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Aula 03. TEORIA GERAL DO CONTROLE DE CONSTITUCIONALIDADE (Exercício e. Jurisprudência)

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Resumo elaborado pela equipe de monitores. Todos os direitos reservados ao Master Juris. São proibidas a reprodução e quaisquer outras formas de compartilhamento.

Turma e Ano: 2016 (Master A)

Matéria / Aula: Controle de Constitucionalidade Avançado - 03 Professor: Marcelo Leonardo Tavares

Monitor: Paula Ferreira

Aula 03

TEORIA GERAL DO CONTROLE DE CONSTITUCIONALIDADE (Exercício e Jurisprudência)

Exercícios

1) Pode o Governador de Estado negar aplicação a Lei votada pela Assembleia Legislativa, sob o fundamento de inconstitucionalidade?

Neste caso, a lei foi aprovada, sancionada, publicada e entrou em vigor. O Governador pode deixar de aplicá-la por entender inconstitucional? SIM, o controle de constitucionalidade em uma sociedade aberta, de intérpretes da Constituição não é um monopólio do Poder Judiciário, este poder exerce função muito importante no controle de constitucionalidade dando efeitos erga omnes e vinculante e solucionando definitivamente determinadas questões que possam estar pendentes entre duas partes que judicializaram a questão. Porém, em uma sociedade aberta, todas as pessoas, no fundo, interpretam a Constituição como a carta que vai reger as relações entre indivíduos e a sociedade e indivíduos e o Estado.

Portanto, diante desta visão neo constitucionalista de abertura do rol dos intérpretes da Constituição, não se poderia falar que há um monopólio do Poder Judiciário no que se refere à interpretação e aplicação de normas. Deste modo, um governador pode deixar de aplicar determinada norma em vigor por considerá-la inconstitucional, porém, existem consequências que podem advir disto; a decisão do governador deve estar lastrada principalmente em parecer produzido pela Procuradoria Geral do Estado que aponte determinado entendimento que a norma é inconstitucional. As consequências são as mais variadas, como por exemplo, a responsabilização do Estado por estar prejudicando determinado cidadão que, apoiado no princípio da constitucionalidade das leis efetuou despesas ou eventualmente, de alguma forma, saiu prejudicado por um ato que deixou de aplicar uma norma presumidamente constitucional.

Governador possui a legitimidade de propor ADI, assim, ele não deveria deixar de aplicar uma norma por entender inconstitucional, porém, a questão não pergunta se ele “deveria”, e sim se “poderia”, e neste caso, ele pode.

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A questão trata de lei estadual, porém, e se fosse lei federal, o governador poderia deixar de aplicá-la? A resposta continua afirmativa, entretanto, além de chamar uma possível responsabilização ao Estado, poder-se-ia estar dando início a um procedimento que poderia culminar na própria intervenção da União naquele Estado (uma das hipóteses previstas para intervenção, no artigo 34, VI, CF é quando o Estado nega execução à uma lei federal).

2) O que se entende por princípio da supremacia da Constituição e quais as formas de inconstitucionalidade reconhecidas pela Carta Federal vigente?

O princípio da supremacia da Constituição é um princípio instrumental da hermenêutica constitucional que coloca a Constituição como ato normativo superior no ordenamento jurídico, no qual encontra fundamento de validade os outros atos normativos. Portanto, este princípio determina que a Constituição seja o ato fundante e fundamental dos demais atos do Poder Público e da sociedade.

A Constituição reconhece a inconstitucionalidade por ação (a qual pode ser combatida no controle difuso e no controle concentrado, por ADI e ADC) e por omissão (pode ser apreciada no Poder Judiciário através do mandado de injunção e por ADO).

3) Na Constituição brasileira, o sistema preventivo de controle de constitucionalidade:

(F) é exercido pelo Legislativo e refere-se apenas a “projetos” e o repressivo pelo Supremo Tribunal Federal, cujas atuais competências se assemelham às de uma Corte Constitucional e esses sistemas são próprios de constituições escritas e legítimas.

Comentários: O sistema preventivo pode ser exercido pelo poder Legislativo, Executivo e Judiciário, não se referindo apenas a “projetos”, há também emendas constitucionais; ademais, o sistema repressivo não é exercido apenas pelo STF e sim pelo Poder Judiciário em regra e, excepcionalmente, pelo Congresso Nacional.

(V) é exercido pelo Legislativo e Executivo e o repressivo, tanto pela via de exceção quanto pela via de ação, é exercido pelo Judiciário e eles são próprios das Constituições rígidas.

(F) é exercido pelo Executivo e o repressivo difuso pelo Supremo Tribunal Federal e eles são próprios das Constituições semi-rígidas e liberais-democráticas.

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Comentários: O Judiciário como um todo exerce controle de constitucionalidade (tanto repressivo como preventivo) e não apenas o Supremo. Ademais, não são próprios de Constituições semi-rígidas, e sim, rígidas. O fato de ser liberal-democrática não tem influência no controle de constitucionalidade.

(F) bem como o repressivo concentrado ou difuso, assim como o controle por omissão, são monopólios do Poder Judiciário através do Supremo Tribunal Federal e eles são próprios das Constituições escritas e promulgadas.

Comentários: Pelo contrário, o sistema preventivo, em regra, é exercido por órgãos políticos (legislativo e executivo), não havendo monopólio de nenhum órgão.

4) Discorra sobre as características básicas e peculiaridades dos modelos americano, austríaco e francês de controle da constitucionalidade das leis1.

No modelo americano, a competência é difundida, o enfrentamento da questão do controle é incidental, as partes provocam por argumentos de defesa e o controle tem natureza subjetiva. O ato inconstitucional é considerado nulo desde o início e a decisão tem natureza declaratória.

O modelo austríaco é um modelo de competência concentrada, em que o ato inconstitucional é considerado anulável e, portanto, efeitos ex nunc, a decisão tem natureza desconstitututiva (constitutiva negativa). O debate sobre a inconstitucionalidade é feito pela via principal e a corte constitucional vai se pronunciar sobre ela na conclusão de seu provimento.

O método francês, em princípio, não trabalha com controle de constitucionalidade, somente recentemente a França vem experimentando, ainda de forma incipiente. Modelo francês possui um obstáculo muito grande, qual seja, leitura muito rígida da separação de poderes, assim, há dificuldade de ver como o Judiciário, que não é integrado por pessoas eleitas pelo povo possa analisar algo que foi aprovado pela representação popular.

5) A desconformidade de um decreto executivo com a lei a que visa regulamentar enseja ação de controle de constitucionalidade?

1 Há uma percepção equivocada de que questões de teoria geral de controle ou que envolvem aspectos históricos da Constituição não são objeto de concurso público. Porém, esta questão, por exemplo, foi retirada de um concurso público. Assim, professor pede para que os alunos não negligenciem estas questões de controle de constitucionalidade.

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NÃO! Este caso é típico de inconstitucionalidade indireta que deve ser solucionado pelo controle de legalidade do ato administrativo.

6) O que se entende por inconstitucionalidade formal e inconstitucionalidade material?

A formal é inconstitucionalidade procedimental ou rito, que envolvem a desconformidade da aprovação de uma lei com o procedimento previsto na Constituição.

O rito da aprovação de um ato normativo (lei), em parte está previsto na Constituição, em parte, em lei complementar e em parte nos regimentos internos na Câmara e do Senado. Imaginem que um projeto de lei esteja violando uma norma regimental e um parlamentar impetra mandado de segurança para obstaculizar o prosseguimento deste projeto. O Supremo não deve conhecer deste mandado de segurança, pois a questão é interna corporis da Câmara, já que o paradigma sugerido para invalidade é o regimento interno, caso contrário, estar-se-ia ferindo o princípio da separação de poderes.

A lei complementar que trata do procedimento legislativo, no final, prevê que uma violação a seu dispositivo não enseja nulidade, portanto, não pode servir de forma suficiente como paradigma em uma declaração de invalidade. Somente haverá declaração de inconstitucionalidade de um projeto de lei por violação ao paradigma da Constituição da República.

A inconstitucionalidade material é ideológica, incompatibilidade entre o ato infraconstitucional e a Constituição, no que se refere ao conteúdo. Portanto, a diferença entre elas é que a formal se refere ao processo legislativo e a material ao conteúdo normativo da lei.

7) É possível que determinada lei federal validamente editada sob a égide da Constituição Federal venha a se tornar inconstitucional posteriormente?

SIM, é o fenômeno da inconstitucionalidade superveniente. Originalmente a norma foi considerada constitucional, porém, houve um fenômeno da mutação, derivado da interpretação evolutiva, e a norma passou a ser considerada inconstitucional.

8) Identifique as hipóteses de incidência de controle de constitucionalidade preventivo existentes no Brasil.

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Em regra, o controle preventivo é político: casas legislativas exercem o controle preventivo quando analisam a compatibilidade de um projeto de lei com a Constituição (em geral isto é feito na Comissão de Constituição e Justiça, mas não exclusivamente, a depender do regimento interno); chefe do poder executivo exerce o controle preventivo por meio de seu poder de veto a um projeto de lei, quando o Presidente entende que o projeto de lei seja inconstitucional (veto jurídico).

O controle preventivo pode ser também exercido, excepcionalmente, pelo Poder Judiciário, quando da impetração de mandado de segurança por parlamentar. Os parlamentares, e somente eles, são legitimados para impetrar este mandado de segurança. No caso do projeto de lei ser elaborado pelo Congresso Nacional, a competência será do Supremo Tribunal (autoridade coatora é um órgão do Congresso Nacional, por isso da competência do Supremo).

Se o objeto for um projeto de lei, somente vício formal que pode ensejar a impetração do mandado de segurança. Se for proposta de emenda constitucional, vício formal ou violação à cláusula pétrea. Isto em razão da redação do artigo 60, §4º, CF.

9) Em que consiste a "ofensa reflexa ou indireta" para fins de admissibilidade do controle concentrado de constitucionalidade. Exemplifique.

A ofensa indireta é aquele que o ato regulamentar tem com a Constituição, porém, antes, ele violou a lei e, portanto, a ADI não é admitida. Inconstitucionalidade indireta é um fenômeno de controle de legalidade que não por ser objeto de verificação por ADI.

10) Aponte três aspectos distintivos relevantes entre o controle de constitucionalidade por via incidental e o controle mediante ação direta de inconstitucionalidade.

- Controle difuso: competência difundida, provocação é na via de defesa ou exceção, controle subjetivo, órgão de decisão se manifesta incidentalmente;

- Controle concentrado: competência concentrada, provocação é na via de ação direta, controle objetivo, órgão de decisão se manifesta no dispositivo ou conclusão.

11) Trace, com brevidade, a distinção entre:

a) inconstitucionalidade formal e material: A formal é inconstitucionalidade procedimental ou rito, que envolvem a desconformidade da aprovação de uma lei com o

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procedimento previsto na Constituição. A inconstitucionalidade material é ideológica, incompatibilidade entre o ato infraconstitucional e a Constituição, no que se refere ao conteúdo.

b) inconstitucionalidade por ação e por omissão: na por ação existe um ato produzido pelo poder público, a por omissão é a falta de regulamentação de uma norma constitucional de eficácia limitada (fenômeno típico de Constituições dirigentes).

12) O que é uma inconstitucionalidade ritual ou processual? É a inconstitucionalidade formal.

13) A Constituição de 1824, por influência dos franceses2 que, naquele momento

histórico, pregavam a supremacia da lei e do legislador, não contemplava a possibilidade do controle judicial de constitucionalidade das leis. Nesse sentido, os doutrinadores brasileiros da época, traduzindo esse pensamento, ensinavam que apenas o Poder Legislativo, e nenhum outro, tinha o direito de interpretar as leis, suas vontades e seus fins. No decorrer dos quase 180 anos que se seguiram, essa concepção mudou radicalmente, e o Brasil possui, atualmente, um complexo sistema de controle jurisdicional de constitucionalidade. A respeito da evolução histórica desse controle no Brasil, julgue os itens que se seguem.

1 – (V) Com a instauração da República, concedeu-se aos juízes e tribunais brasileiros, estaduais e federais, o poder jurídico de verificar a conformidade das leis à Constituição da República. -> A partir da Constituição de 1891, após a Revolução Republicana, o Brasil passa a dotar o controle difuso de Constitucionalidade.

2 – (F) A Constituição da República de 1934 introdução mudanças significativas no sistema de controle de constitucionalidade das leis, entre as quais a competência do Senado Federal ou da Câmara dos Deputados para suspender a execução, no todo ou em parte, de qualquer lei ou ato, deliberação ou regulamento, quando declarado inconstitucional pelo

2 Obs. Há uma diferença no constitucionalismo francês revolucionário de 1789 e no constitucionalismo norte americano iniciado em 1787: Nos EUA sempre se trabalhou com a supremacia da Constituição, na França, supremacia da Lei (não mais a vontade do Rei) e isto, somado com a leitura rígida do princípio da separação dos poderes foi o que sempre dificultou um controle de constitucionalidade na França. Isto influenciou a Constituição de 1824 no Brasil, inspirada no modelo Francês.

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Supremo Tribunal Federal (STF), emprestando-lhe efeitos erga omnes -> esta competência é apenas do Senado, tendo sido introduzida pela Constituição de 1934 e reproduzida em todas as Constituições seguintes.

3 – (V) A Constituição da República de 19373, apesar de prever em seu texto quórum especial nos tribunais para declaração de inconstitucionalidade, consagrou o princípio autoritário, segundo o qual, no caso de uma lei ser declarada inconstitucional, se o presidente da República a considerasse necessária ao bem-estar social ou à proteção de interesse nacional relevante, poderia submetê-la novamente à apreciação do Parlamento.

4 – (V) A Constituição da República de 1946 ampliou a hipóteses de representação de inconstitucionalidade, prevista inicialmente na Constituição da República de 1934, manteve a titularidade da representação com o Procurador geral da República e subordinou a intervenção à declaração, pelo STF, da inconstitucionalidade do ato arguido.

5 – (F) O controle abstrato da constitucionalidade mediante a representação de inconstitucionalidade de lei ou de ato normativo foi instituído no Brasil pela Constituição da República de 1967 -> Foi instituído pela EC 16/65.

Jurisprudência MS N. 32.033-DF

RED. P/ O ACÓRDÃO: MIN. TEORI ZAVASCKI

EMENTA: CONSTITUCIONAL. MANDADO DE SEGURANÇA. CONTROLE

PREVENTIVO DE CONSTITUCIONALIDADE MATERIAL DE PROJETO DE LEI. INVIABILIDADE.

1. Não se admite, no sistema brasileiro, o controle jurisdicional de constitucionalidade material de projetos de lei (controle preventivo de normas em curso de formação). O que a jurisprudência do STF tem admitido, como exceção, é “a legitimidade do parlamentar - e somente do parlamentar - para impetrar mandado de segurança com a finalidade de coibir atos praticados no processo de aprovação de lei ou emenda constitucional incompatíveis com disposições constitucionais que disciplinam o processo legislativo” (MS 24.667, Pleno, Min. Carlos Velloso, DJ de 23.04.04). Nessas excepcionais situações, em que o vício de inconstitucionalidade está diretamente relacionado a aspectos formais e procedimentais da atuação legislativa, a impetração de segurança é admissível, segundo a jurisprudência do STF, porque visa a corrigir vício já efetivamente concretizado no próprio curso do processo de formação da norma, antes mesmo e independentemente de sua final aprovação ou não. 2. Sendo inadmissível o controle preventivo da constitucionalidade material das normas em curso de formação, não cabe atribuir a parlamentar, a quem a Constituição nega habilitação

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para provocar o controle abstrato repressivo, a prerrogativa, sob todos os aspectos mais abrangente e mais eficiente, de provocar esse mesmo controle antecipadamente, por via de mandado de segurança.

3. A prematura intervenção do Judiciário em domínio jurídico e político de formação dos atos normativos em curso no Parlamento, além de universalizar um sistema de controle preventivo não admitido pela Constituição, subtrairia dos outros Poderes da República, sem justificação plausível, a prerrogativa constitucional que detém de debater e aperfeiçoar os projetos, inclusive para sanar seus eventuais vícios de inconstitucionalidade. Quanto mais evidente e grotesca possa ser a inconstitucionalidade material de projetos de leis, menos ainda se deverá duvidar do exercício responsável do papel do Legislativo, de negar-lhe aprovação, e do Executivo, de apor-lhe veto, se for o caso. Partir da suposição contrária significaria menosprezar a seriedade e o senso de responsabilidade desses dois Poderes do Estado. E se, eventualmente, um projeto assim se transformar em lei, sempre haverá a possibilidade de provocar o controle repressivo pelo Judiciário, para negar-lhe validade, retirando-a do ordenamento jurídico.

4. Mandado de segurança indeferido.

Comentários: Projeto de lei só pode ser objeto de controle de constitucionalidade preventivo por vício formal! Proposto de emenda constitucional é que pode ser objeto de controle de constitucionalidade por vício formal e material.

Questões de Provocação 1ª. QUESTÃO

Após os lamentáveis incidentes de 11 de setembro de 2001 (aeronaves lançadas contra edifícios), que ocasionaram a morte de várias pessoas, a fobia em relação ao povo muçulmano cresceu e alastrou-se, chegando até mesmo a algumas pessoas no Brasil. Imbuído por esse sentimento, certo Deputado federal resolve propor emenda à CRFB que dispõe sobre o banimento dos cultos religiosos islâmicos, e, para isso, consegue a adesão de 1/3 dos membros da Câmara. Irresignados, por entenderem que tal proposta afrontaria o inc. IV do §4º do art. 60, um deputado e um representante do Islã resolvem, separadamente, impugná-la, por via mandamental.

Pergunta-se: De quem é a legitimidade ativa ad causam para provocar o controle de constitucionalidade na hipótese? Esse controle preventivo é difuso ou concentrado? Quais são as consequências na hipótese de conversão da proposta em emenda no curso do mandado de segurança?

RESPOSTA: Legitimidade é exclusiva do parlamentar, assim, o Supremo deve declarar a ilegitimidade ativa ad causam do representante do Islã, pois ele não participa do processo legislativo, não tendo interesse jurídico para impugná-lo. O controle é difuso, apesar da maioria das decisões serem julgadas pelo STF. Isso ocorre devido a natureza do

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órgão impetrado, pois, no caso do Congresso Nacional, a competência é do Supremo. O bem da vida perseguido é a regularização do procedimento legislativo. No caso da conversão da proposta de emenda no curso do mandado de segurança, este deve ser arquivado, pois ele é hipótese de controle preventivo de constitucionalidade, assim, se no curso, o projeto se transforma em lei, o MS deve ser arquivado, porém, isto não retira a possibilidade de haver a impugnação por meio de ADI, por exemplo. Neste sentido, MS 22487-DF, relator Min. Celso de Mello (Info 239)4.

2ª QUESTÃO

Parte da doutrina contesta o judicial review pela falta de legitimidade do Poder Judiciário. Argumenta ser ilógico e incoerente que os órgãos judiciários, que não têm legitimação democrática (pois não são eleitos pelo voto popular), declarem a invalidade de leis ou atos normativos expedidos por quem a tem. Trata-se da denominada "legitimidade contramajoritária". Responda, fundamentadamente, quais são os argumentos pelo qual o judicial review se impõe.

RESPOSTA:

Cabe ao judiciário ser o principal guardião da Constituição e dirimir o conflito entre Executivo e Legislativo. Esta argumentação é válida, porém, ela é secundária a outra principal: uma das principais funções da jurisdição constitucional e, portanto, da judicial review é garantir, de um lado, o processo democrático, isto é, que a maioria possa exercer a sua vontade, e de outro, servir de proteção às minorias contra eventuais formações de opiniões majoritárias. Assim, há uma relação muito estreita entre a jurisdição constitucional, a proteção da minoria e dos direitos fundamentais e o estabelecimento da democracia.

A democracia está baseada na formação de vontade da maioria e, para que haja maioria, deve haver minoria. Não há, necessariamente, uma tensão entre direitos fundamentais e democracia, e sim entre direitos fundamentais e vontades majoritárias. Um das principais funções da jurisdição constitucional, portanto, é fazer prevalecer a existência da minoria, através da proteção dos direitos fundamentais, dentro do processo de deliberação da maioria (jogo democrático). Neste sentido, Barroso:

“Onde estaria o fundamento para o Judiciário sobrepor sua vontade à dos agentes eleitos dos outros Poderes? A resposta já está amadurecida na teoria constitucional: na confluência de ideias que produzem o constitucionalismo democrático. Nesse modelo, a Constituição deve desempenhar dois grandes papéis. Um deles é assegurar as regras do jogo democrático, propiciando a participação política ampla e

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o governo da maioria. Mas a democracia não se resume ao princípio majoritário. Se houver oito católicos e dois muçulmanos em uma sala, não poderá o primeiro grupo deliberar jogar o segundo pela janela, pelo simples fato de estar em maior número. Aí está o segundo grande papel de uma Constituição: proteger valores e direitos fundamentais, mesmo que contra a vontade circunstancial de quem tem mais votos”5.

3ª QUESTÃO

Em sede de mandado de segurança preventivo, Senador da República alega violação constitucional em razão da tramitação de Projeto de Lei. O impetrante alega que, logo após o julgamento da Ação Direta de Inconstitucionalidade que dispôs expressamente sobre o tema, houve a apresentação do projeto de lei impugnado, com disposições que colidiriam com os termos da mencionada decisão do STF acerca da adequada interpretação de dispositivos constitucionais e legais. O Senador afirma, ainda, que, após ficar sem tramitação desde meados de 2012, o projeto de lei em questão voltou a tramitar no ano de 2013, com aprovação rápida de adoção de regime de urgência na Câmara dos Deputados, com o nítido objetivo de prejudicar alguns grupos. Assevera o impetrante que se trata de uma manobra arbitrária, casuística e inconstitucional da maioria parlamentar para, no caso, obstaculizar a criação de novas agremiações partidárias antes das eleições gerais de 2014, por meio de utilização inadequada do processo legislativo como forma de sufocamento da legítima mobilização das minorias parlamentares que intentariam formar novos partidos políticos (já em estado avançado e com notoriedade nacional). Aduz também o impetrante que a proposição do referido projeto de lei é diametralmente oposta às diretrizes definidas na decisão tomada pelo STF no recente julgamento da ADI 4.430, o que pode ser constatado por simples cotejo analítico. Responda, fundamentadamente, se o controle pretendido pelo parlamentar é viável.

RESPOSTA: Não é viável, pois não é possível conhecer MS impetrado em que se alega vício material de um projeto de lei. Neste sentido:

MS N. 32.033-DF6.

RED. P/ O ACÓRDÃO: MIN. TEORI ZAVASCKI

EMENTA: CONSTITUCIONAL. MANDADO DE SEGURANÇA. CONTROLE PREVENTIVO DE CONSTITUCIONALIDADE MATERIAL DE PROJETO DE LEI. INVIABILIDADE.

5 Barroso, Luís Roberto. Curso de Direito Constitucional Contemporâneo. 2ª Ed. Ed. Saraiva. Pag. 287. 6 Disponível em http://www.stf.jus.br/arquivo/informativo/documento/informativo736.htm.

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1. Não se admite, no sistema brasileiro, o controle jurisdicional de constitucionalidade material de projetos de lei (controle preventivo de normas em curso de formação). O que a jurisprudência do STF tem admitido, como exceção, é “a legitimidade do parlamentar - e somente do parlamentar - para impetrar mandado de segurança com a finalidade de coibir atos praticados no processo de aprovação de lei ou emenda constitucional incompatíveis com disposições constitucionais que disciplinam o processo legislativo” (MS 24.667, Pleno, Min. Carlos Velloso, DJ de 23.04.04). Nessas excepcionais situações, em que o vício de inconstitucionalidade está diretamente relacionado a aspectos formais e procedimentais da atuação legislativa, a impetração de segurança é admissível, segundo a jurisprudência do STF, porque visa a corrigir vício já efetivamente concretizado no próprio curso do processo de formação da norma, antes mesmo e independentemente de sua final aprovação ou não.

2. Sendo inadmissível o controle preventivo da constitucionalidade material das normas em curso de formação, não cabe atribuir a parlamentar, a quem a Constituição nega habilitação para provocar o controle abstrato repressivo, a prerrogativa, sob todos os aspectos mais abrangente e mais eficiente, de provocar esse mesmo controle antecipadamente, por via de mandado de segurança.

3. A prematura intervenção do Judiciário em domínio jurídico e político de formação dos atos normativos em curso no Parlamento, além de universalizar um sistema de controle preventivo não admitido pela Constituição, subtrairia dos outros Poderes da República, sem justificação plausível, a prerrogativa constitucional que detém de debater e aperfeiçoar os projetos, inclusive para sanar seus eventuais vícios de inconstitucionalidade. Quanto mais evidente e grotesca possa ser a inconstitucionalidade material de projetos de leis, menos ainda se deverá duvidar do exercício responsável do papel do Legislativo, de negar-lhe aprovação, e do Executivo, de apor-lhe veto, se for o caso. Partir da suposição contrária significaria menosprezar a seriedade e o senso de responsabilidade desses dois Poderes do Estado. E se, eventualmente, um projeto assim se transformar em lei, sempre haverá a possibilidade de provocar o controle repressivo pelo Judiciário, para negar-lhe validade, retirando-a do ordenamento jurídico.

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