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GAB. DES. MANOEL SOARES MONTEIRO
ACÓRDÃO
APELAÇÃO CÍVEL N.° 007.2003.000.202-1/001
• APELANTE RELATOR : : Caixa Des. MANOEL SOARES MONTEIROSeguros S/A
• ADVOGADOS : Urbano Vitalino de Melo Neto, lzaias Bezerra do Nascimento e Marcial Duarte de Sá Filho
APELADO : Leonaldo Alves de Andrade
ADVOGADO : Welligton Alves de Andrade REMETENTE : Juízo da Comarca de Areia
AÇÃO DE INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS E
PATRIMONIAIS — Seguro de Automóvel — Não
pagamento do valor segurado quando da ocorrência do sinistro — Procedência parcial - Condenação ao pagamento de indenização pelo dano material — Irresignação da seguradora — Agravamento do risco objeto do contrato e configuração de causa excludente
• da cobertura — lnocorrência — Prejuízo acobertado pela
• apólice — Dano patrimonial devido — lmprovimento do
recurso.
- Se o contrato cobre os riscos decorrentes da submersão total ou parcial do veículo em água doce proveniente de enchente ou inundação, verificado o sinistro em vias secundárias de livre circulação, não há como justificar o agravamento do risco, exonerando a seguradora da responsabilidade.
- Comprovado o dano material suportado pelo segurado, ante o não pagamento do valor ajustado no
• contrato, impõe-se a condenação da seguradora ao
ressarcimento dos prejuízos causados. - Improvimento do apelo.
Vistos, relatados e discutidos estes autos, antes identificados:
Acorda a Egrégia 1° Câmara Cível do Tribunal de Justiça da Paraíba, à unanimidade, em NEGAR PROVIMENTO AO APELO.
Relatório
Trata-se de Apelação Cível interposta pela Caixa Seguros S/A, contra a sentença de fls. 183/193, prolatada pelo MM. Juiz da Comarca de Areia, que julgou parcialmente procedente a Ação de Indenização por Danos Morais e Materiais n° 007.2003.000.202-1, proposta por Leonaldo Alves de Andrade, condenando a apelante ao pagamento de R$ 7.564,98 (sete mil, quinhentos e sessenta e quatro reais e noventa e oito centavos) à título de dano material, em face de haver, indevidamente, negado cobertura ao sinistro ocorrido com o automóvel do autor.
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Em suma, pugna a recorrente pela improcedência da
demanda, uma vez que a sindicância realizada pelo seu pessoal de apoio • concluiu que o apelado, quando da ocorrência do sinistro, trafegava por local não aberto à circulação de veículos, não obstante a existência de estradas asfaltadas ligando os municípios por onde viajava, fato que constituiu agravamento do risco objeto do contrato, razão da perda da sua garantia (art. 768, CC), além de caracterizar causa de exclusão da cobertura, consoante as condições gerais da avença.
Contra-razões ofertadas às fls. 222/226, suplicando pela manutenção da sentença.
Instada a se pronunciar, a Douta Procuradoria de Justiça não
-emitiu parecer.
É o relatório.
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• Voto — Des. MANOEL SOARES MONTEIRO:
O presente recurso deve ser desprovido.
Com efeito, exsurge dos autos que o apelado, então proprietário do automóvel Corsa Wagon Super, ano/modelo 1999, cor verde, placas MNY-7520/PB, celebrou contrato de seguro veicular com a apelante, avença esta que teve sua última renovação em 29/08/2003, conforme cópia da respectiva apólice (fl. 30).
Dias depois, mais precisamente em 21/09/2003, o recorrido e sua família retornavam de uma viagem com destino os povoados de Tabocas e Jurema, Município de ltatuba/PB, quando, ao atravessar uma certa quantidade de água represada ao longo da estrada que dá acesso aos aludidos lugarejos, teve seu carro invadido pelas águas, após ficar encalhado em um buraco.
Prontamente atendido pelos moradores locais e pelos demais veículos que por ali trafegavam, o apelado entrou em contato com a ré, registrando a ocorrência e solicitando o auxílio da assistência 24 (vinte e quatro)
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horas a quem tinha direito, no que foi, ressalte-se, imediatamánte atendido, havendo aquela enviado dois táxis e um caminhão guincho, para os devidos fins.
Transportado o veículo sinistrado para a Concessioná
Silveira Motors Ltda, localizada na cidade de Campina Grande/ aquele lá permaneceu aguardando a realização da perícia (24/09/0 e _a /resposta da í apelante (07/10/03), que por ser negativa, motivou a retira a e recuperação do
carro às expensas do autor. /
Agora, reconhecido o direito do promovente de ser indenizado no montante de R$ 7.564,98 (sete mil, quinhentos e sessenta e quatro reais e noventa e oito centavos), valor correspondente ao orçamento da Autoriz da Chevrolet Dão Silveira Motors LTDA (fls. 25/26), contra o qual, dest ue-se, não houve impugnação por parte da seguradora, vem esta suplicar pela r,eformulação do julgado, sob os argumentos de agravamento do risco objeto do contrato e configuração de causa excludente da cobertura, já que o recorrido, na direção do seu veículo de passeio, teria sofrido os danos ao • transitar por estrada clandestina e, portanto, não aberta ao tráfego.
• Pois bem, malgrado existência de rodovias asfaltadas ligando os Municípios de Salgado de São de Félix a ltatuba, nos termos do mapa rodoviário anexado aos autos (fls. 129/131), os povoados de Tabocas e Jurema ainda não foram agraciados com tamanho benefício, sendo os seus acessos atualmente exercidos por meio de vias secundárias, que não se confundem, entretanto, com as "estradas ou caminhos impedidos, de areia fofa ou
movediça ou não aberto ao tráfego", constante da cláusula de Exclusões,
alínea "c", das Condições Gerais do seguro contratado, como quer e pretende
fazer crer a apelante. .
Corroborando o acima asseverado, as testemunhas arroladas
-pelo autor, únicas oitivadas, foram de uma clareza ímpar. Verbis: 40
metros; (..); que o local é a única via de acesso que dá para"que conhece o local onde ocorreu o fato, pois mora a trinta
• ltatuba e ltabaiana, bem como para o sítio de Taboca e Juá;
que é do conhecimento do depoente que o autor tem
• parentes em ltaboca, cujo acesso só existia aquele, não
tendo como o mesmo ir pela BR; (..); que no mesmo dia
passou outros veículos pelo local, inclusive motos; (..)"
(Aluízio Francisco da Silva — fl. 160)
,
"que é do conhecimento do depoente que o autor tem
parentes na localidade, que moram no município de Salgado, sítio ltaboca; que para o autor se deslocar para o local onde moram seus familiares, é obrigado a passar por esse acesso; que não existe nenhum asfalto para o local onde se dirigiu o autor, pois desde que mora lá a estrada é de terra; (..)"
Osmar Alves de Lima — fl. 161)
O fato dos lugarejos habitados pelos familiares do apelado
não serem dotados de rápido e fácil acesso, por meio de BR's ou vias calçadas, não pode torná-los inacessíveis àquele, ante o temor de perda da garantia avençada, sob a alegativa de agravo intencional do risco obj to .(:) contrato ou
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trânsito em caminho não aberto ao tráfego. Muito pelo contrário, as inúmeras estradas não asfaltadas que cortam o nosso estado podem e devem continuar sendo utilizadas pelo autor e por qualquer segurado da operadora, visto que somente através do uso perene de tais vias, o Poder Público buscará os recursos necessários à implantação das melhorias.
À prevalecer o entendimento esposado pela recorrente, o livre trânsito dos seus segurados pelas regiões mais carentes do nosso estado restaria, no mínimo, mitigado, em total desrespeito aos princípios que regem as relações de consumo.
A expressão "estradas ou caminhos impedidos, de areia fofa ou movediça ou não aberto ao tráfego", em hipótese alguma, pode ser
equiparada às vias secundárias, muitas vezes divisoras entre o restrito acesso e
o total encravamento.
Ademais, tamanha era a viabilidade do trânsito no local do sinistro, que acionada a assistência 24 (vinte e quatro) horas, esta prontamente encaminhou dois táxis e um guincho, efetuando o resgate do veículo e o transporte do apelado e de sua família, sem qualquer questionamento acerca deste serviço, que segundo a alínea "j", da cláusula das prestações excluídas, negam "Assistência às Pessoas Seguradas ou ao veículo segurado quando em trânsito por estradas ou caminhos de difícil acesso aos veículos comuns, impedidos ou não abertos ao tráfego, de areias fofas ou
movediças" (fl. 54).
Nesse diapasão, comprovado o fato (negativa de cobertura), o dano material (orçamento dos reparos) e o nexo causal entre a conduta da insurreta e os prejuízos sofridos pelo apelado, a condenação daquela ao ressarcimento do dano patrimonial é imposição legal.
Por tais razões, NEGO PROVIMENTO AO RECURSO,
mantendo a sentença guerreada em todos os seus termos.
1110 É como meu voto.
Por votação indiscrepante, negou-se provimento ao recurso. Participaram do julgamento, além do Relator, os Exmos. Juízes Convocados Romero Carneiro Feitosa e João Benedito da Silva.
Presente a Exma. Dra. Maria Salete de Araújo Melo Porto, representante da Procuradoria de Justiça.
Sala de Sessões da Egrégia i a Câmara Cível do Tribunal de Justiça do Estado da Paraíba, aos 8 dia do m s de se embro do ano 2005.
Des. ANOEL SOARES MONTEIRO Relator
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