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JONLANG-CRIANDOATEORIADAARQUITETURA-CAP.10

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CRIANDO TEORIA DA ARQUITETURA: O

PAPEL DAS CIÊNCIAS COMPORTAMENTAIS

NO PROJETO AMBIENTAL (LIVRO)

(CREATING ARCHITECTURAL THEORY: THE ROLE OF THE BEHAVIORAL SCIENCES IN THE ENVIRONMENTAL DESIGN1)

JON LANG

TRADUÇÃO DE FREDERICO FLÓSCULO PINHEIRO BARRETO

PROFESSOR DA FACULDADE DE ARQUITETURA E URBANISMO DA UNIVERSIDADE DE BRASÍLIA

CAPÍTULO 10

O AMBIENTE CONSTRUÍDO

E O COMPORTAMENTO

HUMANO

Quatro fundamentais pontos de vista teóricos, que dizem respeito às relações entre o ambiente em que vivemos e o nosso comportamento podem ser identificados nos seguintes títulos: a abordagem do livre arbítrio; a abordagem possibilista; a abordagem probabilista; e a abordagem determinista (Porteous, 1977). A abordagem do livre-arbítrio sugere que o ambiente não tem impacto sobre o comportamento. Evidentemente, dado que as pessoas possuem severas limitações biológicas, como seres

1 Capítulo 9 (Processos Fundamentais do Comportamento Humano) do livro

CREATING ARCHITECTURAL THEORY: THE ROLE OF THE BEHAVIORAL SCIENCES IN THE ENVIRONMENTAL DESIGN, de JON LANG (Primeira edição: Van Nostrand Reinhold Company Inc., Nova York, 1987, pp. 84-99).

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vivos e submetidos às vicissitudes de suas necessidades materiais, essa posição é difícil de ser mantida. Os possibilistas percebem que o ambiente é o universo de chances de ação por excelência – e ainda um pouco mais que isso. Temos discutido aqui que o ambiente consiste de um conjunto de oportunidades para o comportamento, no qual determinadas ações podem ou não acontecer. A análise do comportamento humano sugere que as pessoas não são tão completamente livres para agir a partir de um leque extraordinário de alternativas, tal como os possibilistas compreendem. Cada indivíduo tem um conjunto de motivações e de competências que são, pelo menos parcialmente, condicionadas pelos ambientes terrestre, social e cultural.

Determinismo é a crença de que mesmo quando as pessoas declaram agir – conscientemente – a partir de seu livre arbítrio, elas são, essencialmente, controlada por sua herança genética e pelo ambiente. O determinismo ambiental, um desenvolvimento da teoria da evolução, sustenta que o ambiente é o mais importante determinante do comportamento das pessoas. Por ambiente, nesse contexto, em geral compreende-se o contexto geográfico ou terrestre (ver, por exemplo, Semple, 1911). Não é difícil estender a mesma compreensão ao ambiente construído.

A abordagem determinista aplicada à apreciação do relacionamento ambiente-comportamento implica em um singelo relacionamento de causa e efeito entre os dois. Já discutimos neste livro (ver ainda Lipman, 1974, Brolin, 1976, Vidler, 1973) que boa parte da ideologia do Movimento Moderno é baseada nesse pressuposto.

Ao mesmo tempo em que reconhecem que o ambiente é repleto de oportunidades (affordances) para o comportamento humano, e que a percepção e uso dessas oportunidades é, sobretudo, função das necessidades e das competências individuais, os possibilistas tomam a seguinte posição:

Dado que um indivíduo A com atributos a,b,c, inserido em um dado ambiente E que tem características d,e,f e com uma motivação M para agir, então é provável que A procederá ao comportamento previsto B. (Prince, 1971, apud Porteous, 1977).

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Esta posição reconhece a incerteza dos sistemas dentro dos quais o comportamento humano ocorre e nos quais os projetistas ambientais agem, mas também propõe que o comportamento humano não é algo imprevisível, inteiramente caprichoso. A posição probabilística é subjacente à maior parte da pesquisa recente acerca do relacionamento entre o comportamento e projeto a ambiental.

O objetivo do capítulo anterior é esclarecer nossa compreensão do relacionamento entre pessoas e o ambiente construído através da revisão das idéias existentes dentro quadro de nosso atual entendimento da natureza do ambiente e da natureza do comportamento humano. O objetivo é oferecer um conjunto de conceitos que descreva esse relacionamento com alguma especificidade. Somente então será possível retirar conclusões mais claras e objetivas acerca das hipóteses dos relacionamentos entre as pessoas e o ambiente.

“DETERMINISMO AMBIENTAL”, “DETERMINISMO FÍSICO” E “DETERMINISMO ARQUITETÔNICO”

Os termos determinismo ambiental, determinismo físico, e determinismo arquitetônico são, com freqüência, usados como sinônimos na literatura do projeto ambiental. Quando os encontramos, todos esses termos se referem à crença de que as mudanças na configuração do ambiente levarão a mudanças no comportamento social e (quando são consideradas) nos valores estéticos das pessoas envolvidas. Na literatura da ciência comportamental, esses termos são usados de forma muito mais ampla. Com a finalidade de esclarecer as questões com que se defrontam as profissões do projeto, é importante definir esses termos de forma mais precisa - e também importa definir os diferentes níveis de determinismo (Franck, 1984).

O termo “determinismo ambiental” pode ser usado amplamente para refletir a crença de sua naturalidade da direta influência do meio (nurture) dentro das circunstâncias nos ambientes geográfico, social e cultural, mais do que a nossa natureza individual (nature), a nossa herança genética, que dá forma a nossos valores e comportamento. Essa controvérsia nurture / nature é clássica, sem solução consensual desde a sua aparição, e, na verdade, permaneceu adormecida na psicologia por um bom tempo, apesar de, recentemente, reaparecer com vigor com a ascensão do campo da

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sociobiologia (Wilson, 1978), que retomam as idéias de sua coorte, para o debate científico. A questão colocada pelos psicólogos de hoje não é se o comportamento é geneticamente ou ambientalmente fundamentado, mais quais são os aspectos do comportamento que eventualmente se fundamentam na herança genética e quais fundamentam na interação ambiental.

O “determinismo físico” pode ser compreendido como a crença de que o comportamento humano é determinado pela natureza do ambiente geográfico tal como ocupado, adaptado ou ajustado pelas pessoas em um lugar particular. A cultura e o clima estão, sem dúvida, inter-relacionados, mas o “determinismo físico” pode assumir uma posição muito forte acerca do efeito que os ambientes natural e artificial podem ter sobre o comportamento humano. Nem todos usam o termo “físico” dessa maneira. Herbert Gans (1961, 1968), por exemplo, usa o termo “ambiente físico” de uma forma bem mais restrita, como sinônimo de “ambiente planejado” ou de “ambiente construído”. Essa não é a maneira pela qual esse termo será usado aqui. O “determinismo arquitetônico”, em especial, será usado para denotar a crença de que mudanças nos elementos arquiteturais (e de paisagismo) do ambiente resultarão em mudanças de comportamento - particularmente no comportamento social.

Se nós aceitarmos as definições dadas aqui, então nós teremos diante de nós uma hierarquia de crenças acerca do impacto do ambiente sobre as pessoas. O “determinismo ambiental” é a crença de que mudanças nos ambientes geográfico, social, cultural e construído podem realmente modelar o comportamento das pessoas. O “determinismo físico” é a crença de que mudanças no ambiente geográfico e nas formas construídas resultarão em mudanças no comportamento. O “determinismo arquitetônico” é a crença de que a forma construída, composta de elementos artificiais ou naturais, levará a mudanças no comportamento social. Se considerarmos “naturalidade” dos seres humanos, essa primeira posição parece bem lógica e aceitável apesar de ela não conseguir explicar importantes diferenças inter-pessoais. Já as outras definições demandam um exame mais cuidadoso.

Os aspectos do ambiente físico são um importante fator para a vida humana, mas o ambiente físico não pode ser compreendido como determinante do comportamento humano apesar das fortes correlações entre clima, relevo e cultura (Vayda, 1969). Há muitas diferenças culturais entre as pessoas que vivem em ambientes terrestres

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assemelhados (Rapoport, 1969). Ou seja: enquanto se mostra como uma fonte de diferenças culturais e comportamentais, o ambiente físico não é a única fonte de influência na variabilidade do comportamento social. O determinismo arquitetônico requer alguma elaboração adicional para que possa esclarecer o relacionamento entre o ambiente construído e o comportamento humano.

DETERMINISMO ARQUITETÔNICO

Não é difícil compreender por que os arquitetos e outros projetistas ambientais – e ainda, com destacada presença, os reformadores sociais - acreditam no papel central do ambiente construído na determinação do comportamento social humano, de seus padrões e valores. Durante o século 19, com o advento da revolução industrial e com a migração em larga escala de trabalhadores rurais para as cidades, muitos críticos sociais se tornaram conscientes da forte correlação entre as desagradáveis, desconfortáveis condições nas quais as pessoas passaram a viver e suas próprias condições sociais e psicológicas. É fácil concluir que a mudança no ambiente construído pode acarretar não apenas mudanças nas condições de vida, mas também nos estilos de vida e nos valores estéticos das pessoas atingidas por esses processos de mudança ambiental. O importante movimento social e filantrópico ocorrido no final do século 19 que teve como seus pontos culminantes o movimento da Cidade Jardim liderado por Ebenezer Howard (1902), e nos sistemas de assentamentos de Novas Comunidades, era fortemente impregnado com o espírito das crenças do determinismo arquitetônico.

Nos anos 1930 e 1940, os princípios de projeto da habitação popular que foram gerados por sucessivos encontros dos CIAM (Congrès Internationaux d’Architecture Moderne) e os movimentos de demanda de habitação popular em um amplo conjunto de países foram baseados em uma bem definida série de pressupostos acerca de impacto da arquitetura e do desenho urbano sobre o comportamento humano (leia Le Corbusier, 1973). As primeiras dessas conferências eram voltadas para as necessidades humanas mais fundamentais, se nós considerarmos a hierarquia proposta por Maslow: abrigo e serviços básicos para a subsistência do indivíduo - enquanto que os últimos encontros, tais como o ocorrido em Bridgewater (1947) e Oterloo (1959), enfatizaram as necessidades sociais, cognitivas e estéticas, ou seja: as necessidades da mais elevada ordem na hierarquia de Maslow (ler Frampton, 1980). Todas essas conferências

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exibiram a crença de que, através do projeto de arquitetura e de urbanismo, todos os tipos de patologia sociais poderiam se eliminados. Essa crença foi reforçada pelo trabalho de sociólogos e psicólogos. Esse quadro de idéias ocorre, sobretudo, devido à falta de clareza acerca das especificações dos relacionamentos entre as variáveis independentes (ambientais), e as variáveis dependentes (relacionadas com comportamento social), em muito da pesquisa recente examinada.

O conceito de Unidade Vizinhança emergiu do trabalho de sociólogos associados à Universidade de Chicago, entre as duas grandes guerras mundiais. Este conceito se baseava na crença de que a localização de equipamentos urbanos e serviços comunitários implicaria em uma ampliação dos contatos face-a-face, entre as pessoas, assim como em uma ampliada participação dos cidadãos nas questões comunitárias, na vida comunitária e, devido a isso, em menor anomia e maior democratização da sociedade - do que aquela que se encontrava no coração das grandes cidades da época. Essa crença é ainda muito forte: ver, por exemplo, Sternberg & Sternberg, 1971; Alexander, 1972; Corbett, 1981. A pesquisa recente (Bagley, 1965; Brooks, 1974) não validou essa crença, mas mostrou que a configuração do ambiente e as possibilidades de apropriação e uso (affordances) que o ambiente oferece, fundamentam fortemente a percepção que as pessoas têm da qualidade ambiental.

A crença no determinismo arquitetônico foi ainda mais reforçado com a leitura simplista feita pelos projetistas dos trabalhos de autores como Leon Festinger (Festinger et al., 1950), William White (1954), Leo Kuper (1953), Herbert Gans (1961), Bert Adams (1968) e Holohan e Saegert (1973). Todos esses estudos mostram o poderoso relacionamento entre aspectos na configuração física do ambiente e os padrões de interação humana. Devemos admitir, contudo, que nem o relacionamento entre as variáveis arquitetônicas e as variáveis comportamentais, nem as circunstâncias específicas nas quais esse relacionamento se mantém, nem os efeitos de possíveis variáveis intervenientes, são sempre claramente especificados. O resultado tem sido que os projetistas ambientais que freqüentemente utilizam o modelo simplista de Estímulo-Resposta acerca do relacionamento entre ambiente construído e comportamento humano.

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Figura 10-1a: As pessoas examinam o ambiente em busca de oportunidades para atender às suas predisposições, satisfazer às suas necessidades. Na figura acima, as cadeiras na calçada são um convite para clientes de um bar, que o aceitam quando desejam apenas estar na rua, em público, encontrar outras pessoas, entre outras possibilidades.

Figura 10-1b: Certos ambientes podem preencher disposições latentes – isto é, sub-conscientes – que se tornam manifestas quando as possibilidades de uso (affordances) de um padrão particular do ambiente se torna claro. Na figura acima, crianças refrescam-se em uma fonte, cujo uso alternativo (deveríamos apenas contemplar essas fontes, diz o prefeito ou o guarda municipal) somente é descoberto depois que alguém salta nelas e “cria o uso”.

Figura 10-1c: Nessa figura se torna evidente que a organização interna sofreu mudanças radicais, e a abertura que deveria permitir a passagem de ar e luz natural, e a visão do exterior, foi liquidada. A visão é “chocante” (N.T.).

Figura 10-1d: Esperamos que janelas sejam repletas de rituais de passagem, simbólicos ou reais. O usufruto da vista da praia foi restrito devido à presença (desejada) de crianças na varanda, com o uso de uma rede que impede perigosas explorações (N.T.).

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Muitos estudos recentes acerca do ambiente construído e do comportamento humano enfatizaram a importância de fatores sociais para compreensão e a previsão dos padrões de uso de parques públicos e de edifícios, assim como dos padrões de interação entre as pessoas. Ainda no ano de 1965, estudo feito na Inglaterra por Christopher Bagley mostrou que as pessoas retiradas das áreas decadentes dos centros das cidades inglesas, e abrigadas em novos bairros populares, não apresentavam menores índices de criminalidade: esse tipo de padrão cultural não foi alterado. No estudo que Gans (1967) faz de Levittown, ao mesmo tempo em que mostra uma forte relação entre a proximidade física e as relações de amizade, também mostra que a amizade é mais provavelmente baseada na homogeneidade que se percebe de valores das outras pessoas, ou em sua própria necessidade de assistência - mais que em qualquer outro tipo de fator. As dimensões ao longo das quais a homogeneidade é importante são: o status sócio-econômico e o estágio no ciclo de vida, assim como fatores tais como a similaridade de atitudes com relação aos cuidados com as crianças, com as atividades de lazer, e com os interesses culturais de um modo geral. O estudo feito em Westgate, que mostra uma forte relação entre a proximidade das unidades residenciais e os padrões de relações de amizade, envolveu uma população extremamente homogênea. Gans (1967) indica que onde uma mudança no estilo de vida for acompanhada de uma mudança no ambiente residencial, também encontramos uma predisposição para a mudança - o que resulta, no ambiente escolhido, de crescimento das chances de alcance do objetivo de um novo estilo de vida.

É altamente questionável a afirmar que o projeto pode ter conseqüências comportamentais particulares sem que tomemos em consideração as predisposições e as motivações da população considerada. Se não existe o desejo explícito, notório, ou mesmo latente, por interagir com as pessoas, por exemplo, então esse comportamento de contato é improvável de ocorrer, qualquer que seja a configuração do ambiente que consideremos - a não ser que ocorra uma mudança simultânea no ambiente social e, digamos, administrativo, dessa situação. Muitos projetistas fizeram afirmações muito fortes acerca de seus espaços que eles criaram; esses espaços iriam, por si mesmos, levar a mudanças desejadas.

Afirmações também foram feitas acerca da capacidade de um "bom" projeto, se seria capaz de mudar as atitudes estéticas das pessoas. Eventualmente, as atitudes

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estéticas realmente mudam ao longo do tempo. Isso ocorre quando há uma predisposição por parte dos clientes para o advento de novas imagens, a serem criadas, e/ou uma predisposição por parte da sociedade por mudanças com respeito aos aspectos formais ou estruturais dos ambientes e das paisagens. Anne Ting (1975) relata tais predisposições para mudanças como fatores presentes na estrutura psicológica ou de personalidade dos membros de uma sociedade.

Os projetistas ambientais são facilmente confundidos pelas críticas aparentemente paradoxais que são dirigidas contra seu trabalho e seu modo de pensar pelos cientistas comportamentais. Herbert Gans, em sua introdução para o livro de Claire Cooper, Easter Hill Village (1975), relembra o leitor da falácia dessa crença no determinismo arquitetônico, mas, a seguir, inicia uma preleção sobre como as edificações e a configuração física dos complexos residenciais afetam o comportamento dos moradores, negativamente. Na atualidade, nós estamos em condições de resolver esse aparente paradoxo.

Durante as últimas duas décadas, com o crescimento da Psicologia Ambiental como disciplina, houve um importante crescimento de nossa compreensão do relacionamento entre o ambiente construído e o comportamento humano. Os conceitos do ambiente e do comportamento humano que foram expostos nos dois capítulos anteriores nos dão condições para que façamos, a partir de agora, a apresentação de uma visão preliminar acerca do relacionamento desses dois conjuntos de fatores, mas desde o ponto de vista dos projetistas.

CONCEITOS FUNDAMENTAIS DO RELACIONAMENTO ENTRE

PESSOAS E AMBIENTE CONSTRUÍDO

O ambiente pode ser considerado como composto de componentes geográficos, construídos, sociais e culturais, todos inter-relacionados, que tornam possíveis – e dão apoio – determinados comportamentos. O conjunto de possibilidades (affordances) do ambiente, considerada uma determinada situação física, bem circunstanciada, constitui-se no “ambiente potencial” para o comportamento humano nesconstitui-se lugar. Nem todas essas possibilidades são percebidas pelas pessoas, nem são, todas essas possibilidades, apropriadas pelas pessoas. Aquilo que é efetivo objeto de apropriação depende da

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natureza das pessoas envolvidas, de suas motivações, experiências e valores – e dos custos e recompensas percebidos por elas, por sua apropriação, pela participação nas atividades, ou por suas interpretações estéticas do mundo à sua volta. Os processos de percepção, cognição e comportamento espacial são afetados pelas competências das pessoas e do grupo do qual é membro. Os seres humanos são altamente adaptativos, mas suas percepções do ambiente são afetadas pelas coisas, situações e atividades com que se habituaram. Ao mesmo tempo, devemos reconhecer que as pessoas se adaptam até mesmo às condições que “ameaçam destruir os valores de sua própria humanidade” (Dubos, 1965).

O ambiente consiste em um conjunto de behavior settings2, que são ajustados entre si, podendo tanto ter relações de continência (dos tipos “contém” e “está contido”) quanto de complementaridade (este inicia algo que o outro continua ou desfecha, etc.), podendo até mesmo se sobrepor. Os behavior settings possuem dois componentes básicos: (a) um padrão consistente, bem determinado, de comportamento, e (b) um meio físico (Barker, 1968). O meio físico – milieu, na expressão usada por Barker – é uma estrutura material composta de superfícies que se relacionam umas com as outras em padrões específicos, em escalas que podem incluir desde paisagens inteiras, a edifícios, compartimentos de edifícios, seu mobiliário e objetos, ferramentas, instalações, etc.. Essas superfícies podem compostas das mais diferentes substâncias, texturas e pigmentações; podem receber iluminação de diferentes maneiras. Uma dada combinação dessa multiplicidade de superfícies torna alguns comportamentos possíveis, e impede parcial ou totalmente que outros comportamentos possam ocorrer, considerando-se um usuário potencial. Essas possibilidades de uso (affordances) podem ser compreendidas em duas categorias: diretas e indiretas. As affordances diretas dizem respeito às condições objetivas para que um determinado programa comportamental

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NOTA DO TRADUTOR: O conceito de behavior setting, como já vimos nos capítulos anteriores, foi proposto pelo psicólogo Roger Garland Barker, a partir de sua notável pesquisa – na verdade um grande conjunto de pesquisas que se desdobraram por cerca de três décadas, envolvendo a vida dos membros de uma pequena comunidade do Meio-Oeste dos E.U.A.. Barker (1968) descobriu que a organização da quase totalidade dos padrões de comportamento nessas comunidades envolve instâncias integradas de programas comportamentais essencialmente deterministas, e circunstâncias espaciais bem definidas e instrumentais. Cada uma dessas instâncias forma um conjunto único, que integra espaço físico e dimensões comportamentais – daí a denominação, de difícil (se possível ou recomendável, dada a sua consagração) tradução, de behavior setting.

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possa ocorrer satisfatoriamente (precisamos de pisos planos para poder caminhar com equilíbrio, de portas com folhas móveis para que possamos abri-las e fechá-las, em vãos suficientemente largos para que possamos passar por eles, assim como de livros nas bibliotecas, que devem ter estantes para guardá-los). As affordances indiretas incluem coisas como os significado simbólicos que dependem da associação dos padrões com um “referente”, ou com a utilização de um padrão com uma utilização mercantil, lucrativa, por exemplo3. Affordances são propriedade do ambiente construído, aninhadas em ambientes de natureza geográfica, cultural e de seres vivos, animados. O ambiente efetivo consiste desses elementos que possuem significado para o usuário ou observador de um ambiente potencial. O presente trabalho preocupa-se com as affordances associadas a padrões específicos que os ambientes oferecem aos seres humanos – veja a figura 10-2. Outras obras, nesse sentido, se voltam para esses padrões nos casos de outros animais, selvagens ou domésticos (Leedy, Maestro e Franklin, 1978; Spirn, 1984).

Cada indivíduo tem uma variedade de competências quanto a lidar com diferentes aspectos do ambiente construído. Algumas dessas competências são fisiológicas (resistência ao frio, capacidade de esforço repetitivo, força física, etc.) outras são sociais e culturais. Essas diferenças afetam os modos como o ambiente é percebido – as imagens que as pessoas formam do ambiente, de como lhes parece e como pode ser lidado. O ambiente no qual as pessoas são socializadas modela essas competências, pois o que nós sabemos e o que nós aprendemos a usar são coisas que modelamos a partir das possibilidades dadas, das circunstâncias em curso, das affordances que o ambiente proporciona.

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Essa distinção feita por Lang é algo obscura. Mas as affordances indiretas e “simbólicas” podem ser compreendidas pela oportunidade de permanecer em silêncio, e de não ser perturbado em um determinado ambiente que... é associado a uma manifestação de religiosidade. Sempre que a religiosidade se beneficiar do silêncio e condições de isolamento acústico forem proporcionadas por um dado ambiente, essa ligação pode fazer desse ambiente algo “religioso”. Colocando-se dessa maneira, a super-simplificação da experiência religiosa é evidente, mas é uma tentativa primária de interpretar o que Lang escreveu. No caso do lucro, podemos imaginar um local atrativo, como uma pequena lagoa, cujo acesso é cobrado por seu proprietário, por exemplo. A possibilidade de ganhar dinheiro é totalmente derivada da

affordance primária do lazer, do banho na lagoa, etc. Ganhar dinheiro com essa possibilidade é

outra affordance, que se exercita com outras atrações ou coisas mercandáveis, na escala ambiental.

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Figura 10-2a: Uma das coisas que os empresários sabem fazer é a identificação das predisposições das pessoas – assim como dar forma, suscitar, motivar predisposições – para criar os ambientes (ou importantes parte do ambiente urbano) que permitem a realização, o desempenho, a ocorrência dos comportamentos que são manifestações dessas predisposições. Em Las Vegas, EUA, uma imensa constelação de signos, posicionados de modo a que possam ser vistos de distâncias diferentes, colocam aos visitantes, turistas e aficcionados, os convites a uma diversidade de atrações e eventos comerciais.

Figura 10-2b: Esses sinais de advertência fazem algo similar aos sinais da divertida Los Angeles. Ele nos chama a atenção para aspectos do ambiente que não são imediatamente discerníveis. Quem pode adivinhar, à margem de uma área de campo, que, quilômetros adiante, há uma perigosa base militar?

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Figura 10-2c: Ao percebermos o comportamento das outras pessoas, aprendemos como as possibilidades de uso (affordances) podem ser apropriadas / realizadas / assumidas por nós – no caso acima, a possibilidade de subir na estátua de um grande animal, ou mesmo de “escapar dele” escorregando entre suas patas...

É através da manipulação dessas possibilidades de uso (affordances) do ambiente construído que o projetista afeta as experiências humanas.

Há a possibilidade, a ser verificada, de que algumas pessoas perceberem as affordances do ambiente ao mesmo tempo em que não possuem a necessária competência para tirar proveito disso – o que implica também que as pressões sociais para que as affordances sejam usufruídas em todas as suas potencialidades (você percebe que pode sentar à mesa do bar e até ficaria mais confortável ali que em cadeiras, mas não faz isso por educação), ou porque não possuem os recursos financeiros, tempo, etc. Quanto mais restritas as competências, mais restritivo – ou constrangedor, coagente, difícil de lidar e controlar (veja a figura 10-3). Essas restrições podem nos levar a altos índices de doenças mentais (Klee e outros, 1967). Por outro lado, tem-se formulado hipóteses (como o fez Lawson, 1977) de que se o ambiente construído demandar das pessoas menos competência do que a que elas detêm, então temos conforto, um ambiente confortável, que não exige de nós esforços intensos para sua experiência. Isso pode levar, se seguirmos com a hipótese, à atrofia das habilidades das pessoas. O resultado disso, particularmente nas instituições, pode implicar na falta de contato e partilha entre as pessoas, na despersonalização, e na perda da competência

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ambiental (Goffman, 1961). Alguns ambientes são mais desafiadores que aqueles aos quais nos habituamos. Isso ocorre, por exemplo, quando nós nos mudamos para uma nova cidade. Somos então forçados a aprender coisas novas. Outras vezes nós procuramos, intencionalmente, ambientes especialmente desafiadores: nós nos dedicamos a escalar montanhas e penhascos, a saltar de aviões (Klausner, 1968). Outras vezes, as pessoas devem viver – e se ajustar – a situações perenemente estressantes (Burton et al., 1982). Desde que as pessoas tenham essa “competência de ajustar-se” a situações duradouramente estressantes, temos que ambientes assim caem numa “Zona de Máxima Performance Potencial”, como mostramos no diagrama (Figura 10-3). Alguns desses ambientes estão, simplesmente, acima de nossas ordinárias, presentes competências, para que possamos lidar confortável e perenemente com eles.

Figura 10-3: O conceito de Competência

C

O

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PRESSÃO AMBIENTAL

Ambiente confortável DEMAIS: a competência se atenua, se rarefaz. Com porta men to M argin alme nte A dapt ativo (Gra nde S eletiv idad e... S urviv al of the F ittes t) Zona de M áxim a Pe rform ance (Pot enci al) Zona de Gra nde Conf orto Com por tam ento Mar gin alm ente Ad apta tivo Ambiente desafiador DEMAIS: não há como desenvolver competências não há comportamento.

Ainda que um ambiente permita / suporte (afford) a ocorrência de um determinado conjunto de comportamentos, isso não significa que esses comportamentos ocorrerão, mesmo que as pessoas estejam conscientes dessas possibilidades (affordances) e sejam suficientemente competentes para usufruí-las, operá-las ou experimentá-las. Por outro lado, se essas possibilidades não estão presentes, isso

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significa que esses comportamentos não podem ser desempenhados. O ambiente pode ser adaptado para que tornem possível o desempenho de um determinado comportamento.

Também podemos imaginar que as pessoas podem adaptar seus próprios comportamentos, o modo como atuam, de modo a “fazer o possível nas condições dadas”. Essas adaptações podem, em certos casos, ser acompanhadas por estresse fisiológico ou psicológico. Isso é particularmente provável, como a teoria da dissonância explica, quando as pessoas se encontram em situações que não foram escolhidas por elas (Festinger, 1957). O papel do ambiente arquitetônico é, desse modo, de acomodação e não de determinação – com a exceção do sentido negativo do termo: se o ambiente construído não permite que um determinado comportamento ocorra, esse comportamento não ocorrerá. O quê, então, ocasiona os padrões comportamentais que praticamos e testemunhamos, e provoca mudanças em padrões comportamentais aparentemente estáveis? Essa é mesmo uma questão difícil de responder.

O comportamento humano, tanto o que ocorre nas nossas mentes quanto o que ocorre no espaço físico, depende de nossas intenções hábitos, assim como nas possibilidades (affordances) do mundo físico e social que habitamos. As intenções são uma complexa função de nossos schemata, envolvendo a “desejabilidade” de determinados comportamentos e suas conseqüências – tal como percebidas por nós -, assim como das pressões sociais que nos cercam. Torna-se, então, claro, que é algo tanto ingênuo quanto enganador a tentativa de explicar os nossos comportamentos somente em termos do ambiente construído, assim como de alimentar elevadas expectativas quanto à capacidade que o ambiente construído teria de mudar padrões de comportamento social. Devemos compreender que a natureza das motivações humanas, pois elas nos explicam algo sobre o foco da atenção das pessoas, em um determinado momento. O modelo de Maslow de hierarquia das motivações humanas (1943) é bem útil quanto a essa explicação, pois nós temos de forma auto-consciente (ou não, de forma automática) modelado os espaços construídos e a paisagem para que respondam às nossas necessidades psicológicas, nossas necessidades de segurança, de pertencimento, de auto-estima, de realização e, finalmente, nossas necessidades cognitivas e estéticas.

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Nossas atitudes são relacionadas com as nossas motivações. As coisas de que gostamos e as que não gostamos, as coisas que acreditamos serem boas ou más, importantes ou sem importância – essas atitudes são relacionadas com os vários processos e experiências de socialização que tivemos e, por conseqüência, que obtivemos em função das outras pessoas, por sua influência. Nós, por nossa vez, influenciamos os outros, ou tentamos fazer com que isso aconteça. Nossas personalidades e nossa formação cultural são indicadores – não são preditores acurados – das atitudes que mantemos com respeito às pessoas e com respeito às características do ambiente construído. De modo similar, isso também se aplica ao que nós percebemos ser os prêmios e os custos de nossa participação numa dada situação (setting) – com respeito às pessoas presentes nessa situação, ao seu comportamento, a todo o meio que nos envolve física e socialmente (como podemos discutir a partir da Figura 10-4, tirada de Helmreich, 1974).

Figura 10-4: A percepção da Qualidade Ambiental em Termos de Custos e Recompensas

(Fonte: Helmreich, 1974) R E C O M P E N SA S B ai xa Baixa Alta A lt a CUSTOS Situações de Excelência Situações Inaceitáveis Situações de Difícil Aceitação Situa ções Ord inár ias, Espe rada s

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Algumas situações (settings) são fortemente aversivas, desconfortáveis, mas os eventuais prêmios financeiros e psicológicos por estar nelas podem ser tão elevados que nós nos dispomos a pagar o preço e a aceitar o estresse. Outras situações também desagradáveis e estressantes podem ter prêmios ou compensações relativamente baixos frente a seus custos pessoais, físicos, emocionais, etc. Caímos, eventualmente, em situações assim, mas, se houver uma alternativa disponível, as pessoas se esforçarão para sair desse aperto. Algumas vezes, para aqueles encalacrados pela pobreza, por opressão política, por cerceamento de oportunidades e movimentos, podemos realmente

Organismo

Personalidade

Grupo Social

Cultura

Ambiente

Contribuição das Ciências Comportamentais à Teoria Substantiva da Prática Profissional do Projeto Ambiental

Figura 10-5: Um modelo para a organização da contribuição das ciências comportamentais à teoria positiva e substantiva

dedicada à prática profissional do projeto ambiental

Proc esso s Fun dame ntais do Comp ortam ento Hum ano Teor ias da s Estr utur as, Teor ias do s Mate riais Geom etria, etc. Cont ribuiç ões d as Ciênc ias N aturai s à Teo ria do Proje to Padr ões d e Ativ idade s Supo rte Fi siológ ico Supo rte Fi siológ ico Padr ões d o Ambie nte Cons truído Com po rtam en to Esp ac ial Co gn içã o e Afeto Pe rce pção Natureza do Cliente ou Usuário Natureza do Ambiente

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ficar sem alternativas por muito tempo – por toda a vida. Devemos ainda considerar situações em que as recompensas são bem altas, e os custos bem baixos. Apesar de sua inegável atratividade, não se pode esperar que situações assim sejam freqüentes para todos nós.

CONCLUSÃO

Há uma grande diversidade de textos e declarações formais acerca do significado que o ambiente físico – inanimado, em especial – tem para as nossas existências. Qualquer pessoa que tenha dependurado um bonito e colorido pôster nas paredes de um desses desolados escritórios modernos ou que, ao caminhar preferencialmente por uma determinada rua ou série de ruas, no centro de sua cidade, simplesmente porque formam uma seqüência mais atrativa, mais agradável, ou ainda que escolheu comprar ou alugar uma casa ou apartamento em uma dada vizinhança, de preferência a outras vizinhanças, porque é mais quieta, agradável, limpa, ordeira... sabe que as qualidades do ambiente afetam as percepções que temos de nossa qualidade de vida.

É tentador perceber essas declarações acerca de nossos ambientes e de nossos comportamentos como algo que pertinente apenas aos ambientes construídos, em vez de os associarmos a todo o ambiente sócio-físico que podemos experienciar. É tentador adotar um modelo simplista de estímulo-resposta, explicativo do comportamento humano. Dada a ampla diversidade de atividades que podem ocorrer dentro da mesma situação arquitetural, cair nessas tentações pode nos levar a erros grosseiros no campo das aplicações e das teorias subjacentes às práticas de projeto, acerca da natureza e qualidade de suas tarefas e realizações. Mas algo assim ocorreu no passado dessas profissões.

O ambiente arquitetônico é mais determinador, mais instrumental, e, portanto, mais importante quanto a poder prover satisfação a algumas necessidades básicas das pessoas (como o abrigo e a segurança física) do que satisfatório quanto a alcançar tão bem a satisfação daquelas necessidades que são produzidas pelas relações interpessoais e sociais. Bem, até mesmo nesse aspecto o ambiente construído é importante, porque ele – pelo menos em parte – pode dar conta de nossas necessidades de auto-estima, de senso de afiliação, e de nosso senso estético (através das mensagens simbólicas que o ambiente construído nos envia de forma perene e variada, dirigidas aos nossos sensos de

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identidade, de status, aos nossos valores pessoais e culturais). Mas devemos considerar com cuidado as limitações que o projeto físico apresenta quanto ao que realmente alcança e cumpre no campo da satisfação das necessidades sociais.

O projeto de uma edificação penetra as vidas das pessoas através das coisas que possibilita (affordances). Não se pode assumir, de forma simplista, que somente por portar tais possibilidades de experiência e comportamento (affordances), que as atividades que os projetistas, proprietários, financiadores, incorporadores, formuladores de políticas públicas imaginam ser adequadas, boas para as pessoas – ou que as qualidades estéticas pretensamente materializadas pelos projetistas são capazes de exercer todo o seu encantamento –, que implicarão em respostas esperadas, tal como por eles desejado, dadas pelas pessoas. Nem todas as pessoas percebem e experienciam as possibilidades do ambiente (affordances) da mesma maneira.

O ambiente existente, efetivo, é diferente para diferentes pessoas. Se essas diferenças ocorrem de um modo difícil de destrinçar, então a conclusão a que as pessoas chegarão é de que tudo o que se pode conseguir através do projeto é que alguns comportamentos sejam “permitidos” e que outros comportamentos sejam “coibidos” – algo que pode ser considerado de forma esquemática, probabilista. O comportamento das pessoas, contudo, não acontece de forma tão confusa que nos pareça indestrinçável. Seus códigos possuem necessariamente alguma predicabilidade. É possível fazer predições acerca de quem ou que tipo de pessoa usará esse ou aquele espaço, esse ou aquele edifício, quem prestará atenção a detalhes do edifício ou à sua grande composição arquitetônica – e, desses, quem não hesitará em demonstrar seu caloroso a apreço, e quem não o fará. Algumas poucas dessas predições podem ser feitas com margens de erro bem pequenas; a maioria tem uma margem de erro bem grande, até quase perder o significado de certeza. A teoria do projeto ambiental, nesse sentido, não é uma ciência determinista.

É possível assumir uma série de instâncias normativas nessa tarefa de construção de uma teoria positiva, baseada nessas observações. O sociólogo F. J. Langdon (1966) percebeu assim a relação entre o desenvolvimento de projetos e a construção de teorias:

Nós precisamos estudar o ambiente social de modo a criarmos ambientes que tornem mais fácil para as pessoas fazerem o que querem e o que têm que fazer, viverem do

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modo que desejam, assim como tornar desnecessário que façam o que não desejam fazer – ou que não fariam com facilidade, por eleição.

Essa é uma afirmação com forte conteúdo ideológico. Poderia, com certeza, tornar possível tomar o mesmo desiderato, o mesmo raciocínio, e criar ambientes que tornariam tudo mais difícil, o exato oposto da pretensão de Langdon.

UM MODELO DE TEORIA SUBTANTIVA PARA O PROJETO AMBIENTAL

A Figura 10-5 representa um esforço de categorização não apenas o que nós conhecemos, mas o que precisamos conhecer – um julgamento distintamente normativo. Nós estamos interessados nos padrões do ambiente construído e em suas possibilidades de uso (affordances) (A). Nós precisamos compreender como esses padrões suportam e criam a cena para diferentes atividades humanas e – dada uma determinada atividade – proporciona conforto psicológico também. Também estávamos interessados em compreender quais os padrões do ambiente construído que nos levam ao prazer estético. Além disso, apesar de ser assunto algo distante do escopo deste livro – dado que pertencem às ciências físicas -, estamos interessados nos padrões que são possíveis, em termos geométricos e estruturais (B). Estamos também interessados nos modos como as pessoas percebem, pensam acerca de – e reagem a – essas possibilidades de uso (affordances) (C); estamos interessados com a compreensão das diferenças individuais e ambientais (D) que são boas preditoras dos modos como as pessoas se comportam e das possibilidades de apropriação do ambiente (affordances) que são, por conseqüência de seu interesse, que julgam importantes. Com isso, propomos essa matriz tridimensional de aspectos de interesse para a teoria e para a pesquisa. Nós compreendemos algumas das interseções expostas na matriz que outras. Nós conhecemos bem mais acerca das interseções que envolvem a cultura, o comportamento espacial territorial e os padrões ambientais que estão associados a esses aspectos, por exemplo, do que sobre as interações entre a cultura, os processos comportamentais de cognição e afeto, e a estética simbólica. Um dos objetivos deste livro é trazer atenção para aquilo que já sabemos, em contraste com as áreas em que nosso conhecimento é impreciso, insuficiente.

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A UTILIDADE DESSA MATRIZ DE CONHECIMENTOS

O conhecimento oferecido por tal teoria será de muito maior importância no projeto de determinados tipos de edifícios que em outros, a depender de seus propósitos. Kyio Izumi (Saarinen, 1976) sugere que alguns edifícios são projetados com maior ênfase no funcionamento de máquinas e de equipamento do que para as pessoas que os usam. Em outros edifícios, as necessidades das pessoas são super-valorizadas – ver o diagrama 10-6. Ele rotula o primeiro grupo de “edifícios antropozêmicos” e esses últimos de “antropofílicos”. Nos edifícios antropozêmicos, as pessoas têm que se adaptar às condições dadas. Nos edifícios antropofílicos, são os equipamentos e sistemas tecnológicos que devem se adaptar às condições impostas pelas pessoas (Izumi, 1968).

Figura 10-6: Edifícios Antropozêmicos e Edifícios Antropofílicos

(Fonte: Izumi, 1968).

Edifícios de Escritórios Bibliotecas

Laboratórios

Centros de Compras e Lojas

Centrais de Energia Terminais de Carga Fábricas, Estaleiros Hidrelétricas Casas Escolas Hospitais Penitenciárias ANTROPOFÍLICO (Humano) ANTROPOZÊMICO (Não-Humano) LEITURAS ADICIONAIS

Franck, Karen. “Exorcising the Ghost of Physical Determinism”. Environment and Behavior 10, no. 4 (Julho de 1984): 411-430.

Gans, Herbert. People and Plans: Essays on Urban Problems and Solutions. Nova York: Basic Books, 1968.

Kaplan, Stephen. “A Model of Person-Environment Compatibility”. Environment and Behavior 15, no. 3 (Maio de 1983): 311-322.

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Lipman, Alan. “The Architectural Belief System and Social Behavior’. Em Jon Lang et al. (editors), Designing for Human Behavior: Architecture and the Behavioral Sciences. Stroudsburg, Pa.: Dowden, Hutchinson and Ross, 1974, pp. 23-38.

Langdon, F. J. “The Social and the Physical Environment: A Social Scientist’s View”. Journal of the Royal Institute of British Architects 73 (1966): 460-464.

Proshansky, Harold M. William Ittelson, e Leanne Rivlin. “The Influence of the Built Environment on Human Behavior: Some Basic Assumptions”. Em Proshansky, Ittelson, e Rivlin (editors), Environmental Psychology: Man and His Physical Setting. Nova York: Holt, Rinehart and Winston, 1970, pp. 27-36.

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Referências

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