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Relacionamentos e suas Vcissitudes: a realidade virtual e o lugar das redes sociais para o adolescente

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Academic year: 2021

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UNIVERSIDADE REGIIONAL DO NOROESTE DO ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL- UNIJUÍ

JAÍSA EMA DE OLIVEIRA

RELACIONAMENTOS E SUAS VCISSITUDES: A REALIDADE VIRTUAL E O LUGAR DAS REDES SOCIAIS PARA O ADOLESCENTE

IJUÍ 2017

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UNIVERSIDADE REGIONAL DO NOROESTE DO ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL- UNIJUÍ

DEPARTAMENTO DE HUMANIDADES E EDUCAÇÃO-DHE CURSO DE PSICOLOGIA

RELACIONAMENTOS E SUAS VICISSITUDES: A REALIDADE VIRTUAL E O LUGAR DAS REDES SOCIAIS PARA O ADOLESCENTE

JAÍSA EMA DE OLIVEIRA

ORIENTADORA: LÁLA CATARINA LENZI NODARI

Trabalho de conclusão de curso apresentado como requisito parcial para conclusão do curso de formação de Psicólogo

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AGRADECIMENTOS

Agradeço a Deus que nos concede a vida e a saúde para trabalhar, a toda minha família pela força e apoio que sempre me deram para estudar e a professora Lala pelas excelentes orientações que trouxeram muitos ensinamentos. Agradeço pela sua dedicação para com seus orientandos!

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RELACIONAMENTOS E SUAS VICISSITUDES: REALIDADE VIRTUAL E O LUGAR DAS REDES SOCIAIS PARA O ADOLESCENTE

JAÍSA EMA DE OLIVEIRA

ORIENTADORA: LÁLA CATARINA LENZI NODARI

RESUMO

A proposta do trabalho Relacionamentos e suas vicissitudes: a realidade virtual e o lugar das redes sociais para o adolescente têm como objetivo entender o que se passa nas relações virtuais de um modo geral, focando nas relações amorosas na adolescência e suas consequências para o psíquico; estudar a questão da virtualidade; compreender a adolescência atual; indicar os argumentos que respondam às implicações que o adolescente está sujeito ao entrar em relacionamentos virtuais poupando os encontros reais; descobrir os efeitos e problematizações que as relações virtuais causam na subjetividade do sujeito adolescente através de uma pesquisa bibliográfica. Conclui-se que os relacionamentos virtuais problematizam a condição do adolescente em desenvolvimento, pois oferecem altos riscos a sua subjetividade e ao corpo, maiores ainda naqueles adolescentes que possuem relacionamentos ligados somente ao virtual, pois a virtualidade apresenta-se como um mundo ilusório, completamente adverso ao real.

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ... 6

CAPÍTULO I ... 8

1. CARACTERÍSTICAS GERAIS DA ADOLESCÊNCIA ... 8

1.1 Conceito...8

1.2 Ideia de adolescência no campo social e cultural...8

1.3 Histórico...12

1.4 Definição no campo da psicologia...16

1.5 Características da adolescência...17

1.6 Importância dos relacionamentos para os adolescentes...20

CAPÍTULO II...21

2. DEFINIÇÃO DA VIRTUALIDADE E OS PRINCIPAIS ELEMENTOS DO MUNDO VIRTUAL...21

2.1 Histórico e características da Internet...21

2.2 O surgimento da virtualidade...25

CAPÍTULO III...31

3. RELAÇÕES VIRTUAIS NA ADOLESCÊNCIA...31

3.1 A importância dos relacionamentos...31

3.2 Considerações acerca dos relacionamentos virtuais na adolescência...37

CONSIDERAÇÕES FINAIS...41

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INTRODUÇÃO

O presente trabalho se deu pelo desejo de escrever sobre essa temática tão importante e atual, que exige muitas reflexões acerca de seus efeitos e problematizações para a vida do sujeito. Neste texto optei por explanar como as questões da virtualidade ocorrem na adolescência, afinal é um tempo complexo que demanda um olhar atento.

Assim como todo acadêmico tem suas dúvidas sobre qual assunto abordar no trabalho de conclusão de curso, eu também tinha. Foi então que no decorrer da graduação, muito antes de chegar perto deste trabalho, meu pai mencionou que eu poderia escrever sobre os “cibernéticos”, aqueles que permanecem o tempo todo conectados e não saem do celular. Achei uma ideia muito boa! Então, fui refletindo e amadurecendo a proposta durante o curso. Conforme avancei na formação, o pensamento de escrever a respeito desse tema não havia mudado. Durante o estágio clínico, conversei com um colega a respeito do trabalho de conclusão, então ele trouxe a ideia de focar essa questão da virtualidade na adolescência, desenvolvendo sobre aqueles jovens que estabelecem relacionamentos amorosos virtualmente, sem se encontrarem e nunca se encontraram, acabam realizando tudo pela internet. A partir disso, consegui demarcar um desejo enfatizando uma fase específica do desenvolvimento.

A adolescência é um tempo de desenvolvimento, onde não se é uma criança e nem adulto constituído com todas suas responsabilidades, onde por vezes o jovem sente-se perdido e a mercê do que a sociedade impõe. Por tratar-se de um momento de múltiplas transformações, o adolescente busca estabelecer relações para sustentar-se neste período, para que através de identificações possa fortalecer-se e perceber que não é o único que vive certas angústias.

A partir desse entendimento, delimitei o tema a tratar, especificadamente dos relacionamentos virtuais na adolescência, o modo como se dão, o que acarretam, seus pontos positivos e negativos.

No primeiro capítulo abordarei acerca da adolescência, trazendo o conceito, ideia no campo social e cultural, seu histórico, apresentando como a

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adolescência era vista nos diferentes tempos, a definição no campo da psicologia, as características da adolescência e a importância dos relacionamentos.

Na sequência, no segundo capítulo apresentarei acerca definição da virtualidade e os principais elementos do mundo virtual, trazendo o histórico e as características da Internet e o surgimento da virtualidade, seus benefícios e problemas para os sujeitos. E no terceiro será exposto sobre a importância dos relacionamentos reais e virtuais, os aspectos positivos e negativos do estabelecimento de vínculos virtuais na adolescência e as relações líquidas do mundo contemporâneo.

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CAPÍTULO I

1. CARACTERÍSTICAS GERAIS DA ADOLESCÊNCIA 1.1 Conceito

A adolescência é uma construção cultural, caracterizada pelo término da idade infantil e início da idade adulta. É nesse período que inicia a puberdade e as mudanças na mente e corpo. Adolescer é amadurecer, momento em que não se tem mais os interesses de criança e ainda as responsabilidades de um adulto. O entendimento de adolescência como parte do desenvolvimento humano que ocorre após a puberdade, passou a existir somente no final do século XIX na sociedade moderna.

O conceito de adolescência, enquanto designativo de um período particular da vida de um indivíduo, situado entre a infância e a idade adulta, é recente e seu sentido atual só foi definitivamente consolidado no século XX (Ariès, 1973; Reymond, 2000). Segundo o dicionário etimológico Larousse (Pechon, 1964), o termo adolescência vem do latim adulescens ou adolescens, particípio passado do verbo adolescere, que significa crescer. [...] (COUTINHO, 2009, p. 17).

Após essa breve citação do conceito de adolescência, a próxima seção tem por objetivo apresentar a adolescência no campo social e cultural.

1.2 Ideia de adolescência no campo social e cultural

A adolescência surge na cultura ocidental segundo Coutinho (2009), precisamente em um momento histórico em que as esferas privada e pública encontram-se claramente delimitadas, mas mantém entre si mesmas uma relação complexa e muitas vezes conflituosa. Parece caber ao sujeito adolescente, cujo questionamento típico diz respeito à justa “passagem” entre ambas, encontrar a sua solução, individual para o problema.

A adolescência está inserida em um contexto sociocultural individualista, no qual a cada indivíduo é dado a responsabilidade de administrar seu próprio

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destino, inserindo-se no laço social da maneira que lhe for preferível ou possível. Nesse sentido, considera-se que a adolescência é um fato cultural, uma vez que o modo como cada sociedade lida com seus jovens é particular e articulado a todo o seu contexto sociocultural e histórico.

A questão de como o sujeito vai lidar com adolescência e de que forma a sociedade irá ler essa passagem, se dá por meio da aceitação, e cada cultura pode acolher ou não essa diferenciação das fases de desenvolvimento. Toda mudança traz consigo efeitos e um tempo de adaptação. Da mesma forma, uma nova denominação, e nesse caso, a ideia adolescência em que cada cultura assimilará de sua própria maneira. Tudo irá depender da visão social da adolescência e em que contexto ela está inserida. O novo sujeito a ser olhado produz consequências na sociedade e a mesma responde conforme suas concepções.

Os limites cronológicos da adolescência são definidos pela Organização Mundial da Saúde (OMS) entre 10 e 19 anos e pela Organização das Nações Unidas (ONU) entre 15 e 24 anos, mas não há exatamente uma idade de início e término, pois cada sujeito vive de forma singular essa passagem, começando mais cedo ou mais tarde com tempo indefinido para concluir. O autor (Zanotti, 2016) destaca sobre a questão do tempo. Lembro que J.-A. Miller chama a atenção para o modo como Freud sempre considerou a variação psicológica do sentimento do tempo: a rapidez subjetiva da experiência ou mesmo a sua lentidão, o tempo da espera, do tédio, a qualidade temporal das diferentes modalidades da experiência humana. Na mesma direção, ele ressalta a importância de nos ocuparmos do tempo, em função das afinidades do inconsciente e da negação do tempo, da atemporalidade, pois o inconsciente não conhece o tempo.

O inconsciente é atemporal, por mais que o consciente se atente ao tempo cronológico, existe essa instância que não está programada por tempo nenhum e sim pela subjetividade e duração do desejo.

A adolescência não possuía um lugar propriamente estabelecido no social, pois a sociedade enxergava como uma posição indefinida de mudanças, descontentamento com o próprio corpo, onde o sujeito adolescente não é mais uma criança e nem um adulto constituído. Também acontecem modificações

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no comportamento nessa fase, assim como a chamada “aborrescência” caracterizada pela rebeldia, conflito de interesses, distanciamento dos familiares para mostrar que não é mais uma criança dependente dos pais.

Segundo Calligaris (2000), a adolescência é fruto de um enigma relativo à passagem para a vida adulta, ou seja, não há um lugar social marcado a priori a ser ocupado pelos adultos ao deixarem de ser adolescentes, e assim uma ´´moratória mal justificada`` é imposta pela nossa sociedade aos jovens durante a adolescência. Pede-se a eles um tempo de espera, de adiamento da entrada no mundo social justamente porque não há um lugar predeterminado para eles, tendo em vista a complexificação do processo de formação profissional aliada ao declínio da ética do trabalho e da produção, bem como os ideais ligados ao casamento e à família. Assim, o que ocorre com a adolescência é justamente o oposto daquilo que outras culturas ritualizam coletivamente através de rituais iniciáticos, onde o jovem deve passar por certas provas e ensinamentos até que possa adquirir o estatuto de adulto, definido em função de alguma atividade valorizada e predeterminada pela sociedade [...]. (COUTINHO, 2009, p. 81).

Portanto cabia aos adolescentes a conquista de seu espaço, o que poderia levar tempo para se concretizar, assim como outros eventos da cultura moderna, uma nova nomenclatura para designar uma fase do desenvolvimento humano que não era vista anteriormente enfrenta dificuldades para inserir-se no discurso atual. Possivelmente a sociedade não dava lugar de reconhecimento ao adolescente por sua participação na atividade econômica ser mais tardia.

Conforme Lírio (2012), a adolescência não se trata de uma simples passagem para a vida adulta, é um dos momentos mais conturbados da vida do sujeito, pois há uma oscilação entre ser criança e adulto, tempo de idas e voltas. Segundo Erikson é: “um período de readaptação, de formação e da identificação da identidade do sujeito” (1972, p. 20).

Segundo Lírio (2012), assim pode-se, por essa ideia, compreender a indefinição que ocorre até que o sujeito complete essa fase do desenvolvimento, na qual é preciso dar conta de muitas transformações. É

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sabido que, repentinamente o corpo começa a mudar e a mente precisa elaborar tudo o que a adolescência traz consigo. A vinda da puberdade é o fator determinante e de identificação do início do processo de adolescer. Mudanças físicas e comportamentais começam a se manifestar, e esse fato já indica a entrada da criança no mundo dos adultos. Essa ideia já começava a se desenhar nas culturas antigas.

O desenvolvimento humano inicia-se no biológico e evolui através do individual e do social, ou seja, existe um gatilho fisiológico que desencadeia as transformações biopsicossocias que são produzidas ao longo da vida do indivíduo, transformando-o em sujeito``. (ERICKSON, 1972, p.25).

De acordo com Lírio (2012), a puberdade é uma marca essencial para compreender a construção histórica e social da adolescência, ela simboliza um rito de passagem do corpo infantil para o de adulto, modificações que não acontecem somente no físico, mas também são representações para o social de que houve uma passagem de um tempo para outro. A partir desse momento é possível identificar e analisar o sujeito na formação de sua identidade.

Os rituais de passagem são marcados por cerimônias de separação (preliminares) e de agregação (pós-liminares), apresentando na interface desses dois momentos distintos, um período de liminariedade, no qual se estabelece o ritual. Representa desta maneira um momento essencial de transformação, transposição e auto-afirmação pelas quais o adolescente vai vivenciar, aquilo que era novo deixará de ser, dando lugar para novas experiências e vivências que contribuíram para o amadurecimento. (BRÊTAS, 2008, p.405).

Assim afirma Lírio (2012), que a puberdade é um marco para todas as culturas, mesmo para aquelas que não reconhecem a adolescência socialmente. É mais do que uma modificação biológica, é um indicador de mudanças de posição, escolha de papéis sociais, construção do agir em nome próprio e das relações para a vida adulta do sujeito.

A puberdade engloba o conjunto de modificações biológicas que transformam o corpo infantil em adulto, constituindo-se em um dos elementos da adolescência. A puberdade é constituída pelos seguintes componentes: crescimento físico: aceleração, desaceleração, até a parada do crescimento (2º estirão); maturação sexual; desenvolvimento dos órgãos reprodutores e aparecimento dos caracteres sexuais secundários; mudanças na composição corporal; desenvolvimento dos

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aparelhos respiratório, cardiovascular e outros. (CODEPPS, 2006, p. 17.).

Dessa forma Lírio (2012), assegura que essa passagem imprime novas marcas no corpo do sujeito, as quais precisam ser elaboradas e ressignificadas, pois o adolescente em seu processo de mudança enfrenta um turbilhão de sentimentos, de forma intensa e muito complexa. Tudo isso causa sofrimento psíquico, a ponto do mesmo sem entender o que lhe acontece, sentir-se impotente diante das circunstâncias ocorridas em seu desenvolvimento. Envolto em meio a esse tumulto emocional que atravessa, expressa em seu comportamento toda energia presente nessas transformações.

Lírio (2012), afirma que adolescência e a puberdade estão diretamente ligadas, pois assim que surge a puberdade, a adolescência urge e com ela a sexualidade, podendo ser antecipada ou sublimada, dependendo do tempo de cada sujeito e também da cultura em que se está inserida. Conforme a Organização Mundial da Saúde (OMS), “A sexualidade é um aspecto central do bem estar humano, do começo, ao fim da vida, envolvendo sexo, identidade de gênero orientação sexual, erotismo, prazer, intimidade e reprodução”. (LIMA, 2000, p.11.).

1.3 Histórico

Conforme Lírio (2012), na antiguidade, a fase anterior ao momento em que o sujeito passava a assumir as responsabilidades de um adulto já era vista como uma etapa crítica. O jovem era considerado arredio e contrário aos bons costumes, alguém rebelde que não ouvia os conselhos dos mais velhos.

Nossa juventude [...] é mal educada, zomba da autoridade e não tem nenhuma espécie de respeito para os mais velhos. Nossas crianças de hoje [...] não serão nunca como a juventude ancião entra numa sala, respondem a seus pais e tagarelam em lugar de trabalhar. São simplesmente más. (SÓCRATES, 470-399 a.C.).

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O autor Lírio (2012), reafirma que entendia-se que os jovens ainda não possuíam sabedoria, pois as atitudes decorrentes de seu nível de maturidade não revelavam essa característica. As vantagens que o jovem carregava eram a força e a beleza. Podemos ver uma descrição conforme LIBANIO:

Essa juventude está corrompida até o mais profundo do coração. Os jovens são malfeitores e preguiçosos. Não serão nunca como a juventude de antigamente. Os de hoje não serão capazes de manter nossa cultura. (escrito num jarro de argila nas ruínas de Babilônia, mais de 3.000 a.C.) (2004, p. 33).

Lírio (2012), escreve que o conflito de gerações é considerado o construto da modernidade, pois está presente nos escritos antigos de várias culturas e civilizações. Segundo Libanio: “este mundo atingiu um estágio crítico. As crianças não escutam mais seus pais. O fim do mundo não pode estar longe” (2004, p.34).

Lírio (2012), afirma que na Antiguidade e Idade Média não existia a nomenclatura “adolescência”. Esta era confundida com a infância ou com a adultitude jovem, designada em Roma de juventus. A troca de interesses e do modo de se vestir era como um ritual de passagem que variava conforme os costumes e a faixa etária, o que marcava o início da puberdade.

A Roma Antiga até o século II a. C não conheceu esse período de idade que hoje chamamos de adolescência e juventude. Fazia-se uma passagem direta da idade infantil para a adultitude por meio de rito cívico-religioso. As três idades eram infância, adultitude e velhice que chegavam bem precocemente. (LIBANIO, 2004, p.34).

De acordo com Lírio (2012), a chegada de um momento decisivo na vida do jovem frente a sua relação familiar, pois poderia ganhar ou perder os bens da família. Na Grécia e em Roma os meninos eram colocados aos cuidados de amas que eram as professoras do estado¹.

Segundo Lírio (2012), na Idade Média havia o costume de enviar crianças1 após o desmame para a casa de algum profissional que ensinasse boas maneiras e etiqueta, com o objetivo de prepará-los para assumir funções

¹ Isso não acontecia com as crianças do povo nessa época, era uma prática da nobreza e dos sujeitos com algum poder social.(nota da autora).

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de sua classe social, essas práticas eram vistas como fundamentais e tinham grande valor para a época.

Exemplo era a barbatoria, cerimônia que se seguia ao primeiro barbear do rapaz, sendo que o pêlo era a prova de que a criança tornara-se homem e, então, a qualidade da agressividade poderia ser cultivada, objetivando a boa formação do guerreiro. (ARIÈS, 1981, p.52).

Conforme Lírio (2012), na Europa Medieval a figura juvenil é protagonista de muitas atividades. Eram criados livremente e o adolescente era visto como um aprendiz que devia experimentar o que a vida lhe permitia naquele momento, porém mediante essa liberdade havia a preocupação de os jovens serem vitimados ou manifestarem violência para com os outros, já que eram considerados inexperientes acerca do que o mundo tinha para lhes oferecer. Na Idade Média não havia sido definida ainda uma distinção entre o público e o privado, assim como nenhuma lei que delimitasse as relações humanas em um espaço mais globalizado.

O Renascimento foi um movimento cultural, artístico e científico que marcou o fim da Idade Média e início da Idade Moderna. Representou uma importante ruptura com o pensamento medieval, pois através do Humanismo elemento primordial do Renascimento considerava o homem o centro do universo, outras características marcantes são: o Naturalismo que se deu através da representação fiel da realidade e o Racionalismo com a valorização da razão. No que concerne à adolescência:

A partir do Renascimento, a adolescência perde progressivamente, o seu prestígio social. Pelo menos, nenhuma solenidade assinala o seu aparecimento, o que nos leva a presumir que a importância psicológica e social da adolescência não seria reconhecida pelo mundo moderno. (SANTOS,1996, p.35).

A Revolução Industrial tem início na Inglaterra no século XVIII, se caracteriza por uma série de transformações, a energia física se transforma em mecânica, o trabalho da manufatura passa a ser feito em fábricas, há a exploração do trabalhador com grandes jornadas de trabalho, produção em larga escala e inclusão do trabalho feminino e infantil.

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Segundo Lírio (2012), no que tange à ideia e lugar do adolescente, vê-se que em todos os cuidados e diferenciações alcançadas com o jovem até o momento, ocorrem grandes modificações. A educação passa a ter uma base escolar, tornando-se superior ao modelo antigo. A família também recebeu um novo formato, estreitando os laços entre pais e filhos.

De acordo com Lírio, (2012) na Idade Moderna passa a se constituir os conceitos de público e privado. O ambiente familiar, as relações interpessoais e a sexualidade aos poucos são reorganizadas e conduzidas por um Absolutismo ou Antigo Regime guiado por princípios morais, religiosos, sociais e econômicos que geram efeitos sobre juventude moderna.

Lírio (2012), escreve que uma vez que na Idade Média a proximidade da família com seus filhos já não era muito grande, na Idade Moderna a aristocracia manteve essa ideia de distanciamento das crianças. A burguesia é que progressivamente soube trabalhar a relação de contato maior entre pais e filhos.

Conforme Lírio (2012), naquilo que se refere ao conceito de adolescência propriamente dito, a partir do século XVIII ocorrem às primeiras tentativas de seu estabelecimento; mas foi no século passado que se confirmou o conceito de adolescência com o qual se trabalha hoje. Assim:

A antropóloga Margareth Mead,realizou estudos de 1925 a 1933, sobre alguns povos primitivos dos Mares do Sul, entre eles os nativos da ilha de Samoa. Para divulgar suas descobertas Mead escreveu o livro ´´Adolescencia y cultura em Semoa`` (1939). (FERREIRA, 2002, p. 143).

Lírio (2012), alega que o século passado foi o chamado ´´século da adolescência``, pois o adolescente foi elevado ao lugar de herói do século XX. Também ocorreu a chegada de uma consciência etária frente à negação do jovem/ não jovem. Os jovens passam a tomar a frente da moda e a cultura. Possivelmente o século XXI se iniciou com a procura de compreensão e entendimento sobre a imagem do adolescente em comparação aos outros, o que não significava maior valorização desse novo sujeito que emerge a partir desse tempo, como podemos ver nas ideias teóricas acerca do assunto:

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1.4 Definição no campo da psicologia

A psicanálise, no entanto, demorou um pouco mais a se pronunciar a respeito da adolescência. O próprio Freud não chega a utilizar propriamente o termo, se referindo, nos seus: ´´Três ensaios sobre a teoria da sexualidade`` (1905), exclusivamente às transformações da puberdade. Foi Ernest Jones, em 1922, o primeiro psicanalista a se referir à adolescência, em um artigo intitulado ´´Alguns problemas da adolescência``. (COUTINHO, 2009, p. 51 e 52)

Segundo Coutinho (2009), a partir desse momento, a psicanálise contribuiu bastante com seus escritos para a solidificação da adolescência como um conceito, com evidência para as construções de Anna Freud que na década de cinquenta iria influenciar a escola americana em 70 e 80, através das elaborações de Petter Bloss e Erickson pela concepção de “moratória social” e dos argentinos Aberastury e Knobel com entendimento de “adolescência normal”. Permanece então estabelecido o conceito de adolescência como um ciclo final do desenvolvimento, passando assim a ser reconhecida socialmente, sempre com um olhar atento a características semi-patológicas que parecia apresentar.

Conforme Coutinho (2009), o século XX o adolescente passa a ocupar um lugar propriamente dito no social, de modo que na conclusão do período histórico todos parecem adolescentes. Após anos de distinção entre as faixas etárias, a adolescência tornou-se um período de vida idealizado, como referência a todos, pois é inovadora e lança modas que a sociedade não quer perder. A adolescência então tornou-se um traço identificatório, pois o adulto parece querer voltar à adolescência, porque ele é jovem e ainda possui um grande vigor de vida, beleza e pode descobrir muitas coisas. A criança almeja ser adolescente, quer chegar logo nesse tempo, por vezes até fantasia sobre sua idade por seu grande desejo. Porém o adolescente em si por vezes não gosta de sua fase, devido a todas as transformações por que passa e não ter mais os interesses de criança e nem os privilégios de um adulto ainda.

Coutinho (2009), cita que segundo Morin: “hoje em dia os filhos não se parecem com seus pais, eles parecem com a sua época” (Morin, 1984:213) Conforme ocorre a queda do nome do pai2 muito apresentada pela psicologia

2

Nome do pai: Termo criado por Jacques Lacan em 1953 e conceituado em 1956, para designar o significante da função paterna. (ROUDINESCO, E; PLON, M. 1998, p. 541).

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atualmente, os adolescentes vão perdendo a referência e encontrando-se vulneráveis, submetidos aos caminhos que a sociedade pode tomar. Assim se retoma a ideia de que como cada sociedade trata o jovem é decisiva sobre como ela se organiza. Desta forma os adolescentes são reproduções de onde vivem e do seu tempo.

A construção social da adolescência no seio da família moderna é fruto de uma série de transformações socioeconômicas que a civilização ocidental sofreu ao longo dos séculos XVIII e XIX, articulando-se, desta forma, fundamentalmente, a instauração do paradigma individualista e de suas inúmeras repercussões para a história da vida privada no Ocidente. Trata-se de uma história em comum, na medida em que a concepção da adolescência como um período etário específico e singular da vida depende fundamentalmente da noção de um indivíduo livre e relativamente independente na condução de sua história. (COUTINHO, 2009, p. 55).

Há mudanças de posição de sujeito com a chegada da adolescência. Este entende que não é mais uma criança, então se distancia dos pais, pois deseja soar um grito de independência frente à vida, passa a ter suas próprias ideias formadas, o pensamento abstrato e a subjetividade se expandem ainda mais com o início desse tempo.

1.5 Caraterísticas da adolescência

O que caracteriza o ser adolescente nos dias de hoje é o pensamento abstrato que vem junto com a subjetivação de tudo o que o cerca, suas histórias e vida são ressignificadas, frente à mudança de posição do sujeito. A partir disso surge o pensamento crítico que avalia e seleciona a respeito de que ideia seguir e acreditar.

Lima (2013), destaca que nessa fase, o adolescente enfrenta alterações psíquicas, mudanças corporais e alterações de papéis sociais, encontram-se vulneráveis e extravasando energia, surgindo ainda uma necessidade de competição e a habilidade de teorizar os adultos, manifestando o pensamento

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formal e o pensamento abstrato. Tudo isso acaba provocando uma crise entre os conflitos internos e a organização social.

A psicanálise propõe que a adolescência seja uma reedição do Complexo de Édipo com novas configurações. No primeiro tempo o adolescente retorna a posição de objeto nessa relação conflitiva entre entrar e sair de uma condição para a outra, a perda do herói paterno muito adorado quando criança está no segundo tempo, e o terceiro tempo na adolescência se caracteriza por uma escolha sexual a partir do seu desejo, dessa forma o jovem irá sair em busca de seus relacionamentos amorosos.

Se a passagem pelo complexo de Édipo garante ao sujeito a representação de si próprio pelo referencial fálico, a explosão pubertária fará com que sujeito chegue à adolescência com o enigma do Outro sexo. Uma reconstrução da cena edípica estruturada na infância faz-se necessária, dado que as pulsões ordenadas pelo falo tenderão a uma organização genital em que prevaleça uma das posições discursivas sexuais (a feminina e a masculina); a construção do feminino como Outro sexo implicará a busca de um significante que seja referência da mulher no discurso. A ausência desse significante provocará o adolescente a perguntar-se “o que quer uma mulher?” (JARDIM, 2004)

Portanto, uma mãe que não é referência como objeto de desejo do pai não transmite o que é ser uma mulher e isso despertará muita curiosidade no sujeito em desenvolvimento, fazendo com que ele busque fora, no social uma resposta que dê conta do que precisa ser simbolizado.

A adolescência possibilita um choque de realidade frente às questões da vida, pois as estórias contadas quando criança são destituídas pela realidade, permitindo que o sujeito acesse o mundo e a linguagem dos adultos. É o momento em que de certa forma se deixa de protegê-lo frente ao discurso do social, introduzindo-o no real, por isso muitas vezes pode vir em forma de choque, uma vez que não estaria organizado psiquicamente para receber esse turbilhão de novas informações.

Em outra época era uma das fases mais curtas da vida. Hoje tem se prolongado, pois os filhos estão ficando mais tempo sob o amparo e cuidado dos pais, como que em uma espécie de ´´zona de conforto``, por vezes difícil de sair. A adolescência é ambivalente, pois há uma idealização pela entrada no mundo dos adultos e um ódio pela perda da posição infantil, assim sendo,

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é possível dizer o jovem passa por um momento de “querer tudo e não poder nada`` durante a adolescência até atingir a maioridade ou conquistar a autorização dos pais.

Freud (1906) afirma que esta questão de libertar-se dos pais mostra-se bastante dramática ao adolescente, principalmente para aqueles que foram bastante investidos de carinho, especialmente pela mãe. Também não seria apropriado o desinvestimento por parte de quem cuida da criança, pois isso geraria a sensação de abandono. Sem exageros ou descaso, a função, aqui em questão, é provocar a capacidade de se envolver afetivamente a partir dos contatos físicos e do envolvimento emocional. Ou seja, possibilitar a capacidade de amar e posteriormente satisfazer-se sexualmente.

Outra característica da adolescência é a construção de grupos por afinidade e identificação, fato de suma importância principalmente nesse momento da vida do sujeito, pois é muito significativo ver que não está sozinho nessa hora em que precisa elaborar o que está vivendo.

Pode-se afirmar que os jovens na contemporaneidade estão em constante participação em grupos. Na verdade, é justamente na medida em que estes jovens se encontram diferenciados dos adultos que os rodeiam, não apenas por sua idade, evolução psicológica interna, mas também pelo seu próprio modo de vida, é nessa medida que irão se aproximar de outros jovens situados em condições similares. O que caracteriza, porém, o grupo juvenil contemporâneo é, por um lado, o seu caráter cotidiano e, por outro, a função de substituto da família que tende a desempenhar, apresentando, contudo, características próprias. É neste sentido que se fala, por vezes, em uma cultura de jovens, no sentido antropológico de um conjunto de costumes adquiridos e valorizados por um grupo.

Na adolescência há uma grande busca por relacionamentos, o diálogo e contato é mais frequente, pois existe uma necessidade maior de comunicar-se entre seus pares nesse período, assim torna-se possível uma elaboração das transformações em que o sujeito está vivendo, que possibilita um esvaziamento produzindo conforto e a compreensão de que não se está sozinho perante as mudanças decorrentes desse tempo. O adolescente não se sente

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compreendido pelos demais em seu discurso, por isso busca constantemente sujeitos de sua faixa etária para relacionar-se.

1.6 Importância dos relacionamentos para os adolescentes

Os relacionamentos possuem uma grande importância para o sujeito adolescente, pois servem como suporte para as ressignificações e angústias vivenciadas neste período. A formação de laços é propulsora de força e vitalidade para que o sujeito consiga seguir em frente tendo com quem contar nesse momento, pois ninguém melhor do que os seus semelhantes para dividir esse tempo.

O adolescente tem uma maior necessidade de falar e sentir-se compreendido, pois sua subjetividade emerge à flor da pele nessa passagem. As mudanças de concepções e crenças começam a aparecer e ele trabalha em favor de suas razões, contestando e questionando o mundo ao seu redor.

A partir desse fato juntamente com o surgimento da virtualidade se faz necessário um aprofundamento e discussão sobre como os adolescentes de hoje estão se relacionando e como buscam aproximar-se do outro atualmente, com a mudança dos tempos e a chegada da contemporaneidade esses modos se modificaram. Portanto a respeito do tema virtualidade que o segundo capítulo irá abordar.

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CAPÍTULO II

2. Definição da virtualidade e os principais elementos do mundo virtual

2.1 Histórico e características da Internet

A Internet é uma ferramenta que surgiu com o avanço da tecnologia para facilitar a vida das pessoas, tanto em pesquisa quanto em comunicação, relacionamentos e demais tarefas rotineiras. Com a sua chegada tornou-se possível abrir mão de instrumentos físicos e substituí-los por recursos do meio virtual, como por exemplo: o uso da Barsa, uma enciclopédia, como instrumento de pesquisa foi substituído pela consulta na Internet, proporcionando assim uma grande economia de documentos e obras impressas.

Ao buscar na própria Internet, acerca de sua origem, encontra-se que a rede mundial de computadores, ou Internet, surgiu em plena Guerra Fria, em 1970 a 1980. Criada com objetivos militares era uma das formas das forças armadas norte-americanas manter suas comunicações, em caso de ataques de inimigos que destruíssem os meios convencionais de telecomunicações, além de ser utilizada para fins militares, a Internet também foi um importante meio de comunicação acadêmico. Estudantes e professores universitários, principalmente dos Estados Unidos, trocavam ideias, mensagens e descobertas pelas linhas da rede mundial.

Na década de 90, foi que a Internet começou a desenvolver-se e alcançar cada vez mais usuários, pois as pessoas viam nela uma facilidade de acesso a um amplo conteúdo. A navegação é atrativa e leva quem acessa a muito longe, pois uma pesquisa se estende a outra, e assim é possível permanecer horas do dia conectado.

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O site www.suapesquisa.com informa que no ano de 1990 o engenheiro inglês Tim Bernes-Lee desenvolveu a World Wide Web (WWW), viabilizando a utilização de uma interface gráfica e a criação de sites mais dinâmicos e visualmente interessantes. A partir deste momento, a Internet cresceu em ritmo acelerado. Muitos autores dizem que foi a maior criação tecnológica, depois da televisão na década de 1950.

Para facilitar a navegação pela Internet, a partir da década de 1990 surgiram vários navegadores, como por exemplo: o Internet Explorer da Microsoft e o Netscape Navigator. A origem acelerada de provedores de acesso e portais de serviços online colaborou para o desenvolvimento. Alunos passaram a buscar informações de pesquisas escolares, ao mesmo tempo em que jovens utilizavam para diversão em sites de jogos e salas de bate papo. Pessoas desempregadas passaram a buscar empregos pelos sites de agências de empregos ou enviando currículos por e-mail.

As empresas também descobriram na Internet um excelente meio para vender seus produtos. Além da existência de lojas de forma física, atualmente existem lojas somente no virtual, pois com a ampla utilização dessa ferramenta, consequentemente há procura de compras por esse meio.

Em pouco tempo a Internet foi expandindo-se, e não se limitou em acrescer a quantidade de informações ou facilitar a comunicação entre locais distantes. Ela reorganizou a cultura mundial na ordem do imediatismo, pois as informações se dão de forma muito rápida, deixando as pessoas aparentemente ansiosas, pelos estímulos que transmite em sua facilidade de acesso. Um exemplo é a amplitude, com a capacidade de abrir várias janelas de navegação ao mesmo tempo e trabalhar com elas. A Internet trouxe essa mobilidade. Consequentemente as pessoas acabam levando essa urgência para a vida também, escolhendo relações que proporcionem respostas rápidas ou trocando de parceiro (a) seguidamente.

Devido à chegada da Internet a televisão foi perdendo um pouco o seu lugar, pois entrou um instrumento mais atrativo que além da possibilidade de olhar vídeos da mesma programação televisiva, ainda existe a capacidade de realizar mais de uma tarefa ao mesmo tempo, como olhar um vídeo e escutar uma música, isto a torna ampla e dinâmica.

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Atualmente é impossível pensar no mundo sem Internet. Ela tomou parte dos lares de pessoas do mundo todo. Estar conectado à rede mundial passou a ser uma necessidade de extrema importância. A Internet também está presente na maioria das escolas, das faculdades, das empresas e de diversos locais, facilitando o acesso a informações e notícias do mundo a apenas um click.

Além de ser um instrumento de pesquisa, a Internet promove a comunicação entre sujeitos sem medir a distância e de forma ilimitada. Primeiramente surgiu o modelo de Internet discada, vinculada ao telefone que quanto mais utilizada, maior era o valor da conta telefônica ao final do mês, em seguida chegou à Internet banda larga, para qual se pagava uma taxa mensal e poderia ter livre acesso, encontra-se de várias formas, como: via rádio, fibra ótica, modem por telefone, dentre outras. Atualmente a Internet está por todo lugar, sendo possível fazer a conexão pelo Wiffi 3. Logo, facilmente às pessoas descolam do olhar do outro para permanecerem conectadas a seus dispositivos. Basta somente à conversa ficar chata ou faltar assunto que se recorre a esse meio para buscar conversar com outro alguém ou atualizar-se.

O uso da Internet tornou-se tão frequente quem em bares e restaurantes pode ser encontrado um cartaz com a seguinte frase: ´´Não temos Wiffi, conversem entre vocês``. Inclusive em casa os pais estão tendo a necessidade de controlar os filhos quanto ao uso de aparelhos eletrônicos, por isso já se tornou um problema no mundo. Agora os mesmos precisam lidar muito cedo com a chegada da Internet na vida dos filhos, pois eles já nascem imersos no universo virtual. Mas na adolescência esses cuidados não são muitos fáceis de serem realizados tal qual na infância, pois os filhos passam a se afastar e desafiar mais a seus pais, impondo-se e revelando seus desejos.

A Internet chegou para simplificar a vida de todos pela sua praticidade, porém também carrega malefícios, pois se utilizada demasiadamente pode vir a acarretar um vício em permanecer constantemente conectado, uma vez que a Internet é fascinante, causa gozo4 e provê uma viagem a quem está

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Wiffi: Wi-Fi é uma abreviação de ´´Wireless Fidelity``, que significa fidelidade sem fio. Se caracteriza pela internet com essa conexão, em que não utiliza cabos, geralmente é transmitida por frequência de rádios, infravermelhos, dentre outros (nota da autora).

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conectado, para outra realidade. Há estudos que dizem que permanecer a frente de uma tela de cristal líquido pode tirar o sono, sendo um estimulante do sistema nervoso central para manter-se conectado.

Considerada por muitos pesquisadores e clínicos como um dos mais novos transtornos psiquiátricos do século XXI, a dependência de internet vem se fazendo cada vez mais presente junto às populações jovens e adultas de todo o mundo. Embora as publicações científicas mais recentes ainda não tenham destacado a liderança brasileira no que diz respeito ao tempo de conexão a partir das redes domésticas, ela poderá cobrar, no futuro, um alto tributo. Ainda que a iniciativa governamental de ampliar o acesso à internet às camadas menos favorecidas da população- a chamada inclusão digital- seja próspera, ela também tem um lado que poderá vir a se mostrar bastante oneroso, pois o acesso à rede mundial de computadores ocorre em nítido descompasso com o processo de educação formal. Além disso, relatórios recentes registaram que 6 em cada 10 brasileiros já assistem a seu programa de televisão favorito tendo em mãos simultaneamente algum dispositivo eletrônico (p. ex., telefone celular, tablets, etc.), sem mencionar que a internet é a mídia mais acessada em todas as camadas sociais. (ABREU, 2013, p. 93).

Como a locomoção por vezes se dá sempre juntamente a esses objetos tecnológicos, o uso dos mesmos acaba distraindo e afetando diretamente a atenção do sujeito, com isso tem-se a construção de uma sociedade desatentam que permanece vidrada em suas telas sem se quer olhar para o outro, muito menos escutar o que está sendo dito, por isso a Internet nos afasta do outro constantemente.

Além dessa problemática, os neurologistas afirmam que permanecer na posição com a cabeça abaixada e dobrada enquanto confere o seu dispositivo, pode acarretar em uma perda de memória gradativa, pois se mantendo nessa postura dificulta a passagem de sangue pelas principais artérias.

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Gozo: Raramente utilizado por Sigmund Freud, o termo gozo tornou-se um conceito na obra de Jacques Lacan. Inicialmente ligado ao prazer sexual, o conceito de gozo implica a ideia de uma transgressão a lei: desafio, submissão ou escárnio. O gozo, portanto, participa da perversão, teorizada por Lacan como um dos componentes estruturais do funcionamento psíquico, distinto das perversões sexuais. Posteriormente, o gozo foi repensado por Lacan no âmbito de uma teoria da identidade sexual, expressa em fórmulas da sexuação que levaram a distinguir o gozo fálico do gozo feminino (ou gozo dito suplementar). (ROUDINESCO, E; PLON, M,1998, p. 299).

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2.2 O surgimento da Virtualidade

A Internet proporcionou um encontro com a virtualidade. O virtual constitui-se como uma realidade paralela ao real, no qual é possível a postagem de conteúdos verdadeiros ou falsos. Através da virtualidade o imaginário do sujeito pode se manifestar das mais diversas formas, o que vai depender da singularidade de cada um. Portanto há a disseminação de informações que em cerca de segundos serão visualizadas por milhões de pessoas pela rapidez e alcance.

A palavra virtual vem do Latim medieval virtualis, derivado por sua vez de virtus, força, potência. Na filosofia escolástica, é virtual o que existe em potência e não em ato. O virtual tende a atualizar-se, sem ter passado no entanto à concretização efetiva ou formal. A árvore está virtualmente presente na semente. Em termos rigorosamente filosóficos, o virtual não se opõe ao real mas ao atual: virtualidade e atualidade são apenas duas maneiras diferentes. (LÉVY,1996, p.15).

A realidade virtual é diferente da real. Na vida os fatos que acontecem são difíceis de serem modificados, já na virtualidade tudo é facilmente renovado e descartado, pois está implícita a lógica da atualização e aos poucos, os sujeitos também começaram a entrar nesse contexto, construindo relações através do espaço cibernético, colocando o outro sempre através do que é dito e postado, podendo oferecer mentiras ou verdades absolutas acerca de sua identidade, por exemplo.

A atualização aparece então como a solução de um problema, uma solução que não estava contida previamente no enunciado. A atualização é a criação, invenção de uma forma a partir de uma configuração dinâmica de forças e de finalidades. Acontece então algo que a dotação de realidade a um possível ou que uma escolha entre um conjunto predeterminado: uma produção de qualidades novas, uma transformação das ideias, um verdadeiro devir que alimenta de volta o virtual. (LÉVY, 1996, p. 16-17).

Conhece-se como realidade virtual o sistema tecnológico, que permite ao usuário a sensação de estar imerso em um mundo diferente do real. Esta ilusão se produz graças aos modelos criados por um computador que o

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expectador contempla através do acesso a Internet. Por vezes, o sujeito procura fugir do real quando está imerso na Internet. Ele pode ser levado a acreditar em tudo o que está posto nesse meio, abstraindo o senso crítico e passando por uma espécie de “lavagem cerebral”, no entanto, a rede virtual produz encanto, é atraente e sedutora aos olhos de quem a utiliza. Após o uso, há a busca constante por estar em conexão e atualização.

Segundo Umberto Eco:

As mídias sociais deram o direito à fala a legiões de imbecis que, anteriormente, falavam só no bar, depois de uma taça de vinho, sem causar dano à coletividade. Diziam imediatamente a eles para calar a boca, enquanto agora eles têm o mesmo direito à fala que um ganhador do Prêmio Nobel. (em cerimônia de recebimento do título de doutor honoris causa, Universidade de Turim 2015).

O mundo virtual é aberto a qualquer verdade que alguém resolva dizer, o que permite que um sujeito com variadas intenções poste quaisquer ideias, inclusive mentiras em sites abertos, com capacidade de edição, fornecendo assim informações a respeito de algo. Da mesma forma com o conhecimento, uma pessoa sem conhecer um assunto pode publicar uma “verdade absoluta”. Existem alguns sites, como a Wikipédia, por exemplo, que podem ser editados, modificados, permitindo a publicação de opiniões não embasadas em teorias ou dados científicos, o que altera a forma de se “transmitir” conhecimento.

A virtualidade promove a economia do corpo5 e das relações, pois possibilita encontros virtuais que na maioria das vezes são substituídos ou dispensam a presença física. É um recurso de “praticidade” nos tempos atuais, pois em uma realidade de capitalismo, em que os sujeitos estão postos a produzir cada vez mais e mais, os encontros entre as pessoas, as reuniões informais, a conversa e a troca de ideias, acabam tornando-se mais restritivas. Agora, pode-se observar que com a Internet, os prováveis encontros de convívio como happy hour, por exemplo, acabam acontecendo e as pessoas, ao invés de conversar, trocam mensagens pelo celular com o amigo que está

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Economia do corpo: se dá através do ato de evitar o encontro físico com o outro, por meio da troca do convívio real pelo virtual, dispensando o encontro real (nota da autora).

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do seu lado fisicamente. Essa realidade pode ser observada em vários locais, inclusive na própria família.

A virtualização proporciona, então, a economia das relações humanas de maneira silenciosa, sem malícias, tornando a comunicação mais simples, como por exemplo: o sujeito pode criar vários perfis falsos fakes e trolls6 em redes sociais, utilizando as características da ordem do imaginário, podendo com isso enganar as pessoas com as quais se “relaciona” nas redes sociais.

De outra maneira é dizer por via virtual aquilo que se sabe que é dolorido falar para ao outro na realidade, pois é muito mais fácil magoar na virtualidade do que frente a frente, olhando nos olhos. Pelo virtual as expressões faciais não são vistas, pois o que é dito não faz parte de um corpo real. Porém não se sabe a reação do sujeito que leu ou ouviu a mensagem. Algumas vezes os ressentimentos que se criam são semelhantes ou até piores, causando sofrimentos maiores do que se tivessem ocorrido no real, momento em que, a pessoa poderia revidar, defender-se ou colocar sua posição acerca do ocorrido. Um exemplo dessa situação pode ser o bullying7 virtual mais danoso, quem sabe, que o já complexo bullying real.

A virtualização pode ser definida como o movimento inverso da atualização. Consiste em uma passagem do atual ao virtual, em uma ´´elevação à potência`` da entidade considerada. A virtualização não é uma desrealização (a transformação de uma realidade num conjunto de possíveis), mas uma mutação de identidade, um deslocamento do centro de gravidade ontológico do objeto considerado: em vez de se definir principalmente por sua atualidade (uma ´´solução``), a entidade passa a encontrar sua consistência essencial num campo problemático. Virtualizar uma entidade qualquer consiste em descobrir uma questão geral à qual ela se relaciona, em fazer mutuar a entidade em direção a interrogação e

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Fakes e trolls: Fakes significa falsos. São perfis falsos que estão em aplicativos ou redes sociais, os quais quem criou não se utiliza de sua verdadeira identidade. Da mesma forma o fazem com pessoas famosas, como homenagem ou para usar determinado nome. Os criadores de fakes podem agir por diversão ou por se sentirem inferiorizados com sua aparência e preferirem não se mostrar. Assim, utilizando outro perfil podem-se revelar como quiser. Troll é o termo que se refere a pessoas que entram em uma discussão mal intencionadas, para polemizar, criar atritos com ataques pessoais, mensagens e opiniões inconvenientes, causando mal estar no grupo. Muitos tentam entrar enganando, seguindo o fluxo da conversa, apenas para conquistar a confiança, mas seu objetivo é o de disseminar mentiras ao grupo (nota da autora).

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Bullying: significa assédio moral, é uma agressão intencional feita de maneira repetitiva que pode ser de modo físico ou verbal, causando angústia e constrangimento à vítima da situação, geralmente não havendo como se defender, pois são executadas dentro de uma relação desigual de poder. (nota da autora).

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em redefinir a atualidade de partida como resposta a uma questão particular. (LÉVY, 1996, p.17-18).

A virtualização, conforme o autor, está se compondo como êxodo, pois a população está migrando cada vez mais e mais para esse universo. Os encontros físicos são mais raros e ocorrem somente quando muito necessário. Atualmente quase ninguém mais fala ao telefone, normalmente os recados são enviados via mensagem de texto ou Whatsapp. O contato de simplesmente falar ouvir a voz do outro já está sendo muito poupado na contemporaneidade.

Segundo Lévy (1996) a virtualização é o desprendimento do aqui e agora. O senso comum faz do virtual, inapreensível, o complementar do real, tangível. Essa abordagem contém uma indicação que não se deve negligenciar: o virtual, com muita frequência, ´´não está presente``. Uma realidade virtual não é palpável e não pode ser situada precisamente. São elementos dispersos que podem ser inventados, por isso são facilmente falsos e ilusórios, cabe ao usuário filtrar e analisar as informações recebidas.

Na realidade virtual nada é solidificado como no real, mas sim posto com uma liquidez e volatilidade incomparáveis. Lévy diz que a virtualidade promove a desterritorialização, pois nada é de ninguém, uma vez que tudo que é publicado pode ser modificado a qualquer momento, em questão de segundos. Nada é duradouro e não acontece de verdade como na realidade, pois o real é o que é de fato, tornando impossível representa-lo. A realidade virtual é de aparências e dissimulada.

Quando uma pessoa, uma coletividade, um ato, uma informação se virtualizam, eles se tornam ´´não-presentes``, se desterritorializam. Uma espécie de desengate os separa do espaço físico ou geográfico ordinários e da temporalidade do relógio e do calendário. É verdade que não são totalmente independentes do espaço-tempo de referência, uma vez que devem sempre se inserir em suportes físicos e se atualizar aqui ou alhures, agora ou mais tarde. (LÉVY,1996, p. 21).

Os conteúdos virtuais precisam se atualizar constantemente, em vista de que uma informação postada pode se modificar amanhã, pois o virtual não é consistente, vive de mobilidade, constantes transformações e esse é seu objetivo de existir.

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Outro ponto que cabe colocar é acerca dos conteúdos postados em redes sociais, na sua grande maioria falam de sorriso e da felicidade, porque no mundo virtual não é permitido tristeza e choro. Nas raras exceções em que alguém posta sobre um luto, é bombardeado com mensagens como se fosse obrigado a superar a morte em um passo de mágica, pois nesse meio ninguém deve sofrer ou mostrar isso. Os sujeitos estão cada vez mais cercados de narcisismo e o que não é da ordem do bonito não pode transparecer.

A virtualidade é alimentada por imagens tanto informativas como pessoais em redes sociais e o formato pessoal está tomando conta, pois a cada pouco os sujeitos que possuem uma rede social publicam uma foto sua, a chamada Selfie que está muito em voga atualmente, fato esse que serve para inflar o ego e estimular o narcisismo, após a postagem passa-se a olhar os comentários, as curtidas e visualizações, assim gozam e sentem-se melhor. A virtualidade está desenvolvendo um sujeito individualista e isso tem se tornado um grande problema na sociedade atual.

Existem diferentes formas de contato virtual, primeiramente surgiu o e-mail, um contato mais distante pelo qual não era possível conversar em tempo real. Mandava-se um e-mail e esperava outro responder, poderia ser na hora, mesmo dia ou levar mais tempo.

Em seguida chegaram às salas de bate papo ou chat como eram chamadas. Nelas havia como criar um perfil, dizer acerca de seus interesses, inventar um apelido e entrar na sala, de modo que ficasse visível a todos que estivessem online, assim quem gostasse poderia vir conversar. Hoje essas salas já não são muito usadas e modificaram seu formato, estão semelhantes aos aplicativos de encontros de celular, nelas predominam agora assuntos de ordem sexual, através do envio de fotos, os nudes e até mesmo o sexo virtual.

No decorrer desse processo surgiu o Messenger ou MSN, no qual se tinha uma conta, um e-mail e senha. Desse modo era possível entrar e falar com os amigos ou conhecidos.

Logo chegaram as redes sociais e dentro das mais utilizadas estava o Orkut, criado em 2004, obteve milhões de perfis, nele já era permitido à postagem de fotos pessoais, adicionar amigos, postar publicações, realizar depoimentos a amigos, curtir comunidades e demais afazeres.

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Em sequência alcançou milhares de usuários a rede social Facebook, a qual substituiu o Orkut. Atualmente a população em geral ainda faz uso em massa dessa rede pela aprovação de suas diversas abrangências, assim como: curtir, compartilhar, publicar, ter amigos, conversar, dentre outros.

Com o avanço dos celulares vierem os smartphones com telas coloridas, grandes e atrativas, nos quais, além de tudo isso, existe como entrar nas redes sociais pelo telefone móvel. Esse fato foi acarretando o uso contínuo dos celulares por todo lugar, pois através dos planos de Internet ou as zonas de Wiffi as pessoas podem permanecer cem por cento do tempo conectadas.

As redes oportunizaram uma imensa propensão a obter contatos virtuais, trazendo agilidade ao dia a dia, mas também traz perdas, pois o sujeito acaba isolando e separando-se do social nessas condições, o que acarreta impactos para seu corpo e subjetividade, maiores ainda no sujeito adolescente que está construindo sua subjetivação e o encontro com o outro é sumamente importante para realizar suas elaborações.

Esses argumentos levam a busca de compreender como e porque ocorrem os relacionamentos virtuais e seus efeitos psíquicos no sujeito adolescente. Procura-se responder com os elementos já disponíveis na bibliografia sobre o assunto, no capítulo seguinte.

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CAPÍTULO III

3. Relações virtuais na adolescência

3.1 A importância dos relacionamentos

Os relacionamentos são de fundamental importância para a vida do sujeito. Desde o desenvolvimento do bebê, ainda na barriga, muitas mães já conversam com seus filhos. A partir do nascimento o primeiro contato do bebê é com a mãe. Ela vai lhe apresentando o mundo, nomeando-o e dando-lhe um lugar. Portanto pode-se dizer que a criança constitui-se pelo Outro primordial, adquirindo linguagem e significantes.

Freud (1895) afirma que o bebê nasce em uma condição de desamparo fundamental, o que exige a intervenção de um adulto próximo que produza ações específicas, necessárias à sobrevivência do ser humano desamparado. Lacan propõe a categoria de Outro (com “o” maiúsculo) para designar não apenas o adulto próximo de que fala Freud, mas também a ordem que este adulto encarna para o ser recém-aparecido na cena de um mundo já humano, social e cultural.

Não é possível, desse modo, pensar em uma vida isolada dos demais, sem relacionamentos, estes são a base da existência do ser humano. Desde o primitivo até os dias de hoje há uma comunicação direta com o outro, porém o contato com quem está longe tem sua história marcada por transformações que reconfiguraram-se através do tempo.

As primeiras maneiras, mais conhecidas e utilizadas de conversar com quem estava longe eram através cartas, que se baseavam na escrita e envio ao outro por correio ou outros meios. Esse processo poderia levar muito tempo, dependendo da distância, para chegar ao destinatário. Posteriormente, com o desenvolvimento da eletricidade surgiu o telégrafo, instrumento responsável pelo telegrama impresso, que carregava mensagens urgentes e confidenciais

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entregues por correio de forma imediata, ´´viajando`` por fios, em postes espalhados pelo país.

No século XIX, o rádio e o telefone eram os principais meios de comunicação. Através de ondas eletromagnéticas, o rádio propagava informações, transmitia músicas e novelas em áudio. Já o telefone proporcionava um diálogo ao vivo, em tempo real com quem estava do outro lado da linha, o que era uma grande evolução para a época, visto que a comunicação à distância não acontecia de forma instantânea.

No século XX, a televisão, cujos primeiros modelos eram com imagens pretas e brancas e poucos canais, sua programação baseava-se em novelas e jornais. Após, surge à Internet, ferramenta pela qual se tornou possível para além da comunicação, pesquisa, acesso a vídeos de variados conteúdos, alcance a programação televisiva, compras e vendas online. A Internet provocou grande impacto na humanidade e transformou rapidamente as relações humanas e os negócios. Hoje não é possível imaginar um mundo sem ela.

A Internet8 facilitou os relacionamentos à distância, pois a forma de comunicação é muito ágil e acessível, sendo viável conversar com o outro como se estivesse lado a lado ou frente a frente, porém não é exatamente assim, não se está assim tão próximo como parece e esse distanciamento tem efeitos que poderão ser nocivos ao sujeito ao longo do tempo.

A Internet então, propicia contatos entre os sujeitos, os mais variados, e evidentemente a comunicação entre os que buscam relacionar-se com o outro.

8 O principal modo de comunicação baseou-se e é até hoje pelas redes sociais. Existem diversas e surgem sempre novas, com diversas e maiores funções. A rede social mais utilizada pelos adolescentes atualmente é o Snapchat que possui usuários mais jovens de até 24 anos. Exerce fascínio nos adolescentes, a possibilidade de fotografar e enviar, fazer pequenos vídeos e já enviar para os amigos em questão de segundos. Ele tem como característica a curta duração da imagem e a variedade de filtros. Em segundo lugar outras que se mostram usuais são a Tumblr, Vine, Instagram, Foursquare e Twitter. No Twitter é possível que o jovem escreva textos e expresse suas opiniões com maior liberdade. Com o avanço da tecnologia essas redes sociais são utilizadas em maioria nos smartphones (nota da autora).

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Nesse sentido, o ´´lugar´´ de relacionamento são as redes sociais, assunto já tratado no capítulo anterior.

O objetivo central desse capítulo é então, tratar da questão dos relacionamentos de adolescentes, assunto já enfocado no primeiro capítulo, agora com enfoque mais direto nas redes sociais, dentro do ambiente virtual.

Os relacionamentos virtuais são a nova forma de fazer vínculo com outro, seja por amizade ou relacionamento amoroso. E eles são aparentemente simples e descomprometidos, de forma que não é preciso necessariamente se encontrar com a pessoa da conversa, pode-se fazer tudo através da tela, desde um diálogo, até um encontro íntimo, assim como podemos observar que:

[...] Diferentemente dos´´relacionamentos reais``, é fácil entrar e sair dos ´´relacionamentos virtuais``. No mundo digital, não é preciso decifrar os gestos do parceiro. Em comparação com as dificuldades, o peso, a lentidão e as confusões dos relacionamentos corpo a corpo, os relacionamentos virtuais parecem inteligentes, limpos, fáceis de usar compreender e manusear [...]. (BAUMAN, 2003, p.13).

Para a finalidade de relacionamentos amorosos, o aplicativo mais utilizado pelos adolescentes é o Tinder, através do qual quem utiliza, pode criar um perfil com fotos, e posteriormente visualizar os demais participantes (ou perfis) que estão perto ou na mesma cidade, sendo assim pode escolher quem quer curtir ou rejeitar.

Esses tipos de aplicativos parecem revelar certa desumanização, pois banalizam o sujeito, podendo assim reduzi-lo a simples objeto para gozo e satisfação. Se a atração não é imediata9, é descartado sem que a pessoa seja avisada. Simplesmente apaga-se o outro.

Esse fato acaba com as oportunidades de muitos se conhecerem por esses meios, pois geralmente só o gozo é válido, não há espaço para a beleza interna que o sujeito pode vir a mostrar no decorrer de uma conversa, em razão de que muitas vezes não é lhe dada nenhuma chance de conversar com outro, porque na escolha já houve exclusão.

9

O imediatismo parece ser uma característica das relações virtuais; sejam elas amorosas ou até mesmo, comerciais. (nota da autora).

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Quem procura o Tinder, na maioria das vezes, está em busca de um relacionamento amoroso. O aplicativo tem esse objetivo. Assim, o relacionamento pode se dar somente por esse lugar, havendo no máximo uma troca de telefone ou marcando eventualmente, encontros pessoais. Essas condições dependem da distância ou vontade dos sujeitos se encontrarem.

Na atualidade os encontros físicos intermediados pela Internet estão cada vez mais escassos, pois pela utilização do virtual, as pessoas acabam evitando se encontrar. Esse novo modo de comunicar-se acaba virando um hábito frequente que é capaz de dispensar o encontro físico.

Segundo Bauman (2003), os laços só precisam ser frouxamente atados, para que possam ser desfeitos, sem grandes delongas. Quando os cenários mudarem, o que, na modernidade líquida10, decerto ocorrerá repetidas vezes. E, no entanto, desconfiados da condição de ´´estar ligado``, em particular de estar ligado ´´permanentemente``, para não dizer eternamente, pois temem que tal condição possa trazer encargos e tensões que eles não se consideram aptos nem dispostos a suportar, e que podem limitar severamente a liberdade de que necessitam para si e para relacionar-se

A humanidade está sedenta por relações, pois estas são uma necessidade básica de amor que asseguram a condição humana. Pelas falhas, desencontros, frustrações, falta de importância no convívio cotidiano, o sujeito acaba recorrendo ao meio virtual, arriscando-se sem o real conhecimento de com quem está falando.

Bauman (2003), afirma que a sociedade contemporânea anda desesperada por ter sido abandonada aos seus próprios sentidos e sentimentos facilmente descartáveis, ansiando pela segurança do convívio e pela mão amiga com que possam contar em um momento de aflição, desesperados por ´´relacionar-se``.

10

Liquidez: refere-se à capacidade de velocidade e facilidade nas transformações das relações na sociedade contemporânea, onde tudo se modifica constantemente e nada mais é duradouro. (nota da autora).

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O relacionamento seja ele qual for é muito valorizado e buscado atualmente, pois na contemporaneidade há uma forte individualização e indiferença entre sujeitos. Parte deste fato foi a internet que propiciou, pois com sua existência as pessoas passaram a ficar mais isoladas em suas casas com seus aparelhos tecnológicos, de modo que:

Em nosso mundo de furiosa ´´individualização``, os relacionamentos são bênçãos ambíguas. Oscilam entre o sonho e o pesadelo, e não há como determinar quando um se transforma no outro. Na maior parte do tempo, esses dois avatares coabitam – embora em diferentes níveis de consciência. No líquido cenário da vida moderna, os relacionamentos talvez sejam os representantes mais comuns, agudos, perturbadores e profundamente sentidos da ambivalência. É por isso, podemos garantir, que se encontram tão firmemente no cerne das atenções dos modernos e líquidos indivíduos-por-decreto, e no topo de sua agenda existencial. (BAUMAN, 2003, p. 8-9).

Relacionamento nessa base parece ser uma das únicas coisas que estaria valendo a pena atualmente. Os sujeitos correndo atrás do momento, arriscando-se e pagando o preço que for necessário pela plena satisfação. Os relacionamentos fazem-nos sentirem-se vivos, causa frio na barriga, acelera o coração, traz adrenalina e histórias para contar.

A sociedade vive hoje a ideia do gozo total em todas as ações, e o desapego nas relações. As redes sociais e os aplicativos de celular oferecem essa possibilidade, por isso estão fazendo o maior sucesso. Até mesmo em uma festa, duas pessoas que se atraem podem permanecer juntas na modalidade do ´´ficar`` ou da ´´amizade colorida`` somente aquela noite, sem sequer saber o nome um do outro, muito menos assumir um compromisso. Segundo Bauman:

[…] Hoje em dia as atenções humanas tendem a se concentrar nas satisfações que esperamos obter das relações precisamente porque, de alguma forma, estas não têm sido consideradas plena e verdadeiramente satisfatórias. E, se satisfazem, o preço disto tem sido com frequência considerado excessivo e inaceitável. Em seu famoso experimento, Miller e Dolllard viram seus ratos de laboratório atingirem o auge da excitação e da agitação quando ´´a atração se igualou a repulsão`` - ou seja, quando a ameaça do choque elétrico e a promessa de comida saborosa finalmente atingiram o equilíbrio. (2003, p.9).

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