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RELAÇÕES DE TRABALHO E TECNOLOGIA

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Academic year: 2022

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RELAÇÕES DE TRABALHO E TECNOLOGIA

COORDENADORES Ana Carolina Reis Paes Leme

Leonardo Vieira Wandelli

Rômulo Soares Valentini

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II CONGRESSO INTERNACIONAL DE DIREITO E INTELIGÊNCIA

ARTIFICIAL

RELAÇÕES DE TRABALHO E TECNOLOGIA

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R382

Relações de Trabalho e Tecnologia [Recurso eletrônico on-line] organização Congresso Internacional de Direito e Inteligência Artificial: Skema Business School – Belo

Horizonte;

Coordenadores: Ana Carolina Reis Paes Leme; Leonardo Vieira Wandelli;

Rômulo Soares Valentini. – Belo Horizonte:Skema Business School, 2021.

Inclui bibliografia

ISBN: 978-65-5648-271-2

Modo de acesso: www.conpedi.org.br

Tema: Um olhar do Direito sobre a Tecnologia

1. Direito. 2. Inteligência Artificial. 3. Tecnologia. II. Congresso Internacional de Direito e Inteligência Artificial (1:2021 : Belo Horizonte, MG).

CDU: 34

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II CONGRESSO INTERNACIONAL DE DIREITO E INTELIGÊNCIA ARTIFICIAL

RELAÇÕES DE TRABALHO E TECNOLOGIA

Apresentação

Renovando o compromisso assumido com os pesquisadores de Direito e tecnologia do Brasil, é com grande satisfação que a SKEMA Business School e o CONPEDI – Conselho Nacional de Pesquisa e Pós-graduação em Direito apresentam à comunidade científica os 12 livros produzidos a partir dos Grupos de Trabalho do II Congresso Internacional de Direito e Inteligência Artificial (II CIDIA). As discussões ocorreram em ambiente virtual ao longo dos dias 27 e 28 de maio de 2021, dentro da programação que contou com grandes nomes nacionais e internacionais da área em cinco painéis temáticos e o SKEMA Dialogue, além de 354 inscritos no total. Continuamos a promover aquele que é, pelo segundo ano, o maior evento científico de Direito e Tecnologia do Brasil.

Trata-se de coletânea composta pelos 255 trabalhos aprovados e que atingiram nota mínima de aprovação, sendo que também foram submetidos ao processo denominado double blind peer review (dupla avaliação cega por pares) dentro da plataforma PublicaDireito, que é mantida pelo CONPEDI. Os oito Grupos de Trabalho originais, diante da grande demanda, se transformaram em doze e contaram com a participação de pesquisadores de vinte e um Estados da federação brasileira e do Distrito Federal. São cerca de 1.700 páginas de produção científica relacionadas ao que há de mais novo e relevante em termos de discussão acadêmica sobre a relação da inteligência artificial e da tecnologia com os temas acesso à justiça, Direitos Humanos, proteção de dados, relações de trabalho, Administração Pública, meio ambiente, formas de solução de conflitos, Direito Penal e responsabilidade civil.

Os referidos Grupos de Trabalho contaram, ainda, com a contribuição de 36 proeminentes professoras e professores ligados a renomadas instituições de ensino superior do país, os quais indicaram os caminhos para o aperfeiçoamento dos trabalhos dos autores. Cada livro desta coletânea foi organizado, preparado e assinado pelos professores que coordenaram cada grupo. Sem dúvida, houve uma troca intensa de saberes e a produção de conhecimento de alto nível foi, mais uma vez, o grande legado do evento.

Neste norte, a coletânea que ora torna-se pública é de inegável valor científico. Pretende-se, com esta publicação, contribuir com a ciência jurídica e fomentar o aprofundamento da relação entre a graduação e a pós-graduação, seguindo as diretrizes oficiais. Fomentou-se, ainda, a formação de novos pesquisadores na seara interdisciplinar entre o Direito e os vários

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campos da tecnologia, notadamente o da ciência da informação, haja vista o expressivo número de graduandos que participaram efetivamente, com o devido protagonismo, das atividades.

A SKEMA Business School é entidade francesa sem fins lucrativos, com estrutura multicampi em cinco países de continentes diferentes (França, EUA, China, Brasil e África do Sul) e com três importantes acreditações internacionais (AMBA, EQUIS e AACSB), que demonstram sua vocação para pesquisa de excelência no universo da economia do conhecimento. A SKEMA acredita, mais do que nunca, que um mundo digital necessita de uma abordagem transdisciplinar.

Agradecemos a participação de todos neste grandioso evento e convidamos a comunidade científica a conhecer nossos projetos no campo do Direito e da tecnologia. Já está em funcionamento o projeto Nanodegrees, um conjunto de cursos práticos e avançados, de curta duração, acessíveis aos estudantes tanto de graduação, quanto de pós-graduação. Em breve, será lançada a pioneira pós-graduação lato sensu de Direito e Inteligência Artificial, com destacados professores da área. A SKEMA estrutura, ainda, um grupo de pesquisa em Direito e Inteligência Artificial e planeja o lançamento de um periódico científico sobre o tema.

Agradecemos ainda a todas as pesquisadoras e pesquisadores pela inestimável contribuição e desejamos a todos uma ótima e proveitosa leitura!

Belo Horizonte-MG, 09 de junho de 2021.

Profª. Drª. Geneviève Daniele Lucienne Dutrait Poulingue

Reitora – SKEMA Business School - Campus Belo Horizonte

Prof. Dr. Edgar Gastón Jacobs Flores Filho

Coordenador dos Projetos de Direito da SKEMA Business School

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1 Pós Doutor em Direito (Universidade Salerno/Itália e Escola de Direito Dom Helder Câmara); Doutor e Mestre em Direito Universidade de Limoges/França. Professor da UFAM e da UEA

2 Bacharel em Direito pelo Centro integrado de Ensino Superior da Amazonia

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UBER: UMA EMPRESA DE TRANSPORTE QUE USA TECNOLOGIA UBER: A TRANSPORT COMPANY THAT USES TECHNOLOGY

Valmir César Pozzetti 1 Maíra Costa Pizzetti 2 Resumo

O objetivo desta pesquisa foi o de analisar o modus operandis da empresa Uber e identificar se os motoristas de aplicativos, que lhe prestam serviços, estão enquadrados na categoria de autônomos ou de empregados. A metodologia utilizada foi a do método dedutivo; quanto aos meios a pesquisa foi bibliográfica e quanto aos fins, qualitativa. Concluiu-se que os motoristas de aplicativo devem ser considerados empregados, em razão da natureza dos serviços que prestam, vez que se pode identificar que a Uber é uma empresa que utiliza tecnologia para atender sua atividade fim, que é a de transporte de pessoas.

Palavras-chave: Natureza jurídica, Uber technologies, Vínculo empregatício, Trabalho autônomo

Abstract/Resumen/Résumé

The objective of this research was to analyze the modus operandis of the company Uber and to identify whether application drivers, who provide services to it, fall into the category of self-employed or employees. The methodology used was that of the deductive method; as for the means, the research was bibliographic and for the ends, qualitative. It was concluded that application drivers should be considered employees, due to the nature of the services they provide, since it can be identified that Uber is a company that uses technology to meet its core activity, which is to transport people.

Keywords/Palabras-claves/Mots-clés: Legal nature, Uber technologies, Employment relationship, Self-employment

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INTRODUÇÃO

A Uber Technologies, é uma empresa norte americana que está presente em quase todos os países do planeta. Atua utilizando uma tecnologia desenvolvida por ela mesma, com apoio da internet, tanto para captar clientes, como para transportá-los. O aplicativo foi desenvolvido pela empresa, que disponibiliza aos usuários que querem fazer uso de transporte urbana, de maneira rápida e mais barata que os taxis comuns, que para atuar como tal, pagam licenças e pagam para obter placas de taxis. Dessa forma, o serviço de transporte é oferecido pela UBER que se utiliza de uma rede de pessoas credenciadas ao sistema. A pessoa interessada em se locomover aciona o aplicativo e solicita um motorista credenciado pela empresa, para transportá-lo de um ponto a outra da cidade e ao colocar as referências do ponto de embarque e do destino, já recebe o valor da viagem e ao aceitar o motorista mais próximo vem ao encontro do usuário para apanhá-lo.

Insta destacar que o veículo utilizado pelo transporte do usuário é de propriedade ou de responsabilidade do motorista credenciado, a Uber não oferece a ferramenta de trabalho e é nesse sentido que ela vem defendendo na justiça do trabalho para caracterizar que o trabalho é autônomo e trabalho com vínculo empregatício.

Dessa forma, o objetivo desta pesquisa é o de analisar a relação jurídica entre a Uber e o motorista de aplicativo e identificar se os elementos que caracterizam a relação jurídica são de contrato de trabalho autônomo ou de contrato de trabalho com vínculo empregatício.

A problemática que envolve essa pesquisa é: qual é a relação jurídica contratual que se forma entre a empresa Uber e o motorista de aplicativo que presta serviços a ela?

A pesquisa se justifica tendo em vista que muitos motoristas trabalham em uma jornada exaustiva e recebem somente comissões pelas corridas realizadas; entretanto, se a relação jurídica se caracterizar como vínculo empregatício, os direitos desse trabalhador serão diferenciados e acrescidos aos ganhos que ele recebe da empresa Uber, o que lhe permitirá obter direitos à aposentadoria e FGTS, por exemplo, além de férias e 13º salário.

A metodologia a ser utilizada nessa pesquisa é a do método dedutivo; quantos aos meios a pesquisa será bibliográfica com uso da doutrina, legislação e jurisprudência; quanto aos fins a pesquisa será qualitativa.

OBJETIVOS: objetivo desta pesquisa é o de analisar a relação jurídica entre a Uber e o motorista de aplicativo e identificar se os elementos que caracterizam a relação jurídica são de contrato de trabalho autônomo ou de contrato de trabalho com vínculo empregatício

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METODOLOGIA: A metodologia a ser utilizada nessa pesquisa é a do método dedutivo;

quantos aos meios a pesquisa será bibliográfica com uso da doutrina, legislação e jurisprudência; quanto aos fins a pesquisa será qualitativa.

DESENVOLVIMENTO

1. Serviços ofertados pela UBER: tecnologia ou transporte?

As argumentações da empresa Uber é a de que ela é uma empresa que oferece a tecnologia (aplicativo) para que o motorista que possa realizar o transporte de passageiros, através da oferta e procura que se faz através do aplicativo e que, dessa forma, a Uber não transporta passageiros, mas somente oferece a tecnologia para que “outros” o façam, depois de se credenciarem junto à Uber, para realizar essa espécie de transporte. Esse transporte é disciplinado por uma legislação?

Para Silva (2020, p. 4):

Essa nova plataforma, de serviços prestados pelos aplicativos de celulares, vem de forma a adequar os meios tecnológicos de comunicações às necessidades da população, buscando integrar os interesses particulares com os transportes privados, assegurando a liberdade de escolha dos clientes. É um serviço privado de transporte individual de passageiros com previsão na Lei nº 12.587, de 12 de janeiro de 2012, que instituiu as diretrizes da Política Nacional de Mobilidade Urbana.

Vejamos, então, o que a Lei Federal nº 12.587/2012 estabelece a respeito do assunto:

Art. 12. Os serviços de utilidade pública de transporte individual de passageiros deverão ser organizados, disciplinados e fiscalizados pelo poder público municipal, com base nos requisitos mínimos de segurança, de conforto, de higiene, de qualidade dos serviços e de fixação prévia dos valores máximos das tarifas a serem cobradas.

Nesse sentido há que se perguntar: 1) quem oferece o serviço? A Uber, em uma plataforma da internet. 2) quem estabelece o preço do serviço? A Uber; 3) quem disciplina a atividade do uso da plataforma pelos usuários? A Uber, que estabelece regras para o uso do serviço, formas de pagamentos, etc...; 4) quem fiscaliza a atividade do motorista no tocante à assiduidade, limpeza, gentileza do motorista? A Uber.

Dessa forma, está claro que quem dirige a atividade laboral do motorista que realiza o transporte com seu próprio veículo, é a Uber; ela disciplina todas as formas em que o serviço será prestado e fiscaliza se o serviço está sendo prestado de forma adequada, através de um canal direto com o cliente, que é seu e não do motorista.

Há que se dizer, ainda, que é a Uber que dirige a prestação do serviço de transporte. É o aplicativo da Uber que estabelece o preço imediato desse transporte, havendo aí uma direção administrativa por parte da Uber, com poder de mando sobre o trabalho a ser realizado.

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Vejamos que para atender a parte final do artigo 12,da Lei nº 12.587/2012, a Uber exige que os motoristas mantenham seus veículos higienizados, com conforto e segurança e mantém um canal direto de reclamações dos serviços; canal esse que é mantido entre o usuário do transporte e a Uber e não com o motorista; o que mais uma vez caracteriza o poder de mando e de fiscalização da Uber; pois se o motorista não se adequar às exigências feitas pelo Uber, ele será desligado da prestação laboral e excluído do cadastro de motoristas ativos da Uber.

Nesse sentido vale a pena destacar que Lei nº 12.587/2012, rege os transportes urbanos públicos e privados em normas gerais, assim dispõe em seu art. 3º § 2º:

Art. 3o O Sistema Nacional de Mobilidade Urbana é o conjunto organizado e coordenado dos modos de transporte, de serviços e de infraestruturas que garante os deslocamentos de pessoas e cargas no território do Município.

[...] omissis

§ 2o Os serviços de transporte urbano são classificados:

I - quanto ao objeto:

a) de passageiros;

b) de cargas;

II - quanto à característica do serviço:

a) coletivo;

b) individual;

III - quanto à natureza do serviço:

a) público;

b) privado.

Assim, o que podemos constatar é que o transporte de passageiros feito pelos motoristas credenciados à Uber, no âmbito do território municipal, se caracteriza como transporte de passageiros, de forma individual e no âmbito privado. Portanto, em sendo no âmbito privado, a atividade realizada pelo motorista, se preencher os pré-requisitos de um contrato com vinculo de subordinação e mediante pagamento de comissão, deve ser regido pela CLT que cuida das relações laborais no âmbito privado.

Dessa forma, devemos analisar quais são as regras que o motorista deve cumprir, para se manter credenciado à Uber. Esse é o ponto mais importante dessa relação jurídica: o motorista pode realmente trabalhar a hora que bem quer, quando quer? O motorista pode trabalhar somente um dia por mês, ou deve trabalhar todos os dias? A Uber exige uma certa produtividade e/ou assiduidade desse motorista, ou não? É necessário, portanto, analisarmos os elementos que caracterizam o contrato de trabalho.

2. Elementos necessários à formação de um contrato de trabalho

O contrato de trabalho, está previsto na CLT - Consolidação das leis do Trabalho - Decreto-Lei nº 5.452, de 1o de maio de 1943 - nos artigos 442 a 510 e ele se configura em uma convenção pela qual uma pessoa (empregado) se compromete a prestar trabalho pessoal, com subordinação, em proveito e sob a dependência de outra (empregador), em caráter não eventual e mediante o pagamento de um salário. Esta convenção pode ser tácita ou escrita, conforme prevê a CLT:

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Art. 443. O contrato individual de trabalho poderá ser acordado tácita ou expressamente, verbalmente ou por escrito, por prazo determinado ou indeterminado, ou para prestação de trabalho intermitente.

§ 1º - Considera-se como de prazo determinado o contrato de trabalho cuja vigência dependa de termo prefixado ou da execução de serviços especificados ou ainda da realização de certo acontecimento suscetível de previsão aproximada.

§ 2º - O contrato por prazo determinado só será válido em se tratando:

a) de serviço cuja natureza ou transitoriedade justifique a predeterminação do prazo;

b) de atividades empresariais de caráter transitório;

c) de contrato de experiência.

§ 3o Considera-se como intermitente o contrato de trabalho no qual a prestação de serviços, com subordinação, não é contínua, ocorrendo com alternância de períodos de prestação de serviços e de inatividade, determinados em horas, dias ou meses, independentemente do tipo de atividade do empregado e do empregador, exceto para os aeronautas, regidos por legislação própria.

Dessa forma, se houve acordo, verbal, escrito ou tácito, formou-se a relação jurídica entre sujeito ativo (empregado) e passivo (empregador) e, a partir daí busca-se verificar se o trabalho prestado que deriva dessa relação contratual, é prestado com subordinação ou não.

Ainda é importante falarmos dos requisitos necessários para caracterizar uma pessoa como “empregado”; vejamos o que diz a CLT:

Art. 3o Considera-se empregado toda pessoa física que prestar serviços de natureza não eventual a empregador, sob a dependência deste e mediante salário.

Parágrafo único. Não haverá distinções relativas à espécie de emprego e à condição de trabalhador, nem entre o trabalho intelectual, técnico e manual.

Pois bem, nesse sentido, o legislador determinou que o vínculo empregatício só se formará se o trabalho for prestado por pessoa física; nesse sentido o motorista que dirige o veículo que foi cadastrado para atender às demandas dos clientes da Uber, é pessoa física; ainda não temos robôs dirigindo esses veículos. Assim sendo verificamos que o 1º requisito está atendido. O 2º requisito que o de natureza não eventual, também está contemplado no trabalho desses motoristas, porque se ele resolver dirigir de forma esporádica, uma vez na semana, apenas, a Uber o descredencia. Logo, o serviço que o motorista presta á Uber, é de natureza não eventual. O 3º requisito, que é o de prestar serviço a empregador, também e satisfaz nessa prestação laboral, vez que a Uber age como legitimo empregador: cadastra o motorista e seu veículo nos seus registros, verifica antecedentes criminais, dirige a atividade que o motorista realiza, recebe reclamações de usuários, clientes da plataforma, a Uber, repreende o motorista, estabelece-lhe metas, exige limpeza do veículo e cordialidade no trato com os clientes da Uber, transportado no veículo do motorista; caso o motorista não aceite essas imposições, estará desligado do rol de motoristas que atendem a Uber. Desta forma, não resta dúvida que, em agindo dessa forma, a Uber atende os requisitos da CLT, para ser considerado empregador:

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Art. 2o Considera-se empregador a empresa, individual ou coletiva, que, assumindo os riscos da atividade econômica, admite, assalaria e dirige a prestação pessoal de serviço.

Ainda há que se falar que, com a atual crise econômica financeira, os motoristas cadastrados na Uber vivem exclusivamente das atividades realizadas nessas corridas que realizam para a Uber, alguns deles trabalhando jornada diária exaustiva. Dessa forma caracteriza-se o 4º requisito que é a dependência econômica do empregador e o 5º requisito para consolidar o vínculo empregatício é o requisito de recebimento de salário. Nesse sentido os motoristas da Uber, recebem uma percentagem do valor da corrida, do transporte de passageiros. Dessa forma, está claro que a relação contratual que envolve a empresa Uber e os motoristas que nela são cadastrados e prestam os serviços de transportes, é de natureza trabalhista com vínculo empregatício em relação ao empregador Uber, que dirige a atividade econômica, recebe o valor das corridas e repassa ao motorista o salário, em forma de comissão.

Logo, mesmo que a Uber insista em afirmar o contrário a natureza jurídica do contrato tácito, verbal ou expresso, realizado entre ele e os motoristas nela cadastrado, é de contrato de trabalho com vínculo empregatício.

Somente por amor ao debate, ainda elencamos que a Uber se encaixa nos requisitos doutrinários que estabelecem os poderes do empregador em uma relação de emprego, que são:

1) Poder diretivo – que é aquele em que o empregador tem o direito de dirigir a atividade do empregado da forma que melhor lhe aprouver, determinando a quantidade de dias na semana que o motorista deve trabalhar, e que se seu aplicativo ficar desligado pelo tempo em que a Uber determinar, o motorista será desligado;

2) Poder regulamentar - é o atributo que o empregador tem de criar normas e regulamentos, que se materializam através de cartas, avisos, circulares e regulamento interno da empresa. nos regulamentos o empregador planeja a atividade da empresa, dividindo as tarefas, determinando proibições, determina cordialidade, higienização do veículo, etc...;

3) Poder disciplinar - é o poder pelo qual se investe o empregador de advertir, suspender ou demitir o empregado por justa causa. In casu, a Uber pode encerrar a relação jurídica com o motorista da forma que melhor lhe aprouver, estabelecendo critérios e metas.

Dentro desse contexto, podemos verificar que diversas decisões judiciais já caminham no sentido de deferir o vínculo empregatício porque entenderam que estão presentes na relação entre a Uber e os motoristas, os requisitos mínimos para configurar o vínculo empregatício.

Neste sentido Stempel (2020, p.p) destaca que:

A Uber será forçada a encerrar suas operações na Califórnia se uma decisão judicial que a impede de classificar seus motoristas como terceirizados entrar em vigor, disse a empresa em um processo judicial.

Na segunda-feira, um juiz da Califórnia atendeu ao pedido do Estado de uma liminar impedindo a Uber e a rival Lyft de classificar seus motoristas como independentes, em vez de empregados. Centenas de milhares de 'trabalhadores de aplicativos', incluindo muitos em empresas de transporte e serviços de entrega, são

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afetados pela lei conhecida como Assembly Bill 5 ("AB5"), que entrou em vigor em 1º de janeiro.

E continua Stempel (2020, p.p):

Um juiz na Califórnia deu ganho de causa a um pedido do Estado norte-americano para impedir que Uber e rival Lyft classifiquem seus motoristas como prestadores de serviço em vez de funcionários.

A decisão do juiz Ethan Schulman, do Tribunal Superior de São Francisco, marca uma derrota para as empresas de transporte por aplicativo, que se defendem contra um processo de 5 de maio aberto pelo procurador geral Xavier Becerra e pelas cidades de Los Angeles, San Diego e São Francisco.

Na decisão de 34 páginas que obriga as empresas a cumprirem com a legislação estadual, Schulman afirma que as partes acusadoras no processo mostraram uma

"probabilidade esmagadora" de que podem provar que Uber e Lyft classificam os motoristas de maneira ilegal.

Dessa forma, continuar alegando e se recusando a reconhecer o vínculo empregatício, sob o argumento de que a Uber é uma empresa de tecnologia, pois só participa da relação jurídica com o aplicativo por ela desenvolvido, não tem mais o condão de sustentar a tese. A cada dia mais são novas decisões judiciais que decidem de forma fundamentada, reconhecendo o vínculo empregatício e declarando que a Uber é uma empresa de transporte de passageiros ou de alimentos (a sua nova modalidade no mercado). Continuar a negar esse direito aos motoristas, seria o mesmo que atentar contra o princípio da dignidade da pessoa humana que, segundo Pozzetti (2018, p. 162):

O trabalho é um dos principais Direitos Fundamentais do ser humano, pois é através dele que o trabalhador realizar-se-á como “humano”: obterá recursos para alimentar- se, terá condições de educar a si e a seus filhos, terá acesso ao lazer e à cultura; terá condições psicológicas para desenvolver e criar, terá auto-estima para realizar-se.

E, nesse mesmo sentido, Pozzetti e Schettini (2015, p. 289) esclarecem que:

Dessa forma, o local onde o trabalhador passa de 6 a 8 horas diárias de sua vida, inegável e juridicamente, é considerado como meio ambiente de trabalho, devendo ser respeitados, nesse ambiente, a saúde, o bem-estar e a dignidade do trabalhador, propiciando-lhe, bem como ao empregador, um meio ambiente nos termos do art. 225 da CR/88.

Assim sendo, por tudo que aqui se discutiu, se a Uber quiser se manter no mercado, deverá respeitar os direitos trabalhistas de seus motoristas (empregados), porque sem~;ao terá a sua imagem manchada no mercado consumidor e, diante das novas relações contratuais que regulam o mercado, acabará por sucumbir, sendo naturalmente expulsa dos mercados/países, onde as empresas que sobrevivem no mundo contemporâneo devem adotar uma postura ética e responsável.

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CONCLUSÃO

A problemática que envolveu essa pesquisa surgisse, foi a de investigar qual é a relação jurídica contratual que se forma entre a empresa Uber e o motorista de aplicativo que presta serviços a ela. Os objetivos da pesquisa foram alcançados à medida em que se analisou a legislação brasileira, a doutrina e as decisões judiciais alienígenas. A conclusão a que se chegou foi a de que os motoristas que prestam serviços à empresa Uber, através de chamadas por aplicativos, possuem vínculo empregatício com a mesma; pois a Uber não é apenas uma empresa de tecnologia, mas suas atividades/objetivos sociais também compreendem, tacitamente, a de transporte de passageiros e, na medida em que ela mantem motoristas trabalhando nessa atividade e que estes, prestam os serviços com habitualidade, subordinação e com dependência econômica, o vínculo empregatício se forma de maneira cristalina, não podendo a Uber fugir à essa responsabilidade contratual; pois se o fizer, será considerada um empresa não grata no âmbito das relações de consumo, provocando a sua extinção.

REFERÊNCIAS

BRASIL. Consolidação das leis Trabalhistas – CLT- DECRETO-LEI No 5.452, DE 1o DE MAIO DE 1943. Presidência da República, Rio de janeiro: 1.943

BRASIL. Constituição da República Federativa do. Congresso Nacional, Brasília: 1988.

BRASIL. Lei nº 12.587, de 03 de janeiro de 2012. Institui as diretrizes da Política Nacional de Mobilidade Urbana. Brasília, 2012. Congresso Nacional, Brasília: 2012 2017.

POZZETTI, Valmir César e SCHETTINI, Mariana Cruz . A RESPONSABILIDADE CIVIL DO EMPREGADOR PELOS DANOS NO MEIO AMBIENTE DO TRABALHO. Revista Veredas do Direito, v.12, n.24, p.287-318, Julho/Dezembro de 2015. Disponível em:

file:///C:/Users/Valmir/AppData/Local/Temp/489-Texto%20do%20Artigo-2813-1-10- 20160122.pdf, consultada em 12 mai. 2021.

POZZETTI, Valmir César. DIREITO EMPRESARIAL E A NATUREZA JURÍDICA DO MEIO AMBIENTE DO TRABALHO. Ver. Juridica, n. 43, vol. 2, 2016. Disponível em:

file:///C:/Users/Valmir/AppData/Local/Temp/1826-5732-1-PB.pdf, consultada em 12 mai.

2021

SILVA, Leandro Estrela da. A Constitucionalidade da UBER: um estudo multidisciplinar

no ordenamento jurídico. Disponível em:

https://monografias.brasilescola.uol.com.br/direito/a-constitucionalidade-uber-um-estudo- multidisciplinar-no-ordenamento-juridico.htm#indice_6, consultado em 12 mai. 2021.

STEMPEL, Jonathan da Reuters. Juiz dos EUA decide que Uber e Lyft devem tratar

motorista como funcionário. Disponível em:

https://www.cnnbrasil.com.br/business/2020/08/10/juiz-dos-eua-decide-que-uber-e-lyft- devem-tratar-motorista-como-funcionario, 10 ago. 2020, consultada em 12 mai. 2021.

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1 Mestranda em Direito pela Universidade Federal de Minas Gerais. Pós-graduada em Direito do Trabalho pela Universidade Cândido Mendes e Direito Público pela PUC Minas - Instituto de Educação Continuada.

Advogada.

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O COOPERATIVISMO DE PLATAFORMA COMO ACESSO À JUSTIÇA PELA VIA DOS DIREITOS

PLATFORM COOPERATIVISM AS ACCESS TO JUSTICE THROUGH RIGHTS Anna Jéssica Araújo Costa 1 Resumo

A pesquisa aborda a precarização do trabalho em plataformas digitais e objetiva analisar se o cooperativismo de plataforma pode ser considerado um instrumento de acesso à justiça pela via dos direitos. O estudo identificou que a participação dos cooperados nos processos decisórios da cooperativa e na construção de seus próprios direitos evidencia o caráter emancipatório do cooperativismo e seu papel importante na reconstrução da cidadania dos trabalhadores da era digital. O modelo, contudo, possui contradições e limitações, que devem ser aprofundadas em agendas futuras. A análise adota a vertente metodológica jurídico- sociológica, com investigação do tipo jurídico-exploratória e pesquisa bibliográfica.

Palavras-chave: Cooperativismo de plataforma, Acesso à justiça, Precarização do trabalho Abstract/Resumen/Résumé

The research addresses the precariousness of work on digital platforms and analyzes whether platform cooperatives are an instrument of access to justice through rights. The study identified that the participation of the cooperative members in the decision-making processes of the cooperative and in the construction of their own rights highlights the emancipatory character of the cooperative and its important role in the reconstruction of workers' citizenship. The model, however, has contradictions and limitations, which should be further explored in future agendas. The analysis adopts the juridical-sociological methodological aspect, with investigation of the juridical-exploratory type and bibliographic research.

Keywords/Palabras-claves/Mots-clés: Platform cooperativism, Access to justice, Precarious work

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1 INTRODUÇÃO

Economia do compartilhamento (sharing economy), economia de bicos (gig economy) ou capitalismo de plataforma são, hoje, termos comumente usados para se definir o conjunto das relações de trabalho firmadas entre trabalhadores autônomos e empresas detentoras de tecnologias de informação (plataformas digitais). Como destaca Trebor Scholz (2016), é inquestionável que as plataformas de trabalho dependem de vidas humanas exploradas em toda sua cadeia de fornecimento global e têm criado, cada vez mais, divisões de riqueza na sociedade.

Assim, tendo em vista a necessidade de se buscar alternativas para reduzir a crescente precarização do trabalho em plataformas digitais e reconstruir a dignidade e a cidadania dos trabalhadores, a presente pesquisa aborda o estudo do cooperativismo de plataforma idealizado por Scholz, modelo este que propõe um grande movimento, de caráter tecnológico, cultural, político e social e baseado em valores como solidariedade e governança democrática, para modificar profundamente a estrutura das relações de trabalho estabelecidas nesse cenário.

O problema fundamental da pesquisa é: pode o cooperativismo de plataforma se tornar um novo instrumento de acesso à justiça pela via dos direitos para os trabalhadores de plataformas? Como objetivos específicos, este trabalho se propõe a: comparar o sistema tradicional de cooperativismo e o cooperativismo de plataforma; analisar quais aspectos do cooperativismo de plataforma podem ser fundamentais para a reconstrução da dignidade e da cidadania dos trabalhadores; e avaliar possíveis contradições e limitações desse novo modelo.

O estudo adota a vertente metodológica jurídico-sociológica, sob a investigação do tipo jurídico-exploratória e utiliza, como técnica, a pesquisa bibliográfica (GUSTIN; DIAS, 2013), mediante o estudo de livros e artigos científicos existentes sobre a matéria.

2 COOPERATIVISMO x COOPERATIVISMO DE PLATAFORMA

Muito embora partam de um mesmo pressuposto básico, qual seja a adoção de uma forma específica de organização do trabalho como parâmetro para o desenvolvimento de atividades em benefício comum, o sistema tradicional cooperativista e o cooperativismo de plataforma apresentam algumas distinções importantes, motivo pelo qual este estudo realiza, inicialmente, um breve paralelo entre os dois modelos.

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Maurício Godinho Delgado (2009) afirma que o modelo tradicional de cooperativismo é fundado em dois princípios indissociáveis e obrigatórios: (i) princípio da dupla qualidade: a pessoa filiada à cooperativa deve ser, ao mesmo tempo, cooperada e cliente, ou seja, além de a cooperativa poder prestar serviços a terceiros, também deve disponibilizar serviços diretamente a seus associados; e (ii) princípio da retribuição pessoal diferenciada: a cooperativa deve permitir que o cooperado obtenha uma retribuição pessoal superior à que conseguiria se acaso não tivesse se associado ao sistema e trabalhasse isoladamente, por meio da oferta de um complexo de vantagens cooperativas.

Na verdade, a imprescindibilidade da presença de tais características na cooperativa é explicada pelo fato de que o seu papel é justamente potencializar o trabalho humano, conferindo uma maior proteção social aos trabalhadores autônomos a ela associados. Logo, se não há a observância aos referidos princípios, ocorre um desvirtuamento da cooperativa que, dessa forma, tende a precarizar e não garantir o trabalho digno dos cooperados.

2.2 A proposta de Trebor Scholz: a tecnologia a serviço da coletividade

Por outro lado, o cooperativismo de plataforma teorizado por Trebor Scholz pretende transcender o cooperativismo tradicional para se constituir não somente em um novo tipo de organização de trabalho ou modelo de negócios. A proposta de Scholz é concreta e realista;

parte, primeiramente, do questionamento do conceito de propriedade adotado para a internet.

Para além da análise estrita dos problemas socioeconômicos enfrentados pelos trabalhadores da era digital, o modelo de cooperativismo por ele idealizado visa fomentar um verdadeiro movimento de solidariedade e governança democrática em escala global.

Assim, segundo o autor, para se estabelecer como uma alternativa factível na economia do compartilhamento e cumprir seus objetivos, o cooperativismo de plataforma deve ser baseado em três aspectos: (i) mudança de propriedade: o modelo não recusa o uso da internet e os benefícios por ela proporcionados, mas almeja que a ferramenta seja utilizada em consonância com valores democráticos, a fim de desestabilizar a economia do compartilhamento, sistema este que, na visão de Scholz, é apoiado na superexploração dos trabalhadores, no aumento da desigualdade de renda e no uso da ilegalidade como modus operandi básico (eliminação dos direitos trabalhistas e dos valores democráticos de transparência e consentimento para maximização de lucros); (ii) solidariedade: o cooperativismo de plataforma deve ser fundado em uma rede de apoio mútuo e as decisões

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devem ser construídas democraticamente, em prol do bem comum; e (iii) ressignificação de conceitos: a promoção de inovação e eficiência, atuais pilares do capitalismo de plataforma, deve observar o benefício de todos e não apenas a obtenção de “lucro para poucos”.

O cooperativismo de plataforma busca, então, que os trabalhadores da era digital tenham efetivas condições de colher os frutos de seu próprio trabalho, por meio de uma profunda reformulação das relações de trabalho estabelecidas no contexto do avanço das novas tecnologias de informação e da crescente precarização do trabalho em plataformas.

Nesse sentido, Scholz propõe a adoção de dez princípios para as plataformas cooperativas, conforme enumera Renan Kalil (2020):

(i) propriedade, que deve ser compartilhada entre os cooperados, permitindo que os resultados obtidos pela plataforma sejam destinados àqueles que mais contribuem para o seu desenvolvimento; (ii) pagamento decente e segurança de renda, garantido patamares mínimos aos membros das cooperativas; (iii) transparência e portabilidade de informações e dados, tanto para os trabalhadores como para os consumidores; (iv) apreciação e reconhecimento, em que há canal direto de comunicação entre consumidores e trabalhadores e há necessidade de apresentação de justificativas quando algumas das regras não são cumpridas, como pontualidade no pagamento; (v) trabalho codeterminado, em que o envolvimento dos trabalhadores deve ocorrer desde a concepção da plataforma; (vi) estrutura legal protetiva, removendo todas as barreiras existentes na legislação para o surgimento e consolidação de cooperativas; (vii) benefícios e proteção trabalhistas portáteis, em que a mudança de atividade não afeta os direitos dos trabalhadores; (viii) proteção contra comportamentos arbitrários, como a vedação de desligamento automático da plataforma; (ix) rejeição da vigilância excessiva no local de trabalho, como forma de preservar a dignidade e a privacidade dos trabalhadores; e (x) o direito à desconexão, em que se respeitam intervalos e descansos dos cooperados.

Yochai Benkler (2016 apud KALIL, 2020) reconhece que, embora o sistema cooperativista não tenha alcançado um papel tão transformador desde que surgiu no século XIX, existe, hoje, uma conjuntura propícia ao desenvolvimento do cooperativismo de plataforma.

Dentre os fatores que podem favorecer o movimento, destacam-se que, no capitalismo de plataforma, há a possibilidade de surgimento de empresas com grande impacto no mercado a todo momento e a existência de produções colaborativas na internet (por exemplo, Wikipedia e softwares gratuitos), baseadas em recursos comuns, com cada vez mais pessoas conectadas se envolvendo em regime de cooperação para desempenho de atividades sem fins lucrativos.

3 COOPERATIVISMO DE PLATAFORMA: UM NOVO CAMINHO PARA O ACESSO À JUSTIÇA PELA VIA DOS DIREITOS E CONCRETIZAÇÃO DA CIDADANIA?

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O cooperativismo é considerado um empreendimento integrante da Economia Solidária, conjunto de iniciativas econômicas impulsionadas a partir, especialmente, da década de 90, em razão da intensificação de programas neoliberais. Os empreendimentos solidários, como os associativismos e as cooperativas, visam buscar alternativas para a geração de renda e têm, como princípios básicos, a propriedade coletiva ou associada do capital e a autogestão.

De acordo com pesquisa de caráter qualitativo realizada por Petersen, Souza e Lopes (2014) sobre a produção de identidades no contexto cooperativista, a prática da autogestão na Economia Solidária seria semelhante ao exercício da cidadania:

[...] observa-se que a prática da autogestão, na Economia Solidária, é semelhante ao exercício da cidadania, pois, do mesmo modo como, em uma cidade ou comunidade, os cidadãos organizam-se para administrar ou influenciar a administração dos empreendimentos públicos, fazendo votações para eleger representantes e para tomar decisões; em uma cooperativa, por exemplo, os cooperados organizam-se para administrar, democraticamente, os empreendimentos econômicos, fazendo votações em assembleias para eleger delegados e tomar decisões.

A concepção de cidadania está ligada, então, à participação efetiva dos membros de uma determinada sociedade nos espaços públicos que determinam o seu destino, o que pode ser impulsionado com o exemplo da participação de cooperados em processos decisórios de uma cooperativa.

A concepção de cooperativismo de plataforma trazida por Trebor Scholz busca despertar transformações profundas, em nível global, de caráter tecnológico, cultural, político e social, na tentativa de criar um contraponto que possa resistir, de forma concreta, às precárias condições de trabalho estabelecidas no capitalismo de plataforma. Com fundamento em valores como solidariedade e governança democrática, o modelo propõe a reorganização do mundo do trabalho por meio da introdução do negócio cooperativo na economia digital, da instituição de processos democráticos de decisão e da ressignificação do conceito de apropriação da inovação tecnológica em benefício da coletividade.

Assim, diante de características tão importantes que elevam o potencial emancipatório do cooperativismo de plataforma, entende-se que o modelo arquitetado por Scholz pode se constituir em um novo instrumento de acesso à justiça para a reconstrução da dignidade e da cidadania dos trabalhadores da era digital.

Segundo a obra clássica de Mauro Cappelletti e Bryan Garth (1988), o conceito de acesso à justiça sofreu grandes transformações ao longo dos séculos, pois, se antes era definido como o mero acesso à jurisdição ou aos órgãos que compõem a administração da justiça, a

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partir, especialmente, da consolidação do Estado Democrático de Direito, passou a traduzir a ideia de acesso a uma ordem jurídica justa e à efetividade do exercício do direito à tutela jurisdicional.

A teoria do acesso à justiça ganhou novos contornos, ainda, a partir da proposta desenvolvida por Leonardo Avritzer, Marjorie Marona e Lilian Gomes (2014), que elaboraram uma terminologia denominada “acesso à justiça pela via dos direitos”. De acordo com os autores, o acesso à justiça pela via dos direitos englobaria duas dimensões: (i) a garantia de efetividade dos direitos, envolvendo três pressupostos – informação acerca desses direitos, conhecimento que permita o recurso a uma instância capaz de solucionar o conflito e efetiva reparação da injustiça causada pela violação desse direito – e (ii) a possibilidade de participação dos envolvidos na configuração do próprio direito, o que abrangeria a criação e o reconhecimento de novas categorias de direito.

No cooperativismo de plataforma, há a possibilidade de atuação direta dos trabalhadores da era digital na conformação de seus próprios direitos, tendo em vista que eles têm a possibilidade de deter os meios de produção (propriedade na internet) e de decidir, de forma democrática, os rumos da atividade cooperativa, sempre em proveito do bem comum.

Essa participação ativa dos associados nos processos decisórios e na formulação de seus direitos, como pilares do cooperativismo de plataforma, pode influir positivamente no resgate da dignidade e da cidadania desses trabalhadores que, atualmente, encontram-se sem qualquer proteção social e sem a oportunidade de atuar em prol de mudanças significativas em suas condições de trabalho, diante da ausência de regulamentação do setor em vários países e da atuação, ainda incipiente, de entidades sindicais no âmbito do capitalismo de plataforma.

A adoção do cooperativismo de plataforma pode servir, portanto, como uma alternativa para o uso contra-hegemônico da internet, trazendo grandes benefícios para os trabalhadores da era digital, ao promover o seu acesso à justiça pela via dos direitos e garantir, por consequência, o exercício da cidadania para transformação de suas realidades e a requalificação de seu papel na sociedade como protagonistas de suas próprias histórias.

4 POSSÍVEIS CONTRADIÇÕES E LIMITAÇÕES DO COOPERATIVISMO DE PLATAFORMA

É preciso, contudo, introduzir uma crítica ao cooperativismo de plataforma, a fim de não romantizar demasiadamente a envergadura de sua capacidade de transformação social e de

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Rafael Grohmann (2018), ao analisar páginas de cooperativas de plataforma da área de comunicação no site Platform.Coop, referência mundial no cooperativismo de plataforma, identificou que “parecem se relacionar mais a um tipo de ‘capitalismo de plataforma’ do que necessariamente do cooperativismo, ao menos enquanto um projeto radical”. Grohmann pondera, então, que é preciso “considerar que o trabalho inserido no modo de produção capitalista está sujeito a suas pressões, com as cooperativas podendo reproduzir padrões de autoexploração”.

Englert, Woodcock e Cant (2020) também pontuam que as plataformas capitalistas têm muito mais recursos para serem “concorrentes cruéis” às cooperativas de plataformas e que, se quisermos que os benefícios da utilização da internet estejam livres dos imperativos do capital e sejam compartilhados por todos, é fundamental compreender e apoiar as lutas dos trabalhadores em um movimento de socialismo digital “de baixo para cima”.

O cooperativismo de plataforma, deste modo, pode apresentar contradições e limitações que necessitam, ainda, ser debatidas amplamente pela sociedade. Não obstante, considera-se que o modelo tem a capacidade de representar o início de uma discussão imprescindível na atualidade, a respeito de como resgatar a dignidade e promover a cidadania dos trabalhadores da era digital.

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Refletir sobre alternativas para o enfrentamento da precarização das relações de trabalho em plataformas digitais é uma tarefa árdua. Não há respostas prontas, as discussões sobre o tema são recentes e a rapidez com que as tecnologias de informação avançam, provoca, paralelamente, o surgimento de relações cada vez mais complexas que precisam ser estudadas.

Contudo, o modelo de propriedade da internet adotado no capitalismo de plataforma é inevitável? Não. A precarização do trabalho na era digital é inevitável? Também não. E o cooperativismo de plataforma, como visto, mostra-se como um caminho genuinamente viável para impedir o surgimento de um novo proletariado de serviços nesse contexto.

O cooperativismo de plataforma, adotando os princípios básicos do sistema tradicional cooperativista e aprimorando seus padrões para a era digital, propõe a adoção de um modelo que pode servir como um verdadeiro movimento de resgate da dignidade dos trabalhadores e reconstrução de sua cidadania, tendo em vista a possibilidade de os associados participarem ativamente dos processos decisórios e da conformação de seus próprios direitos, podendo, inclusive, reproduzir tais comportamentos em espaços públicos de decisão.

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Considerando, assim, seu potencial emancipatório, entende-se que o cooperativismo de plataforma tem a capacidade de se tornar um novo instrumento de acesso à justiça pela via dos direitos para os trabalhadores da gig economy.

É certo que o modelo possui limitações e contradições que precisam ser debatidas para que seja criada uma alternativa cada vez mais realista e adaptada às necessidades dos trabalhadores de plataformas, contudo, é importante lembrar que “o cooperativismo de plataforma não é uma solução, mas um processo”1, o que reafirma a aptidão do modelo como um instrumento de acesso à justiça pela via dos direitos.

REFERÊNCIAS

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Disponível em: <https://seer.ufs.br/index.php/eptic/article/view/12188/10214> Acesso em: 19 abr. 2021.

GROHMANN, Rafael. Cooperativismo de plataforma e suas contradições: análise de iniciativas da área de comunicação no Platform.Coop. Liinc em Revista,

Rio de Janeiro, v. 14, n. 1, p. 19-32, 2018. Disponível em:

<http://revista.ibict.br/liinc/article/view/4149/3689> Acesso em: 20 abr. 2021.

KALIL, Renan Bernardi. Organização Coletiva dos Trabalhadores no Capitalismo de Plataforma. Contracampo, Niterói, v. 39, n. 2, p. 79-93, ago./nov. 2020. Disponível em:

<https://periodicos.uff.br/contracampo/article/view/38570/pdf> Acesso em: 19 abr. 2021.

MARONA, Marjorie. Acesso à qual justiça? A construção da cidadania brasileira para além da concepção liberal. Belo Horizonte. 247 f. Tese de Doutorado em Ciência Política.

Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte, 2013.

GUSTIN, Miracy Barbosa de Sousa; DIAS, Maria Tereza Fonseca. (Re)pensando a pesquisa jurídica: teoria e prática. 4. ed. Belo Horizonte: Del Rey, 2013.

PETERSEN, Fernando; SOUZA, Thiago Galdino de; LOPES, Andréia de Araripe. Relações entre autogestão e cidadania: o papel da participação em uma cooperativa na

construção da identidade de cidadão. Psicol. Soc. [online]. 2014, vol.26, n.2, pp.483-495.

Disponível em: <https://www.scielo.br/pdf/psoc/v26n2/a24v26n2.pdf> Acesso em: 20 abr.

2021.

1 Afirmação do jornalista e ativista Nathan Schneider na palestra de abertura do evento Platform Cooperativism,

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1 Graduando em Direito, na modalidade Integral, pela Escola Superior Dom Helder Câmara.

2 Graduando em Direito, na modalidade Integral, pela Escola Superior Dom Helder Câmara.

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OS IMPACTOS DO PROCESSO DA UBERIZAÇÃO DO TRABALHO DURANTE A PANDEMIA DA COVID-19

THE IMPACTS OF THE UBERIZATION OF WORK PROCESS DURING THE COVID-19 PANDEMIC

Arthwr Ferreira 1 Thomaz Rezende Pinto 2 Resumo

Este projeto de pesquisa visa apresentar as consequências do processo da uberização do trabalho durante a pandemia da COVID-19, analisando o trabalho informal no Brasil, dado que é através dele que ocorre o processo de uberização. Outrossim, o trabalho demonstra os motivos pelos quais se faz necessário analisar as repercussões da uberização tanto para os prestadores de serviço informais, quanto para as empresas que necessitam do trabalho informal para funcionarem. A pesquisa proposta pertence à vertente metodológica jurídico- sociológica. Quanto à investigação, pertence à classificação de Witker (1985) e Gustin (2010), o tipo jurídico-projetivo. Nessa pesquisa, o raciocínio dialético será predominante.

Palavras-chave: Uberização, Trabalho, Trabalho informal, Pandemia, Empresas, Prestadores de serviços

Abstract/Resumen/Résumé

This research project aims to present the consequences of the process of uberization of work during the COVID-19 pandemic, analyzing informal work in Brazil, given that it is through it that the uberization process occurs. Furthermore, the work demonstrates the reasons why it is necessary to analyze the repercussions of uberization both for informal service providers and for companies that need informal work to function. The proposed research belongs to the juridical-sociological methodological aspect. As for the investigation, it belongs to the classification of Witker (1985) and Gustin (2010), the juridical-projective type. In this research, dialectical reasoning will be predominant.

Keywords/Palabras-claves/Mots-clés: Uberization, Work, Informal work, Pandemic, Companies, Service providers

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1. CONSIDERAÇÕES INICIAIS

A presente pesquisa apresenta seu nascedouro no tema acerca dos impactos da uberização do trabalho durante a pandemia da COVID-19. O processo de uberização do trabalho é caracterizado por ser uma nova maneira de gerenciamento e controle do trabalho, podendo ser compreendida até mesmo por um processo de informalização do trabalho. Dessa forma, é possível que haja diversos trabalhadores informais no mercado de trabalho, relação em que não há vínculo empregatício que une patrão e empregado, de consequência inexistem direitos trabalhistas para quem se sujeita ao informalismo. Ou seja, cria-se apenas um vínculo de serviço entre empresas, parte do processo que necessita da mão de obra, com os prestadores de serviço, de forma autônoma.

No que tange às diversas transformações no campo econômico-social, é possível identificar um movimento, em âmbito global, de se ter cada vez mais uma economia digital. A transformação digital pode ser contextualizada na seguinte citação:

Neste contexto, surge o conceito de “transformação digital”, que pode ser caracterizado como o processo de integrar tecnologia digital a todos os aspectos da empresa (...) este processo representa uma mudança da arquitetura tradicional das empresas, exigindo mudanças fundamentais de tecnologia, cultura, operações e geração de valor da companhia, o que é um processo muito complexo e sempre singular (MUNDIM; SIESTRUP, 2019).

Nesse sentido, pode-se dizer que o processo de transformação digital das empresas está cada vez mais presente em nossa realidade, visto que inúmeras empresas já não possuem sedes físicas e trabalham com seu público por meio virtual, podendo citar empresas como a Nubank, Uber, Ifood, Airbnb, entre outras. Ademais, verifica-se no Brasil uma grande discussão acerca das consequências do processo de uberização, isso acontece, pois, atualmente não há uma decisão, definida pelos órgãos públicos, se deverá ou não regularizar essas empresas na Consolidação das Leis do Trabalho (CLT).

Diante disso, verifica-se a necessidade de abrir as discussões sobre o tema, visto que o debate envolve tanto os direitos sociais e trabalhistas daqueles que prestam serviço para as empresas, quanto a necessidade de não inviabilizar a atuação dessas empresas no país. Além disso, faz-se necessário que o tema seja debatido com certa urgência, uma vez que a inércia do poder público ou a tomada de decisão acarretará consequências inestimáveis.

A pesquisa se propõe à vertente metodológica jurídico-sociológica. No tocante ao tipo de investigação, foi escolhido, na classificação de Witker (1985) e Gustin (2010), o tipo

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Sendo assim, conforme informado anteriormente, a pesquisa busca o esclarecimento do processo de uberização do trabalho no que tange aos seus impactos e consequências durante a pandemia da COVID-19.

2. AS CONSEQUÊNCIAS DA UBERIZAÇÃO PARA OS PRESTADORES DE SERVIÇO DURANTE A PANDEMIA DA COVID-19

Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, durante a pandemia da COVID-19, o Brasil alcançou o número de 13,9 milhões de desempregados (IBGE, 2020). Esse cenário motiva a população a recorrer ao trabalho informal, que já representava no ano de 2020 um alto número de 38,8 milhões de brasileiros. Desse modo, de acordo com o economista Sérgio Itamar, professor da Isae/FGV:

Existem duas vertentes da informalidade, uma delas é aquela que impulsiona o empreendedorismo a partir de oportunidades e ideias de novos modelos de negócio.

A segunda, surge apenas da necessidade por conta da piora do cenário econômico. E é justamente esse tipo de informalidade que vemos crescer hoje no país. Perdemos vagas de trabalho, estamos em recessão e as pessoas têm que se adaptar ao novo mercado (ITAMAR, 2016).

Diante do que foi exposto pelo economista, evidencia-se uma tendência cada vez maior da busca pelo trabalho informal no país, fazendo com que o debate das consequências da uberização se torne cada vez mais urgente para que se possa prever os impactos do processo na atual conjuntura.

Após compreender os motivos pelos quais o trabalho informal se tornou tão requisitado no período pandêmico, faz-se necessário analisar quais seriam as consequências para os prestadores de serviço. Em primeira análise, o processo da uberização traz consigo inúmeros malefícios, pois atualmente, aqueles que se sujeitam a trabalhar dessa maneira se desvinculam de toda e qualquer garantia advinda da CLT. Ou seja, o processo da uberização traz consigo inúmeros pontos negativos, podendo citar eles: a falta de renda fixa, a inexistência de: férias, 13° salário, vale refeição ou transporte; fundo de garantia, direito à aposentadoria e por fim o que tende a ser irreversível: a precarização do trabalho.

De acordo com o pensamento dos autores Pedro Custódio Terragno e Andrele Nascimento:

Um dos efeitos da uberização é a precarização das condições de trabalho dos motoristas, uma vez que o serviço prestado por estes indivíduos possui uma roupagem

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tecnológica que dificulta a identificação da superexploração de uma função laboral sem garantias mínimas. Não se compartilham bens, mas sim serviços pessoalizados.

Logo, as teses da economia de compartilhamento, que servem de justificativas para uma enorme gama de serviços de aplicativos, impossibilitam o reconhecimento de vínculo de emprego por meio de um processo de ilusão teórica liberal que mascara o fim dos direitos trabalhistas e vende a falsa ideia de autonomia e liberdade ao cidadão (TERRAGNO; NASCIMENTO, 2020).

Dessa maneira, é notório que a flexibilização das leis trabalhistas traz diversos medos à tona, como o da sociedade voltar ao século passado em que as pessoas trabalhavam nas fábricas, executando apenas uma função, por tempo indeterminado e sem nenhuma garantia trabalhista.

Atualmente, a uberização traz consigo esse peso do passado e os receios de uma escravização moderna, mascarada pela falsa ideia de autonomia do trabalhador.

Todavia, a atual conjuntura socioeconômica faz com que esses medos apresentados no passado sejam substituídos pelo medo de não ter o mínimo para sobreviver durante a pandemia.

Segundo os cálculos apresentados pelo economista Naercio Menezes, do Insper, sem o auxílio emergencial do ano de 2020, os miseráveis teriam chegado a quase 20% dos brasileiros (MENEZES, 2021 apud CANZIAN, 2021). Ou seja, a cada cinco indivíduos residentes no Brasil, um deles passa o mês com renda média familiar de R$145,00 mensais. Além disso, é válido notar o aumento do preço das cestas básicas no país que acaba corroendo o já baixo salário da maior parte da população, pesquisa desenvolvida pelo Núcleo de Pesquisas Econômicas demonstra um aumento de quase 20% de dezembro de 2019 para 2020 (PREÇO..., 2021).

Diante do exposto anteriormente, o processo de uberização tem sido a forma que uma grande parcela da população encontrou de se sustentar. A busca pelo trabalho informal, em empresas como a Uber, faz com que o trabalhador se distancie das inúmeras garantias trabalhistas, mas se aproxime das possibilidades de trabalhar nas horas vagas ou até como primeira fonte de renda em que o trabalhador informal poderá tirar proveito da flexibilidade de horário e conseguirá uma renda suficiente para sobreviver e não estar dentre o alto número de pessoas que estão desempregadas a espera de uma oportunidade no mercado formal.

3. AS CONSEQUÊNCIAS DO PROCESSO DE FORMALIZAÇÃO DAS EMPRESAS DURANTE A PANDEMIA DA COVID-19

De acordo com o Tribunal Superior do Trabalho (TST), não há vínculo empregatício entre a Uber e os seus motoristas parceiros, uma vez que o julgamento foi ao encontro das outras

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empregatício ou declararam a incompetência da Justiça do Trabalho para julgar a relação comercial com a Uber. Segundo o Ministro Ives Gandra, do TST, os motoristas que usufruem da plataforma da Uber para gerar renda gozam de autonomia e flexibilidade, requisitos incompatíveis com o vínculo empregatício, visto que o motorista possui autonomia de escolher dia, horário e a forma de trabalhar. Diante disso, evidencia-se pela jurisprudência dos tribunais uma decisão majoritária, em que não é compatível com a Uber a obrigação de criar vínculos empregatícios entre a empresa e os motoristas.

Ademais, é válido analisar que a Uber opera de diversas formas em diversos países para atuar de forma legalizada e respeitando a legislação imposta sobre ela, quando condiz a empresa manter os serviços no local. Um forte argumento apresentado por aqueles que defendem a implementação da CLT, é que em locais, como o Reino Unido, foi reconhecido um vínculo empregatício entre os motoristas e as empresas. Contudo, o Ministro Guilherme Caputo, também do TST, discorreu sobre as decisões judiciais de outros países. “Se a Suprema Corte do Reino Unido entendeu que motoristas não são trabalhadores autônomos, tampouco deveria ter repercussão porque é um sistema jurídico completamente diferente do nosso” (CAPUTO, 2021 apud VITORIO, 2021).

É importante notar que as decisões judiciais referentes à empresa Uber influenciam todo o cenário socioeconômico. Isso acontece, pois outras empresas como: Ifood, 99 pop, Rappi, entre muitas outras sofrerão as consequências da decisão referentes a Uber, visto que essas empresas também não criam um vínculo empregatício com os prestadores de serviço.

Como desenvolvido anteriormente no trabalho, a adoção da CLT no Brasil acarretará inúmeras consequências, tanto para os prestadores de serviço, quanto para as empresas que geram as oportunidades do trabalho informal. Segundo o professor Josilmar Cordenonssi, professor de Economia da Universidade Presbiteriana Mackenzie:

Se colocar encargos sociais, como INSS, o salário do trabalhador CLT aumenta o custo da empresa em 72%. Isso fará com que as corridas fiquem mais caras. A Uber, então, teria duas opções: repassar o valor para o trabalhador, que passaria a receber menos dinheiro, ou para o consumidor, que vai pagar mais caro", explica. "Se o preço não subir, a companhia vai receber menos. E repassar o preço ao consumidor vai ser difícil, e o táxi voltará a ser a opção mais atrativa (CORDENONSSI, 2021 apud VITORIO, 2021).

Como abordado na citação acima, a probabilidade da inserção de empresas como a Uber na CLT é baixa no Brasil. Isso acontece, pois, as empresas seriam obrigadas a realizar contratações imediatas de funcionários o que poderia acarretar a paralisação da atuação das empresas no país, visto que a contratação de todos os motoristas que trabalham na plataforma

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da Uber poderia ter um impacto de US$10 bi no valor de mercado. Ou seja, a adoção da CLT iria causar o fim de empresas geradoras de empregos informais, deixando assim ainda mais restrita as oportunidades e deixando mais pessoas desocupadas, logo o alto número de pessoas miseráveis, que já alcança cerca de 20% da população brasileira, aumentaria em quantidade substancial.

4. CONSIDERAÇÕES FINAIS

A partir do exposto, verifica-se que a problemática do processo de uberização abrange diversos setores da sociedade, como o social, político e econômico. Portanto, é necessário que o tema acerca do impacto do processo da uberização no trabalho, na atual circunstância da pandemia da COVID-19 seja discutido para que a sociedade não lide com uma decisão sem fundamentação do Poder Público.

No que tange ao processo de uberização, é essencial que a sociedade esteja a par das consequências, que foram desenvolvidas ao longo deste trabalho. Em relação aos efeitos negativos, pode-se analisar que a relativização das garantias trabalhistas gera a precarização do trabalho, em que o trabalhador informal não há uma renda fixa mensal, tem as suas férias inexistentes, além de não ter direito a: 13° salário, vale refeição ou transporte, e, ocorre principalmente a desvalorização do trabalhador.

Todavia, em face do exposto, a uberização faz com que o trabalhador se afaste de diversos direitos trabalhistas, porém faz com que ele se aproxime de uma fonte de renda primária que poderá ser organizada e flexibilizada por ele mesmo, com o objeto de sustento próprio e de sua família. Dessa maneira, a uberização assessora com que haja uma diminuição da taxa do número de desempregados no país, ainda mais na pandemia da COVID-19, que como já informado anteriormente, o número de desempregados no país alcançou o número de 13,9 milhões conforme o IBGE. Como outro benefício, o trabalho informal pode auxiliar os indivíduos a atuarem nas horas vagas como uma fonte extra de renda, o que também pode contribuir para o sustento e uma melhor qualidade de vida.

Sendo assim, como desenvolvido ao longo do trabalho em questão, a necessidade do debate do impacto acerca dos impactos do processo de uberização no trabalho, no período de pandemia da COVID-19, faz-se de extrema urgência. Visto que a inércia dos governantes ou qualquer ação do Poder Público acarretará grandes consequências para a sociedade brasileira.

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5. REFERÊNCIAS

CANZIAN, Fernando. Brasil começa 2021 com mais miseráveis que há uma década. Portal Folha de S. Paulo – 30 jan. 2021. Disponível em:

https://www1.folha.uol.com.br/mercado/2021/01/brasil-comeca-2021-com-mais-miseraveis- que-ha-uma-decada.shtml. Acesso em: 29 abr. 2021.

GUSTIN, Miracy Barbosa de Sousa; DIAS, Maria Tereza Fonseca. (Re)pensando a pesquisa jurídica: teoria e prática. 3ª. ed. Belo Horizonte: Del Rey, 2010.

IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Desemprego. Rio de Janeiro: IBGE, 2020. Disponível em: https://www.ibge.gov.br/explica/desemprego.php. Acesso em: 28 abr.

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ITAMAR, Sérgio. Trabalho informal volta a crescer no país. Entrevista apresentada a Talita Voitch. Portal Gazeta do Povo – 14 jan. 2016. Disponível em:

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MUNDIM, Camila; SIESTRUP, Julia. Gerenciamento Estratégico da Transformação Digital: Perspectivas conceituais e estudo de caso de uma grande empresa. Orientador:

Adriano Proença. 2019. 106 f. Curso de Engenharia de Produção, Escola Politécnica, Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2019. Disponível em:

http://www.monografias.poli.ufrj.br/monografias/monopoli10027458.pdf. Acesso em: 27 abr.

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PREÇO da cesta básica inicia 2021 em alta e registra sexto mês seguido de aumento, diz Nupes. Portal G1 – 9 fev. 2021. Disponível em: https://g1.globo.com/sp/vale-do-paraiba- regiao/noticia/2021/02/09/preco-da-cesta-basica-inicia-2021-em-alta-e-registra-sexto-mes- seguido-de-aumento-aponta-nupes.ghtml. Acesso em: 28 abr. 2021.

TERRAGNO, Pedro; NASCIMENTO, Andrele. Uberização e Precarização do Trabalho: a nova relação de emprego e as consequências do não reconhecimento de vínculo empregatício pelos tribunais. Res Severa Verum Gaudium, Porto Alegre, v. 5, n.1. p. 321-343, ago. 2020.

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https://www.cnnbrasil.com.br/business/2021/03/05/ter-motoristas-clt-no-brasil-tiraria-us-10- bi-em-valor-de-mercado-da-uber. Acesso em: 30 abr. 2021.

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Referências

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