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Moradores de rua. Uma visão constitucional do princípio da dignidade da pessoa humana

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SAMANTA DA CRUZ COSTA

MORADORES DE RUA. UMA VISÃO CONSTITUCIONAL DO PRINCÍPIO DA DIGNIDADE DA PESSOA HUMANA.

Tubarão 2017

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SAMANTA DA CRUZ COSTA

MORADORES DE RUA. UMA VISÃO CONSTITUCIONAL DO PRINCÍPIO DA DIGNIDADE DA PESSOA HUMANA

Monografia apresentada ao Curso de Direito da Universidade do Sul de Santa Catarina como requisito parcial à obtenção do título de Bacharel em Direito.

Linha de pesquisa: Justiça e Sociedade Orientador: Prof. Cristiano de Souza Selig, Esp.

Tubarão 2017

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Aos meus amigos de infância que moraram nas ruas de Florianópolis, aos que infelizmente já se foram, aos que conseguiram sair das ruas e formar suas famílias e aos que lamentavelmente ainda continuam fazendo das ruas seu lar.

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AGRADECIMENTOS

Primeiramente agradeço a Deus por ter me acompanhado até aqui, e sei que estaremos juntos por toda eternidade, aos meus anjos da guarda que estão sempre dispostos a proteger a mim e minha família.

Agradeço a minha mãe Cláudia Arinatel, mulher guerreira, exemplo de ser humano, quem me proporcionou a melhor infância que uma criança poderia ter, aprendendo desde cedo a respeitar todos os seres humanos e ao meu “paidrasto”, Roberto Lúcio melhor pai do mundo! Ao meu esposo Felipe, que sempre me ajudou com nossos filhos Sophia e Felipe para que eu chegasse até aqui, com quem faço sonhos de um futuro melhor para nossa família. Peço desculpas à minha família pela ausência em alguns momentos e agradeço a compreensão.

Agradeço em especial ao meu orientador, professor Cristiano de Souza Selig, por toda paciência e incentivo, apesar de não ter tido aula com você, tenho certeza que és um excelente educador!

Também agradeço aos meus amigos da faculdade e de estágio, que me acompanharam na confecção deste trabalho, sempre me incentivando.

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Já faz muito tempo, Que a rua é a minha casa. Tem dias que como muito. Tem dias que como nada

.

Minha vida não é triste, Triste é a minha situação. Há dias que sou agredido, E demonstro indignação.

Nunca quis morar na rua, Mais a vida obrigou.

Tinha sonho como qualquer pessoa, Mais um dia fracassou.

Tentei um dia me mudar, Para buscar melhor condição. Mais que engano da minha cabeça, Fiquem sem abrigo, sem teto e sem chão.

Se vê alguém na rua, Não despreze, por favor! Somos pessoas humildes. Que a oportunidade acabou.

Você quer um futuro justo, E estudar para ser doutor.

Mais lembre dos que moram na rua, E se puder, nos ajude. Por favor!

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RESUMO

OBJETIVO: Este trabalho tem por objetivo analisar quem são os moradores de rua do Brasil e o desrespeito a dignidade da pessoa humana que essa população sofre diuturnamente, além de contar a história do Abrigo Rosa Maria Rosa da Cruz, que buscou garantir o respeito à dignidade dos moradores de rua da cidade de Florianópolis, bem como apresentar medidas que poderão ser adotadas para sua prevenção e erradicação desta pobreza extrema, como base em estudos doutrinários e a pesquisa realizada nos anos de 2007 e 2008 fruto de um acordo de cooperação assinado entre a Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO) e o Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome (MDS). MÉTODOS: Para tanto, no desenvolvimento do estudo, o método de abordagem utilizado foi o dedutivo, pois tem como ponto de partida aspectos gerais para se chegar às particularidades do assunto. O tipo de pesquisa usado foi o exploratório, uma vez que se buscou ter maior conhecimento acerca do problema, a fim de possibilitar considerações sobre o assunto. Além disso, se utilizou a pesquisa bibliográfica em doutrinas, artigos publicados na internet, bem como a análise da legislação vigente com comentários e jurisprudências. RESULTADO: Resultou deste trabalho a resposta à pergunta problema, qual seja, que para a República Federativa do Brasil restabelecer a dignidade dos Moradores de rua é necessárias políticas públicas eficazes, que os Municípios não invistam apenas na compra de passagens de ônibus para essas pessoas retornarem a sua cidade de origem, mas que invistam em resgatar a dignidades dessa população. CONCLUSÃO: A partir desses resultados, concluiu-se que as dignidades humanas dessas pessoas são violadas reiteradamente, e que, enquanto o Estado e a sociedade não aprenderem como resgatar e respeitar a dignidade destas pessoas, muitos brasileiros morrerão de fome e frio. Percebeu-se a necessidade de uma ação conjunta entre Estado e sociedade, pois essas pessoas hoje são consideradas “o lixo que a sociedade não quer reciclar”.

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ABSTRACT

OBJECTIVE: The objective of this work is to analyze who are the homeless people of Brazil and the disrespect of the dignity of the human being that this population suffers daily, besides telling the story of the Rosa Maria da Cruz Shelter, which sought to guarantee respect for dignity Of the homeless in the city of Florianópolis, as well as to present measures that could be adopted for their prevention and eradication of this extreme poverty, as a basis in doctrinal studies and the research carried out in the years 2007 and 2008 as a result of a cooperation agreement signed between the The United Nations Educational, Scientific and Cultural Organization (UNESCO) and the Ministry of Social Development and the Fight against Hunger (MDS). METHODS: For this purpose, in the development of the study, the method of approach used was deductive, since it has as general starting point general aspects to reach the particularities of the subject. The type of research used was the exploratory one, since it was tried to have more knowledge about the problem, in order to allow considerations on the subject. In addition, we used bibliographical research in doctrines, articles published on the internet, as well as the analysis of the current legislation with comments and jurisprudence. RESULT: The result of this work was the answer to the problem question: that for the Federative Republic of Brazil to restore the dignity of the homeless people, effective public policies are needed, that the Municipalities do not invest only in the purchase of bus tickets for these people to return Their city of origin, but who invest in rescuing the dignities of this population. CONCLUSION: From these results, it was concluded that the human dignity of these people is violated repeatedly, and that, as long as the State and society do not learn how to rescue and respect the dignity of these people, many Brazilians will die of hunger and cold. The need for a joint action between State and society was perceived, because these people today are considered "the trash that the society does not want to recycle".

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LISTA DE GRÁFICOS

Gráfico 1 – Formação Escolar ... 32

Gráfico 2 - Fonte de Renda... 33

Gráfico 3 – Razões da ida para as ruas ... 36

Gráfico 4 – Trajetória e deslocamento ... 37

Gráfico 5 - Experiências de impedimento de entrada em locais ou para realização de atividades ... 39

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ... 12

1.1 DESCRIÇÃO DA SITUAÇÃO PROBLEMA ... 12

1.2 FORMULAÇÃO DO PROBLEMA ... 14 1.3 JUSTIFICATIVA ... 14 1.4 OBJETIVOS ... 14 1.4.1 Geral ... 14 1.4.2 Específico ... 14 1.5 DESENVOLVIMENTO METODOLÓGICO ... 15

1.6 ESTRUTURA DOS CAPÍITULOS ... 15

2 A DIGNIDADE DA PESSOA HUMANA NO DIREITO CONSTITUCIONAL ... 17

2.1 ORIGEM E EVOLUÇÃO ... 17

2.2 A DIGNIDADE HUMANA NO DIREITO COMPARADO ... 18

2.3 NATUREZA JURÍDICA DA DIGNIDADE HUMANA ... 19

2.4 ELEMENTOS ESSENCIAIS À DIGNIDADE ... 20

2.4.1 Valor intrínseco da pessoa humana ... 20

2.4.2 Autonomia da vontade ... 21

2.4.3 Valor comunitário ... 22

2.5 DIGNIDADE DA PESSOA HUMANA GARANTIDA NO ORDENAMENTO JURÍDICO BRASILEIRO ... 23

2.6 VIOLAÇÃO DA DIGNIDADE DA PESSOA HUMANA EM TERRITÓRIO BRASILEIRO ... 24

2.6.1 Caso Maria da Penha ... 25

2.6.1.1 A Lei 11.340 de 2006 ... 25

2.6.2 Caso Damião Ximenes Lopes ... 26

2.6.2.1 Brasil sofre primeira Condenação Internacional ... 27

2.6.3 Caso Nova Brasília ... 28

2.6.3.1 A mais recente Condenação Internacional do Brasil ... 28

3 MORADORES DE RUA, QUEM SÃO ESSES MARGINALIZADOS? OS EXCLUÍDOS HUMANOS! ... 30

3.1 ASPECTOS PARA A COMPREENSÃO DOS MORADORES DE RUA ... 30

3.1.1 Formação Escolar ... 31

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3.2 MORADORES DE RUA E A SOCIEDADE ... 34

3.2.1 Razões da ida para as ruas ... 35

3.2.2 Do deslocamento e da trajetória ... 36

3.2.3 Vínculos familiares ... 38

3.3 MORADORES DE RUA E A CRIMINALIZAÇÃO... 38

3.3.1 Discriminações sofridas ... 39

3.3.2 O Massacre da Candelária ... 40

4 ABRIGO ROSA MARIA ROSA DA CRUZ ... 42

4.1 ORIGEM DO ABRIGO ... 42

4.2 “QUEM SALVA UMA VIDA SALVA O MUNDO” ... 44

4.3 “ABRIGO GARANTE PRAZO ANTES DE INTERDIÇÃO” ... 46

4.4 A PROMOÇÃO DE DIGNIDADE DA PESSOA HUMANA REALIZADA PELO ABRIGO ROSA MARIA ... 48

4.5 RELATOS DE DESRESPEITO À DIGNIDADE DOS MORADORES DE RUA DE FLORIANÓPOLIS. ... 50

4.5.1 Vida e Morte na Marquise ... 50

4.5.2 Entidade supera reclamações e dificuldades e fornece comida para pessoas de rua da Capital ... 51

4.5.3 A terceira geração de morador de rua já nasce sem dignidade ... 52

4.6 CASA DE PASSAGEM NO MUNICÍPIO DE TUBARÃO CAMINHOS DA PAZ ... 53

4.7 DIGNIDADE NÃO ESTÁ EM UMA PASSAGEM DE ÔNIBUS OU CAMA PARA DORMIR ... 54

5 CONCLUSÃO ... 56

REFERÊNCIAS ... 59

ANEXO A – RELAÇÃO DE MUNICÍPIOS ONDE FOI REALIZADA A PESQUISA NACIONAL SOBRE A POPULAÇÃO EM SITUAÇÃO DE RUA, 2007-8 ... 63

ANEXO B – REPORTAGENS VINCULADAS NA MÍDIA CATARINENSE SOBRE O ABRIGO ROSA MARIA ... 64

ANEXO B1 – TRUCULÊNCIA CONTRA MENORES ... 64

ANEXO B2 – CONTINGENTE DE MENDIGOS CRESCE EM FLORIANÓPOLIS ... 65

ANEXO B3 – (TUBERCULOSE) SEM ATENDIMENTO, INFECÇÃO AUMENTA ... 66

ANEXO B4 – ABRIGO EMPERRA POR FALTA DE VERBA ... 67

ANEXO B5 – ENTIDADE CONSTRÓI ALBERGUE NOTURNO ... 68

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ANEXO B7 – GRUPO VOLUNTÁRIO MANTÉM CARENTES ... 70

ANEXO B8 – TOLERÂNCIA ZERO É DENUNCIADO NA OAB ... 71

ANEXO B9 – ABRIGO GARENTE PRAZO ANTES DE INTERDIÇÃO ... 72

ANEXO B10 – PM ABANDONA AUDIÊNCIA PÚBLICA DA OAB ... 73

ANEXO B11 – VOLUNTÁRIOS AJUDAM MORADORES DAS RUAS ... 74

ANEXO B12 – ABRIGO MUDA VIDA DE DESAMPARADOS ... 75

ANEXO B13 – ENTIDADE DISTRIBUI ALMOÇO NA PRAÇA GETÚLIO VARGAS .... 76

ANEXO C – FOTOS DAS AÇÕES DO ABRIGO ROSA MARIA ... 77

ANEXO C1 – GRUPO DE VOLUNTÁRIOS DO ABRIGO ROSA MARIA ... 77

ANEXO C2 – “SEU” RAMIRO E A PRESIDENTE DO ABRIGO ROSA MARIA ... 77

ANEXO C3 – PRIMEIROS MORADORES DE RUA RECOLHIDOS ... 78

ANEXO C4 – ALMOÇO NAS DEPENDÊNCIAS DO PRIMEIRO ABRIGO ROSA MARIA 79 ANEXO C5 – ENTREGA DO CAFÉ DA NOITE NAS RUAS DE FLORIANÓPOLIS ... 79

ANEXO C6 – ENTREGA DO ALMOÇO NA PRAÇA GETÚLIO VARGAS ... 80

ANEXO C7 – ALMOÇO NAS DEPENDÊNCIAS DO SEGUNDO ABRIGO ... 81

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1 INTRODUÇÃO

O presente trabalho monográfico busca analisar por uma visão constitucional, a população em situação de rua, quanto aos seus direitos fundamentais e principalmente o respeito à dignidade da pessoa humana dessa população tão carente.

1.1 DESCRIÇÃO DA SITUAÇÃO PROBLEMA

A dignidade da pessoa humana não é apenas um direito, é um apanágio de todo ser humano, independente de nacionalidade, sexualidade, classe social, enfim, é uma garantia a todos. Além de ser um atributo do ser humano, ela está garantida como um dos fundamentos da Constituição da República Federativa do Brasil, inclusive presente em Constituições de várias nações e Tratados Internacionais.

Segundo Luis Roberto Barroso, “para ser livre, igual e capaz de exercer sua cidadania, todo indivíduo precisa ter satisfeitas as necessidades indispensáveis à sua existência física e psíquica. Vale dizer: tem direito a determinadas prestações e utilidades elementares”.

É importante lembrar que a Constituição Federal de 1988, visa à defesa dos direitos e garantias fundamentais individuais e coletivos. Tais direitos estão garantidos no artigo 5º e seus incisos da respectiva Constituição.

Para Carta Magna (BRASIL, 1988) “todos são iguais perante a lei e garante aos brasileiros e estrangeiros a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade”.

Porém, para os moradores de rua, o que se percebe é que tais direitos são violados reiteradamente, em todas as esferas.

O que se vê na maioria das cidades, principalmente nos grandes centros, são seres humanos vivendo nas ruas, dormindo embaixo de pontes ou marquises. Tal situação demonstra o quão são violados direitos básicos destes seres humano, como moradia, alimentação e até mesmo saúde, pois estes moradores estão expostos a qualquer tipo de moléstia.

A Constituição Federal de 1988 também prevê em seu artigo 6º (BRASIL, 1988), assistências aos desamparados, porém o que se pode dizer das políticas públicas para estas pessoas é que a maior intenção é de limpar as ruas, e não de recuperá-las, pois o que se percebe dos abrigos públicos, por exemplo, é um amontoado de pessoas, muitas vezes doentes, viciadas, vítimas de violência familiar.

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Contrárias às recomendações legais, o que se tem visto é a opção, pelo poder público, de verdadeiros depósitos humanos, onde as pessoas permanecem misturadas, inclusive com perigo de contágio de moléstias graves. As operações realizadas pelo Poder Público, no sentido de conduzir as pessoas em situação de rua para tais abrigos, parecem evidenciar a intenção de "higienização" dos logradouros públicos, em franco descumprimento às garantias constitucionais.(MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO, 2012)

É inadmissível que seres humanos sejam tratados de maneira tão desprezível, onde o único direito a eles é o Direito Penal.

Além da indiferença da população a estes moradores, a discriminação eminente faz com que estas pessoas sejam vistas como se morassem nas ruas a vida inteira, sem estudos, viciados e principalmente como praticantes de crimes.

Crianças crescem nas ruas sem a menor perspectiva de um futuro digno, apresentados às drogas, à violência e a todo tipo de preconceito.

Em um estado democrático de direito, fundado na dignidade da pessoa humana, a existência de pessoas em situação tão deplorável de vida, revela a desigualdade extrema. A exclusão social atinge cada vez mais pessoas que não se enquadram no modelo econômico. A qualificação profissional, a violência familiar e diversos fatores sociais, acabam levando pessoas a fazerem da rua sua moradia provisória e até definitiva.

A preocupação do Poder Público com este segmento social, desta forma, é recente. Apenas a partir de 1988, com o reconhecimento dos direitos sociais como direitos fundamentais da pessoa pela Constituição Federal vigente e com a Lei Orgânica de Assistência Social, que se reconheceu a Assistência Social como Política Pública, é que o Estado passou a assumir seu compromisso de manter políticas públicas de atenção à população de rua.

Quando se fala em moradores de rua, os chamados mendigos, o que se pode observar é que o resto da população possui um discurso já formado sobre estas pessoas: de que se encontram nesta situação porque querem, porque abandonaram a família pelo vício, porque não querem trabalhar, querem a vida “fácil” e viver de esmolas, e se quisessem sair desta vida é apenas necessário que procurem abrigos e trabalho.

Porém se um morador de rua a procura de emprego, quando demonstrado sua condição de falta de moradia, as empresas nem cogitam em contratá-los, apesar de uma enorme controvérsia, pois para se ter uma moradia, se faz necessário um emprego para garantir sua subsistência.

Enfim, moradores de rua fazem parte de nossa sociedade e necessitam de saúde, educação, moradia e principalmente possuem dignidade como qualquer outro cidadão.

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1.2 FORMULAÇÃO DO PROBLEMA

Como a República Federativa do Brasil poderia restabelecer a dignidade dos Moradores de rua? Quais políticas públicas e ações materiais poderiam ser implementadas em busca do respeito aos direitos dessas pessoas?

1.3 JUSTIFICATIVA

O cenário de desigualdade social é extremamente visível em nosso País, desta forma se faz necessário políticas públicas que realmente façam com que este cenário mude.

E com os moradores de rua ainda é mais necessário, pois estamos tratando de pessoas sem o mínimo de condições de sobrevivência, abandonadas por toda a sociedade e a mercê da violência e drogas.

É importante que toda a comunidade se dedique em amenizar as necessidades destas pessoas como saúde, alimentação e educação, pois para garantirmos um futuro digno a estas pessoas, muitas delas crianças e jovens, é fundamental que tenham seus direitos básicos respeitados.

Um estudo que aponte não só a falta de respeito aos direitos fundamentais e ao principio da dignidade da pessoa humana, mas que mostre que há um caminho para a mudança basta apenas que governo e população juntem-se para erradicar esta pobreza extrema.

1.4 OBJETIVOS 1.4.1 Geral

Analisar o que leva os moradores de rua a estarem nesta situação, qual perfil dessa população e verificar os direitos fundamentais garantidos na Constituição Federal que são ofendidos, bem como, avaliar medidas que poderão ser adotadas para sua prevenção e erradicação.

1.4.2 Específico

Discorrer sobre o princípio da Dignidade da Pessoa Humana.

Identificar o perfil da população em situação de rua conforme pesquisa realizada no período de agosto de 2007 a março de 2008, após um acordo de cooperação entre a Organização

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das Nações Unidades para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO) e o Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome (MDS).

Comentar o Decreto nº 7.053 de 23 de dezembro de 2009, que institui a Política Nacional para a População em situação de rua e seu Comitê Intersetorial de acompanhamento e monitoramento, e dá outras providências.

Expor a história do Abrigo Rosa Maria Rosa da Cruz, que foi situado na capital catarinense e que atendia em média mais de 200 moradores de rua por dia.

Apresentar as condições e obrigações de proteção através do Estado, família e sociedade, bem como, leis brasileiras disponíveis que possibilitam serem usadas de maneira subsidiária.

1.5 DESENVOLVIMENTO METODOLÓGICO

Neste estudo, será utilizado o método de abordagem dedutivo, pois serão analisados aspectos gerais a fim de alcançar argumentos particulares do assunto. O principal objetivo no referido método de abordagem é estabelecer uma relação entre as proposições apresentadas, sem, no entanto, comprometer a veracidade da conclusão (MEZZAROBA; MONTEIRO, 2009, p.65).

Quanto ao procedimento será utilizado o bibliográfico, em que o problema da pesquisa será esclarecido através de artigos, doutrinas, estudos, jurisprudências, legislação, dentre outros, já abordados acerca do tema.

A pesquisa quanto à abordagem será qualitativa, pois no decorrer do trabalho, desenvolver-se-á conceitos, ideias e entendimentos sobre o tema de modo que não podem ser reduzidos à mera operacionalização de variáveis (LEONEL; MOTTA, 2007, p. 108).

Por fim, quanto ao nível de profundidade, utilizar-se à pesquisa exploratória, sendo que o principal objetivo “é proporcionar maior familiaridade com o objeto de estudo” (LEONEL; MOTTA, 2007, p. 100). Portanto, buscou-se ter maior conhecimento acerca do problema, a fim de possibilitar considerações acerca do tema.

1.6 ESTRUTURA DOS CAPÍITULOS

O desenvolvimento do presente estudo monográfico é constituído em três capítulos. O primeiro capítulo abordará o Princípio da Dignidade da Pessoa Humana, fundamental para o tema em questão. Será apresentado à origem desse princípio, como está

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alocado no ordenamento jurídico brasileiro, uma visão deste princípio no direito comparado e quais condenações Internacionais o Brasil já sofreu por não garantir os diretos humanos resguardados de seus cidadãos.

No segundo capítulo, será analisado a Pesquisa Nacional de População em Situação de Rua, realizada no ano de 2007 e 2008, de modo que facilite a compreensão de quem são os moradores de rua no Brasil.

Por fim, no terceiro e último capítulo será tratado do Abrigo Rosa Maria Rosa da Cruz, uma instituição de Caridade que atendia moradores de rua na cidade de Florianópolis no final dos anos noventa, visando apresentar como essa instituição proporcionava a dignidade da pessoa humana para os albergados e dos que recebiam alimentos, medicamentos e roupas.

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2 A DIGNIDADE DA PESSOA HUMANA NO DIREITO CONSTITUCIONAL

O presente capítulo busca entender o que é o princípio da dignidade da pessoa humana, sua origem e importância, além de demonstrar o quão tal princípio vem sendo invocado por diversas nações.

Um dos juristas brasileiros com mais obras sobre o assunto, é Luís Roberto Barroso. Doutor Barroso por ser uma das referências na atualidade quando se fala em dignidade da pessoa humana, disserta sobre o tema de forma clara e objetiva.

Desta forma, o presente capítulo baseia-se na obra “A Dignidade da Pessoa Humana no Direito Constitucional Contemporâneo: Natureza Jurídica, Conteúdos mínimos e critérios de aplicação”, que escreveu para Universidade de Harvard, onde atuou como pesquisador no início do ano de 2011.

2.1 ORIGEM E EVOLUÇÃO

A dignidade da pessoa humana surgiu na religiosidade, com o homem feito à imagem e semelhança de Deus. Durante o período Iluminista, esta visão mudou para a filosofia, fundada na razão, na capacidade de valoração moral e na autodeterminação do indivíduo.

Após a Segunda Guerra Mundial, a ideia de dignidade da pessoa humana migra para o mundo jurídico, segundo Luís Roberto Barroso (2010, p.4):

A dignidade da pessoa humana migra paulatinamente para o mundo jurídico, em razão de dois movimentos. O primeiro foi o surgimento de uma cultura pós-positivista, que reaproximou o Direito da filosofia moral e da filosofia política, atenuando a separação radical imposta pelo positivismo normativista. O segundo consistiu na inclusão da dignidade da pessoa humana em diferentes documentos internacionais e Constituições de Estados democráticos.

Conforme disserta Marcelo Novelino (2009, p.347):

O reconhecimento e a proteção da pessoa humana pelas constituições em diversos países ocidentais tiveram um vertiginoso aumento após a Segunda Guerra Mundial, como forma de reação às práticas ocorridas durante o nazismo e o fascismo e contra o aviltamento desta dignidade praticado pelas ditaduras ao redor do mundo. A escravidão, a tortura e, derradeiramente, as terríveis experiências feitas pelos nazistas com seres humanos, fizeram despertar a consciência sobre a necessidade de proteção da pessoa com o intuito de evitar sua redução á condição de mero objeto. Tempos depois, com a queda do comunismo, a partir do início da década de 1990, diversos países do leste europeu também passaram a consagrar a dignidade da pessoa humana em seu texto constitucional.

No ramo do direito internacional, a dignidade da pessoa humana, segundo Barroso, encontra-se em diferentes documentos internacionais, como na Carta das Nações Unidas, de 26-06-1945; na programática Declaração Universal dos Direitos Humanos, de 10-12-1948; no

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Pacto Internacional sobre Direitos Civis e Políticos, de 19-12-1966; e no Estatuto da Unesco, de 16-11-1945; normalmente essa referência à dignidade da pessoa humana é descrita em seus preâmbulos.

2.2 A DIGNIDADE HUMANA NO DIREITO COMPARADO

Ao final da segunda década do século XX, a dignidade humana passou a fazer parte de documentos jurídicos, como disserta Barroso (2010, p.8):

[...] iniciou nas Constituições do México (1917) e da Alemanha de Weimar (1919). Antes de se tornar um símbolo humanista, ela esteve presente em alguns textos como Projeto do Marechal Pétain (1940), na França, durante o período de colaboração com os nazistas, e em Lei Constitucional decretada por Francisco Franco (1945), durante a ditadura espanhola.

Mas foi após a Segunda Guerra Mundial, que a dignidade humana tornou-se presente nos principais documentos internacionais, como já citados a Carta da ONU (1945), a Declaração Universal dos Direitos Humanos (1948), dentre outras. Mais recentemente recebeu importante destaque na Carta Europeia de Direitos Fundamentais, de 2000, e no Projeto de Constituição Europeia, de 2004.

Para Barroso (2010, p 12):

Após o segundo pós-guerra, muitas Constituições incluíram a proteção da dignidade humana em seus textos. Na Constituição Alemã (Lei Fundamental de Bonn, 1949), previu, em seu artigo 1º, a inviolabilidade da dignidade humana. Daí surgiu uma ampla jurisprudência, desenvolvida pelo Tribunal Constitucional Federal, que reconheceu tal direito como valor fundamental. Diversos países incluíram em seus textos constitucionais o respeito à dignidade humana, como: Japão, Itália, Portugal, Espanha, África do Sul, Brasil, Israel, Hungria e Suécia, em meio a muitas outras. Em alguns países, tal direito encontra-se no preâmbulo, como na Constituição do Canadá. Em países como os Estados Unidos e França, que não fazem menção à dignidade em suas Constituições, a jurisprudência tem argumentado em decisões importantes. Deste ponto em diante, as cortes constitucionais de vários países iniciaram um diálogo transnacional, indicando em suas decisões, argumentos utilizados em outras cortes, em um sentido comum para a dignidade.

No âmbito do direito comparado, a atuação do Tribunal Constitucional Federal Alemão, é um dos mais citados em diferentes jurisdições. Luís Roberto Barroso (2010, p. 6) afirma:

[...] Na pratica da Corte, a dignidade humana sempre esteve no centro das discussões de inúmeros casos, como, por exemplo, a declaração de inconstitucionalidade da descriminalização do aborto, a flexibilização dessa mesma decisão, a proibição de derrubada de aviões sequestrados por terroristase a vedação do uso diário pessoal como meio de prova, dentre muitos outros [...]

No Canadá, em um complexo debate acerca da descriminalização de drogas leves, a Suprema Corte rejeitou a tese que o uso da maconha é um estilo de vida, baseando-se a proibição na proteção de grupos vulneráveis, incluindo adolescentes e mulheres grávidas.

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No Brasil, o legislador vem se esforçando para a concretização da proteção dos direitos humanos, em geral, e à dignidade humana, neste contexto é importante destacar os parágrafos 3º e 4º no artigo 5º da Constituição, pela Emenda Constitucional n. 45, de 2004:

Art. 5º (...)

§ 3º Os tratados e convenções internacionais sobre direitos humanos que forem aprovados, em cada Casa do Congresso Nacional, em dois turnos, por três quintos dos votos dos respectivos membros, serão equivalentes às emendas constitucionais. § 4º O Brasil se submete à Jurisdição de Tribunal Penal Internacional a cuja criação tenha manifestado adesão. (BRASIL, 1988).

Segundo Gilmar Ferreira Mendes (2009, p. 177) acrescentado ao artigo 109 da Constituição pela, também Emenda Constitucional n.45, de 2004:

[...] a ensejar que, nas hipóteses de grave violação de direitos humanos, o Procurador-Geral da República, com a finalidade de assegurar o cumprimento de obrigações decorrentes de tratados internacionais de direitos humanos dos quais o Brasil seja parte, possa suscitar, perante o Superior Tribunal de Justiça, em qualquer fase do inquérito ou processo, incidente de deslocamento de competência para a Justiça Federal, onde, acredita-se receberão o assunto que merecerá tratamento compatível com a sua elevada importância.

Neste sentido, é evidente que nos dias de hoje muitas decisões referem-se a julgados de tribunais de outros países, demonstrando a dimensão supranacional do preceito da dignidade humana.

2.3 NATUREZA JURÍDICA DA DIGNIDADE HUMANA

Antes de adentrar no ordenamento jurídico, para Barroso, a dignidade humana passou pelo ramo da filosofia, após tornou-se um conceito axiológico, ligado à ideia de bom justo, virtuoso.

No primeiro momento, sua concretização era considerada tarefa dos Poderes Legislativo e Executivo. Foi somente nas décadas finais do século XX, que se aproximou do Direito, tornando-se um conceito jurídico, ganhando assim, o status de princípio jurídico.

Porém, segundo o Ministro, antes de ingressar no universo jurídico, expressa em textos normativos ou consagrada pela jurisprudência, a dignidade humana já desempenhava papel importante como valor pré e extrajurídico. Em casos que não havia soluções pré-pronta no direito posto, se recorria aos elementos extrajurídicos, como a filosofia moral e a filosofia política, como consequência respeitar à dignidade humana.

Em suma, a dignidade humana é um valor fundamental, convertido em princípio jurídico constitucional, seja por sua positivação em norma expressa, seja por sua aceitação como mandamento jurídico extraído do sistema. Barroso afirma que ela serve tanto como justificação moral quanto como fundamento normativo para os direitos fundamentais.

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Em muitas vezes, o princípio da dignidade humana é densificado pelo constituinte ou pelo legislador, como por exemplo, leis que vedam a tortura, o trabalho escravo ou penas cruéis, nestes casos existem normas expressas interditando tais condutas, não sendo necessária a invocação deste princípio.

Luís Roberto Barroso, conclui que:

A dignidade da pessoa humana é parte do conteúdo dos direitos materialmente fundamentais, mas não se confunde com qualquer deles. Nem tampouco é a dignidade um direito fundamental em si, ponderável com os demais. Justamente ao contrário, ela é o parâmetro da ponderação, em caso de concorrência entre direitos fundamentais (...), embora seja qualificada como um valor ou princípio fundamental, a dignidade da pessoa humana não tem caráter absoluto. (2010, p.20):

No sentido de princípio, a dignidade da pessoa humana diz que o Estado deve dispensar os meios indispensáveis a uma vida humana como dignidade. Como falar em liberdade de escolha se a pessoa não tem o que comer, que não tem educação, que não tem onde dormir. A liberdade dela vai existir, vai ser uma liberdade meramente formal.

2.4 ELEMENTOS ESSENCIAIS À DIGNIDADE

A dignidade humana e os direitos humanos, como afirma Barroso (2010) são “duas faces da mesma moeda”, uma é voltado para a filosofia, expressa os valores morais singularizando todas as pessoas, tornando-as merecedoras de igual respeito; a outra é voltada ao Direito, trazendo posições jurídicas titularizadas pelos indivíduos, tuteladas por normas coercitivas. Em suma, a moral sob o Direito.

2.4.1 Valor intrínseco da pessoa humana

No que diz respeito ao plano filosófico, a dignidade da pessoa humana é um elemento ontológico, está ligado à natureza do ser, é comum a todo ser humano, é o que distingue os seres vivos e as coisas, é um valor que não tem preço. Nas palavras de Barroso: “as coisas possuem valor, o ser humano possui dignidade”.

Segundo Jorge Reis Novais (2004, p. 52):

É por ter o valor intrínseco da pessoa humana como conteúdo essencial que a dignidade não depende de concessão, não pode ser retirada e não é perdida mesmo diante da conduta individual indigna do seu titular. Ela independe até mesmo da própria razão, estando presente em bebês recém-nascidos e em pessoas senis ou com qualquer grau de incapacidade mental.

No plano jurídico, a dignidade humana não é em si um direito, mas um atributo inerente a todo ser humano, independente de sua origem, sexo, idade, condição social ou qualquer outro

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requisito. Marcelo Novelino (2009, p. 348) afirma que o ordenamento jurídico não confere dignidade a ninguém, mas tem a função de proteger e promover este valor.

Conforme descreve o Ministro Luís Roberto Barroso:

A dignidade está na origem de uma série de direitos fundamentais. O primeiro deles, em uma ordem natural, é o direito à vida. Em torno dele se estabelecem debates de grande complexidade jurídica e moral, como a pena de morte, o aborto e a morte digna. Em segundo lugar, o direito à igualdade. Todas as pessoas têm o mesmo valor intrínseco e, portanto, merecem igual respeito e consideração, independente de raça, cor sexo, religião, origem nacional ou social ou qualquer outra condição. Aqui se inclui o tratamento não-discriminatório na lei e perante a lei (igualdade formal), bem como o respeito à diversidade e à identidade de grupos sociais minoritários, como condição para a dignidade individual (igualdade como reconhecimento). Do valor intrínseco resulta, também, o direito à integridade física, aí incluídos a proibição da tortura, do trabalho escravo ou forçado e as penas cruéis e o tráfico de pessoas. Conclui que:

Em torno desse direito se desenvolvem discussões e controvérsias envolvendo prisão perpétua, técnicas de interrogatório e regime prisional. E, igualmente, algumas questões situadas no âmbito de bioética, compreendendo pesquisas clínicas, eugenia, comércio de órgãos e clonagem humana. E, por fim, o direito à integridade moral ou psíquica, domínio no qual estão abrangidos o direito de ser reconhecido como pessoa, assim como os direitos ao nome, à privacidade, á honra e à imagem. É também em razão do valor intrínseco que em diversas situações se protege a pessoa contra si mesma, para impedir condutas autorreferentes lesivas á sua dignidade. (2010, pgs. 23 e 24).

2.4.2 Autonomia da vontade

Todo ser humano possui a autonomia de decidir sua religião, vida afetiva, trabalho, ideologia, esta ideia de autonomia esta ligada a de pessoa, de um ser moral consciente, livre e responsável. Barroso afirma que tal liberdade deve estar em conformidade com determinadas condições pessoais e sociais, que incluem informação e ausência de privações essenciais.

No âmbito jurídico, a autonomia tem uma dimensão privada e pública. A autonomia privada, esta presente no conteúdo essencial da liberdade, no direito de autodeterminação sem interferências externas ilegítimas. Neste caso pode-se citar como exemplo o direito de uma pessoa poder comprar ou vender algo, desde que se trate de negócio jurídico lícito.

A autonomia pública é o direito de o cidadão poder participar do processo democrático, cada pessoa tem o direito de participar politicamente nas decisões dos governadores, não apenas no ponto de vista eleitoral, mas também com debates públicos e organizações sociais.

Por fim, a dignidade está subjacente aos direitos sociais fundamentais, de acordo com Marcelo Novelino:

A consagração da dignidade como fundamento exige não apenas uma abstenção, mas também uma atuação por parte do Estado no sentido de fornecer os meios

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indispensáveis para que indivíduos hipossuficientes possam viver dignamente (mínimo existencial).

A ideia do mínimo existencial (ou núcleo da dignidade humana), pondera Ana Paula de BARCELLOS, tem sido proposta como forma de superação de várias dificuldades inerentes à dignidade, “na medida em que procura representar um subconjunto, dentro dos direitos sociais, econômicos e culturais, menor – minimizando o problema dos custos – mais preciso – procurando superar a imprecisão dos princípios – e, sobretudo, efetivamente exigível do Estado...” (Grifo do autor, 2009, p. 349).

Diante de tais considerações, pode-se concluir que a dignidade da pessoa humana possui uma tripla dimensão normativa, sendo ao mesmo tempo:

I) Um postulado normativo interpretativo que atua como diretriz na aplicação, interpretação e aplicação das demais normas;

II) Um principio, por impor aos poderes públicos a proteção a uma vida digna (mínimo existencial);

III) Uma regra, impedir o tratamento de qualquer pessoa como objeto.

2.4.3 Valor comunitário

A dignidade como valor comunitário é a dignidade que molda o conteúdo e o limite da liberdade, não são escolhas individuais, mas sim as responsabilidades e deveres a elas associados. Luís Roberto Barroso afirma, que “aqui se situa a dimensão ecológica da dignidade, que tem sido objeto de crescente interesse, abrangendo diferentes aspectos da proteção ambiental e dos animais não humanos”.

Assevera que:

A imposição coercitiva de valores sociais, e m nome dessa dimensão comunitária da dignidade, nunca será uma providência banal, exigindo fundamentação racional consistente. Em qualquer caso, deverá levar seriamente em conta: a) a existência ou não de um direito fundamental em questão; b) a existência de consenso social forte em relação ao tema; e c) a existência de risco efetivo para o direito de outras pessoas. A dignidade de um indivíduo jamais poderá ser suprimida, seja por ação própria ou de terceiros. Mas aspectos relevantes da dignidade poderão ser paralisados em determinadas situações. É o que ocorre, por exemplo, nos casos de prisão legítima de um condenado criminalmente. (2010, p. 30).

Desta forma, compreende-se que a dignidade da pessoa humana deverá ser sempre respeitada, porém se deve analisar o respeito aos demais membros da sociedade.

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2.5 DIGNIDADE DA PESSOA HUMANA GARANTIDA NO ORDENAMENTO JURÍDICO BRASILEIRO

No Brasil, a dignidade da pessoa humana tornou-se um dos fundamentos da Carta Magna (BRASIL, 1988), em seu artigo 1º:

Art. 1º A República Federativa do Brasil, formada pela união indissolúvel dos Estados e Municípios e do Distrito Federal, constitui em Estado democrático de direito e tem como fundamentos:

[...]

III – a dignidade da pessoa humana; [...]

Zisman (2005, p.23), declara que quando a dignidade é o fundamento do Estado Democrático de Direito, tal fato é visto também como fonte ética para direitos e garantias sociais e culturais.

Por ser um dos fundamentos da Constituição, este princípio é a base para outros artigos, como o artigo 3º (BRASIL, 1988):

Art. 3º. Constituem objetivos fundamentais da República Federativa do Brasil: [...]

III- erradicar a pobreza e a marginalização e reduzir as desigualdades sociais e regionais

IV- promover o bem de todos, sem preconceitos de origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras formas de discriminação.

Este princípio, não é citado apenas no Titulo I, que menciona os Princípios Fundamentais, mas também no artigo 5º, caput, em realidades são decorrências da dignidade humana:

Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes. Como nos Diretos Sociais, artigo 6º (BRASIL, 1988), que, na verdade, são formas de promoção de dignidade:

Art. 6º São direitos sociais a educação, a saúde, o trabalho, a moradia, o lazer, a segurança, a previdência social, a proteção à maternidade, e à infância, a assistência aos desamparados, na forma desta Constituição.

E ainda, para garantir a punição daquele que violar a dignidade da pessoa humana, a Carta Magna, prevê o IDC (incidente de deslocamento de competência), que permite o deslocamento da competência em qualquer fase da investigação ou do processo, quando se tratar de violações dos direitos humanos, conforme disposto no artigo 109, § 5º:

Art. 109. Aos juízes federais compete processar e julgar:

§5º Nas hipóteses de grave violação de direitos humanos, o Procurador-Geral da República, com a finalidade de assegurar o cumprimento de obrigações decorrentes

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de tratados internacionais de direitos humanos dos quais o Brasil seja parte, poderá suscitar, perante o Superior Tribunal de Justiça, em qualquer fase do inquérito ou processo, incidente de deslocamento de competência para Justiça Federal.

É também base para outros títulos da Carta Magna, como por exemplo, o Título VII, que trata Da Ordem Econômica e Financeira, em seu artigo 170 (BRASIL, 1988):

Art. 170. A ordem econômica, fundada na valorização do trabalho humano e na livre iniciativa, tem por fim assegurar a todos existência digna, conforme os ditames da justiça social, observados os seguintes princípios:

[...]

VII – redução das desigualdades regionais e sociais; [...]

Não há dúvidas quanto à finalidade do princípio da dignidade humana, que visa preservar o homem, com a garantia de uma vida digna, porém, “para começar a respeitar a dignidade da pessoa humana tem-se de assegurar concretamente os direitos sociais” (NUNES, 2002, p. 51).

O Brasil foi julgado na Corte Interamericana de Direitos Humanos, por não garantir o respeito à dignidade de suas mulheres, cuja condenação resultou na Lei 11.340, conhecida como Lei Maria da Penha, porém antes desta condenação o Estado brasileiro já havia sido condenado no caso Damião Ximenes, e recentemente foi novamente condenado pelas chacinas ocorridas na favela Nova Brasília, no estado do Rio de Janeiro.

Desta forma, como se demonstrará no decorrer do trabalho, o Brasil pode, novamente, sofrer condenações internacionais, por permitir a violação da dignidade humana das pessoas em situação de rua.

2.6 VIOLAÇÃO DA DIGNIDADE DA PESSOA HUMANA EM TERRITÓRIO BRASILEIRO

O Brasil já sofreu três condenações nas cortes Interamericanas, por não garantir aos seus cidadãos o respeito aos direitos humanos, direito este que serve de base para o ordenamento jurídico não só brasileiro, mas sim garantido em Tratados Internacionais.

Destas condenações surgiram obrigações do Estado para promover o respeito à dignidade da pessoa humana, e que casos de desrespeito sejam tratados de maneira eficaz, que não se torne apenas mais um caso para as estatísticas de violência no país.

Estas condenações mostram que o Brasil vem desrespeitando a dignidade da pessoa humana reiteradamente, e que poderá sofrer futuras condenações, pois infelizmente o que a

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mídia nos mostra é em algumas situações o descaso do Estado com seu povo, e com os moradores de rua isto se torna ainda mais evidente.

Não surpreenderia se o Brasil estivesse no banco dos réus em algum caso de violência aos direitos humanos da população em situação de rua, algumas histórias contadas no último capítulo, são tão indignantes quanto as que já fizeram o Estado Brasileiro ser considerado culpado.

2.6.1 Caso Maria da Penha

Um dos casos de desrespeito à dignidade da pessoa humana ocorrido no Brasil foi a da farmacêutica Maria da Penha Maia Fernandes, uma situação de violência doméstica que teve seu auge no ano de 1983, quando seu esposo lhe desferiu um tiro de espingarda que atingiu sua coluna e a deixou paraplégica.

Este caso ficou conhecido pela demora da justiça, pois somente após oito anos do acontecimento, seu companheiro foi levado a júri popular, mas não foi preso, pois sua defesa recorreu e conseguiu um novo julgamento, sendo assim foi preso em setembro de 2002, quase vinte anos após a agressão, e ficou apenas dois anos preso.

2.6.1.1 A Lei 11.340 de 2006

Em 07 de agosto de 2006, foi criada a Lei nº 11.340, que recebeu o nome de Lei Maria da Penha, uma homenagem a esta senhora, conforme explica Rogério Sanches e Ronaldo Batista Pinto:

“O motivo que levou a lei ser “batizada com esse nome, pelo qual, irreversivelmente, passou a ser conhecida, remonta ao ano de 1983. No dia 29 de Maio desse ano, na cidade de Fortaleza, no Estado do Ceará, a farmacêutica Maria da Penha Maia Fernandes, enquanto dormia, foi atingida por um tiro de espingarda desferido por seu então marido, o economista M.A.H.V, colombiano de origem e naturalizado brasileiro. Em razão desse tiro, que atingiu a vítima em sua coluna, destruindo a terceira e quarta vértebras, suportou lesões que deixaram-na paraplégica.[...]Mas as agressões não se limitaram ao dia 29 de maio de 1983. Passada pouco mais de uma semana, quando já retornara para sua casa, a vítima sofreu novo ataque do marido. Desta feita, quando se banhava, recebeu uma descarga elétrica que, segundo o autor, não seria capaz de produzir-lhe qualquer lesão.” [...] (CUNHA; PINTO 2009, p 21) A Lei Maria da Penha foi resultado de tratados internacionais, que o Brasil firmou, na Convenção sobre a eliminação de todas as formas de discriminação contra a mulher (CEDAW), conhecida como a Lei internacional dos Direitos da mulher e a Convenção Internacional para

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prevenir, punir e erradicar a violência contra à mulher, conhecida como “Convenção de Belém do Pará”.

Cunha explica:

“O primeiro movimento adotado pela União Federal com o intuito de combater a violência contra à mulher foi a ratificação de CEDAW, feita pelo Congresso Nacional em 1º de fevereiro de 1984. Como nesta data ainda não havia sido promulgada a Constituição da República Federativa do Brasil de 1988, a qual prevê igualdade entre homens e mulheres, houve algumas reservas; contudo, com o reflexo da nova Constituição, o governo brasileiro retirou as reservas, ratificando plenamente toda a Convenção através do Decreto Legislativo nº26/1994, que foi promulgada pelo Presidente da República por meio do Decreto nº4.377/2002.[...] O segundo movimento realizado no Brasil neste sentido foi a ratificação da Convenção Interamericana para Prevenir, punir e erradicar a Violência contra à mulher – conhecida como “Convenção de Belém do Pará”, realizada em Belém do Pará e adotada pela Assembleia Geral da Organização dos Estados Americanos – OEA em 6 de junho de 1994, sendo ratificada pelo Brasil em 27 de novembro de 1995 através do Decreto Legislativo nº107/1995 e promulgado pelo Presidente da República por meio do Decreto nº1.973/1996.” (CUNHA, 2009, p 121)

Milhares de mulheres sofrem violência doméstica há anos no Brasil, mas foi necessária uma interferência internacional, após uma grande tragédia, para que o Poder Legislativo criasse uma lei que combatesse não apenas a violência doméstica, mas que garantisse o direito à dignidade dessas vítimas, pois a violência é uma grande afronta a dignidade da pessoa humana.

2.6.2 Caso Damião Ximenes Lopes

A primeira condenação internacional que o Estado Brasileiro sofreu por não garantir o direito à vida, foi o caso de Damião Ximenes Lopes.

Damião era um rapaz com doença mental e no dia 04 de outubro de 1999 faleceu, dois dias após estar internado na instituição psiquiátrica Casa de Repouso Guararapes em Sobral (CE).

Após ser internado na referida casa de repouso, Damião foi contido, amarrado e espancado, no dia seguinte, sua mãe foi visita-lo e se deparou com o filho amarrado, sujo de sangue, vestimentas rasgadas e com diversas escoriações. A mãe procurou o médico responsável para entender o que havia acontecido com seu filho, porém o médico sem ao menos o examinar receitou alguns remédios e se ausentou da clínica, não ficando médico responsável algum para os pacientes, duas horas depois, Damião veio a falecer.

Daí em diante, começou a batalha de sua família para punir os culpados pela morte de Damião, após mais de sete anos, simplesmente não havia quaisquer condenações tanto na esfera criminal, quanto na cível, porém sua família resolveu levar o caso até as cortes internacionais.

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Seria este mais um caso de dramas pessoais e familiares olvidados pela lentidão e inépcia da máquina judicial pública. Eis que surgiu, no plano internacional, a esperança de justiça que as instâncias internas negaram à família e à memória de Damião Ximenes Lopes: foi publicada a primeira sentença de mérito da Corte Interamericana de Direitos Humanos contra o Brasil, declarando a violação de vários direitos da Convenção Americana de Direitos Humanos (Pacto de San José) e condenando o Estado a reparar os danos causados.

Para que se chegasse a tal sentença, foi necessária a superação de várias etapas. Com efeito, após petição dos familiares e da Justiça Global à Comissão Interamericana de Direitos Humanos (sede em Washington), foi aberto procedimento contra o Brasil na comissão e seu informe conclusivo (1º Informe) não foi cumprido pelo Estado. Sendo assim, a comissão processou o Estado brasileiro perante a Corte Interamericana de Direitos Humanos. A corte, em um primeiro momento, não acolheu a alegação do Estado brasileiro de extinção do processo sem julgamento de mérito, por não terem sido esgotados os recursos internos disponíveis.(RAMOS, 2006)

2.6.2.1 Brasil sofre primeira Condenação Internacional

O Brasil até tentou se eximir da culpa, alegando que ainda não havia esgotados todos os recursos internos para a resolução do caso, pedindo assim a extinção do processo sem resolução de mérito, porém a Corte não aceitou tal alegação e resolveu dar seguimento ao processo.

Esperar o esgotamento (trânsito em julgado) de tais ações em curso no Poder Judiciário do Ceará poderia implicar em mais uma dezena de anos sem justiça. Bem decidiu a corte, então, em prosseguir no julgamento do caso. Por outro lado, o Brasil reconheceu parcialmente sua responsabilidade internacional por violação dos direitos à vida (artigo 4º da Convenção Americana de Direitos Humanos) e integridade física (artigo 5º) de Damião. Negou-se, todavia, a reconhecer a violação do direito à integridade psíquica dos familiares da vítima e tampouco o direito à reparação dos danos materiais e morais. (RAMOS, 2006).

Esta, além de ser a primeira condenação internacional do Brasil por infringir os direitos humanos, segundo Ramos é também a primeira em que a Corte analisou violação de direitos humanos contra pessoas com doença mental, para ele:

Esta sentença, além de ser a primeira de mérito contra o Brasil, é também a primeira na qual a corte analisou violações de direitos humanos de pessoa com doença mental. Por isso, a corte considerou que os deveres genéricos dos Estados de respeito e garantia dos direitos previstos no Pacto de San José (ver artigos 1º e 2º) concretizam, no caso das pessoas com deficiência, os deveres de cuidar, regular e fiscalizar. Logo, a corte determinou que não basta que os Estados se abstenham de violar os direitos, mas que é essencial que implementem "medidas positivas", que devem ser adotadas em função das necessidades particulares de proteção do indivíduo. (RAMOS, 2006). Assim, em 04 de julho de 2006, por sete votos a zero, sai à histórica decisão, condenando o Brasil pela violação do direito à vida e integridade física de Damião Ximenes Lopes.

Uma das medidas que o Brasil adotou foi à inclusão do §5º no artigo 109 da Constituição Federal, por meio emenda nº 45 de 8/12/2004, que prevê o Incidente de Deslocamento de Competência, quando se tratar de casos em que desrespeite dos direitos humanos.

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2.6.3 Caso Nova Brasília

Em 18 outubro de 1994, na favela Nova Brasília, situada no complexo do Alemão, as policias civis e militares com a ajuda de um helicóptero adentraram na comunidade para combater o tráfico de drogas, neste dia, treze jovens, na maioria negros, foram executados e três mulheres, sendo duas adolescentes, foram violentadas sexualmente.

Em 14 de novembro de 1994, após a instauração de uma sindicância para apurar os fatos, foi apurado indícios de execuções dos jovens e provas da violência sexual e tortura das jovens. No ano de 1995, na mesma comunidade, houve uma denúncia de tráfico de drogas e, mais uma vez a polícia adentrou na favela, porém com a ajuda de dois helicópteros, e no dia 08 de maio de 1995, aconteceu a segunda chacina, mais treze jovens foram executados.

Participaram nestas duas operações, cerca de 120 policiais, os homicídios foram registrados como confrontos e autos de resistência, o que isentou os policiais de quaisquer responsabilidades.

Os inquéritos relacionados às duas chacinas foram enviados ao Ministério Público do Rio de Janeiro (MPRJ) e arquivados. Atendendo à recomendação da Comissão Interamericana de Direitos Humanos, também órgão da OEA, o MPRJ desarquivou em 2012 o inquérito da chacina de 1995 e, no ano seguinte, o do caso anterior. Em maio de 2013, o MPRJ denunciou seis policiais – quatro civis e dois militares – pelas 13 mortes de 1994. Em 2015, o MP arquivou o inquérito sobre a chacina de 1995, por entender que as mortes foram decorrentes de tiroteio.(EBC AGÊNCIA BRASIL, 2017).

Desta forma, em maio de 2015, chega à Corte Interamericana de Direitos Humanos (IDH), depois de 15 anos tramitando na Comissão Interamericana de Direitos Humanos.

2.6.3.1 A mais recente Condenação Internacional do Brasil

O governo brasileiro terá, até o dia 11 de maio de 2018, para reabrir as investigações das duas chacinas, indenizar as famílias das vítimas e implantar políticas públicas que visem investigar com severidade casos semelhantes.

Na sentença, ficou decidido:

A sentença da OEA destaca que não houve imparcialidade nas investigações. Diz também que, “antes de investigar e corroborar a conduta policial, em muitas das

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investigações, realiza-se uma investigação a respeito do perfil da vítima falecida e encerra-se a investigação por considerar que era um possível criminoso”.

A Corte Interamericana ordenou ao Estado brasileiro que conduza de forma eficaz a investigação sobre os fatos ocorridos na chacina de 1994, visando a identificar e punir os responsáveis, o mesmo sucedendo em relação à incursão policial naquela favela, em 1995. Nos dois procedimentos, ressaltou que os familiares das vítimas devem ter assegurado “o pleno acesso e a capacidade de agir” em todas as etapas da investigação. Cabe também ao Estado brasileiro avaliar se os fatos ligados às duas chacinas devem ser deslocados para a competência da Justiça Federal, por intermédio do procurador-geral da República. As autoridades nacionais devem ainda incluir perspectiva de gênero nas investigações e nos processos penais relativos às acusações de violência sexual, com a condução de linhas de investigação específicas por funcionários capacitados em casos similares. Todas as pessoas envolvidas, incluindo encarregados da investigação e do processo penal, testemunhas, peritos e familiares das vítimas têm de ter a segurança garantida. (EBC AGÊNCIA BRASIL, 2017).

Além de outras medidas:

Entre as políticas públicas ordenadas para garantir o aumento da eficiência das investigações e responsabilização de agentes do Estado pelas violações de direitos humanos, a decisão da Corte é para que, em casos em que policiais apareçam como possíveis acusados, a investigação seja delegada a um órgão independente e fora da força policial envolvida no incidente.

As expressões oposição e resistência devem ser retiradas dos registros de homicídios resultantes de intervenção policial. Os autos de resistência devem ser eliminados como forma de registro e procedimento. O governo brasileiro deve adotar medidas que permitam que vítimas de delitos ou seus familiares participem de maneira efetiva e formal da investigação criminal efetuada pela polícia ou pelo Ministério Público. Outra ordem é no sentido de o governo estabelecer metas e políticas de redução da letalidade e da violência policial, em especial no estado do Rio de Janeiro, além de publicar um relatório anual com dados referentes às mortes resultantes de operações policiais em todos os estados do país. O Brasil terá, ainda, de realizar um ato público de reconhecimento de responsabilidade internacional pelas mortes e pelo abuso sexual para as famílias e as vítimas, uma vez que já reconheceu os fatos perante a Corte. Terá também de pagar indenização compensatória no prazo de 12 meses para cerca de 80 pessoas. O valor da indenização é estimado em torno de US$ 2,5 milhões [cerca de R$ 7,7 milhões]. (EBC AGÊNCIA BRASIL, 2017).

Fica claro que a intenção desta condenação não foi apenas de reparação das vítimas, mas também que casos como estes não ocorram mais, além de haver uma investigação competente e que puna os culpados para que se chegue em um estado realmente de direito.

E, finalizando, toda a passagem que se fez pelas demandas internacionais que o Brasil figurou como réu, foi, para alertar o que se abordará adiante, no sentido de demonstrar que a República Federativa do Brasil pode voltar a ser ré perante as Cortes Internacionais de Direitos Humanos, se os casos que se passará a tratar chegarem à jurisdição humanitária internacional.

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3 MORADORES DE RUA, QUEM SÃO ESSES MARGINALIZADOS? OS EXCLUÍDOS HUMANOS!

Foi somente após o I Encontro Nacional sobre População em Situação de Rua, no ano de 2005, que o Estado realmente começou a enxergar essa população. Tal encontro ocorreu entre a Secretaria Nacional de Assistência Social com movimentos sociais representativos desse segmento social.

Após esse encontro, ficou definido como prioridade um estudo sobre estas pessoas para poder se quantificar e compreender a característica socioeconômica dessa população, a fim de se iniciar projetos de políticas públicas direcionada a este público.

Tal estudo se deu início em agosto de 2007 a março de 2008, através de uma Pesquisa Nacional, após um acordo de cooperação assinado entre a Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO) e o Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome (MDS).

O público desta pesquisa foi composto por pessoas com 18 anos ou mais vivendo em situação de rua. O levantamento abrangeu um conjunto de 71 cidades brasileiras. Desse total, fizeram parte 48 municípios com mais de 300 mil habitantes e 23 capitais, independentemente de seu porte populacional. Entre as capitais brasileiras não foram pesquisadas São Paulo, Belo Horizonte e Recife, que haviam realizado pesquisas semelhantes em anos recentes, e nem Porto Alegre que solicitou sua exclusão da amostra por estar conduzindo uma pesquisa de iniciativa municipal simultaneamente ao estudo contratado pelo MDS.(Pesquisa Nacional sobre a População em Situação de Rua, 2008).

De acordo com a pesquisa, estima-se um contingente de 31.922 adultos em situação de rua, somente nos 71 municípios pesquisados.

Foi após este estudo que, no ano de 2009, através de um Decreto nº 7.053, que o então Presidente da República Luiz Inácio Lila da Silva, instituiu uma Política Nacional para a População em Situação de Rua, tal decreto entrou em vigor a partir de 23 de dezembro de 2009.

3.1 ASPECTOS PARA A COMPREENSÃO DOS MORADORES DE RUA

Segundo a pesquisa encomendada pelo MDS, 82% desta população é formada por homens e que 53% tem idade entre 25 e 44 anos, relembrando que foram entrevistados apenas maiores de 18 anos.

Porém é uma pesquisa que não demonstra por inteiro tal população, pois se sabe que existem muitas crianças e adolescentes também em situação de rua, além da pesquisa não abranger todos os municípios brasileiros.

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Mas, antes de apenas quantificar essa população é preciso entender que estas pessoas estão nesta situação por algum motivo, sejam por problemas com drogas, desavenças familiares, desemprego ou até porque já nasceram nessa situação.

Segundo o Decreto nº 7.053/09 (BRASIL, 2009), artigo 1º, parágrafo único, considera-se população em situação de rua:

Parágrafo único. Para fins deste Decreto, considera-se população em situação de rua o grupo populacional heterogêneo que possui em comum a pobreza extrema, os vínculos familiares interrompidos ou fragilizados e a inexistência de moradia convencional regular, e que utiliza os logradouros públicos e as áreas degradadas como espaço de moradia e de sustento, de forma temporária ou permanente, bem como as unidades de acolhimento para pernoite temporário ou como moradia provisória.

É importante compreender que são seres humanos que possuem histórias, cultura, necessidades e sonhos. Na maioria das vezes não estão em tal situação por livre escolha, pode-se dizer que são:

(...) Homens, mulheres, jovens, famílias inteiras, grupos, que têm em sua trajetória a referência de ter realizado alguma atividade laboral, que foi importante na constituição de suas identidades sociais. Com o tempo algum infortúnio atingiu as suas vidas, seja perda de emprego, seja o rompimento de algum laço afetivo, fazendo com que aos poucos fossem perdendo a perspectiva de projeto de vida, passando a utilizar o espaço da rua como sobrevivência e moradia. (COSTA, 2005, p.3)

Por conseguinte, é de claro entendimento que muitas destas pessoas encontram-se em tal situação, devido à tamanha desigualdade social que vivenciamos em nosso país, pois essa população, simplesmente, não possui condições mínimas de manter suas necessidades básicas.

3.1.1 Formação Escolar

A pesquisa também apontou a formação escolar destas pessoas, apesar de mais da metade saber ler e escrever, são pouquíssimos os que estavam frequentando algum curso, seja de ensino formal ou profissionalizante, segundo a pesquisa, 95% dos entrevistados não estavam estudando e apenas 3,8 estavam fazendo algum curso (2,1% curso formal e 1,7% curso profissionalizante).

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Fonte: Gráfico elaborado por Samanta da Cruz Costa, em junho de 2017, tendo como referência a Pesquisa Nacional sobre a População em Situação de Rua, 2008.

Levando-se em consideração que tal pesquisa ocorreu a quase 10 anos, que não pesquisou crianças e jovens e não foi realizada em todos os municípios do país, ainda, assim é lamentável que tal população não possua acesso à educação, um direito social previsto na CRFB/88:

Art. 6º São direitos sociais a educação, a saúde, a alimentação, o trabalho, a moradia, o transporte, o lazer, a segurança, a previdência social, a proteção à maternidade e à infância, a assistência aos desamparados, na forma desta Constituição (BRASIL, 1988).

O artigo supracitado, além de garantir educação, invoca direitos sociais aos desamparados, porém o que se vê são pessoas sem o mínimo de condições para frequentar uma escola, pois não têm, nem sequer, saúde e alimentação dignas.

Porém é de extrema importância que estas pessoas consigam, além dos direitos básicos para sobrevivência digna, acesso à educação, pois, somente, assim, que se pode ter esperança para que tal situação mude, afinal, desta forma poderiam se encaixar no mercado de trabalho formal.

3.1.2 Trabalho e Renda

De acordo com a pesquisa, grande parte da população em situação de rua, é composta por trabalhadores, 70,9% exercem alguma atividade remunerada. Porém a maior parte dos

Gráfico 1 - Formação Escolar

74% - Sabem ler e escrever 17,1% - Não sabem escrever

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trabalhos realizados é na chamada economia informal: apenas 1,9% afirmaram estar trabalhando com carteira assinada.

É gritante tamanho déficit de emprego nesse segmento populacional, infelizmente, isso se dá pela falta de um endereço fixo - um comprovante de residência.

Fonte: Gráfico elaborado por Samanta da Cruz Costa, em junho de 2017, tendo como referência a Pesquisa Nacional sobre a População em Situação de Rua, 2008.

Somente 15,7% desta população não trabalha, e vive de ajuda das pessoas – esmolas, desta forma pode-se afirmar que a grande maioria dessa população não é de mendigos e pedintes, mas, sim, de pessoas que trabalham para garantir seu sustento.

A acumulação capitalista se reproduz com a existência de pessoas que não são envolvidas no processo de produção (diretamente), servindo a manutenção da demanda/oferta de trabalho e o controle de salários. Dessa maneira a ‘situação de rua’ surge no contexto da pauperização generalizada ocorrida na Europa, no século XVIII, fruto da ‘questão social’. [...] O problema do desemprego ou da falta de trabalho com remuneração que atenda minimamente as necessidades das pessoas trabalhadoras (e de suas famílias) é um fator que influencia a situação de rua. (BESSA, 2009, p. 84 – 8).

De acordo com a pesquisa, 58,6% dos entrevistados possuem uma profissão, isso demonstra que são pessoas que podem retornar à vida em sociedade de forma digna, trabalhando para garantir seu sustento, precisando apenas, de oportunidades.

A Constituição Brasileira prevê, em seu artigo 203:

Gráfico 2 - Fonte de Renda

27,5% - Catadores de materiais recicláveis 14,1% - Flanelinhas

6,3% - Construção Civil 4,2% - Limpeza

3,1% - Carregador/Estivador 15,7% - Pedem Dinheiro

4,4% - Comércio 4,4% - Trabalho Doméstico

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Art. 203. A assistência social será prestada a quem dela necessitar, independentemente de contribuição à seguridade social, e tem por objetivos:

[...]

III - a promoção da integração ao mercado de trabalho; [...] (BRASIL, 1988)

A pesquisa mostra que 85% dos entrevistados afirmam não receber qualquer benefício assistencial do Estado.

Alguns dos objetivos do Decreto nº 7.053, mencionado acima, é garantir formação e trabalho para essa população:

Art. 7o São objetivos da Política Nacional para a População em Situação de Rua: I - assegurar o acesso amplo, simplificado e seguro aos serviços e programas que integram as políticas públicas de saúde, educação, previdência, assistência social, moradia, segurança, cultura, esporte, lazer, trabalho e renda;

[...]

IX - proporcionar o acesso das pessoas em situação de rua aos benefícios previdenciários e assistenciais e aos programas de transferência de renda, na forma da legislação específica;

[...]

XIV - disponibilizar programas de qualificação profissional para as pessoas em situação de rua, com o objetivo de propiciar o seu acesso ao mercado de trabalho.(BRASIL, 2009)

Observa-se que há políticas públicas por incentivo da União, porém esses direitos para serem garantidos, precisam do incentivo dos outros entes federativos e da sociedade.

3.2 MORADORES DE RUA E A SOCIEDADE

Moradores de rua são vistos em praticamente quase todo território nacional, isso mostra tamanha desigualdade social que nosso país vivencia até os dias atuais, infelizmente, a população em situação de rua vem crescendo cada dia mais.

É dever do Estado promover políticas públicas para combater esta extrema pobreza, mas também cabe à sociedade, como é o caso das pessoas que se dedicam à manutenção de “casas” para acolhimento das pessoas em situação de rua, ter o mínimo de compaixão, pois está-se a falar de seres humanos que perderam suas famílias para as drogas, miséria, fome, desemprego, entre outros, e até mesmo pessoas que nunca tiveram sequer um teto para chamar de lar.

Segundo Pasold (2003), o Estado deve ter o compromisso de buscar o Bem Comum, compreendendo este, além da satisfação das necessidades materiais, a dimensão do respeito aos Valores Fundamentais da Pessoa Humana.

Para ele:

O Estado Contemporâneo encontra-se num contexto de vida social cuja principal característica é a disparidade de condições entre os homens.

De um lado os avanços tecnológicos – justo motivo de orgulho para a inteligência humana – beneficiando parcelas da humanidade; do outro, as condições de miséria,

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fome, doenças, falta de acesso à educação formal, e, em muitos locais, restrições à liberdade e delimitação do exercício da igualdade de possibilidades. (PASOLD, 2003, p. 86).

O Decreto 7.053/09 impõe a formação de um Comitê Intersetorial de Acompanhamento e Monitoramento da Política Nacional para a População em Situação de Rua, dentre os representantes fazem parte também a sociedade civil.

Art. 9º Fica instituído o Comitê Intersetorial de Acompanhamento e Monitoramento da Política Nacional para a População em Situação de Rua, integrado por representantes da sociedade civil e por um representante e respectivo suplente de cada órgão a seguir descrito:

I - Secretaria Especial dos Direitos Humanos da Presidência da República, que o coordenará;

II - Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome; III - Ministério da Justiça;

IV - Ministério da Saúde; V - Ministério da Educação; VI - Ministério das Cidades;

VII - Ministério do Trabalho e Emprego; VIII - Ministério dos Esportes; e

IX - Ministério da Cultura.

§ 1o A sociedade civil terá nove representantes, titulares e suplentes, sendo cinco de organizações de âmbito nacional da população em situação de rua e quatro de entidades que tenham como finalidade o trabalho com a população em situação de rua. (BRASIL, 2009).

É lamentável que em um país com tantas riquezas, ainda existem pessoas morrendo de frio e fome, um país com uma população tão amorosa e receptiva com os turistas estrangeiros que aqui nos visitam, não consigam enxergar que seus irmãos patriotas necessitam não só de um prato de comida e um cobertor, mas precisam ser compreendidos, ter amigos, e principalmente serem respeitados.

3.2.1 Razões da ida para as ruas

De acordo com a pesquisa, esses moradores fazem das ruas seu lar por variados fatores, como problemas com drogas, com a família, desemprego e, inclusive, existem pessoas que já nasceram na rua e não tiveram a experiência de ter um lar.

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