Classificação Topológica de Sistemas de Controle
Oficina de Tendências Dinâmicas - Imecc/Unicamp 2015
Thiago Ferraiol
Universidade Estadual de Maringá
Um problema simples de controle
u θ mg mg sen θ Figura:Pêndulo mg ¨θ(t) + mg sen θ(t) = u(t) (1) m = massa g = aceleração da gravidade u = torque (função de controle)Linearizando (sen θ ≈ θ), fazendo a mu-dança ϕ = θ − π, e reescalonando ficamos com ¨ ϕ(t) − ϕ(t) = u(t) (2) Pondo x (t) =ϕ ˙ ϕ ficamos com: ˙ x (t) = Ax (t) + Bu(t) (3) onde A =0 1 1 0 = B =0 1
O que é um sistema de controle?
X : M × Rm→ TM, Xu:= X (·, u) : M → TM,
U ⊂ L1loc(R, U).
Um sistema de controle Σ é uma família de equações diferenciais
Σ : ˙x (t) = X (x (t), u(t)), u ∈ U (4)
Para cada u ∈ U e condição inicial x (0) = x0, denotamos a solução (trajetória do
sistema) por
ϕ(t) = ϕ(t, x0, u) (5)
˙
ϕ(t) = X (ϕ(t), u(t)), ϕ(0) = x0
O conjunto das trajetórias do sistema é definido por
Solução no sentido de Carathéodory
Considere a equação diferencial na forma ˙
x (t) = f (t, x (t)) (7)
onde f : I × D → Rn, é uma função satisfazendo I f (·, x ) é mensurável para cada x ∈ D ⊂ Rn;
I f (t, ·) é contínua para cada t ∈ I ⊂ R;
f é chamada de função de Carathéodory.
Definição (Solução de Carathéodory)
Uma solução de (7) com condição inicial x (t0) = x0 é uma curva absolutamente
contínua ϕ : J ⊂ I → Rnque para todo t num intervalo contendo t 0satisfaz
ϕ(t) = x0+
Z t t0
Teorema de Existência e Unicidade
Teorema
Considere ˙x = f (t, x ) com f de Carathéodory e suponha que para cada x0∈ D fixado
existem δ > 0 e α, β ∈ L1
loc(I , R>0) tais que I kf (t, x0)k ≤ α(t), para quase todo t ∈ I
I kf (t, x) − f (t, y )k ≤ β(t)kx − y k, para todo t ∈ I e x, y ∈ Bδ(x0)
Então a equação diferencial com condição inicial ˙
x (t) = f (t, x (t)), x (t0) = x0
O problema
Dados dois sistemas de controle Σ1 e Σ2, cujas famílias de trajetória são Γ1 e Γ2,
queremos saber quando existe um homeomorfismo, difeomorfismo ou isomorfismo h : M → M tal que
ϕ ∈ Γ1⇔ h ◦ ϕ ∈ Γ2
Em outras palavras:
h deve levar trajetórias do sistema Σ1 em trajetórias do sistema Σ2e vice-versa.
Quando existe tal h dizemos que os sistemas são topologicamente (∼T),
Conjugação de sistemas de EDOs lineares
ΣA: ˙x = Ax , ϕtA: R
n→ Rnfluxo do sistema
Dois sistemas de EDOs, ΣA e ΣB, são conjugados se existe uma bijeção h : Rn→ Rn
tal que h ◦ ϕt A= ϕ t B◦ h h x ϕt A(x ) y = h(x ) ϕt B(y ) = h ◦ ϕtA(x )
Nestes casos dizemos que os sistemas são (topologicamente, diferenciavelmente, linear-mente) conjugados e denotamos a relação por
Classificação de sistemas de EDOs lineares
I Σi : ˙x = Aix , i = 1, 2 dois sistemas lineares.
Teorema (Classificação diferenciável/linear)
São equivalentes:i. Σ1∼DΣ2;
ii. Σ1∼LΣ2;
iii. As matrizes A1 e A2são semelhantes.
I L+ i , L
−
i e Li os subespaços estável, instável e central de Ai; I pi+, pie p−i as dimensões desses subespaços;
I s(Ai) = (pi+, pi−, pi) a inércia de Ai.
Teorema (Classificação topológica)
Sistemas de controles lineares
Σ(A, B) : ˙x = Ax + Bu, u ∈ L1 loc(R, R
m) (8)
é um sistema de controle linear, onde
I A ∈ Mn×n, B ∈ Mn×m são matrizes que definem o sistema I u é uma função de controle
As trajetórias do sistema são dadas por curvas da forma
ϕ(t) = ϕ(t, x0, u) = eAtx0+
Zt 0
Controlabilidade
I x ∈ Rnéatingível a partir de x0se existem um controle u ∈ U e um instante
t > 0 tal que ϕ(t, x0, u) = x
I R conjunto de atingibilidade (a partir da origem)
R = {x ∈ Rn| ∃t > 0, u ∈ U t.q. x = Z t
0
eA(t−τ )Bu(τ ) d τ } (10)
I R é um subespaço vetorial chamado de subespaço controlável do par (A, B)
Proposição
R é o menor subespaço de Rnque contém B = im(B) e é invariante por A. Isto é
R = hA | Bi = B + AB + A2B + · · · + An−1B.
Índices de Kronecker
I Ri= B + AB + · · · + Ai −1B subespaços de Kalmann I li= dim Ri/Ri −1
I l1≥ l2≥ · · · ≥ lnePni =1li= dim R I ki = quantidade de lj’s maiores ou iguais à i I k1≥ k2≥ · · · ≥ kmePmi =1ki = dim R
(l1, l2, ..., ln) e (k1, k2, ..., km) são partições duais da dim R
l5= 1 l4= 2 l3= 2 l2= 4 l1= 6 k1= 5 k2= 4 k3= 2 k4= 2 k5= 1 k6= 1 15
Feedback equivalência
Mudanças do controle: F : Rn→ Rmlinear altera o controle para
u(t) = Fx (t) + v (t)
O sistema Σ(A, B) fica então ˙x = Ax + B(Fx + v ) = (A + BF )x + Bv . Ou seja, ocorre a mudança
(A, B) ↔ (A + BF , B)
Mudança de base: T : Rn→ Rne G : Rm→ Rmisomorfismos alteram as matrizes
(A, B) ↔ (TAT−1, TBT−1) e (A, B) ↔ (A, BG )
Proposição
Mudanças de feedback preservam os subespaços de Kalmann:
I Ri(A + BF , B) = Ri(A, B) I Ri(TAT−1, TBG ) = Ri(A, B)
Equivalência Linear
Corolário
Sejam Σ1e Σ2 dois sistemas controláveis. Então
Forma canônica
Todo sistema (A, B) é equivalente por feedback (e linearmente conjugado) a um sistema ( ˜A, ˜B) em que ˜ A :=Ac 0 0 D , B :=˜ Bc 0 Ac:= A1 0 · · · 0 0 A2 · · · 0 . . . . . . . .. ... 0 0 · · · Am Bc:= b1 0 · · · 0 0 · · · 0 0 b2 · · · 0 0 · · · 0 . . . . . . . .. ... . . . . . . 0 0 · · · bm 0 · · · 0 Ai:= 0 1 0 · · · 0 0 0 1 · · · 0 . . . . . . . . . . .. ... 0 0 0 · · · 1 0 0 0 · · · 0 ki×ki , bi := 0 0 . . . 0 1 ki×1
Classificação topológica (caso controlável)
Teorema
Sejam Σi : ˙x = Aix + Biu, i = 1, 2, dois sistemas de controle linear controláveis.
Então são equivalentes:
i. Σ1e Σ2 tem os mesmos índices de Kronecker
ii. Σ1∼LΣ2
iii. Σ1∼DΣ2
Classificação topológica (caso geral)
Teorema
Sejam Σi : ˙x = Aix + Biu, i = 1, 2, dois sistemas de controle linear. Então
a. Σ1∼LΣ2⇐⇒ Σ1∼DΣ2⇐⇒
I (A1, B1) e (A2, B2) tem os mesmos índices de Kronecker e I A1/R1e A2/R2são semelhantes
b. Σ1∼TΣ2se, e somente se,
I (A1, B1) e (A2, B2) tem os mesmos índices de Kronecker, I s(A1/R1) = s(A2/R2) e
I (A1/R1)|L1 e (A2/R2)|L2 são semelhantes (Li é o subespaço central de
Lema (Principal)
Σ1∼TΣ2com conjugação h ⇒ h(x + Ri1) = h(x ) + Ri2 ∀x ∈ Rne i = 1, 2, ...
Lema
x ∈ B = im(B) ⇔ ∃M < ∞ | ∀ T > 0 existe uma trajetória ϕT de Σ satisfazendo
i. kϕT(t)k ≤ M, ∀ t ∈ [0, T ]
ii. ϕT(0) = 0 e ϕT(T ) = x
Lema
Σ1∼ Σ2 com conjugação h : Rn→ Rn⇒ Σ1/V1∼ Σ2/V2com conjugação h.
Rn/V1 Rn/V2 Rn Rn π h π h
Lema (Principal)
Σ1∼TΣ2com conjugação h ⇒ h(x + Ri1) = h(x ) + Ri2 ∀x ∈ Rne i = 1, 2, ... Demonstração: x ∈ x0+B ⇔ ∃ M < ∞, {ϕT}T >0⊂ Σ t.q. kϕT(t)k < M, ϕT(0) = x0, ϕT(T ) T →0 −−−→ x Σ1∼TΣ2⇔ h(x + B1) = h(x ) + B2Repete o processo para Σ1/B1e Σ2/B2
Caso não controlável usa-se a forma canônica de Brunovsky: (A, B) ∼L( ˜A, ˜B) ˜ A :=Ac 0 0 D , B :=˜ Bc 0 ˙ x = Ax + Bu ←→ ˙x = ˜Ax + ˜Bu ←→ ( ˙ x = Acx + Bcu ˙ x = Dx
Teorema
Σi: ˙x = Aix + Biu, i = 1, 2, dois sistemas de controle linear são conjugados se, e
somente se
I (A1, B1) e (A2, B2) tem os mesmos índices de Kronecker,
Sistemas de controle lineares com controles restritos?
Sistemas de controle lineares em espaços de Banach?
Sistemas de controle não autônomos?
Referências
A. A. Agrachev and Y. Sachkov.
Control Theory from the Geometric Viewpoint. Springer, 2004.
F. Colonius and W. Kliemann. The Dynamics of Control. Birkhäuser, 2000.
J. C. Willems.
Topological classification and structural stability of linear systems. Journal of Differential Equations, Volume 35, Pages 306–318, 1980.