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A Índia até 1939. A Ásia Oriental nos sécs. XIX e XX.

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Capítulo 7

A índia até 1939

AS TRANSFORMAÇÕES DA

SOCIEDADE INDIANA

Já foram salientados os traços da economia colonial britânica nas índias: progresso do grande comércio de trocas dos produtos alimen-tícios e matérias-primas por produtos fabricados e material de equi-pamento: progresso dos investimentos metropolitanos nas planta-ções, minas e ferrovias; atraso das culturas alimentícias em relação às culturas industriais. A sociedade indiana sofreu p r o f u n d a transforma-ção. ,

A índia permaneceu um país essencialmente agrícola, mas os camponeses não se aproveitaram muito dos progressos da economia e de mercado. O campesinato está encerrado num "sistema de

autoblo-queio" (built-in depressor, segundo D. T h o r n e r ' , sob os efeitos com-binados de elevadas taxas de arrendamento, estagnação técnica, usura, recuo das culturas alimentícias em proveito das culturas desti-nadas à venda, e fomes. Está esmagado, diz R. P. Dutt2, sob o "triplo fardo"- do landlordismo, do imposto e da usura: não tem o mínimo v i t a l ' /

O fato maior parece ser o desenvolvimento do landlordismo, desde que as medidas fiscais tomadas pelas autoridades britânicas, no 0,-" fim do século XVIII, quebraram a antiga unidade da aldeia indiana, > * tornaram a terra alienável e constituíram uma classe de proprietários 0 rurais, responsáveis pelos impostos e com plena liberdade para

ex-piorar seus camponeses. Príncipes indianos: zamindar e outras varie-fr' v dades de senhores feudais; negociantes usurários que compraram

ter-X ^ ras; todos fixam rendas rurais, que f r e q ü e n t e m e n t e ultrapassam a

me-CHESNEAUX, Jean. A Ásia Oriental nos sécs. XIX e XX. São Paulo: Pioneira, 1976.

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tade das colheitas efetuadas pelos colonos. N a outra extremidade da escala social, o número dos tarefeiros e camponeses sem terra au-mentou com regularidade: mas essa "polarização" das classes rurais deixou subsistir um grupo importante de pequenos proprietários-lavradores bem miseráveis./

/ / N o s anos ruins, os camponeses são forçados a recorrer aos agio-V v tas para pagar seus impostos em dinheiro. O montante total do dé-^ bito rural era estimado em 3 bilhões de rúpias em 1911, e em 18

bilhões em 19.374. Em compensação, a concorrência dos produtos C . / industriais e o empobrecimento geral precipitaram a decadência do v ^artesanato rural, elemento de equilíbrio e de diversidade da econo-j> <x mia das vilas: decadência aliás desigual5, pois o tecelão, o tintureiro e y^v" o curtidor de couros são atingidos de maneira mais severa que o

ferreiro, o carpinteiro e o oleiro. Os artesãos que subsistem depen-dem dos comerciantes que processam o escoamento de sua produ-ção, ao contrário de antigamente, quando eram os servidores coleti-vos da v i d a . /

/A diminuição do tamanho das empresas rurais traduz ao mesmo or ' ,; tempo o progresso demográfico, o desemprego dos antigos artesãos e / a pouca eficácia de alguns trabalhos de arroteamento e de irrigação

r >:- empreendidos pelos ingleses. N u m a vila típica do Deccan, o tamanho / médio das empresas era de 40 acres* em 1970, de 17,5 acres em v ^ . 1818, de 7 acres em 19146. Acrescente-se que o crescimento

demo-^ gráfico é severamente contrabalançado pelas fomes, epidemias, des-' ^ J* nutrição e o deplorável estado sanitário. Dezoito epidemias de fome,

^ rf / d e 1875 a 1900, produzem 26 milhões de mortos (mapa n.° 6): a 1 ' ^ / e p i d e m i a de gripe de 1918 provoca 8 milhões de ó b i t o s . /

/ O campesinato não suportou com passividade esses múltiplos ma-les. A agitação agrária torna-se endêmica, dirigida principalmente contra os agiotas (no Deccan em 1875, no P e n d j a b perto de 1900). Gandhi participa, em 1919, da revolta dos camponeses de Champa-ran, no Bihar. Uniões camponesas (Kisan Sabha) de tipo m o d e r n o organizam-se tardiamente, se bem que o campesinato seja atingido - ^ com dureza pelos efeitos da crise mundial de 1929/19.30. A All-^ índia Kisan Sabha é fundada em Lucknow, em 1935.//

y / o desenvolvimento do capitalismo colonial fez surgir novas cate-gorias sociais: o proletariado industrial e a burguesia moderna.

A partir da metade do século X I X , a distribuição da população X^ operária reflete o crescimento dos diversos setores modernos da

economia colonial: ferroviários e trabalhadores das docas, das plan-tações de chá, mineiros das minas de ferro e carvão, operários das fiações e tecelagens de Bombaim e de Allahabad e das fábricas de

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juta de Calcutá. Se bem que as estatísticas coloniais não separem claramente os operários da grande indústria e dos transportes mo-dernos dos assalariados do artesanato e das outras pequenas oficinas, seu efetivo total, em torno de 1940, devia situar-se nas proximidades de 3".500.000 pessoas . Entretanto, esse crescimento do proleta-r i a d o , assim paproleta-rece, está longe de compensaproleta-r a diminuição em valoproleta-r

absoluto da p o p u l a ç ã o o c u p a d a na indústria.,//Na o r i g e m disto ;vt- V" encontra-se a decadência das pequenas empresas tradicionais e do

vf- artesanato urbano. É a tese da "desindustrialização" da índia na época colonial: tese defendida pela grande maioria dos historiadores e eco-J nomistas indianos, ainda que alguns a tenham posto em dúvida re-centemente* /Esse proletariado industrial caracteriza-se por sua misé-^ V ria, seu recrutamento, essencialmente rural, o baixo nível de qualifi-^ s í qualifi-^ qualifi-^ cação profissional, a instabilidade sociológica9. N ã o difere de maneira

fundamental do proletariado chinês ou vietnamita da mesma época Á s autoridades coloniais britânicas tentaram, desde o fim do sé-,. ~ culo X I X , introduzir uma legislação trabalhista. Porém ela só incidia

/ sobre os casos mais revoltantes, por exemplo o trabalho das crianças, v»' , < Deixava de lado os problemas fundamentais do salário e da moradia: ' ^ Y V quase não foi aplicada e não desviou o movimento operário do seu

\ r caminho. As primeiras greves apareceram no fim do século X I X . Em Vqy%ir-' 1920, contava-se um milhão e meio de grevistas. Nesse mesmo ano y foi fundado o All-lndia Trade Union Congress. Ele promoveu a

for-; r mação de numerosos sindicatos, sobretudo em Bombaim (onde havia 200.000 sindicalizados em 1929), entre os ferroviários e os operários / . t de juta de Calcutá. Alguns dirigentes eram de tendência moderada,

L mas neles também se manifestava a influência comunista. O grande Processo de M e e r u t (1929-1930), instaurado pelas autoridades britâ-nicas contra trinta e um dirigentes operários, reflete o agravamento das tensões sociais na indústria indiana"/!

J * / N a esteira do capitalismo colonial britânico, uma burguesia mo-derna indiana fundou fábricas (fiações e tecelagens de Bombaim e das províncias centrais, siderúrgicas de Jamshedpur) e abriu bancos e casas comerciais atacadistas. Essa burguesia deriva, na maioria dos casos, da antiga classe de mercadores, em especial de alguns grupos étnicos muito ativos, tal os parses de Bombain (como 5Yr Jamstji Tata, fundador de Jamshedpur), ou os marwaris, emprestadores de dinheiro do Rajputana (como Birla, o magnata da indústria algo-d o e i r a ) . O progresso algo-do capitalismo inalgo-diano, algo-desalgo-de o último terço algo-do / ( s é c u l o X I X , p e r m a n e c e , no e n t a n t o , abaixo de suas ambições.

Organizou-se rapidamente em grandes monopólios, que contfolam v diversos setores de atividade (como os trustes/Tata ou Birla). Mas teve que se restringir à indústria leve ou à produção de bens em

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bruto ou semi-acabados, sem poder concorrer com a indústria britâ-nica no setor chave das máquinas e dos produtos de equipamento / ^ p e s a d o . Foi entravado pela fraqueza extrema do poder de compra das

, massas populares, pela insuficiente proteção que obtinha das tarifas aduaneiras estabelecidas pelas autoridades coloniais britânicas, pela ^ existência em seu seio de um setor "comprador" (as managing agen-v cies indianas), enfim, pela seagen-vera concorrência das empresas britâni-c ' britâni-cas, melhor equipadas e melhor finanbritâni-ciadas As Câmaras de Comér-(./>cio indianas, por setor de indústria ou região, que se formara entre '-< 1890-1910, tiveram como objetivo defender esses interesses e rei-- vindicar uma tarifa protetora mais eficaz, que permitisse o desenvolrei-- desenvol-[Á vimento da produção nacional (Sivadeshi). Elas se agruparam em

1927 na Federation of Indian chambers of Commerce and Industry. Suas preocupações abrangeram grande espaço no programa e nas ativida-des do Partido do Congresso. //

yÒ aparecimento de "novas classes médias" é outro aspecto im-portante da evolução social. Os professores das universidades funda-rá das pelos ingleses na segunda metade do século X I X , os advogados, V " ' jornalistas, empregados subalternos (clerks) das firmas britânicas e do ° -f.*'' Indian Civil Service, não são muito numerosos, mas bastante ativos e y influentes. São muito sensíveis à diferença que existe entre o seu Ç estatuto social e o dé seus homólogos britânicos que vivem nas

ín-dias. Conhecem a insegurança do emprego e do desemprego. O in-glês é sua língua comum de expressão, o que os torna aptos a desem-penhar um papel nacional <All-lndia) acima das diferenças de línguas regionais, de casta e de religião. Constituirão os quadros do movi-mento nacional, inclusive da ala mais avançada. Por causa do funcio-namento da máquina colonial britânica, não há entre eles grande nú-mero de técnicos, mas uma grande maioria de pessoas cuja finalidade é escrever e falar.,/

0 MOVIMENTO NACIONAL NO SÉCULO XIX: TRADIÇÃO OU PROGRESSO

/ P o r todo o século X I X , o ocidentalismo, a preocupação de de-^ N í >«envolvimento pela cooperação com o poder inglês, o desejo de res-/ res-/ ponder ao desafio do Ocidente mais adiantado sem enfrentá-lo, do-/ minam o movimento nacional indiano. O episódio sangrento da Re-v" volta dos Cipaios e da "primeira guerra indiana de independência'', - p aqui só intervém como contraprova, negativo, embora decisivo por sua própria fragilidade. Ele não alterou o curso principal do movi-mento das idéias.,

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«kaja Rammohun Roy faz figura de chefe de fila. Este brâmane, jv ,que entrou para a administração inglesa de Bengala, fundador do j'. primeiro jornal em bengali e partidário da introdução da educação inglesa, empenhou-se ao máximo em reformar a velha sociedade in-diana e abolir velhos usos, entre eles a morte das viúvas nas foguei-ras. Aplicou-se, ao mesmo tempo, em convencer os ingleses a conce-der maiores liberdades políticas à índia, e com esse fim viajou para a Inglaterra, onde faleceu em 1833. Ele é mesmo o "Pai da índia Mo-d e r n a " " . Em 1828, f u n Mo-d a r a uma socieMo-daMo-de político-religiosa, o Brahmosamaj, que procurou renovar o induísmo, nele integrando al-guns valores c r i s t ã o s /

Roy representava as esperanças, e, sem dúvida, as ilusões da mi-r ' nomi-ria esclami-recida.^im 1857, a índia tmi-radicional se sublevou, em úl-timo sobressalto, contra a dominação política inglesa. Os episódios 1 do "Grande Motim" são bem conhecidos/sobretudo graças aos traba-5T .«lhos publicados em 1957 pelos historiadores indianos, por ocasião do

Y seu centenário14. Da Revolta de Meerut á queda de Delhi e à restau-? r f ração, pelos rebeldes, do velho império dos mongóis, a dominação

yí inglesa esteve em sério perigo./fvlas o Motim não teria alcançado tamanha amplitude se refletisse apenas o descontentamento dos ci-paios indianos do Exército. Beneficiou-se de outros apoios: dos

prín-A

J . cipes e políticos recentemente despojados pela administração inglesa s> g ou ameaçados por sua política de absorção dos principados indianos; v dos quadros religiosos inquietos com o progresso das missões cristãs; dos artesãos arruinados pela concorrência das mercadorias inglesas . Essa heterogeneidade foi tão responsável pelo fracasso do movi-mento quanto a técnica superior das tropas inglesas. Esses "feudais" despojados eram incapazes de aglomerar as massas populares, nem mesmo entender-se entre si. A abstenção, por exemplo dos príncipes do Sindh, do Nepal e de Haiderabad, foi decisiva quando os ingleses ainda não haviam recebido os reforços e s p e r a d o s /

As forças políticas tradicionais não eram, portanto, capazes de restau-rar a independência perdida. Também nunca o tentaram, porque as auto-ridades britânicas haviam invertido sua política a respeito dos princi-pados indianos, empenhando-se em mantê-los em seus lugares, em } vez de continuar a destruí-los. t/A direção do movimento nacional yr- passa para os intelectuais ocidentalizados e à burguesia comerciante o- V moderada.

A dominação inglesa aparece, então, de tal forma organizada que os y- o- . intelectuais só expressam suas aspirações políticas através de pesquisas religiosas, enriquecidas eventualmente de preocupações educativas e so-ciais. Esta é a orientação do Brahmosamaj, reorganizado, após a morte de

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Roy, por Devendranath Tagore (1817-1905), filho de rico capitalista de Bengala. Este movimento é aliás bastante complexo16. Alguns insistem na necessidade de reforma do hinduísmo (o Brahmosamaj) ou de reformas sociais (é o caso do Sarnaj dissidente, formado em 1865 por Keshub Chendra Sen); outros mostram preferência pelo hinduísmo tradicional, como o Arysamaj de Dayananda (1824-1885), ou por um sincretismo sem fronteiras, como Ramakrishna ( 1 8 3 4 - 1 8 8 6 ) e Vivekananda (1863-1902). Mas nenhuma dessas correntes se isola completamente das realidades políticas e sociais. O Brahmosamaj insiste na noção de progresso; Dayananda é o primeiro a utilizar o termo de Swaraj (go-verno por si próprio), que será uma das grandes palavras de o r d e m do Congresso na etapa seguintej Vivekananda é influenciado por Kropotkin e critica o capitalismo."

,:•„'• / Ò u t r o s elementos, ao contrário, se voltam para uma ação pro-y ./priamente política: Dadabhai Naoroji (1825-1917), próspero comer-- j comer-- f ciante parse, o primeiro a expor a tese do drain of wealth da índia

para a Inglaterra, mas também partidário convicto da aproximação anglo-indiana (para esse fim, em 1892, fez-se eleger para as Comu-nas); Surendranath Banerjee (1848-1916), grande publicista bengali; o juiz Ranade (1842-1901), um marata, e seu discípulo Gokhale (1866-1915), matemático e economista, um dos primeiros indianos a participar do Conselho Legislativo do vice-rei (a partir de 1892 fran-queado a alguns indianos) . Todos esses homens e seus numerosos amigos estão sinceramente ligados à causa nacional, mas convencidos de que é preciso depositar confiança na Inglaterra, proceder por ^m* meio de reformas prudentes, agir "constitucionalmente", nos limites

da ordem e da lei. São essas idéias que presidem à fundação, em " j . 1885, do Indian National Congress, do qual eles são os primeiros

di-c rigentes. Esse futuro partido nadi-cionalista e revoludi-cionário é, de fato, muito moderado em sua origem, quase não é mais do que um comitê W j o de personalidades; o que ele pede é maior participação indiana nos , v® Conselhos. Legislativos Britânicos (em Calcutá e nas províncias), ou a admissão dos indianos nos postos principais do Indian Civil Service. Gokhale retoma a velha palavra de ordem da burguesia ocidental nos séculos X V I I e XVIII: "nenhum imposto sem representação". As autoridades inglesas não viram com maus olhos a formação de uma "oposição" desse tipo, uma "válvula de segurança", na expressão de um administrador britânico, H u m e , que pôde ser chamado o "Pai" do Partido do C o n g r e s s o '8/

f r h sta fase "liberal" do movimento nacional obtém poucos resulta-dos concretos. A lista é longa 9, das promessas bem moderadas vota-* das pelo Congresso. Lord Elgin e Lord Curzon, vice-reis autoritários,

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não lhes deram a t e n ç ã o / Ò fracasso levou alguns elementos a tomar ^ outra direção. Seu líder era um brâmane, Tilak (1856-1920). Acen-çj/1 jr tuou o papel das massas populares (às quais se dirigia publicando

jornais nas línguas "vernáculas", como o marata); insistiu sobre a im-z portância da ação, mesmo ilegal como o boicote, e propôs uma rein-terpretação "ativista" do Bhagavat Gita; reivindicou para o hin-duísmo seu papel de religião nacional e criticou com intensidade o ocidentalismo e a moderação dos dirigentes do Congresso, de modo especial de seu contemporâneo Gokhale, com quem manteve longa e apaixonada polêmica a partir de 1897. O choque dessas duas políticas opostas deu novo impulso ao movimento nacional indiano./

0 CRESCIMENTO DAS LUTAS NACIONAIS DE 1905 A 1939 Inúmeros trabalhos foram consagrados a esse período20. Desta-quemos os seus quatro momentos mais importantes.

/ E m primeiro lugar, a intervenção ativa das forças populares, dos sin-. dicatos e do campesinato torna complexa a evolução do movimento na-cional. Forma-se uma esquerda, que não separa mais a libertação nacional da libertação social. Entre 1920-1930, um grupo de intelectuais radicais, "<• " . ' ' e r a torno de Jawaharlal Nehru e de Subhas Chandra Bose, proclama-se abertamente socialista. O Partido Comunista Indiano, fundado em 1921, permanece muito fraco para pesar diretamente na vida pública, mas é influente nas organizações operárias e camponesas^Slumerosos sindicalis-tas julgados em Meerut eram comunissindicalis-tas. Essa ala avançada opunha-se à ala direitista do Congresso, que preconiza em relação à Inglaterra tática moderada e era socialmente conservadora (um dos seus dirigentes era o riquíssimo Birla).

Por diversas vezes, o movimento nacional se dividiu. Os moderados separam-se em 1907, quando Gokhale e seus amigos rompem com os métodos radicais de Tilak; em 1918, quando formam uma "Federação Liberal"; em 1923, quando Motilal Nehru (pai de Jawaharlal) constituiu um Sivaraj Party que aceita entrar para as assembléias provinciais ou-torgadas pelos ingleses. Em 1939, a cisão vem da esquerda, com o Forivard Bloc de Chandra Bose, hostil aos governos provinciais, que o Partido do Congresso concordou em constituir em algumas regiões.

/ O n d e situar Gandhi? Este ponto continua a levantar inúmeras controvérsias. Parece assentado que esse patriota apaixonado, de ex-cepcional ascendência sobre as massas, decidira, por tática ou convic-ção, não enfrentar as classes dominantes indianas. Preferia a não-violência iahimsa), a não-cooperação (satyagraha), a renovação das tecelagens aldeãs (khadi). Em 1922, suspende bruscamente o movi-mento de não-cooperação, então em pleno vigor, quando os

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campo-neses da vila de Chauri-Chaura sublevam-se contra seus proprietários rurais e atacam a polícia. Ele força a direção do Congresso a votar a famosa resolução de Bardoli, cujo ponto 7 lembrava aos camponeses indianos o dever de pagar a renda aos despóticos zamindar..

. É m segundo lugar, a luta nacional indiana integra-se doravante, ,'éstreitamente, na evolução internacional; volta-se a encontrar nisto as V pulsações já observadas no Sudeste Asiático durante esse período. ' / Os anos 1905-1907 correspondem ao grande boicote lançado por ..Tilak, no m o m e n t o em que a vitória japonesa nas ilhas Tsushima P entusiasma toda a Ásia. N o s dias que se seguem à Primeira Guerra y , Mundial, essa "desglorificação do Oeste", segundo a feliz expressão -v i de J. Romein 21, e logo após a Revolução Soviética, assiste-se à nova

investida das lutas p o p u l a r e s e ao g r a n d e m o v i m e n t o de não-\ cooperação lançado por Gandhi e pelo Congresso para conquistar o

Sivaraj, a independência. Em 1930-1933, enquanto a crise econô-mica mundial atinge com dureza os operários, os camponeses, os e m p r e g a d o s e p e q u e n o s funcionários (há 500.000 grevistas em 1929), a campanha de desobediência civil, lançada de novo por Gandhi e pelo Congresso para obter a independência, e não o esta-tuto de Domínio, é acompanhada de greve nas salas de aula, boicote de mercadorias inglesas e manifestações de rua./

t/h Inglaterra é constrangida a compor-se e a recuar: é o terceiro m o m e n t o do período; é bem o oposto da soberba segurança de que dava mostras o British Raj durante o último terço do século X I X , tempo em que "estava entendido que a máquina de dominação não exigia exame nem aperfeiçoamento"". E certo que, lá como em qual-quer outro lugar, as autoridades britânicas não deixam de reprimir o inovinu-nto nacional. Basta lembrar as prisões de dirigentes políti-ovc o s indianos pela polícia inglesa (Tilak foi aprisionado em 1897-1898, e de novo de 1907 a 1913; N e h r u foi detido oito vezes: de y y i 9 3 1 a 1933, do fim de 1933 a 1935, e do verão de 1942 ao verão de 1945). A repressão brutal abateu-se também sobre a população: ' em 1919, o Massacre de Amritsar fez centenas de vítimas nas fileiras da multidão desarmada. Em 1942, houve dezenas de milhares de de-tenções, principalmente entre os operários. Mas a pressão do movi-mento nacional foi tal que Londres e Delhi (transformada em capital 1 em 1911) tiveram que manobrar e recuar.

>

Em 1909, para r e s p o n d e r à brusca explosão nacionalista de 1905-1908, os liberais então no poder em Londres, resolvem conce-der o direito de eleição a um reduzido número de indianos para os Conselhos Legislativos das províncias e no do vice-rei. Em 1919, as

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"reformas Montaigu-Chelmsford" são também uma tentativa de con-ter um impulso do movimento nacional durante a Primeira Guerra Mundial. Elas instituem um sistema de "diarquia", segundo o qual, no nível das autoridades provinciais, alguns assuntos são "transferi-dos" a ministros indianos, outros (os mais importantes) ficam "reser-vados" ao representante do vice-rei. Porém, logo essas reformas se revelam ineficazes/ÍJma comissão de investigação presidida por Lord Simon em 1926, sem contar com nenhum indiano, contenta-se em dar vagas esperanças em matéria de autonomia. Em 1930-1931, as "Conferências da Mesa Redonda", realizadas em Londres e das quais participam Gandhi e outras personalidades indianas, não levam a re-sultados concretos, mas já aceitam a eventualidade de um estatuto de Domínio para a índia. O Estatuto de 1935, entretanto, só concede um regime de autonomia interna de alcance muito restrito. Somente algumas questões são confiadas às autoridades indianas de Delhi e das províncias.21 Essas reformas constituíam sucesso apreciável para o movimento nacional: as concessões, é certo, só pos'suiam um campo limitado, e a Grã-Bretanha conservava o controle dos setores essen-ciais: polícia, finanças', relações exteriores; contudo, abriam-se possi-bilidades novas de propaganda e de ação política, no quadro das novas instituições. Em 1937, eleições organizadas de acordo com o Estatuto de 1935 asseguraram vitória maciça e quase inesperada do Congresso: 715 cadeiras sobre 1.585.

i/h aparição da "questão muçulmana" no m o v i m e n t o nacional ' y ^ / constitui o quarto m o m e n t o desse período. N e m a persistência do (S0* sistema das castas," malgrado suas conseqüências deploráveis, em y j r particular quanto aos "intocáveis", nem o fracionamento do país em í ; grupos culturais e lingüísticos (bengalis, tâmiles, maratas,

pendja-bis...), haviam abalado seriamente a unidade do movimento nacional. N ã o aconteceu o mesmo com o antagonismo entre os hindus (no sen-tido religioso do termo) e os muçulmanos.

N a medida em que, após sua fase "ocidentalista", o nacionalismo indiano, com Tilak, havia reascendido a suas fontes hinduístas, ele já não podia representar plenamente a minoria muçulmana (um quarto da população). Começara a desenvolver-se no século X I X um "re-nascimento muçulmano", a princípio no plano religioso e cultural, em torno da Universidade de Aligarh, depois no plano político, com a fundação, em 1906, da Liga Muçulmana. Mas a política britânica muito contribuiu para a evolução dualista. Assim, a divisão de Ben-gala por Lord Curzon em 1905, destacou zonas muçulmanas dessa ilustre província. D o mesmo modo, o sistema eleitoral previsto pelas reformas de 1909, 1919 e 1935 decidiu pela representação separada para os muçulmanos. Divide ut imperes !.../

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O separatismo muçulmano (o C o n g r e s s o s e m p r e se recusando a atribuir a si m e s m o etiqueta religiosa) foi-se f i r m a n d o p o u c o a pouco. Em 1916, os chefes da Liga, advogado J i n n a h (1876-1949), o

poeta-Iqbal (1873-1938), ainda assinavam pacto de unidade de ação com o C o n g r e s s o . Mas não apoiaram as campanhas de não-violência de Gandhi. Q u a n d o , em 1937, o Congresso ganhou as eleições e m seis províncias, nelas constituiu ministérios h o m o g ê n e o s sem destinar um lugar à Liga. Em 1940, a Liga pediu oficialmente a constituição de um

1 ^ Paquistão i n d e p e n d e n t e , separado do resto da índia. O resultado foi

jf -s alcançado em 1 9 4 7 / vy

Notas:

1 T h o r n e r (D.), [551], pp. 51 e ss. 2 [454], p. 209 e ss.

3 Por exemplo, Desai (A. R.), [450], cap. IV.

4 Ibid.. p. 55.

5 Cafgil (D.R.), [459], cap XII ("The Couotry Artisan"). * U m acre inglês c o r r e s p o n d e à 40,47 hectares. (Rev.) 6 Mann ( H . H . ) , [489], t. I, p. 46.

7 Estimativa de D u t t [454], p. 317.

8 O recenseamento d e 1881 registra 21 milhões de trabalhadores na indústria (todas as cate-gorias). O de 1931 registra apenas 13. D. T h o r n e r tentou criticar [551], pp. 70-81) estes números, sem convencer totalmente.

9 M u k h e r j e e <R.), [509].

10 Ver.acima, primeira parte, cap. II. Ver acima, l .a parte, cap. II 11 D u t t (P.), [454], pp. 330 e ss.

12. Desai (A. R.), [450], cap. VII ("Modern Indian Industries"). 13. Ganguly ( N . C.), [460],

14. Sen (S.), [535].

15 Sobre as forças sociais q u e apoiaram o Motim, ver Joshi (P.C.) [474]. 16 D e Bary, Sources of Indian Tradition, cap. X X I I .

17 Ibid.. cap. X X I I I 18 Masani (R. P.), [491] p. 63. 19 Desai (A. R.j, [450], 299-300.

20 B o m resumo de c o n j u n t o Ibid. cap. X V I I I . 2 1 [47]

22 T h o m p s o n (E.) e Garratt (G.T.), [550], p. 4 7 9

23 Ver a análise dessas reformas em M a j u m d a r (R.C.), [486], cap. VIII.

24 Sobre a sobrevivência das castas nas vilas, ver, por exemplo, a vibrante monografia de D u b e (S.C.), [451], cap. II.

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