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ÍNDICE INTRODUÇÃO GERAL... 2 I O CONTEÚDO HISTÓRICO DO DESENVOLVIMENTO DA DOUTRINA DA PESSOA DE CRISTO... 4

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INTRODUÇÃO GERAL ... 2

I – O CONTEÚDO HISTÓRICO DO DESENVOLVIMENTO DA DOUTRINA DA PESSOA DE CRISTO ... 4

A – Período dos Pais Eclesiásticos ... 4

B – Cristologia na Reforma – Século XVI ... 25

C – A Teologia e o Iluminismo ... 26

II – O ASPECTO BÍBLICO DA CRISTOLOGIA ... 39

A – Preexistência de Jesus Cristo e as Objeções ... 39

B – Encarnação e Humanidade de Cristo ... 53

C – Que Tipo de Humanidade Jesus Recebeu na Encarnação ... 56

D – As Tentações ... 64

E – A Divindade de Cristo ... 77

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INTRODUÇÃO GERAL

Quem é Jesus Cristo? É a pergunta que nos propomos responder, e o objetivo desta matéria. Embora a mensagem apostólica e a literatura neotestamentária sejam enfáticas em apresentar a Jesus Cristo como o Messias, Filho de homem e Filho de Deus, digno de adoração, este mistério permanecia um desafio à razão humana, e por isso mesmo mais perguntava- se: quem é este Homem?

As respostas a esta pergunta desde o primeiro século foram as mais variadas:

• Os arianos negavam a Cristo, sua consubstancialidade divina.

• Os docetas, gnósticos e apolinários negavam sua integridade humana.

• Os nestorianos negavam sua unidade pessoal.

• Os eutiquianos negavam sua dualidade de natureza.

• Os monotelitas negavam sua dualidade de vontades e operações.

• A corrente do Jesus histórico negou o Jesus da teologia.

Em suma, a Cristologia dividia estes homens, quando seu objetivo devia ser uni-los e reuni-los na mesma igreja.

Neste processo histórico da Cristologia houve basicamente duas correntes que caracterizaram e caracterizarão a igreja até o fim:

[a] Ora, a ênfase na humanidade minimizando a divindade.

[b] Ora, a ênfase na divindade minimizando a humanidade.

Contudo, no decorrer da história cristã, quatro concílios estabeleceram alguns marcos no estudo da pessoa de Cristo: Nicéia (325AD), Constantinopla (381), Éfeso (431) e Calcedônia (451). Nestas ocasiões a igreja definiu:

• A consubstancialidade do Verbo com o Eterno Pai.

• A integridade e realidade de sua natureza humana.

• A verdade de sua encarnação.

• A união hipostática de suas duas naturezas (em uma só pessoa).

Temos no estudo de Cristologia algumas razões subjacentes para empreendê-lo:

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• Ver como o Espírito Santo tem procurado guiar as pessoas através dos séculos.

• Ver como certas idéias novas que surgem e surgiram entre os ASD, que nada mais são do que antigas soluções diversas vezes já apresentadas, e não poucas vezes são heresias.

• Ver o que as pessoas crêem sobre Cristo, e esclarecer problemas de crença sobre a pessoa de Cristo.

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I – O CONTEÚDO HISTÓRICO DO DESENVOLVIMENTO DA DOUTRINA DA PESSOA DE CRISTO

A – Período dos Pais Eclesiásticos

Começa no ano 95 A.D., com primeira epístola de Clemente e se estende até ao Concílio de Calcedônia em 451 A.D. Este é o mais rico na discussão cristológica.

[1] – Pais Apostólicos – são os primeiros autores do primeiro século e início do segundo. Através de seus escritos, estes cristãos ensinaram uma bem definida Cristologia com salientada ênfase na divindade de Cristo.

[a] Considerava-se Cristo como o Pré-Existente Filho de Deus, que participou na obra da criação.

[b] Era visto como o Senhor do Céu, que aparecerá como Juiz dos vivos e dos mortos.

[c] Jesus é denominado Deus nas epístolas de Inácio: “Nosso Deus, Jesus Cristo, nascido de Maria, segundo o decreto de Deus... mas também do Espírito Santo .” (Epístola dos Efésios XVIII, 2).

[2] – Apologistas –as acusações contra os cristãos e a atitude hostil do Império Romano fizeram com que surgissem defensores do cristianismo, reconhecidos como os apologistas. Através de sua defesa dos cristãos, eles deixaram entrever suas crenças.

[a] O mais importante representante deste é Justino, o mártir. Ele via Cristo como o Logos Divino, Mestre, Filho e Apóstolo do Pai.

Por ocasião da criação do mundo, o Logos Endiáthetos (esteve com Deus, como sua própria razão), nasceu do Pai, e através dele o mundo veio a existir.

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[b] Para Justino, o Logos Divino, na plenitude dos tempos, encarnou em Cristo, e assim surgiu o Homem Jesus. Desta forma o Filho procedeu do Pai.

[b.1] Subordicionismo é uma conclusão natural. Os apologistas são vistos como subordinacionistas.

[3] – Ebionitas – Cristianismo judaico – (os pobres) – sua origem está envolta em muitas incertezas. Eram grupos sectários que surgiram da congregação de Jerusalém, e se caracterizavam por sua confusão de elementos judaicos e cristãos.

[a] Nos escritos cristãos judaicos pode-se ver o contorno de sua cristologia:

• Cristo é posto em igualdade com os profetas do Antigo Testamento.

• Cristo é visto como um novo Moisés.

• Para os ebionitas Cristo era apenas homem, e negavam sua encarnação virginal.

• Cristo recebera o Espírito Santo no batismo, quando foi escolhido para ser o Messias e Filho de Deus. Foi escolhido por Deus para ser o Messias, por ter cumprido a lei judaica de maneira plena.

• Negavam à sua morte e ressurreição qualquer poder salvífico. A salvação era relacionada com sua vinda para fundar um reino messiânico para os judeus em Jerusalém.

• A ênfase é posta no Jesus histórico, humano em detrimento do Cristo da fé.

[4] – O Gnosticismo – é anterior ao surgimento do Cristianismo. Era, então, um fenômeno religioso vago e difuso. Ele procede do Oriente, influenciado pelas religiões de Babilônia e da Pérsia. Posteriormente o

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gnosticismo surgiu na Síria e em território judaico, especialmente, em Samaria, onde assumiu características judaicas. Foi esta forma gnóstica que os apóstolos encontraram com Simão, o mágico. A gnose cristã se inicia com Simão, conforme a tradição cristã (os pais eclesiásticos).

[a] Características básicas do gnosticismo pré-cristão:

[1] Visão dualista do universo: o contraste entre o mundo espiritual e real das idéias e o mundo totalmente mau da matéria, dos fenômenos materiais.

[a] O mundo espiritual, ou das idéias é o mundo bom. O homem deve se esforçar para retornar a ele.

[b] O instrumento de libertação deste mundo mau e entrada no mundo bom, é o conhecimento, gnósis, que é uma iluminação espiritual mística.

[c] Sincretismo – mistura de conceitos filosóficos e religiosos de Babilônia, Pérsia, Síria, Egito.

[b] Características básicas do Gnosticismo Cristão – Em relação à Cristologia.

[1] Negação da humanidade de Cristo. Diante da glória da pré- existência de Cristo e de sua pós-existência eterna, eles, os gnósticos, assumiram uma postura docética, negando a existência da vida terrena de humilhação de Cristo. eles negavam a vinda de Cristo em carne. Tratava-se apenas de uma aparência. Cristo era um ser celestial, um fantasma, e não um homem de carne e osso.

• Logo sua encarnação não era real. Seu nascimento da virgem era aparente.

• Negavam a morte efetiva de Jesus.

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• Não existia o Jesus histórico.

[2] A morte de Cristo não tinha significado salvífico. Cristo era apenas o Revelador da sabedoria esotérica. E este conhecimento proporcionava a salvação a um pequeno grupo (pneumáticos) que podia entender e receber este conhecimento salvífico. Cristo era visto, somente, como o transmissor de gnose que salvava o perdido.

[3] Ênfase posta na divindade e negação absoluta de sua humanidade.

[c] O Gnosticismo representou a crise mais grave por que passou o cristianismo desde os dias do primeiro concílio em Jerusalém, quando se discutiu o lugar da lei na salvação. Foi a segunda grave crise do Cristianismo.

[1] Apóstolo João escreveu sua primeira carta direcionada à heresia gnóstica então embrionária. (I João 4:2,3).

[5] – Os Pais Antignósticos – Caracterizaram-se sob este título por causa do seu conflito contra o gnosticismo. Lutaram especialmente contra o repúdio gnóstico à criação. por isso mesmo a teologia da igreja primitiva estava centrada na criação divina, bem como na doutrina de Deus.

[a] Cristologia de Irineu. Irineu era discípulo de Policarpo, que por sua vez era discípulo de João, o apóstolo. Para Irineu, Bispo de Lyons, no final do II século, a Bíblia era a única fonte de fé. Era por causa disso um teólogo bíblico na acepção da palavra.

[1] A Teologia da Salvação de Irineu pressupõe sua Cristologia.

Para ele Cristo é Verdadeiro Homem, Verdadeiro Deus (Vere Homo, Vere Deus).

“Se os inimigos do homem não foram vencidos pelo homem, não podem ter sido verdadeiramente vencidos: além disso, se a

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nossa salvação não procede de Deus, não podemos estar plenamente seguros que estamos salvos. E se o homem, não se unisse com Deus, não lhe seria possível compartilhar a imortalidade.”

[2] O Filho existiu com o Pai desde toda eternidade.

[3] Cristo é o Segundo Adão, o oposto do primeiro. No primeiro Adão herdamos a perdição e através do Segundo Adão recebemos a salvação. Pelo poder de sua obediência e obra de expiação tornou-se o cabeça da nova humanidade.

[4] Cristo é a plena revelação de Deus.

[b] Cristologia de Tertuliano – nasceu e abastada família pagã em Cartago. Estudou Direito e exerceu a profissão em Roma. Entre os anos 190 e 195 converteu-se ao cristianismo em Roma, provavelmente. É considerado o Pai da Teologia Latina. Seu grande mérito foi o esclarecimento preciso de muitos termos teológicos, até então vagos. Em Cartago foi nomeado presbítero, em Cartago faleceu.

[1] Na obra “Contra Praxeas” define sua teologia do Logos, Cristo. Faz nesta obra declarações que antecipam as conclusões do Concílio de Nicéia, 100 anos depois. “Todos são de um, por unidade de substância, embora ainda esteja oculto o mistério da dispensação que distribui a unidade numa Trindade, colocando em sua ordem os três, Pai, Filho e Espírito Santo, três, contudo... não em substância, mas em forma.”

[a] Mesma ousia (substância), mas não a mesma upostáseis – são três pessoas. (Persona).

[2] Sua Cristologia é subordinacionista. O Logos, Cristo, procedeu da razão de Deus na Criação (Justino). Quando Deus disse “Haja Luz”, nasceu a Palavra. Cristo procedeu da

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essência do Pai, logo, o Filho está subordinado ao Pai. O Pai é Maior que o Filho, pois é o Pai quem gera e envia o Filho.

[3] O Logos, Cristo, é distinto do Pai. O Logos é uma “Persona”.

O Filho é uma pessoa independente que veio do Pai.

[a] Deus meu, Deus meu, por que me desamparaste... Não foi Deus Pai quem clamou, pois neste caso estaria clamando a si mesmo, foi o Homem, o Filho que clamou ao Pai.

[b] Foi enviado pelo Pai. O que envia é distinto do que é enviado.

[4] Qualidade divinas e humanas estão em Cristo. o Logos, Cristo, é uma só pessoa com duas substâncias diferentes, que estão unidas numa só pessoa. Jesus possui duas naturezas, divina e humana, que se uniram numa só pessoa, mas não se combinaram. “Vemos seu duplo estado, não misturado, mas conjugado em uma única pessoa, Jesus, Deus e Homem (“Contra Praxeas”, 27).

[a] O Logos, Cristo, apareceu em carne, revestido de forma corpórea, mas não se transformou em carne.

[b] A pessoa de Cristo possui duas naturezas: divina e humana.

[5] A Doutrina Posterior das duas naturezas de Cristo baseou- se em Tertuliano, que pode assim ser resumida:

• Ousia – uma substância – expressa a unidade.

Upostáseis - três pessoas – expressa distinção de pessoas.

[6] – Teologia Alexandrina – Orígenes – Alexandria era um centro comercial e cultural, que foi fundada por Alexandre, o Grande, em 332

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AC. Em Alexandria, Ptolomeu Soter criou uma biblioteca com mais de 700 mil volumes. Havia nela um museu, e uma renomada universidade, onde se reuniam os mais distinguidos homens cultos.

Era um centro de cultura helênica e semítica. Além disso outros povos participavam da visa da cidade: babilônicos – astrologia, persas – dualismo, religiões de mistérios. Encontra-se nesta cidade dois dos mais famosos nomes da Igreja: Clemente de Alexandria, Orígenes.

[a] Em Alexandria havia a Escola Catequética, por volta de 185, e liderada por Panteno. Mas foi Clemente de Alexandria que a escola adquiriu proeminência.

[b] Em Alexandria o ensino religioso não tinha as características apologéticas como no Ocidente e Ásia Menor, onde a filosofia foi severamente condenada, vista como incompatível com a fé cristã apostólica.

[c] Em Alexandria a filosofia era considerada como serva do cristianismo. O resultado deste casamento foi o surgimento do gnosticismo cristão.

[d] Clemente de Alexandria foi um representante típico desta teologia acentuadamente especulativa. Depois continuado após sua morte, por seu discípulo Orígenes.

Cristologia de Clemente de Alexandria:

[1] O Logos Divino, tem uma função pedagógica através da história. Entre os judeus o Logos proclamou a lei, entre os gregos a filosofia; e no Cristianismo deu-se sua manifestação definitiva e final, em Jesus Cristo – o conhecimento salvador pelo qual os homens são trazidos à fé.

“Nosso pedagogo é o Deus Santo, Jesus, o Verbo que é o guia da humanidade toda”. (Pedagogo 1:7).

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[2] O Logos encarnado não sentia dor nem prazer devido ao seu estágio espiritual superior. Esta era uma visão quase docética.

[e] Orígenes, nascido de família cristã entre 182 a 185, tornou-se o mais completo conhecedor da Bíblia entre todos os escritores da igreja primitiva. Sucedeu a Clemente como diretor da Escola Catequética de Alexandria, no ano 203. Perseguido pelo bispo local., foi para Cesaréia, onde fundou uma escola catequética.

Morreu em Cesaréia em 251, ou em Tiro em 254.

Cristologia de Orígenes:

[1] O Logos, faz parte do mundo espiritual criado por Deus. O Logos preexistiu eternamente de modo independente.

Disse: “Nunca houve tempo em que Ele não existisse”.

[2] O Logos não foi criado no início do tempo, Ele nasceu de Deus na eternidade, como uma emanação do mundo espiritual da divindade.

[3] O Logos é uma essência do Pai, e a Ele subordinado. O Filho é um segundo Deus. Só o Pai não nasceu, ou seja, é Agénnetos. Tanto o conceito Homooúsios como o subordinacionismo estão presentes na teologia de Orígenes (igualdade com Deus e mesma substância).

[f] Estas duas tendências da teologia viveram em tensão e mais tarde dividiram-se em duas escolas:

[1] RIGHT WING – Ênfase na divindade e eternidade do Filho, o que trona Cristo igual ao Pai. ( Homoousios ).

[2] LEFT WING – Ênfase na distinção entre o Pai e o Filho. Ele (Orígenes) se recusa em definir esta distinção como uma limitação do Filho – Subordinacionismo. ( Homoiousios ).

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[7] – Adocionismo ou Monarquianismo Dinamista – Negava-se, aqui, o conceito de trindade, pois alegavam ser incompatível com a fé em um Deus único – monoteísmo. O Adocionismo rejeitava o conceito da divina economia (distinção das três pessoas da divindade condicionada ao plano da salvação).

[a] Os adocionistas repudiavam a divindade de Cristo. Acreditavam ser Cristo mero homem. Negava sua preexistência.

[b] Ensinavam que por ocasião de seu batismo o homem Jesus recebeu o Cristo como uma energia divina, que se tornou ativa dentro dele a partir do batismo.

[c] Cristo, assim, era um homem dotado de poder divino. E este poder era uma energia impessoal, nunca o logos como persona, ou como hipóstase independente.

[d] O mais destacado defensor desta corrente teológica foi Paulo de Samósata, bispo de Antioquia por volta do ano 260 A.D.

[8] – Modalismo – Não aceitava a doutrina da Trindade, sob nenhum aspecto. Só o Pai é Deus, é o único. Para o Modalismo, o Pai e o filho são a mesma hipóstase, mesma essência, mesma pessoa. São o mesmo Deus sob nome e forma diferentes. A diferença entre eles está só no nome - o Filho e o Espírito Santo são apenas as formas que a Divindade assumiu conforme a necessidade ao aparecer no mundo.

[a] Deus apareceu em formas diversas em épocas diferentes.

Primeiro de modo geral em a natureza, depois como Filho, e por fim como o Espírito Santo.

[b] As três pessoas são três diferentes modos em que o mesmo Deus se revelou. Não são hipóstases independentes, negava também sua preexistência.

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[c] O Modalismo nem faz juz à divindade de Jesus, pois diz que se trata apenas de modo da revelação da divindade. Nem pode , ao mesmo tempo, fazer justiça a usa humanidade, pois Jesus é um modo de ser da divindade. Não se trata nem de outra pessoa divina ou humana.

[d] O principal teólogo desta escola foi Sabélio, que ensinou em Roma em 215 A.D.

[9] – Cristologia de Novaciano – Teólogo do Ocidente – do III século.

Era presbítero em Roma em torno de 250 A.D. Foi o primeiro da congregação cristã a escrever em latim. Ele se limitou a defender a corrente teológica de Tertuliano.

[a] Para ele entre o Pai e o Filho existe uma comunhão de substancialidade. É o equivalente latino ao famoso termo posteriormente consagrado em Nicéia “Homoousios”. Para ele, Cristo era plenamente Deus e plenamente Homem.

[b] A consubstancialidade com o Pai era contra o Adocionismo.

[c] A verdadeira humanidade de Cristo e a distinção entre as pessoas da Divindade era contra o Modalismo.

[d] Estabelecia uma distinção entre o Pai e o Filho, que o conduziu a subordinacionismo. O Pai é imutável e absolutamente transcendente. Por isso não pode se comunicar com o homem.

Para que a comunicação fosse possível, ela acontecia através do Filho, portanto tratava-se de um ser inferior. O Filho esteve eternamente no Pai, por um ato seu o Filho veio a estar com o Pai, num momento da eternidade.

[e] Ele não nega a divindade do Filho, mas o subordina ao Pai. É esta corrente de pensamento que vai dar origem ao Arianismo.

[10] – Concílio de Nicéia e o Arianismo – 325 A.D. – IV século.

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[a] O IV século testemunhou o início de uma nova era para a igreja.

Constantino transformou a igreja perseguida na igreja tolerada; e mais tarde, com a fundação de Constantinopla, a igreja tolerada passou a ser a igreja favorecida. Isto trouxe algumas consequências.

[1] Agora os pais da igreja tiveram tempo para pensar. Desta época são os maiores pais da igreja: Atanásio, Agostinho, Ambrósio e Jerônimo.

[2] Conversões em massa, comprometendo a pureza da Igreja.

[3] Desenvolvimento teológico inigualado até então sob a proteção do império.

[4] Condenação imperial por se tomar posições teológicas que não fossem do interesse do império. As discordâncias teológicas passaram a ter uma dimensão política.

[b] Ário – presbítero da Igreja de Alexandria – foi treinado na tradição subordinacionista de Orígenes (Left Wing). Negava a consubstancialidade do Filho no Pai. Foi discípulo de Luciano de Antioquia que foi seguidor de Paulo de Samósata, (Adocionismo) por volta do ano 310 A.D.

[1] Monoteísmo Absoluto – Deus não podia conferir sua essência e qualquer outro ser por se tratar de um ser uno e indivisível. Assim o Filho não podia ser uma emanação do Pai, nem parte de sua substância, nem outro similar ao Pai.

[2] O Filho não pode ser preexistente, sem começo, poios neste caso seria irmão e não Filho de Deus. Houve um tempo em que Ele não era, foi criado, quando Deus resolveu criar o homem, e através dele, Filho, fomos criados.

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[3] O Filho veio a existir por um ato criador de Deus. para Ário, Cristo é uma Criatura. Assim, o Filho tem começo. Houve um tempo em que Ele não existia.

[4] Cristo era, para Ário, um Ser intermediário: inferior a Deus e superior ao homem. Contudo, conferia-lhe atributos divinos no sentido honorífico em função do significado de Cristo na salvação do homem. Estes ensinos se alastraram pelo Oriente.

[c] Alexandre, bispo de Alexandria, convoca um sínodo, que tem a participação de 100 bispos egípcios. Por motivo de heresia, ele depõe e condena Ário por volta do ano 320 A.D.

[d] Ário escreveu a simpatizantes de sua causa, conseguindo apoio especial de Eusébio de Nicomédia, que o recebe em sua diocese sob os protestos de Alexandre, bispo de Alexandria. Esta disputa ameaçava a unidade da igreja e a coesão do Império Romano.

[e] Constantino – Ele sonhou que o cristianismo seria a causa da unidade do império. Agora ele o via à beira de uma cisma. Isto colocava em jogo também a unidade do próprio império.

(hósio/hóssio).

[1] Para solucionar esta crise, e como não entendia o alcance do assunto, enviou seu conselheiro teológico: Hósio de Córdoba, ao Oriente como seu representante para conciliar as duas partes. Vendo Hósio que a divisão entre os partidos era profunda demais para ser resolvida por esforço de conciliação, informou a Constantino sobre a seriedade da crise.

[2] Constantino, então, resolveu convocar um concílio para a cidade de Nicéia, na Bitínia, em 325 A.D. O assunto era o problema de Ário. Participaram deste concílio 300 bispos, que se dividiram em três grupos:

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[a] Pequeno grupo liderado por Eusébio de Nicomédia, que pensava ser fácil alcançar a adesão da grande maioria. Este era o grupo de arianos puros.

[b] Pequeno grupo de opositores do Arianismo liderado por Alexandre, Bispo de Alexandria. Ao seu lado estavam Atanásio, seu diácono e Hósio de Córdoba.

[c] 3º grupo formava a grande maioria, liderado por Eusébio de Cesaréia. Este grupo não tinha opinião firme e não percebia a importância do assunto. E por medo do sabelianismo (modalismo) , eram relutantes em condenar o subordinacionismo de Ário em termos radicais.

[d] Além disso estava a influência do imperador, mais interessado na unidade do império do que no problema teológico. Ele queria encontrar uma fórmula mais aceitável que conciliasse a maioria.

[3] Julgando os arianos ser fácil conseguir a adesão do grande grupo, Eusébio leu, cruamente, a posição ariana. Diante das claras implicações do arianismo os bispos se escandalizaram e daí em diante a causa ariana estava perdida.

[f] Implicações de doutrina de Ário afetavam a doutrina de Deus e a da salvação.

[1] Introduziu idéias politeístas e adoração à criatura.

[2] Destruiu a base da salvação por negar a divindade de Cristo.

[3] Idolatria.

[g] A fórmula de Nicéia foi aceita sob a sugestão do imperador Constantino ao apresentar a palavra Homoousios (mesma substância) para acabar com a discussão de que o Filho não era criatura de Deus. Palavra que diferia de homoiousios, que significa

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substância parecida, semelhante. Cristo, na decisão de Nicéia é consubstancial, ou seja, possui a mesma substância do Pai.

[1] O credo afirmava que o Filho era verdadeiro Deus do Verdadeiro Deus, da mesma substância – Homoousios.

[2] Além disso o credo (niceno) acrescenta, no final, uma seção de anátemas. Ficava claro que se visava não deixar nenhum espaço para o Arianismo que a partir daí foi considerado como herético.

[h] Devido às diversas maneiras como foi interpretada a palavra Homoousios por diversos grupos, a discussão se estendeu por mais 50 anos.

[1] Homoousios – unidade de substância, tradução aproximada.

[2] Homoousios – unidade absoluta entre o Pai e o Filho, sem distinções fundamentais (similar a anterior).

[3] Homoousios – eternidade e divindade do Filho. Mesma substância.

[4] Homoousios – Arianos: substâncias diferentes – um grupo de arianos assinou o credo e os anátemas, procurando conciliar o credo com suas idéias; um segundo grupo aceitou o credo e recusou assinar os anátemas; o terceiro grupo recusou assinar o documento por inteiro. Aqueles que recusaram assinar parte ou todo do documento foram banidos do império e excomungados.

[i] A ascensão de Constâncio (Ariano) – Os maiores oponentes do arianismo no Oriente foram: Eustáquio de Antioquia, Marcelo de Ancira, Atanásio de Alexandria, amigo e substituto do bispo de Alexandria, Alexandre, após sua morte. Todos os três foram condenados e banidos pela habilidade política de Eusébio de Nicomédia. O mais proeminente entre eles foi Atanásio. Era o mais

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temido devido a importância de sua sede, Alexandria. Além disso era um dos maiores homens da igreja de todos os tempos. Era um defensor da fé nicena. Banido duas vezes, conseguiu assumir sua diocese 362 A.D. Com a morte do imperador Constâncio, em 361 A.D., ariano, foi restabelecida a fé nicena sob a influência de Atanásio.

[11] – O Concílio de Constantinopla (381 A.D.) e os Três Capadócios Basílio, o Grande, m. 379, arcebispo de Cesaréia, figura principal na vitória final da teologia nicena sobre o arianismo;

Gregório de Nissa (m. em torno de 384), irmão mais moço de Basílio, e Gregório de Nazianzo. Por causa da influência destes três se deu a derrota final do arianismo. Eles prepararam o caminho para a vitória da ortodoxia.

[a] A Solução da Controvérsia Ariana – A falta de precisão nos termos empregados na decisão foi uma das causas da dificuldade.

[1] No Ocidente havia uma terminologia mais ou menos fixa, já por este motivo não houve muito problema.

[a] No Ocidente, desde a época de Teturliano usava-se o termo substância para indicar o elemento comum da divindade, sua natureza básica.

[b] E a palavra persona para falar da personalidade do Pai, do Filho e do Espírito Santo. Distinção das pessoas.

[2] No Oriente não havia a mesma precisão de termos. As palavras ousia e hipostasis eram usadas como sinônimos.

Não havia um que pudesse traduzir adequadamente a palavra persona do latim.

[3] Quando os defensores do credo niceno falavam de ousia, muitos bispos viam muito perigo de sabelianismo (modalismo) porque entendiam ousia como pessoa. Eles

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entendiam mesma substância, por mesma pessoa, quando a intenção era falar da substância.

[4] Quando os outros bispos do oriente falavam da dualidade de ousias (diferença de substâncias), os nicenos pensavam que eles estavam falando de subordinacionismo. Eles entendiam como diferença de substâncias e não distinção de pessoas, quando a intenção era falar da distinção de pessoas.

[5] Foi Atanásio, que, reunindo o sínodo de Alexandria, em 362, declarou que as diferenças verbais não eram importantes desde que o significado do que se dizia ficasse claro.

[a] Primeiro, que três hipóstases não fosse concessão ao triteísmo.

[b] Segundo, que uma hipóstase não fosse concessão ao sabelianismo.

[b] Os três capadócios tomaram sobre si a tarefa de definir os termos. Criaram uma terminologia capaz de clarificar e harmonizar os dois polis em litígio. A solução foi baseada na distinção entre ousia e hipostasis. Em Nicéia, os termos eram usados sinônimos com a tradução de substância.

[1] Os capadócios reservaram o termo hipostasis para indicar real individualidade, logo o Pai, o Filho e o Espírito Santo são três pessoas distintas. São substâncias distintas em uma ousia.

[2] Ousia – uma só substância, a mesma substância. Pai, Filho e Espírito Santo possuem a mesma substância.

[c] O imperador Teodósio convocou o Concílio de Constantinopla, em 381. Foi a fórmula dos capadócios que ganhou a decisão da maioria dos bispos.

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[1] Este concílio condenou todas as formas de arianismo. A partir das decisões do Concílio de Constantinopla, o arianismo deixou de ter importância nas questões teológicas e ficou restrito aos bispos bárbaros: vândalos, visigodos e lombardos.

[2] Quatro razões para o declínio do arianismo.

[a] Superioridade intelectual dos seus adversários.

[b] Durante toda controvérsia todos os bispos do Ocidente e a maioria do Oriente permaneceram ao lado da posição nicena.

[c] As fragmentações do arianismo.

[d] A tentativa do arianismo de introduzir no cristianismo a prática de adorar a criatura, um ser menor do que Deus, além de comprometer a salvação, uma vez que o pecado trouxe a morte, a salvação só poderia ser conseguida se a morte fosse vencida. E só um ser de vida própria, não derivada, poderia descer ao túmulo e por seu próprio poder vital voltar a viver, ressuscitando-se a si mesmo. Isto foi negado pelo arianismo, ao colocar o Filho de Deus como um ser criado, com vida derivada, não-própria.

[12] – O Problema Cristológico do Final do IV até o VI Século – Como se relaciona com a humanidade de Cristo com sua divindade?

Como pode aquele, que é Verdadeiro Deus, ser ao mesmo tempo homem? Como um Ser Divino pode aparecer em forma humana? Em suma, qual a relação entre divino e humano na sua pessoa? O credo niceno não se preocupava com este aspecto, nem mesmo Atanásio, o seu grande campeão.

[a] Já por influência de Tertuliano o Ocidente se manteve unido em torno da plena divindade e da plena humanidade que existiam em

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Cristo, sem confusão e sem diminuição das qualidades inerentes a cada um desses elementos.

[b] O Oriente estava dividido por sua teologia mais profunda.

[c] Os dois extremos da questão:

[1] Alexandria – realçou a tal ponto a unidade de Cristo, que acabou falando da absorção da sua humanidade pela divindade.

[2] Antioquia – afirmou a integridade dos dois elementos (divino e humano), que deu lugar a se dizer que havia em Cristo dois seres separados.

[d] Apolinário - Sua proposta pode ser chamada de Psicológica.

Sua Cristologia é uma tricotomia. Dizia ele que o homem é composto:

[1] Soma – Corpo.

[2] Psiquê – Alma irracional.

[3] Nous – Alma racional (posição platônica).

Em Cristo o Logos desalojou a alma racional e nela foi colocado o Logos. De tal forma isso se deu, que apenas o seu corpo era humano. Jesus tinha corpo e alma animal iguais ao homem, mas sua alma racional era o Logos. Assim o princípio determinador da vida dele não era a razão humana, mas uma mente divina. Tinha que ser assim para Apolinário, pois para ele a mente humana era corrompida, estando a serviço das paixões carnais. Para ele a natureza humana de Cristo foi transmutada pela natureza divina. Cristo, segundo ele, não recebeu sua natureza humana da virgem Maria, mas trouxe do céu uma espécie de carne celestial.

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[e] Esta posição pecava por negar a realidade da humanidade de Cristo. Sua posição foi rejeitada sucessivamente por Roma em 377 e 382 A.D., em Antioquia em 379 A.D. e no segundo Concílio Ecumênico de Constantinopla em 381 A.D.

[f] Nestório, respeitado pregador, presbítero e monge de Antioquia, tornou-se patriarca de Constantinopla em 428 A.D. Era representante da Escola de Antioquia, que procurava fazer justiça tanto ao elemento divino como ao histórico e humano de Cristo.

[1] O veredicto da história sobre Nestório, inicialmente, foi injusto. Foi declarado herege pelo Sínodo de Éfeso em 431 A.D.

Dizia-se que ele ensinava a doutrina dos “Dois Cristos”, um divino e outro humano, invalidando assim a fé cristã. Era considerado como o protótipo do ponto de vista que apresenta uma falsa antítese entre o divino e o humano na pessoa de Cristo, como se fora dois cristos.

[2] A pesquisa moderna descobriu outras obras de Nestório.

Entre elas, principalmente, se encontra, uma obra autobiográfica: “Tratado de Heráclides de Damasco”. Com isso a pesquisa moderna pôde fazer justiça a Nestório, pois havia sido mal compreendido e mal interpretado por seu adversário Cirilo. Nestório, de fato, não admitia que houvesse em Cristo duas pessoas. Nestório dava ênfase na realidade e na plenitude do humano e do divino em Cristo, bem como na união de vontades entre eles (elemento divino e humano). “Nenhum dos grandes hereges da história do dogma ostentaram este nome tão injustamente como Nestório”, segundo Seeberg.

[a] Apesar disso Nestório foi longe demais para distinguir as duas naturezas, a ponto de dizer que não via unidade real na pessoa de Cristo. “Distingo as duas naturezas, mas adoro apenas um” (Cristo). Isto foi chamado de diofisismo.

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[g] O mais acirrado adversário de Nestório era Cirilo, patriarca de Alexandria (412 a 444). Apesar de ambicioso e inescrupuloso de caráter, Cirilo não lançou seus ataques contra Nestório a não ser por causa de sua fidelidade à tradição Alexandria. Ele procurou reunir os conceitos básicos da teologia antioquiana com os da tradição alexandriana. Cirilo ensinava que há uma união verdadeira, substancial entre as duas naturezas de Cristo, rejeitando a idéia de união moral ou devocional. O Logos, que veio de Deus Pai se uniu hipostaticamente com a carne para formar um Cristo, Deus e Homem ao mesmo tempo. Para Cirilo a união entre Deus e o homem é uma união física ou substancial. União com respeito à hipóstase, ou seja, união pessoal, ou unio personalis. Em Cirilo esta união em hipóstase não significa pessoa, é antes empregada como ousia, isto é, substância. Isto significa união com respeito à essência. O que ele quer dizer é que se trata de união real, implícita em Cristo mesmo.

[1] Apesar disso, Cirilo afirmava que as duas naturezas precisam manter sua identidade separada. Então, o que ele fez, foi colocar as duas naturezas distintas ao lado da idéia alexandrina de união física. Este paradoxo, mais nitidamente delineado, foi finalmente fixado e aceito como definitivo no Concílio de Calcedônia em 451.

[2] Resumo: “Duas naturezas em uma pessoa. É o Logos que constitui a pessoa de Cristo, que assumiu a natureza humana e se uniu a ela e agiu através dela. Cristo é apenas uma pessoa, e esta pessoa leva a marca da natureza divina, embora se enfatize a distinção entres as duas naturezas.” História da Teologia”, Bengt Hàgglund, página 82.

[h] Eutiques, abade do Mosteiro de Constantinopla, dizia que Cristo depois de se tornar Homem, tinha apenas uma natureza (monofisismo). E sua humanidade não era da mesma natureza da nossa. Foi excomungado em Constantinopla. No Sínodo de Éfeso

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em 449 A.D., Eutiques foi posto em seu cargo de novo. Este Sínodo é lembrado como o “Sínodo dos Ladrões”, porque transcorreu em atmosfera muito tumultuada, por isso mesmo nunca foi reconhecido como concílio ecumênico.

[1] Foi, nestas circunstâncias, e para desfazer as decisões de Éfeso, que o Papa Leão I convocou o Sínodo de Calcedônia. A decisão de Calcedônia é o resultado final das controvérsias cristológicas ocorridas desde o 1º Século.

“Confessamos um e o mesmo filho (contra Nestório que falava da existência de dois Filhos), Nosso Senhor Jesus Cristo, que é perfeito em divindade (contra o dinamismo, Ário e Nestório) e perfeito na humanidade com alma racional e corpo (contra Apolinário), de uma essência com o Pai segundo a divindade e da mesma essência que nós segundo a humanidade (contra Eutiques), igual a nós em todas as coisas, exceto que não tinha pecado; que segundo sua divindade foi gerado pelo Pai antes de todos os tempos, e que segundo a humanidade, nasceu da virgem Maria, Mãe de Deus, para nossa salvação: um e o mesmo Cristo, Filho, Senhor, Unigênito, revelado em duas naturezas sem confusão, sem modificação (contra Eutiques, Apolinário e outros), indivisivelmente e inseparavelmente, sendo a distinção das naturezas de nenhum modo eliminada pela união, sendo preservadas as propriedades de cada natureza, convergindo elas em uma pessoa, uma hipóstase, não separadas ou divididas em duas pessoas, mas um e o mesmo Filho e Unigênito de Deus, Logos, o Senhor Jesus Cristo.”

[2] Aqui ficaram combinadas as idéias de Roma, Alexandria e Antioquia numa formulação doutrinária comum e ortodoxa.

[3] Após Calcedônia, discussões se levantaram contra a fórmula deste concílio apenas para repisar os conceitos já

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anteriormente discutidos – como o monofisitismo de Severo, ou o docetismo incorruptível defendido por Julião de Halicarnasso.

[4] A definição de Calcedônia foi aceita pelos católicos, ortodoxos e protestantes.

“É mediante a operação do Espírito Santo que Deus se comunica com o homem.” PP, 405.

B – Cristologia na Reforma – Século XVI

[1] – Desde 451 A.D., Concílio de Calcedônia, até 1546 na morte de Martinho Lutero, não houve mudanças na Cristologia.

[a] A única referência, mais significativa, é a Cristologia de Calvino, como explicação da ceia. Ele dizia que o corpo de Cristo está no céu, localmente limitado, não pode estar presente nos elementos da ceia de modo físico, substancial.

[b] Só o Espírito de Cristo é capaz de unir os fiéis com Cristo no céu. Pois o Espírito que não está limitado ao espaço pode unir os pólos separados: fiéis na Terra e Cristo no céu.

[c] Pela mediação do Espírito, os fiéis podem participar do corpo e do sangue do Senhor. Esta comunhão ocorre na Ceia do Senhor.

[2] – A fórmula de Concórdia ou Bergisches Buch, formalizada em 1576, fala de uma Cristologia que surgiu da discussão sobre a ceia, conhecida como (Comunicatio Idiomatum) comunicação dos atributos.

São de três tipos:

[a] Atributos. Os atributos que pertencem a uma natureza, pertencem a mesma pessoa, que é simultaneamente divina e humana – Genus Idiomaticum.

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[b] Os Ofícios. Os ofícios de Cristo (Profeta, Sacerdote e Rei) não são exercidos apenas em, com e através de uma das naturezas mas em, com e através de ambas. Genus Apostelematicum. Foi a tradição protestante, a primeira a falar sobre os três ofícios de Cristo.

[1] Como Rei, Cristo reina sobre os fiéis e sobre a criação.

[2] Como Sacerdote, Cristo apresentou seu sacrifício pelos pecados dos homens e por eles intercede.

[3] Como profeta, Cristo proclamou o decreto eterno da salvação de Deus e continuamente opera na congregação e no mundo através do ministério da Palavra.

[c] As naturezas – a natureza humana recebeu majestade, glória e poder divinos, que transcendem seus atributos originais. A natureza divina não se modificou (Deus é imutável) com esta comunicação.

Seus atributos divinos não são nem diminuídos, nem aumentados por causa da comunicação das naturezas. Genus Majestaticum. E o que acontece à natureza humana? Assemelha-se a Nestório.

C – A Teologia e o Iluminismo

[1] – Antecedentes – a intolerância e as guerras religiosas vieram no bojo da antipatia entre católicos e protestantes. De ambos os lados se partia do princípio que era impossível aceitar diversidades de credos religiosos dentro das fronteiras de qualquer país.

[a] O Catolicismo assassinou Giordano Bruno, um dos primeiros defensores da Teoria Heliocêntrica de Copérnico. Queimado em 1600 A.D.

[b] O Protestantismo Calvinista assassinou Miguel Serveto, o descobridor da circulação pulmonar do sangue. Foi lentamente queimado por rejeitar a doutrina da Trindade. Calvino tentou

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substituir este tipo de execução, fazendo recomendação para uma decapitação “misericordiosa”, contudo tal sugestão não foi aceita.

[c] Essas atitudes de intolerância levaram a Europa a uma prolongada guerra religiosa, que durou cerca de 100 anos. Desde o primeiro conflito, a guerra da Liga de Schmalkalden (1546 – 1547).

Provocada por Carlos V no esforço de restaurar a unidade do Sacro Império Romano sob a fé Católica, até ao final da guerra dos 30 anos, com a assinatura do Tratado de Paz de Westfália, em 1648.

(França, Huguenotes, 1562 e 1598; Países Baixos, Bélgica e Holanda, 1567 a 1609).

[d] A Reforma Protestante e suas ramificações trouxeram benefícios à sociedade européia e mundial, que possibilitaram, entre outros, o surgimento do Iluminismo:

[1] Individualismo. Autonomia da liberdade da consciência individual. Direito de julgamento individual.

[2] Educação das massas. Fundaram escolas para o povo comum.

[3] Através do Congregacionalismo, os protestantes introduziram o princípio da Democracia. Primeiramente em sua estrutura religiosa e depois foi sugerida para os governos do estado.

[e] Até esta época, a Igreja dirigia cada aspecto da vida do homem.

Toda universidade, sem exceção, na Europa, sempre começava com a Teologia, que era a rainha das ciências. Neste período, se alguém queria informação sobre qualquer questão, deveria primeiro perguntar à Igreja, se fosse católico, ou à Bíblia, se fosse protestante.

[2] – Contudo desde a Renascença, com o seu antropocentrismo, o homem despertou, a partir do século XV, para as potencialidades do próprio homem. O homem, com sua capacidade, passou a ser o

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centro do pensamento em geral: Filosofia, Literatura, Pintura e Ciências.

[3] – Os séculos XVII e XVIII mergulharam na atmosfera cultural conhecida como o Iluminismo. A razão, até então, serva da religião, passou a ser o padrão de todas as medidas. A razão e a Filosofia passaram a ser o meio de se provar a verdade sobre todas as coisas.

A razão é o critério para tudo. A confiança foi posta na razão humana.

Agora a Teologia é serva da razão. Os olhos se voltaram para o mundo material com toda a sua diversidade. O objetivo da Filosofia era de ensinar o homem a entender e controlar seu ambiente e gozar a felicidade neste mundo.

[a] Era como se o homem dissesse: Parem de dizer o que devemos fazer. O que vocês fizeram durante 1700 anos? Quase nada. Então dê uma chance à razão. O centro da verdade deixou de ser o templo, para ser o laboratório. É a idade da razão e da liberdade individual de pesquisa. O homem voltado para a religião é substituído por um homem voltado para dentro de si mesmo e do mundo circundante em busca das respostas às suas inquirições. O objetivo era explicar o mundo com base nos princípios da razão humana.

[1] A Revolução Francesa, em 1789, é a hegemonia da razão contra a Igreja e a Monarquia absoluta. Em 1800 toda a Europa está mergulhada no Iluminismo. Perdeu-se a confiança na Igreja. Em 1798 dá-se o aprisionamento do Papa Pio VI.

Desaparecem os reis, libertam-se os povos. Surgem as primeiras repúblicas.

[4] – O Iluminismo e Sua Influência sobre a Teologia. Nesta época, a Cristologia foi muito afetada, assim como as outras doutrinas.

[a] Apenas na 2ª metade do século XVIII que a Teologia Racionalista, Neologia, começou a aparecer entre os protestantes.

Sua primeira característica foi o conceito de religião natural.

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[1] Há uma religião natural, comum a todos os homens, que os torna felizes, sem a necessidade da revelação especial. Cristo é visto como um Mestre de sabedoria e um padrão moral.

[2] A Teologia passou a ser dependente do pensamento racionalista. A argumentação racional foi posta em pé de igualdade com a revelação e a revelação devia ser justificada diante do tribunal da razão. Na revelação não se podia encontrar nada em contradição com a razão.

[a] As verdades bíblicas devem ser despidas do elemento milagroso ou sobrenatural. Rejeição do que é lendário, místico e sobrenatural.

[3] Tendência moralizante. Moralidade era a principal finalidade do cristianismo.

[4] Concepção individualista. A certeza se baseava na experiência da própria pessoa.

[5] Humanização do Cristianismo. Preocupação com a felicidade neste mundo.

[6] Ampliação dos estudos textuais e históricos da Bíblia.

[7] Distinguia as verdades permanentes da Escritura e os elementos devido às circunstâncias do tempo em que foram escritos. Verdades subjacentes.

[8] Negação de igual valor de revelação de todas as partes das Escrituras. A revelação está na Escritura, mas toda Escritura não é revelação.

[a] Principais teólogos alemães do início do Iluminismo Teológico: Cristiano Wolf, Johann Lorentz, Hermann Samuel Reimarus, Jean Astruc.

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[9] Negação da Religião Ortodoxa. O Racionalismo procurou expor ao descrédito a religião, especialmente, em sua forma ortodoxa. Luta entre ciência e religião é sempre o vilão que procura obliterar ou tragar a verdade.

[a] Heliocentrismo – suas consequências.

[b] Evolucionismo – suas consequências.

[c] Comunismo – sociedade mais justa. A religião é uma das barreiras.

[d] Psicanálise. Para Freud, religião é uma ilusão, pois se baseava na recusa de aceitar a realidade da existência.

[10] Nietzche – Teologia da morte de Deus. Deus estava fora de perspectiva para o homem moderno. E cabe ao homem ocupar o lugar de Deus.

[11] Autoridade máxima em religião passou a ser a iluminação interior, e não a Bíblia. A Bíblia foi submetida a um exame crítico-histórico e gramatical. Criticismo.

[a] Baixa Crítica – trata dos problemas relacionados com o texto e procura pesar o valor dos manuscritos da Bíblia, procurando sempre o melhor texto. Buscar maior exatidão das datas atribuídas aos manuscritos mais antigos.

[b] Alta Crítica – Interessa-se pela semântica do texto.

Significação das palavras. Ele procura a lição real dos acontecimentos escriturísticos. Para conseguir isto, eles precisam fixar bem o tempo quando foi produzida cada passagem da Escritura, quem a escreveu e para quem. É preciso ter toda a situação contemporânea do texto em mente. Exemplo: Salmo. Não foi escrito por Davi, como informa a tradição teológica (ortodoxia), mas é o resultado de cânticos populares surgidos dos sofrimentos ocorridos

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pelos judeus no exílio. (Crítica Histórica). Resultados:

Moisés não escreveu o Pentateuco, mas foi escrito pelo menos por 4 autores diferentes. Semelhantemente, com relação a Isaías – não há profecia, tais textos foram escritos após terem os fatos acontecidos (Ciro).

[5] – Um dos Desenvolvimentos do Alto Criticismo foi a Teologia do

“Jesus Histórico”. A idéia que o Jesus que viveu na história da humanidade foi diferente do Jesus dos evangelhos. Para os teólogos da corrente, Jesus histórico, a Igreja Primitiva e os evangelhos fizeram muitos acréscimos ao relato propriamente bíblico. Assim, a tarefa deles era fazer um levantamento entre os ditos e feitos de Jesus, para estabelecer os que lhe eram autênticos.

[a] Por causa do exposto surgiram inúmeras biografias de Jesus no século XIX, cada uma forcejando por apresentar o autêntico perfil de Cristo. Duas são bem conhecidas: a Vida de Jesus, de David Friedrich Strauss (M.1836), e a Vida de Jesus de Renan (1863).

[1] Todas estas biografias procuram eliminar elementos miraculosos. Os milagres, segundo estes autores, são uma impossibilidade à luz da Ciência, e disseram que Jesus jamais ensinou ser o Messias ou que o mundo se aproximasse de uma consumação. Assim, o Jesus da Teologia não é o verdadeiro.

[2] Isto levou alguns a um extremo (Redultio Ad Absurdum), em que eles concluíram que Jesus jamais existiu, em face da falta de fidedignidade do evangelho. Jesus não passava de um mito inventado pela Igreja Cristã. Rejeição da natureza divina de Jesus.

[b] Albert Schweitzer escreveu o livro “A Questão do Jesus Histórico” (1906). Nesta obra ele fez uma análise das obras sobre o Cristo, neste período, defendendo a idéia de que estas

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obras não passavam de representações imaginárias de um personagem que nada tinha a ver com o primeiro século, porém, mais parecia um intelectual do XIX século.

[1] Schweitzer disse que Jesus tinha clara consciência de sua messianidade, e que o Reino de Deus desceria do céu e a Terra seria recriada.

[2] A ética de Jesus visava nortear a conduta dos seus seguidores até a vinda do seu reino.

[3] Jesus pensou que enfrentando a morte, apressaria o estabelecimento do reino, porém tudo não passou de uma ilusão. Jesus se enganou.

[6] – Friederich Schleiermacher (M.1834). Substituiu o relacionalismo do século XVIII, pelo Romantismo Subjetivo do século XIX em sua teologia. Segundo Schleiermacher, cada homem tem um sentimento de Deus. Jesus tinha este sentimento no mais alto grau. E por isso ele mereceu e merece ser chamado de Deus. Ele não é Deus, mas deve assim ser chamado por causa do alto nível deste sentimento nele. O que interessa não é sua morte e ressurreição, mas seu sentimento de Deus (Consciência de Deus). Por isso que só Cristo, por ter tal consciência, era um homem pleno de Deus, e apenas Ele estava capacitado a comunicar esta consciência (sentimento) de Deus.

[a] Assim o centro da autoridade religiosa foi deslocado da Escritura para a experiência do homem.

[b] Pelo fato do pecado ter acarretado uma separação entre Deus e o homem, e com seus semelhantes, Deus enviou um Mediador do homem na pessoa de Jesus, como portador do conhecimento, cuja função é comunicar a consciência de Deus, de modo vital e vitalizante. Esta consciência de Deus é comum a todas as religiões, a despeito de suas diferenças doutrinárias.

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Por isso que religião para Ele não é o assentimento a um corpo de doutrinas.

[1] Para Schleiermacher, religião é a experiência individual subjetiva do sentimento de Deus, que em Jesus havia em toda plenitude.

[2] Não há, portanto, religiões falsas e verdadeiras, pois todos os progressos da religião na história são verdadeira religião.

O que se deve procurar em cada uma é o seu grau de eficiência em comunicar o sentimento de Deus.

[a] De todas elas o Cristianismo é a melhor, pois é nela onde se alcança mais cabalmente o alvo de todas elas: o sentimento (consciência de Deus).

[c] Cristo ocupa o lugar central, pois une o temporal ao infinito, o homem a Deus. Religião cristocêntrica.

[d] O resultado deste sentimento de Deus no homem, através do Mediador, Cristo, é a moralidade.

[1] Schleiermacher é o pai da Teologia Liberal, o seu teólogo mais influente.

[7] – Albrecht Ritschl – Com ele se inicia, no final do final do século XIX, uma outra escola do pensamento: a religião como algo de caráter eminente prático. Ritschl se voltou para a vida de Jesus, e sua mensagem. O que ele proclamou? Qual o centro de sua mensagem (kerigma)? O centro da sua mensagem é o reino de Deus, cuja principal natureza é o amor por toda a humanidade. O reino de Deus é um reino de amor, que nos liberta, não só de nossos pecados, mas do nosso egotismo também.

[a] Cristo merece ser chamado Deus, porque Ele é o clímax do amor.

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[b] Já que sua busca é o aspecto prático da religião, e a rejeição de toda discussão teológica metafísica, a ele interessava a pesquisa em torno do Jesus histórico.

[c] Ritschl busca a harmonia entre a ciência e a religião, postulando que isto é possível, se cada uma se mantiver dentro dos limites de sua área de pesquisa. A religião não deve ousar fazer declarações de valor dos fatos científicos, como a ciência não pode avaliar os postulados da Teologia com base em leis e teorias científicas.

[1] Isto não significa que elas nunca possam ter diálogos entres suas duas realidades.

[2] Ciência e religião são duas formas distintas através das quais a existência pode ser observada.

[3] Isto fez com que se avaliasse o criticismo bíblico, que pretende ter forum de ciência. A descoberta de fatos relacionados à religião não significa, necessariamente mudança de valores. O Jesus histórico do criticismo bíblico não pode afetar os valores, no coração do crente, do significado divino de Cristo.

[d] Para Ritschl, Jesus é divino porquê Ele pode fazer por nós aquilo que só Deus poderia realizá-lo.

[8] – A Teologia Iluminista reduziu a confiança na Bíblia e na Igreja à quase total insignificância. Não há autoridade na Bíblia nem na Igreja.

Além disso, Jesus Cristo foi designado pelo racionalismo, quando se rejeitou o sobrenatural aplicado a Ele, porque se rejeitou a fidedignidade dos evangelhos.

[a] Nesta ocasião veio a catástrofe da I Guerra, e o sonho do progresso ilimitado com o racionalismo se desmoronaram.

Nestes conceitos não podia estar a solução. Depois de 200

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anos o racionalismo se mostrou inoperante. No início do século XX, (1918), a Teologia estava sem perspectiva.

[b] Nesta época surge o Marxismo, que fez com que a Rússia aumentasse de importância no cenário mundial.

[c] Neste contexto surge a Teologia Dialética ou Neo Ortodoxia.

[9] – Karl Barth, criado e educado no liberalismo, verificou que o liberalismo não o ajudava em dar apoio espiritual aos membros que passavam dificuldades várias. Ele convidou o povo a uma reforma – a nova ortodoxia. Em 1920 e 1930 o racionalismo foi abandonado como uma solução. A Bíblia voltou a ter autoridade.

[a] Nesta ocasião surgem os Três B da Teologia: Karl Barth, Emil Brunner, Rudolf Bultman.

[b] Logo após a I Guerra Mundial, foi publicado um comentário sobre a carta aos Romanos (Der Romerbrief, 1919) pelo Pr.

Karl Barth. Esta obra foi um libelo contra a Teologia Contemporânea e contra a tradição teológica que se vinha formando desde Schleiermacher. Der Romerbrief foi um protesto contra as escolas que tinham transformado a Teologia em Ciência da Religião e tinham feito uma análise histórico- crítica da Bíblia.

[c] A Segunda edição desta sua obra (1922) foi reconhecida como o início da nova escola teológica conhecida como Escola Dialética, que em Barth é a busca mais profunda da verdade com base no contraste fundamental entre eternidade e o tempo, entre Deus e o homem. Para ele, neste contraste teológico, está o tema da Bíblia. Contudo o divino implica a negação do humano. Com isso ele nega a teologia natural, porque é impossível o divino estar imanente na natureza humana.

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[1] A Bíblia é vista como uma mera analogia da palavra. A Bíblia apenas aponta para a verdadeira revelação divina, ou seja, a Palavra de Deus em sentido absoluto e transcendental.

[2] O esclarecimento da revelação divina só pode ser feito com base no confronto permanente de afirmações contrastantes.

Princípio hermenêutico.

[3] A proclamação, a palavra anunciada, assume posição central, pois é o momento em que o ouvinte se defronta com a “Palavra de Deus”. Essa confrontação com a Palavra de Deus pode se dar também através da palavra escrita (Bíblia), que dá as normas para a pregação. Contudo, a Escritura não é a “Palavra de Deus”, ela apenas se refere à palavra revelada, ou seja, o aparecimento do Deus oculto em Cristo. Assim a Escritura não é, em sentido direto, a Palavra de Deus, a Bíblia aponta para ela.

[4] A Bíblia dá testemunho da revelação que ocorreu com a vinda de Cristo. Uma vez que a Bíblia está no nível temporal ela só pode apenas apontar para o divino.

[d] O abismo entre Deus e o homem é transposto na encarnação, quando a Palavra de Deus assumiu a natureza humana, o que se deu em Jesus Cristo. Por isso, a Cristologia ocupa lugar central em Barth.

[e] Cristo para Barth é a revelação do Verdadeiro Deus e Verdadeiro Homem.

[f] Cristo, mediante sua obra, venceu, perdoou e destituiu o pecado do seu terror. Através dele, o homem pode usufruir a nova vida, que é a vitória de Cristo sobre o pecado.

[g] A encarnação de Cristo, visa, também mostrar ao homem o que é ser verdadeiro homem, enquanto julga o homem em seu atual estado de pecaminosidade. Só que o juízo caiu sobre Deus mesmo

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em Cristo, isto só foi possível, pela realidade da encarnação. Com esta atitude Cristo liberta o homem do juízo, da separação e da morte. E a ressurreição, que é a garantia dessa nova vida, foi dada ao homem.

[h] Em Cristo está a dupla predestinação, e não que Deus destinou homens para perdição ou salvação. Cristo representa a escolha e a rejeição do homem. O destino sofrido por Cristo é uma escolha feita dentro da Trindade, no qual Deus permite que o Filho se submeta à morte, para que possa ser ressuscitado para a glória eterna na ressurreição e através dela. Este sofrimento de Jesus, representa a rejeição dele por Deus. Cristo é rejeitado no lugar do homem. Assim, a predestinação é uma decisão eterna feita por Deus, significando que todos os homens são admitidos para salvação, enquanto o próprio Deus, na forma de Filho, toma sobre si mesmo a condenação. Este fato se deu como um processo dentro da Divindade. Assim a morte e a ressurreição de Jesus para Barth é uma analogia no processo eterno de Deus em rejeitar o Filho no sofrimento da morte, e na ressurreição a sua eleição.

[1] A Cristologia de Barth tem tendências docéticas e nestorianas. É docética porque aquilo que é relatado no evangelho é apenas uma ilustração do evento intratrinitariano. É nestoriana porque a humanidade de Cristo nunca é identificada com sua divindade, é vista como uma analogia, ou seja, o seu relato histórico só é significativo se expressa o modo como o Pai trata com o Filho dentro da relação na divindade.

[2] Cristo na história não é nem Filho de Deus, nem Filho do homem em sentido exato. Cristo, apenas, por analogia, ilustra e nos apresenta as ações do Eterno Filho de Deus e nos fornece o modelo para o papel do homem diante de Deus. Cristo, como pessoa histórica, não realizou a

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salvação do homem. No contexto da mesma história, apenas Ele deu testemunho da salvação eterna, operada intratrinitarianamente. A realidade da salvação se encontra no decreto divino efetuado dentro da divindade, antes do tempo.

[10] – Rudolph Bultmann – Em 1941, ele publicou o livro “Novo Testamento e a Mitologia”. Nesta obra ele fala que universo bíblico do N. T. é incompatível com o conceito de realidade do homem moderno.

Conceitos tais como demônios, milagres, ações sobrenaturais, preexistência de Cristo, cataclismos mundiais são aceitáveis à mentalidade moderna. A esses elementos ele os chama de mitológicos, não para eliminá-los, mas interpretá-los conforme sua finalidade original. A isso Bultmann chamava de desmitificação, ou seja, a interpretação dos relatos sobrenaturais e sua significação para a existência humana.

[a] Assim ele reinterpreta a morte e sua relação com a vida presente do homem moderno. Esta visão teológica de Bultmann é existencialista, e por isso rejeita a história, pois para o existencialismo o passado nada tem a revelar. Só o presente apresenta ao homem a realidade das coisas. E Bultmann, através da teologia, quer dar um novo significado dos elementos da história bíblica, reinterpretando-os e aplicando às necessidades do homem moderno.

[b] Nesta visão sua cristologia rejeita e reinterpreta a pessoa de Cristo. nega sua preexistência, divindade, Jesus é apenas um homem excepcional.

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II – O ASPECTO BÍBLICO DA CRISTOLOGIA A – Preexistência de Jesus Cristo e as Objeções

[1] – Jesus preexistiu eternamente antes do nascimento em Belém.

Visão do Antigo Testamento.

[a] Is 9:6 – Este verso faz parte de um contexto maior (vs. 2 e 7).

Ele ocupa o centro da mensagem. Esta perícope fala do fim de uma era de sofrimento (trevas, região da sombra da morte, jugo, vara que fere, opressor, botas de guerra e vestes embebidas em sangue) e do início de uma nova era de felicidade e paz ( resplandece grande luz, alegria, fim da opressão e fim da guerra).

[1] A causa dessa transformação é o nascimento de um Rei, cujas características, só podem se referir ao Rei messiânico, que veio para governar; é um Rei de um reino futuro. Seus característicos transcendem tudo o que o homem é ou possa vir a ser.

[2] Maravilhoso Conselheiro – Ele transcende os limites comuns da humanidade (cf. Jz 13:11,18 e 22) e por isso é chamado de Maravilhoso. É Conselheiro, porque sendo ungido pelo Espírito Santo com sabedoria tem os conselhos sábios tão necessários para o exercício do ofício real. Fazer decisões sábias.

[3] Deus Forte – A execução dos seus conselhos como governante está garantida, porque unida à sabedoria está a força do seu poder divino. Este Menino é transcendente, sábio e divino.

[4] Pai da eternidade – fala de sua preexistência. Se a eternidade, que é algo que não tem começo nem fim, se tivesse começo, este Menino, este Filho seria o iniciador dela. O Messias é alguém que possui a eternidade, na qualidade

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amorosa de um Pai. (Sl 90:2). Isso iguala o Messias ao Pai: Ele é transcendentemente sábio, possui poder divino, por ser chamado de Deus Forte, e é Agenétos (não nascido, sem início) por ser chamado de Pai da Eternidade.

[b] Mq 5:2 – A mensagem de Miquéias é uma advertência dirigida a Israel do Norte e do Sul, quanto ao grave risco de sofrerem os juízos de Deus, por causa de sua apostasia. Nesta segunda unidade de seu livro (3:1 a 5:15), o profeta adverte os dirigentes da nação. Apesar disso, a situação espiritual e política do reino do Norte rapidamente se deteriorou. Como eles não foram sensíveis aos reclamos de Deus, Ele permitiu que fossem levados em cativeiro pelos assírios em 722 A.C. Judá seguiu a mesma direção de Israel e em 586 A.C. Jerusalém foi, também, invadida e destruída por Babilônia.

[1] Nos anos que antecederam a estes dois juízos, Miquéias promete um Rei que trará paz ao seu povo. É o Rei messiânico, que nascerá em Belém, cujas saídas são desde os dias da eternidade.

[2] O termo é Motsa’oth, era traduzido corretamente como saídas e não origens. Esta profecia é interpretada no Novo Testamento em referência ao seu nascimento no tempo (nascimento virginal) e no espaço (em Belém). (Mt 2:5,6; Jo 7:42). A expressão “cujas saídas são desde os dias da eternidade”, se referem à preexistência do Messias, pois o termo hebraico não exclui a idéias de eternidade. Sl 90:2 é interpretado por EGW em 1º ME, 248, como falando da preexistência de Cristo.

[a] EGW, assim interpreta o texto: “declara-se Aquele que tem existência própria, Aquele que fora prometido a Israel,

‘cujas saídas são desde os tempos antigos, desde os dias da eternidade”(DTN, 354).

(41)

[b] “Cristo é o Filho de Deus, preexistente... falando de sua preexistência, Cristo reporta sua mente através dos séculos incontáveis. Afirma-nos que nunca houve tempo que Ele não estivesse em íntima comunhão com o Eterno Deus”.

(Evangelismo, 615).

[2] – Preexistência de Cristo no Novo Testamento.

[a] Textos implícitos sobre a preexistência – vem, foi enviado. O pensamento se acha contido no texto subrepticiamente (veladamente).

[1] Lc 19:10 – Veio, de onde? Veio antes. Este é o método paciente de Cristo ensinar – “O Filho do homem veio.”

[2] Mc 10:45 – “O Filho do homem não veio para servir.” De onde?

[3] Mc 2:17 – “não vim chamar justos...” De onde?

[4] Mt 15:24 – “Não fui enviado senão...” – Mulher cananéia.

[5] Jo 3:13 – “Aquele que desceu do céu.”

[6] Jo 6:62 – “Lugar onde primeiro estava.”

Cristo expôs a verdade de sua preexistência, paulatinamente, até poder declará-la explicitamente.

[b] Textos explícitos sobre a preexistência:

[1] Jo 8:23 – “Eu não sou deste mundo, eu sou de cima”. Nunca ninguém fez tal declaração. Veio do reino superior.

[2] Jo 16:28 – “Vim do Pai e entrei no mundo.”

[3] Jo 17:5 – “Glorifica-me com a glória que eu tive junto de Ti, antes que houvesse mundo.”

[4] Jo 8:58 – “antes que Abraão existisse, Eu Sou.”

(42)

Os verbos não estão em relação temporal (pret. imperfeito do subjuntivo e pres. do indicativo). Ele não diz simplesmente que Ele era antes de Abraão. O verbo está no presente. E na regência de verbo intransitivo, indicando existência eterna. É ser de forma absoluta, é a existência de um Ser eternamente preexistente, cuja existência se estende para toda eternidade futura, e para toda eternidade passada do ponto de vista do momento em que Ele o declara, o presente. (Cf. Êx 3:13,14 ). Eu Sou o que Sou, Eu Sou me enviou a vós outros. Jesus existe sem referência ao tempo.

(Cl 1:17).

[5] “Desde toda eternidade esteve Cristo unido ao Pai, e quando assumiu a natureza humana, era ainda um com Deus...” (1ME, 228). “Mas ao mesmo tempo que a Palavra de Deus fala da humanidade de Cristo quando aqui na Terra, também fala ela, positivamente, em sua preexistência. A palavra existiu como Ser divino, a saber o Eterno Filho de Deus, em união e unidade com o Pai. Desde a eternidade Ele é o Mediador do Concerto.”

(1Me, 247).

“O Senhor Jesus Cristo, o Divino Filho de Deus, existiu desde a eternidade, como pessoa distinta, mas um com o Pai.” (1Me, 247).

[c] Declarações de outras testemunhas.

[1] Jo 1:29 e 30. João Batista eram mais velho do que Jesus seis meses. João, apesar disso, disse: “Porque já existia antes de mim. Logo João Batista cria na preexistência de Cristo.

[2] Jo 1:14 – “E o Verbo se fez carne”. Ele existiu antes de sua vida na carne, e como Verbo Ele era Deus.

[3] 1Tm 1:15 – “Jesus veio ao mundo para salvar.”

Referências

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