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A Constituição do Estado da Paraíba, a Lei Orgânica do Município

Capítulo 3 A Legislação Esportiva Brasileira: a Relação entre o local e o

3.3. O Ordenamento Legal Estadual e Municipal e a relação com o

3.3.1. A Constituição do Estado da Paraíba, a Lei Orgânica do Município

Antes de adentrarmos a análise das leis, decretos e resoluções municipais que tratam direta ou indiretamente do esporte e do lazer em João Pessoa, vamos dialogar a respeito da Constituição do Estado da Paraíba32, por ser ela a lei maior do Estado e, portanto, fundamenta todo o ordenamento legal estadual e municipal, obedecendo aos princípios e preceitos da Constituição Federal. Dando continuidade analisaremos a Lei Orgânica do Município de João Pessoa33, posteriormente o Plano Diretor, para então chegarmos às legislações esportivas e de lazer municipais.

A Constituição do Estado da Paraíba foi promulgada em 05 de outubro de 1989, e sua última atualização data do ano de 2009. A mesma é composta por nove títulos, são eles:

 Título I - Dos Princípios Fundamentais;

 Título II - Dos Direitos e Garantias Fundamentais;  Título III - Da Organização do Estado e dos Municípios;  Título IV - Da Administração Pública;

 Título V - Da Organização dos Poderes;  Título VI - Da Tributação e do Orçamento;

32 Ver anexo B. 33 Ver anexo C.

 Título VII - Da Ordem Econômica;  Título VIII - Da Ordem Social, e

 Título IX - Das Disposições Constitucionais Gerais.

Dentre eles, vamos enfatizar aqueles que se referem direta ou indiretamente ao esporte e ao lazer. No Título I, art. 2º, trata dos objetivos prioritários do Estado, e no inciso VII enfatiza a garantia da educação, do ensino, da saúde e da assistência à maternidade e à infância, à velhice, à habitação, ao transporte, ao lazer e à alimentação. Já o Título III, Capítulo II refere-se à competência do Estado, no art. 7º § 1º inciso IV diz que compete ao Estado promover a seguridade social, a educação, a cultura, os desportos, a ciência e a tecnologia e § 2º inciso IX pronuncia que compete ao Estado legislar sobre educação, cultura, ensino e desporto.

O Título VII, capítulo IV, acena sobre o Turismo, no art. 192 faz referência ao desenvolvimento de programas de lazer e entretenimento enquanto ação da política estadual de turismo. A referida constituição trata diretamente do esporte no Título VIII, capítulo II, seção III – Do Desporto, no art. 221 prescreve que é dever do Estado fomentar a prática desportiva em todas as suas modalidades, quer diretamente, quer através de órgão especialmente criado com essa finalidade. E no art. 222, menciona que os recursos para o incentivo ao esporte provirão do orçamento estadual; no seu parágrafo único, define que através de lei, será estabelecida a criação de incentivos fiscais à iniciativa privada para o desporto amador34. Refere-se mais uma vez ao lazer, noart. 223, quando trata do lazer como uma forma de promoção social e enfatiza que o mesmo faz jus a atenção especial do Estado.

No capítulo VII - Da Família, da Criança, do Adolescente, do Idoso, dos Índios e da Pessoa Portadora de Deficiência, o art. 247, trata como dever da família, da sociedade e do Estado assegurar a criança e ao adolescente, vários direitos sociais, e dentre eles, o lazer. O art. 249, afirma que o Estado, o Município e a sociedade tem o dever de desenvolver políticas e programas que assegurem o amparo às pessoas idosas, no § 2º faz alusão a criação de centros diurnos de lazer com o propósito de assegurar a integração do idoso na comunidade e na família.

34A nomenclatura desporto amador foi utilizada nas legislações esportivas até a Lei Pelé em 1998, mas a Lei nº 9.981, de 14 de julho de 2000, revogou a alínea que tratava dessa terminologia, ficando apenas o termo desporto de rendimento praticado de modo não-profissional. O desporto de rendimento praticado de modo profissional tem por característica um contrato de trabalho, já o praticado de modo não-profissional não apresenta contrato de trabalho, no entanto, pode receber incentivos materiais e de patrocínio.

Diante dessa explanação, é possível identificarmos que a Constituição Estadual da Paraíba apresenta no seu escopo o reconhecimento do esporte e do lazer enquanto direitos sociais, e em outras palavras, traz uma imposição constitucional para o estado e para os municípios, de provocar e fomentar a prática desportiva em todas as suas modalidades, ou seja, nas três manifestações – educacional, de participação e de rendimento. Outra questão importante é percebermos que a nomenclatura dada à seção III Do Desporto, não inclui o lazer.

Apesar de o lazer ter sido tratado no corpo da constituição em diferentes conteúdos (MARCELLINO, 1995; 2002), como por exemplo: turístico, físico/esportivo e social (como promoção social, como meio de integração social), na nossa avaliação o lazer foi tratado de forma ―dispersa‖, sem despender a atenção necessária à consolidação desse direito, como, por exemplo, os equipamentos de lazer. Há menção apenas da criação de centros diurnos para os idosos; e as crianças, adolescentes e adultos, não tem espaços garantidos para prática desportiva e nem para o lazer, tais como: parques infantis, praças, quadras, complexos esportivos, entre outros. De acordo com Marcellino (2006, p. 25), ―Entre outras considerações, pode-se dizer que democratizar o lazer implica democratizar o espaço‖; podemos estender essa afirmação também para o esporte, nas suas diversas manifestações.

Em relação ao financiamento, a lei analisada acena que os recursos para a área esportiva provirão do orçamento estadual. Porém, não apresenta critérios de distribuição desses recursos entre as diferentes manifestações esportivas, e nem cita de onde provirão os recursos destinados ao lazer. Outra possível forma de arrecadar fundos para o esporte apresentado pela lei é através de incentivos fiscais à iniciativa privada, só que esses recursos são direcionados apenas para o desporto amador.

Diante das diversas mudanças no âmbito do esporte e do lazer, ocorridas nas últimas décadas, entendemos que, de forma geral, a Constituição do Estado da Paraíba – apesar de ter sido atualizada em 2009 – não avança na perspectiva de garantir a democratização e universalização do esporte e do lazer para todos. No nosso entendimento, seria preciso atualizar suas nomenclaturas, reconhecer de forma mais incisiva as diversas manifestações esportivas e a importância de todas elas para a sociedade, fazer referência à disponibilização dos equipamentos de lazer e esportivos, para assim, poder elevar o padrão cultural esportivo da população.

A Lei Orgânica do Município de João Pessoa, a lei maior do município - a mesma foi publicada em 02 de abril de 1990 - é composta por sete títulos, são eles:

 Título I - Dos Princípios Fundamentais;  Título II – Da Organização Municipal;  Título III - Da Organização dos Poderes;  Título IV - Da Administração Pública;  Título V - Da Tributação e do Orçamento;  Título VI – Do Desenvolvimento;

 Título VII - Das Disposições Constitucionais Gerais.

Aqui também os esforços analíticos irão dar ênfase aos títulos que fazem referências ao esporte e ao lazer (categorias centrais do nosso estudo), direta ou indiretamente. No Título II, capítulo II, seção I, art. 5º, faz menção às competências do município em relação aos seus interesses e ao bem-estar da população, dentre as várias atribuições, está à promoção dos serviços de lazer, recreação e esportes. No Título VI, capítulo II, seção IV, trata da política do meio ambiente, e o art. 178, cita a criação do Parque Arruda Câmara e garante dentre as suas atribuições, como espaço de lazer e recreação; na seção V, acompanhando a Constituição Estadual, menciona o apoio a iniciativas privadas no desenvolvimento de programas de lazer e entretenimento para a população.

Ainda no Título VI, capítulo III – Da ordem social, seção III – Do esporte e do lazer, o art. 203, traz enquanto obrigação do poder público, desenvolver programas de incentivo e apoio às práticas desportivas, formais e não formais, como direito de todos; o art. 204, acena sobre os meios de recreação que o município proporcionará à comunidade, tais como: reserva de espaços verdes ou livres, construção de equipamentos de lazer, criação de Centros Esportivos Populares, patrocínio de campeonatos e competições; art. 205, traz a relação entre o esporte e lazer com as atividades culturais; os arts. 206 e 207, tratam dos incentivos aos clubes, equipes e associações amadoras, da isenção de pagamentos de taxas e impostos; o art. 208, faz referência à construção de instalações esportivas para a prática de Educação Física, do desporto e do lazer, e a criação de quadras polivalentes incluídas nas obras de unidades escolares, loteamentos, conjuntos ou núcleos habitacionais.

Nessa mesma seção, a lei orgânica do município de João Pessoa discute sobre o financiamento do esporte, e cita a criação de organismos e fundos especiais para gerenciamento e promoção do esporte amador, além de definir enquanto prioridades para os investimentos oriundos do orçamento anual, o desporto educacional e o de caráter amadorista.

A saúde é direito de todos e dever do Poder Público, assegurada mediante políticas sociais e econômicas que visem a eliminação do risco de doenças e outros agravos e ao acesso universal e igualitário às ações e serviços para a sua promoção e recuperação.

Nessa mesma seção, posteriormente a lei determina que para atingir os objetivos supracitados, ―[...] o Município promoverá por todos os meios a seu alcance: I – condições dignas de [...] lazer‖ (grifo nosso). A leitura da legislação deixa claro que a lei trata o lazer também na perspectiva da saúde.

A seção VI, art. 221, faz referência à família, e a lei acompanha a constituição estadual citando o lazer como um dos direitos que a família, a sociedade e o Município têm o dever de promover para as crianças e adolescentes; o art. 222, cita a criação de centros diurnos de lazer para os idosos.

Podemos perceber que a Lei Orgânica Municipal, apesar de também assumir um caráter genérico, traz maiores preocupações e demandas referentes ao esporte e ao lazer que a Constituição do Estado. Possivelmente isto são reflexos de a lei municipal ser mais próxima da realidade da comunidade e de seus cidadãos.

A lei também apresenta o lazer em diferentes conteúdos, turismo, esportivo, promoção social; no entanto, diferente da Constituição Estadual, a seção que trata diretamente dos referidos direitos, tem como nomenclatura ―Do esporte e do lazer‖, o que avança em relação à importância despendida ao lazer. ―O lazer não deve ser compreendido como uma das possibilidades de introdução ao esporte e, sim, o esporte como um dos conteúdos do lazer‖ (ARAÚJO; DOMINICI; CARDOSO, 2008, p. 18).

Em relação aos espaços e aos equipamentos de lazer e esportivos, a lei faz referência à construção de parques, centros esportivos populares, equipamentos de lazer, instalações esportivas nas escolas e em áreas residenciais; porém, faltou prever como serão gestados e mantidos esses espaços na perspectiva de garantir a democratização e o acesso a eles por toda a comunidade.

Consideramos conveniente a relação proposta pela lei entre os serviços municipais de esportes e recreação com as atividades culturais, pois possibilita que as políticas públicas de esporte e lazer extrapolem a perspectiva do esporte para além da visão do esporte de alto rendimento, avançando na perspectiva do esporte e lazer massificado, que favoreça a participação de todos.

O artigo que trata da isenção de pagamentos de taxas e impostos dos clubes esportivos, associações amadoras, sindicatos e associações de moradores na prática de atividades esportivas, também aponta para a democratização do acesso ao esporte e ao lazer para a

população; mas, por outro lado, ele apresenta a possibilidade do poder público municipal transferir suas responsabilidades com o esporte e o lazer, para essas instituições, o que no nosso entendimento inviabilizaria o acesso para todos.

Referente ao financiamento é perceptível que a lei orgânica do município de João Pessoa, aponta ações enaltecedoras para a promoção do esporte amador, além de se comprometer em priorizar, também, o desporto educacional, com os recursos do orçamento anual; no entanto, não faz menção à destinação desses recursos para o lazer e/ou o esporte participação, e muito menos apresenta alternativas para arrecadação de recursos para esses fins.

Na categorização de relevância das leis que conduzem a gestão pública municipal, após a Lei Orgânica Municipal, encontramos o Plano Diretor; sua função principal é organizar o crescimento e o desenvolvimento do município. A elaboração dessa lei tornou-se obrigatória com o Estatuto da Cidade; os municípios com mais de 20 mil habitantes e os localizados em regiões metropolitanas, tiveram até outubro de 2006 para construir e aprovar suas leis, assim como os municípios que já possuíam o plano diretor por mais de 10 anos. Um dos princípios que o Estatuto da Cidade estabelece é a gestão democrática, e a perspectiva é tentar garantir que a população participe das decisões de interesse público em todas as fases de construção, implementação e avaliação do plano diretor (CASTELLANI, 2006, p. 121).

O Plano Diretor do município de João Pessoa data do ano de 1992 (Lei Complementar nº 3 de dezembro), tendo sido atualizado em 1993 (Lei Complementar nº 4, de 30 de abril), mais recentemente em 2008 (Lei Complementar nº 54, de 23 de dezembro) foi atualizado, e por último, em 2009 o Decreto nº 6.499, de 20 de março, consolida a referida Lei Complementar de 2008.

Identificamos na versão de 1993 e na de 2008 as partes que fazem referências ao esporte e ao lazer, e desenvolvemos uma comparação entre elas com propósito de percebermos se houve algum avanço na perspectiva de democratização e universalização desses direitos. Na Lei Complementar nº 4/1993, no Título IV, capítulo I, que trata do desenvolvimento social, seção V, cita o esporte em quatro artigos, que no nosso entendimento, reforça o que já está incluso na Lei Orgânica do município.

Art. 67. O Poder Publico Municipal incentivará e apoiará o desenvolvimento e a prática do esporte, particularmente a do esporte amador.

Parágrafo único - A oferta de espaços públicos adequados em todos os bairros, será prioritária como incentivo as atividades esportivas.

Art. 68. Os eventos ligados a atividades esportivas amadoras estão isentos da incidência de qualquer gravame tributária, desde que as rendas neles

arrecadadas revertam-se integralmente em favor das respectivas agremiações, ligas ou federações.

Art. 69. Os projetos de loteamento, conjuntos habitacionais, condomínios e arcas de urbanização acelerada dependerão, para sua aprovação, da garantia da disponibilidade de área para a prática de esportes.

Art. 70. Caberá ao Município, na forma da legislação específica, apoiar equipes e atletas das várias modalidades esportivas que se destacarem em competições nacionais ou internacionais, individualmente ou participando de equipes locais. (JOÃO PESSOA, 1993).

Em relação ao lazer, no mesmo capítulo, na seção VI, é dedicado um único artigo com três incisos, e no art. 76 trata do centro de lazer e amparo à velhice.

Art. 71. O Poder Público Municipal fomentará as atividades de lazer mediante:

I - apoio às manifestações típicas das comunidades e a preservação das arcas por elas utilizadas;

II - utilização das praças, logradouros e outras arcas apropriadas; III - atendimento a todas as faixas etárias.

Art. 76. Os Centros de Lazer e Amparo a Velhice serão os espaços adequados para o desenvolvimento das políticas e programas de atendimento e integração do idoso (idem).

A Lei Complementar nº 54, de 23 de dezembro de 2008, e o Decreto nº 6.499/2009, fazem referência ao lazer no art. 3º, inciso XI - garantia à cidade sustentável, à terra urbana, à moradia, ao saneamento ambiental, à infraestrutura urbana, ao transporte e aos serviços públicos, ao trabalho e ao lazer, para a população. O art. 56, que acompanha o art. 26 do Estatuto da Cidade, referente ao direito de preempção, caso o poder público necessite de áreas para criação de espaços públicos de lazer e áreas verdes; revoga toda a seção que trata do esporte e não o cita em nenhum outro artigo, e também revoga toda a seção que trata do lazer, assim como revoga todas as seções referentes aos interesses sociais como: educação, saúde, cultura, serviço sociais, e várias outras seções com o foco nos interesses sociais. Essas ações se justificam no art. 112, que se refere à elaboração do Plano Municipal de Habitação de Interesse Social, que teve como prazo para ser concluído, dezembro de 2009; por tanto, as referidas seções revogadas do plano diretor eram para ser tratadas nesse plano35.

35 Tentamos o acesso ao referido plano através da Secretaria de Habitação Social, da Câmara Municipal dos Vereadores, mas não conseguimos. Na verdade, não conseguimos nem uma informação concreta se ele realmente foi elaborado.

3.3.2. Os órgãos gestores da política de esporte e lazer: a Secretaria Municipal da