T
Quem tem direito ao “uso do véu”?
Artigo de :
Quem tem direito ao “uso do véu”
Este artigo tem como base de discussão dois textos fundamentais. O último livro de Seyla Benhabib, The Claims of Culture
(A s Reivindicações da Cultura).
O Relatório redigido pela Comissão de Reflexão sobre a aplicação do princípio de laicidade na República a 11 de Dezembro de 2003, (que recomenda ao governo Francês a proibição do uso do véu pelas jovens
Quem tem direito ao “uso do véu”
O relatório está dividido em quatro partes. Começando a sua introdução com uma carta ao Presidente da Republica, onde a comissão estabelece as bases a partir das quais elaborou o documento.
A tónica mais acentuada nesse documento é a ameaça aos valores da República Francesa por grupos extremistas.
Esses grupos , segundo o relatório, devido ao conflito do M édio Oriente, estariam a criar problemas nas cidades francesas.
“Há portanto um território ameaçado a partir de dentro pelo estranho, aquele que não faz parte de nós, em contraposição a uma unidade formada pelos valores Franceses”
Quem tem direito ao “uso do véu”
A primeira parte do relatório é fundamentada sobre a defesa de um estado laico, o seu princípio universal e os valores republicanos.
A laicidade de um Estado é entendida como uma conquista frente à influência da Igreja Católica, garantindo aos seus cidadãos a plena liberdade de culto e a neutralidade em questões religiosas.
No entanto, essa não é a questão central do argumento, mas sim a ameaça aos valores Franceses nunca definidos pela presença de manifestações religiosas.
Quem tem direito ao “uso do véu”
Não se pode confundir a neutralidade do estado e de seus representantes legais , com a neutralidade do cidadão.
Não existem dúvidas que o espaço público mais aberto para o
entendimento ou confronto de ideias e posições, é a escola que, ao
contrário do que prediz o relatório, tem sido “eco de paixões do mundo,” até por ser um pólo de concentração de juventude .
Quem tem direito ao “uso do véu”
Sendo a França um estado laico , torna-se muito interessante observar que o conceito de laicidade é constituído como um referendo único dos “valores
comuns da sociedade”, onde o islamismo aparece à priori como
incompatível, na medida em que pressupõe uma relação diferente entre o estado e a religião.
O que fica bastante claro nesse relatório é que o islamismo não poderá ser uma diferença (uma cultura) integrante de um espaço público plural; só será tolerada se for praticada em espaços privados.
Quem tem direito ao “uso do véu”
Nesta parte o relatório enfatiza a diversidade de novas religiões e culturas que vivem em França e que lhes reconhece como um direito à “Chance
de s´enrichir du libre dialogue… ” (oportunidade de crescer livre de diálogo).
M as logo de seguida define a filosofia política francesa como a expressão da defesa da unidade do corpo social, “A percepção da unidade e de
diferença como ameaça resulta na mesma situação de exclusão”.
O relatório revela uma visão reducionista, na medida em que reivindica para a necessidade de auto-afirmação( por parte da cultura francesa) e não por uma luta de justiça social.
Quem tem direito ao “uso do véu”
A segunda parte do relatório (“A laicidade francesa, um princípio
jurídico aplicado com empirismo”) discute o ponto de maior tensão entre
a neutralidade de um Estado laico versus a liberdade religiosa.
A solução apresentada no relatório é a possibilidade de se criarem escolas muçulmanas.
A s escolas muçulmanas não seria o problema, uma vez que existem escolas Católicas, Israelitas, Protestantes…
Quem tem direito ao “uso do véu”
A questão é quando essa mesma escola religiosa é criada com o intuito de confinar os estudantes praticantes de uma religião, deixando de ser uma opção e passar a ser a única possibilidade de educação.
A exigência de não manifestações religiosas nas escolas públicas parece confundir a laicidade do estado.
Quem tem direito ao “uso do véu”
Na terceira parte do relatório sob o titulo “O desafio da laicidade”, a principal questão refere-se ao uso do véu como uma regressão à situação das mulheres nas comunidades muçulmanas, afirmando que estas seriam obrigadas a usá-los sob pena de serem marginalizadas/e estigmatizadas como prostitutas.
Embora seja prova da discriminação da mulher “ as jovens usam o véu por livre e espontânea vontade, até porque sentem-se despidas sem ele, devido à cultura da qual fazem parte”.
Quem tem direito ao “uso do véu”
Surge então (após a leitura do relatório) diversas questões:
Se o relatório está errado ao afirmar que as jovens muçulmanas são obrigadas a usar o véu?
E se as jovens usarem o véu de livre e espontânea vontade, por se sentirem de alguma forma despidas quando estão sem ele?
Uma pergunta se impõe:
A proibição do uso do véu as mulheres muçulmanas, traz algum contributo para a sua condição enquanto mulher?
Quem tem direito ao “uso do véu”
Esta imposição , não levaria de alguma forma, a uma tendência a afirmação da diferença e a uma radicalização e justificação da cultura sexista?
M as se o relatório estiver certo e as jovens muçulmanas forem mesmo obrigadas a usarem o véu?
Que justiça se faria a estas mulheres ao obrigá-las a não usarem o véu?
O Estado poderá garantir a estas mulheres uma vida digna ,se elas ousarem desafiar a família e toda uma comunidade que as pode excluir?
O uso do véu por vontade própria ou por imposição , serve de impedimento para qualquer jovem muçulmana frequentar a escola publica francesa?
Quem tem direito ao “uso do véu”
Benhabib afirma no seu livro que a única forma de agir com justiça para com a mulher muçulmana, é permitir que elas sejam expostas aos espaços públicos, laicos e diferenciados, onde se possa expressar e ouvir opiniões diferentes das suas, para lhes dar a possibilidade de decidirem em consciência e liberdade, se querem ou não usar o véu.
Quem tem direito ao “uso do véu”
O relatório para fazer os seus argumentos, contra o uso do véu, associa outro tipo de comportamento como por exemplo:
A s jovens não assistirem as aulas de educação física; Não frequentarem piscinas públicas;
Não permitirem ser examinadas por médicos (homens);
A pontam o sexismo da religião muçulmana nos locais de trabalho, (os homens não aceitam as mulheres como superiores hierárquicos);
Refere também o facto de pacientes muçulmanos e familiares não obedecerem a princípios básicos de higiene nos hospitais.
Quem tem direito ao “uso do véu”?
A última parte do relatório intitulada “afirmar uma laicidade firme que reúna” é a arte conclusiva onde são propostas medidas, para garantir a laicidade (aparece como uma ideologia do estado para garantir os valores da “cultura francesa” e a integração de todos os que moram no “seu” país.):
Neste sentido o relatório sugere:
A formação de professores para ensinar a filosofia laica e os valores da República; Fim do programa de ensino da língua e cultura dos países de origem;
O espaço escolar deve ser para os jovens “ un lieu de liberté et d´émancipation” (“um lugar de liberdade e emancipação”), assim justifica a proibição, nas escolas, do uso de indumentária ou outros sinais relacionados/ligados a alguma religião ou organização política;
Quem tem direito ao “uso do véu”?
O relatório apresenta uma sólida posição contra qualquer
manifestação de cultura que não se enquadre na chamada Cultura Laica Francesa.
Revela também como a cultura é tomada como impermeável e a cultura do outro só é entendida como uma ameaça.
A parte mais radical deste relatório é a justificação para não
ensinarem a língua dos países de origem aos filhos dos emigrantes. (eles
Quem tem direito ao “uso do véu”?
A morte da cultura “do outro” através do esquecimento provocado parece ter sido asolução encontrada pela comissão, para a solução dos “seus” problemas.
Quem tem direito ao “uso do véu”
Tem direito ao uso do véu, todos os cidadãos e cidadãs, por questões culturais, de etnia, classe, sexo religião, opção sexual ou idade, não tenham condições de
usufruir em total liberdade, o direito a terem
DIREITOS
Quem tem direito ao “uso do véu”?
Só a titulo de curiosidade
Trabalho de antropologia: A na Catarina Pontes 20081371 Cláudia Lourenço 20080550