MANUAL
PARA O
FEEDBACK
ESTRUTURADO
UMA ESTRATÉGIA ADAPTADA DE FEEDBACK ESTRUTURADO PAUTADO EM GRUPOS FOCAIS DE DISCENTES E DOCENTES EM
AMBULATÓRIO DE MEDICINA VOLTADO PARA A GRADUAÇÃO
ISRAEL LEITÃO MAIA
CLÁUDIA MARIA COSTA DE OLIVEIRA
MARCOS KUBRUSLY
MÔNICA CORDEIRO XIMENES DE OLIVEIRA
KRISTOPHERSON LUSTOSA AUGUSTO
MESTRADO PROFISSIONAL EM ENSINO EM SAÚDE
DO CENTRO UNIVERSITÁRIO CHRISTUS
MANUAL PARA O
FEEDBACK ESTRUTURADO
UMA ESTRATÉGIA ADAPTADA DE FEEDBACK ESTRUTURADO PAUTADO EM GRUPOS FOCAIS DE DISCENTES E DOCENTES EM AMBULATÓRIO DE
MEDICINA VOLTADO PARA A GRADUAÇÃO
ISRAEL LEITÃO MAIA
CLÁUDIA MARIA COSTA DE OLIVEIRA
MARCOS KUBRUSLY
APRESENTAÇÃO
O presente manual é produto do Mestrado Profissional em Ensino em Saúde dos autores, sendo desenvolvido na área de Metodologias Ativas de Ensino em Saúde. O estudo que o originou realizou a implantação de feedback estruturado nos ambulatórios didáticos do internato em Medicina onde foi realizado, com o objetivo de verificar as mudanças de atitude e desenvolvimento de competências nos alunos participantes e seu impacto no cuidado com o paciente, contribuindo para a melhora da qualidade do processo ensino-aprendizagem.
O FEEDBACK
O feedback (ou devolutiva) na educação médica é uma informação específica provida pelo professor com o objetivo de melhorar o desempenho do estudante.1
A devolutiva tem sido considerada ferramenta essencial no processo de formação e supervisão do médico.2 E, ainda que exista uma evidente falta de uso de feedback
durante o curso médico, os alunos desejam e valorizam essa ferramenta construtiva, considerando-a um aspecto importante na qualidade do ensino.3
Os discentes admiram os professores que sabem fornecê-lo de maneira eficaz.4 Em um
estudo com mais de 3 mil alunos do internato e residência médica, a habilidade de dar e receber feedback efetivo foi considerada a segunda mais importante habilidade de ensino, ficando atrás apenas da capacidade de estar aberto para questionamentos.5
Em entrevistas estruturadas realizadas com alunos do internato em Medicina segundo a técnica de Grupo Focal6, os autores deste manual obtiveram relatos de experiências
sobre como os estudantes gostariam de receber o feedback e sobre as características mais importantes dos professores e alunos para o feedback formativo:
Resultados das Entrevistas pela Técnica Análise de
Conteúdo de Bardin
7Qualidades para o feedback efetivo relativas ao discente
Qualidades para o feedback efetivo relativas ao docente
Como fazer o feedback
Ter humildade Ser resiliente Ter paciência Saber ouvir
Estar aberto a receber críticas Refletir sobre suas ações
Ser respeitoso Ter empatia Saber ouvir
Saber falar a mensagem
Não querer humilhar ou intimidar Ser exemplo de profissionalismo Estar aberto a questionamentos Focar o feedback nas ações
Ambiente adequado e respeitoso Assegurar a privacidade
Tais resultados serviram de base para as recomendações que serão apresentadas. Apresentamos a seguir a tabela com as instruções para o feedback formativo para sua aplicação na prática dos ambulatórios didáticos do internato em Medicina. Recomenda-se que o professor a tenha em mãos para que o uso ocorra de forma regular e continuada.
4
Instruções para o Feedback
1
2
3
4
5
6
Estabelecer um ambiente de ensino adequado e respeitoso
Ter o ensino como o objetivo primordial
Ser claro e objetivo
Basear o feedback na observação direta
Dar o feedback logo após realizada a tarefa
Assegurar a Privacidade
A hora e o local para o feedback devem ser previamente acordados com o aluno. Um clima positivo de aprendizado é essencial para o feedback efetivo. Professor e aluno devem ter respeito e confiança mútuos. O professor deve ter cuidado com as palavras para não ser intimidador.
É fundamental garantir a privacidade do estudante, logo uma sala silenciosa com o professor e o aluno sentados ao mesmo nível seria o ambiente ideal. Evitar comentar sobre os erros e vulnerabilidades do estudante diante de seus pares, o que pode gerar sentimentos de vergonha e humilhação.
É importante a ideia de que professor e aluno estejam, ambos, empenhados no processo ensino-aprendizado. O professor deve informar previamente o aluno sobre a existência e as razões da devolutiva, assegurando que fiquem claros os objetivos de ensino.
Falar de maneira clara, facilitando o entendimento do estudante. Certifique-se que o mesmo entendeu o feedback e deixe-o à vontade para fazer perguntas.
O professor deve estar presente no momento em que o estudante executa as tarefas, realizando suas observações a partir do que presencia. Não pode realizar o feedback a partir de relatos de terceiros.
O feedback deve ser realizado o mais brevemente possível após a realização da tarefa, pois os eventos abordados serão relembrados de maneira mais acurada. Como sua função é mudar atitudes e comportamentos, isso facilita que as mudanças já sejam postas em prática antes do final do estágio.
PASSO
1
PASSO
3
PASSO
5
PASSO
2
PASSO
4
Começar o feedback com a autoavaliação
do estudante sobre o que ele fez de bom
Perguntar ao estudante o que ele poderia ter
feito melhor.
Ratificar os comportamentos corretos
observados
Apontar as mudanças necessárias
A prática da reflexão é ponto chave para o aprendizado. Iniciar a sessão com a autoavaliação do que foi feito é uma boa maneira de iniciar o feedback.
A maior parte dos estudantes tem o discernimento sobre o que fez de errado e no que apresenta fragilidades. Ao usar esse recurso é o próprio aluno quem introduz os aspectos negativos de seu desempenho,
tirando do professor a exclusividade de apontar os pontos fracos de seu aprendiz.
Primeiro reforçar as boas práticas, o que foi observado de bom e exemplar. Isso é importante para a autoconfiança do aluno.
Concordar de forma apropriada com o que foi dito, adicionando dessa vez o feedback corretivo, provendo exemplos corretos e sugestões de melhora.
36
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Até o mais experiente professor pode achar desafiador prover a devolutiva aos estudantes. O desenvolvimento e treinamento do corpo docente das Instituições de Ensino Superior nessa área é fundamental para que a cultura do feedback seja estimulada e torne-se perene.
Para atender a esse fim, este manual, poderá ser distribuído, discutido e aplicado em oficinas de capacitação nessas instituições, visando contribuir com o ensino para a formação de médicos qualificados cada vez mais capacitados para o exercício da profissão.
Ele também visa descontruir algumas das barreiras mais comuns que impedem um
feedback efetivo: os objetivos da devolutiva não estarem claros para o professor nem para
o aluno, a falta de tempo e local adequados para o feedback e a falta de capacitação dos professores nessa ferramenta de ensino.
Está em nossas mãos a iniciativa para transformar para melhor o que já fazemos de bom. Que tal um feedback?
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
1 - ROGERS, D. A. et al. Engaging medical students in the feedback process. American Journal of Surgery, v. 203, n. 1, p. 21-25, 2012.
2 - KILMINSTER, S. et al. AMEE Guide No. 27: effective educational and clinical supervision. Medical Teacher, v. 29, n. 1, p. 2-19, 2007.
3 - DOBBIE, A.; TYSINGER, J. W. Evidence-based strategies that help office-based teachers give effective feedback. Family Medicine, v. 37, n. 9, p. 617-619, 2005.
4 - ROTENBERG, B. W. et al. A needs assessment of surgical residents as teachers. Canadian Journal of Surgery Journal Canadien de Chirurgie, v. 43, n. 4, p. 295-300, 2000.
5 - SCHULTZ, K. W. et al. Medical students’ and residents’ preferred site characteristics and preceptor behaviours for learning in the ambulatory setting: a cross-sectional survey. BMC medical education, v. 4, p. 12, 2004.
6 - CRUZ NETO, O.; MOREIRA, M. R.; SUCENA, L. F. M. Grupos focais e pesquisa social qualitativa: o debate orientado como técnica de investigação. XIII Encontro da Associação Brasileira de Estudos Populacionais, n. XIII, p. 26, 2002.