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Casa de Oswaldo Cruz – FIOCRUZ Programa de Pós-Graduação em História das Ciências e da Saúde

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Academic year: 2019

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Casa de Oswaldo Cruz – FIOCRUZ

Programa de Pós-Graduação em História das Ciências e da Saúde

MARIANA MELLO BURLAMAQUI

A Divulgação Científica na Associação Brasileira de Educação: o

caso da Seção de Higiene

(1924 – 1932)

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MARIANA MELLO BURLAMAQUI

A Divulgação Científica na Associação Brasileira de Educação: o

caso da Seção de Higiene

(1924 – 1932)

Dissertação de mestrado apresentada ao Curso de Pós-Graduação em História das Ciências e da Saúde da Casa de Oswaldo Cruz-Fiocruz, como requisito parcial para obtenção do Grau de Mestre. Área de Concentração: História das Ciências.

Orientador: Profa. Dra. Dominichi Miranda de Sá

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Ficha catalográfica

B961 Burlamaqui, Mariana Mello

.. .... A divulgação científica na Associação Brasileira de Educação: o caso da Seção de Higiene (1924-1932) / Mariana Mello Burlamaqui – Rio de Janeiro: [s.n.], 2013.

105 f .

Dissertação (Mestrado em História das Ciências e da Saúde) -Fundação Oswaldo Cruz. Casa de Oswaldo Cruz, 2013.

Bibliografia: 77-87 f.

1. Comunicação e divulgação científica. 2. Educação. 3. Higiene. 4. História. 6. Brasil.

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MARIANA MELLO BURLAMAQUI

A Divulgação Científica na Associação Brasileira de Educação: o

caso da Seção de Higiene

(1924 – 1932)

Dissertação de mestrado apresentada ao Curso de Pós-Graduação em História das Ciências e da Saúde da Casa de Oswaldo Cruz-FIOCRUZ, como requisito parcial para obtenção do Grau de Mestre. Área de Concentração: História das Ciências.

Aprovado em de 2013.

BANCA EXAMINADORA

_______________________________________________________________________________ Profa. Dra. Dominichi Miranda de Sá (PPGHCS - Casa de Oswaldo Cruz- Fiocruz) - Orientadora _______________________________________________________________________________ Maurício Roberto Pinto da Luz (Programa de Pós-Graduação em Ensino de Biociências e Saúde -

IOC - Fiocruz)

_____________________________________________________________________________ Profa. Dra. Luisa Medeiros Massarani (PPGHCS - Casa de Oswaldo Cruz - Fiocruz)

Suplentes:

_____________________________________________________________________________ Carlos Henrique Assunção Paiva (DEPES Casa de Oswaldo Cruz - Fiocruz)

_____________________________________________________________________________ Prof. Dr. Luiz Antonio Teixeira (PPGHCS - Casa de Oswaldo Cruz - Fiocruz)

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Dedicatória

“Tenho em mim todos os sonhos do mundo.”

Fernando Pessoa

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AGRADECIMENTOS

Para não correr o risco da injustiça, agradeço de antemão a todos que de alguma forma passaram pela minha vida e contribuíram para a construção de quem sou hoje e que doaram um pouco de si para a conclusão deste trabalho.

Agradeço, primeiramente, a minha orientadora Dominichi Miranda de Sá, por aceitar esse projeto, além de todo seu apoio e profissionalismo.

Aos professores Moema Vergara e Luiz Antonio Teixeira da Silva pelo apoio, comentários e pela participação na banca de qualificação.

À professora Luisa Massarani pela participação na banca de defesa e pelo exemplo que me aproximou da divulgação das ciências.

Aos professores da COC, em especial aos que lecionaram no período, Lorelai Kury, Gilberto Hochman e Flávio Edler.

Agradeço a toda equipe da Casa da Ciência da UFRJ, da qual fiz parte desde o início da faculdade e que foi parte fundamental em meu crescimento profissional e pessoal, lugar onde descobri meu caminho. Agradecimentos em especial à Adriana Vicente, Maria do Socorro e Luciane pela atenção e carinho de sempre. Aos amigos José Carlos, Marcos, Orlando, Casadei, Joyce, Carminha e Tapiti.

Aos funcionários da COC, em especial Maria Cláudia e Paulo Chagas.

Às responsáves pelo acervo da Associação Brasileira de Educação, Maria Amélia e Raquel Gomes.

Aos colegas de turma da pós-graduação pelas discussões e momentos compartilhados de angústias e incertezas, mas sempre com muita diversão. Em especial aos amigos Maria Gabriela e Diego Ramon pelo apoio e suporte em todo o período.

(7)

Aos amigos da vida Mônica Ramos, Juliana Guedes, Ana Beatriz, Mônica Quintelas, Maria Cristiane, Danielle, Dayane, Jacqueline e Daniel.

À minha mestre Mercês Navarro Vasconcellos agradeço as discussões e o apoio. Ao meu irmão de coração Felipe Quintelas agradeço por todo o apoio e sinceridade. Aos meus irmãos Felipe e Gabriel agradeço por fazerem parte da minha história.

Ao meu namorado Leonardo Vazquez agradeço toda compreensão, apoio e paciência nas horas mais difíceis. Obrigada por fazer minha vida melhor.

Aos meus pais, Valeria e Sergio, que são responsáveis por tudo que sou hoje e por tudo que serei. Agradeço pelo exemplo e pela força, por sempre acreditarem em mim e não me deixarem

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Introdução 11

Capítulo 1- A Missão 19

1.1 - Legião de Precursores 19

1.2 - Seus fins e utilidades 22

1.3 - Estrutura e organização interna 23

1.4 - A.B.E. nos Estados 26

1.5 - A.B.E. no Exterior 27

1.6 - Um centro de aglomeração e divulgação 30

Capítulo 2 - “Vitalizar pela educação e pela higiene” 38

2.1 - Educação higiênica em foco 41 2. 2 - A seção de Educação Física e Higiene da A.B.E. 43

2.3 - Campanhas 48

Capítulo 3 - “Pílulas Científicas” 59

3.1 - Professor como divulgador 59

3.2 - Semanas de Educação 61

3.3 - Folhetos Educativos 64

3.4 - O cinema e o rádio 65

3.5 - Boletim da A.B.E. 67

3.6 - Conferências Nacionais de Educação 69

Considerações finais 75

Fontes e Bibliografia 77

Índice Onomástico 88

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Lista de Abreviaturas

A.B.E. – Associação Brasileira de Educação MN – Museu Nacional

UNESCO – United Nations Educational, Scientific and Cultural Organization BIE – Bureau Internacional d´Éducation

CNE – Conferência Nacional de Educação

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RESUMO

A dissertação analisa as ações em divulgação científica realizadas pela Associação Brasileira de Educação (A.B.E.) no período de 1924 a 1932, com destaque para os conteúdos veiculados por sua seção de higiene. Os seus principais personagens, os temas na área de saúde e a relação da A.B.E. com outras instituições nacionais e internacionais também foram abordados nessa pesquisa.

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ABSTRACT

This work analyzes the actions accomplished in science popularization by the Associação Brasileira de Educação (A.B.E.) in the period 1924-1932, emphasizing the contents related to its hygiene section. Health area themes and A.B.E. relation with other national and international institutions were also addressed in this study.

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INTRODUÇÃO

O objetivo desse trabalho é analisar a Associação Brasileira de Educação como uma instituição de divulgação das ciências e, em especial, dos preceitos de higiene no período de 1924 a 1932. O principal conjunto documental utilizado constituiu-se do Boletim da A.B.E.

(1925-1929) publicados pela própria instituição. Essas publicações, juntamente com as atas, cartas, a Revista Schola (1930-1931) e os registros de quatro das Conferências Nacionais de Educação (1927, 1928, 1929 e 1931) constituem o legado arquivístico da Associação. Este acervo possui maior reconhecimento por parte de profissionais ligados à área de educação, que a definem como uma instituição de promoção do ensino. Porém, o olhar de um historiador das ciências chama atenção para atividades diferentes e, dessa forma, busquei destacar as ações da A.B.E. no campo da divulgação científica, com destaque para a área de saúde e higiene.

Busco expor meu entendimento de divulgação científica, sobretudo para entendê-la no período em foco neste trabalho, baseada na definição de Wanda Weltman em sua tese “A educação do Jeca: ciência, divulgação científica e agropecuária na Revista Chácaras e Quintais (1909-1948)”. Segundo a autora, a atividade de popularização da ciência, realizada então pelos próprios cientistas, destinar-se-ia não apenas ao público leigo, mas concomitante às elites políticas e intelectuais, com a preocupação de legitimar e conseguir apoio para a realização de seus projetos1.

Weltman analisa as atividades de promoção da ciência realizadas por cientistas numa publicação agrícola da primeira metade do século XX. A rigor, a historiografia tem chamado atenção para modalidades e suportes diversos de divulgação científica ao menos desde a segunda metade do século XIX. Correntes nesses trabalhos são as interpretações que articulam a divulgação científica tanto ao processo de construção da nacionalidade brasileira quanto à profissionalização da própria carreira científica no Brasil, com ênfase maior nesse último ponto.

De acordo com Moema Vergara, atividades em vulgarização científica2, termo mais

utilizado no oitocentos brasileiro, se intensificam a partir dos anos 70 do século XIX e eram

1 WELTMAN, Wanda Latmann. A Educação do Jeca: Ciência, Divulgação Científica e Agropecuária na Revista Chácaras e Quintais (1909-1948). Tese (Doutorado em História das Ciências e da Saúde) – Casa de Oswaldo Cruz/Fiocruz, Rio de Janeiro, 2008, p30.

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vistas como formas de estabelecer uma relação entre os cientistas e o público leigo. A autora nos mostra que "a vulgarização científica e a especialização das disciplinas são processos correlatos." E ressalta ainda as mudanças na atividade científica da ocasião: antes “a ciência tinha uma essência filosófica e de prática individual, realizada nos gabinetes de cientistas, apoiados por vezes por instituições como academias, museus e observatórios.”3 Esses

cientistas independentes passam a ser minoria em prol de uma ciência feita por cientistas que trabalhavam para o governo. Estes foram ganhando espaço na sociedade e contribuindo para a institucionalização e profissionalização de sua atividade. Estes homens se viam como os únicos agentes “na sociedade brasileira capazes de promover as transformações necessárias para o avanço de uma ciência nacional”4 e

não apenas valorizavam a ciência pela ciência, mas advogavam a impossibilidade de qualquer solução “não-científica” para os problemas humanos, pois só a ciência revelaria o “ser” das coisas. A ciência não seria simplesmente, no campo das soluções humanas, o limite imposto a valores e ideais extra científicos, mas a atividade geradora dos próprios ideais e valores.5

Com essa especialização do cientista, fez-se necessária a tradução desse conhecimento científico produzido, ou seja, o vulgarizador, que na ocasião era o próprio cientista, teria a função de traduzir a linguagem científica para a comum. Essa necessidade de tradução se fez devido às mudanças na prática científica, esta se tornou cada vez mais complexa e especializada, ou seja, a distância do entendimento entre cientistas e o público leigo estava crescendo constantemente. Com esse saber cada vez mais distante da população, cabia ao vulgarizador a tarefa complexa de lutar contra a superficialidade e a falta de rigor científico que esta atividade poderia alcançar. O cientista deveria ser um mediador entre o público e os conhecimentos produzidos nas instituições, buscando “levar as preocupações sociais para a comunidade científica e atualizar o público das novidades da ciência”6. Neste papel de

vulgarizador, o cientista "foi um dos agentes responsáveis pela formação de um espaço para a ciência e a construção de uma forte confiança junto ao público."7 Era preciso legitimar a

prática desses cientistas junto ao público e aos governos.

3 Idem, p.206. 4 Ibidem, p.206.

5 Idem.Ensaio sobre o termo vulgarização científica no Brasil do século XIX. Revista Brasileira de História da Ciência; v.1; n.2; 2008, p.40.

6 Ibidem, p.138.

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Segundo Dominichi Miranda de Sá, cientistas especializados e profissionalizados foram fenômeno nascente na segunda metade do século XIX. Esse padrão de exercício profissional passou a substituir um mundo no qual predominavam os chamados 'homens de letras’, ‘eruditos’ ou 'retóricos', de formação enciclopédica. Não havia mais espaço na comunidade científica para amadores frente ao crescente aumento da circulação de conhecimentos, teorias e descobertas. A especialização, exatamente, seria então uma forma de dedicação a estudos específicos e de aceitar limites na atualização de conhecimentos, dados os aumentos constantes em intercâmbios e fluxos de pessoas e ideias por meio de viagens de estudos, congressos internacionais, permutas de publicações e da própria emergência de disciplinas científicas cada vez mais particularizadas.8 Ainda segundo Sá, como interface

deste processo de especialização científica, a segunda metade do século XIX foi a época de ouro da vulgarização científica, um período de "ampla proliferação do romance científico, da ficção científica, de conferências, cursos, museus e exposições"9.

Nessa mesma época, em paralelo, houve certo otimismo, sobretudo na Europa, com relação à ciência, pois presumia-se que esta seria responsável pelo progresso mundial e estaria ligada à indústria. Luísa Massarani e Ildeu de Castro Moreira nos mostram que, apesar desse otimismo, no Brasil esse interesse estaria restrito a uma pequena elite, pois 80% da população era analfabeta e ainda existia escravidão.10

Os autores sinalizam que, nas décadas seguintes, as atividades de divulgação científica, a categoria nativa que passa a ser utilizada no Brasil da ocasião, dinamizaram-se e especialmente na década de 1920, com diversificação do público, ações, instituições e personagens envolvidos nesses empreendimentos. Na dissertação de mestrado de Luisa Massarani, “A divulgação científica no Rio de Janeiro: Algumas reflexões sobre a década de 20”11, acompanhamos o exame detido desse aumento e da variedade de meios de

comunicação que passaram a ser utilizados, como jornais, revistas, livros, o rádio, além de conferências acessíveis a diferentes estratos da população. Em seu texto, Massarani enfatiza o engajamento de cientistas e intelectuais nessas ações específicas, afirmando que esse “grupo de elite constituiu o embrião da comunidade científica brasileira que, em um movimento

8 SÁ, Dominichi Miranda de. A Ciência como profissão: médicos, bacharéis e cientistas no Brasil (1895-1935). Coleção História e Saúde. Rio de Janeiro: Editora Fiocruz, 2006.

9 Idem; p.91.

10 MASSARANI, L., e Moreira, I. C. Aspectos históricos da divulgação científica no Brasil. In L. Massarani, I.

C. Moreira & F. Brito (Eds.) Ciência e público: Caminhos da divulgação científica no Brasil (pp. 43-64). Rio de Janeiro, RJ: Centro Cultural de Ciência e Tecnologia da Universidade Federal do Rio de Janeiro; 2002.

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organizado, tentava criar condições para o desenvolvimento de pesquisa científica no país.”12

Esses intelectuais buscavam criar condições para o desenvolvimento da pesquisa básica no Brasil.

Massarani concentra seus estudos nas atividades de quatro cientistas, dentre eles, dois participaram da direção da A.B.E., Álvaro Ozório de Almeida e Amoroso Costa. Além de Edgard Roquette-Pinto (Museu Nacional) e Henrique Morize (Sociedade Brasileira de Ciências e Rádio Sociedade), que eram de outras instituições, mas tinham um relacionamento ativo com a Associação, promovendo um intercâmbio de informações e atividades.

Apesar de a A.B.E. não ser seu foco, Luisa Massarani também analisa as palestras promovidas pela Associação, que seriam relacionadas à divulgação cientifica na década de 1920. Os eventos foram importantes e eram publicados em jornais cariocas, recebiam um grande público e ainda possibilitavam a apresentação de cientistas de renome, inclusive do exterior, como Marie Curie, Paul Rivet e Paul Langevin. Os assuntos destas conferências não se limitavam aos especialistas, mas visavam também o público leigo e eram de temas variados.

Como vimos por essas obras, a divulgação científica vem sendo vista sobretudo como componente indissociável da própria história da profissionalização da carreira científica no Brasil. Quanto à sua articulação com a temática nacional, os estudos indicam fortemente essa perspectiva13, mas nenhum deles dedicou-se até agora à A.B.E..

A mais ampla pesquisa sobre a Associação Brasileira de Educação, e que de fato a tomou como objeto, é a de autoria de Marta Maria Chagas de Carvalho. Minha dissertação de mestrado dela se diferencia pelo meu interesse imediato em estudar as ações em divulgação das ciências na A.B.E., com ênfase nos temas de saúde, sem procurar me ater à história da educação. Em sua tese, depois transformada em livro, “Molde Nacional e Fôrma Cívica: higiene, moral e trabalho no projeto da Associação Brasileira de Educação (1924-1931)”14,

Carvalho buscou produzir um olhar alternativo aos estudos sobre o pensamento educacional das décadas de 1920 e 1930 através das propostas da Associação Brasileira de Educação. A autora busca desmistificar a memorialística sobre a A.B.E. e a história da educação no período

12 Idem, p54.

13 Esse viés é trabalhado nos capítulos que compõem, por exemplo, a coletânea a seguir: LIMA, Nísia Trindade;

SÁ, Dominichi Miranda (orgs.). Antropologia Brasiliana – Ciência e educação na obra de Edgar Roquette-Pinto. Belo Horizonte / Rio de Janeiro: Editora UFMG / Editora Fiocruz, 2008. Além do artigo: DUARTE, Regina Horta. Em todos os lares, o conforto moral da ciência e da arte:a Revista Nacional de Educação e a divulgação científica no Brasil (1932-34). Hist. cienc. saude-Manguinhos, Rio de Janeiro, v. 11, n. 1, Abril 2004.

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indicado. Carvalho afirma que a A.B.E. não nasceu da crença no poder do progresso da educação, mas de uma tentativa fracassada da formação de um partido político (Ação Nacional). A autora sustenta que a mudança de um projeto político para um projeto pedagógico foi necessária para evitar embates com o governo de Artur Bernardes, que prendeu Everardo Backeuser, Mário de Brito e Ferdinando Labouriau por causa da oposição manifestada ao presidente Bernardes.15

Carvalho possui a intenção de mostrar que esse interesse na educação era apenas uma forma encontrada para que esses intelectuais impusessem suas regras e unificassem os costumes, homogeneizando a população inculta e incapaz, pois era necessário modernizar o Brasil, igualando-o aos padrões internacionais da sociedade industrial e estabelecer a ordem social.

A meu ver, a visão de Marta Carvalho limita a compreensão das ações e atividades promovidas na década de 1920 pela A.B.E., por considerar que todo o movimento era “ideológico”, ou seja, não tinha autêntico interesse na educação como forma de progresso, mas era apenas uma maneira de dirigir a sociedade. Como vimos nos textos discutidos até aqui, a divulgação em ciências, na passagem do século XIX ao XX, era vista como atividade intelectual indissociável do papel público que os cientistas assumiam na ocasião. Além de estarem se profissionalizando e se especializando, os cientistas se projetavam na cena pública como os agentes da modernização e da civilização do país, e a ciência, no seu dizer, constituía um dos instrumentos privilegiados para a constituição deste “mundo novo”, ancorado na firme confiança no progresso técnico que esta encarnava. Não à toa, o seu engajamento na formulação de propostas que visavam “popularizar” a ciência. Esta era uma pré-condição, a seu ver, tanto do patamar especializado e hermético que projetavam para a sua atividade profissional quanto para “catapultar” o Brasil para o nível do século. Defendo, então, que suas ações em divulgação das ciências concentradas na A.B.E. tanto espelham quanto explicam o processo de profissionalização da carreira científica em curso naqueles anos. Tratava-se de delimitar as atribuições do ‘cientista’, e divulgar ciências de modo a apressar a chegada do futuro “civilizado”. Esse é o contexto no qual a Associação Brasileira de Educação foi criada e a chave de leitura básica que orienta essa dissertação de mestrado.

Defendo que a A.B.E. foi criada por intelectuais de diferentes formações e buscou ser um pólo aglutinador entre instituições, escolas e pessoas interessadas em discutir a "educação

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nacional", em perspectiva aproximada à divulgação científica, ou seja de ampla difusão de temas de ciência em diferentes estratos sociais. Evidência dessa minha afirmativa é o fato de que, nos documentos analisados e produzidos por intermédio da instituição, os intelectuais da A.B.E. usavam as expressões “divulgação científica” e a “educação nacional” como componentes de um mesmo campo semântico. No seu dizer, a atividade de promoção da ciência, como veículo de modernização e civilização do país, deveria atingir diferentes setores da população e contagiar integralmente agentes e modalidades formais e não-formais de ensino. Por isso, a sua militância, como veremos, nas escolas, mas também nas fábricas; no uso do rádio e do cinema, mas também das revistas; na instrução dos escolares, mas também na incorporação dos próprios professores primários ao projeto de expandir o acesso a preceitos e conhecimentos de ciência. Como se percebe, as expressões e projetos dos cientistas enunciados nas fontes privilegiadas têm valor heurístico nesta pesquisa.

Assim, como podemos ver, a A.B.E. ainda não mereceu estudos detidos que compreendam as suas atividades e produtos em divulgação das ciências, e sobretudo no esforço de articulá-la aos movimentos intelectuais e nacionalistas de promoção da educação e da saúde naqueles anos16. Do meu ponto de vista, as atividades da Associação precisam ser

examinadas de modo, exatamente, a explicar o recrudescimento da divulgação das ciências nos anos 1920, tal como aponta a historiografia dedicada ao tema. Seu alcance e efetividade precisam ser melhor investigados e tampouco se sabe com detalhes sobre as contribuições de cientistas da ocasião17 na implementação e funcionamento desta instituição. É, pois, para

sanar essas lacunas da historiografia que proponho esta pesquisa.

Quanto ao recorte temporal, concentra-se de 1924, ano de criação da A.B.E., a 1932, quando a instituição se reconfigura, assumindo perfil distinto daquele que marcou as suas atividades até então.

A própria Marta Maria Chagas Carvalho, em outro trabalho,18 nos mostra que, a partir

de 1932, a instituição se reorganiza devido à crescente hegemonia do grupo dos chamados "profissionais da educação". A partir de 1932, a A.B.E. passa a ser organizada em âmbito

16 Como veremos mais à frente, a rigor, há trabalhos, entre apresentações em congressos e teses de doutorado,

que analisam a promoção à saúde veiculada pela A.B.E., mas sua ênfase recai na Educação Física e no esporte. Minha opção é a de discutir saúde e higiene em perspectiva mais ampla, com a inclusão da educação física, mas sem me circunscrever a ela, tal como preconizada na fala de meus personagens, e em articulação ao projeto nacionalista de ampliar o acesso a informações de cunho científico.

17 Busquei fornecer ao leitor informações biográficas sobre os principais personagens citados, mas não foi

possível reuní-las para todos os intelectuais ligados à A.B.E.

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nacional19 quando os chamados 'Pioneiros da Educação Nova’20 passam a dominar a

instituição. "O Manifesto dos Pioneiros da Educação Nova lançado em 1932, no contexto da preparação da Assembleia Nacional Constituinte de 1933, com o sugestivo título 'A reconstrução educacional no Brasil: ao povo e ao Governo', pode ser considerado o marco inicial da preocupação com um projeto nacional de educação, com visão sistêmica, de totalidade."21 Tratava-se, pois, a partir de então, de visar exclusivamente ações e instituições

de educação formal e de reformar todo o aparato educacional brasileiro, inclusive com a criação de universidades. O foco no sistema de ensino nacional tornou menos frequente a ação policêntrica e polivalente que caracterizou a A.B.E. nos seus primeiros anos e nas atividades que, exatamente, qualificamos como “divulgação científica”.

Dentre as diversas ações promovidas e temáticas privilegiadas pela A.B.E., a higiene foi uma das mais destacadas. ‘Educação em higiene e para a saúde’ era um dos motes principais do nacionalismo militante que marcou a produção intelectual brasileira nos anos 1920. Intelectuais definiam a sua atuação como missão política e social de conhecimento da realidade nacional e defesa dos interesses coletivos. A saúde era uma dessas principais bandeiras nacionais e por isso será examinada mais especialmente neste trabalho.

Esta dissertação está dividida em três capítulos. No primeiro, a Associação Brasileira de Educação foi apresentada, buscando mostrar quem eram seus membros, quais seus fins e sua estrutura e organização interna. No segundo capítulo procuro analisar a gênese do movimento sanitarista brasileiro (a partir da repercussão das grandes expedições científicas no interior do país) e a apropriação da questão da saúde no Brasil no início do século XX, levando em conta o debate promovido pelos intelectuais em torno da construção de um projeto para a nação. Nesse capítulo tive como foco as ações em prol da saúde, da educação em saúde e da divulgação de preceitos de profilaxia da seção de Higiene e Educação Física da

19 A reconfiguração nacional da ABE acompanhou os movimentos da política nacional. Em 1930, o Governo

Provisório criou o Ministério da Educação e Saúde Pública sob responsabilidade de Francisco Campos, que implementou o deslocamento de uma política educacional de âmbito local e estadual para a esfera federal. In: ARAÚJO, Marta Maria de. Tempo de balanço: organização do campo educacional e a produção histórico-educacional brasileira e da região nordeste. In: Revista Brasileira de História da Educação. Campinas: nº5, jan./jul., 2003, p.9-41.

20 O Manifesto dos Pioneiros da Educação Nova propunha a criação de um sistema nacional de ensino que se

configurou nos anos 1930. A discussão sobre a educação que se efetiva por meio da publicação em 1932 do Manifesto já vinha sendo gestada antes deste período, sobretudo no que se refere à amplificação das políticas para a democratização do acesso à educação e reorganização dos currículos para incorporação de disciplinas científicas. In: IVASHITA, Simone Burioli e VIEIRA, Renata de Almeida. Os Antecedentes do Manifesto dos Pioneiros da Educação Nova (1932). Seminário Nacional de Estudos e Pesquisas “História, Sociedade e Educação no Brasil”. Campinas, SP; 2009.

21 GOMES, Lêda e Queiroz, Arlindo. O Planejamento Educacional no Brasil. Fórum Nacional de Educação;

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CAPÍTULO 1 – A MISSÃO

“Só pode ter fé nos destinos de um país, quem sabe o seu passado e compreende o seu presente.”22

1.1 – Legião de Precursores

Os intelectuais do início do século XX estavam inseridos em um ideal de missão social para "salvar" o Brasil do atraso em que, presumiam, o país se encontrava. Viam-se como os condutores da nação e acreditavam que deveriam buscar conhecer, revelar e solucionar os problemas da realidade brasileira, conferindo a esse conhecimento um papel social de modernização do país. E para ser moderno, a aproximação com o mundo ocidental, era crucial.23 De acordo com a socióloga Lúcia Lippi, "dos anos 20 ao Estado Novo estabelece-se

uma dinâmica de aproximações sucessivas que congrega diferentes correntes e autores no ideal comum de modernizar o país."24 Havia diversos grupos com diferentes visões sobre a

construção do Brasil e essas propostas nacionalistas se colocavam em uma posição de salvadoras da nação.

Com o advento da Primeira Guerra Mundial e suas repercussões no cenário político e social brasileiro, movimentos nacionalistas multiplicaram-se, pois a pauta da defesa dos interesses nacionais ganhou a ordem do dia. Visava-se à “salvação” do país pela ação política, para dar combate a mazelas da população brasileira, que passaram a ser qualificadas, então, como “problemas nacionais” – doenças, analfabetismo e pobreza. Diferentes movimentos nacionalistas diziam atuar em prol de um novo projeto nacional. A década de 1920, sobretudo, reuniu médicos, engenheiros, advogados e educadores que criaram diferentes movimentos com o objetivo de eliminar "os verdadeiros males do país". Esses nacionalistas acreditavam que a cura para esses males seriam, basicamente, a saúde e a educação.25

No que se refere especialmente à saúde, a maior expressão nacionalista do período foi o movimento pelo saneamento dos sertões. A campanha denunciava a ausência do Estado

22 Um dos princípios da A.B.E. In: O Malho; edição 1238; junho de 1926; p.5.

23 OLIVEIRA, Lúcia Lippi. A Questão Nacional da Primeira República. São Paulo: Brasiliense; Brasília: CNPq,

208p.; 1990; p.190.

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brasileiro e de médicos nas regiões interioranas do país. A produção historiográfica da saúde afirma que a década de 1920 foi o período “auge da campanha pelo saneamento no Brasil” e a esse tema voltaremos no capítulo seguinte.26 Quanto à educação, Lippi nos mostra que "A

questão da salvação nacional através da educação no pós-Primeira Guerra foi seminal para o movimento de reformas educacionais implantadas nos anos 20, que nos anos 30 ficaria conhecido como Escola Nova."27

Lippi também destaca alguns dos movimentos nacionalistas que se organizaram nesse período pós-guerra, como a Liga de Defesa Nacional, fundada em 7 de setembro de 1916, e que tinha como prioridades a educação, o recrutamento militar obrigatório e a defesa nacional, e a Liga Nacionalista de São Paulo, fundada em 1917. Ambos os movimentos acreditavam que, através da alfabetização, a população brasileira poderia votar e mudar a situação do país. Dois outros movimentos que tinham inúmeros princípios coincidentes eram a Propaganda Nativista e a Ação Social Nacionalista. A Propaganda foi movimento fundado em 21 de abril de 1919 por Álvaro Bomilcar e cujo patrono era Floriano Peixoto. Baseava-se na luta pela emancipação econômica e pela defesa das ideias republicanas e democráticas; pretendia ainda despertar a solidariedade entre as nações americanas, defender o mercado de trabalho para os brasileiros e regulamentar a imigração, que deveria ser dirigida apenas para os serviços da lavoura. A Ação Social Nacionalista foi fundada em 1920 e surgiu sob influência da Propaganda Nativista e se dizia uma instituição de defesa nacional, sem cunho político ou religioso, enquanto a Propaganda Nativista se colocava como uma sociedade de caráter político.28

A A.B.E., de sua parte, foi capaz de congregar vários desses intelectuais "missionários", dispersos em diferentes movimentos, sob a mesma bandeira de popularização das ciências no país, vinculando-a ao projeto de transformação e resolução dos problemas nacionais, com destaque para a educação.

A ideia que levou à criação da Associação Brasileira de Educação nasceu após uma reunião promovida pelo seu mentor principal, o engenheiro e professor da Escola Nacional de

26 Para aprofundamento sobre o tema ver os textos: CASTRO SANTOS, Luiz Antonio, “O pensamento sanitarista na Primeira República: uma ideologia de construção da nacionalidade”, Dados: Revista de Ciências Sociais, Rio de Janeiro, vol. 28, no. 2, pp. 193-210; 1985. LIMA, Nísia Trindade. Um sertão chamado Brasil: intelectuais e representação geográfica da identidade nacional. Rio de Janeiro, Revan, Iuperj/Ucam, 1999. HOCHMAN, Gilberto. A era do saneamento: as bases da política de saúde pública no Brasil. São Paulo: Editora HUCITEC, ANPOCS, 1998.

27 OLIVEIRA, Lúcia Lippi. A Questão Nacional da Primeira República. São Paulo: Brasiliense; Brasília: CNPq,

208p.; 1990; p147.

28 Para maiores detalhes sobre os movimentos nacionalistas que surgiram antes e durante a Primeira Guerra

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Belas Artes, Heitor Lyra da Silva29 (1887-1926) no Hotel Glória em março de 1924. Esta

reuniu intelectuais como Lysimaco da Costa30; Everardo Backeuser (1879-1951)31; Edgar

Sussekind de Mendonça32 e Francisco Venâncio Filho (1894-1946)33 para discutir a

viabilidade de uma Federação de Associações de Ensino.

Fundada em 16 de outubro de 1924, a A.B.E. contou com a assinatura de alguns intelectuais, com destaque para os engenheiros já citados, além de outros nomes como Tobias Moscoso34, Amoroso Costa35 (1885-1928), Mário Paulo de Brito36 (1884-1974), Ferdinando

Laboriau37, Barbosa de Oliveira38 e Dulcídio Pereira39. As mulheres também fizeram parte

29 Bacharel em Ciências e Letras (1896) e formou-se na Escola Politécnica em Engenharia Civil (1911).

Lecionou no Colégio Jacobina e no curso de Arquitetura da Escola de Belas-Artes. Colaborou e atuou na construção da Escola Regional de Meriti. In: SANTOS, Júlio Cesar Paixão. Cuidando do corpo e do espírito num sertão próximo: a experiência e o exemplo da Escola Regional de Meriti (1921-1932). Dissertação (Mestrado em História das Ciências e da Saúde) - Casa de Oswaldo Cruz - Fiocruz, Fundação Oswaldo Cruz; 2008.

30 Obteve título de engenheiro geógrafo, engenheiro civil e engenheiro arquiteto. Fez parte do Conselho Superior

da Universidade do Paraná, local que lecionou cadeiras de química e matemática e, foi eleito Catedrático de Mineralogia e Geologia do Curso de Engenharia Civil. In: ABREU, Geysa Spitz Alcoforado de. A trajetória de Lysimaco Ferreira da Costa: educador, reformador e político paranaense no cenário da educação brasileira (final do século XIX e primeiras décadas do século XX). Tese (Doutorado em Educação: História, Política, Sociedade) - Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, 2007.

31 Engenheiro geógrafo, engenheiro civil, bacharel em Ciências Físicas e Matemáticas e doutor em Ciências

Físicas e Naturais. Foi professor de Mineralogia e Geologia da Escola Politécnica do RJ; professor do Colégio Pedro II; professor da Escola Normal de Niterói; do Curso Superior de Geografia da Sociedade de Geografia do Rio de Janeiro; do Instituto de Pesquisas Educacionais da Prefeitura do Distrito Federal e do Curso de Pedagogia da Faculdade Católica de Filosofia. In: ABREU, Geysa Spitz Alcoforado de. A trajetória de Lysimaco Ferreira da Costa: educador, reformador e político paranaense no cenário da educação brasileira (final do século XIX e primeiras décadas do século XX). Tese (Doutorado em Educação: História, Política, Sociedade) - Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, 2007.

32 Professor substituto da Escola Superior de Agricultura e professor de Desenho da Escola Normal. Um dos

fundadores da Escola Regional de Meriti junto à sua esposa Armanda Álvaro Alberto e Venâncio Filho. In: ABREU, Geysa Spitz Alcoforado de. A trajetória de Lysimaco Ferreira da Costa: educador, reformador e político paranaense no cenário da educação brasileira (final do século XIX e primeiras décadas do século XX). Tese (Doutorado em Educação: História, Política, Sociedade) - Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, 2007.

33 Bacharel em Ciências e Letras e Engenheiro Civil, foi professor da Escola Normal do Rio de Janeiro por 30

anos. In: ABREU, Geysa Spitz Alcoforado de. A trajetória de Lysimaco Ferreira da Costa: educador, reformador e político paranaense no cenário da educação brasileira (final do século XIX e primeiras décadas do século XX). Tese (Doutorado em Educação: História, Política, Sociedade) - Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, 2007.

34 Engenheiro, professor da Escola Politécnica do Rio de Janeiro. Fonte: Revista Ilustração Brasileira; edição

00060; 1925; p23.

35 Engenheiro, bacharel em ciências físicas e matemática, livre docente de astronomia e geodésia, um dos

pioneiros em pesquisas matemáticas no Brasil.

Disponível em: <http://www.dec.ufcg.edu.br/biografias/ManuACos.htm> Acesso em: 19 de abril de 2013.

36 Mário Paulo de Brito (1884-1974) formou-se engenheiro, tornando-se professor de Química na Escola

Politécnica da Universidade do Rio de Janeiro. Em 1924, participou da fundação da Associação Brasileira de Educação, integrando a sua primeira diretoria e outras sucessivas. Ocupou vários cargos públicos. In: Munakata, Kazumi. Dois manuais de história para professores: histórias de sua produção Educação e Pesquisa. São Paulo, v.30, n.3, p. 513-529, set./dez. 2004; p521.

37 Engenheiro, membro da Academia Brasileira de Ciências e professor da Escola Politécnica. Disponível em:

<http://www.schwartzman.org.br/simon/rio/paim_rio.htm> Acesso em: 19 de abril de 2013.

38 Engenheiro, catedrático da Escola Politécnica e diretor da Escola Normal Wenceslau Bráz. Disponível em:

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dessa empreitada, com nomes como a da professora Isabel Lacombe40, a educadora Armanda

Álvaro Alberto41 (1892-1974), Alice Carvalho de Mendonça42 (1881-1951), Branca Fialho43

(1896-1965), Bertha Lutz44 (1894-1976) e Jerônima Mesquita45 (1880-1972).46

1.2 – Seus fins e utilidades

A Associação Brasileira de Educação com sede no Rio de Janeiro é uma instituição de caráter privado que funciona ainda hoje de forma independente no centro da cidade do Rio de Janeiro. Sobrevive graças à contribuição de seus sócios e é procurada, principalmente, por estudantes e pesquisadores interessados em seu acervo de documentos referentes à instituição e à história da educação.

No período em foco neste trabalho, tinha como finalidade a difusão e o aperfeiçoamento de iniciativas referentes ao campo da educação; acreditava-se na necessidade de uma reforma na educação nacional, na luta contra o analfabetismo e em prol de uma população capaz de transformar o Brasil e levá-lo a alcançar o patamar das nações ditas civilizadas. Como foi afirmado no Boletim da A.B.E. quatro anos após a sua criação:

O fim principal da A.B.E. é desenvolver educação pelo Brasil, de norte a sul, de leste a oeste, tratando desde o ensino primário até o técnico superior, em

39 Engenheiro civil, professor e catedrático de física da Escola Politécnica. Disponível em:

<http://www.iluminacaoarquitetural.com.br> Acesso em: 19 de abril de 2013.

40 Fundadora do Colégio Jacobina (primeira década do século XX) e presidente da A.B.E., (1928-1929). In: Boletim da A.B.E.; ano V; nº13; maio de 1929; p7.

41 Educadora, fez parte da Associação Cristã Feminina (ACF), vice-presidente da Liga Brasileira contra o

Analfabetismo e foi uma das fundadoras da Escola Regional de Meriti. In: SANTOS, Júlio Cesar Paixão.

Cuidando do corpo e do espírito num sertão próximo: a experiência e o exemplo da Escola Regional de Meriti (1921-1932). Dissertação (Mestrado em História das Ciências e da Saúde) - Casa de Oswaldo Cruz - Fiocruz, Fundação Oswaldo Cruz; 2008.

42 Formou-se na Escola Normal de São Paulo. Foi presidente da Federação das Bandeirantes do Brasil, no

período de 1930 à 1945. (http://www.abe1924.org.br)

43 Educadora, membro fundadora da A.B.E. e do Instituto Brasil-Estados Unidos. Foi agraciada com a Medalha

Rui Barbosa. Participou dos movimentos em prol da ampliação dos direitos femininos. In: SCHUMAHER , Schuma e BRASIL, Érico Vital. Dicionário Mulheres do Brasil, de 1500 até a atualidade, biográfico e ilustrado. Rio de Janeiro, Jorge Zahar Editor, 2000.

44 Formou-se em botânica, ciências naturais, zoologia, embriologia, química e biologia pela Faculdade de

Ciências da Universidade de Paris, Sorbonne. Foi ativa participante do movimento feminista no Brasil, sendo a segunda mulher a ingressar nos quadros do serviço público brasileiro, tornando-se mais tarde naturalista da seção de botânica do Museu Nacional. Disponível em: <www.fgv.br> Acesso em: 19 de abril de 2013.

45Atuante na luta pelos direitos das mulheres. Foi responsável pela fundação do Movimento Bandeirante no

Brasil. (http://www.semira.go.gov.br/post/ver/148206/jeronima-mesquita)

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todos os seus ramos, guiando os educadores e estudiosos por meio de proveitosos cursos e excursões.47

Os principais objetivos práticos da Associação eram: organizar permanentemente a estatística da instrução no Brasil; publicar revista, boletins, e relatórios periódicos sobre questões de ensino; manter museu escolar permanentemente, biblioteca pedagógica, sala de conferências e cursos; promover e premiar a elaboração e a publicação de bons livros didáticos; promover congressos de educação, regionais ou nacionais; promover a representação do Brasil em congressos de educação no estrangeiro; organizar um arquivo de legislação nacional, e estrangeira, sobre ensino e questões correlatas; facilitar a seus sócios a aquisição de livros e de material escolar; cooperar em todas as obras de educação física, moral e cívica; facilitar o desenvolvimento do cinema educativo, de bibliotecas infantis, e de outros institutos auxiliares de ensino; auxiliar a intercorrespondência escolar, nacional e estrangeira; estudar e auxiliar a solução do problema da infância abandonada; estimular a educação popular, quer quanto à cultura intelectual, moral e física, quer quanto à instrução profissional.48 Os objetivos da Associação também podem ser percebidos na fala de Levi

Carneiro, presidente de A.B.E. de julho a outubro de 1925, “coordenar, orientar esforços; amparar, fortalecer iniciativas nascentes; estimular novos empreendimentos.”49

1.3 Estrutura e organização interna

Para conhecermos um pouco mais da Associação Brasileira de Educação, procuro relatar a seguir a estrutura interna da Associação, seus membros e funções principais.

Quanto à primeira diretoria da A.B.E., esta foi composta por Levi Carneiro (primeiro presidente da instituição e advogado); Candido de Mello Leitão50 (médico, professor da

Escola Normal e catedrático da Escola Superior de Agricultura e Medicina Veterinária); C.

47Boletim da A.B.E.; ano IV; nº12; agosto de 1928; p28. 48Boletim da A.B.E.; ano I; nº 1; setembro de 1925; p2. 49Boletim da A.B.E.; ano I; nº1; setembro de 1925; p1.

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Delgado de Carvalho (professor do Colégio Pedro II e da Escola Normal) e Heitor Lyra da Silva (engenheiro e professor da Escola Nacional de Belas Artes). Além do secretário Mário Brito (engenheiro e catedrático da Escola Politécnica) e da tesoureira Branca Fialho (educadora e irmã de Álvaro e Miguel Osório de Almeida). Ficou acordado que cada diretor ficaria na presidência por um período de 3 meses do ano social para que pudesse se dedicar ao máximo à Associação.

Nos anos iniciais da fundação da A.B.E., como outras instituições fizeram, seus membros buscaram uma organização interna e, para que isto pudesse ocorrer, criaram um Estatuto próprio que buscava unificar as suas próprias ações. O estatuto delimitava alguns pontos, como a divisão entre os sócios cooperadores e os sócios mantenedores, que assumiam “solidariamente a obrigação de manter a Associação e assegurar-lhe a realização dos objetivos”51. Os associados mantenedores deveriam dar pagar uma mensalidade mínima de

três mil réis por mês52 e ainda tinham que se inscrever em alguma das seções da Associação.

Os associados cooperadores não tinham poder de voto, mas não tinham restrições à participação nas reuniões, podendo até mesmo integrar as diversas seções ou comissões. Os sócios mantenedores eram escolhidos pelo Conselho Diretor entre os sócios cooperadores, caso considerassem que este poderia prestar à A.B.E. o concurso de sua atividade pessoal. Os sócios consultores, beneméritos e honorários eram pessoas que a diretoria da A.B.E. considerava “de notável competência nos assuntos que interessam à educação, ou que tenham feito jus a um destaque especial em virtude de serviços prestados à A.B.E.”53. Todos os sócios

tinham o direito de receber o Boletim da Associação, que foi feito para que os associados pudessem acompanhar as atividades dos departamentos e seções da Associação Brasileira de Educação. Até a data de 1926 foram publicados quatro números do Boletim, cuja tiragem foi de 1500 exemplares, sendo gratuita a sua distribuição. De acordo com Levi Carneiro o Boletim seria um:

simples noticiário de nossos trabalhos, para divulgar e comunicar, com regularidade e exatidão, a todos os nossos associados, criando um meio de intercomunicação sobre os pensamentos que nos aproximam – e procurando, para a obra que, com singeleza e dedicação,

51Boletim da A.B.E.; ano I; nº 1; setembro de 1925; p2.

52 Para se ter uma noção desse valor, podemos comparar com revistas como O Malho, que custava 200 réis, e a

Revista da Semana, que custava 300 réis. Já a revista Kosmos, caracterizada como uma revista mais sofisticada, chegava a custar 2$000 um número avulso por semana. O semanário O Tico-Tico custava por volta de 1$000 por mês. Disponível em: <http://hemerotecadigital.bn.br/> Acesso em: 01 de maio de 2013. A mensalidade da associação, pois, não era barata.

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empreendemos, a cooperação de quantos também sentirem o fervor de nossos ideais.54

O Boletim não possuía qualquer tipo de propaganda publicitária em suas páginas; era inteiramente voltado à divulgação das ações e atividades da A.B.E. Isso nos leva a crer que era editada exclusivamente graças às contribuições dos sócios.

Além da publicação do Boletim, de 1925 a 1929, a Associação também editou, de janeiro de 1930 a fevereiro de 1931, a revista Schola e, a partir de 1939, passou a publicar o periódico Educação. A revista Schola já possuía propagandas comerciais em seu interior. Além de suas publicações, para estabelecer a comunicação com o público e fazer propaganda das ações e atividades da instituição, a A.B.E. tinha como objetivo organizar uma Conferência Nacional em uma cidade brasileira diferente a cada ano, para que se tivesse conhecimento de todas as atividades dos diversos departamentos e seções da A.B.E., além de buscar reunir pessoas e instituições relacionadas à educação e preocupadas em discutir questões consideradas importantes para o futuro da nação.

O número de sócios da A.B.E. variava, e isso de acordo com o relatório da tesouraria em janeiro de 1926. Nessa ocasião a instituição possuía 53 sócios mantenedores e 101 sócios cooperadores.55 Logo depois, em maio do mesmo ano, aumentou o número de sócios: os

mantenedores passaram a 62 e os sócios cooperadores a 160. Em 1928, o quadro contabilizava o total de 600 sócios que contribuíam com uma média de 5000 réis por mês.

Outra forma de organização interna foi a criação de seções temáticas que tinham como objetivo trabalhar de forma específica diversas áreas de destaque na época. As primeiras seções organizadas foram: ‘Ensino Primário e Normal’, ‘Ensino Secundário’, ‘Ensino Técnico e Superior’, ‘Ensino Profissional e Artístico’, ‘Educação Física e Higiene’, ‘Educação Moral e Cívica’ e ‘Cooperação da Família’, e cada seção teria um presidente eleito e se reuniriam para discutir os assuntos em pauta e questões relativas à área.

A Associação Brasileira de Educação possuía uma biblioteca com obras que recebia de instituições e doações de pessoas da área de educação e das ciências, incluindo revistas especializadas e de interesse científico. Em 1926 a A.B.E. recebia sete revistas estrangeiras, sendo três da Europa, uma dos Estados Unidos da América e três sul-americanas, além de mais quatro revistas nacionais. Dentre as revistas que a A.B.E. possuía assinatura, posso destacar Bulletin International de la protection de l´enfance, Bulletin de la ligue de l´enseignement e Ligue pour l´éducation familiale da Bélgica; Educational Review e The

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Botanican, dos Estados Unidos; L´educateur e L´Ere nouvelle, da Suíça; Revista de Pedagogia, da Espanha; Education, da Inglaterra; Education e Nuestros Hijos do Uruguai;

Levana, da Itália; El Monitor de l´educacion común, da Argentina; La Escuela Americana e

Vida Nueva, do Chile dentre outras revistas que não foram mencionadas nas fontes. Dentre as brasileiras, a Associação Brasileira de Educação recebia A Escola do Rio de Janeiro, Boletim do Rotary Club, O Trabalho e Revista Brasileira de Ensino. Em 1929, o presidente da A.B.E. Mello Leitão pediu aos membros do Conselho Diretor que assinassem uma revista de educação para que a biblioteca da Associação pudesse crescer qualitativamente.56

Pelo que pude perceber, a biblioteca era acessível a todos que tivessem interesse, mas o público almejado eram os professores. De sua parte, a seção de Cooperação da Família organizou uma biblioteca57 no ano de 1928 voltada para crianças e adolescentes. Nesse ano,

foram incluídas mais de 510 obras.58 A biblioteca contava com uma lista de livros específicos

para a idade dos jovens. A lista foi, inclusive, divulgada na revista O Tico-Tico59, que era

voltada para a família e era bastante popular na época, e na própria revista Schola. Essa Biblioteca para Crianças e Adolescentes teve como base principal o inquérito sobre Leituras Infantis, realizado pela mesma seção no ano de 1926. Essa lista poderia ser útil tanto para os educadores, quanto para os pais, pois não precisariam "temer" sobre o conteúdo que estariam transmitindo para seus alunos e filhos.

O acervo da biblioteca da Associação foi prejudicado pela falta de material e local adequado para ser guardado, pois a A.B.E. passou por diversos lugares pequenos e sem condições adequadas de manter esse acervo e, por esse motivo, seus livros da biblioteca foram doados a instituições diversas e muitos de seus documentos se deterioraram com o tempo ou se perderam nessas mudanças.

1.4 - A.B.E. nos Estados

Os intelectuais da época pretendiam levar educação e conhecimento para todo o território nacional. Para que isso pudesse se efetivar, a A.B.E. procurou criar departamentos nos estados brasileiros. Além do então Distrito Federal, temos o do Estado do Rio de Janeiro, localizado em Niterói, e o do Rio Grande do Norte, ambos criados no ano de 1925. O do Rio Grande do

56 Ata da seção 120 do Conselho Diretor da A.B.E. do dia 29 de julho de 1929. 57Boletim da A.B.E.; ano IV; nº12; Agosto de 1928; p11.

58Revista Schola; ano 1; nº 2; vol.1; fevereiro de 1930.

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Sul e o do Espírito Santo foram criados 1926, sendo que a inauguração do Rio Grande do Sul ainda contou com uma conferência de Miguel Couto60 sobre os objetivos da Associação e

destinos do país. Além dos departamentos, a A.B.E. possuía representantes em outros estados como o Amazonas, que contava com Xavier da Silveira, e Minas Gerais, que tinha à frente o médico Roberto de Almeida Cunha e o Ceará com o também médico Francisco de Paula Rodrigues.

Para uma melhor comunicação e divulgação das atividades desses departamentos e delegações da A.B.E. pelo Brasil foi criada uma coluna no Boletim da A.B.E. intitulada “Associação Brasileira de Educação nos Estados”. Devido às distâncias entre os estados brasileiros, esse canal facilitava a comunicação entre os abeanos e proporcionava aos sócios uma visão das atividades e das lideranças da A.B.E. como um todo, não se limitando à sua sede inicial e mais conhecida na cidade do Rio de Janeiro.

1.5 – A.B.E. no Exterior

A A.B.E. foi uma das maiores divulgadoras do pensamento pedagógico europeu e norte-americano no Brasil nas primeiras décadas do século XX.61 Os Estados Unidos eram

constantemente mencionados como o exemplo a ser seguido na questão da educação. A Associação Brasileira de Educação estava inscrita desde 1926 na Associação de Pais e Professores norte-americana. Foi até mesmo discutida em reunião a possibilidade de viagens de intercâmbio para os EUA com o objetivo de se conhecer melhor as práticas que advogavam.62 De acordo com Meily Linhales:

"No âmbito da ABE, constituiu-se entre 1929 e 1937, uma afinidade pedagógica com missionários norte-americanos provenientes da Associação Cristã de Moços (ACM) como parte derivada e/ou articulada de uma rede de trocas que a ABE estabeleceu com entidades educacionais norte-americanas. Eram frequentes os intercâmbios com o envio de professores e professoras associados da ABE para cursos de formação pedagógica nos Estados Unidos

60 Presidente da Academia Nacional de Medicina (1914), fez parte da Academia Brasileira de Letras, chefiou a

clínica da Santa Casa de Misericórdia, no Rio, foi membro do Conselho Superior de Ensino depois de criado o Ministério da Educação e Saúde. Pertenceu à Sociedade de Medicina e Cirurgia da Rio de Janeiro e à Société de Pathologie Exotique de Paris, sócio-correspondente da Société Médicale des Hôpitaux (Paris) e de diversas outras sociedades médicas estrangeiras, representante do Brasil no VII e no VIII congressos pan-americanos de Medicina, realizados respectivamente em Havana e em Buenos Aires; dentre inúmeras outras atividades. Disponível em: <http://cpdoc.fgv.br/> Acesso em: 20 de abril de 2013.

61 CARVALHO; Marta Maria Chagas. Molde nacional e Forma Cívica: higiene, moral e trabalho no Projeto da Associação Brasileira de Educação (1924-1931). [tese]. São Paulo: Universidade de São Paulo; p.31; 1986.

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da América. Entre as agremiações participantes dessa rede foi possível identificar: o Institute of International Education, a National Recreation Association, a American Child Health Association, a National Organization for Public Health Nursing e a The Woman’s Press, entre outras."63

Dentre os intercâmbios, começaram no ano de 1930 através de uma delegação que a A.B.E. enviou para passar cinco semanas nos Estados Unidos. A viagem foi financiada pela instituição privada Carnegie Endowment64 e a programação foi organizada pelo Institute of

International Education65. Lawrence Duggan, que já havia visitado a A.B.E. no ano de 1929,

recepcionou e orientou a delegação brasileira durante o período nos EUA. O intuito dessa viagem era o intercâmbio intelectual entre o Brasil e os Estados Unidos. Faziam parte da delegação: Noemy Silveira, assistente do Gabinete de Psicologia da Escola Normal de São Paulo, que foi estudar 'orientação educacional'; Julieta Arruda, adjunta da Escola Rodrigues Alves, Consuelo Pinheiro, vice-diretora da Escola Manuel Cícero, Maria Reis Campos, inspetora escolar da cidade do Rio de Janeiro, Laura Lacombe, filha de Isabel Lacombe e vice-diretora do Colégio Jacobina, estas foram estudar o 'método de projetos'; o professor Décio Lyra da Silva, cujo objeto de estudo era o 'ensino profissional'; os professores O. B. de Couto e Silva, assistente do laboratório de fisiologia da Escola de Medicina e o médico Othon Leonardos, docente de mineralogia da Escola Politécnica do Rio de Janeiro, que foram estudar a organização universitária. Esses oito educadores foram escolhidos e enviados pela A.B.E. Ainda tinham dois outros membros da delegação que foram escolhidos pelo Governo de São Paulo: a professora Eunice Caldas e a educadora de higiene Carolina do Rego Rangel, que foi estudar a sua especialidade.66

Da mesma forma que se criou a coluna “Associação Brasileira de Educação nos Estados”, no Boletim da A.B.E. foi criada uma coluna intitulada de “Associação Brasileira de Educação no Estrangeiro”. Esta coluna divulgava as relações, intercâmbios, congressos, conferências, cursos e palestras que ocorriam no exterior e até algumas das quais seus membros participavam fora do país como, por exemplo, o “IV Congresso Internacional de Educação Moral” em 1926. Também se podia perceber as relações da A.B.E. com instituições

63 LINHALES, M. A. . Na Associação Brasileira de Educação, o trânsito de sujeitos e métodos norte-americanos para o ensino da educação física dentro e fora da escola. In: VI Congresso Brasileiro de História da Educação, 2013, Cuiabá - MT. VII Congresso Brasileiro de História da Educação: Circuitos e fronteiras na história da educação no Brasil. Cuiabá - MT: Universidade Federal de Mato Grosso, v. 1. p. 001-015; 2013.

64 Carnegie Endowment for International Peace (1910) é uma organização privada sem fins lucrativos, dedicada

a promover a cooperação entre as nações e promover o engajamento internacional ativo pelos Estados Unidos. Disponível em: <http://carnegieendowment.org/about/?fa=centennial> Acesso em: 01 de maio de 2013.

65 Institute of International Education (1919): instituição privada sem fins lucrativos no intercâmbio internacional

educacional.

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no exterior, como a “Bureau Internacional d´Education” (BIE), da qual a A.B.E. era correspondente. O BIE foi fundado em Genebra como uma organização não governamental privada, em 1925. Seu objetivo era a centralização da documentação relacionada com a educação pública e privada, com interesse na investigação científica no campo da educação, além de servir como um centro de coordenação para as instituições e as sociedades envolvidas com a educação.67 A Associação buscava fazer intercâmbios de conhecimentos e chegou a

enviar abeanos para participarem de atividades, como na Conferência de Locarno, organizada pela BIE, para a qual Laura Lacombe seguiu como representante. A A.B.E. recebeu convites de eventos no exterior, como para participar da reunião bienal da World Federation of Education Associations realizada em Toronto no ano de 1927. Esse convite foi importante, pois a participação da A.B.E. nesse evento marcou a sua entrada na Federação Mundial de Educação e o início da criação de um núcleo sul-americano.

Outra forma de intercâmbio entre a A.B.E. e outras instituições era através do envio de livros, convites, revistas, dentre outros, para divulgar suas atividades e ações. Dentre os inúmeros temas, procuro destacar algumas destas relações da área da saúde, como as publicações intituladas ‘Clínicas das crianças em idade pré-escolar’ e ‘puericultura’. Além destas, a Associação recebia de sua associada dos Estados Unidos, Nancy Hold, as publicações da “Social Hygiene American Association”, cujo destaque eram as publicações sobre educação sexual.

Convites eram feitos pela Associação Brasileira de Educação e trouxeram especialistas do exterior para eventos no Brasil. A Associação recebeu visitas como a de Stephen Gaselee e Angus Sommerville Fletcher, ambos do Foreign Office ou Ministério do Exterior britânico, sendo que o primeiro ainda era professor da Universidade de Cambridge.68 Charles Redard,

encarregado dos negócios da Suíça, veio participar de um evento que homenageava Pestallozzi (pedagogo suíço e educador pioneiro da reforma educacional). O professor J. A. Mackay, da Universidade de Lima, que participou de uma reunião da A.B.E. e de um curso oferecido por Roquette-Pinto (1926).69 Os professores Theodore Simon, da Universidade de

Paris; Jeanne Wilde, professora da Escola de Belas Artes de Bruxelas; Walker, professor de orientação profissional e psicológica do trabalho do Instituto Jean Jacques Rousseau de Genebra e a professora Artus Perrelet, do Instituto Jean Jacques Rousseau e da Escola Superior de Genebra foram contratados pelo governo de Minas Gerais para fazerem parte do

67 Disponível em: <http://www.ibe.unesco.org/en/about-the-ibe/who-we-are/history.html> Acesso em: 29 de

abril de 2013.

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corpo docente da escola de aperfeiçoamento para professoras em Belo Horizonte. Esses professores foram convidados pela A.B.E. e passaram dois dias na capital federal com a finalidade de conhecer e dialogar com os abeanos, dentre os assuntos, destaco a BIE. Outros nomes que vieram ao Brasil foram Nieto Caballero, do Ginásio Nacional de Bogotá (1925); o professor Alfredo Ferrera, da Universidade de La Plata (1927); Johnn Sivggett, da World Federation of Education Associations; a escritora alemã Lina Hirsch, que realizou uma palestra sobre os problemas sociais femininos na Alemanha.70 Pelo que pude perceber as

palestras e eventos organizados pela A.B.E. eram financiadas pelos próprios abeanos, às vezes em parceria com outras instituições ou até mesmo pessoas físicas, como Guilherme Guinle71.

Heloise Brainerd era chefe seção de educação da União Pan-americana em Washington, nos Estados Unidos e participou de algumas reuniões da A.B.E.72, além de se

comunicar com a Associação através de carta, informando que enviaria regularmente à Associação Brasileira de Educação uma série sobre educação que eles produziam, além de pedir que enviassem o Boletim da A.B.E. para os EUA.

A A.B.E. também recebia convites, como para enviar representante para a Comissão Organizadora da reunião da Inter American Federation of Educational Association, em Havana, no ano de 1932. O diplomata, ensaísta, biógrafo e historiador, Hélio Lobo (1883-1960) foi o escolhido.73

1.6 - Um centro de aglomeração e divulgação

A A.B.E. merece referência devido ao seu caráter particular de buscar a difusão e o intercâmbio de conhecimentos científicos e de estabelecer um diálogo entre alunos e professores, instituições e governos, tendo destaque em um período em que a bibliografia

70Boletim da A.B.E.; ano IV; nº 12; agosto de 1928; p4.

71 Engenheiro civil e empresário, presidiu a Companhia Docas de Santos (1918-1960), dedicado às atividades

filantrópicas, organizou em 1923 a Fundação Gaffrée Guinle, com o objetivo de prestar assistência médica à população carioca. Disponível em: <www.cpdoc.fgv.br> Acesso em: 15 de junho de 2013. Sobre as atividades filantrópicas e o patronato de Guinle para a ciência ver SANGLARD, Gisele Porto. Entre os salões e o laboratório: filantropia, mecenato e práticas científicas, Rio de Janeiro - 1920-1940. 261 f. Tese (Doutorado em História das Ciências da Saúde) – Casa de Oswaldo Cruz – Fiocruz, Rio de Janeiro, 2005.

72 Periódico O Paiz; 06 de janeiro de 1928; edição 15935.

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aponta como de recrudescimento das iniciativas de divulgação científica, e que contou com o engajamento de cientistas e acadêmicos de diversas instituições brasileiras.74

Como diferencial, a Associação Brasileira de Educação não fazia pesquisas científicas como, por exemplo, o Museu Nacional e o Instituto Oswaldo Cruz; seu objetivo era ser um centro de divulgação e comunicação entre as instituições, escolas e pessoas interessadas em discutir a educação nacional. A Associação buscava mobilizar o maior número possível de pessoas, instituições e governos para legitimar sua prática. A busca por alianças com instituições, escolas e governos pode ser vista como uma medida para se ganhar o maior número de adeptos à causa educacional, pois a educação do povo era vista como um problema nacional e que precisava ser resolvido com urgência, pois a "ignorância representa atraso, pobreza e inferioridade de uma nação"75.

Meily Linhales expõe em seu texto "Médicos Sanitaristas e Educadores na 'Secção de Educação Physica e Hygiene' da Associação Brasileira de Educação: A Construção de uma Mentalidade Médico-Pedagógica para a Educação Física (1926-1937)"76 que tanto ela, quanto

Marta Carvalho investigaram a ABE como um lugar de sociabilidade, com uma dinâmica própria, "na qual vários sujeitos e grupos envidaram esforços de reunião, agregação de interesses e inovação, demarcando identidades e projetos que se reorganizavam continuamente."77 Um movimento político e cultural intenso que, em várias de suas práticas,

traduzia o que o país estava enfrentando em busca de uma modernidade idealizada no período. De acordo com Levi Carneiro, primeiro presidente da A.B.E., os membros criadores dessa instituição desejavam todo tipo de auxílio e cooperação daqueles que se preocupavam com o problema educacional, pois para obter o “êxito de vastíssima obra de propaganda, de orientação, de estudo”78 que desejavam, seria necessário o maior número de auxílios e apoios

possíveis. Inclusive Carneiro afirmou que, para tal obra social, seria preciso organizar um quadro de todas as sociedades que já existiam no país e que teriam objetivos próximos aos ideais da A.B.E. para que pudessem trabalhar em conjunto.

74 MASSARANI, Luisa. A divulgação científica no Rio de Janeiro: Algumas reflexões sobre a década de 20. Rio de Janeiro. Dissertação (Mestrado em Ciência da Informação) – Instituto Brasileiro de Informação em C&T, Escola de Comunicação, UFRJ, 1998.

75 Texto da conferência feita na A.B.E. pelo professor Miguel Couto e publicado na revista Illustração Brasileira; edição 0084; ano VIII; agosto de 1927; p20.

76 LINHALES, M. A.; LIMA, C. D.; OLIVEIRA, L. T. Médicos sanitaristas e educadores na “Secção de Educação Physica e Hygiene” da Associação Brasileira de Educação: a construção de uma mentalidade médico-pedagógica para a Educação Física (1926-1937). In: CONGRESSO BRASILEIRO DE HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO, 5., 2008, Aracajú. Anais... Aracajú SBHE, 2008.

77 Idem; p2.

Referências

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