ordenamento legal que trata do esporte e lazer no município de João Pessoa/Paraíba... 115 CONSIDERAÇÕES FINAIS... 134

REFERÊNCIAS... 140

APÊNDICES... 153

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INTRODUÇÃO

A presente pesquisa tem por objetivo geral avaliar as Políticas Públicas de Esporte e Lazer desenvolvidas no município de João Pessoa/Paraíba através da análise do ordenamento legal. Essa temática de estudo faz parte das reflexões postas nos estudos desenvolvidos pelo Laboratório de Estudos e Pesquisas em Educação Física, Esporte e Lazer da Paraíba - LEPELPB1, o referido laboratório faz parte da Rede LEPEL2 que tem como atividade central o desenvolvimento do Projeto Integrado de Pesquisa Problemáticas Significativas do Trabalho Pedagógico, da Produção do Conhecimento, das Políticas Públicas e da Formação de Professores de Educação Física e Esporte abordadas através de Pesquisa Matricial. Nossa pesquisa se insere junto aos estudos desenvolvidos na rede que têm como eixo as políticas públicas.

Nosso objeto de estudo é o ordenamento legal do município de João Pessoa, que tratam do esporte e do lazer. E o nosso problema de pesquisa busca investigar: quais relações e nexos são estabelecidos entre as políticas públicas de esporte e lazer desenvolvidas no referido município, nos aspectos relativos ao ordenamento legal, com as políticas públicas destes setores a nível federal e estadual, considerando o esporte e o lazer como direito constitucionais?

Para fazermos essa discussão sobre políticas públicas, tomamos como referência a autora Azevedo (2004, p. 05), que compreende as políticas públicas como sendo aquelas que ―[...] representam a materialidade da intervenção do Estado, ou o Estado em Ação‖; e em um plano mais concreto, para a referida autora, ―o conceito de políticas públicas implica considerar os recursos de poder que operam na sua definição e que tem nas instituições do Estado, sobretudo na máquina governamental, o seu principal referente‖ (idem, idem).

Abordamos as políticas sociais a partir de sua origem, o método, as políticas sociais no neoliberalismo e como se constituem as políticas sociais no Brasil contemporâneo. As políticas sociais surgem de forma gradual e diferenciada entre os países, e foi em meio às confluências dos movimentos de crescimento do capitalismo com a Revolução Industrial, das lutas de classe e do desenvolvimento da intervenção estatal que essas políticas se originaram. E, é na mudança do capitalismo concorrencial para o capitalismo monopolista, mais especificamente após a II Guerra Mundial, que acontece a generalização dessas políticas.

1 O LEPELPB desenvolve suas atividades na Universidade Federal da Paraíba (UFPB) e atualmente está inscrito

no Diretório Nacional dos grupos de Pesquisa do Brasil - CNPq.

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As políticas sociais colocadas em desenvolvimento no Brasil, no período que podemos denominar de contrarreforma neoliberal (dos anos de 1990 até os dias de hoje), foram políticas orientadas para o mercado, com ênfase nas privatizações, inclusive dos setores de utilidade pública como a saúde, a previdência e a educação. No que se refere às privatizações, parte significativa do patrimônio público brasileiro foi entregue ao capital estrangeiro. Outro agravante para a situação econômica foi o fato das empresas privatizadas não terem a obrigação de comprarem insumos no Brasil, essas questões levaram a um desmembramento de parte do parque industrial nacional, ao desequilíbrio na balança comercial e ao desemprego. Enfim, as políticas sociais no Brasil ainda não conseguem dar respostas aos problemas estruturais aos quais a classe trabalhadora está submetida.

No campo específico das Políticas Públicas de Esporte e Lazer, percebemos que, no âmbito acadêmico, estão ampliando, apesar de ainda ser considerado insuficiente, o interesse em estudar e analisar essas políticas, nos níveis federal, estadual e municipal. Acreditamos que o fato de, pela primeira vez na história da política brasileira o governo federal ter criado um Ministério específico para o esporte, tem provocado um maior interesse entre os pesquisadores da área para estudar as políticas públicas e sociais focadas nesse setor.

Em 2003, no governo do presidente Luís Inácio Lula da Silva, é instituído o Ministério do Esporte, tendo como missão ―formular e implementar políticas públicas inclusivas e de afirmação do esporte e do lazer como direitos sociais dos cidadãos, colaborando para o desenvolvimento nacional e humano‖3.

O Ministério do Esporte toma como base para estruturar-se a Lei nº 9.615, de 24 de março de 1998, popularizada como Lei Pelé. Nela o esporte é reconhecido a partir de três manifestações: Desporto educacional, praticado nos sistemas de ensino e em formas

assistemáticas de educação; Desporto de participação, de modo voluntário, compreendendo

as modalidades desportivas praticadas com a finalidade de contribuir para a integração dos praticantes na plenitude da vida social e Desporto de rendimento, praticado segundo normas

gerais desta Lei e regras de prática desportiva, nacionais e internacionais.

Esse ministério, até julho do corrente ano, era constituído por três secretarias e seus respectivos departamentos: 1- Secretaria Nacional de Esporte Educacional – a) Departamento de Esporte Educacional e de Identidade Cultural e b) Departamento de Esporte Universitário; 2- Secretaria Nacional de Desenvolvimento de Esporte e de Lazer – a) Departamento de Política Social de Esporte e Lazer e b) Departamento de Ciência e Tecnologia do Esporte; 3-

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Secretaria Nacional de Esporte de Alto Rendimento – a) Departamento de Esporte de Base e de Alto Rendimento e b) Departamento de Excelência e Promoção de Eventos.

Recentemente houve uma mudança na estruturação organizacional do Ministério do Esporte, através do Decreto nº 7.529 datado de 21 de julho do ano corrente, e em termos de secretarias ficou da seguinte forma: 1 – Secretaria Nacional de Esporte, Educação, Lazer e Inclusão Social – a) Departamento de Gestão de Programas de Esporte, Educação, Lazer e Inclusão Social e b) Departamento de Desenvolvimento e Acompanhamento de Políticas e Programas Intersetoriais de Esporte, Educação, Lazer e Inclusão Social; 2 – Secretaria Nacional de Futebol e Defesa dos Direitos do Torcedor – a) Departamento de Futebol Profissional e b) Departamento de Defesa dos Direitos do Torcedor; 3 - Secretaria Nacional de Esporte de Alto Rendimento – a) Departamento de Esporte de Base e de Alto Rendimento e b) Departamento de Excelência Esportiva e Promoção de Eventos.

Levantamos como hipótese de trabalho que as relações e nexos estabelecidos entre as políticas públicas de esporte e lazer do município de João Pessoa e as políticas públicas desenvolvidas em nível federal e estadual, são pautadas por orientações neoliberais que privilegiam os interesses da lógica do mercado em detrimento de necessidades humanas. Negligenciando, desta forma, esse importante conteúdo da cultura corporal - o esporte - às camadas mais carentes da população, isto é, aos filhos da classe trabalhadora.

Nossa pesquisa tem como objetivos específicos:

 Averiguar se o município de João Pessoa está fazendo leis que democratizem o esporte e o lazer;

 Analisar quais impactos e contribuições as leis municipais apresentam nesse processo de democratização e universalização do acesso a prática do esporte e do lazer enquanto direito constitucional;

 Identificar qual o grau de desenvolvimento da cultura esportiva e de lazer do referido município, a partir do ordenamento legal.

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esporte4, podemos constatar que, no que se refere à estrutura organizacional na área de esporte, 17,3% das prefeituras possuem suas secretarias de esporte e lazer (e/ou recreação) exclusivas, 54,2% possuem secretaria municipal em conjunto com outras atividades, 14,5% possuem o setor de esporte subordinado a outra secretaria, 7,2% possui o setor subordinado diretamente à chefia do executivo, 0,9% como órgão da administração indireta e 5,9% não possuem estrutura específica. Contemplando essas referências no Estado da Paraíba temos: 9% das prefeituras possuem suas secretarias de esporte e lazer (e/ou recreação) exclusivas, 60% possuem secretaria municipal em conjunto com outras atividades, 18,9% possuem o setor de esporte subordinado a outra secretaria, 0,9% possui o setor subordinado diretamente à chefia do executivo, 0% como órgão da administração indireta e 11,2% não possuem estrutura específica. Esses dados da quantidade de municípios em nosso país, bem como no estado da Paraíba, que já possuem secretarias específicas para tratar do esporte e do lazer nos mostram a importância desprendida a estes setores no rol das políticas públicas municipais.

No que se refere à legislação, são 87,3% dos municípios do país nos quais a política de esporte está contemplada na Lei orgânica e/ou em outros instrumentos legais e 12,7% não faz referência nem na lei orgânica e nem em outros instrumentos legais. Desse total de municípios que a política está pautada, em 36,6% a discussão do esporte está contemplada na Lei orgânica e em outros instrumentos legais, 46,6% têm apenas citada na Lei Orgânica do Município e em 4,1% essa discussão está contemplada somente em outros instrumentos legais. No Estado da Paraíba são: 83,4% dos municípios nos quais a política de esporte está contemplada na Lei orgânica e/ou em outros instrumentos legais e 16,6% sem lei orgânica e outros instrumentos legais. As informações supracitadas nos fez refletir sobre a situação do esporte e do lazer no município de João Pessoa/Paraíba.

Avaliamos, por necessário, fazermos uma breve caracterização do município, por ser ele o local onde desenvolvemos esse estudo e, assim, conhecermos um pouco suas características para, posteriormente, adentrarmos nas questões metodológicas.

Localizada no Nordeste do país, a capital do estado da Paraíba é considerada a cidade mais verde do hemisfério sul. Possui uma população constituída por 723.514 habitantes (IBGE, 2010). O índice de desenvolvimento humano (IDH)5 é 0, 783, ocupando a 1ª

4

Esses dados tomam como foco quatro variáveis, são elas: o tipo de órgão gestor do esporte; conselho municipal de esporte; a legislação municipal do esporte e ações, projetos e/ou programas no esporte.

5 O IDH é um dado utilizado pela ONU para analisar a qualidade de vida de uma determinada população, para

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colocação no estado. Já o Brasil, ocupa o 73º lugar no ranking mundial e o estado da Paraíba ocupa a 24ª posição entre os 26 estados e o Distrito Federal.

De acordo com os critérios utilizados pelo IBGE quanto à abrangência da população, se configura como um município de grande porte. A cidade abarca uma área geográfica de 210,551 km2, e o Produto Interno Bruto – PIB - de R$ 7.661.218, 505 mil (IBGE, 2008). A cidade possui dois distritos industriais composto por variados segmentos, dentre eles: alimentos, cimento, couro, tecnologia da informática, e outros. O comércio e o turismo também compõem a economia da cidade. Dentre as capitais nordestinas, João Pessoa é a segunda mais saneada, 83% do município possui saneamento básico.

Do ponto de vista metodológico, tomamos como base a abordagem qualitativa, na qual o sujeito-pesquisador é parte integrante do processo de construção do conhecimento e interpreta os fenômenos, atribuindo-lhes significados. O processo de investigação, por meio dessa abordagem, possibilita ―incorporar a questão do significado e da intencionalidade como inerentes aos atos, às relações, e às estruturas sociais‖ (MINAYO, 1999, p. 10).

Para tanto, nos utilizamos do método de pesquisa documental. Segundo Gil (2007, p. 66), tal método ―[...] vale-se de materiais que não receberam ainda um tratamento analítico, ou que ainda podem ser reelaborados de acordo com os objetivos da pesquisa‖. Trabalhamos explorando como fonte de pesquisas primárias: documentos oficiais, normatização e legislação em nível municipal e federal referentes às políticas de esporte e lazer. E o processo de análise documental também abrangeu o estudo de fontes secundárias, tais como: estudos e pesquisas, dissertações, teses, livros, artigos e capítulos de livros, que tratavam das políticas públicas de esporte e lazer na Paraíba e também em nível federal. Utilizamo-nos também, do método de pesquisa explicativa. Para Severino (2007, p. 123), a pesquisa explicativa ―além de registrar e analisar os fenômenos estudados, busca identificar suas causas, através da aplicação do método experimental, ou através da interpretação possibilitada pelos métodos qualitativos‖.

Trilhamos o caminho metodológico por etapas. Tomamos como referência as sugestões para construção de uma pesquisa na perspectiva dialética de Triviños (2009, p. 73-74). Inicialmente desenvolvemos a busca, junção e organização desses materiais, ou seja, do ordenamento legal que rege o esporte e o lazer a nível federal, estadual e municipal (―contemplação viva‖ do fenômeno). Posteriormente, elaboramos os critérios a serem analisados e construímos um instrumento de análise6 (quadro analítico) que além de abordar

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aspectos pontuais do arcabouço legal, apresenta questões que nos possibilita responder qual o grau de desenvolvimento da cultura esportiva e de lazer no referido município, a partir do ordenamento legal (análise do fenômeno), especificamente do município. Utilizamos, para análise, o método de análise de conjuntura.

Segundo Souza (1995),

A análise da conjuntura é uma mistura de conhecimento e descoberta, é uma leitura especial da realidade e que se faz sempre em função de alguma necessidade ou interesse. Nesse sentido não há análise de conjuntura neutra, desinteressada: ela pode ser objetiva, mas estará sempre relacionada a uma determinada visão do sentido e do rumo dos acontecimentos (p. 8).

Trabalhar com esse método de análise é assumir o desafio de qualquer análise de conjuntura, que é ―[...] compreender as inter-relações das partes que forma o todo, pois a totalidade é um conjunto de múltiplas determinações‖ (ALVES, 2008, p. 01). No nosso estudo trabalhamos nessa perspectiva, ou seja, abordamos as leis federais, passamos pelas estaduais até chegarmos às municipais; como já dito anteriormente, trabalhamos com as leis que tratam do esporte e do lazer no nosso país, no Estado da Paraíba e mais especificamente, no município de João Pessoa.

Ainda tomando como referência o mesmo autor, ao utilizar esse método, não se deve restringir a análise ―aos limites inerentes de uma dada situação histórica‖, e sim, ―mostrar as oportunidades existentes e as possibilidades abertas no movimento contínuo a cada tempo, em um espaço concreto e nos processos de transformação‖ (idem). Nesse ponto, realizamos um resgate ao processo de transição política do esporte no Brasil, assim como um breve histórico da legislação esportiva brasileira, além de abordamos projetos de leis e indicações apresentadas à Câmara Municipal de João Pessoa, porém ainda não postas em votação, por avaliarmos eles como possibilidades abertas a esse processo de transformação no setor de esporte e lazer.

O autor supracitado apresenta também, algumas etapas do método de se fazer análise de conjuntura, são elas:

1) Seleção do material empírico, buscando realçar os principais fatos econômicos, sociais, políticos e culturais ocorridos no período;

2) Análise deste material buscando identificar os elementos comuns que representam novas tendências (o elemento novo que supera o velho) e as invariantes da conjuntura;

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4) Explicação da correlação de forças entre os diversos atores sociais e como as alterações nesta correlação explicam a dinâmica do movimento social; 5) Análise sincrônica dos elementos da contemporalidade;

6) Explicação das mediações que traduzem as características abstratas dos vetores de transformação capazes de agregar os fatos dispersos da realidade concreta;

7) Comprovação empírica (através de dados estatísticos) das tendências enunciadas nos itens anteriores;

8) Análise diacrônica da evolução longitudinal dos dados e fatos;

9) Apontar tendências futuras que poderão ser checadas e verificadas em análises posteriores;

10) Apontar alternativas de ação e de intervenção social diante do quadro de correlação de forças nacional e internacional (ALVES, 2008, p. 02).

Para além dessas etapas, de acordo com Souza (1995), para realizar análise de conjuntura se faz necessário trabalharmos com algumas categorias, dentre as quais as principais são as seguintes: acontecimentos, cenários, atores, relação de forças e articulação (relação) entre ―estrutura‖ e ―conjuntura‖ (p.9). Partindo destas referências, a elaboração e aplicação do quadro analítico teve como referência dois importantes momentos políticos e sociais: a aprovação da Constituição Federal de 1988 e a eleição de Luiz Inácio Lula da Silva, no ano de 2002. Adotamos essa divisão, por serem esses dois momentos, dois marcos históricos significativos nos quais aconteceram importantes mudanças na política e também no esporte no Brasil.

Para tanto, tomamos como referência o Paradigma Dialético, pelo fato deste paradigma ―[...] vê a reciprocidade sujeito/objeto eminentemente como uma interação social que vai se formando ao longo do tempo histórico [...] prioriza a práxis humana, a ação histórica e social‖ (SEVERINO, 2007, p. 116).

Este paradigma toma por base alguns pressupostos considerados pertinentes à condição humana e às condutas dos homens. São eles: totalidade a inteligibilidade das partes pressupõe sua articulação com o todo; historicidade cada momento é articulação de um processo histórico mais abrangente; complexidade – o real é simultaneamente unidade e totalidade, multiplicidade de partes, articulando-se tanto estrutural quanto historicamente;

dialeticidade – as mudanças no seio da realidade humana ocorrem seguindo uma lógica da contradição e não da identidade; praxidade – os acontecimentos, os fenômenos da esfera humana, estão articulados entre si, na temporalidade e na espacialidade, e se desenvolvem através da prática, sempre histórica e social, e que é a substância do existir humano;

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dialética, essa causalidade se expressa mediante um processo histórico-social; concreticidade – prevalece a empiricidade real dos fenômenos humanos (idem, p. 116-117).

O marxismo enquanto filosofia percebe o homem enquanto ser social e histórico que, mesmo determinado por contextos econômicos, políticos e culturais, é criador da realidade social e transformador desses contextos e da história. O materialismo histórico-dialético como teoria do conhecimento considera seu objeto de modo igualmente histórico, estudando e generalizando o desenvolvimento do conhecimento, a transformação do desconhecido em conhecido (KOPNIN, 1978, p.53). E parte do movimento do real concreto, ou seja, da prática social, entende a ação humana como uma construção histórica, desenvolvendo instrumentos do pensamento, leis e categoriaspara a apreensão da realidade (CHEPTULIN, 1982).

O método foi utilizado para elucidar nos textos das fontes as principais categorias. Segundo Triviños (2009, p. 55), ―Para o marxismo, as categorias se formaram no desenvolvimento histórico do conhecimento e na prática social‖. Entendendo por categorias, as formas essenciais de interpretação filosófica que permitem a apreensão do real.

As categorias, enquanto graus de desenvolvimento do conhecimento, são formas do pensamento que expressam termos mais gerais que permitem ao homem representar adequadamente a realidade, e como tais, são generalizações de fenômenos e processos que existem fora da nossa consciência, e produtos da ação cognitiva dos homens sobre o mundo exterior (GAMBOA, 1996, p. 22).

Trabalhamos com as Categorias Analíticas e as Empíricas. Tomando como referência Minayo (1999, p. 94), as Categorias Analíticas ―são aquelas que retêm historicamente as relações sociais fundamentais e podem ser consideradas balizas para o conhecimento do objeto nos seus aspectos gerais‖. Já as Categorias Empíricas ―são aquelas construídas com finalidade operacional, visando ao trabalho de campo (a fase empírica) ou a partir do trabalho de campo‖ (idem). As categorias analíticas que trabalhamos foram: políticas públicas, políticas sociais, políticas de esporte e lazer, gestores esportivos, ideologia neoliberal, Estado brasileiro, ordenamento legal.

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de poder e o classismo. Encerramos o capítulo com a socialização de uma série de exemplos que servem para ilustrar as relações que se estabelecem entre o esporte e, mais especificamente, o esporte de alto rendimento, com as leis gerais do capital, destacando as seguintes categorias: trabalho assalariado, propriedade privada, exploração mais-valia e luta de classes.

No segundo capítulo problematizamos o esporte e o lazer enquanto direito sociais e os situamos na conjuntura atual. Fizemos uma análise dos dois mandatos do governo de Luiz Inácio Lula da Silva e tratamos da criação do Ministério do Esporte, descrevemos o processo de transição política do esporte no Brasil, discutimos em que base se constituiu o Ministério do Esporte e as ações deste ministério, dando ênfase nos desdobramentos das Conferências Nacionais do Esporte e pontuando os Diagnóstico e Levantamentos Nacionais do esporte e lazer já realizados no nosso país.

O terceiro capítulo tem como carro-chefe as discussões sobre a legislação esportiva brasileira. Estabelecemos as relações entre o local (município de João Pessoa) e o nacional na construção do Sistema Brasileiro Esportivo. Para tanto, realizamos um breve histórico das legislações nacionais, tratamos das ―Leis cidadãs‖ que reconhecem o esporte e o lazer enquanto direitos sociais, e nos debruçamos na análise do nosso objeto de estudo - ordenamento legal do município que tratam do esporte e do lazer.

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CAPÍTULO 1

As Políticas Públicas e Sociais no Estado Capitalista

Nesse capítulo abordaremos as políticas públicas e sociais no estado capitalista de ideologia neoliberal, mas antes de adentramos nessa discussão, analisaremos um pouco o neoliberalismo. Onde e por que surgiu? Qual sua influência na América Latina e, mais especificamente, no Brasil? E como essas políticas se apresentam regidas por essa ideologia? Fazemos estes questionamentos associados a algumas leis gerais do capital, que são possíveis de serem identificadas no momento de análise do objeto de estudo da nossa pesquisa. Elas são: trabalho assalariado, propriedade privada, exploração e mais-valia e luta de classes. Para tanto, realizamos a discussão destas leis gerais do capital no final deste capitulo, junto com a descrição das principais características do modo de fazer política na sociedade capitalista.

De acordo com Perry Anderson (2008), o neoliberalismo surge após a II Guerra Mundial, na região da Europa e da América do Norte, onde imperava o capitalismo. O autor caracteriza o neoliberalismo como sendo uma reação teórica e política contra o Estado intervencionista e de bem-estar social.

O Estado de bem-estar social é uma forma de organização político-social, oriunda do pensamento keynesiano. O economista inglês John Maynard Keynes na tentativa de entender a crise de 1929, também conhecida como Grande Depressão, e de encontrar respostas para ela, propõe no livro Teoria geral do emprego, do juro e da moeda, de 1936, que o Estado tivesse

uma maior intervenção na economia. Neste novo modelo de Estado, ele seria produtor e regulador das relações econômicas e sociais, dentre outras tantas. Desenvolveu-se principalmente na Europa ocidental, e mais intensamente na Suécia, Noruega, Filândia e Dinamarca.

De acordo com Moraes (1997), no keynesianismo, grandezas macroeconômicas seriam movidas pelo Estado, sendo, portanto, possível aglomerar conhecimento e controle prático, regulando oscilações de emprego e investimento, de modo a moderar crises econômicas e sociais, ou seja, seria papel do Estado restabelecer e manter o equilíbrio econômico.

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caracterizando aquilo que na época foi chamado de ―estagflação7‖. No Brasil, o Estado de

bem-estar social entrou em falência antes mesmo de ser implementado em sua plenitude. No nosso país, em fins da década de 1980, podemos destacar situações que levaram a considerar essa década como sendo a ―Década perdida‖. Mas podemos, também, trazer como contraponto, que muitos especialistas, a exemplo de Saviani (1995)8, Leher (1999), Frigotto (1995) e Hermida (2008 e 2011), defendem a hipótese de que a década foi perdida no aspecto econômico. No entanto, no aspecto social e no aspecto político, defendem que não se pode dizer o mesmo. Argumentam que as liberdades políticas foram reestabelecidas e a sociedade civil começou a organizar-se assumindo um papel protagonista no processo de conquistas e, em especial, foram deixados para trás mais de vinte anos de ditadura militar. Enfim, os anos de 1980 podem ser considerados pertencentes a uma década de crises econômicas.

Já a década de 1990, foi de crises econômicas e crises nas finanças públicas. O Brasil ficou propenso aos ditames dos órgãos internacionais como o Fundo Monetário Internacional (FMI) e o Banco Mundial (BM), por conta dos empréstimos financeiros solicitados a esses órgãos no final da década, que tiveram como prioridade a manutenção das políticas públicas e econômicas, seguindo os interesses do capital financeiro internacional, contrários a favorecer ou valorizar políticas de natureza social. O fracasso do modelo econômico e social, até então predominante, deu oportunidade para que a ideologia e planos neoliberais passassem a ganhar terreno.

O texto base do neoliberalismo é O caminho da Servidão, escrito em 1944 por

Friedrich Hayek. Neste livro, o autor defende a liberdade do mercado frente a qualquer tipo de intervenção estatal e propõe a implementação do ‗estado mínimo‘. O conteúdo do livro foi apropriado pelo ideário neoliberal que colocou em pauta as ideias de Hayek elaboradas três décadas atrás como receita central para superar a crise mundial do capitalismo que se desencadeia na década dos anos de 1970, com a crise do petróleo. Para Anderson (2008, p. 11), o avanço neoliberal começou em 1979, na Inglaterra com o governo de Margaret Thatcher; confirmou em 1980, com Ronald Reagan nos Estados Unidos; em 1982, quando Helmut Khol derrotou o regime social liberal de Helmut Schimidt, na Alemanha; e ainda, após 1983, ocasião em que o governo de direita Poul Schluter foi eleito na Dinamarca.

7 De acordo com Singer (1998, p. 167),

estagflação refere-se ao período em que ―a diminuição da demanda efetiva reduzia o nível de atividade e do emprego, mas os preços e os salários continuavam a subir. Era algo novo na história da economia de mercado‖. 8 O autor defende esta hipótese no seu artigo ―Os ganhos da década perdida‖, na revista Presença Pedagógica,

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A década de 1980 foi de muitas mudanças, e dois fatores principais levaram à globalização: a desregulamentação financeira e o desenvolvimento, cada vez mais acentuado, da globalização financeira e o papel das novas tecnologias que funcionaram, ao mesmo tempo, como condição permissiva e como fator de intensificação dessa globalização (CHESNAIS, 1996, p. 26). A globalização é tratada pelo referido autor como a mundialização do capital, sendo vista como uma nova configuração do capitalismo mundial, e não só como

uma nova etapa do processo de internacionalização.

A mundialização do capital faz parte do processo de produção e reprodução capitalista, assim como do momento de depauperamento da perspectiva de regulação keynesiana das relações econômicas, políticas e sociais. O capitalismo passou por diferentes fases, mas a dinâmica da organização da produção permanece com a mesma essência.

O capitalismo, de acordo com Marx, é uma forma de organização da produção na qual (1) a riqueza produtiva, os instrumentos de produção, são privadamente possuídos e alocados para usos por seus proprietários; (2) o mesmo é verdadeiro para a capacidade de trabalhar, que Marx chamou de

―força de trabalho‖; (3) alguns proprietários da força de trabalho não possuem os instrumentos de produção que lhes possibilitariam satisfazer suas próprias necessidades. Sendo assim, no capitalismo há um mercado de capital, onde os donos da riqueza produtiva alocam seus recursos na procura de lucros, e um mercado de trabalho, onde os proprietários da força de trabalho são forçados a vender seus serviços para sobreviver. A produção ocorre quando os trabalhadores trocam sua capacidade de trabalhar por um salário e quando os capitalistas ou seus delegados, como organizadores do processo de produção, extraem trabalho concreto da força de trabalho. O salário não é um direito sobre o produto especifico na produção do qual os indivíduos particulares participam, mas uma quantidade de um meio abstrato intercambiável por bens e serviços (PRZEWORSKY, 1995, p.92-93).

Dentre os governos neoliberais citados, Anderson (2008, p. 25) considera a Inglaterra como o modelo mais puro. No processo de sua implantação, foram adotadas as seguintes ações: contraiu a emissão monetária, elevou as taxas de juros, baixou os impostos sobre os rendimentos altos, criou níveis de desemprego massivos, abrandou e combateu as greves, conferiu legislações anti-sindicais, realizou cortes nos gastos sociais e difundiu um amplo programa de privatizações.

De acordo com Dobb (1987, p. 27), analisando historicamente o capitalismo como modo de produção específico,

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começou a penetrar na produção em escala considerável, seja na forma de uma relação bem amadurecida entre capitalista e assalariados, seja na forma menos desenvolvida da subordinação dos artesãos domésticos, que trabalhavam em seus próprios lares, a um capitalista, própria do assim

chamado ‗sistema de encomendas caseiro‘.

Além desse fator citado acima, outros, como a revolução industrial, também tiveram influência no acontecimento de ter sido na Inglaterra o local onde o avanço neoliberal começou. Segundo Singer (1998), o capitalismo se transforma em modo de produção dominante a partir da revolução industrial na Inglaterra. Ainda de acordo com esse autor, ―A revolução industrial chamou o capital [...] ao centro do palco industrial e lhe deu os meios e os motivos de revolucionar o modo de produção‖ (p.49).

Ainda tomando como referência Singer (1998), podemos dizer que o neoliberalismo teve sua vitória triunfal a partir do momento que governos socialistas, socialdemocratas e semelhantes passaram a aplicar o seu programa como a única saída para o impasse representado pela estagflação.

No começo, apenas os governos explicitamente de direita radical colocavam em prática políticas neoliberais, depois, com a hegemonia atingida pelo neoliberalismo como ideologia, até os governos que se autodefiniam de esquerda passaram a aplicar políticas neoliberais. De acordo com Moraes (1997, p. 03), ―a mensagem neoliberal poderia ser sintetizada em duas diretrizes: privatizar e desregulamentar‖ (grifos nossos).

Na América Latina, os países pioneiros foram o Chile de Pinochet (1973) e a Argentina de Martinez de Hoz (1976), outros países também ―aderem‖ aos princípios do neoliberalismo, Bolívia (1985), México (1988), Venezuela (1989), e Peru (1990). Para Anderson (2008, p. 19), a ditadura de Pinochet foi o verdadeiro pioneiro do ciclo neoliberal da história contemporânea, começando seus programas de maneira dura: desregulação, desemprego massivo, repressão sindical, redistribuição de renda em favor dos ricos, privatização de bens públicos. O surgimento do neoliberalismo na América Latina também é oriundo da falência do Estado de bem-estar social, nos espaços onde ele conseguiu se conformar. Segundo Sader (2008), de acordo com os legados deixados pelos modelos hegemônicos anteriores, cada país foi retomando uma versão do neoliberalismo.

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esse processo fosse um pouco diferente. Tomando como referência os estudos de Sader (2008), essas circunstâncias se constituíram como,

[...] a distância maior em relação ao golpe, o período de expansão econômica ocorrido ao longo dos anos 60 e 70, com a consequente renovação e fortalecimento social e político das classes subalternas, gerou uma correlação de forças menos desfavoráveis a estas e menos propícia para a imposição pura e simples do neoliberalismo (p. 36).

Ainda nos anos 1980, a inflação subiu bastante, e as políticas de estabilização não conseguiram reverter a crise desencadeada no início da década e, assim, o país terminou a mesma com a situação econômica próxima a hiperinflação. Devido a essa situação, o Brasil, do ponto de vista econômico, adentra a década de 1990 em uma situação favorável a se submeter à hegemonia neoliberal, baixo nível de investimento, problemas de endividamento, e também com as questões sociais.

No ano de 1989, houve a primeira eleição presidencial direta, concorrendo, no segundo turno, com posições e projetos políticos radicalmente diferentes, Luiz Inácio Lula da Silva e Fernando Collor de Melo, vencendo o segundo. Após a eleição, se estruturou uma crise econômica e política, o que fortaleceu a guinada rumo ao ajuste neoliberal. Esse governo desencadeou uma política de privatização de empresas estatais e a abertura do mercado às importações (Plano Collor). Esse plano resultou no aprofundamento da recessão econômica que, juntamente com a alta da inflação e as denúncias de corrupção política envolvendo o tesoureiro e o irmão de Collor, levou ao impeachment desse presidente. Consequência disso,

assume o governo o então vice-presidente da República, Itamar Franco.

Nesse mesmo ano de 1989, aconteceu na capital dos Estados Unidos uma reunião entre os funcionários do governo norte-americano e os funcionários dos órgãos financeiros internacionais: FMI, Banco Mundial e BID, especializados em assuntos latino-americanos. Essa reunião tinha como objetivo realizar uma avaliação das reformas econômicas desenvolvidas nos países que formam essa região. As conclusões dessa reunião passaram a compor o que ficou denominado de Consenso de Washington. De acordo com Batista (1999), na avaliação feita em relação às reformas iniciadas ou realizadas na região, apenas o Brasil e o Peru não tinham conseguido atingir o esperado. Para tanto, ficou ratificada a proposta neoliberal já recomendada pelo governo norte-americano, através das entidades presentes, como condição para conceder a cooperação financeira externa, bilateral ou multilateral.

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Washington, com toda naturalidade, a afirmativa de que as reformas realizadas na América Latina se devem apenas à visão, à iniciativa e à coragem de seus novos líderes. O que vinha de fora emerge transmutado em algo que teria resolvido fazer por decisão própria, no interesse de seus próprios países e sem pedir reciprocidade, compensação ou ajuda. (idem, p. 16)

Uma das premissas do Consenso de Washington era a submissão da democracia ao capitalismo, ou seja, a democracia era vista como um ―subproduto do neoliberalismo econômico‖ (idem, p. 19). Outra questão posta foi à descentralização dos setores públicos, através da municipalização dos recursos oficiais e a mobilização das organizações não-governamentais, grande parte delas estrangeiras. Não houve nenhuma menção às questões sociais, tais como: saúde, distribuição de renda, educação, eliminação da pobreza, isso por avaliarem que as reformas sociais, assim como as reformas políticas, seriam decorrência natural da liberalização econômica.

O governo Collor aderiu aos desmandos neoliberais recém-consolidados no Consenso de Washington e, com a falência desse governo, o mais provável era que houvesse acontecido a revogação desse acordo, mas não foi o que aconteceu. Apesar do impeachment, as linhas

gerais do pensamento neoliberal da era Collor sobreviveram e continuaram tendo forte influência nos cenários políticos e econômicos brasileiros.

Esse processo de reformas neoliberais se consolidou no nosso país, a partir do governo de Fernando Henrique Cardoso (1995-1998 e 1999-2002), período caracterizado como de reformas. Segundo Behring e Boschetti (2010, p. 148), essas reformas foram ―orientadas para o mercado, num contexto em que os problemas no âmbito do Estado brasileiro eram apontados como causas centrais da profunda crise econômica [...]‖. Foi visível também, em relação à economia brasileira, um grande movimento de abertura e de reestruturação do aparelho estatal, e uma real operação de desmonte da nação.

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No entanto, as coisas não acontecem de maneira linear ou tão simples. Muitos movimentos sociais reagiram ao processo de reforma pautado pelos organismos internacionais. Dentre as principais articulações ocorridas na época, destacam-se os movimentos sociais organizados, que uniram fileiras em torno ao Fórum de Educação na Constituinte em Defesa do Ensino Público e Gratuito. Também se destacou na época a mobilização realizada pelo sindicato da Petrobrás, que evitou que a empresa fosse privatizada a meados da década dos anos 1990. Ironicamente, em pleno século XXI a empresa brasileira é considerada a principal extratora de petróleo em águas profundas, assim como também ela se destaca pelas pesquisas de ponta desenvolvidas pelos seus cientistas. Outros movimentos sociais que ocuparam destaque manifestando-se contra o processo de reformas neoliberais foram os Movimentos dos trabalhadores Rurais em Defesa da Reforma Agrária (MST e CPT), e a Associação Nacional de Docentes do Ensino Superior/ANDES-SN, que depois de uma histórica greve que durou mais de cem dias, conseguiu que o sistema público de ensino superior não fosse privatizado totalmente.

Na opinião de especialistas em Ciência Política, tais como Costa (2000), o governo de FHC foi tido como autoritário e centralizador, pois foi governado através de Medidas Provisórias. A reforma do Estado foi debatida apenas nas esferas do governo, não aconteceram amplos debates com a sociedade. De acordo com Costa (2000, p. 63),

O medo da inflação e da ingovernabilidade do Estado foi fomentado pelo discurso ideológico do Governo FHC, para que a sociedade aceitasse, sem debate, a reforma do Estado, operacionalizada através das reformas constitucionais. A reforma constitucional foi o meio de se viabilizar a destruição do Estado de Direito, estabelecido pela Constituição Federal de 1988. A reforma do Estado, empreendida pelo governo FHC, criou um outro tipo de regulação do Estado na sociedade, ampliando o poder do mercado.

Além da reforma do Estado, nesse governo houve também o processo de privatização e de endividamento nunca antes vistos no Brasil. A experiência da Inglaterra no Governo de Margareth Thatcher serviu de modelo, no que se refere ao processo de privatização desenvolvido e também ao corte do orçamento público, que trouxeram efeitos negativos para a população que depende dos serviços públicos.

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pois seguiu a mesma cartilha das políticas neoliberais ditadas pelo FMI e pelo Banco Mundial. Para Behring e Boschetti (2010, p. 154),

Os governos de orientação neoliberal não buscaram – FHC ainda mais que Lula- construir arenas de debates e negociação sobre a formulação das políticas públicas, e dirigiram-se para reformas constitucionais e medidas a serem aprovadas num Congresso Nacional balcanizado, ou mesmo para medidas provisórias. Preferiram, portanto, a via tecnocrática e ―decretista‖, com forte aquiescência de um Congresso submisso ou pragmático.

Apesar de, durante os anos de governo de FHC, a bancada do Partido dos Trabalhadores – PT, partido fundado nas lutas operárias, do qual fez parte Lula, ter feito, em termos políticos, oposição às propostas das reformas encaminhadas ao Congresso pelo referido governo, quando assumiu a presidência, deu continuidade às políticas implementadas pelo seu antecessor – houve continuidade e em alguns casos, até aprofundamento dessas políticas. Por exemplo, no governo de Lula aconteceu a reforma da previdência. O que se percebeu desse governo foi a tendência ao não enfrentamento aos órgãos que ditam as regras das políticas neoliberais e, sim, a manutenção da política econômica, a priorização do estabelecimento de políticas públicas e sociais que dessem respostas e retorno aos interesses do capital, em detrimento das reivindicações históricas da classe trabalhadora.

O governo de Luiz Inácio Lula da Silva, portanto, não foi capaz de reverter os investimentos financeiros para dar resposta à agenda de lutas dos trabalhadores, priorizando pagar a dívida externa.

1.1. As Políticas Públicas no Estado Capitalista

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provenientes das reflexões sobre as políticas neoliberais adotadas em diversos países como já comentado no tópico anterior.

Tomando como referência Azevedo (2004), as políticas públicas são aquelas que ―[...] representam a materialidade da intervenção do Estado, ou o Estado em Ação‖; e para a autora, em um plano mais concreto, ―o conceito de políticas públicas implica considerar os recursos de poder que operam na sua definição e que tem nas instituições do Estado, sobretudo na máquina governamental, o seu principal referente‖ (p.05).

A autora traz a discussão do tema da política pública a partir de um conjunto de abordagens, destacando as diferentes contribuições que elas trazem à análise da política educacional como uma política pública de cunho social. Na sequência, trataremos das três abordagens identificadas: abordagem neoliberal, a teoria liberal moderna de cidadania (abordagem pluralista e abordagem social-democrata) e abordagem marxista.

A abordagem neoliberal é proveniente dos princípios que o neoliberalismo defende ―Menos Estado e mais mercado‖ e prega que as responsabilidades administrativas dos poderes públicos sejam divididas e/ou transferidas para o setor privado, entendendo isso como ―um meio de estimular a competição e o aquecimento do mercado, mantendo-se o padrão de qualidade na oferta dos serviços‖ (AZEVEDO, 2004, p. 15). Referente às políticas sociais, a referência é igualmente o livre mercado.

A teoria liberal moderna de cidadania tem suas raízes no liberalismo clássico e defende que ―o bem-estar e a igualdade constituem-se em pré-requisitos indispensáveis ao exercício pleno da individualidade e da liberdade" (p. 19). A autora optou por situar tanto a abordagem pluralista como a abordagem social-democrata nessa teoria, por entender que elas possuem uma forma em comum de apreender e analisar as políticas sociais. Essas abordagens as percebem como um veículo importante no sentido de amenizar as desigualdades originadas no mercado, contudo, cada uma delas, dá ênfases diferenciadas. A abordagem pluralista tem como foco os processos que transformam as demandas em políticas públicas, de maneira mais ampla, vistas como ―aquilo que os governos fazem ou deixam de fazer” (p. 26, grifos do

autor). Os pluralistas conferem ao sistema político9,

[...] o papel de administrador dos conflitos entre grupos e atores em luta, responsável pelo estabelecimento das regras de competição. Os resultados deste jogo traduzem-se nas políticas governamentais, as quais, por sua vez, permitem identificar os atores e os grupos com maior capacidade de acionar recursos de poder, de barganha e de influências no processo decisório (COIMBRA, 1987, apud AZEVEDO, 2004, p. 27).

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Ainda em relação a essa abordagem, Lobato (2006) afirma que, para os pluralistas, a formulação de políticas acontece pelo jogo de forças e pelos interesses políticos dos diferentes grupos, que atuando junto ao governo, tentam maximizar benefícios e reduzir custos.

Em relação aos autores ligados à abordagem social-democrata, os mesmos tinham como uma de suas características a não desvinculação das políticas dos direitos de cidadania. ―Explícita ou implicitamente, essa abordagem considera em suas análises as lutas políticas das classes subalternas e o seu poder de conquista‖ (Azevedo, 2004, p. 31). Podemos pontuar como características deles, também, a defesa de ajustes e reformas nos sistemas de proteção, apesar de rejeitarem a total desregulação pelo Estado e defenderem as reformas nas suas estruturas; argumentam a necessidade de preservação dos direitos sociais historicamente conquistados, e não creditam a substituição total do Estado pelo mercado.

A autora inicia o tópico referente à abordagem marxista deixando claro que ―não é correto tomar o marxismo como uma simples abordagem‖ (p.39), justifica que a tradição marxista abarca variadas tendências e teorias e ressalta que não há na obra de Marx um olhar particular para a análise das políticas sociais no capitalismo; mas afirma que,

Como uma teoria do social de caráter mais acadêmico, o marxismo ganhou maior impulso a partir do final da década de 60, quando a crise econômica e financeira suscitou um amplo e controverso debate sobre as formas e funções assumidas pelo Estado capitalista e que têm nas políticas públicas uma das suas mais expressivas manifestações (AZEVEDO, 2004, p. 41).

Tanto Azevedo (2004) como Lobato (2006) citam o autor Claus Offe nos seus estudos, para pontuar o que este autor chama de ―mecanismos de seletividade‖, que são os aparelhos através dos quais operam as decisões e se formulam as políticas públicas.

Além das discussões dessas abordagens, existem os processos de conflito e consensos que perpassam as diversas áreas de política (policy arena), e que podem ser diferenciadas de

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condições gerais sob as quais vêm sendo negociadas as políticas distributivas, redistributivas e regulatórias.

Esses mesmos autores tratam também das fases/ciclos comuns a todos os tipos de política: formulação, implementação e avaliação. Além dos atores políticos, que para Rua (2007) são diversos e possuem características distintas, eles podem ser públicos e privados. Os primeiros se caracterizam por exercer funções públicas e por mobilizar os recursos associados a estas funções, grosso modo, podemos ter duas categorias – os políticos e os burocratas; dentre os privados, destacam-se os empresários que sem sombra de dúvidas são dotados de grande capacidade de influir nas políticas públicas. Outro ator político muito importante são os trabalhadores organizados, seja em partidos, sindicatos ou ONG´s; e ainda há os agentes internacionais, que têm poder de intervenção nas questões econômicas.

Esses atores sociais são tratados por Azevedo (2004, p. 65) como representações sociais, a autora citada toma como referência os estudos de Jobert (1988 e 1989b) e Muller (1985), e afirma que, para evidenciarmos as representações sociais que norteiam a formulação das políticas públicas e, portanto, os referenciais normativos aí envolvidos, devem considerar as dimensões que se interligam para compor os mesmos.

A dimensão cognitiva, relacionada com o conhecimento técnico-científico e com as representações sociais dos fazedores da política, contém os elementos para a interpretação das causas dos problemas a serem resolvidos, o que implica a predominância de um significado particular para os mesmos. Esse esquema relaciona-se diretamente com os instrumentos pelos quais as políticas devem ser implementadas (JOBERT, 1989b, apud AZEVEDO, 2004, p.66). A dimensão instrumental refere-se à série limitada das medidas que se concebem para atacar as causas dos problemas. Incluem-se aí instituições, princípios, normas, critérios e demais instrumentos de política. Tais normas, instituições e critérios fazem a articulação entre os dados técnicos e os valores que, por sua vez, se interligam através da dimensão normativa, que exprime a relação entre as políticas, os valores e as práticas culturais e sociais prevalecentes (idem, idem). Portanto, trata-se da dimensão que articula as políticas ao projeto mais global em curso na sociedade, garantindo que nas soluções concebidas para os problemas sejam respeitados e preservados os valores dominantes (ibidem, ibidem). Neste sentido,

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Segundo Muller, as sociedades industriais modernas estruturam-se através de setores estabelecidos a partir da divisão social do trabalho, das especializações, das profissões e das funções; e assim, as políticas públicas são desenvolvidas também por interesses setoriais. Este autor afirma que

[...] toda ação constitutiva de uma política setorial tem subjacente, um referencial normativo, referencial que não se constrói no vazio, mas articula-se diretamente ao referencial normativo global, que é a reprearticula-sentação social de toda a sociedade (MULLER, apud AZEVEDO, 2004, p.65- 66).

Nosso estudo se dispõe a analisar a política pública específica de um setor, aquele referente ao esporte e lazer. Para Azevedo (2004), uma política pública para um setor institui-se em torno de uma problemática que passa a institui-ser discutida amplamente pela sociedade, e gera demanda a ser resolvida pelo Estado. Pelo que discutimos anteriormente, entendemos que os representantes sociais do setor vão tentar dar soluções para essa problemática, intervindo no propósito de fazer valer seus próprios interesses e do coletivo político que representam.

1.2. As Políticas Sociais: origem e método no contexto do Neoliberalismo

Nesse tópico nos deteremos mais especificamente nas discussões referentes às políticas sociais: sua origem, o método, as políticas sociais no neoliberalismo e como estão as políticas sociais no Brasil contemporâneo.

As políticas sociais surgem de forma gradual e diferenciada entre os países, e foi em meio às confluências dos movimentos de crescimento do capitalismo com a Revolução Industrial, das lutas de classe e do desenvolvimento da intervenção estatal que essas políticas se originaram; e, é na mudança do capitalismo concorrencial para o capitalismo monopolista, mais especificamente após a II Guerra Mundial, que acontece a generalização dessas políticas. No final do século XIX, começam a surgir as primeiras legislações e medidas de proteção social, com mais intensidade na Alemanha e Inglaterra. As leis inglesas são as mais citadas. Elas se desenvolveram no período que antecedeu à Revolução Industrial (Polanyi, 2000; Castel, 1998 apud BEHRING e BOSCHETTI, 2010, p. 48):

 Estatuto dos Trabalhadores, de 1349;

 Estatuto dos Artesãos (Artífices), de 1563;

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 Lei de Domicílio (Settlement Act), de 1662;

Speenhamland Act, de 1795;

 Lei Revisora das Leis dos Pobres, ou Nova Lei dos Pobres (Poor Law Amendment Act), de 1834.

No entendimento dos autores supracitados, essas legislações tinham como principal função impedir a mobilidade do trabalhador e, dessa forma, manter a organização tradicional do trabalho. O caráter delas era punitivo e repressivo, e não protetor. A Lei de Speenhamland Act, de 1795, tinha um caráter menos repressor que as leis antecedentes, segundo Polanyi,

2000 apud Behring e Boschetti, 2010, p. 49, essa lei ―[...] introduziu uma inovação social e econômica que nada mais era que o ‗direito de viver‘ e, até ser abolida em 1834, ela impediu efetivamente o estabelecimento de um mercado de trabalho competitivo‖. O autor traz essa interpretação pelo fato de que tal lei, minimamente, permitia que os trabalhadores negociassem o valor de sua força de trabalho, impondo limites, mesmo que restritos, ao mercado de trabalho competitivo que se estabelecia.

Contudo, a revogação dessa lei pela Nova Lei dos Pobres foi muito ruim para os pobres, pois ela retirou diversos direitos conquistados pela lei anterior. O trabalho, nessa sociedade capitalista burguesa, passa a ser incorporado como atividade natural de produção para a troca, independente de seu contexto histórico, perdendo seu sentido de processo de humanização. Foram as provocações feitas pelas lutas sociais que fizeram surgir novas regulamentações sociais e do trabalho pelo Estado. De acordo com Behring e Boschetti, (2010, p. 63), ―A mobilização e a organização da classe trabalhadora foram determinantes para a mudança da natureza do Estado liberal no fim do século XIX e início do século XX‖.

As discussões referentes às políticas sociais são feitas a partir de perspectivas teórico-metodológicas. São elas: funcionalista, idealismo e a tradição marxista. A perspectiva funcionalista tem como referência Émile Durkheim. Esse autor sugere, como proposta metodológica, abordar os processos sociais como fatos sociais; defende a neutralidade do pesquisador. Tomando como referência as reflexões de Behring e Boschetti, para o referido autor,

[...] é na natureza da própria sociedade que se deve buscar a explicação da vida social, partindo do suposto de que nesta o todo não é igual à soma das partes, mas constitui um sistema com características próprias, cujo movimento ultrapassa os estados de consciência dos indivíduos, e se explica

em função das condições do ―corpo social‖ no seu conjunto. As causas dos

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