Descentralização administrativa
de competências
Portugal é um país demasiado centralizado
Em Portugal, de acordo com os dados do Eurostat e da OCDE, o peso da despesa da Administração Local no total da Administração Pública em 2011 era em média 10 pontos percentuais inferior à média da União Europeia
A OCDE (2015) conclui que Portugal integra o grupo dos países mais centralizados na Educação
Desvantagens de um país excessivamente centralizado:
Degradação e perda de informação ao longo da cadeia de gestão (dada a limitada capacidade de processamento e decisão)
Inviabiliza otimizações a nível individual face às preferências locais e à maior e melhor informação existente
Processos de tomada de decisão mais longos, distantes e ineficientes
Aumenta o custo de gestão devido à necessidade de uma estrutura mais complexa (deseconomia de escala)
Regime de responsabilidade mais difusa
Problemas da centralização
Histórico insuficiente de descentralização
Nas ultimas décadas de Poder Local Democrático registou-se um número reduzido de processos de transferência de competências.
Transferências de competências enunciadas legislativamente e praticamente não concretizados
• Decreto-Lei n.º 159/99, de 11 de maio, que estabeleceu o quadro de transferência de atribuições e competências para as autarquias locais, ficou praticamente sem concretização
Domínios elencados: Equipamento rural, Energia, Transportes e comunicações, Educação, Património, Cultura e Ciência , Tempos livres e desporto, Saúde, Ação social, Habitação, Proteção civil, Ambiente e saneamento básico, Defesa do consumidor, Promoção do desenvolvimento, Ordenamento do território e urbanismo, Polícia municipal e Cooperação externa.
Com exepção da Na área da Educação em 2008 – celebração de “contratos de execução” com municípios para funções de gestão de recursos nos níveis do ensino básico. Em 2011 existia uma dívida de cerca de 72 Milhões de euros do Min. Educação aos municípios que foi entretanto regularizada pelo atual Governo. O rácio de pessoal não docente mostrou-se desadequado e o atual Governo corrigiu-o.
Esta lei prevê dois métodos de concretização da descentralização :
a. A Transferência de competências: aplica-se de modo universal a todos os municípios, independentemente da sua vontade concreta e de forma definitiva e permanente;
b. A Delegação de competências: concretiza-se por contrato interadministrativo, negociados e celebrados livremente e conforme a vontade de cada município, com duração pelo período do contrato.
Estabelece Princípios e Regras gerais:
Não discriminação e igualdade de acesso dos municípios
O não aumento da despesa pública global
O aumento da eficiência da gestão dos recursos pelos municípios ou entidades intermunicipais
Ganhos de eficácia do exercício das competências pelos órgãos municípios ou das entidades intermunicipais
Aproximação das decisões aos cidadãos, a promoção da coesão territorial, o reforço da solidariedade inter- regional, a melhoria da qualidade dos serviços prestados às populações e a racionalização dos recursos disponíveis
A Lei n.º75/2013, de 12 de setembro, aprovou o regime geral da descentralização administrativa do Estado para os municípios e para as entidades intermunicipais
Iniciativas de descentralização do Governo
O Governo tem dado passos concretos para uma administração pública mais descentralizada:
• Programação e gestão do Portugal 2020
• Gestão mais descentralizada, com o papel mais relevantes das EIM e reforço das dotações dos Programas Operacionais Regionais
• A Lei de Bases Gerais da Política Pública de Solos, de Ordenamento do Território e de Urbanismo torna os Planos Municipais os únicos instrumentos de ordenamento que vinculam os particulares
• Reforço da importância e primazia dos Planos Diretores Municipais
• O novo Regime Jurídico de Serviço Público de Transporte de Passageiros (em processo legislativo) concretiza a transferência das competências de autoridade de transportes para os municípios e entidades intermunicipais
• O programa “Aproximar – Estratégia da Reorganização dos Serviços Públicos de Atendimento da Administração Pública” que reforça a proximidade dos serviços públicos em parceria com as autarquias, incluindo:
uma Loja do Cidadão em cada município, a rede dos Espaços do Cidadão, as Carrinhas do Cidadão e a mobilidade a pedido do Portugal Porta-a-Porta• Programa de Descentralização de Funções Sociais: Educação, Saúde, Segurança Social e Cultura:
Diploma aprovado pelo Conselho de Ministros; negociações em curso com municipios e EIMs que manifestaram interessem
Iniciativas de descentralização do Governo
O Governo estabeleceu um ambicioso processo de descentralização de competências para os municípios e entidades intermunicipais ao nível da:
Educação (ensino básico e secundário):
• Gestão escolar e das políticas educativas, curricular e pedagógica, recursos humanos, orçamental e recursos financeiros, equipamentos e infraestruturas do ensino básico e secundário
Saúde (cuidados de saúde primários):
• Políticas de saúde, administração de unidade de saúde, gestão dos recursos humanos, dos recursos financeiros e equipamentos e infraestruturas dos centros de saúde
Segurança social
• Ação Social, Rede Local de Intervenção Social e Contratos Locais de Desenvolvimento Social em articulação com as Plataformas Supraconcelhias da Rede Social e os Conselhos Locais de Ação Social
Cultura
• Gestão da programação cultural nomeadamente em museus, espaços físicos, recursos humanos, orçamental e financeira, equipamentos e infraestruturas culturais
A Descentralização nas áreas sociais
Nestas 4 áreas sociais o Governo optou pela metodologia da delegação de competências, através da celebração de contratos interadministrativos em projetos- piloto
Motivos desta opção:
Projeto ambicioso e inovador, o qual deve ser implementado de forma faseada e gradual
Garantia de uma monitorização efetiva, de proximidade e com transparência de resultados
Respeito da liberdade e autonomia
Adere por contrato quem livremente queira negociar e decida receber as competências contratualizadas
Não há imposição de competências às autarquias
Descentralização por delegação
Este Programa de Descentralização nas áreas sociais está sujeito às seguintes regras:
Garantida a igualdade e não discriminação no acesso pelos municípios e EIMs
A seleção para os projetos piloto definida por critérios de representatividade e
diversidade territorial e socio-demográfica
Exigência de melhoria da qualidade do serviço público
Avaliar e monitorizar com rigor os projetos-piloto
São transferidos para os municípios ou EIM os recursos humanos, financeiros e materiais necessários e suficientes na prestação do serviço público prestado pela entidade pública local
Regras e Garantias Legais
Processo participado e de amplo diálogo
Ao longo dos últimos doze meses o processo de descentralização foi muito participado e objeto de muitas reuniões em que o tema foi especificamente debatido:
Conselho de Concertação Territorial
• julho – discussão do modelo de descentralização
• dezembro – discussão do anteprojeto de decreto-lei da descentralização administrativa de competências
Associação Nacional de Municípios Portugueses: realizadas 6 reuniões (
2014: janeiro, abril, junho, novembro; 2015: janeiro e Fevereiro) Municípios:
Realizadas dezenas de reuniões com autarquias interessadas em participar no processo de descentralização Outros parceiros
• Associações sindicais
• Associações de Diretores de Escolas, Presidentes de Conselhos Gerais e Diretores de Agrupamentos de Escolas
• Associações do setor da economia social e solidário
Participação de membros do Governo em diversos debates e fóruns públicos sobre a
descentralização nas respetivas áreas
Modelo de contrato proposto
Nas várias áreas foi preparado um contrato base comum, no cumprimento do princípio de igualdade.
Estrutura dos contratos:
1. Diagnóstico
2. Definição de objetivos e métricas de resultados
3. Distribuição de competências
4. Modelo de financiamento
5. Incentivos à eficiência
6. Sistema de monitorização e transparência
7. Regras de avaliação
Não há municipalização das escolas, nem criação de escolas municipais:
As escolas não são integradas nas Câmaras Municipais Reforço da autonomia dos Agrupamentos de Escolas
• A descentralização reforça a autonomia dos Agrupamentos de Escolas, a sua integração na comunidade e a capacidade de intervenção e influência dos agentes educativos – pais e encarregados de educação, alunos, pessoal docente e não docente
• As competências delegadas no Município podem ser partilhadas e delegadas nos Agrupamentos de Escolas
Não há alterações na gestão do corpo docente
• Mantém-se a garantia de vínculo ao Ministério da Educação e Ciência e a gestão nos órgãos dos Agrupamentos de Escolas
• A afetação do pessoal docente entre escolas contínua na exclusiva responsabilidade dos Agrupamentos de Escolas
• Não existe igualmente qualquer incentivo ao recrutamento de docentes pelo Município; a contratação para formação específica de base local só pode ocorrer quanto não exista pessoal docente dos quadros dos agrupamentos ou de zona pedagógica disponíveis para afetar a esta formação, optimizando o corpo
docente existente e reduzindo o número de professores sem componente letiva atribuída
Não existe qualquer incentivo à dispensa ou requalificação de professores, nem são atribuídos incentivos à eficiência sem a melhoria do sucesso e desempenho escolar
Não há perda de competências dos Agrupamentos de Escolas e respetivos órgãos no domínio da gestão curricular e pedagógica
Competências descentralizáveis
Educação
Gestão escolar e das políticas educativas
• Definição do plano estratégico educativo municipal, da rede escolar e da oferta educativa e formativa
Num município com forte indústria têxtil, estabelecimento de prioridades na oferta educativa e formativa, designadamente na componente profissional, associada a este setor com o envolvimento dos respetivos agentes económicos
• Gestão do calendário escolar tendo em conta os dias globais de atividade
Possibilidade de ajustar o calendário em função de eventos locais e adaptação do horário, sem prejuízo das cargas letivas, em articulação com horários de trabalho ou transportes de alunos
• Gestão dos processos de matrícula e colocação dos alunos
Processo de matrículas informatizadas, aumento de transparência, rapidez na decisão, antecipação do prazo de colocação, melhorar a monitorização da rede escolar e das suas necessidades
• Gestão dos processos de ação social escolar
Melhoria da capacidade de coordenação da intervenção social, onde os municípios já têm um papel preponderante, permitindo ganhos na qualidade e rapidez da decisão
Gestão curricular e pedagógica
• Definição de normas e critérios de planificação no âmbito do ensino da educação e das ofertas de ensino profissionalizante e, em particular, da formação em contexto de trabalho
Estabelecimento de parcerias com o setor empresarial local na disponibilização de estágios para formação em contexto de trabalho
• Definição das componentes curriculares de base local
Município com forte indústria vidreira poder ter disciplinas educativas e formativas associadas a este domínio
• Definição de dispositivos de promoção do sucesso escolar e de estratégias de apoio para alunos
Programas de recuperação a disciplinas nucleares com a possibilidade de contratação de recursos humanos adicionais para o efeito, aquisição de equipamento para escolas (material de laboratório, equipamentos desportivos e outros)
Competências descentralizáveis
Educação
Gestão dos recursos humanos
• Recrutamento, gestão, alocação, formação e avaliação do desempenho do pessoal não docente
• Recrutamento de pessoal para projetos específicos de base local
A contratação para formação específica de base local só pode ocorrer quando não exista pessoal docente dos quadros dos agrupamentos ou de zona pedagógica disponíveis para afetar a esta formação, optimizando o corpo docente existente
Gestão orçamental e de recursos financeiros
Possibilidade de ganhos de escala de gestão financeira dos agrupamentos, aquisições partilhadas (central de compras), permitindo a que a escola se possa concentrar na gestão pedagógica
Gestão de equipamentos e infraestruturas do ensino básico e secundário
Competências descentralizáveis
Educação
Políticas de saúde
• Definição da estratégia municipal de saúde, devidamente enquadrada no Plano Nacional de Saúde
Maior e melhor adequação de Programas nacionais à realidade local - Programa Nacional Prevenção e Controlo do Tabagismo, Programa Nacional para a Promoção da Alimentação Saudável, entre outros
• Gestão dos espaços
Ganhos de interoperabilidade com outros equipamentos existentes
• Definição dos períodos de funcionamento e cobertura assistencial, incluindo o alargamento dos horários de funcionamento das unidades funcionais dos Agrupamentos de Centros de Saúde (ACES)
Possibilidade dos municípios, em articulação com os ACES adaptarem ou alargarem o horário de funcionamento dos centros de saúde, em função das necessidades locais
• Intervenções de apoio domiciliário
• Intervenções de apoio social a dependentes
• Iniciativas de prevenção da doença e promoção da saúde
• Celebração de acordos com instituições particulares de solidariedade social para intervenções
Competências descentralizáveis
Saúde
Administração da unidade de saúde
• Gestão dos transportes de utentes
• Gestão dos serviços ao domicílio
• Administração de Unidades de Cuidados na Comunidade
• Prestar cuidados de saúde e apoio psicológico e social de âmbito domiciliários e comunitário, especialmente às pessoas, famílias e grupos mais vulneráveis, em situação de maior risco ou dependência física e funcional ou doenças que
requeira acompanhamento próximo
Gestão dos recursos humanos
• Recrutamento, gestão, alocação, formação e avaliação do desempenho de Técnicos superiores, Técnicos superiores de saúde, Técnicos de diagnóstico e terapêutica, Assistentes técnicos e assistentes
operacionais
• Não há qualquer alteração na gestão de médicos e enfermeiros
Gestão dos recursos financeiros e elaboração de protocolos de apoio financeiro (mecenato)
Gestão de equipamentos e infraestruturas dos centros de saúde
• Construção, manutenção de edifícios e equipamentos, arranjos exteriores, jardinagem e serviços de limpeza, segurança e vigilância das infraestruturas dos ACES
Competências descentralizáveis
Saúde
Em articulação com as Plataformas Supraconcelhias da Rede Social (PSRS)
• Propor a instalação de unidades da Rede Local de Intervenção Social, tendo em conta as necessidades das populações e as realidades locais
• O município desempenhar o papel de coordenação e articulação do compromisso de responsabilidade social dos diferentes agentes locais, designadamente na prevenção e reparação das situações de carência e desigualdade sociais, bem como de dependência, de disfunção ou exclusão
• Propor os territórios a serem abrangidos por Contratos Locais de Desenvolvimento Social
• Articulação com o setor empresarial local e a comunidade educativa para definição de ações promotoras do emprego, formação e qualificação
Em articulação com os Conselhos Locais de Ação Social (CLAS) e PSRS
• Implementação de novos mecanismos de atuação e diferentes estratégias de ação, em resposta às necessidades sociais
• Cooperar e articular com outras entidades, serviços ou setores da comunidade, designadamente das áreas da segurança social, do emprego e da formação profissional, da educação, da habitação, bem como com outros sectores que se revelem estratégicos para a prossecução dos objetivos de inserção
• Estabelecimento de parceria com uma IPSS para apoio a famílias carenciadas e que necessitam de apoio para inserção na comunidade, articulando serviços municipais, com serviços de ação social e outros agentes locais
Em articulação com os CLAS
• Contratualizar participação na execução do serviço contratualizado no âmbito do Serviço de Atendimento e de Acompanhamento Social referente à implementação da Rede Local de Inserção Social (RLIS)
• Serviços que asseguram o atendimento e o acompanhamento de pessoas e famílias em situação de vulnerabilidade e exclusão social, bem como de emergência social
• Contratualizar participação na execução do Programa de Contratos Locais de Desenvolvimento Social
Competências descentralizáveis
Segurança Social
Gestão da programação cultural, nomeadamente em museus
• Descentralização de coleções que se revestem de interesse regional ou local, em municípios onde se localizam entidades que poderão com mais eficácia valorizar os seus objetivos identitários e de memória, reforçando a sua ligação às comunidades envolventes
• Aprofundar a relação dos museus junto, nomeadamente, da sociedade civil, do tecido escolar, associativo e empresarial local e regional, contribuindo para um acréscimo na capacidade de atração de mecenato e de outras iniciativas no âmbito da responsabilidade social das empresas, bem como fomentar o turismo cultural
Gestão dos espaços físicos
• Museus, bibliotecas, teatros, salas de espetáculo, galerias, edifícios e sítios classificados
• O município poder adequar o horário de funcionamento dos equipamentos culturais e as condições de acesso a estes
Gestão dos recursos humanos
• Recrutamento, a alocação, a formação e a avaliação do desempenho de técnicos superiores, assistentes técnicos e operacionais
Gestão financeira e orçamental
Gestão de equipamentos e infraestruturas culturais
• Construção, manutenção, conservação, segurança, serviços de limpeza e vigilância